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INTRODUÇÃO AO

DIREITO AMBIENTAL
PARTE 2
Prof. Omar Augusto Leite Melo
omar@omar.adv.br
COMO VOCÊ VÊ...
O Direito em geral e o Direito
Esse objeto? Ambiental?
“A TEIA DA VIDA” (FRITJOF CAPRA)
◦ “Ecologia profunda”: novo paradigma para repensar e reconstruir a “dignidade da pessoa humana”.
Livro CAPRA, p. 25-26: “O novo paradigma pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe o
mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas. Pode também ser denominado visão
ecológica, se o termo ‘ecológica’ for empregado num sentido mais amplo e profundo do que o usual. A percepção
ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que, enquanto
indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza (e, em última análise, somos
dependentes desses processos). Os dois termos, ‘holístico’ e ‘ecológico’, diferem ligeiramente em seus significados, e
parece que ‘holístico’ é um pouco menos apropriado para descrever o novo paradigma. Uma visão holística, digamos,
de uma bicicleta significa ver a bicicleta como um todo funcional e compreender, em conformidade com isso, as
interdependências das suas partes. Uma visão ecológica da bicicleta inclui isso, mas acrescenta-lhe a percepção de
como a bicicleta está encaixada no seu ambiente natural e social – de onde vêm as matérias-primas que entram nela,
como foi fabricada, como seu uso afeta o meio ambiente natural e a comunidade pela qual ela é usada, e assim por
diante. (...) A ecologia rasa é antropocêntrica, ou centralizada no ser humano. Ela vê os seres humanos como situados
acima ou fora da natureza, como a fonte de todos os valores, e atribui apenas um valor instrumental, ou de “uso”, à
natureza. A ecologia profunda não separa seres humanos – ou qualquer outra coisa – do meio ambiente natural. Ela vê
o mundo não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos que estão fundamentalmente
interconectados e são interdependentes. A ecologia profunda reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos e
concebe os seres humanos apenas como um fio particular na teia da vida”.
OBJETIVOS DO DIREITO AMBIENTAL: MAIS
PREVENTIVO DO QUE REPRESSIVO
◦ O Direito Ambiental não pode se resumir a um mero Direito dos Desastres, ou seja, apenas como um
instrumento acionado posteriormente à ocorrência de tragédias ecológicas para remediar os danos
causados. Com isso, não se pretende negar a relevância desse objetivo, mas sim ressaltar a importância
maior da função e papel do Direito Ambiental de evitar a ocorrência dos danos ecológicos, até porque
muitos deles são irreversíveis.
◦ No STF: ADPF 708 (caso Fundo Clima), rel. Min. Luiz Roberto Barroso. Audiência pública realizada
nos dias 21 e 22/09/2020 para checar eventual “estado de coisas inconstitucional ambiental ou
ecológico”.
◦ Princípios ambientais.
INTERDISCIPLINARIDADE COM OUTRAS ÁREAS DO CONHECIMENTO
◦ O Direito Ambiental tem como uma marca peculiar a necessária interdisciplinaridade com outras ciências.
“Direito da técnica”, em razão da relação íntima com a técnica e o conhecimento científico.
◦ Talvez, seja a área jurídica que mais demanda essa trans e interdisciplinaridade.
◦ Esse caráter científico do Direito Ambiental leva à sua internacionalização.
◦ O Direito Ambiental demanda conhecimentos e diálogos científicos fora do Direito, “muito além do Direito”,
abrangendo áreas das Exatas, Ciências Naturais e Ciências Sociais, como Biologia, Engenharia (Florestal,
Industrial, Agrônoma, Ambiental, Cartográfica, de Minas etc.), Física, Geologia, Química, Medicina, Fisioterapia,
Sociologia, Filosofia, História, Antropologia, Economia, Administração etc. Sobre a indevida
“compartimentalização” do Direito: ver aqui.
◦ O conhecimento científico é o critério que diferencia dois princípios ambientais: prevenção (há certeza ou
pacificação científica) e precaução (quando ainda há dúvidas ou incertezas na comunidade científica).
◦ Exemplos: estudo de impacto ambiental e o relatório de impacto ambiental (EIA/RIMA), instrumentos essenciais nos
licenciamentos ambientais. Nos processos ambientais, a perícia técnica é quase sempre requerida e decisiva nas decisões
administrativas e judiciais (ver Processo 1005291-85.2017.8.26.0157, TJSP – multa ambiental contra Petrobrás imposta pela
Prefeitura de Cubatão - aqui). ADPF 923: Min. Luiz Fux pediu informação para EMBRAPA sobre ampliação do calendário
de semeadura de soja, pois se exige a “análise de aspectos de ordem técnico-científica que escapam à capacidade
institucional atual da Corte” (ver notícia aqui). Deferência judicial na ADI 4903 sobre o Código Florestal de 2012.
PESQUISA CIENTÍFICA E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
◦ Sarlet, Fensterseifer, “Curso”, p. 779-780:
“Os órgãos executores do SNUC articular-se-ão com a comunidade científica com ‘o propósito de incentivar o
desenvolvimento de pesquisas sobre a fauna, a flora e a ecologia das unidades de conservação e sobre formas de uso
sustentável dos recursos naturais, valorizando-se o conhecimento das populações tradicionais’ (art. 32 da Lei nº
9.985/2000). O dispositivo ressalta a importância da articulação da pesquisa científica nas unidades de conservação, a
fim de incentivar o desenvolvimento de pesquisas sobre a fauna, a flora e os ecossistemas. O desenvolvimento
científico deve ser encarado como um aliado na proteção ecológica, notadamente com relação à nossa biodiversidade.
A produção de conhecimento científico, sobretudo dos nossos recursos naturais (e, em especial, formas sustentáveis
para a sua utilização), deve ser encarado como um forte aliado no processo de conscientização pública a respeito da
importância da proteção ecológica. As pesquisas científicas nas unidades de conservação, por sua vez, não podem
colocar em risco a sobrevivência das espécies integrantes dos ecossistemas protegidos (§1º). A realização de pesquisas
científicas nas unidades de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio
Natural, depende de aprovação prévia e está sujeita à fiscalização do órgão responsável por sua administração (§2º).
LEI DA BIOSSEGURANÇA E PAPEL DA CTNBio
◦ Lei da Biossegurança (Lei nº 11.105/2005): estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre os
organismos geneticamente modificados (OGM) e seus derivados.
◦ Art. 2º, §3º: “Os interessados em realizar atividade prevista nesta Lei deverão requerer autorização à Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança – CTNBio, que se manifestará no prazo fixado em regulamento”.
◦ Art. 2º, §4º: “As organizações (...) financiadoras ou patrocinadoras de atividades ou de projetos referidos no caput deste artigo
devem exigir a apresentação de Certificado de Qualidade em Biossegurança, emitido pela CTNBio, sob pena de se tornar
corresponsáveis pelos eventuais efeitos decorrentes do descumprimento desta Lei ou de sua regulamentação”. Regulamento:
Decreto nº 5.591/2005.
◦ Art. 10. A CTNBio, integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia, é instância colegiada multidisciplinar de caráter consultivo e
deliberativo, para prestar apoio técnico e de assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e implementação da
PNB de OGM e seus derivados, bem como no estabelecimento de normas técnicas de segurança e de pareceres técnicos referentes à
autorização para atividades que envolvam pesquisa e uso comercial de OGM e seus derivados, com base na avaliação de seu risco
zoofitossanitário, à saúde humana e ao meio ambiente”.
◦ Art. 29. Produzir, armazenar, transportar, comercializar, importar ou exportar OGM ou seus derivados, sem autorização ou em
desacordo com as normas estabelecidas pela CTNBio e pelos órgãos e entidades de registro e fiscalização: Pena – reclusão, de 1
(um) a 2 (dois) anos, e multa.
◦ Site da CTNBio: http://ctnbio.mctic.gov.br/inicio .
COMPOSIÇÃO CTNBio
◦ Lei nº 11.105/2005. art. 11. A CTNBio, composta de membros titulares e suplentes, designados pelo Ministro de Estado da
Ciência e Tecnologia, será constituída por 27 (vinte e sete) cidadãos brasileiros de reconhecida competência técnica, de
notória atuação e saber científicos, com grau acadêmico de doutor e com destacada atividade profissional nas áreas de
biossegurança, biotecnologia, biologia, saúde humana e animal ou meio ambiente, sendo: I – 12 (doze) especialistas de
notório saber científico e técnico, em efetivo exercício profissional, sendo: a) 3 (três) da área de saúde humana; b) 3 (três) da
área animal; c) 3 (três) da área vegetal; d) 3 (três) da área de meio ambiente; II – um representante de cada um dos seguintes
órgãos, indicados pelos respectivos titulares: a) Ministério da Ciência e Tecnologia; b) Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento; c) Ministério da Saúde; d) Ministério do Meio Ambiente; e) Ministério do Desenvolvimento Agrário; f)
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; g) Ministério da Defsa; h) Secretaria Especial de Aqüicultura
e Pesca da Presidência da República; i) Ministério das Relações Exteriores; III – um especialista em defesa do consumidor,
indicado pelo Ministro da Justiça; IV – um especialista na área de saúde, indicado pelo Ministro da Saúde; V – um
especialista em meio ambiente, indicado pelo Ministro do Meio Ambiente; VI – um especialista em biotecnologia, indicado
pelo Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; VII – um especialista em agricultura familiar, indicado pelo Ministro
do Desenvolvimento Agrário; VIII – um especialista em saúde do trabalhador, indicado pelo Ministro do Trabalho e Emprego.
§1º Os especialistas de que trata o inciso I do caput deste artigo serão escolhidos a partir de lista tríplice, elaborada com a
participação das sociedades científicas, conforme disposto em regulamento. §2º Os especialistas de que tratam os incisos III a
VIII do caput deste artigo serão escolhidos a partir de lista tríplice, elaborada pelas organizações da sociedade civil, conforme
disposto em regulamento.
OUTROS ÓRGÃOS TÉCNICOS AMBIENTAIS
◦ Lei nº 6.938/1981 (PNMA): o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) está assim estruturado: Conselho
de Governo (órgão superior – “político”), CONAMA (órgão consultivo e deliberativo), Ministério do Meio
Ambiente (político), IBAMA e ICMBio (órgão executores), secretarias estaduais (órgãos seccionais – políticos e
técnicos) e secretarias municipais (locais – políticos e técnicos).
◦ Lei nº 7.802/1989 (agrotóxicos): necessidade de registro na ANVISA (Resolução ANVISA 4/2012).
◦ Lei nº 8.723/1993 (redução de emissão de poluentes por veículos): necessidade de licença para uso na configuração
de veículos ou motor, emitida pelo IBAMA.
◦ Lei nº 11.445/2007 (saneamento básico): participação de entidades técnicas, organizações da sociedade civil e de
defesa do consumidor no controle social dos serviços públicos de saneamento básico (art. 47).
◦ Lei nº 12.305/2010 (resíduos sólidos): planos nacional, estaduais, microrregionais e municipais elaborados pelo
Ministério do Meio Ambiente (federal), secretarias estaduais e municipais do meio ambiente, assegurada “ampla
publicidade ao conteúdo dos planos de resíduos sólidos, bem como controle social em sua formulação (art. 14).
COMPETÊNCIA COMUM E COOPERAÇÃO INSTITUCIONAL
(TÉCNICA)
◦ Delegação de competência de um ente federado para outro condicionada à existência de “órgão ambiental capacitado”
e de “conselho de meio ambiente”.
◦ Art. 5º, LC 140/2011. O ente federativo poderá delegar, mediante convênio, a execução de ações administrativas a ele atribuídas
nesta Lei Complementar [competência comum ambiental], desde que o ente destinatário da delegação disponha de órgão
ambiental capacitado a executar as ações administrativas a serem delegadas e de conselho de meio ambiente. Parágrafo único.
Considera-se órgão ambiental capacitado, para os efeitos do disposto no caput, aquele que possui técnicos próprios ou em
consórcio, devidamente habilitados e em número compatível com a demanda das ações administrativas a serem delegadas.
◦ Competência supletiva no licenciamento ambiental, quando a entidade originalmente competente não dispõe de
“órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente”.
◦ Art. 15, LC 140/2011. Os entes federativos devem atuar em caráter supletivo nas ações administrativas de licenciamento e na
autorização ambiental, nas seguintes hipóteses: I - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no
Estado ou no Distrito Federal, a União deve desempenhar as ações administrativas estaduais ou distritais até a sua criação; II -
inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Município, o Estado deve desempenhar as ações
administrativas municipais até a sua criação; e III - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no
Estado e no Município, a União deve desempenhar as ações administrativas até a sua criação em um daqueles entes federativos.
XXXIII EXAME OAB
Determinado empreendedor requereu ao órgão ambiental competente licença ambiental para indústria geradora de significativa
poluição atmosférica, que seria instalada em zona industrial que, contudo, já está saturada. Após a análise técnica necessária,
feita com base nos riscos e impactos já de antemão conhecidos em razão de certeza científica, concluiu-se que os impactos
negativos decorrentes da atividade não poderiam sequer ser mitigados a contento, diante da sinergia e cumulatividades com as
atividades das demais fábricas já existentes na localidade. Assim, o órgão ambiental indeferiu o pedido de licença, com objetivo
de impedir a ocorrência de danos ambientais, já que sabidamente a atividade comprometeria a capacidade de suporte dos
ecossistemas locais.
Assinale a opção que indica o princípio de Direito Ambiental em que a decisão de indeferimento do pedido de licença está
fundada específica e diretamente.
A) Princípio da precaução, eis que a operação do empreendimento pretendido causa riscos hipotéticos que devem ser evitados.
B) Princípio da prevenção, eis que a operação do empreendimento pretendido causa perigo certo, com riscos previamente
conhecidos.
C) Princípio do poluidor-pagador, eis que a operação do empreendimento pretendido está condicionada à adoção das cautelas
ambientais cabíveis para mitigar e reparar os danos ambientais.
D) Princípio da responsabilidade ambiental objetiva, eis que a operação do empreendimento pretendido está condicionada ao
prévio depósito de caução para garantir o pagamento de eventuais danos ambientais.
Resposta certa...
Alternativa “B”.
B) Princípio da prevenção, eis que a operação do empreendimento pretendido causa perigo
certo, com riscos previamente conhecidos.
• Princípio da precaução: sem certeza científica. Prevenção: quando há essa certeza científica.
• Poluidor-pagou: poluiu, pagou (punição). Evitar externalidades negativas, de tal forma que o
poluidor deve assumir o custo, e não a sociedade.
• Responsabilidade objetiva: independentemente de culpa.
XXII EXAME OAB/FGV
A sociedade empresária Alfa opera, com regular licença ambiental expedida pelo órgão federal competente,
empreendimento da área de refino de petróleo que está instalado nos limites do território do Estado da Federação Beta e
localizado no interior de unidade de conservação instituída pela União. Durante o prazo de validade da licença de
operação, o órgão federal competente, com a aquiescência do órgão estadual competente do Estado Beta, deseja delegar a
execução de ações administrativas a ele atribuídas, consistente na fiscalização do cumprimento de condicionantes da
licença ambiental para o Estado Beta. Sobre a delegação pretendida pelo órgão federal, consoante dispõe a Lei
Complementar nº 140/2011, assinale a afirmativa correta.
A) É possível, desde que o Estado Beta disponha de órgão ambiental capacitado a executar as ações administrativas a
serem delegadas e de conselho de meio ambiente.
B) É possível, desde que haja prévia manifestação dos conselhos nacional e estadual do meio ambiente, do Ministério
Público e homologação judicial.
C) Não é possível, eis que a competência para licenciamento ambiental é definida por critérios objetivos estabelecidos na
legislação, sendo vedada a delegação de competência do poder de polícia ambiental.
D) Não é possível, eis que a delegação de ações administrativas somente é permitida quando realizada do Município para
Estado ou União, ou de Estado para União, vedada a delegação de atribuição ambiental federal.
RESPOSTA CERTA...
Alternativa “A”.
É possível, desde que o Estado Beta disponha de órgão ambiental capacitado a executar as ações
administrativas a serem delegadas e de conselho de meio ambiente.
◦ Conferir: art. 5º da LC 140/2011.
DEVER ESTATAL DE EMBASAMENTO CIENTÍFICO NOS ASSUNTOS
AMBIENTAIS
◦ ADI 6428-MC, rel. Luís Roberto Barroso: deve ser levado em consideração a observância, pelas autoridades de
standards, normas e critérios científicos e técnicos, como estabelecidos por organizações e entidades internacional e
nacionalmente conhecidas.
◦ É comum a realização de perícias e de audiências públicas em assuntos ambientais, exatamente para se ouvir técnicos, em razão
da falta de “capacidade institucional” do Judiciário para entrar nessa profundidade técnica.
◦ O art. 5º da Lei da Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019) tornou obrigatório o uso Análise de Impacto Regulatório para
antecipar “propostas de edição e de alteração de atos normativos de interesse geral de agentes econômicos ou de usuários dos
serviços prestados, editadas por órgão ou entidade da administração pública federal”. Ver artigo aqui.
◦ Qual peso devem ter as evidências científicas para o legislativo? Ver aqui artigo que trata sobre legística.
◦ Produção antecipada de provas no processo ambiental: ver aqui.
◦ STF, Pleno, rel. Dias Toffoli, ADI 3937 (caso amianto), j. em 08/2017: diante da alteração dos fatos e conhecimento
científico sobre o tema, a legislação federal que autorizada o uso de amianto passou por um “processo de
desconstitucionalização” e, no momento atual, não mais se compatibiliza com a Constituição Federal de 1988. Nas
palavras do ministro relator, “hoje, o que se observa é um consenso em torno da natureza altamente cancerígena do
mineral e da inviabilidade de seu uso de forma efetivamente segura, sendo esse o entendimento oficial dos órgãos
nacionais e internacionais que detêm autoridade no tema da saúde em geral e da saúde do trabalhador”.
◦ STF, ADI 5553 (caso isenção fiscal para agrotóxicos): rel. Min. Edson Fachin, de ofício, pediu manifestação de várias
instituições para ajudar a esclarecer dúvidas técnicas sobre os agrotóxicos. Ver notícia aqui e artigo aqui. Placar no STF:
4x2 pela constitucionalidade – ver aqui e aqui.
STJ E ART. 375 DO CPC

◦ CPC/2015, art. 375. O juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas pela
observação do que ordinariamente acontece e, ainda, as regras de experiência técnica,
ressalvado, quanto a estas, o exame pericial.
◦ STJ, 3ª Turma, REsp 1.786.046, rel. Min. Moura Ribeiro: conhecimento empírico ou científico que
já caiu em domínio público para julgar as causas que se lhe apresentam, porque, em relação a essas
questões, não há necessidade de produzir prova. Não está autorizado, porém, a julgar com base no
conhecimento pessoal que possui a respeito de algum fato específico, obtido sem o crivo do
contraditório".
◦ Ver: aqui.
A ALOCAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS
DEPENDE DE CONSENSO CIENTÍFICO
◦ A alocação de recursos financeiros públicos não é discricionária, não se limitando a um juízo político ilimitado ou irresponsável,
mas sim de consenso científico.
◦ ADI 6241, Rel. Min. Roberto Barroso, em 21.05.2020: STF assentou as seguintes teses: “1. Configura erro grosseiro o ato
administrativo que ensejar violação ao direito à vida, à saúde , ao meio ambiente equilibrado ou impactos adversos à economia, por
inobservância: (i) de normas e critérios científicos e técnicos; ou (ii) dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção. 2.
A autoridade a quem compete decidir deve exigir que as opiniões técnicas em que baseará sua decisão tratem expressamente: (i) das
normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria, tal como estabelecidos por organizações e entidades internacional e
nacionalmente reconhecidas; e (ii) da observância dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção, sob pena de se
tornarem corresponsáveis por eventuais violações a direitos”.
◦ ADPF 708 (“Fundo Clima”), rel. Min. Roberto Barroso, 07/2022: “os dados objetivos trazidos acima evidenciam uma situação de colapso
nas políticas públicas de combate às mudanças climáticas, sem dúvida alguma agravada pela omissão do Executivo atual. Em contextos
como esse, é papel das supremas cortes e dos tribunais constitucionais atuar no sentido de impedir o retrocesso. O princípio da vedação do
retrocesso é especialmente proeminente quando se cuide de proteção ambiental. E ele é violado quando se diminui o nível de proteção do
meio ambiente por meio da inação ou se suprimem políticas públicas relevantes sem a devida substituição por outras igualmente adequadas”.
ESTUDOS TÉCNICOS NAS LICITAÇÕES DE OBRAS E SERVIÇOS
AMBIENTAIS
◦ Ver artigo sobre o planejamento de contratações relativas a resíduos sólidos: aqui. Silvia Maria Ascenção Guedes
Gallardo, engenheira civil , agente da fiscalização do TCE/SP:
Art. 18 da nova Lei de Licitações (Lei 14.133/2021): a fase preparatória do processo licitatório se caracteriza pelo planejamento e deve ser
compatível com o plano de contratações anual e com as leis orçamentárias.
“Apesar da importância da matéria, muitas prefeituras não desenvolvem o planejamento das contratações com o nível de precisão
requerido pela Lei, relegando ao particular o desenvolvimento do dimensionamento, a definição dos preços e da forma de execução da
contratação. Portanto, um primeiro ponto importante a se considerar dentro do planejamento é a necessidade do desenvolvimento de
documentos técnicos, estudos e projetos por profissionais habilitados. Esta premissa, que é tão clara na contratação de obras, parece não
ter o mesmo reconhecimento de sua importância, quando se trata de serviços de engenharia. (...) O planejamento de serviços de
engenharia, sejam ou não classificados como comuns pela nova Lei, requer conhecimento detalhado do objeto. Nas contratações referentes
a resíduos sólidos, este conhecimento deve partir dos estudos contidos nos planos de gestão de resíduos sólidos dos municípios, em que
muitas das questões levantadas na etapa do estudo técnico preliminar já terão sido objeto de análise. (...) Os serviços relativos ao manejo
de resíduos são próprios de cada localidade e sofrem grande influência de questões locais, como a composição gravimétrica dos resíduos, a
perio-dicidade e frequência necessária dos serviços, conforme perfil local da população, a existência ou não de aterros nas proximidades,
etc. Com isso, torna-se ainda mais importante o correto dimensionamento, evitando-se a utilização de simples pesquisas de mercado para a
elabora-ção dos preços.Por fim, o planejamento adequado dos serviços é capaz de demonstrar quais são as exigências de qualificação
técnica imprescindíveis para aferição da capacidade de profissio-nais e empresas e a necessidade ou não da permissão da participação de
consórcios e/ou da subcontratação de parte dos serviços, resultando em contratações mais eficientes e eficazes”.
LAUDO TÉCNICO DE REPAÇÃO DO DANO
AMBIENTAL NA LEI Nº 9.605/1998
Art. 17. A verificação da reparação a que se refere o § 2º do art. 78 do Código Penal [sursis penal, da execução da pena] será feita
mediante laudo de reparação do dano ambiental, e as condições a serem impostas pelo juiz deverão relacionar-se com a proteção ao
meio ambiente.
Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995 [suspensão condicional do processo = sursis
processual], aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações: I - a declaração
de extinção de punibilidade, de que trata o § 5° do artigo referido no caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do dano
ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do mesmo artigo; II - na hipótese de o laudo de constatação
comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no
artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da prescrição; III - no período de prorrogação, não se
aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do § 1° do artigo mencionado no caput; IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á
à lavratura de novo laudo de constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser novamente prorrogado
o período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso III; V - esgotado o prazo
máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado
tomado as providências necessárias à reparação integral do dano.
SACRIFÍCIO DE ANIMAIS: LIBERDADE RELIGIOSA
vs. DIREITO DOS ANIMAIS
◦ STF: por unanimidade, julgou constitucional lei gaúcha que permite sacrifício de animais em ritos religiosos de matriz
africana. RE 494.601, j. 03/2019. Ver notícia: aqui.
◦ Tese: “É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício
ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana”.
◦ O Min. Relator Marco Aurélio votou condicionando o abate ao consumo humano, mas não foi seguido pelos demais
ministros. Todos os ministros ressaltaram a vedação de práticas cruéis e tortura.
◦ Min. Barroso afirmou que as sustentações orais (“técnicas”) contribuíram para o fornecimento de informações e para a
melhor compreensão da matéria. Ele ressaltou que, de acordo com a tradição e as normas das religiões de matriz
africana, não se admite nenhum tipo de crueldade com o animal e são empregados procedimentos e técnicas para que
sua morte seja rápida e indolor. “Segundo a crença, somente quando a vida animal é extinta sem sofrimento se
estabelece a comunicação entre os mundos sagrado e temporal”, assinalou. Além disso, o ministro destacou que, como
regra, o abate não produz desperdício de alimento, pois a proteína animal é servida como alimento tanto para os deuses
quanto para os devotos e, muitas vezes, para as famílias de baixo poder aquisitivo localizadas no entorno dos terreiros
ou casas de culto. “Não se trata de sacrifício para fins de entretenimento, mas para fins de exercício de um direito
fundamental que é a liberdade religiosa”, concluiu.
“TRADUÇÃO”, “JURIDIQUÊS”, VISUAL LAW E LEGAL DESIGN
◦ Em razão desse diálogo técnico com outras áreas científicas, os temas e documentos jurídicos ambientais
demandam uma comunicação diferenciada (linguagem, a maneira de se expressar, petições, decisões, retórica),
que consiga traduzir o “juridiquês” e termos técnicos de outras áreas para uma linguagem mais acessível que
permita um diálogo.
◦ Giorgia Sena Martins, Elementos da Teoria Estruturante do Direito Ambiental, São Paulo, editora Almedina,
2018: “readequação da linguagem”, “sensibilização ecológica”.
“Diante da complexidade da matéria ambiental, torna-se necessário ‘traduzir’ o texto normativo por meio de uma linguagem
clara, exemplificativa, precisa, que consiga atrair a atenção do interlocutor. (...) Em vez de atrair o leitor, a linguagem
hermética e rebuscada causa distração, sobretudo ao tratar de um tema desconhecido, como muitas vezes é o Direito
Ambiental, suas categorias e conceitos”. (...) “A abordagem tradicional de transcrição de lei, doutrina e jurisprudência e
pouco sedutora e muito distrativa: não dá conta de explicar a magnitude das implicações que envolvem um processo
ambiental, sua influência diferida no tempo e no espaço, além de diversos aspectos não diretamente comtemplados pela
norma. (...) Não é raro ver um operador do Direito confundir, por exemplo, APP (área de preservação permanente) com APA
(área de preservação ambiental). Não se pode pressupor, em termos ambientais, a obviedade. Nada é óbvio e tudo precisa ser
explicado quando se trata de risco/dano ambiental. (...) Na dialética processual, há uma tendência em contar os fatos segundo
a ordem cronológica de acontecimentos. É normal que as petições historiem os fatos conforme eles aconteceram, citando
ofícios, comunicações, memorandos e uma séria de fatos de menor importância. Datas, números, detalhes irrelevantes
poluem o texto, não prendem a atenção. No caso do Direito Ambiental, muitas vezes o interesse em jogo (o bem ambiental
discutido)fica diluído no meio de uma séria de dados secundários”.
READEQUAÇÃO DA LINGUAGEM EM PETIÇÕES
AMBIENTAIS

◦ Processo 5013440-40.2012.404.7200, JFSC


AGE do Brasil Indústria e Comércio Ltda x IBAMA
Pretensão: cancelar multa de R$ 3 milhões aplicada pelo IBAMA por infração ao patrimônio genético.
Infração: deixar de repartir os benefícios resultantes da exploração econômica de produtos desenvolvidos a partir do
acesso à amostra do patrimônio genético (“biopirataria”).
Legislação atual sobre patrimônio genético (não humano): Lei 13.123/2015 (art. 17 e ss.).
Abordagem da procuradora (“chave interpretativa”): “A repartição de benefícios decorrentes do acesso ao
patrimônio genético é uma espécie de “direito autoral” que se paga aos países detentores de biodiversidade. (...)
Adentrando especificamente ao objeto das autuações questionadas... é muito importante que as empresas e o
Judiciário tenham consciência da necessidade de garantir a repartição de benefícios: é isso que faz com que as
formações vegetais tenham mais valor em pé do que no chão para as comunidades que vivem ao redor”.
VISUAL LAW E LEGAL DESIGN NO DIREITO AMBIENTAL
◦ Uma das primeiras aplicações de Visual Law e Legal Design no Direito
brasileiro consiste no RIMA – relatório de impacto ambiental, um
relevante instrumento de Direito Ambiental aplicado nos
licenciamentos ambientais para “instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente” (art. 225, §1º, IV, CF). Exemplos de RIMA (=“resumo
simplificado do EIA” voltado aos leigos): aqui, aqui e aqui.
◦ Art. 9º, parágrafo único da Resolução CONAMA nº 1/1986: “O
RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua
compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem
acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais
técnicas de comunicação visual, de modo que se possam entender as
vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as
consequências ambientais de sua implementação”.
◦ Sobre Visual Law e Legal Design, conferir aqui e aqui. Modelos de memoriais
da AGU: aqui, aqui e aqui (ANA).
QUESTÃO XXII EXAME OAB...
◦ A sociedade empresária Asfalto Joia S/A, vencedora de licitação realizada pela União, irá construir uma
rodovia com quatro pistas de rolamento, ligando cinco Estados da Federação. Sobre o licenciamento
ambiental e o estudo de impacto ambiental dessa obra, assinale a afirmação correta.
A) Em caso de instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do
meio ambiente, é exigível a realização de estudo prévio de impacto ambiental (EIA), sem o qual não
é possível se licenciar nesta hipótese.
B) O licenciamento ambiental dessa obra é facultativo, podendo ser realizado com outros estudos
ambientais diferentes do estudo prévio de impacto ambiental (EIA), visto que ela se realiza em mais
de uma unidade da Federação.
C) O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), gerado no âmbito do estudo prévio de impacto ambiental
(EIA), deve ser apresentado com rigor científico e linguagem técnica, a fim de permitir, quando da
sua divulgação, a informação adequada para o público externo.
D) Qualquer atividade ou obra, para ser instalada, dependerá da realização de estudo prévio de impacto
ambiental (EIA), ainda que seja potencialmente causadora de significativa degradação ambiental.
RESPOSTA CORRETA...
ALTERNATIVA “A”.
Em caso de instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, é exigível a realização de estudo prévio de impacto ambiental
(EIA), sem o qual não é possível se licenciar nesta hipótese.
◦ Ver: art. 225, §1º, IV, CF; art. 10 da Lei nº 6.938/1981 (PNMA), Resolução CONAMA nº
1/1986.
INTERDISCIPLINARIDADE COM OUTRAS ÁREAS DO
DIREITO
◦ O Direito Ambiental também se relaciona visceralmente com as demais áreas do Direito.
◦ Direito Financeiro: orçamento, despesas públicas, receitas, fundos. Ver artigos aqui e aqui.
◦ Direito Tributário: ITR, IPTU, seletividade IPI e ICMS, CIDE-combustível, SAT/RAT/GILRAT.
◦ Direito Administrativo: o Direito Ambiental “saiu” do Direito Administrativo. Poder de polícia ambiental, serviços
públicos ambientais, políticas públicas ambientais, agências reguladoras, responsabilidade administrativa por danos
ambientais.
◦ Direito Constitucional: princípios e regras constitucionais sobre meio ambiente. Ex.: art. 225.
◦ Direito Processual: ações judiciais, sobretudo a tutela coletiva.
◦ Direito Penal: responsabilidade criminal por danos ambientais (Lei nº 9.605/1998 – Lei dos Crimes Ambientais).
◦ Direito Civil: responsabilidade extracontratual por danos ambientais, obrigações propter rem, contratos referentes aos
pagamentos por serviços ambientais (Lei nº 14.119/2021).
◦ Direito do Trabalho: meio ambiente do trabalho.
◦ Direito Empresarial: condições e limitações ao exercício da atividade empresarial, títulos verdes.
◦ Direito Internacional: o Direito Ambiental é universal, por excelência.
CRIMES AMBIENTAIS E LAVAGEM DE DINHEIRO
◦ Os países amazônicos deveriam incorporar a lavagem de dinheiro relacionada a crimes ambientais em seus planos
estratégicos de inteligência para combate à lavagem de dinheiro. A abordagem atual não considera que ilícitos como
grilagem de terras, mineração ilegal e mesmo agricultura com passivo ambiental também são crimes ambientais e
antecedentes à lavagem de dinheiro e isso precisa ser revisto por esses países, que também deveriam agir de forma
integrada.
◦ Estudo do Instituto Igarapé (ver aqui): “A maioria dos arcabouços normativos contra a lavagem de dinheiro enfatiza a
proteção do sistema financeiro formal contra o tráfico de drogas, de armas e o financiamento ao terrorismo. As
agências responsáveis pelo combate à lavagem de dinheiro, os arcabouços legais e os órgãos governamentais dão
menos atenção ao contrabando de moedas ou ao comércio internacional ilegal de commodities florestais, mesmo em
um contexto de dilapidação crescente dos recursos naturais da região amazônica (mineração ilegal de ouro no Peru,
desmatamento na Colômbia e derrubada da floresta motivada pelo cultivo de commodities no Brasil) e, consequente,
agravamento da crise climática”.
DIREITO E ECONOMIA
◦ Outros nomes da disciplina: Análise Econômica do Direito (AED) e Law and Economics.
◦ Economia:
◦ ciência que estuda o comportamento das pessoas, dentro de um ambiente de recursos escassos e necessidade ou
interesses ilimitados. Como conciliar interesses ilimitados e escassez de recursos?
◦ como as pessoas decidem e escolhem? Quais são os incentivos que importam para as pessoas decidirem? Quais as
consequências da decisão?

◦ Direito:
◦ regula e disciplina o comportamento humano através de normas jurídicas.

◦ PERGUNTAS: o Direito interfere no comportamento das pessoas? Ao tomar uma decisão, a


pessoa leva em consideração o Direito? Uma decisão judicial gera consequências na economia?
E a economia, influencia o Direito?
Teoria dos sistemas (Niklas Luhmann)
o Direito gera consequências em outros “sistemas”? O Direito é influenciado por outros
sistemas?

AMBIENTE E SISTEMAS: interdisciplinaridade.

Direito Economia Saúde

Esporte Religião Educação

Informática Política Música


DIREITO E ECONOMIA
Direito

REGULA/DECIDE ANALISA

Comportamento
humano

ANALISA RELATA/ORIENTA/INTERPRETA

AED: Direito usa a metodologia econômica para


regular/decidir
Economia
MAIS SOBRE ECONOMIA
◦ Lionel Robbins: economia é “a ciência que estuda o comportamento humano como uma relação entre fins e meios
escassos que possuem usos alternativos”.
◦ “Mercados”: financeiros, de ideias, de políticos, dos cuidados, de sexo etc.
◦ Ambiente, agentes econômicos, preços, (des)incentivos, consequências.
◦ Ivo Gico Jr.:
◦ “A abordagem econômica serve para compreender toda e qualquer decisão individual ou coletiva que verse sobre
recursos escassos, seja ela tomada no âmbito do mercado ou não. Toda atividade humana relevante, nessa
concepção, é passível de análise econômica”.
◦ “A ciência econômica, antes associada apenas àquela parte da atividade humana que chamamos normalmente de
economia, hoje investiga um amplo espectro de atividades humanas, muitas das quais também são estudadas por
outras ciências sociais como a ciência política, a sociologia, a antropologia, a psicologia e, como não poderia deixar
de ser, o direito. É essa interação entre direito e economia que se convencionou chamar de Análise Econômica do
Direito”.
◦ Vasco Rodrigues:
◦ “a lei é um de vários sistemas de incentivo que afetam quem vive em sociedade: quando a lei muda, os
comportamentos mudam”. Ex.: lei processual que aumenta taxa judiciária; precedente favorável aos contribuintes;
aumento de uma pena.
“Para o estudo racional do
direito, o homem da toga preta
pode ser o homem do presente,
mas o homem do futuro é o
homem da estatística e o mestre
da economia”.

(Oliver Wendell Holmes Jr.,


ministro da Suprema Corte dos
EUA, “The path of the Law”, aula
magna proferida na Universidade de
Boston em 1897).
METODOLOGIA DA ECONOMIA (AED)
Para explicar o comportamento das pessoas(suas escolhas prováveis), a Economia (e a AED) se vale de
alguns postulados:
◦ Os recursos são escassos, mas os interesses são praticamente infinitos.
◦ Toda escolha pressupõe um custo, um preço, um trade-off. Custos financeiros, sociais e de oportunidade. Por isso,
as pessoas exercem um juízo de custo-benefício, inclusive no direito. E nesse juízo buscam a maximização dos
seus interesses, inclusive “oportunismo” (free riders).
◦ Stephen Holmes e Cass Sunstein: “não há direitos negativos nem gratuitos”.
◦ Flávio Galdino: “os direitos não nascem em árvores”.
◦ Cento Veljanovski: “o direito é uma máquina gigantesca de preço”.
◦ Fábio Ulhoa Coelho: “direito-custo”.
◦ As pessoas respondem a incentivos, inclusive jurídicos.
◦ Sanções punitivas (“varas”, ameaças) e premiais (“cenouras”, vantagens), que funcionam como preços ou promoções
(“liquidações”), como aqueles que encontramos numa loja.
◦ Ex.: penas, multas, incentivos fiscais, delação premiada, gratificações, estabilidade etc.
◦ No Direito Ambiental: pagamento por serviços ambientais (Lei nº 14.119/2021); isenção de custas e sucumbência nas ações
coletivas ambientais; isenções tributárias, compensação ambiental.
AED AMBIENTAL
◦ Artigo de Diego Vega Possebon da Silva, AED na APP e RL (livro “o jurista que calculava”).
Autointeresse: “Uma das premissas mais importantes da AED é maximização da utilidade, ou seja, cada indivíduo age
racionalmente buscando maximizar a utilidade de um bem na sua vida, tomando decisões alocativas de recursos dentro
dessa perspectiva. Seguindo esse padrão, um setor busca explorar ao máximo e o outro proteger ao máximo”. Jogo
antagônico de forças e tragédia dos comuns. Ex.: excesso de peso dos caminhões.
Racionalidade (limitada): “A ação racional é outra característica que permeia todo o estudo da AED por trabalhar com
a antevisão de posições e comportamentos que tem uma racionalidade econômica. A influência da racionalidade
comportamental é benéfica na análise do direito e exercícios desse tipo, para ver o que aconteceu e o que pode
acontecer, devem ser mais trabalhados no campo jurídico”.
Custos: “outro aspecto econômico muitas vezes esquecido no embate ambiental e que pode ajudar a compreendê-lo é a
noção de custo. O custo permeia toda análise econômica e há custos na perda da qualidade das APPs e RLs assim como
também há custos para a preservação desses espaços que precisam ser equacionados. Ignorar os custos de cada lado não
é cientificamente correto e esse ponto precisa ser melhor compreendido.
Incentivos: “Os usos conflitantes das APPs e RLs são bons exemplos da maximização da utilidade por setores
diferentes e divergentes. Os atores respondem com certa previsibilidade de comportamento e aspectos econômicos
podem indicar como achar um ponto ótimo, ambiental e economicamente aceitável no uso das APPs e RLs”.
QUESTÕES AMBIENTAIS E DIREITO DE PROPRIEDADE
◦ James Buchanan (Nobel de Economia em 1986; “pai” da Public Choice): para a Economia, além dos bens privados e
públicos, há os recursos comuns e monopólios naturais.
◦ Bens privados: oferecidos pelo mercado nos regimes capitalistas. Em regra, submetem-se à livre iniciativa, com participação
excepcional do Estado (arts. 173, 176 e 177, CF).
◦ Bens públicos: bens e serviços que precisa ser ofertados pelo Estado, diretamente ou por delegação (art. 175, CF), pois os
mercados são ineficientes para oferecê-los. São bens não exclusivos e não rivais ou, no linguajar do Direito Administrativo,
serviços universais (uti universi) e e indivisíveis. Por isso, o mercado não tem interesse de fornecer aos usuários (mas tem interesse
de oferecer para o Estado). Ex.: serviço de iluminação pública, saneamento básico, construção de estradas, pavimentação de ruas,
saúde ou educação públicas.
◦ Monopólios naturais (ou “bens de clube”): recursos não rivais (não exclusivos, ilimitados, divisíveis), mas que podem ser
abertos/disponibilizados apenas a um certo número de usuários-consumidores. Ex.: TV a cabo, serviços de streaming, shows,
direitos autorais, serviços oferecidos por clubes e agremiações esportivas.
◦ Recursos comuns: são bens não exclusivos (não rivais, universais) e são esgotáveis (escassos). Ex.: meio ambiente, serviços
judiciários. Por ser serem universais e escassos, é preciso evitar a “tragédia dos comuns” (expressão cunhada pelo ecologista
Garrett Hardin) – ver aqui e aqui.
VERA, Flávia Santinoni. Análise econômica da propriedade. In: Direito e Economia no Brasil. TIMM,
Luciano Benetti (coord.). Indaiatuba: Editora Foco, 2019, p. 218-219.
“Ao contrário dos monopólios naturais, os recursos comuns preenchem apenas a condição de não exclusão (como os bens públicos). No entanto,
os recursos comuns sofrem por serem esgotáveis, ou seja, não preenchem a condição de não serem disputáveis (como os privados). O grande
dilema, denominado tragédia dos comuns, é restringir o uso predatório sem que se possa cobrar pelo uso do mesmo. O termo surgiu na Inglaterra,
quando pastoreiros ocupavam erras comunais. Eventualmente, com o excesso de ocupação e exploração, os recursos naturais são esgotados, ainda
que isto implique, socialmente, em prejuízo para todos. Isto ocorre porque o indivíduo, apesar de preferir usufruir dos benefícios de uma visão
social (cooperação entre toda a sociedade), tem o instinto individual de sua sobrevivência. É exatamente aqui que se encaixam as florestas e os
dilemas ambientais. Um rio é um exemplo disso, Vários pescadores podem eventualmente esgotar a população de peixes (disputáveis), mas é
difícil existir uma forma de excluir mais um pescador, o que tende a uma exploração excessiva. Por isto, existe a necessidade de regulação. Nesses
casos, não há internalização da responsabilidade sob a propriedade, o que resulta na exploração predatória. Os desmatamentos beneficiam as
madeireiras individualmente, mas toda a sociedade, inclusive as madeireiras, saem prejudicadas com os prejuízos da soma dos desmatamentos. O
monitoramento ou aplicação de uma regulação é tão difícil como a cooperação entre os agentes.
No estudo da AED de propriedade, a compreensão do dilema ambiental é crucial para se resolver questões como o desmatamento da Amazônia.
Transformar terras comunais ou públicas em propriedades privadas, onde a responsabilização é internalizada e cada dono protege e cuida do que é
seu poderia resolver o problema em certos casos. No entanto, quando tratamos de reservas ambientais, ou áreas amplas com muitos agentes
interessados, a propriedade privada mostrou-se falha e mesmo o Estado se torna ineficiente para monitorar a exploração não sustentável. Questões
como esta se tornaram um desafio para a humanidade. <<continua>>
VERA, Flávia Santinoni. Análise econômica da propriedade. In: Direito e Economia no Brasil. TIMM,
Luciano Benetti (coord.). Indaiatuba: Editora Foco, 2019, p. 218-219.
“Em linhas gerais, é esperado do Estado o papel de garantir aos proprietários os incentivos para investir de modo a ter tornar as suas
propriedades produtivas, gerando empregos e ao mesmo tempo respeitando o meio ambiente. É incrível como este objetivo coincide
com os objetivos do instituto da função social da propriedade. Contudo, recursos são, por definição, escassos e a exploração predatória
destrói a natureza irreversivelmente, sendo, portanto, desastrosa para toda a sociedade. O problema é que os especialistas em teoria dos
jogos chamam de tragédia dos comuns, decorrente da falta de cooperação. Quiçá a tecnologia da informação com a internet venha
contribuir para uma empatia global sobre o assunto, ensejando uma cooperação em prol da sobrevivência da humanidade.
O problema atual é que, sem uma cooperação entre os agentes, baseada em confiança mútua, a internalização de responsabilidade é
confusa porque o direito ou dever de propriedade não é definido, É o mesmo caso, em escala menor, das repúblicas de estudantes. Todos
querem morar num ambiente limpo, mas individualmente cada estudante observa apenas que não quer arrumar tudo sozinho, ou seja,
permitir ‘caroneiros’. A definição de responsabilidade é confusa. Um quarto individual, com a responsabilização do espaço bem
definido, tende a ser muito mais limpo e organizado. Os custos e benefícios recaem sobre o mesmo indivíduo, usuário e proprietário.
Estudos demonstraram que, na Amazônia, proprietários de terras com títulos mais seguros tendiam a investir mais e gerar mais
prosperidade”.
AED AMBIENTAL
◦ Meio ambiente é, na visão juseconômica, um “bem público”:
“Os bens públicos são definidos pela economia como bens não excludentes, porque não é possível impedir o acesso
de determinada pessoa ao bem, e não rivais, na medida em que o consumo por um indivíduo não reduz a
disponibilidade do bem para outro indivíduo. O meio ambiente, em regra, encaixa-se na definição econômica de bem
público. No entanto, o uso desenfreado e sem controle estatal pode, em última análise, tornar o bem escasso ao ponto
de torna-lo rival. Se o meio ambiente perde a característica da não rivalidade, passa a se considerado pela economia
como recurso comum”. (Rômulo Sampaio e Julia de Lamare, livro “Direito e Economia: diálogos, coord. Armando
Castelar Pinheiro et al., FGV Editora).
◦ Lei nº 9.433/1997 (Política Nacional de Recursos Hídricos).
◦ Art. 1º: “A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos: I - a água é um bem de domínio
público; II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; III - em situações de escassez, o uso prioritário
dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais”.
◦ Art. 19: “A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva: I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma
indicação de seu real valor; II - incentivar a racionalização do uso da água; III - obter recursos financeiros para o
financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos”.
IMPOSIÇÃO CONSTITUCIONAL DA REGULAÇÃO AMBIENTAL
◦ Em caso de descontrole estatal (ausência de legislação, execução de políticas públicas e inércia judicial), os recursos
ambiental serão superutilizados, de forma desenfreada, provocando uma injusta (e ineficiente) “privatização dos lucros
e a socialização das perdas”, eis que as externalidades não serão internalizadas.
◦ Rômulo Sampaio e Júlia de Lamare, “Direito, economia e meio ambiente: uma introdução à regulação ambiental”, in “Direito e
Economia: diálogos”, coord. Armando Castellar Pinheiro, Antônio J. Maristrello Porto e Patrícia Regina Pinheiro Sampaio, Ed. FGV:
“Neste cenário, a intervenção estatal se destina a criar mecanismos de internalização dos custos que, sem a regulação, acabariam sendo
terceirizados”. (...) “O meio ambiente, em regra, encaixa-se na definição econômica de bem público. No entanto, o uso desenfreado e
sem controle estatal pode, em última análise, tornar o bem escasso ao ponto de torná-lo rival. Se o meio ambiente perde a
característica da não rivalidade, passa a se considerado pela economia recurso comum. Diante da caracterização do meio ambiente, em
certos contextos fáticos, como recurso comum, é possível a aplicação da ideia da tragédia dos bens comuns (Hardin, 1968). A
expressão faz referência a situações nas quais há um forte incentivo à superutilização de um determinado bem”.
◦ Exemplos ambientais de Garrett Hardin: uso das pastagens comuns pelos fazendeiros e descarte de resíduos sem
tratamento.
STF CONTRA A DESREGULAÇÃO AMBIENTAL
◦ STF, ADPFs 747 e 749: inconstitucionalidade da Resolução Conama 500/2020, com a consequente restauração imediata da vigência
das anteriores Resoluções 284/2001 (licenciamento ambiental de grandes empreendimentos de irrigação), 302/2002 (APP em
reservatórios artificiais) e 303/2002 (limites APP).
◦ Especialmente em matérias que atraem deveres constitucionais por parte do Estado, há que se ter especial cuidado com a
desregulação, incluindo a ambiental. É preciso diferenciar “aprimoramento da regulação” com “desregulação”.
◦ Min. Rosa Weber: “a simples revogação da norma operacional ora existente parece conduzir a intoleráveis anomia e descontrole
regulatório, situação incompatível com a ordem constitucional em matéria de proteção adequada do meio ambiente”.
◦ "19. Ao fixar parâmetros mínimos de proteção de um direito fundamental, a Lei nº 12.651/2012 não impede que as autoridades
administrativas ambientais, mediante avaliação técnica, prevejam critérios mais protetivos. O que não se pode é proteger de forma
insuficiente ou sonegar completamente o dever de proteção. (…) Na seara do direito ambiental, o respeito ao Estado de Direito
assume uma dimensão substantiva que se impõe como limite objetivo às medidas de natureza legislativa, administrativa ou judicial
que se revelem contrárias aos interesses da proteção ambiental, dada a particular suscetibilidade dos bens jurídicos por ele tutelados
aos efeitos potencialmente deletérios de flutuações normativas”.
◦ Conferir artigo: aqui e aqui.
AED AMBIENTAL, PRAGMATISMO E CIÊNCIA
◦ Luciano Benetti Timm (artigo: aqui):
“Portanto, em breve chegarão às portas dos tribunais arbitrais e do próprio Poder Judiciário discussões relacionadas aos impactos de
atos de governo da China às cadeias produtivas globais (para além da crise sanitária e econômica da Covid), especialmente com foco
no Brasil, as quais não sejam resolvidas negocialmente pelas próprias empresas. Muitos setores estão sendo afetados por esses atos de
império da China relacionados à sua matriz energética. E aqui, novamente, uma boa perícia econômica e contábil será o caminho para
as discussões sobre tema de tamanha complexidade. Como lembra Posner, dentro de uma perspectiva do pragmatismo jurídico,
precisamos compreender bem a complexidade dos fatos, para então encontrarmos soluções jurídicas adequadas. Para bem compreender
os fatos econômicos e até políticos, precisamos de ciência, que é aquele campo social responsável pela observação e descrição da
realidade, a partir de hipóteses e sua confirmação empírica. Nesse complexo cenário, a judicialização deveria ser a última alternativa
para os contratantes, sendo a negociação e a mediação, orientadas por critérios econômico-jurídicos, o caminho principal. E o Direito
se torna cada vez mais interdisciplinar, com amplo espaço de aplicação da Análise Econômica do Direito (AED), pois o profissional do
Direito que não tiver a linguagem das ciências econômicas e dos negócios não conseguirá navegar nesses mares revoltos e, portanto,
terá muita dificuldade de resolver problemas complexos apenas e tão somente com conceitos jurídico-dogmáticos (embora eles sejam
essenciais)”.
Ver artigo “Análise Econômica do Direito: o que é e o que não é” (biblioteca da ITE – Revista de AED 1/2021): “esgotamento da
Dogmática Jurídica, enquanto teoria que tem por objeto o estudo das normas jurídicas.
CUSTO DOS DIREITOS AMBIENTAIS
◦ O Direito Ambiental impõe custos (direito-custo). Custos financeiros ($), sociais (externalidades negativas) e de
oportunidade (trade-off). Os direitos (inclusive os ambientais) não nascem em árvores.
◦ Princípios ambientais do poluidor-pagador, usuário-pagador e protetor-recebedor.
◦ Todos os direitos têm seu preço. São custos, monetários ou não, que incidem na concessão e concretização dos
direitos e garantias. Em razão deste preço, alguém terá que pagá-los ou suportá-los. Ao escolher um direito ou optar
por uma maneira de oferecê-lo, algumas oportunidades serão renunciadas. Já se foi o tempo em que se acreditava ou se
iludia que os direitos e garantias fundamentais poderiam ser absolutos e que bastava pleiteá-los administrativa ou
judicialmente que o pedido seria atendido. Pior, gratuitamente atendido, sem custo ou perda de oportunidade para
ninguém. Ou, ainda, que pelo menos os direitos individuais estariam garantidos sem qualquer atuação estatal, logo,
sem precisar gastar um centavo sequer, ao passo que os “direitos sociais”, estes sim, é quem demandariam altas
despesas públicas.
“As leis que exigem que empresas reduzam a poluição elevam o custo da produção de bens e serviços. Em razão dos
custos mais elevados, essas empresas obtêm menos lucros, pagam salários menores, cobram preços mais altos ou alguma
combinação desses três fatores. Embora as regulamentações concernentes à poluição promovam um ambiente mais limpo
e, em consequência, melhor saúde, elas provocam a redução de renda de proprietários, trabalhadores e clientes das
empresas regulamentadas” (N. G. Mankiw, Introdução à Economia, SP, Cengage Learning, 2011).
Direito e Economia
◦ AED: “campo do conhecimento humano que tem por
objetivo empregar os variados ferramentais teóricos e
empíricos econômicos e das ciências afins para
expandir a compreensão e o alcance do direito e
aperfeiçoar o desenvolvimento, a aplicação e a
avaliação de normas jurídicas, principalmente com
relação às suas consequências”.
◦ ‘É a utilização da abordagem econômica para tentar
compreender o direito no mundo e o mundo no
direito”. (Ivo Gico Jr.)
AED
◦ “corpo teórico fundado na aplicação da Economia às
normas e instituições jurídico-políticas” (Bruno
Meyerhof Salama).

◦ “aplicação das teorias e métodos empíricos da


economia para as instituições centrais do sistema
jurídico” (Richard Posner)
AED
◦ “aplicação da teoria econômica (principalmente microeconomia e conceitos
básicos da economia do bem-estar) para examinar a formação, estrutura,
processos e impactos econômicos da legislação e dos institutos legais”. (Nicholas
Mercuro e Steven Medema)
COM A PALAVRA, MIN. LUIZ FUX
◦ Na apresentação do “Curso de Análise Econômica do Direito” de coautoria de Antônio
Maristrello Porto e Nuno Garoupa, o Ministro Luiz Fux discursou em favor da formação de
um novo jurista com visão juseconômica:
“[...] já era hora de deixarmos no passado a figura do jurista como um alquimista, dotado de uma
capacidade superior de criar e aplicar o direito, tão centrado em sua própria arte que se torna
incapaz de olhar para o mundo ao seu redor. O novo jurista tem um compromisso com gente de
carne e osso, que sofrerá as consequências, porventura desastrosas, das suas construções
abstratas majestosas (que alguns denominam, equivocadamente, “teorias”). Não há mais espaço
para o fiat justitia, pereat mundus. Nenhuma norma jurídica é justa ou justificável se não
promove o bem-estar das pessoas que a ela se submetem. O novo jurista tem familiaridade com o
conceito de escassez e sabe que a aplicação da lei não pode negligenciar a finitude de recursos.
O operador do Direito se torna mais humano quando a sua atuação é pautada por dados e
evidências extraídas de pessoas reais, em vez do clássico recurso ao seu instinto íntimo de
justiça”.
ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO
AMBIENTAL (ANÁLISE CIENTÍFICA)
◦ Análise econômica do Direito Ambiental:
◦ Justiça e (vs.) Eficiência; injustiça e ineficiência (desperdício);
◦ Racionalidade econômica e incentivos;
◦ Public Choice (Economia Constitucional): falhas de mercado e de governo, grupos de interesse,
comportamento rent-seeking, corrupção.
◦ Consequencialismo;
◦ Custos e benefícios dos direitos ambientais;
◦ Nudges ambientais e economia comportamental: criação de RPPN (ver aqui);
◦ Funções promocional e informacional do Direito Ambiental;
◦ Pesquisas quantitativas: jurimetria.
◦ Ver artigos AED Ambiental: aqui , aqui e aqui.
Externalidades ambientais
Marcelle Mourelle Perez Diós: "A poluição é uma das maiores externalidades. Do ponto de vista econômico, as externalidades são importantes
porque levam a que a defesa do interesse individual possa conduzir a decisões que, do ponto de vista coletivo, não são eficientes. Uma vez que o
agente econômico que provoca uma externalidade negativa recebe a totalidade dos benefícios da sua atividade, ele paralelamente impõe parte dos
respectivos custos a outros membros da sociedade. Consequentemente, os agentes produtivos deveriam arcar com todos os ônus da sua atividade,
posto que recebem o lucro. Ou seja, deveria fazer parte do custo todas aquelas parcelas tradicionais (matérias prima, energia, mão de obra,
estabelecimento, impostos, etc), acrescidos dos custos necessários para compensar os danos causados pela atividade empresária a terceiros e ao
meio ambiente. Todavia, na busca pelo lucro máximo, ainda há uma cultura empresarial dominante que defende a redução inconsequente dos
custos de modo que sejam melhorados financeiramente os processos produtivos e que seja externalizado todo o possível. Em uma visão
individualista e a curto prazo, isto pode até parecer positivo, sobretudo em momentos de crise global como a atual, pois com o menor custo, é
possível que o consumidor tenha acesso a um bem por um preço mais barato, fator este de competitividade para o empreendimento. Por outro
lado, em uma visão mais ampla, este quadro representa o cenário atual em que as empresas produzem demais, estimulando o consumo
progressivo, e para tanto, poluem de tal forma que suas atividades não são sustentáveis para a comunidade do seu entorno, mas também
prejudicando populações sem qualquer contato com aquela atividade produtiva, trazendo fortes problemas quanto à gestão de resíduos. Desse
modo, percebe-se que o mais eficiente não seria extinguir a poluição, já que isto implicaria em acabar com quase toda a produção, mas em
adequá-la a modelos produtivos que gerem menores externalidades e a reduzir os padrões de consumo ao necessário para a vida moderna com
dignidade”.
Pigou e as externalidades ambientais: legitimação da
atuação/regulação estatal
Gabriela Costa Cruz Cunha Peixoto:
“No meio ambiente, a escassez dos bens é a regra, fazendo-se necessária uma eficiente alocação dos recursos. A
degradação ambiental, conforme muito bem salientado por Francisco Carlos Duarte, é um problema econômico, ou seja,
um problema de escassez de recursos para atender às necessidades humanas, ocasionado por uma ineficiente alocação
dos mesmos (DUARTE, 2010).
Os economistas ressaltam que a alocação dos recursos feita exclusivamente pelo mercado é falha, em razão de fortes
influências sofridas, por exemplo, pelo poder econômico e externalidades. Arthur Cecil Pigou, economista britânico, em
1920, publicou a obra ’The Economics of Welfare’, na qual analisou o problema das externalidades negativas.
Pigou defendia que era necessária a atribuição de um preço aos custos sociais marginais, pois, caso contrário, um grupo
iria se beneficiar à custa da sociedade. Esta seria obrigada a absorver as externalidades negativas consequentes do
processo produtivo, enquanto um pequeno grupo se enriqueceria, por meio da chamada ‘privatização de lucros e
socialização de perdas’”.
TEOREMA DE RONALD COASE: PRIORIZAR A
NEGOCIAÇÃO PARTICULAR
Gabriela Costa Cruz Cunha Peixoto:
Ronald Coase, na obra “The problem of social cost,” critica a concepção adotada por Pigou sobre as externalidades.
Sob sua ótica, nem todas as externalidades negativas seriam indesejáveis à sociedade, pois algumas poderiam trazer um
ganho superior à perda. As externalidades seriam um problema bilateral, recíproco, não havendo razão para se proteger
uma parte, prejudicando outra que produz atividade eficiente e lucrativa. Coase explica que:
'A abordagem tradicional tende a obscurecer a natureza da escolha que deve ser feita. A questão é normalmente
pensada como uma situação em que A inflige um prejuízo a B, e na qual o que tem que ser decidido é: como devemos
coibir A? Mas isso está errado. Estamos lidando com um problema de natureza recíproca. Evitar o prejuízo a B
implicaria causar um prejuízo a A. Assim, a verdadeira questão a ser decidida é: A deveria ser autorizado a causar
prejuízo a B, ou deveria B ser autorizado a causar um prejuízo a A? O problema é evitar o prejuízo maisgrave
desenvolve seu raciocínio com a ideia de bilateralidade, reciprocidades das externalidades’.
Coase repudiava ainda a ideia de a intervenção estatal ser a regra na solução dos problemas ocasionados pelas
externalidade, conforme havia sidoproposto por Pigou. Para ele,a solução a ser aplicada seria a que causasse menos
prejuízo, independentemente de quem teria causado a situação. As partes envolvidas deveriam negociar, para alcançar
um equilíbrio, uma solução que fosse aceita e absorvida pela sociedade".
AED AMBIENTAL NO STJ

◦ Destaque para o Min. Herman Benjamin.


◦ STJ, REsp 1.137.314: "10. Não mais se admite, nem se justifica, que para produzir ferro e aço a indústria
brasileira condene as gerações futuras a uma herança de externalidades ambientais negativas, rastros
ecologicamente perversos de uma atividade empresarial que, por infeliz escolha própria, mancha sua
reputação e memória, ao exportar qualidade, apropriar-se dos benefícios econômicos e, em contrapartida,
literalmente queimar, nos seus fornos, nossas florestas e bosques, que, nas fagulhas expelidas pelas
chaminés, se vão irreversivelmente".
◦ STJ, REsp 1.071.741: "16. Ao acautelar a plena solvabilidade financeira e técnica do crédito ambiental, não
se insere entre as aspirações da responsabilidade solidária e de execução subsidiária do Estado – sob pena de
onerar duplamente a sociedade, romper a equação do princípio poluidor-pagador e inviabilizar a
internalização das externalidades ambientais negativas – substituir, mitigar, postergar ou dificultar o dever, a
cargo do degradador material ou principal, de recuperação integral do meio ambiente afetado e de
indenização pelos prejuízos causados".
AED: MULTA NÃO PODE VIRAR PREÇO
◦ Caso Chevron (2011), empresa norte-americana, uma mais maiores do ramo energético,
especialmente petrolífero.
◦ O IBAMA multou a empresa em R$ 50 milhões, valor máximo previsto por nossa legislação ambiental,
tendo havido recurso judicial contra tal multa. Posteriormente, o IBAMA multou novamente em mais
R$10 milhões. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) também aplicou multa de R$35 milhões, por
infringir diversas normas previstas em sua regulamentação, tendo a Chevron pago sem sequer discutir
judicialmente, a fim de obter o desconto de 30% previsto na legislação. A empresa também tinha
sofrido com a suspensão de suas atividades pelo Poder Judiciário; no final de 2011, a decisão foi
cassada. A Chevron, no mesmo ano do acidente, obteve um lucro líquido de quase R$ 55 bilhões.
Isto significa que a multa imposta à multinacional, somando a do IBAMA com a da ANP, não chegou
sequer a 2% do valor total do lucro líquido da empresa naquele ano.
◦ Princípio do poluidor-pagador: punir ≠ precificar. Crimes ambientais (Lei nº 9.605/98) e
consensualismo penal (ANPP, transação, delação premiada, penas alternativas).
CONVERSÃO DE MULTAS AMBIENTAIS
◦ Programa de conversão das multas ambientais (responsabilidade administrativa) em serviços de
prestação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente. Não é um direito do infrator; está
na discricionariedade da Administração.
◦ Alternativa à ineficiência na cobrança dessas multas (“crime sem castigo” = 1%).
◦ Art. 70, §4º, Lei nº 9.605/1998; Decreto Federal nº 9.179/2017; Instruções Normativas IBAMA nº
10/2012 e nº 6/2018. Em SP: Resolução SMA nº 51/2016.
◦ Ver nos sites do IBAMA (aqui) e do ICMBio (aqui).
◦ Ver cartilha do site www.oeco.org.br: aqui.
DEVERES FUNDAMENTAIS
◦ Joseph ROVAN, em sua obra “Como tornar-se cidadão da Europa: primeiro os
deveres, depois os direitos” (Publicações Dom Quixote, 1993), traz uma posição
contundente sobre a relevância dos deveres, priorizando-os com relação aos
direitos, p. 17:
◦ “É, portanto, uma escolha deliberada colocar, numa obra sobre cidadão da Europa, os
deveres primeiro que os direitos. É uma escolha política, numa sociedade eivada pelo
excesso de hedonismo e de reivindicação, numa sociedade que tem que reaprender a
necessidade da partilha e do sacrifício. Mas os deveres não são, no entanto, dissociados
dos direitos, muito pelo contrário, estende-se entre uns e outros um tecido de ligações, de
laços que não são exclusivamente bilaterais, mas que se inscrevem num vasto movimento
de reciprocidades e de interdependências”.
DEVERES FUNDAMENTAIS
◦ Art. 29 da Declaração Universal dos Direitos Humanos:
◦ “Art. 29. Todo homem tem deveres para com a sociedade”.
◦ Na CF/88: dever da família (arts. 205, 208, §3º, 227 e 229); serviço militar (art. 143); proteção ao
meio ambiente (art. 225); votar (art. 14); de pagar tributos.
◦ José Casalta Nabais, autor português:
◦ Dignidade da pessoa humana: liberdade e responsabilidade.
◦ Artigo: os deveres fundamentais são a face oculta dos direitos fundamentais. É preciso levar a
sério os deveres fundamentais, os custos orçamentários.
◦ Outro texto ainda mais ousado de Nabais: “menos direitos fundamentais, em nome dos direitos
fundamentais”; “menos direitos fundamentais, melhores direitos fundamentais”.
◦ Fernando Araujo: para o jurista dogmático, a realidade é um detalhe que atrapalha o raciocínio”.
Deveres fundamentais, fraternidade e solidariedade.
◦ Legitimação dos deveres fundamentais: fraternidade, solidariedade
ou pragmatismo?
◦ Declaração Universal dos Direitos Humanos
◦ "Art. 1º. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em
dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e
devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade."
◦ Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem
◦ "Art. 1º. Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade
e direitos e, como são dotados pela natureza de razão e
consciência, devem proceder fraternalmente uns para com os
outros".
◦ Visão pragmática: esses deveres se justificam mais pela sua
necessidade do que altruísmo ou bondade.
DEVERES FUNDAMENTAIS E CRITÉRIOS ESG
◦ Critérios internacionais para avaliação o desempenho das empresas nesses três pilares ou eixos do desenvolvimento
sustentável: meio ambiente (environmental), social e governança.
◦ Essas avaliações são levadas em consideração para contratações (de fornecedores ou clientes), investimentos (inclusive “fundos ESG”)
e empréstimos. “Normatização global contra desmatamento”, green deal, “eficácia horizontal dos deveres fundamentais” como resposta
ao soft law: ver aqui.
◦ São responsabilidades jurídicas que concretizam o dever fundamental das empresas contribuírem para essas áreas:
“melhores práticas”, cartilhas, indicadores. Direitos fundamentais (aplicação horizontal) ou dever fundamental?
◦ Vivemos ainda um momento de transição do soft law para o hard law e de sua utilização para fins de marketing
(ESGwashing). Ver relatórios de sustentabilidade: aqui, aqui e aqui.
◦ Sobre o assunto, ver aqui, aqui, aqui, aqui e aqui. Art. 27, §2º da Lei nº 13.303/2016 (Lei das Empresas Estatais):"A
empresa pública e a sociedade de economia mista deverão, nos termos da lei, adotar práticas de sustentabilidade ambiental e
de responsabilidade social corporativa compatíveis com o mercado em que atuam".
◦ Lei nº 6.404/1976 (Lei da S/A):
◦ "Art. 116 (...) Parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e
cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e para
com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender”.
◦ “Art. 154. O administrador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto lhe conferem para lograr os fins e no interesse da
companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da função social da empresa”.
DEVERES FUNDAMENTAIS
◦ Dada essa sua estrutura, alguns direitos também são designados “direitos boomerang” ou “direitos
com efeito boomerang”, já que são, por um lado, direitos e, por outro lado, deveres para o respectivo
titular ativo, ou seja, direitos que, de algum modo, acabam por se voltar contra os próprios titulares.
◦ Livro Casalta Nabais, “O dever fundamental de pagar impostos”, p. 53:
◦ “Aqui se devem integrar, a nosso ver, os deveres para com os nossos companheiros da aventura humana – os
animais, as plantas e até os rios, os mares – que, ao contrário do que por vezes se ousa afirmar, não constituem
direitos (humanos!) dos animais, das plantas, dos rios e dos mares. Evidentemente que tais domínios se trata
dum conjunto de deveres indirectos para com a humanidade, ou mais precisamente, de exigências
correspondentes a um equilibrado e adequado ambiente natural necessário à preservação da vida (digna de ser
vivida) da espécie humana, integrada esta tanto pela geração actual como pelas gerações futuras”.
NÃO HÁ DIREITOS FUNDAMENTAIS SEM DEVERES
FUNDAMENTAIS, NEM DEVERES FUNDAMENTAIS SEM
DIREITOS FUNDAMENTAIS.
◦ José Casalta Nabais, O dever fundamental de pagar impostos, p. 119-120:
“No mesmo sentido das intensas relações entre os direitos e os deveres fundamentais vai a ideia de que não há direitos sem deveres nem
deveres sem direito. Não há direitos sem deveres, porque não há garantia jurídica ou fáctica dos direitos fundamentais sem o
cumprimento dos deveres do homem e do cidadão indispensáveis à existência e funcionamento da comunidade estadual sem a qual os
direitos fundamentais não podem ser assegurados nem exercidos. E não há deveres sem direitos, porque é de todo inconcebível um
estado de direito democrático assente num regime unilateral de deveres, já que contra ele se levantariam as mais elementares exigências
de justiça e de respeito pelos direitos humanos, como o demonstra à saciedade a específica dimensão histórica dessa fórmula, que
simultaneamente teve por objetivo e constituiu a base fundamental da instituição do estado constitucional democrático, e está bem
patente na expressão ‘no taxation without representation’, que foi uma das principais bandeiras das revoluções liberais, mormente da
americana.
Em suma, os direitos e os deveres fundamentais não constituem categorias totalmente separadas nem domínios sobrepostos,
encontrando-se antes numa relação de ‘conexão funcional’ que, por um lado, impede o exclusivismo ou a unilateralidade dos direitos
fundamentais, como em larga medida aconteceu durante a vigência do estado de direito liberal em que um tal entendimento tinha
subjacente a concepção dualista do estado então dominante, e, por outro lado, não constitui obstáculo à garantia da primazia ou
primacidade dos direitos fundamentais ou a liberdade face aos deveres fundamentais, uma vez que estes ainda servem, se bem que
indirectamente, o objetivo constitucional da liberdade”.
EXEMPLOS DE DEVERES FUNDAMENTAIS NA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

◦ Lei 12.305/2010 (Resíduos Sólidos), art. 3º, XVII: “responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos:
conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos
consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar
o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à
qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei”. Arts. 7º, XII, 8º, III, 19, XV, 21,
VII, 30 a 36.
◦ Lei nº 9.433/1997 (Recursos Hídricos), art. 1º, VI: “A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes
fundamentos: VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder
Público, dos usuários e das comunidades”. Art. 19.
◦ Lei nº 12.187/2009 (Mudança do Clima), art. 3º, I: "Art. 3o A PNMC e as ações dela decorrentes, executadas sob a
responsabilidade dos entes políticos e dos órgãos da administração pública, observarão os princípios da precaução, da
prevenção, da participação cidadã, do desenvolvimento sustentável e o das responsabilidades comuns, porém
diferenciadas, este último no âmbito internacional, e, quanto às medidas a serem adotadas na sua execução, será
considerado o seguinte: I - todos têm o dever de atuar, em benefício das presentes e futuras gerações, para a redução
dos impactos decorrentes das interferências antrópicas sobre o sistema climático“. Arts. 4º, V; 5º, V.
SOBRE DEVERES FUNDAMENTAIS AMBIENTAIS
◦ Sarlet e Fensterseifer (“Curso”, p. 325):
“A Carta da Terra ressalta a existência de deveres e limitações de cunho ecológico impostos ao exercício de
direitos. Reconhece o seu texto, a respeito dos deveres e limitações ambientais, que ‘todos os seres vivos são
interdependentes e cada forma de vida tem valor, independentemente de sua utilidade para os seres humanos’
(Princípio 1, ‘a’), que ‘com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o dever de impedir o
dano causado ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas’ (Princípio 2, ‘a’), bem como se deve ‘impor
o ônus da prova àqueles que afirmarem que a atividade proposta não causará dano significativo e fazer com que os
grupos sejam responsabilizados pelo dano ambiental’ (Princípio 6, ‘b’). Mais recentemente, também na
perspectiva do direito-dever inerente à tutela do ambiente, a Convenção de Aarhus (1998) reconheceu, no plano
internacional, que ‘todos os indivíduos têm o direito de viver num ambiente propício à sua saúde e bem-estar, e o
dever, quer individualmente quer em associação com outros indivíduos, de proteger e melhorar o ambiente em
benefício das gerações presentes e futuras’, bem como ‘que, para poderem exercer esse direito e cumprir esse
dever, os cidadãos devem ter acesso à informação, poder participar no processo de tomada de decisões e ter acesso
à justiça no domínio do ambiente, e reconhecendo que, neste contexto, os cidadãos podem necessitar de assistência
para poderem exercer os seus direitos’. Tal contexto normativo internacional caminha alinhado com o tratamento
constitucional de direito-dever empregado pela CF/1988 à proteção do ambiente”.
SOBRE DEVERES FUNDAMENTAIS
AMBIENTAIS
◦ Sarlet e Fensterseifer (“Curso”, p. 504):
“O cenário jurídico-constitucional delineado para a tutela ecológica está solidificado no princípio da solidariedade, sem
prejuízo das possibilidades no campo da assim designada eficácia do direito (mais propriamente, do complexo de direitos
e deveres) fundamental à proteção e promoção do meio ambiente nas relações entre particulares (também denominada de
eficácia horizontal dos direitos fundamentais), o que, no seu conjunto, e diante do quadro de risco existencial imposto
pela degradação ecológica, impôs maior carga de responsabilidade pelas ações e omissões de particulares (pessoas físicas
e jurídicas), que, de alguma forma, possam, mesmo que potencialmente – em face da aplicação do princípio e dever de
precaução-, comprometer o equilíbrio ecológico.
Os deveres fundamentais de proteção ecológica, portanto, vinculam juridicamente os particulares no sentido de exigir-
lhes não apenas a adoção de medidas negativas, o que ocorre no caso de impedir o particular de realizar determinada
atividade que, mesmo potencialmente, possa acarretar dano ambiental, como desmatar a área de mata ciliar ou despejar
produto químico no córrego de um rio, como também medidas positivas (de cunho prestacional) necessárias à
salvaguarda do equilíbrio ecológico, como ocorre na hipótese de medidas voltadas à conservação do patrimônio
ambiental ou à reparação de um dano ecológico. O art. 5º, parágrafo único, da Lei 6.983/81 reforça normativamente (e
converte em obrigações legais) a dimensão dos deveres fundamentais e proteção ambiental dos particulares, ao assinalar
expressamente que ‘as atividades empresariais públicas ou privadas serão exercidas e consonância com as diretrizes da
Política Nacional do Meio Ambiente’”.
FIM
• Próxima aula...

• Uma abordagem do “mercado ambiental”.


DIREITO AMBIENTAL CONSTITUCIONAL. PROTEÇÃO
CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE E DO
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL.
Art. 225 da CF. Ordem Econômica. Curva ambiental de Kuznets.
Nudges ambientais. Pagamento por serviços ambientais. “Tributação
verde”. Compliance ambiental.

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