Você está na página 1de 59

INTRODUÇÃO AO

DIREITO AMBIENTAL
PARTE 1
Prof. Omar Augusto Leite Melo
omar@omar.adv.br
OBJETO DE ESTUDO DO DIREITO
AMBIENTAL
◦ Direito Ambiental (ou Direito Ecológico) é o ramo jurídico que estuda o MEIO AMBIENTE.
“O ‘novo’ Direito Ambiental (ou ‘Direito Ecológico’), dada a natureza multidisciplinar das suas fontes, deve pautar-
se por tal realidade planetária , o que, a nosso ver, impõe inclusive a discussão em torno de uma nova fase do seu
desenvolvimento à luz do novo paradigma ecocêntrico emergente (...). Igualmente, não há como negar certo
‘fracasso’ do Direito Ambiental clássico, tanto em âmbito internacional quanto doméstico, após aproximadamente
cinco décadas de existência e edificado com base em um paradigma predominantemente antropocêntrico, em conter
os rumos civilizacionais predatórios na relação com a Natureza. Isso, por sua vez, nos levou a laborar
profundamente, especialmente no âmbito da Teoria Geral do Direito Ambiental, nas novas bases teóricas,
normativas e jurisprudenciais que alicerçaram e renovaram paradigmaticamente a disciplina, especialmente na
última década. Além de um diálogo com as fontes científicas, principalmente na esfera das ciências naturais, o
Direito Ambiental deve manter permanente diálogo com diversas áreas do saber, por exemplo, a história, a
sociologia, a antropologia etc., a fim de, ao olhar para o passado da humanidade, pensar o seu futuro em harmonia
com a Natureza. Isso, por certo, torna também fundamental uma compreensão filosófica da crise ecológica e o
estabelecimento de uma nova ética ecológica capaz de modular o comportamento do ser humano em favor da vida
(humana e não humana) no Planeta Terra” (SARLET; FENSTERSEIFER, Curso, p. 5).
MEIO AMBIENTE
◦ Celso Antonio Pacheco Fiorillo (“Curso”):
◦ “Primeiramente, verificando a própria terminologia empregada, extraímos que meio
ambiente relaciona-se a tudo aquilo que nos circunda. Costuma-se criticar tal termo,
porque pleonástico, redundante, em razão de ambiente já trazer em seu conteúdo a
ideia de ‘âmbito que circunda’, sendo desnecessária a complementação pela palavra
meio”.
◦ A Constituição estabeleceu dois objetos de tutela ambiental, conforme leciona José
Afonso da Silva (“Direito Constitucional Ambiental”):
◦ “um imediato, que é a qualidade do meio ambiente, e outro mediato, que é a saúde, o
bem-estar e a segurança da população, que se vêm sintetizando na expressão da
qualidade de vida”.
CLASSIFICAÇÃO DE MEIO AMBIENTE: NATURAL,
ARTIFICIAL, CULTURAL E DO TRABALHO
◦ STJ, REsp 725.257, voto do rel. Min. José Delgado, j. 05/2007, julgamento que envolveu poluição
sonora e da segurança urbana:
“(...) com a Constituição Federal de 1988, passou-se a entender também que o meio ambiente divide-se em físico
ou natural, cultural, artificial e do trabalho. Meio ambiente físico ou natural é constituído pela flora, fauna, solo,
água, atmosfera etc., incluindo os ecossistemas (art. 225, §1º, I, VII). Meio ambiente cultural constitui-se pelo
patrimônio cultural, artístico, arqueológico, paisagístico, manifestações culturais, populares etc. (art. 215, §§ 1º e
2º). Meio ambiente artificial é o conjunto de edificações particulares ou públicas, principalmente urbanas (art. 182,
art. 21, XX, e art. 5º, XXII). Meio ambiente do trabalho é o conjunto de condições existentes no local de trabalho
relativos à qualidade de vida do trabalhador (art. 7º, XXXIII, e art. 200).
◦ Foco principal do nosso curso: meio ambiente natural.
◦ Meio ambiente artificial: Direito Urbanístico. Meio ambiente do trabalho: Direito do Trabalho. Meio ambiente
cultural: Direito Administrativo. Meio ambiente (plataforma) virtual: Direito Digital? Há ainda quem trate o
patrimônio genético como uma modalidade própria de meio ambiente (estudada em Biodireito).
CLASSIFICAÇÃO DE MEIO AMBIENTE E OS
CRIMES AMBIENTAIS
◦ Meio ambiente do trabalho: art. 149 do CP (redução análoga à de escravo): “sujeições degradantes de
trabalho”.
◦ Lei nº 9.605/1998 (Lei dos “Crimes Ambientais”):
◦ Arts. 29-37: contra a fauna. Ex.: art. 32 (maus tratos); art. 34 (pesca proibida).
◦ Arts. 38-53: contra a flora. Ex.: 41 (incêndio em mata ou floresta); art. 42 (soltar balão).
◦ Arts. 54-61: “da poluição e outros crimes ambientais”. Ex.: art. 56 (substância tóxica).
◦ Arts. 62-65: ordenamento urbano e patrimônio cultural. Ex.: art. 62 (dano a bem cultural); art. 65
(pichação).
◦ Arts. 66-69-A: contra a Administração Ambiental. Ex.: art. 66 declaração falsa em licenciamento).
CLASSIFICAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
◦ Erika Bechara (Direito Ambiental in “OAB Primeira Fase esquematizado” (coord. Pedro Lenza, 3ª ed., São
Paulo, Saraiva, p. 1008):
◦ “O meio ambiente natural refere-se ao espaço composto pelos elementos da Natureza, tais como flora, fauna,
micro-organismos, águas, atmosfera, solo e subsolo, os quais interagem entre si para assegurar o equilíbrio
dos ecossistemas”.
◦ “O meio ambiente artificial refere-se ao espaço construído pelo engenho humano – a cidade -, que
proporciona aos seus habitantes as condições para o exercício de funções básicas como morar, trabalhar,
circular e recrear-se”.
◦ “O meio ambiente cultural é composto pelos elementos naturais e artificiais, materiais e imateriais, portadores
de referência à identidade, à ação e à memória dos grupos formadores da sociedade brasileira, que revelam,
portanto, a cultura, a história e a forma de viver, fazer e criar das gerações passadas de nossa civilização”.
◦ “O meio ambiente do trabalho consiste no local onde as pessoas desenvolvem suas atividades laborais, e cuja
salubridade deve ser permanentemente mantida com vistas a evitar o desenvolvimento de doenças e preservar
a saúde física e mental do trabalhador”.
DEFINIÇÃO LEGAL DE MEIO AMBIENTE
◦ Artigo 3º, I, Lei nº 6.938/1981 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente), que trata do meio ambiente
natural:
Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a)
prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e
econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio
ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por
atividade causadora de degradação ambiental;
V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar
territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.
Definição doutrinária de
meio ambiente

Marcelo Abelha Rodrigues


“Direito Ambiental
Esquematizado”, 3. ed, São
Paulo, Saraiva, 2017.
DIMENSÕES DO CONCEITO JURÍDICO DE MEIO AMBIENTE
(Sarlet; Fensterseifer, p. 138)
QUESTÃO PGE/PA-2011
Assinale a alternativa correta:
A) Podem os Estados-membros, por meio de lei, autorizar a prática ou atividade esportiva com aves de raça, ainda que envolvam
confronto físico entre os animais, desde que assegurada a proibição de apostas em dinheiro.
B) A proteção arqueológica ao patrimônio histórico, às manifestações culturais e ao livre exercício da liberdade de expressão, situada
no mesmo nível normativo que a regra de proteção ambiental, garante a prática de atividades com mais de 100 anos de tradição,
comprovadas com estudos antropológicos, ainda que possam resultar em submissão de animais a tratamentos cruéis.
C) Os sítios arqueológicos, por constituírem patrimônio da União, não podem ser alvo de fiscalização ambiental por municípios e
estados-membros.
D) O conceito normativo de meio ambiente abrange o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas, não incluído do patrimônio edificado.
E) O meio ambiente pode ser classificado em natural, artificial, cultural, do trabalho e o patrimônio genético.
RESPOSTA CORRETA...
◦ LETRA “E”:

O meio ambiente pode ser classificado em natural, artificial, cultural, do trabalho e o patrimônio
genético.
ABORDAGEM CONSTITUCIONAL – ART. 225
Meio ambiente NATURAL
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a
diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos,
sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos
atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção,
a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio
ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade; VIII - manter regime fiscal favorecido para os
biocombustíveis e para o hidrogênio de baixa emissão de carbono, na forma de lei complementar, a fim de assegurar-lhes tributação
inferior à incidente sobre os combustíveis fósseis, capaz de garantir diferencial competitivo em relação a estes, especialmente em
relação às contribuições de que tratam o art. 195, I, "b", IV e V, e o art. 239 e aos impostos a que se referem os arts. 155, II, e 156-A.
QUESTÃO TRF-2ª REGIÃO-2018
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida” (trecho do art. 225, da Constituição Federal). De modo a assegurar o
cumprimento e a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
A) Preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País, ressalvada a fiscalização das
entidades de pesquisa de material genético.
B) Controlar apenas a comercialização de substâncias que comportem risco para a vida e o meio
ambiente, mas não sua produção.
C) Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas.
D) Promover a educação ambiental exclusivamente no nível fundamental de ensino e a conscientização
pública para preservação do meio ambiente.
E) Proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma de regulamento, as práticas que coloquem em risco sua
função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais à experimentação.
RESPOSTA CERTA...
◦ Letra “C”:
Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das
espécies e ecossistemas.
Art. 225, §1º, I, CF.
CASO PRÁTICO RECENTE: “DECRETO DAS CAVERNAS”
◦ ADPF: 935 e 937, relator Min. Ricardo Lewandowski.
◦ Decreto impugnado: Decreto nº 10.935/2022.
◦ Preceitos fundamentais: patrimônio cultural, reserva legal (monumento natural – artigo 12 da Lei nº
9.985/2000), retrocesso ambiental, meio ambiente equilibrado etc.
◦ Conferir decisão liminar aqui e notícias aqui, aqui e aqui.
◦ “Em razão das considerações acima desfiadas, nessa primeira análise que faço da matéria, reputo possível
enquadrar a hipótese sob exame como uma possível lesão ou ameaça de lesão a preceitos fundamentais,
nomeadamente, à dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF), à vida (art. 5º, caput, da CF), à saúde (art. 6º,
caput, da CF), à proibição do retrocesso institucional e socioambiental (art. 1º, caput e III; art. 5º, XXXVI e § 1º;
e art. 60, § 4º, IV, da CF), bem assim, de forma mais específica, ao direito à proteção ao patrimônio cultural,
incluídos o histórico, cientifico, ecológico, arqueológico e paleontológico (art. 216, V, da CF), e ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado (art. 225 da CF)”.
◦ E a reserva legal do artigo 225, §1º, III, CF?
◦ Caso parecido: ADI 5676: redução de área de UC por decreto.
PATRIMÔNIO NACIONAL
◦ Art. 225, §4º, CF/88: A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-
Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições
que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais”. Não são bens da
União.
◦ O Brasil possui seis biomas (grandes comunidade da fauna e flora adaptadas ás condições climáticas e ecológicas
de determinada região): Cerrado, Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampas. Ver vídeos sobre os
biomas brasileiros: aqui e aqui.
◦ Lei da Mata Atlântica: Lei nº 11.428/2006 (“Código Florestal especial” com relação à Lei nº 12.651/2012).
Bioma mais degradado e devastado e todos, 13% território nacional, presente em 17 Estados, 72% da população,
70% PIB.
◦ Art. 6º A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica têm por objetivo geral o desenvolvimento sustentável e, por
objetivos específicos, a salvaguarda da biodiversidade, da saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos e turísticos, do
regime hídrico e da estabilidade social. Parágrafo único. Na proteção e na utilização do Bioma Mata Atlântica, serão
observados os princípios da função socioambiental da propriedade, da equidade intergeracional, da prevenção, da precaução,
do usuário-pagador, da transparência das informações e atos, da gestão democrática, da celeridade procedimental, da
gratuidade dos serviços administrativos prestados ao pequeno produtor rural e às populações tradicionais e do respeito ao
direito de propriedade.
◦ Lei do Zoneamento Costeiro: Lei nº 7.661/1988.
ABORDAGEM CONSTITUCIONAL – ARTS. 215 E 216
Meio ambiente CULTURAL (= Direito Administrativo)
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e
apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. § 1º O Estado protegerá as manifestações
das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório
nacional. § 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos
étnicos nacionais. § 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao
desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à: I defesa e valorização
do patrimônio cultural brasileiro; II - produção, promoção e difusão de bens culturais; III - formação de pessoal
qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; IV - democratização do acesso aos bens de cultura;
V - valorização da diversidade étnica e regional.
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente
ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as
criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
MEIO AMBIENTE CULTURAL E AS DEPREDAÇÕES DOS ATOS
ANTIDEMOCRÁTICOS DE 08/01/2023
◦ Conferir relatório preliminar do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, órgão ligado ao Ministério da
Cultura) de vistoria de bens culturais afetados pelo vandalismo na Praça dos Três Poderes: aqui.
◦ “Na área atingida, são tombados os edifícios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal, do
Museu da Cidade e do Espaço Lucio Costa, além da Praça dos Três Poderes e seus bens integrados. Os acervos de bens móveis
expostos nesses espaços, como quadros, esculturas e murais, são supervisionados, administrados e protegidos por diferentes órgãos
da administração pública federal e distrital. Esses acervos não integram o tombamento, o que não impede que o Instituto ofereça
orientação técnica em ações de salvamento e na contratação de serviços e profissionais para o devido restauro, quando solicitado”.
◦ Art. 62, Lei nº 9.605/1998 (crime contra o patrimônio cultural): “Destruir, inutilizar ou deteriorar: I - bem especialmente protegido
por lei, ato administrativo ou decisão judicial; II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar
protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Parágrafo único. Se o crime for
culposo, a pena é de seis meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa”.
◦ Art. 65. Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
multa. §1º Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a
pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa. §2º Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de
valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber,
pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das
posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio
histórico e artístico nacional.
O ministro Luiz Fux, do STF, suspendeu, em 28/8/23, a eficácia da lei de Porto Alegre que
instituiu a data de 8 de janeiro como “Dia Municipal do Patriota”.

◦ A liminar foi proferida na ADPF 1.084. Fux considerou que a norma municipal exalta a atuação daqueles que invadiram as sedes
dos Três Poderes em Brasília. A decisão atende a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), que ajuizou a ação em
25/08/23contra a Lei municipal 13.530/2023. A instituição sustentou a inconstitucionalidade da norma por violação aos princípios
democrático, republicano e da moralidade.
◦ O relator frisou que os atos do dia 8 de janeiro entraram para a história como um símbolo de que a aversão à democracia produz
violência e desperta sentimentos contrários à tolerância, gerando práticas criminosas inimagináveis em um Estado de Direito. Para o
ministro, a lei, “sob a máscara do amor à pátria, exalta a atuação daqueles que notoriamente se colocaram em oposição aos valores
constitucionais ao invadir e depredar as sedes dos três Poderes da República”. “O dia 8 de janeiro não merece data comemorativa,
mas antes repúdio constante, para que atitudes deste jaez não se repitam”, concluiu Fux.
TOMBAMENTO: CONVERSÃO DE UM BEM “COMUM” EM
BEM AMBIENTAL CULTURAL
◦ Decreto-lei nº 25/1937: organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional.
◦ Os bens ambientais culturais “só serão considerados parte integrante do patrimônio histórico o artístico nacional, depois de inscritos
separada ou agrupadamente num dos quatro Livros do Tombo, de que trata o art. 4º desta lei”.
◦ Art. 4º O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possuirá quatro Livros do Tombo, nos quais serão inscritas as obras a que
se refere o art. 1º desta lei, a saber: 1) no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, as coisas pertencentes às categorias
de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular, e bem assim as mencionadas no § 2º do citado art. 1º. 2) no Livro do Tombo
Histórico, as coisas de interesse histórico e as obras de arte histórica; 3) no Livro do Tombo das Belas Artes, as coisas de arte erudita,
nacional ou estrangeira; 4) no Livro do Tombo das Artes Aplicadas, as obras que se incluírem na categoria das artes aplicadas, nacionais
ou estrangeiras.
◦ Classificações do tombamento ambiental:
◦ Quanto à instituição: por lei, ato do Executivo ou via judicial.
◦ Quanto ao bem a ser tombado: público ou particular.
◦ Quanto à entidade federada: federal, municipal, estadual ou distrital.

◦ Árvores tombadas em Bauru: ver aqui.


ABORDAGEM CONSTITUCIONAL – ARTS. 182, 21, XX, e 5º, XXIII
Meio ambiente ARTIFICIAL (= Direito Urbanístico)
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXIII - a
propriedade atenderá a sua função social;
Art. 21. Compete à União: XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e
transportes urbanos. <<Estatuto da Cidade = Lei nº 10.257/2001>>
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei,
tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. § 1º O
plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da
política de desenvolvimento e de expansão urbana. § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências
fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. § 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e
justa indenização em dinheiro. § 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano
diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu
adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a
propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública
de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas,
assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
QUESTÃO – XX EXAME OAB/FGV
O Prefeito do Município Alfa, que conta hoje com 30 (trinta) mil habitantes e tem mais de 30% de sua área
constituída por cobertura vegetal, consulta o Procurador–Geral do Município para verificar a necessidade
de edição de Plano Diretor, em atendimento às disposições constitucionais e ao Estatuto da Cidade (Lei nº
10.257/2001). Sobre o caso, assinale a alternativa correta:
A) O Plano Diretor não é necessário, tendo em vista a área de cobertura vegetal existente no Município
Alfa, devendo este ser substituído por Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA).
B) O Plano Diretor não será necessário, tendo em vista que todos os municípios com mais de 20 (vinte)
mil habitantes estão automaticamente inseridos em “aglomerações urbanas” que, por previsão legal,
são excluídas da necessidade de elaboração de Plano Diretor.
C) Será necessária a edição de Plano Diretor, aprovado por lei municipal, que abrangerá todo o território
do Município Alfa, em razão do seu número de habitantes.
D) O Plano Diretor será necessário na abrangência da região urbana do município, regente, no que tange à
área de cobertura vegetal, as normas da Política Nacional do Meio Ambiente.
RESPOSTA CORRETA...
◦ Alternativa “C”
 Será necessária a edição de Plano Diretor, aprovado por lei municipal, que abrangerá todo o território do
Município Alfa, em razão do seu número de habitantes.
◦ Ver artigo 182, §1º, CF.
◦ Art. 41 do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001) acrescenta a obrigatoriedade do Plano Diretor em outras
cinco situações.
◦ Art. 41. O plano diretor é obrigatório para cidades: I – com mais de vinte mil habitantes; II – integrantes de regiões
metropolitanas e aglomerações urbanas; III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos
no § 4º do art. 182 da Constituição Federal; IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico; V – inseridas na área
de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional. VI
- incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto,
inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos. <<Vinte mil = Vitória para a Política Vrbana>>
◦ Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão
urbana. § 1º. O plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as
diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas. §2º. O plano diretor
deverá englobar o território do Município como um todo.
QUESTÃO – XXII EXAME OAB/FGV
◦ A Lei Federal nº 123, de iniciativa parlamentar, estabelece regras gerais acerca do parcelamento do solo
urbano. Em seguida, a Lei Municipal nº 147 fixa área que será objeto de parcelamento, em função da
subutilização de imóveis. Inconformado com a nova regra, que atinge seu imóvel, Carlos procura seu
advogado para que o oriente sobre uma possível irregularidade nas novas regras. Considerando a
hipótese, acerca da Lei Federal nº 123, assinale a afirmativa correta.
A) É formalmente inconstitucional, uma vez que é competência dos municípios legislar sobre política
urbana.
B) É formalmente inconstitucional, uma vez que a competência para iniciativa de leis sobre política
urbana é privativa do Presidente da República.
C) Não possui vício de competência, já que a Lei Municipal nº 147 é inconstitucional, sendo da
competência exclusiva da União legislar sobre política urbana.
D) Não possui vício de competência assim como a Lei Municipal nº 147, sendo ainda de competência
dos Municípios a execução da política urbana.
RESPOSTA CORRETA...
◦ Alternativa “D”.
Não possui vício de competência assim como a Lei Municipal nº 147, sendo ainda de
competência dos Municípios a execução da política urbana.
◦ Ver art. 24, I, CF: competência legislativa concorrente.
◦ Ver art. 61, §1º, CF, a respeito das leis de iniciativa reservada do Presidente: sem previsão
acerca da política urbana.
◦ Ver art. 182, §4º, CF: lei federal (Estatuto da Cidade) + lei municipal (Plano Diretor).
QUESTÃO – XXIV EXAME OAB/FGV
◦ Damião, proprietário de terrenos não utilizados, mantidos para fins de especulação imobiliária, é
notificado pela autoridade pública municipal, uma vez que seu terreno está incluído no plano Diretor do
Município XYZ, e a Lei Municipal nº 123 determinou a edificação compulsória e aplicação do IPTU
progressivo no tempo. Sobre as possíveis consequências que Damião pode sofrer, assinale a afirmativa
correta.
A) Caso não seja cumprida a notificação no prazo estabelecido, o Poder Público procederá à aplicação do
Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) progressivo no tempo, o qual pode
ser majorado indefinidamente, até que alcance o valor do bem.
B) Ainda que Damião transfira o imóvel, a obrigação de edificação compulsória é transferida aos
adquirentes, sem que haja interrupção dos prazos previamente estabelecidos pelo Poder Público.
C) O Poder Público Municipal poderá desapropriar o imóvel de Damião mediante pagamento de
indenização justa, prévia e em dinheiro, que refletirá o valor da base de cálculo do IPTU.
D) Não há consequência jurídica no descumprimento, tendo em vista a não autoexecutoriedade nos atos
do Poder Público em tema de política urbana, sendo necessária a intervenção do Poder Judiciário.
RESPOSTA CORRETA...
◦ Alternativa “B”.
Ainda que Damião transfira o imóvel, a obrigação de edificação compulsória é transferida aos
adquirentes, sem que haja interrupção dos prazos previamente estabelecidos pelo Poder Público.
◦ Ver art. 7º do Estatuto da Cidade e princípio tributário da não confiscatoriedade (art. 150, IV, CF), a
respeito da alíquota progressiva do IPTU: majoração progressiva pelo prazo de cinco anos
consecutivos, com alíquota máxima de 15%.
◦ Ver art. 6º do Estatuto da Cidade acerca da obrigação propter rem: Art. 6º. A transmissão do imóvel, por
ato inter vivos ou causa mortis, posterior à data da notificação, transfere as obrigações de parcelamento,
edificação ou utilização previstas no art. 5º desta Lei, sem interrupção de quaisquer prazos.
◦ Ver art. 182, §4º, III, a respeito da desapropriação-sanção: pagamento mediante título da dívida pública,
com prazo de resgate de até 10 anos, assegurado o valor real do imóvel.
ABORDAGEM CONSTITUCIONAL – ARTS. 7º E 200
Meio ambiente DO TRABALHO (= Direito do Trabalho)
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; XXIII - adicional de
remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; XXVIII - seguro contra acidentes de
trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores
de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos.
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: I - controlar e fiscalizar
procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos,
equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos; II - executar as ações de vigilância sanitária e
epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;
IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico; V - incrementar, em sua área
de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação; VI - fiscalizar e inspecionar alimentos,
compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano; VII - participar do
controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e
radioativos; VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.
STF – MEIO AMBIENTE DO TRABALHO
◦ Tema 932 com repercussão geral, RE 828.040:
“O artigo 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o artigo 7º, XXVIII, da Constituição
Federal, sendo constitucional a responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes
de trabalho, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida, por sua
natureza, apresentar exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva e implicar ao trabalhador
ônus maior do que aos demais membros da coletividade”.
+ CC: Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo
único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando
a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
+ Lei nº 6.938/1981 (PNMA): § 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor
obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a
terceiros, afetados por sua atividade.
◦ Artigos de Guilherme Guimarães Feliciano sobre responsabilidade do empregador por acidente do trabalho.
Clique aqui, aqui e aqui.
QUESTÃO TJ/CE-2012
Considerando os diversos aspectos que envolvem o conceito de meio ambiente, particularmente o cultural e o do
trabalho, assinale a opção correta:
A) considera-se meio ambiente cultural o ambiente integrado pelos equipamentos urbanos e edifícios comunitários,
como as bibliotecas, pinacotecas, museus e instalações científicas ou similares.
B) O meio ambiente é um bem público classificado pela CF como de uso comum do povo, razão pela qual não se
admite que o seu uso seja oneroso ou imponha a necessidade de qualquer contraprestação de ordem pecuniária.
C) Ao estabelecer a tutela do meio ambiente, a CF dispõe que a proteção do meio ambiente, nele compreendido o
meio ambiente do trabalho, constitui um dos objetivos do Sistema Único de Saúde.
D) A todos os entes federativos compete a proteção de documentos, obras e outros bens de valor histórico, artístico,
cultural e paisagístico, mas a competência para legislar sobre esses temas pertence, privativamente, à União.
RESPOSTA CERTA...
◦ RESPOSTA “C”:
Ao estabelecer a tutela do meio ambiente, a CF dispõe que a proteção do meio ambiente, nele
compreendido o meio ambiente do trabalho, constitui um dos objetivos do Sistema Único de
Saúde.
Art. 200, VIII, CF.
ABORDAGEM CONSTITUCIONAL – ORDEM ECONÔMICA

◦ Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios: VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação.
◦ Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei,
as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e
indicativo para o setor privado. § 3º O Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em
cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a promoção econômico-social dos
garimpeiros.
QUESTÃO TJ/SE-2015
Determinado Banco público estabeleceu linha de crédito com juros diferenciados para empresas de
acordo com o impacto ambiental gerado pelos respectivos produtos e serviços, bem como pelo impacto
ambiental gerado pelos processos de elaboração e prestação destes produtos e serviços. Segundo a
Constituição Federal:
A) Não é possível estabelecer esse tipo de tratamento diferenciado por ferir o princípio da isonomia.
B) É possível estabelecer este tipo de tratamento diferenciado, que encontra amparo em um dos
princípios da ordem econômica.
C) O tratamento diferenciado somente poderá ser concedido pela iniciativa privada e não por uma
instituição pública.
D) O tratamento diferenciado é possível em uma única hipótese: microempresa.
E) O tratamento diferenciado é possível em apenas duas hipóteses: microempresa e empresa de
pequeno porte.
RESPOSTA CERTA...
◦ Alternativa “B”:
É possível estabelecer este tipo de tratamento diferenciado, que encontra amparo em um dos
princípios da ordem econômica.
CF: art. 170, VI.
ABORDAGEM CONSTITUCIONAL – EXTRAFISCALIDADE E TRIBUTAÇÃO
VERDE
◦ Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: II - taxas, em razão do
exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao
contribuinte ou postos a sua disposição.
◦ Art. 153. § 4º O imposto previsto no inciso VI do caput [ITR]: I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a
desestimular a manutenção de propriedades improdutivas.
◦ Art. 177. (...) § 4º A lei que instituir contribuição de intervenção no domínio econômico relativa às atividades de importação ou
comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível deverá atender aos seguintes
requisitos: I - a alíquota da contribuição poderá ser: a) diferenciada por produto ou uso; b)reduzida e restabelecida por ato do Poder
Executivo, não se lhe aplicando o disposto no art. 150,III, b ; II - os recursos arrecadados serão destinados: (...) b) ao financiamento de
projetos ambientais relacionados com a indústria do petróleo e do gás.
◦ Art. 195. § 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas diferenciadas em razão da
atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de
trabalho, sendo também autorizada a adoção de bases de cálculo diferenciadas apenas no caso das alíneas "b" e "c" do inciso I do
caput.
◦ Discussão em torno da (in)constitucionalidade da isenção de ICMS e IPI sobre agrotóxicos: seletividade contra meio ambiente. Ver
ADI 5553, rel. Min. Edson Fachin. Ver notícia aqui e aqui.
EMENDA CONSTITUCIONAL 132/2023 – REFORMA TRIBUTÁRIA
◦ Art. 43, § 4º. Sempre que possível, a concessão dos incentivos regionais a que se refere o § 2º, III, considerará
critérios de sustentabilidade ambiental e redução das emissões de carbono.
◦ Art. 145, § 3º. O Sistema Tributário Nacional deve observar os princípios da simplicidade, da transparência, da
justiça tributária, da cooperação e da defesa do meio ambiente.
◦ Art. 153, VIII: novo imposto federal (imposto seletivo) sobre produção, extração, comercialização ou importação
de bens e serviços prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, nos termos de lei complementar.
◦ Art. 155, §6º, II: O IPVA "poderá ter alíquotas diferenciadas em função do tipo, do valor, da utilização e do
impacto ambiental".
◦ Art. 158, §2º, III: Estados deverão transferir 25% do que arrecadar de IBS para seus municípios, sendo que 5%
desse repasse levará em conta “indicadores de preservação ambiental”.
◦ Art. 159-A, §2º: criação de Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional, com transferência de recursos federais
para Estados e DF com prioridade para projetos com sustentabilidade ambiental e redução das emissões de carbono.
◦ Ver artigo: aqui.
DEFINIÇÃO LEGAL DE MEIO AMBIENTE
◦ Artigo 4º da Lei nº 9.795/1999 (Lei da Política Nacional de Educação Ambiental), que estende o conceito além do
meio ambiente natural (artificial, trabalho e cultural):
Art. 4º. São princípios básicos da educação ambiental:
I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;
II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o
sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade;
III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade;
IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;
V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;
VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo;
VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais;
VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural.
DIREITOS AMBIENTAIS: METAINDIVIDUAIS
(difusos/coletivos)
◦ Art. 225, caput, CF/1988.
◦ Direito fundamental de “terceira geração” (terceira dimensão).
◦ De toda coletividade.
◦ Solidariedade ou justiça intra e intergeracional.
◦ Direito interespécie (“vida em todas as suas formas” – art. 3º, I, Lei nº 6.938/81).
◦ Celso Antônio Pacheco Fiorillo e sua posição antropocêntrica:
“De acordo com essa posição, os animais assumiriam papel de destaque em face da proteção ambiental, enquanto
destinatários diretos do direito ambiental brasileiro. Todavia, não nos parece razoável a ideia do animal, da fauna,
da vida em geral dissociada da relação com o homem Isso importa uma vez mais reiterar que a proteção do meio
ambiente existe, antes de tudo, para favorecer o próprio homem e, senão por via reflexa e quase simbiótica, proteger
as demais espécies. De qualquer maneira, para aqueles que advogam a ideia antes debatida, o alcance constitucional
do termo todos, fixado no art. 225 da Carta Magna, seria infinitamente maior, o que resultaria na revolução dos
critérios de interpretar o direito positivo em vigor”.
STF, MS 22164, Pleno, rel. Min. CELSO DE MELLO, j. 30/10/1995
◦ EMENTA: REFORMA AGRARIA - IMÓVEL RURAL SITUADO NO PANTANAL MATO-GROSSENSE - DESAPROPRIAÇÃO-SANÇÃO
(CF, ART. 184) - POSSIBILIDADE - FALTA DE NOTIFICAÇÃO PESSOAL E PREVIA DO PROPRIETARIO RURAL QUANTO A
REALIZAÇÃO DA VISTORIA (LEI N. 8.629/93, ART. 2., PAR. 2.) - OFENSA AO POSTULADO DO DUE PROCESS OF LAW (CF, ART. 5.,
LIV) - NULIDADE RADICAL DA DECLARAÇÃO EXPROPRIATORIA - MANDADO DE SEGURANÇA DEFERIDO(...) A UNIÃO
FEDERAL - MESMO TRATANDO-SE DE EXECUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA DE REFORMA AGRARIA - NÃO ESTA
DISPENSADA DA OBRIGAÇÃO DE RESPEITAR, NO DESEMPENHO DE SUA ATIVIDADE DE EXPROPRIAÇÃO, POR INTERESSE
SOCIAL, OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS QUE, EM TEMA DE PROPRIEDADE, PROTEGEM AS PESSOAS CONTRA A
EVENTUAL EXPANSAO ARBITRARIA DO PODER ESTATAL. (...) O ORDENAMENTO POSITIVO DETERMINA QUE ESSA VISTORIA
SEJA PRECEDIDA DE NOTIFICAÇÃO REGULAR AO PROPRIETARIO, EM FACE DA POSSIBILIDADE DE O IMÓVEL RURAL QUE
LHE PERTENCE - QUANDO ESTE NÃO ESTIVER CUMPRINDO A SUA FUNÇÃO SOCIAL - VIR A CONSTITUIR OBJETO DE
DECLARAÇÃO EXPROPRIATORIA, PARA FINS DE REFORMA AGRARIA. NOTIFICAÇÃO PREVIA E PESSOAL DA VISTORIA. A
NOTIFICAÇÃO A QUE SE REFERE O ART. 2. , PAR. 2., DA LEI N. 8.629/93, PARA QUE SE REPUTE VALIDA E POSSA
CONSEQUENTEMENTE LEGITIMA EVENTUAL DECLARAÇÃO EXPROPRIATORIA PARA FINS DE REFORMA AGRARIA, HÁ DE
SER EFETIVADA EM MOMENTO ANTERIOR AO DA REALIZAÇÃO DA VISTORIA. (...) O DESCUMPRIMENTO DESSA
FORMALIDADE ESSENCIAL, DITADA PELA NECESSIDADE DE GARANTIR AO PROPRIETARIO A OBSERVANCIA DA CLÁUSULA
CONSTITUCIONAL DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, IMPORTA EM VÍCIO RADICAL. QUE CONFIGURA DEFEITO INSUPERAVEL,
APTO A PROJETAR-SE SOBRE TODAS AS FASES SUBSEQUENTES DO PROCEDIMENTO DE EXPROPRIAÇÃO, CONTAMINANDO-
AS, POR EFEITO DE REPERCUSSAO CAUSAL, DE MANEIRA IRREMISSIVEL, GERANDO, EM CONSEQUENCIA, POR AUSÊNCIA
DE BASE JURÍDICA IDONEA, A PROPRIA INVALIDAÇÃO DO DECRETO PRESIDENCIAL CONSUBSTANCIADOR DE
DECLARAÇÃO EXPROPRIATORIA. PANTANAL MATO-GROSSENSE (CF, ART. 225, PAR. 4. ) - POSSIBILIDADE JURÍDICA DE
EXPROPRIAÇÃO DE IMÓVEIS RURAIS NELE SITUADOS, PARA FINS DE REFORMA AGRARIA. <<continua>>
STF, MS 22164, Pleno, rel. Min. CELSO DE MELLO, j. 30/10/1995
◦ - A NORMA INSCRITA NO ART. 225, PARAGRAFO 4., DA CONSTITUIÇÃO NÃO ATUA, EM TESE, COMO IMPEDIMENTO JURÍDICO A
EFETIVAÇÃO, PELA UNIÃO FEDERAL, DE ATIVIDADE EXPROPRIATORIA DESTINADA A PROMOVER E A EXECUTAR PROJETOS DE
REFORMA AGRARIA NAS AREAS REFERIDAS NESSE PRECEITO CONSTITUCIONAL, NOTADAMENTE NOS IMÓVEIS RURAIS SITUADOS
NO PANTANAL MATO-GROSSENSE. A PROPRIA CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA, AO IMPOR AO PODER PUBLICOO DEVER DE
FAZER RESPEITAR A INTEGRIDADE DO PATRIMÔNIO AMBIENTAL, NÃO O INIBE, QUANDO NECESSARIA A INTERVENÇÃO ESTATAL
NA ESFERAL DOMINIAL PRIVADA, DE PROMOVER A DESAPROPRIAÇÃO DE IMÓVEIS RURAIS PARA FINS DE REFORMA AGRARIA,
ESPECIALMENTE PORQUE UM DOS INSTRUMENTOS DE REALIZAÇÃO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE CONSISTE,
PRECISAMENTE, NA SUBMISSAO DO DOMÍNIO A NECESSIDADE DE O SEU TITULAR UTILIZAR ADEQUADAMENTE OS RECURSOS
NATURAIS DISPONIVEIS E DE FAZER PRESERVAR O EQUILIBRIO DO MEIO AMBIENTE (CF, ART. 186, II), SOB PENA DE, EM
DESCUMPRINDO ESSES ENCARGOS, EXPOR-SE A DESAPROPRIAÇÃO-SANÇÃO AQUE SE REFERE O ART. 184 DA LEI FUNDAMENTAL. A
QUESTÃO DO DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO - DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO - PRINCÍPIO
DA SOLIDARIEDADE. - O DIREITO A INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE - TIPICO DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO - CONSTITUI
PRERROGATIVA JURÍDICA DE TITULARIDADE COLETIVA, REFLETINDO, DENTRO DO PROCESSO DE AFIRMAÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS, A EXPRESSAO SIGNIFICATIVA DE UM PODER ATRIBUIDO, NÃO AO INDIVIDUO IDENTIFICADO EM SUA
SINGULARIDADE, MAS, NUM SENTIDO VERDADEIRAMENTE MAIS ABRANGENTE, A PROPRIA COLETIVIDADE SOCIAL.
ENQUANTO OS DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO (DIREITOS CIVIS E POLITICOS) - QUE COMPREENDEM AS LIBERDADES CLASSICAS,
NEGATIVAS OU FORMAIS - REALÇAM O PRINCÍPIO DA LIBERDADE E OS DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO (DIREITOS ECONOMICOS,
SOCIAIS E CULTURAIS) - QUE SE IDENTIFICA COM AS LIBERDADES POSITIVAS, REAIS OU CONCRETAS - ACENTUAM O PRINCÍPIO DA
IGUALDADE, OS DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO, QUE MATERIALIZAM PODERES DE TITULARIDADE COLETIVA ATRIBUIDOS
GENERICAMENTE A TODAS AS FORMAÇÕES SOCIAIS, CONSAGRAM O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE E CONSTITUEM UM
MOMENTO IMPORTANTE NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO, EXPANSAO E RECONHECIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS,
CARACTERIZADOS, ENQUANTO VALORES FUNDAMENTAIS INDISPONIVEIS, PELA NOTA DE UMA ESSENCIAL
INEXAURIBILIDADE. CONSIDERAÇÕES DOUTRINARIAS.
IMPRESCRITIBILIDADE DA PRETENSÃO PELA
REPARAÇÃO CIVIL DE DANOS AMBIENTAIS COLETIVOS
◦ STF, RE 654.833, Pleno, rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 04/2020, repercussão geral, tema 999: "É
imprescritível a pretensão de reparação civil de dano ambiental".
◦ O STJ já entendia em favor da imprescritibilidade: REsp 647.493, 1.644.195 e 1.559.396.
◦ Essa imprescritibilidade abrange a reparação civil de danos ambientais coletivos, não individuais. Vale
dizer que esta modalidade de responsabilidade ambiental prioriza a reparação dos danos (“in natura”)
e não a “mera” indenização (dinheiro destinado a um determinado fundo).
◦ Responsabilidade ambiental:
◦ Civil: dimensões individual e coletiva.
◦ Administrativa.
◦ Penal.
◦ Conferir artigos: aqui e aqui.
◦ STF, ARE 1.352.872 (tema 1194-RG): é (im)prescritível a multa penal-ambiental?
AED, CONSEQUENCIALISMO E CUSTO
◦ No RE 654.833 (tema 999), causa de direito ambiental do qual foi relator, o Ministro Alexandre de Moraes decidiu
pela imprescritibilidade da pretensão de reparação civil de dano ambiental, valendo-se da teoria econômica de
Arthur Pigou acerca do custo dos direitos que sustenta o princípio do poluidor-pagador, com citação das
externalidades provocadas:
“O direito ambiental é norteado por diversos princípios, dentre eles o princípio do poluidor-pagador, que fundamenta a
reparação pelos danos ambientais. Por este princípio, entende-se que ao empreendedor deve ser imputado o custo
social externo de sua produção. Em outras palavras, durante o processo de produção, não é proporcional que o
empreendedor apenas aufira os lucros, enquanto a sociedade suporta os prejuízos decorrentes de sua atividade
(externalidades negativas). Diante desses conceitos, cumpre analisar as consequências dos danos ambientais, bem
como a possibilidade de aplicação do instituto da prescrição à pretensão ressarcitória. Consoante o contexto fático
delineado pela instância de origem, os fatos ocorreram nos longínquos anos de 1981 a 1987 e, até o momento, as
vítimas, indígenas da comunidade Ashaninka-Kampa, aguardam a recomposição de seu patrimônio material e moral.
Adotar a tese da prescritibilidade seria o mesmo que lhes negar o direito fundamental e indisponível à vida ou, como
quis a Constituição, à saudável qualidade de vida”.
DIREITO AMBIENTAL DIFUSO, COLETIVO E INDIVIDUAL
HOMOGÊNEO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – CDC (LEI Nº 8.078/1990)
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo
individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de
natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de
natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.
◦ Reflexos no tema dos danos ambientais e responsabilidade ambiental.
Corte Interamericana de Direitos Humanos - CIDH
◦ Parecer Consultivo OC-23/17, de 15.11.2017, da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), solicitado pela
República da Colômbia a respeito da interpretação dos direitos assegurados no Pacto de São José da Costa Rica:
dimensões individual e coletiva/difusa da proteção ao meio ambiente:
“O direito humano a um meio ambiente sadio tem sido entendido como um direito com conotações tanto individuais
quanto coletivas. Em sua dimensão coletiva, o direito a um meio ambiente sadio constitui um interesse universal, que se
deve tanto às gerações presentes quanto às futuras. Contudo, o direito ao meio ambiente sadio também tem uma
dimensão individual, na medida em que a sua vulneração pode ter repercussões diretas ou indiretas sobre as pessoas em
razão da sua conexão com outros direitos, tais como os direitos à saúde, à integridade pessoal ou à vida, entre outros. A
degradação do meio ambiente pode causar danos irreparáveis aos seres humanos, de modo que um meio ambiente
saudável é um direito fundamental à existência da humanidade.”
◦ Sobre a CIDH, ver aqui.
◦ Juiz brasileiro na CIDH: Rodrigo de Bittencourt Mudrovitsch.
ABORDAGEM CONSTITUCIONAL – TUTELA COLETIVA
Ação popular ambiental:
◦ Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LXXIII - qualquer cidadão é parte
legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade
de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência.

Ação civil pública:


◦ Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: III - promover o inquérito civil e a ação
civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos.
TUTELA COLETIVA DOS DIREITOS AMBIENTAIS
◦ Ação popular: qualquer cidadão. Art. 5º, LXXIII, CF e Lei nº 4.717/1965.
◦ Ação civil pública: Lei nº 7.347/1985.
Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos
morais e patrimoniais causados: I - ao meio-ambiente; II - ao consumidor; III – a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico; IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo; VI - à ordem
urbanística; VIII – ao patrimônio público e social.
Art. 5º. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: I - o Ministério Público; II - a Defensoria
Pública; III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou
sociedade de economia mista; V - a associação que, concomitantemente: a) esteja constituída há pelo menos 1 (um)
ano nos termos da lei civil; b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao
meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou
religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. § 1º O Ministério Público, se não
intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei. § 3° Em caso de desistência infundada ou
abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. §
4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado
pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator,
exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado
poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
STF, TEMA 1075 COM REPERCUSSÃO GERAL, RE 1.101.937, Pleno,
j. 08/04/2021, rel. Min. Alexandre de Moraes
CONSTITUCIONAL E PROCESSO CIVIL. INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 16 DA LEI 7.347/1985, COM A REDAÇÃO
DADA PELA LEI 9.494/1997. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE DE RESTRIÇÃO DOS EFEITOS DA SENTENÇA
AOS LIMITES DA COMPETÊNCIA TERRITORIAL DO ÓRGÃO PROLATOR. REPERCUSSÃO GERAL. RECURSOS
EXTRAORDINÁRIOS DESPROVIDOS. 1. A Constituição Federal de 1988 ampliou a proteção aos interesses difusos e coletivos, não
somente constitucionalizando-os, mas também prevendo importantes instrumentos para garantir sua pela efetividade. 2. O sistema
processual coletivo brasileiro, direcionado à pacificação social no tocante a litígios meta individuais, atingiu status constitucional
em 1988, quando houve importante fortalecimento na defesa dos interesses difusos e coletivos, decorrente de uma natural necessidade
de efetiva proteção a uma nova gama de direitos resultante do reconhecimento dos denominados direitos humanos de terceira
geração ou dimensão, também conhecidos como direitos de solidariedade ou fraternidade. 3. Necessidade de absoluto respeito e
observância aos princípios da igualdade, da eficiência, da segurança jurídica e da efetiva tutela jurisdicional. 4. Inconstitucionalidade
do artigo 16 da LACP, com a redação da Lei 9.494/1997, cuja finalidade foi ostensivamente restringir os efeitos condenatórios de
demandas coletivas, limitando o rol dos beneficiários da decisão por meio de um critério territorial de competência, acarretando grave
prejuízo ao necessário tratamento isonômico de todos perante a Justiça, bem como à total 5. RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS
DESPROVIDOS, com incidência do Princípio da Eficiência na prestação da atividade jurisdicional. a fixação da seguinte tese de
repercussão geral: "I - É inconstitucional a redação do art. 16 da Lei 7.347/1985, alterada pela Lei 9.494/1997, sendo repristinada sua
redação original. II - Em se tratando de ação civil pública de efeitos nacionais ou regionais, a competência deve observar o art. 93, II,
da Lei 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor). III - Ajuizadas múltiplas ações civis públicas de âmbito nacional ou regional e
fixada a competência nos termos do item II, firma-se a prevenção do juízo que primeiro conheceu de uma delas, para o julgamento de
todas as demandas conexas".
XX EXAME OAB FGV
◦ No curso de obra pública de construção de represa para fins de geração de energia hidrelétrica em rio que
corta dois Estados da Federação, a associação privada Sorrio propõe ação civil pública buscando a
reconstituição do ambiente ao status quo anterior ao do início da construção, por supostos danos ao meio
ambiente. Considerando a hipótese, assinale a afirmativa correta.
A) Caso a associação Sorrio abandone a ação, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a
titularidade ativa.
B) Caso haja inquérito civil público em curso, proposto pelo Ministério Público, a ação civil pública será
suspensa pelo prazo de até 1 (um) ano.
C) Como o bem público objeto da tutela judicial está localizado em mais de um Estado da Federação, a
legitimidade ativa exclusiva para propositura da ação civil pública é do Ministério Pública Federal.
D) Caso o pedido seja julgado improcedente por insuficiência de provas, não será possível a propositura de
nova demanda com o mesmo pedido.
RESPOSTA CERTA...
Alternativa “A”:
Caso a associação Sorrio abandone a ação, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a
titularidade ativa.
◦ Ver arts. 5º, §3º, e 16, ambos da LACP.
◦ Inquérito civil é mero procedimento investigatório.
◦ Competência ambiental é comum entre todas as entidades federadas. Não confundir com a
competência administrativa federal para o licenciamento ambiental quando o empreendimento e
atividade estiver localizado ou desenvolvido em dois ou mais Estados (art. 7º, XIV, e, da LC
140/2011).
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E DIREITOS
ECOLÓGICOS
◦ Lei da Improbidade Administrativa: Lei nº 8.429/1992, recentemente alterada pela (polêmica) Lei nº 14.230/2021.
Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de improbidade administrativa tutelará a probidade na organização do Estado e no
exercício de suas funções, como forma de assegurar a integridade do patrimônio público e social, nos termos desta Lei. § 1º
Consideram-se atos de improbidade administrativa as condutas dolosas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, ressalvados tipos
previstos em leis especiais. (...) § 5º Os atos de improbidade violam a probidade na organização do Estado e no exercício de suas
funções e a integridade do patrimônio público e social dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como da
administração direta e indireta, no âmbito da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. (...) § 8º Não configura
improbidade a ação ou omissão decorrente de divergência interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ainda que não
pacificada, mesmo que não venha a ser posteriormente prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos tribunais do Poder
Judiciário (novo).
Art. 9º: Dos Atos de Improbidade Administrativa que Importam Enriquecimento Ilícito. Art. 10: Dos Atos de Improbidade
Administrativa que Causam Prejuízo ao Erário. Art. 11: Dos Atos de Improbidade Administrativa que Atentam Contra os
Princípios da Administração Pública.
◦ Sobre a proteção do meio ambiente e improbidade administrativa, os limites da discricionariedade administrativa em
matéria ambiental e a ação proposta pelo MPF contra o Ministro do Meio Ambiente contra suposto desmonte doloso das
estruturas de proteção ao meio ambiente (CONAMA, normas flexibilizadoras, ADPF 747, 748 e 749, inativação do
Fundo Amazônia e perda de R$ 1,6 bi, desmatamento na Amazônia, redução de verba para INPE): conferir aqui e aqui.
Petição inicial: aqui.
◦ ADPF 934 e pedido de orçamento para monitorar o cerrado: R$ 2,5 milhões para INPE. Ver aqui.
GOVERNANÇA AMBIENTAL E CONTROLE DOS
TRIBUNAIS DE CONTAS (DO LEGISLATIVO)
◦ Sobre o controle externo exercido pelo Legislativo, com auxílio dos tribunais de contas (TCU, TCEs e TCM de SP):
Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e
indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso
Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre
dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a
contar de seu recebimento; IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Comissão técnica ou de
inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos
Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II; VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de
despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado
ao erário; IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada
ilegalidade; X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados.
◦ Carta pela Amazônia: ver aqui e aqui.
EXAME OAB 2009
◦ Considerando as normas constitucionais sobre o meio ambiente, assinale a opção correta:
A) Sendo o meio ambiente bem de caráter difuso, não se reconhece legitimidade ao cidadão para que
proponha, isoladamente, ação popular com o objetivo de anulação de ato lesivo ao meio ambiente.
B) Incumbe ao poder público definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente por meio de ato do
Poder Executivo no exercício do poder de polícia administrativa.
C) O direito à integridade do meio ambiente, que constitui prerrogativa jurídica de titularidade
individual, e não coletiva, é assim atribuído ao indivíduo identificado em sua singularidade.
D) Além de buscar a conscientização pública para a preservação do meio ambiente, o poder público
tem o encargo de promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino.
RESPOSTA CORRETA...
Alternativa “D”:
• Além de buscar a conscientização pública para a preservação do meio ambiente, o poder
público tem o encargo de promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino.
• Ver art. 5º, LXXIII, CF (ação popular ambiental), 225, §1º, III, CF (espaços territoriais
especialmente protegidos e reserva legal para sua alteração ou supressão), 225, caput (direito
difuso ou coletivo) e art. 225, §1º, VI, CF c/c Lei nº 9.795/1999 (Lei da Política Nacional de
Educação Ambiental).
DECLARAÇÃO DE ESTOCOLMO SOBRE MEIO AMBIENTE DA
ONU (1972): DIREITOS HUMANOS (E DEVERES HUMANOS)

◦ Marco histórico-normativo inicial da proteção ambiental: direito-dever humano a viver em


um meio ambiente equilibrado e saudável.
◦ Princípio 1: “o homem tem o direito fundamental à liberdade, igualdade e adequadas
condições de vida, num meio ambiente cuja qualidade permita uma vida de dignidade e
bem-estar, e tem a solene responsabilidade de proteger e melhorar o meio ambiente para
a presente e as futuras gerações”.
TENDÊNCIA PARA UMA VISÃO ECOCÊNTRICA
◦ Tendência de uma visão menos antropocêntrica, ou melhor, mais ecocêntrica (ou biocêntrica), com
reconhecimento de direitos da Natureza e de animais não humanos.
◦ Ex.: direito da Pachamama (Terra-mãe) na Constituição do Equador (2008, 1ª do mundo a admitir tais direitos);
decisão da Suprema Corte Colombiana que reconheceu a Amazônia colombiana como entidade sujeito de direitos
(casoSTC4360-2018); Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) reconheceu na Opinião Consultiva 23/2017
sobre meio ambiente e direitos humanos a proteção jurídica autônoma da Natureza; legitimidade processual para pets.
◦ Manifesto de Oslo pelo Direito e Governança Ecológica (2016), adotado pela Comissão Mundial de Direito
Ambiental da União Internacional pela Conservação da Natureza: “o enfoque ecológico do Direito é baseado
no ecocentrismo, no holismo e na justiça intrageracional, intergeracional e interespécies. A partir dessa
perspectiva ou visão de mundo, o Direito reconehcerá as interdependências ecológicas e não mais favorecerá
os seres humanos sobre a Natureza (...) A integridade ecológica torna-se uma pré-condição para as
aspirações humanas e um princípio fundamental do Direito. Em outras palavras, o Direito Ecológico inverte
o princípio da dominação humana sobre a Natureza, que a atual interação do Direito Ambiental tende a
reforçar, em um princípio de responsabilidade humana pela Natureza”.
STF, ADI 4983 (caso vaquejada)
◦ Voto da Min. Rosa Weber:
◦ “o atual estágio evolutivo da humanidade impõe o reconhecimento de que há dignidade para
além da pessoa humana, de modo que se faz presente a tarefa de acolhimento e introjeção da
dimensão ecológica ao Estado de Direito”.
◦ “a Constituição, no seu artigo 225, §1º, VII, acompanha o nível de esclarecimento alcançado
pela humanidade no sentido da superação da limitação antropocêntrica que coloca o homem
no centro de tudo, e todo o resto como instrumento a seu serviço, em prol do reconhecimento de
que os animais possuem uma dignidade própria que deve ser respeitada. O bem protegido pelo
inciso VII do §1º do artigo 225 da Constituição, enfatizo, possui matriz biocêntrica, dado que
a Constituição confere valor intrínseco às formas de vida não humanas”.
◦ Voto do Min. Ricardo Lewandowski:
◦ “faço uma interpretação biocêntrica do art. 225 da Constituição Federal, em contraposição a
uma perspectiva antropocêntrica, que considera os animais como ‘coisas’, desprovidos de
emoções, sentimentos ou quaisquer direitos”.
◦ EC 96/2017 e §7º inserido no art. 225 da CF: backlash? ADI 5728 e 5772.
◦ Conferir artigos aqui (contra emenda) e aqui (a favor).
EXAME OAB FGV 2009
◦ A Constituição Federal de 1988 assevera que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”. A esse respeito, é correto
inferir que a concepção constitucional sobre meio ambiente é:
A) holística.
B) panteísta.
C) pragmática.
D) antropocêntrica.
E) criacionista.
RESPOSTA CERTA (EM 2009)...
Alternativa “D”: concepção ANTROPOCÊNTRICA.
◦ Atualmente, essa questão possivelmente seria impugnada e anulada, diante do crescimento das
concepções ecocêntricas e biocêntricas.
◦ Declaração de Estocolmo (1972), considerada como um marco inicial do Direito Ambiental:
“os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável; têm
direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza”.
◦ Atualmente, portanto, há um debate sobre a evolução dessa visão antropocêntrica, que
reconheça o valor da Natureza em si mesma (valor intrínseco), independentemente do valor
que tem para o ser humano.
FIM DA 1ª PARTE
• Próxima aula...

• Vamos continuar com a Introdução ao Direito Ambiental – parte 2.

Você também pode gostar