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ENSAIOS SOBRE

DIREITO TRIBUTÁRIO
AMBIENTAL
ORGANIZADORES:
CARLOS ARAUJO LEONETTI
LIANE FRANCISCA HUNING PAZINATO
ADRIELLE BETINA INÁCIO OLIVEIRA

AUTORES
ADRIELLE BETINA I. OLIVEIRA
ANDRÉ AFECHE PIMENTA
CARLOS ARAUJO LEONETTI
EPAMINONDAS JOSÉ MESSIAS
JACKSON TORRES
LEATRICE FARACO DAROS
LIANE FRANCISCA HUNING PAZINATO
LUANA REGINA DEBATIN TOMASI
LUCIANA YOSHIHARA A. ZANIN
ENSAIOS SOBRE
DIREITO TRIBUTÁRIO
AMBIENTAL
Esta obra é fruto das discussões dos encontros da disciplina ministrada pelo
professor Dr. Carlos Araujo Leonetti para o mestrado DIR410281- Direito
Tributário Ambiental e para o doutorado DIR510104-Marcos Teóricos em
Teorias do Estado e da Constituição no segundo trimestre de 2020. As ideias
e opiniões expressas neste livro são de exclusiva responsabilidade dos
autores, não refletindo, necessariamente, a opinião dos organizadores ou da
instituição.

Capa retirada do domínio público

Florianópolis
2020
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................. 8
EXTERNALIDADE AMBIENTAL E DIREITO AO MEIO AMBIENTE
ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO: QUESTÃO DE VONTADE
POLÍTICA .......................................................................................... 10
ADRIELLE BETINA I. OLIVEIRA
AS TAXAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL, A LIBERDADE DE
LOCOMOÇÃO E O DIREITO FUNDAMENTAL AO LAZER: UMA ANÁLISE
DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL À LUZ DOS
PRINCÍPIOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO AMBIENTAL ........................ 34
ANDRÉ AFECHE PIMENTA
OS PRINCÍPIOS CONFORMADORES DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL
........................................................................................................... 50
CARLOS ARAÚJO LEONETTI
LIANE HÜNING PAZINATO
TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL ............................................. 64
EPAMINONDAS JOSÉ MESSIAS
INCENTIVOS TRIBUTÁRIOS À GERAÇÃO E AO USO DE ENERGIA
EÓLICA .............................................................................................. 83
JACKSON TORRES
APONTAMENTOS SOBRE A PROMOÇÃO DA SUSTENTABILIDADE
ATRAVÉS DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL E DO ESTÍMULO ÀS
ENERGIAS RENOVÁVEIS .................................................................. 94
LEATRICE FARACO DAROS
A TRIBUTAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AO MEIO
AMBIENTE ....................................................................................... 109
LUANA REGINA DEBATIN TOMASI
O FENÔMENO DA ESCASSEZ NO DIREITO TRIBUTÁRIO AMBIENTAL
......................................................................................................... 121
LUCIANA YOSHIHARA ARCANGELO ZANIN
8

APRESENTAÇÃO
A presente obra abriga uma coletânea de ensaios produzidos
no âmbito das disciplinas DIREITO TRIBUTÁRIO AMBIENTAL e
MARCOS TEÓRICOS EM TEORIAS DOS DIREITOS HUMANOS
E DA CIDADANIA, oferecidas no segundo trimestre de 2020, pelo
Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade Federal de
Santa Catarina - PPGD/UFSC.
Os ensaios, elaborados por professores e alunos, abordam
temas discutidos em classe, todos tendo por “pano de fundo” o Direito
Tributário Ambiental.
Embora no Brasil, o Direito Tributário Ambiental ainda seja
um ramo do direito não muito conhecido, no plano internacional já é
estudado há, pelo menos, 2 (duas) décadas.
Assim é que o Global Conference on Environmental Taxation
(GCET), o mais importante evento acadêmico sobre Direito Tributário
Ambiental realizou em 2020 a sua 21ª edição, desta feita em caráter
não presencial. O PPGD/UFSC, por meio do seu grupo de pesquisas
em DIREITOS HUMANOS DA TRIBUTAÇÃO, já se fez presente em
3 (três) desses encontros, sempre com apresentação de trabalho e em 2
(duas) oportunidades com publicação de artigo.
A presente publicação sob a forma de e-book, além de
registrar produção acadêmico-cientifica de professores e alunos busca
estimular a produção bibliográfica na academia, no âmbito do Direito
Tributário Ambiental.
Por questão de justiça e de reconhecimento, registre-se, aqui,
que esta obra não seria possível sem a efetiva participação dos alunos,
e em especial, da aluna Adrielle Betina I. Oliveira e da pós-doutoranda
Profa. Dra. Liane Hüning Pazinato, que comigo compartilham a sua
organização.

Prof. Dr. Carlos Araujo Leonetti


Professor Titular do PPGD/UFSC e Co-Organizador da obra.
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10

EXTERNALIDADE AMBIENTAL E DIREITO AO MEIO


AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO: QUESTÃO
DE VONTADE POLÍTICA

Adrielle Betina I. Oliveira1

“Ruína é o destino para o qual todos os


homens correm, cada um perseguindo seu
próprio interesse em uma sociedade que
acredita na liberdade dos bens comuns”
(OSTROM, 1990, p. 2).

INTRODUÇÃO

O direito tributário ambiental tem como objeto de estudo a


atuação do Estado intervindo em prol da promoção do
desenvolvimento sustentável, com base em três pilares: crescimento
econômico, qualidade de vida e justiça social. Estes pilares clarifica a
fundamentação em teorias econômicas clássicas em que para que haja
a satisfação das necessidades básicas (“qualidade de vida”) deve-se
anteriormente ocorrer desenvolvimento econômico (“crescimento
econômico”), apenas no final ocorreria redistribuição (“justiça
social”).
O Estado interventor atua como negociador entre os
interesses individuais e coletivos, entre sociedade e agentes
econômicos, a fim de possibilitar o uso dos recursos naturais com
finalidade de “assegurar a todos uma melhor qualidade de vida”, artigo
170 caput da Constituição Federal (BRASIL, 1988), para a presente e
futuras gerações. Essa atuação do Estado, intertemporal e negocial,
pode ser interpretada como negociação dos recursos, que se aproxima

1Doutoranda em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC. Mestre


em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC (2020). Bacharela em
Direito pela Universidade Luterana do Brasil, ULBRA (2017).
11

do uso ótimo dos recursos naturais, teorizado por Pareto. Concepção


desconsidera o limite natural dos recursos, que desembocou na crise
ambiental em que vivemos, como um crescimento sem limites, o que
ficaria a cargo do mercado a administração.
O limite ao crescimento é imposto pela finitude dos recursos
naturais, renováveis e não renováveis, sendo imperiosa a atuação do
Estado na gestão desses. A Constituição Cidadã expressa como direito
fundamental o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado de
forma transgeracional, poder/dever da Administração Pública.
Este ensaio tem como objetivo refletir a aplicabilidade do
direito fundamental inaugurado pelo estado socioambiental escupido
no artigo 225 da Constituição pela atuação extrafiscal do Estado. Não
tem o escopo de esgotar o tema, nem consiste em revisão bibliográfica
sobre o assunto.
A fim de alcançar o objetivo seguiu a seguinte linha de
raciocínio, primeiramente apresentamos definições de externalidade
negativa, discorremos especificamente a externalidade ambiental como
tema essencial para compreensão da atuação do Estado como gestor do
uso racional da natureza em prol da redistribuição das externalidades;
em seguida defendemos a compatibilidade da atuação extrafiscal do
Estado com o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado; verificada a compatibilidade apresentamos a “vontade
política” como requisito para o alcance do direito fundamental ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, utilizando mudança climática
como exemplo; por fim, levantamos abordagem de limitação a vontade
política por práticas neocoloniais que engessam sua atuação.

1 QUESTÕES FUNDAMENTAIS: EXTERNALIDADES E


EXTRAFISCALIDADE

1.1 EXTERNALIDADES AMBIENTAIS: CONCEITO ESSENCIAL

Externalidade é de supra importância para o direito ambiental


e, também, para o direito tributário ambiental, este por sua “vocação
redistributiva”. Neste âmbito, se questiona redistribuir danos e
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benesses é possível visto que a pilhagem ambiental conta desde os


primórdios da humanidade, o processo produtivo também é produtor
de desumanidade.
Externalidades são oriundas de processos produtivos para
satisfazer as necessidades (infindáveis) humanas (sejam elas criadas ou
básicas). “Toda produção carrega em si recursos naturais e uma opção
por sua exploração. Toda sociedade traz em si os resultados da opção
produtiva de exploração dos recursos naturais.” (DERANI, 2014).
Desta maneira, os resultados do processo produtivo na
economia globalizada são escolhas políticas, como enfatiza Altvater
(1995, p.147 ss.) “a externalização é uma opção de estratégia política,
[...] desde que disponham de poder para tanto”. No processo de
globalização consequentemente globaliza-se os custos sociais
(deseconomias), globaliza-se ordem e caos (ALTVATER, 1995).
Derani discorre que a primeira mediação humana para a
produção é natureza, sendo externalidades negativas compreendidas
como “produtos não contabilizados na renda do empreendedor,
trazendo efeitos negativos à sociedade” (DERANI, 2008, p.90-100).
Essa não contabilização é de que se ocupa a internalização
das externalidades, na busca pela racionalização do uso dos recursos
naturais. Aqui o Estado assume o papel de organizador e direcionador
de atividades para a proteção ambiental, por meio de objetivos
“políticos, econômicos e ambientais” (DERANI, 2008, p.92-93).
Aragão (2014, p.27-31) salienta que externalidades
ambientais negativas têm significados diferentes para o direito e para a
economia: juridicamente “são considerados fonte de injustiças sociais,
pois significa que são causados danos impunemente à sociedade”,
enquanto economicamente “significam uma ineficiente afetação dos
recursos, consequência de uma falha do mercado”.
Os economistas apontam duas causas e duas soluções para a
falha de atribuição de valor “ótima” dos recursos, vejamos:

[...] o mercado falha porque não há uma clara definição


de direitos de propriedade ou, então, porque não há
regulamentação da utilização dos bens públicos. A
13

solução, no primeiro caso, é a negociação direta, e no


segundo é a regulamentação, pelo Estado, do regime de
acesso aos bens. (ARAGÃO, 2014, p.36)

A primeira é apresentada por Coase, adepto da liberalização


do mercado, elimina o Estado da relação, a fim de impedir a imposição
de impostos ou redistribuição, e propõe que a solução seja “entre
causador e o suportador dos efeitos externos” por meio de acordos em
que prevaleça o menor custo, “internalização eficiente” (DERANI,
2008, p. 92).
Enquanto, para Pigou as externalidades causam uma perda de
bem-estar, porque “o mercado não transporta todas as informações
necessárias para que seus agentes (empresa e consumidor) realizem a
alocação ótima de fatores”, para ele o Estado deve corrigir as lacunas
e assegurar um nível ótimo do mecanismo do mercado (DERANI,
2008, p. 91).
A característica essencial das externalidades negativas é a
ausência de consideração e contabilização espontânea nas decisões de
produção e de consumo, referente a transferências de bens ou
prestações de serviços fora dos mecanismos do mercado. São
transferências por meios não econômicos, ou seja, sem fluxo de
dinheiro, ou seja, transferências a “preço zero”, por isso são efeitos
externos ao mercado ou “externalidades de uma dada atividade
econômica”, o preço final dos produtos não as reflete (ARAGÃO,
2014, p. 31).
Além dessa outras duas características envolvem
externalidades, quem causa danos a outrem não os paga e quem cria
benefícios a outrem não é compensado. Aragão os classifica como i)
interdependência entre as decisões dos agentes económicos, e ii)
inexistência de compensações, “por isso não pesam nas decisões de
produção ou consumo, apesar de representarem verdadeiros custos ou
benefícios sociais decorrentes da utilização privada dos recursos
comuns” (ARAGÃO, 2014, p.32).
Esse processo, de não incluir o uso dos bens comuns no
cálculo da produção, possibilita a acumulação de capital e geram
desigualdades. Altvater (1995, p.135) afirma que o conceito de
14

externalidade é “preciso e bastante ideológico”, porque, afirma o autor,


as externalidades não podem ser calculadas pelo “órgão central da
sociedade constituída nos ternos da economia monetária e de
mercado”, e por contemplar também o dever de internalização das
deseconomias, que segundo o autor não é possível, com base nos
argumentos de Georgescu-Roegen referente irreversibilidade das ilhas
de entropia geradas pela utilização dos recursos naturais (ALTVATER,
1995, p.135).
As ilhas de sintropia (ou alta entropia) justifica o limite ao
crescimento econômico. Geogescu-Roegen (2012, p. 62) sustenta que
os processos econômicos são puramente físicos, pois “ele não faz mais
do que transformar recursos naturais de valor (baixa entropia) em
resíduos (alta entropia)”, em especial a segunda lei da termodinâmica,
lei da entropia, permite identificar as relações entre sistema produtivo
com os recursos naturais, pois somente se pode obter trabalho de uma
fonte em que se implique uma alteração de temperatura.
Outrossim, entropia significa que a disponibilidade de uma
certa quantidade de energia não preserva as mesmas propriedades ao
longo do tempo para criar trabalho útil, uma vez que a energia tenha
sido usada, ou seja, a entropia indica a degradação da energia,
transformação de energia útil para não útil.
Portanto, essa lei termodinâmica indica que o uso das
qualidades dos recursos naturais tem limites, pois uma vez utilizados
transformam-se em matéria de alta entropia (desordem, resíduos do
processo produtivo etc.).
Logo, o progresso humano ocorreria com base do regresso
ambiental, aumento da desordem ambiental, sendo visível e
comprovado o “desequilíbrio entre o enriquecimento antrópico e o
empobrecimento do meio ambiente”.
Assinala-se como externalidades do processo produtivo o
desmatamento para fins “agrícolas e para a demanda humana por
madeira, lenha e espaço para a pecuária foi de 14,5 milhões de hectares
por ano entre 1990 e 2005”, cerca de 24 bilhões de toneladas de solo
fértil é perdido por ano, sendo que um quarto da superfície da Terra já
foi degradado, “a quantidade de solo fértil per capita caiu pela metade
15

nos últimos 50 anos, e a projeção é que caia novamente pela metade


até 2050” (ALVES, 2015, p.49-51).
Alves (2015) denomina essas externalidades do processo
produtivo como “crise do solo”, por estar em um estado limite de uso,
e sustenta que se agrava as crises hídricas das águas doce e salgada.
Além da escassez de água potável2, a agricultura já é responsável pelo
uso de 70% da água doce do globo, projeta-se que até 2050 a demanda
aumente em dobro para atender ao crescimento demográfico (ALVES,
2015, p.53).
Ostrom (1990) alertava que se observássemos o mundo
verificaríamos que nem o Estado nem o mercado administram de forma
totalmente bem-sucedida os recursos naturais para permitir que os
indivíduos mantenham o uso produtivo a longo prazo.
A sociedade de economia privada tem como princípio o
individualismo, onde cada indivíduo deve gerir seus “negócios”, sem
o respeito ao que constitui como comum a todos os homens
(ALTVATER, 1995, p.133). Modelo de passos largos à Tragédia dos
Comuns3.

1.2 DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO E


EXTRAFISCALIDADE

Esta seção trabalhará com aspectos da extrafiscalidade como


aplicação da regulação constitucional socioambiental que inaugurou no
ordenamento jurídico brasileiro o direito fundamental ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, compatível com o
desenvolvimento da atividade econômica.

2 “De toda a quantidade de água da Terra, apenas 2,5% são potáveis. Desta pequena
parcela, 69% estão congeladas nas regiões polares e 30% misturadas no solo ou
estocadas em aquíferos de difícil acesso. Só resta 140 mil quilômetros cúbicos de água
para serem utilizadas por toda a biodiversidade do Planeta” (ALVES, 2015, p.52).
3 “Tragédia dos comuns” simboliza a degradação do ambiente que seria de esperar

sempre que muitos indivíduos usassem um recurso escasso em comum, em que cada
indivíduo é impelido a aumentar seus benefícios particulares sem considerar o todo
(OSTROM, 1990).
16

O tema tributação ambiental no Brasil é transversal. Essa


transversalidade tem fundamento na construção interpretativa correlata
de diferentes partes da Constituição Federal de 1988, em seguida
denominada apenas com Constituição, portanto os juristas não podem
interpretar as normas tributárias, ambientais e econômicas de forma
individualizada.
Em uma visão sistêmica -que é o proposto pela Ecologia – as
ações intervencionistas do Estado devem ser compostas pelos valores
das fontes do direito. Neste caso, as fontes do direito tributário
ambiental é o próprio direito, normas prescritas na Constituição
Federal de 1988, em especial os artigos 170, 174 e 225.
A atuação intervencionista do Estado no âmbito do direito
tributário ambiental é materialização do artigo 174:

Como agente normativo e regulador da atividade


econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as
funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo
este determinante para o setor público e indicativo para
o setor privado (BRASIL, 1998).

Sendo que o constituinte expressou os valores que devem


nortear a conduta do ente público no artigo 170, o fim precípuo do
desenvolvimento econômico é “assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social”. Para tanto, o meio ambiente é
essencial não devendo prevalecer a atividade econômica para em
seguida ocorrer proteção ambiental e redistribuição de renda. Este
discurso está tão defasado, porém prossegue na academia e na política.
O direito tributário ambiental, como ramo do direito
brasileiro, é limitado pela norma, em razão do princípio da legalidade;
não pode discriminar a quem se aplica, em razão do princípio da
isonomia; tem caráter educativo e redistributivo, haja vista que o
direito penal exerce a função sancionatória; sendo a arrecadação
vinculada da receita arrecada, em razão da destinação específica.
A interpretação dos valores constitucionais em prol do meio
ambiente permeia todo o texto constitucional, e está expresso no artigo
17

225 como direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado.
Entretanto, desde nossa formação como indivíduos e o
próprio ensino do direito é compartimentado, ao não dialogar com
outras áreas de conhecimento, resultado do processo positivista, o que
determina a atuação posterior dos profissionais (CAPRA, MATTEI,
2018). A própria classificação do meio ambiente em urbano, natural,
artificial, do trabalho impede que entendamos a vida, as normas, o
ambiente, a Terra enquanto teia interconectada. Exemplo feliz dado por
Derani em recente palestra, a diminuição de chuvas no Amazonas está
a ausência de água nas torneiras em São Paulo.
Valadão e Carnaúba (2017) denotam como a função
normativa tem aspecto de estimular mudança comportamental, sendo
a função promocional do direito teorizada por Norberto Bobbio. Ao
direcionar a conduta das pessoas induz-se aos comportamentos
desejados, condicionando, seja pela sanção positiva ou negativa.
Estímulos à comportamentos para a promoção de novas formas de agir
social, em especial aqui na defesa do meio ambiente ecologicamente
equilibrado, por ser direito fundamental. Esse processo de virada
comportamental depende da ecoalfabetização dos indivíduos e dos
profissionais (CAPRA, MATTEI, 2018).
No ordenamento jurídico brasileiro temos fundamentos
legais que justificam a atuação ecológica em todos os âmbitos, pois o
texto constitucional constitui-se em conjunto de vários
compartimentos, porém os valores constitucionais esculpidos como
princípios pelo constituinte originário merecem perpassar todos os atos
interpretativos.

A interpretação das normas no estudo da


extrafiscalidade ambiental não pode ser diferente, pois
interligados no mínimo, quatro subsistemas do direito,
quais sejam: Constitucional, Tributário, Econômico e
Ambiental. Deve-se, pois, verificar a interrelação
existente entre as normas que reguem os referidos
subsistemas, observando situações em que determinados
dispositivos de um ramo jurídico devem ceder espaço
em face de outros, mormente em se tratando de
18

princípios, onde o sopesamento entre eles é utilizado


como forma de interpretação. (VALADÃO,
CARNAÚBA, 2017, p.86)

No processo de sopesamento dos princípios Valadão e


Carnaúba (2017) enfatizam que haverá situações em que os princípios
tributários serão abrandados em favor de princípios econômicos, bem
como os princípios ambientais poderão ser abrandados.
O intérprete, aqui em foco a Administração Pública, exercerá
papel primordial do que se entende por meio ambiente ecologicamente
equilibrado essencial para a dignidade da pessoa humana. Quando se
tem que é poder/dever do Poder Público e da coletividade a defesa e
proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado se demarca a
necessária vontade política como impulsionadora desse direito.
Portanto, em todos os atos interpretativos, das diversas áreas
do direito, necessário será que esta vontade política se aplique em favor
do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

2 “VONTADE POLÍTICA” REQUISITO PARA APLICABILIDADE DO


DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE
EQUILIBRADO

Vontade política pode materializar-se pela implementação de


políticas públicas, ocorre que no Brasil há histórico de políticas
ineficazes e ineficientes, pela falta de acompanhamento e gestão,
descontinuidade, confusão de gestão e coordenação (TORRES,
PAZINATO, 2017).
Ainda, ausência de planejamento, finalidade no tempo e
espaço, faz com que induza o indivíduo a ter comportamento lesivo ao
meio ambiente.
Entre o positivismo, origem da racionalidade cartesiana, e a
efetividade do princípio fundamental do direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado existe o papel jurídico interpretativo. Os
processos interpretativos no direito tributário estão limitados pela
19

norma constitucional, que apresenta principiologia a ser aplicada, e


assim limita o poder de tributar do Estado.
Entretanto, o Estado ao executar seu dever/poder de proteção
ambiental expresso no artigo 225 pode interferir em atividades
econômicas, sob mesma justificativa, conforme o artigo 170, inciso VI
da Constituição Federal, que permite o tratamento diferenciado ao
contribuinte, pois neste caso há finalidade extrafiscal, ou seja, “a
medida de comparação não será a capacidade contributiva” (ÁVILA,
2010, p.166).
Neste ponto é imperioso destacar importância da “finalidade
eleita”, não pode ser genérica nem abstrata, ou seja, qual o objetivo a
ser alcançado com este tributo extrafiscal. Levantamos a questão:
proteção ambiental é genérico.
Poder-se-ia enunciar o princípio da precaução, princípio
essência do direito ambiental para Derani, e princípio essencial a
eficácia do direito fundamental das futuras gerações ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, porque este princípio preceitua a
“precaução contra o risco”. Vejamos:

Precaução é cuidado (in dubio pro securitate). O


princípio da precaução está ligado aos conceitos de
afastamento de perigo e segurança das futuras gerações,
como também de sustentabilidade ambiental das
atividades humanas. Este princípio é a tradução da busca
da proteção de existência humana, seja pela proteção de
seu ambiente, seja pelo asseguramento da integridade da
vida humana. A partir desta premissa, deve-se também
considerar não só o risco iminente de determinada
atividade, como também os riscos futuros decorrentes de
empreendimentos humanos, os quais nossa
compreensão e o atual estágio de desenvolvimento da
ciência jamais conseguem captar em toda densidade. O
alcance deste princípio depende substancialmente da
forma e da extensão da cautela econômica,
correspondente a sua realização. Especificamente,
naquilo concernente às disposições relativas ao grau de
exigência para implementação de melhor tecnologia e ao
20

tratamento corretivo da atividade inicialmente


poluidora. (DERANI, 2008, p.151-152)

A ideia central, fundamentada em teorias de Gerd Winter, é


de que o Poder Público é anterior ao empreendimento, questiona-se a
própria razão do empreendimento, sua razão de existir. Esses
questionamentos tem como “ponto de partida de uma política que tenha
em vista o bem-estar de uma comunidade”, este processo avaliativo de
elencar valores faz-se na política e no mercado, posteriormente cabe ao
direito abordar a constitucionalidade, antes mesmo de verificar o risco
envolto no objetivo elencado (DERANI, p.152).
Gize-se o papel da cognição jurídica em valorar os institutos
jurídicos envoltos na política pública adotada pela Administração
Pública. Neste ponto retomemos as lições de Ávila (2010, p.166) os
valores estipulados pela na Política devem estar atribuídos como
finalidades que o ente estatal deve atingir, como: a garantia da
segurança pública (art.144), a preservação da ordem econômica (art.
170 e ss.), a implementação da política urbana (arts.182-183), a
garantia da função social da propriedade (art. 184 a 191), a preservação
da ordem social (arts.192-231), a evolução da ciência e da tecnologia
(art. 218 a224), a proteção do meio ambiente (art.225) e da família
(arts.231 e 232), a fiscalização e controle sobre o comércio exterior
(art.237).
Destarte, partimos do pressuposto de que os valores já foram
escolhidos pelo constituinte originário, desta forma caberia aos entes
federativos materializar as finalidades já determinadas no texto
constitucional. A verificação de compatibilidade da medida escolhida
pelo ente estatal e seu encaixe com os limites constitucionais impostos
fica a cargo do judiciário.
Sendo que na finalidade extrafiscal, como atuação com
finalidade não arrecadatória, pode-se afirmar que a capacidade
contributiva é mitigada, entretanto o Estado não poderá agir
ilimitadamente, mesmo se afastando do “ideal de igualdade particular”
deve se pautar pelo controle de proporcionalidade da medida.
Dessas reflexões enfatizamos que recorrentemente cabe ao
direito, ao poder judiciário em controle concentrado de
21

constitucionalidade, avaliar se a medida do Executivo e Legislativo é


condizente com os valores constitucionais e, ainda, se atendem aos
limites de tributar determinados, também, na Constituição e regras do
Código Tributário Nacional.
A discussão em torno da “Taxa de Controle e Fiscalização
Ambiental” instituída pela Lei nº. 10.165/2000 exemplifica a
necessária interpretação interdisciplinar e correlata dos títulos do texto
Constitucional. Haja vista que não podemos nos afastar da segurança
jurídica ao relativizar institutos do direito tributário, como a finalidade
e capacidade contributiva (STF, 2000).
Todavia, devemos nos afastar a visão cartesiana, linear e
mecanicista, em que “o direito é usado para proteger a propriedade
extrativista como um direito individual”, neste processo interpretativo
o direito apresenta-se como “estrutura objetiva separada do intérprete
humano” e o conhecimento científico basta à dominação e controle da
natureza (CAPRA; MATTEI, 2018). Os institutos jurídicos que
conhecemos foram moldados neste modelo de racionalidade.
a tributação ambiental, como instituto dentro do sistema
produtivo e jurídico positivista ocidental eurocêntrico carrega em si a
“opção produtiva de exploração dos recursos naturais”, retomando
termo de Derani, que sozinha não intenta a mudança paradigmática e
contemplação dos valores incutidos nos princípios do direito ambiental
e na Constituição Federal da República Federativa do Brasil é
necessário mudança paradigmática no modos de ser, de viver e
produzir a vida em sociedade, utilizemo-nos como instrumento neste
processo de transição.
Devemos reconhecer que já vem ocorrendo mudança na
postura de consumo de uma parte da população mundial, como
exemplos podemos citar selos internacionais com pegada hídrica,
pegada de carbono, produtos orgânicos. Porém concomitante a estes
processos ocorrem o marketing para esverdeamento dos bens.
Também, já iniciamos processos de mudanças
comportamentais em torno de institutos jurídicos, porém é essencial
observar o direito não como entidade dotada de vida própria, mas como
materialidade das cognições realizadas por pessoas em diversas
22

culturas, materializa a formação destas, centros de ensino


cartesiano/eurocêntricos/brancos/extrativistas de racionalidade
mecanicista.
Para alcançarmos “ordenamento jurídico-ecológico”
(CAPRA, MATTEI, 2018) usado por cidadãos com objetivo de gerar e
proteger os Commons precisamos formar os futuros juristas com
educação jurídica sistêmica, e estimular os tribunais superiores à se
posicionarem diante da ampla discussão acadêmica transdisciplinar
dos fenômenos jurídico-sociais e econômicos, para que não atuem
numa busca de encaixe do fato social ao instituto, e sim no processo de
mudança paradigmática do direito.
Tal mudança paradigmática assemelha-se com as reflexões
apresentadas por Juarez Freitas em “Função regulatória dos tributos
sustentáveis” em que a tributação sustentável não tem finalidade
apenas de arrecadar, serve para estimular de forma contínua a inserção
de “hábitos sadios, apropriados ao desenvolvimento imantado pela
sustentabilidade multidimensional” (FREITAS, 2017, p.70).
Infere-se que “sustentabilidade multidimensional”
contempla benefícios ambientais, sociais e econômicos, em
consonância ao princípio da equidade intergeracional, esculpido no
Princípio número 3 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento. Neste ponto cumpre salientar posição de Cristiane
Derani de que as dimensões do direito ambiental não são pilares que
podem ficar ao critério de escolhas, do Estado ou do particular, não há
que se falar em conflito entre economia e ecologia (DERANI, 2008).
Enquanto, Modé (2016, p.58-62) discorre que o referido
conflito advém da compreensão equivocada de que o sistema
econômico seria sistema aberto. Todavia, o limite imposto ao
desenvolvimento (descompromissado com meio ambiente e a
sociedade) deve-se ao fato de os recursos terrestres serem limitados,
pois bem é demasiadamente equivocado seguir falando em
desenvolvimento fundamentado em fontes de energia fóssil.
Os combustíveis fósseis, é ótimo exemplo da limitação dos
recursos naturais e ao modelo de sistema econômico, pois são recursos
naturais não renováveis, porque formados pela decomposição de
23

matéria orgânica, num processo que leva milhares de anos. Desta


forma, utilizarmos a mesma matriz energética desde a primeira
Revolução Industrial é a materialização de que nos furtamos de
diversos aspectos da crise climática, que limita o sistema econômico
por sua escassez em si. A sociedade moderna do risco de trinta quatro
anos atrás é agora a sociedade pós-moderna do caos, da crise instalada.
E por falar em crise, aprofundaremos, como forma de
exemplificar, o aspecto da Vontade Política como requisito para
aplicabilidade do direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado debruçando-se sobre crise climática.
Os efeitos da mudança climática podem ser percebidos por
todos em escalas diferentes conforme o local, poder aquisitivo etc. Mas
inegável é que as considerações apresentadas pelo IPCC no Relatório
Especial sobre os impactos do aquecimento global de 1,5°C (Special
Report: Global Warming of 1.5 ºC do IPCC- Intergovernmental Panel
on Climate Change) acima dos níveis pré-industriais e respectivas
trajetórias de emissão de gases de efeito estufa, de 2018, são
antecipações do que enfrentaremos enquanto sociedade.
Esse relatório foi encomendado pelas Partes da Convenção
Quadro, porém especula-se que pelos cenários negativos que
apresentava os representantes políticos não o ratificaram. É importante
salientar que o IPCC compila pesquisas científicas publicadas, pelo
critério de confiabilidade (alta, média e baixa).
Neste relatório de 2018 o objetivo era demonstrar os
impactos do aquecimento global de 1,5°C, para tanto realiza-se estudo
de modelos climáticos.
Os cenários apresentados, pelo documento em comento,
denotam que haverá redução significativa da disponibilidade de
alimento, por diversos motivos como acesso a água, propagação de
doenças. Assim há confiança que afete negativamente a prática da
pecuária, que ocorra reduções líquidas em culturas de milho, arroz,
trigo e outros cereais, bem como a alteração na qualidade nutricional
dos alimentos pela mudança no solo (OLIVEIRA, 2020).
24

Ao afetar os meios de subsistência, segurança alimentar,


abastecimento de água, assim como danos à saúde humana, como:

morbidade e mortalidade relacionadas ao calor, e para a


mortalidade relacionada ao ozônio; ilhas de calor
urbanas frequentemente amplificam os impactos das
ondas de calor nas cidades; os riscos de algumas doenças
transmitidas por vetores, como malária e dengue, devem
aumentar com o aquecimento de 1,5°C para 2°C,
incluindo trocas potenciais em sua amplitude geográfica
(OLIVEIRA, 2020)

O agir político que tenha ativo o alcance da contenção da


temperatura global em 1.5ºC pode reduzir em 50% “a proporção da
população mundial exposta a um aumento do estresse hídrico induzido
pela mudança do clima, embora haja considerável variabilidade entre
regiões (confiança média)” (IPCC, 2018, p.13).
Vale ressaltar que qualquer mudança, em cenários mais
catastróficos ou menos, afetam “crescimento econômico agregado
global”, e ainda afetam os países em escalas diferentes, o relatório
aponta que “confiança média que os países nos trópicos e subtrópicos
do Hemisfério Sul experimentem os maiores impactos no crescimento
econômico devido à mudança do clima” (OLIVEIRA, 2020).
Portanto, crise climática não é uma projeção para as futuras
gerações são desafios já enfrentados. Capra traz a discussão para o
campo da Política, sendo neste campo o local de disputa para mudança
dos valores que estão por trás da economia global, não é uma questão
tecnológica, mas de vontade política. (AVILA DA SILVA; VIANA,
2017)
Nesta senda, os impostos ambientais, subsídios temporários,
“remanejamento fiscal”, são instrumentos na mudança paradigmática,
a fim de encorajar novo modo de vida.
Em relação aos efeitos das mudanças climáticas e o uso de
matriz energética fóssil Naomi Klein discorre em seu livro This
Changes Everything: Capitalism vs. The Climate como as políticas
25

econômicas internacionais e os marcos internacionais do regime


internacional de mudanças climáticas.
A jornalista assevera que o arranjo do objetivo capitalista em
busca de recursos para serem explorados é um hábito, uma forma
comportamental, e, portanto, pode mudar. Capra, assim como Klein,
afirma que existe tecnologia limpa suficiente para que mudemos nossa
matriz energética, resta-nos escolher.
Neste caminho de escolhas o Estado é agente ativo, mas vale
ressaltar que não se pode considerar qualquer política pública como
ecológica, devemos buscar as raízes de sua formulação a continuidade
e eficiência desta. Exemplificando a repartição do ICMS foi vontade
do constituinte, caso os municípios tenham medidas de proteção
ambiental, mas ao aumentar sua quota de recebimento não significa
que este tributo passe a ser um tributo ecológico.
Outro desafio para a implementação de políticas extrafiscal
genuínas, é essas serem políticas de Estado, inalteráveis com a
mudança de governo.

3 NEOCOLONIALISMO: LIMITE À VONTADE POLÍTICA

Este tópico apresenta mais um desafio para a vontade política


no âmbito das relações internacionais, que já vem de longa data, para
usar um termo de Milton Santos, “as verticalidades e horizontalidades”
determinam os fluxos de materiais, recursos, dinheiro etc. e produz,
ainda, pobrezas inclusivas, marginalizadas e exclusivas, o que temos é
a pobreza estruturada e naturalizada de forma global (SANTOS, 2017,
p.69-74).
O processo de pilhagem ambiental (ALTVATER,1995)
denota desde o período das navegações, dos “descobrimentos”, das
“conquistas”, das relações entre “Velho” e “Novo” mundo. Nota-se
ainda seus resquícios nas relações entre Estados, numa espécie de
subordinação instalada nos organismos internacionais modernos.
O direito internacional como normatizador das relações entre
governos soberanos já nasceu eivado de interesses. O Terceiro mundo
26

emerge após a consolidação dos movimentos de descolonização e pela


influência das Organização das Nações Unidas. Todavia, a categoria de
não civilizados e a nobre missão civilizatória permanecem intrínsecos
ao sistema de relações internacionais pois este consolidou-se com base
no sistema colonial.
Como enfatizam Dal Ri Júnior et al (2017, p.65) “[...] os
juristas do século XIX queriam reafirmar o pedigree do direito
internacional europeu e utilizar a distinção entre comunidades
civilizadas e não-civilizadas para lidar com o processo de expansão
europeia”.
Sendo aquela missão executada através do direito
internacional. Os autores enfatizam que:

Muito embora o colonialismo enquanto categoria


normativa tenha desaparecido formalmente do direito
internacional, não se pode negar que continuidades
históricas não declaradas – traços da colonialidade –
permanecem como herança das feridas abertas nos
territórios e nas populações colonizadas nos séculos
passados. (DAL RI JÚNIOR; BIAZI; ZIMMERMANN,
2017, p.2)

As instituições do direito internacional moldaram-se aos


acontecimentos e lutas históricas como por exemplo a formulação do
princípio da “autodeterminação dos povos”, (DAL RI JÚNIOR;
BIAZI; ZIMMERMANN, 2017, p.63, 67) que data de 1945, mas como
salienta os autores que povos indígenas jamais poderiam
autodeterminar-se pela ausência de civilidade. Estamos sempre em
uma dinâmica de inclusão-exclusão da “civilização”.
Nesta dinâmica de inclusão e exclusão entre Nações que o
direito interno tenta aplicar sua extrafiscalidade com intuito de
incentivar mudança paradigmática para que contemplemos o valor
esculpido no direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado para a presente e futuras gerações.
Conquanto que as medidas internas sofrerão influências da
aceitabilidade, ou não, no âmbito das instituições multilaterais. Em
27

especial vamos abordar neste trabalho a Organização Mundial do


Comércio, que “fiscaliza” a troca de recursos naturais.
Assim levanta-se o seguinte questionamento: na atualidade
como a tributação ambiental em um Estado soberano aplicada a seus
nacionais, em especial as fundamentadas na limitação de emissões de
gases de efeito estufa, afeta outro Estado soberano?
Iniciemos a reflexão com a questão das medidas não
tarifárias ao comércio internacional, a tributação em última medida
atinge o preço comercial de determinado item ou incide sobre a entrada
do produto no mercado nacional. Desta maneira, no âmbito das
relações entre Estados qualquer controvérsia será objeto de consulta
perante o Órgão de Solução de Controvérsias da Organização Mundial
do Comércio. Neste ensaio nos abstemos de apresentar e discutir o
recente enfraquecimento do multilateralismo.
O principal objetivo da OMC é a eliminação das barreiras
tarifárias para maximizar liberalização comercial, a instituição
“defende” que o acesso a mercados deve ser claro e transparente. Em
síntese quer dizer que devem-se estar claras quais as condições os
produtos encontrarão ao entrarem em outro país, sendo barreiras os
impedimentos ou restrições nesses mercados.
Em breves reflexões tributação ambiental poderia apresentar-
se como barreiras tarifárias e como barreira não tarifárias, mas
atentando ao questionamento levantado relacionando-se a emissão de
gases de efeito estufa vamos limitar as barreiras tarifárias. Por
exemplo, aumento de alíquota no imposto de importação de
combustíveis a base de óleo de palma, fundamentado no alto índice de
emissão de gases de efeito estufa na cadeia produtiva deste bem.
Segundo os princípios da OMC nos depararíamos com duas
questões importantes. Primeiramente, o entendimento do que é
semelhança (likeness), ou seja, se o óleo de palma é semelhante aos
produtos brasileiros que recebem subsídios para produção como o
diesel verde a base de gorduras de origem vegetal e animal, cana-de-
açúcar, álcool e biomassa.
28

Em seguida, os incentivos no mercado interno à produtos


com alta pegada de carbono4 podem ser considerados políticas de
violação ao princípio do Tratamento Nacional, sejam financiamento ou
isenções fiscais.
Em ambos os casos o Brasil estaria sujeito a jurisdição da
OMC para avaliar a coerência de suas políticas de tributação ambiental
internas. Wieira (2018) ao revisitar os casos movidos em face do Brasil
apresenta críticas quanto a disparidade das decisões do mecanismo de
solução de controvérsias da OMC pela dificuldade de países em
desenvolvimento em dar continuidade as consultas, estabelecer um
painel, fazer as retaliações e cobrar as condenações.
Como se trata de relações comerciais entre dois Estados
soberanos é relação pautada na diplomacia e ditames do direito
internacional, sendo bem delicado. No caso Brasil vs. Estados Unidos
no contencioso do algodão o procedimento durou oito anos, foi
concedido ao Brasil o direito de retaliar em mais de oitocentos milhões
de dólares, foi feito acordo diminuindo consideravelmente o valor da
condenação, e no fim a política de subsídios ao algodão norte-
americano permaneceu.
O caso acima salta aos olhos a diferente força política dos
Estados quando se trata de direito internacional, assim é importante
salientar que a realidade em que nos encontramos foi construída,
mantendo-se as estruturas e processos de hegemonia e dominação.
Como o ex-presidente Lula assinalou em uma palestra
“equívoco é pensar que o Brasil, somente por possuir vasto território,
abundantes recursos naturais e população numerosa, terá
automaticamente papel de relevo na esfera internacional (Discurso ex-
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Discurso na Abertura do
Colóquio “Brasil: Ator Global”, Paris, 13 de julho de 2005).
Por fim, apresento reflexão de Milton Santos:

4Pegada de carbono consiste no quantum de emissões de carbono (CO2), e carbono


equivalente (COeq), de determinado produto, serviço, fase da cadeia de produção. Para
maiores informações cf. Oliveira, 2020.
29

O conhecimento de outros lugares, mesmo superficial e


incompleto, aguça a curiosidade. Ele é certamente um
subproduto de uma informação geral enviesada, mas, se
for ajudado por um conhecimento sistêmico do
acontecer global, autoriza a visão da história como uma
situação e um processo, ambos críticos. Depois, o
problema crucial é: como passar de uma situação crítica
a uma visão crítica – e, em seguida, alcançar uma tomada
de consciência. Para isso, é fundamental viver a própria
existência como algo unitário e verdadeiro, mas também
como um paradoxo: obedecer para subsistir e resistir
para poder pensar o futuro. Então a existência é
produtora de sua própria pedagogia (SANTOS, 2017,
p.116). (grifo nosso)

Podemos ser otimistas e pensar que aprendemos com a


colonização, com o neoliberalismo, com o domínio da natureza e dos
corpos. Sendo assim pelo conhecimento sistêmico e visão global dos
acontecimentos pensarmos futuros possíveis. Ressalta-se é essencial
retirar a venda dos olhos e reconhecer que o pactuado os poderes
internos sofrem pressões internacionais, direta e indiretamente, o que
por vezes limita a vontade política, consequentemente a materialização
do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho visou retratar a aplicabilidade do direito


fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado pela
atuação extrafiscal do Estado. Para tanto pontuou as externalidades
ambientais negativas como conceito essencial, tanto para o direito
tributário quanto para o ambiental, levantou a questão da administração
dos recursos naturais pelo mercado, deste uso a custo zero até as
externalidades negativas suportadas pela sociedade.
Apontamos como o Constituinte de 1998 escolheu o Estado
intervencionista e ainda inaugurou o estado socioambiental, por
apresentar o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
30

equilibrado. Especificamos que a atuação extrafiscal do Estado em prol


do meio ambiente ecologicamente equilibrado é compatível com a
finalidade de assegurar a todos existência digna, conforme os ditames
da justiça social.
Destas cognições, identificada a norma estipulando o
poder/dever do Estado e a viabilidade de atuação por instrumentos
jurídico-econômicos existentes levantamos a essencialidade de
vontade política. Como forma exemplificativa, ao discorrer sobre
mudanças climáticas identificamos que já existem tecnologias para
mudança da matriz energética, conquanto impulsionar a mudança
paradigmática depende da Política, enquanto campo de disputa.
Ademais, identificamos que nesta disputa quem tem perdido
é a sociedade em geral, bem como a limitação da vontade política têm
raízes muito profundas e diversas, como o colonialismo. Desse modo,
apresentamos um aspecto do colonialismo como limitador da vontade
política, o neocolonialismo do direito internacional e suas instituições,
em especial a instituição do comércio multilateral.
Abordamos como as controvérsias na Organização Mundial
do Comércio, no âmbito do Mecanismo de Solução de Controvérsias,
tem efeitos diferentes para países desenvolvidos e em
desenvolvimento. Isso é reflexo da força política e recursos humanos
desempenhando este fim nos países mais ricos. Por fim, o
neocolonialismo não se ampara apenas institucionalmente é
instrumentalizado pelo direito internacional.
Ainda, nas últimas décadas novos atores influenciam a
vontade política interna, o poder das empresas transnacionais5 que
culminou no enfraquecimento dos instrumentos do Estado na defesa de
seus nacionais. O colonialismo é fenômeno que se reinventa.
Por fim, materialização do direito formal ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado depende desta tomada de consciência para
ação e continuidade de políticas em busca de assegurar o que seja
digno, mesmo que o mínimo. O que envolve ar respirável, solo fértil,

5Cf. “A pilhagem dos comuns ambientais ante a falta de regulamentação internacional


sobre as empresas transnacionais” (PEREIRA, 2020)
31

água potável. O mínimo é assegurar meio ambiente equilibrado para


esta e para as futuras gerações.
E ao pensarmos nas relações entre Estados esperamos que
no futuro, o “terceiro mundo” não tenha se tornado um “lixão” de
tecnologias ultrapassadas e resíduos, a custo de manter limpa a
consciência dos consumidores do “primeiro mundo”.
Com fito na reflexão de Milton Santos podemos utilizar as
experiências passadas, como a colonização, ao utilizarmos nossa
própria vida como pedagógica, resistir para pensar o futuro é convite à
mudança. Como Capra e Mattei sustentam podemos utilizar as
instituições e institutos existentes. O direito tributário ambiental tem
esse potencial, pela atuação extrafiscal do Estado, ao ecoalfabetizar
juristas e estimular a mudança comportamental.

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nova (des)ordem mundial. Wolfgang Leo Maar (Trad.). São Paulo:
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34

AS TAXAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL, A LIBERDADE DE


LOCOMOÇÃO E O DIREITO FUNDAMENTAL AO LAZER:
UMA ANÁLISE DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL À LUZ DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO
TRIBUTÁRIO AMBIENTAL

André Afeche Pimenta1

1 AS TAXAS COMO ESPÉCIE TRIBUTÁRIA: NATUREZA JURÍDICA E


PRINCÍPIOS NORTEADORES

Dentre as cinco espécies tributárias reconhecidas no texto


constitucional pelo Supremo Tribunal Federal2, as taxas são uma
“forma de remuneração pelo uso de uma atividade diretamente
direcionada ao contribuinte, específica e divisível” (CALIENDO,
2018). De fato, ao contrário dos impostos, que possuem larga
discricionariedade na formatação de sua base de cálculo, as taxas, por
força de expresso dispositivo constitucional, devem corresponder a
uma atuação estatal específica, divisível, seja efetivamente usufruída
pelo contribuinte, seja ao menos posta à sua disposição. É o que está
gravado no inciso II do art. 145 da Constituição da República ao
assentar que as taxas seriam devidas “em razão do exercício do poder
de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos
específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua
disposição”. Esta espécie tributária, dessa forma, possui uma restrição
adicional na discricionariedade de sua instituição, decorrente do
princípio da equivalência a que está submetida, além das demais
limitações ínsitas ao regime jurídico do poder de tributar do Estado.

1
Procurador da Fazenda Nacional. Especialista em Direito Processual Civil, em
Direito Constitucional e em Direito Administrativo pela AVM Educacional LTDA
(2013). Bacharel em direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC,
(2004).
2 RE 146.733-9/SP
35

A importância dos princípios para determinado ramo do


direito vem sendo estudada, reafirmada e intensificada ao longo do
tempo. De seu mero caráter interpretativo e integrativo, construído no
positivismo jurídico, os princípios galgaram ao status de efetivas
normas. De fato, no movimento pós-positivista, liderado pelo jurista
norte-americano Ronald Dworkin (2002) e reforçado pelo jurista
alemão Robert Alexy (1994), a força normativa dos princípios foi
construída e afirmada, vindo ao encontro de uma necessidade de
concretização prática dessas normas abstratas, não mais relegando sua
aplicação apenas ao preenchimento de lacunas deixadas pelas normas-
regras (BONAVIDES, 2004).
Dessa forma, em que pese seu caráter abstrato, que os
diferenciam das normas-regras, as normas-princípios informadoras da
tributação ambiental, adiante estudadas, possuem verdadeira cogência,
podendo - e devendo - ser aplicadas coercitivamente às situações
concretas postas sob a análise do jurista.
Ricardo Lobo Torres, traça importante distinção entre valores
e princípios, ressaltando que ambos compartilham “das características
da generalidade e abstração, mas com menor intensidade”. Prossegue
o autor afirmando que “enquanto os valores são ideias abstratas,
supraconstitucionais e insuscetíveis de se traduzirem em linguagem
constitucional, os princípios se situam no espaço entre os valores e as
regras” (TORRES, 2005, p. 22). Com efeito, os princípios são valores
positivados, expressa ou implicitamente, no texto constitucional. Os
princípios informadores da tributação ambiental, dessa forma,
concretizam importantes valores da sociedade tais como a liberdade,
justiça, segurança e solidariedade.
De fato, o primeiro princípio que precisa ser analisado ao se
tratar do tema aqui proposto é o da equivalência. De acordo com
Moreira e Estanislau (2015), este princípio traduz a comutatividade
inerente às taxas no que diz respeito ao custo da atuação estatal e à
prestação devida pelo contribuinte. Por imperativo constitucional as
taxas devem respeitar, ainda que não de forma perfeita, essa
equivalência, sob pena de desvirtuamento de sua natureza jurídica,
podendo levá-las a invadir a base de cálculo dos impostos, o que é
vedado pelo parágrafo segundo do art. 145 da Constituição da
36

República. Os autores, no entanto, frisam que essa correlação não


necessita ser exata, há espaço para uma desproporção desde que dentro
do razoável. Tal permissivo demonstra-se aceitável, uma vez que a
cálculo exato do custo do serviço prestado ao contribuinte nem sempre
é de fácil realização, podendo até mostrar-se impossível de ser aferido
com precisão. O que não pode ser aceito – e não o é pela jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal3 – é a base de cálculo da taxa a ser
instituída não guardar qualquer correlação com o custo da atividade
fiscalizatória estatal.
Além do princípio da equivalência, as taxas devem estar
sujeitas, ainda, a principiologia atinente ao sistema tributário nacional.
Com efeito, não são poucas as limitações ao poder estatal de tributar
insculpidas no texto constitucional, reveladoras de uma clara
preocupação do constituinte com os direitos fundamentais dos
particulares e a proteção de sua esfera patrimonial à sede arrecadatória
do fisco. Realmente, existe todo um conjunto principiológico dedicado
a assegurar uma tributação justa, que respeite a capacidade
contributiva, vede o confisco e assegure o mínimo existencial,
podendo-se considerar todos esses princípios como interconectados e
integrantes de uma teia de valores coerente.
O primeiro princípio basilar desse enredo, e que se encontra
no art. 150, II4 da Constituição, é a isonomia tributária, que proíbe o
tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação
equivalente. Mas não apenas isso. Exige, também, que se discrimine os
contribuintes na medida de suas desigualdades. No entanto, conforme
assevera Leonetti (2015, p.241), “tal discriminação não pode ser feita

3Exemplifica-se com o RE 554.951/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, Dje de 18.11.2013, em


que o Supremo declarou inconstitucional taxa instituída pelo Município de São Paulo
pelo fato de sua base de cálculo não guardar nenhuma correlação com o custo da
atividade estatal.
4 Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) II - instituir tratamento
desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida
qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida,
independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;
37

de modo não criterioso, sob pena de não se alcançar o objetivo


colimado: há que ser balizada pela capacidade contributiva”.
Dessa maneira, conforme discorre o autor, o princípio da
isonomia tributária e o da capacidade contributiva possuem relação de
complementaridade. Com efeito, é a aplicação da capacidade
contributiva que vai concretizar a igualdade material, distribuindo-se a
carga tributária entre os contribuintes de acordo com sua aptidão de
pagar tributos, sem comprometer sua subsistência.
Apesar da Constituição da República, no p. 1º de seu art.
1455, direcionar o princípio da capacidade contributiva aos impostos
(utilizando o termo capacidade econômica), o Supremo Tribunal
Federal6 já reconheceu em mais de uma ocasião a aplicação desse
princípio às taxas, ainda que não com a mesma intensidade dos
impostos, em razão do equacionamento com o princípio da
equivalência ínsito àquela espécie tributária, já analisado. Dessa
maneira, é possível - e até mesmo recomendável – que se respeite a
capacidade contributiva na fixação das alíquotas das taxas, ainda que
em menor grau e nos limites da própria natureza jurídica desse tributo.
Borges (2015) alerta, entretanto, para os riscos de se permitir
seja a capacidade contributiva autorizadora da fixação de alíquotas
muito elevadas quando o contribuinte for pessoa, física ou jurídica, que
apresentar grande manifestação de riqueza, afastando-se
completamente da natureza jurídica contraprestacional que este tributo
deve manter. É possível concordar com a posição do autor, alertando-
se, no entanto, que, para o propósito deste estudo, focar-se-á muito
mais na baixa capacidade contributiva do particular como potencial

5 De fato, o dispositivo mencionado, tomado em sua literalidade, parece se dirigir


apenas aos impostos, in verbis: “Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal
e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à
administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos,
identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os
rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte”.
6Pode-se citar como exemplo trecho do julgado RE 406.955 AgR, rel. min. Joaquim
Barbosa, j. 4-10-2011, 2ª T, DJE de 21-10-2011: “Todos os tributos submetem-se ao
princípio da capacidade contributiva (precedentes), ao menos em relação a um de seus
três aspectos (objetivo, subjetivo e proporcional), independentemente de classificação
extraída de critérios puramente econômicos”.
38

óbice à instituição de taxas de preservação ambiental limitadoras da


liberdade de locomoção.
Além destes tradicionais princípios constitucionais, cumpre
analisar ainda, para o propósito deste ensaio, os princípios inerentes à
tributação ambiental, uma vez que irão balizar a instituição e aplicação
das taxas de preservação ou proteção ambiental.
Na análise desses princípios, Luís Antônio Monteiro de Brito
parte da existência de um macroprincípio jurídico-ambiental intitulado
“princípio da eficiência econômica-ambiental”. Para um bom
entendimento do princípio cunhado pelo autor, faz-se necessária uma
pequena digressão. O autor parte da premissa que as atividades que se
utilizam de recurso comuns acabam por atingir bens jurídicos e
destinatários externos – o que o autor denomina de externalidades. Ou
seja, quando um agente desenvolve uma determinada atividade, há
consequências benéficas (externalidades positivas) e maléficas
(externalidade negativas) a terceiros. As externalidades negativas
estariam justamente associadas ao consumo de recursos comuns –
aqueles em que com seu uso ocorre uma redução ou eliminação da
possibilidade de outras pessoas também utilizá-los (rivalidade). Dessa
forma, o objetivo da tributação ambiental seria atingir uma eficiência
econômica-ambiental, no sentido de internalizar as externalidades
ambientais negativas, fazendo com que o usuário dos recursos comuns
seja forçado a oferecer uma contraprestação pelas externalidades
negativas geradas (BRITO, 2017).
Como decorrência desse macroprincípio, surgiriam, então,
três subprincípios: o do poluidor-pagador, usuário-pagador e protetor-
recebedor. Os dois primeiros operariam pela via negativa, ou seja,
determinariam a criação de ônus ao poluidor do meio ambiente e ao
usuário dos recursos comuns, enquanto o terceiro operaria pela via
positiva, premiando aquele que protege o meio ambiente e seus
recursos. Trata-se de importante medida de justiça, orientando a
internalização das externalidades positivas e negativas e redistribuindo
os ônus e os benefícios da utilização dos recursos comuns.
Fernando Magalhães Modé, por sua vez, citando estudo de
Paulo Affonso Leme Machado, traz o princípio da participação como
39

importante orientador do direito econômico e do direito ambiental. Tal


princípio incluiria a participação na formação das decisões
administrativas, nos recursos e julgamentos administrativos, nas ações
judiciais, além da participação legislativa direta, v.g., através de
plebiscitos e referendos (MODÉ, 2016). Ora, tal princípio decorre do
próprio regime democrático acolhido pela Constituição da República
de 1988 em seu art. 1º. Ainda no texto constitucional, houve uma
especial preocupação do constituinte com a participação do cidadão na
proteção ambiental, dispondo em seu art. 225 que “todos têm direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado [...] impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações”. Dessa forma, o princípio da
participação acaba por permitir à coletividade e ao cidadão a
fiscalização da atuação estatal na proteção ambiental.
Modé ressalta, ainda, a importância para o direito ambiental
dos já tradicionais princípios da precaução e da prevenção. De fato,
incorporados ao texto da Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (1992), tais princípios possuem como escopo evitar
a lesão ao meio ambiente, partindo justamente da premissa que tais
danos acabam por se mostrar irreparáveis ou de difícil reparação. Com
efeito, ambos possuem caráter cautelar, uma espécie de tutela inibitória
a proibir futuras e eventuais lesões ambientais, havendo, entretanto,
importante distinção entre eles.
O princípio da prevenção volta-se contra atos que possuem
danosidade comprovada ao meio ambiente. O princípio pode ser
extraído do princípio 8 da mencionada Declaração de 1992: “Para
alcançar o desenvolvimento sustentável e uma melhor qualidade de
vida para todas as pessoas, os Estados devem reduzir e eliminar os
sistemas de produção e consumo não-sustentados e fomentar políticas
demográficas apropriadas”. Já havendo evidências científicas de que
determinada atividade é prejudicial ao ecossistema, mister se faz que
os Estados envidem esforços na redução ou eliminação do
desenvolvimento desse meio de produção.
Ao contrário do princípio da prevenção, que exige uma
confirmação científica de danosidade para atacar determinada conduta,
o princípio da precaução volta-se contra o mero risco. Com efeito, o
40

princípio 15 da Declaração firmada na ECO 92 afirma que “a falta de


certeza científica absoluta não deverá ser utilizada como razão para que
seja adiada a adoção de medidas eficazes em função dos custos para
impedir a degradação ambiental”. Trata-se de uma espécie de tutela do
meio ambiente voltada contra o simples risco de sua lesão. De fato,
seria muito custoso ao ecossistema - quanto mais por conta da provável
irreversibilidade de sua degradação - aguardar confirmação científica
de danosidade para que os Estados tomassem as providências
necessárias à sua preservação (MODÉ, 2016).
Os princípios vistos até então encaixam-se dentro de um
sistema e de uma acepção mais ampla que possui no princípio do
desenvolvimento sustentável sua matriz. De fato, o equilíbrio entre
presente e futuro, o respeito às gerações que estão por vir e a
conciliação entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental
concretizam-se juridicamente no princípio do desenvolvimento
sustentável.
Luís Antônio Monteiro de Brito lembra que a Declaração do
Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) apesar de
diversas menções ao princípio, não trouxe o conceito o
desenvolvimento sustentável. Entretanto tal definição já havia sido
realizada pelo relatório Brundtland, em 1987, “o desenvolvimento que
satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. Trata-se da
busca por uma combinação harmônica entre economia, meio ambiente
e desenvolvimento social, garantindo-se às gerações presentes e futuras
iguais oportunidades à realização pessoal.
Por fim, tratando-se tributação ambiental, necessário se faz
atentar para os clássicos princípios afetos à tributação, sob pena de
desconstrução de garantias esculpidas ao longo de séculos de ciência
jurídica. No entanto, como exposto por Taboada (2005), o forte caráter
extrafiscal da tributação ambiental irá autorizar a flexibilização ou o
sacrifício parcial da rigidez dos conceitos principiológicos tradicionais
do direito tributário para a efetivação da proteção ao ecossistema.
41

2 O MÍNIMO EXISTENCIAL E O DIREITO FUNDAMENTAL AO LAZER

Assentada a possibilidade de aplicação dos princípios


inerentes às limitações ao poder de tributar do Estado, cumpre verificar
como a proteção do mínimo existencial poderia balizar as taxas de
preservação ambiental e até mesmo impedir sua incidência, na busca
pela efetivação do direito fundamental ao lazer.
Aqui faz-se necessária uma regressão aos objetivos de nossa
República e aos fundamentos de nosso Estado Democrático de Direito.
De fato, não se pode analisar um instituto jurídico de forma isolada,
sem atentar para o contexto axiológico em que se insere. A
Constituição prevê toda uma cadeia principiológica, fundamentada na
dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), e destinada à construção de
uma sociedade livre, justa e solidária, à erradicação da pobreza e da
marginalização e à redução das desigualdades sociais (art. 3º, I e III).
Dentro dessa noção de proteção à dignidade, fundamento maior da
República, e de onde decorrem todos os demais direitos materialmente
fundamentais, surge a proteção do mínimo existencial (SARLET,
2012).
A proteção do mínimo existencial refere-se a uma obrigação
estatal e, consequentemente, a um direito subjetivo do indivíduo de
exigir prestações mínimas do Estado na seara social. Direitos
fundamentais sociais enunciados no art. 6º da Carta da República
devem ser efetivados pelo Estado seja de forma positiva - e aqui se
está diante da verdadeira natureza dos ditos direitos prestacionais – seja
de forma negativa. Realmente, a clássica ideia de que os direitos de
primeira dimensão, referentes às liberdades civis e políticas,
demandariam uma abstenção estatal, enquanto os de segunda dimensão
– os direitos sociais – exigiriam uma prestação do Estado, nem sempre
se mostra adequada à realidade dos fatos. É plenamente possível o
Estado acabe por obstar a fruição de um direito de segunda dimensão
como pode ocorrer com as taxas de proteção ambiental e o direito
fundamental ao lazer.
De fato, das taxas de proteção ambiental costumam ser
instituídas em balneários, limitando o acesso a praias por parte de
visitantes. É o caso da taxa de preservação ambiental de Bombinhas,
42

município de Santa Catarina, instituída pela Lei Complementar n.


185/2013 e pela Lei n. 1.407/2014. O art. 2º da referida lei informa que
a taxa de preservação ambiental “tem como fato gerador o exercício
regular do poder de polícia municipal em matéria de proteção,
preservação e conservação do meio ambiente no território do
Município de Bombinhas, incidente sobre o trânsito de veículos
utilizando infraestrutura física e a permanência de pessoas na sua
jurisdição”. A metodologia utilizada por esta lei é justamente tributar a
entrada de veículos automotores, impedindo o acesso livre às praias do
Município.
Dessa forma, estaria o Estado obstando o direito fundamental
ao lazer ao criar taxas de preservação ambiental limitando o acesso a
praias e outros recursos naturais. Ainda que tais tributos não sejam
desvirtuados, seja em relação à sua referibilidade direta, seja em
relação à destinação de suas receitas, acabam por prejudicar o gozo de
um direito fundamental.
É notório que as cidades brasileiras, em sua grande maioria,
sofrem com uma urbanização desordenada com poucos espaços
públicos destinados ao entretenimento da população. Parques, bosques,
ambientes comunitários destinados à prática de esportes e à recreação
em geral são escassos, tendo sido preteridos na maior parte dos
processos de urbanização das cidades brasileiras. Os espaços privados,
a exemplo de shoppings centers, cinemas, clubes e centros de eventos,
acabam por suprir essa omissão estatal para as camadas mais abastadas
da população. Para a população de renda mais baixa muitas vezes as
praias se constituem como o último reduto gratuito de lazer. Ao se
tributar a entrada a balneários, nega-se, com frequência, a derradeira
fonte de recreação acessível a uma parcela da população, ferindo-se,
portanto, o conteúdo existencial mínimo do direito fundamental ao
lazer. Cumpriria desta forma ao Estado, antes de introduzir referida
tributação, o ônus de comprovar a absoluta necessidade da medida,
bem como as demais opções de entretenimento garantidas àqueles que
foram tolhidos do acesso à praia tributada.
43

3 AS TAXAS DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E A LIBERDADE DE


LOCOMOÇÃO: ANÁLISE DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL

A liberdade de locomoção traduz-se como direito de primeira


dimensão ao proteger o indivíduo contra eventuais abusos e arbítrios
estatais. Foi assegurada já na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, em 1948, em seu art. 13, ao dispor que “toda a pessoa tem o
direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de
um Estado”. Na mesma linha seguiu o Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos da ONU, de 1966, fazendo a previsão, em seu
art. 12, que “toda pessoa que se ache legalmente no território de um
Estado terá o direito de nele livremente circular e escolher sua
residência”. Dessa forma, a liberdade de locomoção, o direito de ir e
vir livremente dentro de um país foi assegurada por diversos tratados
internacionais, traduzindo-se como verdadeiro direito humano de
primeira dimensão (PIOVESAN, 2012).
Mas não foi apenas nos instrumentos internacionais que a
liberdade de locomoção foi enunciada. Dentro do ordenamento jurídico
brasileiro, mais especificamente no rol de direitos da Constituição da
República, esse direito também foi positivado, constituindo-se em
verdadeiro direito fundamental (SARLET, 2012). De fato, em seu art.
5º, inciso XV, a Constituição garantiu que “é livre a locomoção no
território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. Não
bastasse isso, em se tratando da instituição de tributos que visem a
limitar o tráfego de pessoas, a Constituição ainda trouxe proteção mais
específica, estabelecendo, em seu art. 150, que “é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer limitações ao
tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou
intermunicipais”. Na parte final do dispositivo foi ressalvada a
cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder
Público.
Diante desta tensão entre a proteção do meio ambiente,
através das taxas de preservação ambiental, e a liberdade de locomoção
e a vedação à limitação ao tráfego de pessoas, parte da doutrina e da
44

jurisprudência começaram a aventar a hipótese de


inconstitucionalidade destas taxas.
A matéria foi apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na
ação direta de inconstitucionalidade n. 2178-8, que teve como objeto o
art. 8º da Lei n. 9.960/2000, que inseriu diversos artigos na Lei
6.938/1981, criando, em seu art. 17-A , a taxa de preservação
ambiental. O STF na ocasião decidiu pela inconstitucionalidade do
dispositivo, tendo em vista que definiu “como fato gerador, não o
serviço prestado ou posto à disposição do contribuinte, pelo ente
público, no exercício do poder de polícia, como previsto no art. 145,
II, da Carta Magna, mas a atividade por esses exercida”. Ademais, o
julgado entendeu que feriria o texto constitucional a definição genérica
do sujeito passivo “como contribuintes pessoas físicas ou jurídicas que
exercem atividades potencialmente poluidoras ou utilizadoras de
recursos ambientais, não especificadas em lei”.
Por fim, a Suprema Corte entendeu ainda seria a exação
inconstitucional “por não haver indicado as respectivas alíquotas ou o
critério a ser utilizado para o cálculo do valor devido, tendo-se limitado
a estipular, a forfait, valores uniformes por classe de contribuintes”.
Teria havido, desta forma, flagrante lesão aos princípios da isonomia
tributária e capacidade contributiva ao dispensar “mesmo tratamento
tributário a contribuintes de expressão econômica extremamente
variada”.
Nota-se, portanto, que na ocasião do julgamento da ADI
2178-8, o Supremo não considerou inconstitucional a exação por ter
limitado o tráfego de pessoas, mas apenas por não ter definido de forma
satisfatória os sujeitos passivos, as alíquotas, bem como ter
desrespeitado o princípio da equivalência ínsito à espécie tributária
taxa. Corrigidas estas deficiências, o Supremo entendeu possível e não
contrária à Constituição da República a taxa de preservação ambiental.
Com efeito, manifestando-se a respeito da Lei n. 10.165/2000 que,
corrigindo os vícios apontados na lei n. 9.960/2000, instituiu
novamente a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental, o STF, em
diversas ocasiões , reconheceu constitucional a exação criada.
45

De fato, no RE 416.601, o Ministro Carlos Velloso, relator do


acórdão, frisou que, ao contrário da lei 9.960/2000, declarada
inconstitucional pela Corte, a Lei n. 10.165/2000 fixou a hipótese de
incidência da taxa com sendo “a fiscalização de atividades poluidoras
e utilizadoras de recursos ambientais, exercida pelo IBAMA. Tem-se,
pois, taxa que remunera o exercício do poder de polícia”. Ademais,
asseverou o Ministro que a taxa não ficaria restrita aos contribuintes
que foram efetivamente visitados pela fiscalização, bastando a
manutenção, pelo Estado, de órgão de controle em funcionamento. O
Ministro Joaquim Barbosa seguiu a mesma linha ao defender que “a
efetividade do exercício do poder de polícia não depende tão somente
da realização de vistorias locais, mas compreende também todos os
atos necessários à averiguação da conformação da atividade
desempenhada pelo contribuinte às normas ambientais”.
Nota-se, portanto, que o Supremo admitiu, no RE 416.601, a
existência de taxa de preservação e controle com o tão só objetivo de
manutenção de aparato estatal necessário à fiscalização ambiental. O
julgado não adentrou, no entanto, na constitucionalidade de uma
eventual restrição ao tráfego de veículos e pessoas, uma vez que o
tributo criado pela Lei n. 10.165/2000 não se utilizou desse mecanismo
de coerção.
A análise da constitucionalidade de uma taxa de preservação
ambiental limitante do tráfego de pessoas e veículos se deu no RE
1.160.175/SC de relatoria da Ministra Carmen Lúcia. De fato, nesse
caso foi analisada a constitucionalidade da lei municipal n. 1.407/2014
do município de Bombinhas/SC que onerou o livre acesso ao seu
território ao dispor, em seu art. 2º, que “o Lançamento da TPA ocorrerá
quando do ingresso do veículo na jurisdição do Município de
Bombinhas através de identificação e registro que resultará no
lançamento da cobrança de acordo com o artigo 5º da Lei
Complementar nº 185/2013”. O Supremo Tribunal Federal manteve a
decisão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina proferida na ADI
9153854-27.2014.8.24.0000, adotando as razões do tribunal a quo. O
acórdão do TJ assentou que “não há se falar em desconformidade entre
as Leis Municipais e a vedação à limitação do tráfego de pessoas
através do tributo, pois a cobrança da taxa não decorre da mera
46

transposição de divisas”. O tribunal rechaçou ainda a alegação de


violação ao princípio da isonomia, ao isentar os moradores do
Município da referida taxa. De fato, afirmou o órgão colegiado que “a
extraordinária sobrecarga de atividades do Poder Público em prol da
salvaguarda do macrobem ambiental é gerada pelo conglomerado de
turistas recebidos num curto espaço de tempo, não pelos moradores
permanentes do Município”. Não parecem sólidos o suficiente os
argumentos trazidos no julgado para afastar a aplicação de dois direitos
fundamentais – liberdade de locomoção e direito ao lazer - positivados
na Constituição e, muito antes, fixados em diversos instrumentos
internacionais desde o pós-guerra. Seria recomendado que os órgãos
jurisdicionais, responsáveis pela proteção e guarda da Constituição,
analisassem o tema com a minúcia e o rigor que a questão exige.
A jurisprudência assentada pelo Supremo Tribunal Federal
no sentido de permitir a criação de taxas de fiscalização ambiental
parece estar em consonância com os princípios ambientais do poluidor-
pagador e do usuário-pagador. Realmente, as atividades humanas que
contribuam para a degradação do meio ambiente, ou que criem custos
adicionais ao ente público para a fiscalização e controle dos recursos
naturais, podem e devem estar submetidas a uma hipótese de incidência
tributária.
O direito tributário pode funcionar como grande aliado à
efetivação do princípio do desenvolvimento sustentável, através da
tributação ambiental, e as taxas de preservação ambiental certamente
se encaixam dentro deste contexto maior. Ocorre, entretanto, que certas
taxas ambientais, ao limitar o acesso dos veículos e, consequentemente,
das pessoas aos balneários, acaba por ferir o direito fundamental à
liberdade de locomoção, já positivado na Constituição da República e
garantido por diversos instrumentos internacionais de proteção aos
direitos humanos, a exemplo da Declaração Universal dos Direitos
Humanos (1948), que, em seu art. 13, dispôs que “toda a pessoa tem o
direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de
um Estado”.
Na mesma linha seguiu o Pacto Internacional sobre Direitos
Civis e Políticos da ONU, de 1966, fazendo a previsão, em seu art. 12,
que “toda pessoa que se ache legalmente no território de um Estado
47

terá o direito de nele livremente circular e escolher sua residência.” E


não apenas isso. Tais espécies de exações acabam por ferir o direito
fundamental ao lazer, invadindo, inclusive, seu núcleo intangível,
ferindo toda uma cadeia principiológica, fundamentada na dignidade
da pessoa humana (art. 1º, III), e destinada à construção de uma
sociedade livre, justa e solidária, à erradicação da pobreza e da
marginalização e à redução das desigualdades sociais (art. 3º, I e III).
Outros caminhos parecem mais adequados para se assegurar a proteção
ao ecossistema e para garantir recursos ao Estado em sua missão
constitucional de proteção ao meio ambiente, através de políticas de
comando e controle. As taxas de preservação ambiental são
instrumentos úteis e imprescindíveis à implementação de um projeto
de tributação verde. No entanto, não parece necessário sejam estas
taxas instituídas limitando-se o acesso às praias e demais sítios
públicos recreativos. Dentre uma visão proporcional do direito, parece
ser possível a instituição de uma taxa mais adequada, necessária e
razoável.

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50

OS PRINCÍPIOS CONFORMADORES DA TRIBUTAÇÃO


AMBIENTAL

Carlos Araújo Leonetti1


Liane Hüning Pazinato2

INTRODUÇÃO

O presente ensaio, tem por objetivo apresentar, sem a


intenção de esgotar o assunto, alguns dos princípios conformadores da
tributação ambiental. Para tanto, primeiramente, se demonstrará que o
direito tributário ambiental nasce como um sub-ramo da integração do
Direito econômico, ambiental e tributário. E, que a tributação
extrafiscal é um dos instrumentos jurídico-econômico para promover a
defesa do meio ambiente.
Em um segundo momento se demonstrará alguns dos
princípios que configuram a tributação ambiental, iniciando-se pela
classificação apresentada por Torres vinculados aos valores de
liberdade, justiça, segurança e solidariedade. Culminando com a
apresentação dos princípios da participação, da informação e do
desenvolvimento sustentável.

1 DIREITO TRIBUTÁRIO AMBIENTAL

Não resta dúvida a necessária integração do Direito


econômico, do Direito Ambiental com o Direito Tributário. O Direito

1 Professor Titular de Direito Tributário da Universidade Federal de Santa Catarina -


UFSC. Procurador da Fazenda Nacional aposentado.
2 Professora da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Pós-Doutoranda

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.


51

Tributário Ambiental nasce da interface dessas áreas, podendo ser visto


como um sub-ramo de qualquer um desses Direitos e como tal conta
com um sistema de valores e princípios informadores que lhe darão
sustentação.
A partir dessa necessária integração do Direito econômico,
do Direito Ambiental com o Direito Tributário, busca-se instrumentos
jurídicos-econômico capazes de compatibilizar o desenvolvimento
econômico com defesa do meio ambiente e, é nesse sentido a
importância da utilização da tributação extrafiscal, onde o sistema
constitucional tributário serve de instrumento para um tratamento
diferenciado a favor do meio ambiente equilibrado.
O desenvolvimento econômico sempre degrada o meio
ambiente e, um dos problemas como bem destaca Araújo, é que o
produtor-poluidor não acrescenta no preço do seu produto o preço da
poluição que o mesmo causa (ARAÚJO, 2009).
À primeira vista a reparação dessa degradação até poderá ser
feita pelo próprio causador do prejuízo e, portanto, resolvida com os
instrumentos do próprio mercado sem a intervenção do Estado, tal
como leciona Coase. Mas o próprio Coase destaca que para haver “uma
eficiente negociação dos efeitos externos entre os próprios sujeitos
envolvidos no conflito” deve haver a delimitação precisa dos direitos
envolvidos e a inexistência ou insignificância dos custos de transação.
Mas nem sempre isso acontece, e o mercado falha, ainda mais quando
o prejuízo for causado em algum bem que não pode ser de propriedade
exclusiva de alguém, como ocorre como meio ambiente (COASE,
1960.)
Caliendo ressalta que as falhas de mercado ocorrem quando
a economia não consegue alocar eficientemente os bens conforme os
desejos dos consumidores, ocorrendo assim uma falha de mercado
(Market Failure). A expressão falha de mercado foi utilizada pela
primeira vez por Francis Bator em 1958 para designar as situações em
que existe uma condição que impede a eficiência do sistema econômico
(SILVEIRA, 2009).
Nesse caso, ao ocorrerem as falhas de mercado, essas,
segundo Pigou, devem ser corrigidas mediante a intervenção do Estado
52

no mercado. E o mercado atuaria via imposição tributária obrigando os


agentes econômicos a considerarem em seus preços os efeitos
negativos, mas também criar uma forma de incentivo (redistribuição)
ao agente econômico por conta da externalidade positiva a que deu
causa.
O desenvolvimento econômico gera externalidades, que nada
mais são do que os efeitos não planejados, gerados por uma atividade
que afetam terceiros não diretamente envolvidos na atividade principal,
não sendo esses efeitos internalizados pelo sistema de preços
(FERNANDES, 2011).
Essas externalidades são chamadas por Krugman de “efeitos
colaterais” e ocorrem quando o consumo de um determinado bem
acarreta custos (ou benefícios) à sociedade que não são debitados (ou
creditados) aos próprios consumidores (KRUGMAN, WELLS,
MAYTT, 2009).
Para melhor compreensão traz-se à baila alguns exemplos:
como externalidades positivas, os efeitos dos jardins particulares que
são conservados e construídos nos centros das grandes cidades, os
quais beneficiam a qualidade do ar; o farol que ajuda aos navegantes
que não retribuem uso dos seus benefícios, quando alguém se vacina
contra uma doença contagiosa ela beneficia as pessoas com quem
mantém contacto; a educação de modo em geral também produz
externalidade positiva. Percebe-se assim que nas externalidades
positivas são aquelas que beneficiam terceiros que não fazem parte da
relação contratual.
Já as externalidades negativas, essas ocorrem quando o custo
social está acima do custo privado, ou seja, prejudica a terceiros que
não fazem parte da relação contratual, como por exemplo a poluição;
o derramamento de óleo no mar, causado por um petroleiro; quando
um automóvel circula e produz monóxido de carbono; quando se fuma
ao lado de pessoas que não são fumantes, ou o desgaste das estradas
devido ao trânsito de carros. As externalidades negativas acabam
prejudicando a terceiros que não fazem parte da relação (PAZINATO,
2020).
53

Mas como já exposto por Pazinato, o melhor a ser feito é


buscar reduzir ao máximo possível a degradação ambiental, tendo em
vista que a maioria dos bens ambientais são de propriedade pública não
sendo possível ninguém se apropriar para poder dispor e fazer algum
tipo de negociação. Não há como medir o quanto vale o ar, ou quanto
de ar foi gasto com aquela poluição para que o causador do dano
“indenize ou negocie” a poluição causada. Além do mais, inúmeras
vezes não há como identificar o poluidor e mesmo que identificado
inúmeros danos ambientais são impossíveis de serem corrigidos.
Assim, a princípio o mercado, através de seus mecanismos
negociais, não está conseguindo corrigir essas falhas, tendo em vista os
efeitos desses negócios repercutem (positiva, ou negativamente) sobre
terceiros fora da relação contratual, o que faz com que os custos
privados não coincidam com os custos sociais, recorre-se a teoria de
Pigou, para quem as falhas do mercado devem ser corrigidas mediante
a intervenção do Estado no mercado. Esse atuaria via imposição
tributária obrigando os agentes econômicos a considerarem em seus
preços os efeitos negativos, mas também criar uma forma de incentivo
(redistribuição) ao agente econômico por conta da externalidade
positiva a que deu causa.
Nesse sentido destaca Derani, para quem o Estado pode fazer
a correção de mercado. Se as externalidades forem positivas, ou seja, a
atividade privada gerar um benefício social, ela pode ser compensada
por meio de incentivo, mas caso a atividade gerar custo social-
externalidade negativa - deve ela arcar com os custos, o que pode
ocorrer por meio de tributação (DERANI, 2008).
A tributação ambiental serve de instrumento jurídico-
econômico para a preservação ambiental, podendo, o Estado fazer uso
dela através da legislação apropriada, tendo em vista que a defesa do
meio ambiente é atribuída a todos, não devendo mais ser a arrecadação
tributária vista apenas como forma de geração de receitas.
A Constituição Federal de 1988, por sua vez, prevê a defesa
ambiental expressamente em seus artigos 23, 225, 170. Esse último,
estabelece claramente que a ordem econômica, além de observar o
54

princípio da defesa do meio ambiente deve seguir os “ditames da


justiça social”.
Mas como diz Alexi, os valores são ideias abstratas e sem
eficácia imediata, possuindo caráter axiológico. São os princípios que
concretizam esses valores e possuem caráter deontológico, ou seja,
cuidam dos direitos e deveres, além de carregarem fundamentos éticos
e legais (ALEXI, 2011).
Nesse sentido o poder do Estado em atribuir a função
extrafiscal aos tributos é limitado pela própria Constituição Federal,
através dos princípios instituídos pelo constituinte originário e/ou
derivado, os quais denominamos de princípios conformadores da
tributação ambiental e passamos a destacar.

2 PRINCÍPIOS CONFORMADORES DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL

Torres destaca que os princípios compartilham com os


valores as características de generalidade e abstração, mas com
diferente intensidade. Os valores são ideias absolutamente abstratas,
supraconstitucionais e insuscetíveis de figurarem no texto
constitucional, como: liberdade, justiça, segurança e solidariedade. Os
princípios, por sua vez podem ingressar no discurso constitucional e
representam um primeiro estágio de concretização dos valores. Mas,
ainda que ausentes do texto constitucional não perdem sua condição de
princípio.
O autor nos demonstra que as questões ambientais são
tocadas por esses valores e classifica os princípios do Direito Tributário
Ambiental da seguinte forma: (TORRES, 2005).
- Vinculado ao valor liberdade está o princípio da imunidade
do mínimo ecológico;
- Vinculado valor justiça estão os princípios do poluidor-
pagador; usuário-pagador; capacidade contributiva; e custo/benefício;
- Vinculado ao valor segurança estão os princípios da
legalidade tributária; da tipicidade tributária; da prevenção; precaução.
55

- Vinculados ao valor solidariedade estão princípios da


capacidade contributiva solidária e da solidariedade do grupo estão
vinculados ao valor solidariedade.
Para vincular o princípio da defesa do meio ambiente ao valor
liberdade, o autor o vincula a direito fundamental e ressalta que a
proteção dos direitos fundamentais são realizados através das
imunidades, explicitas ou implicitamente positivadas na Constituição
e destaca que mesmo que a Constituição não apresente a proteção do
direito ao meio ambiente como imunidade expressamente positivada a
mesma pode ser considerada tendo em vista que a imunidade do direito
ao meio ambiente reveste sobretudo a forma de “mínimo existencial
ecológico de K. Heinz” (TORRES, 2005).
Sarlet e Ferstenseifer também atribuem ao direito ao meio
ambiente o “status” de direito fundamental do indivíduo e da
coletividade e o consagram como um dos objetivos e tarefas
fundamentais do Estado, informando que a qualidade ambiental se
constitui em um elemento intrínseco à concretização da dignidade
humana (SARLET, FERSTENSEIFER, 2012).
A Constituição Federal brasileira não poderia ter sido mais
feliz neste campo, tendo em vista que já no caput do artigo 225, se
encontra a garantia do direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida e impondo a todos o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Nesse sentido, importante destacar que o meio ambiente em
equilíbrio dinâmico é essencial para a sobrevivência da vida humana e
para a vida do planeta como um todo. De fato, esta essencialidade
sinaliza, a possibilidade do enquadramento do direito ao meio
ambiente dentre os assim denominados direitos fundamentais, cuja
proteção pode ser realizada através das imunidades, explicitas ou
implicitamente positivadas.
Tendo em vista a dificuldade de se resolver os problemas
ambientais à luz da justiça social, especialmente com a intima relação
existente entre a pobreza e a degradação ambiental, Torres apresenta os
princípios poluidor-pagador, consumidor-pagador, a capacidade
56

contributiva e o princípio do custo/benefício, como vinculados ao valor


justiça tributária ambiental.
Quanto ao princípio do poluidor-pagador Birnfeld demonstra
que se encontrando o mesmo na ordem constitucional brasileira, tem
como consequência a imputação efetiva ao poluidor de todos os
encargos decorrentes de sua atividade poluente, desonerando assim a
sociedade (BIRNFELD, 2003).
Para Aragão quem deve ser considerado poluidor-pagador é
aquele que tem o poder de controle sobre as condições que levam a
ocorrência da poluição, podendo preveni-las ou ainda tomar
precauções para evitar que a mesma ocorra. E, havendo vários
poluidores a obrigação deve competir ao “melhor pagador”, ou seja, à
categoria mais fácil de controlar” (ARAGÃO, 1997).
Assim, restaria o poluidor com os encargos monetários de
financiamento e alguns encargos de precaução e prevenção e o Estado,
com o dinheiro e a obrigação de execução de todos os encargos
garantidores da efetiva segurança ambiental.
Considerando que para Aragão o princípio poluidor-pagador
se concretiza no direito tributário por intermédio de regras atinentes a
instituição de multas, taxas ou contribuições, necessário fazer a
tipificação do poluidor – do ponto de vista da metodologia jurídica.
Para poder efetivamente se concretizar a responsabilidade da
obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados ao meio
ambiente, conforme estatui a Lei 6.938/1981 em seu art. 4o, VII, Torres
também ressalta a importância de se identificar o tipo do poluidor
(TORRES, 2009).
Segundo o autor também deriva do artigo 4o, VII da Lei
6.938/1981, o princípio consumidor-pagador o qual impõe ao usuário
a contribuição pela utilização dos recursos ambientais, para fins
econômicos.
Efetivamente a segunda parte do inciso VII, do Art 4o da Lei
6938/81, enseja à possibilidade de imposição ao usuário, da
contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins
econômicos.
57

Cabe ressaltar que conforme os artigos 20 e 26 da CF/88


muitos são os recursos naturais que, por força da própria Constituição
são de propriedade pública, tais como a água, as praias, a plataforma
continental e as jazidas minerais. Também o meio ambiente, ao teor do
Art. 225, constitui-se em bem de natureza pública de uso comum.
Nesse sentido, sem embargo ao autor aquele que usufrui dos
bens ambientais que são bens de uso comum do povo, ensejando
interesse difuso da coletividade, deve pagar por eles e, se concretiza no
direito tributário, principalmente pela cobrança dos preços públicos
(TORRES, 2009).
O princípio da capacidade contributiva, tal como tipificado
no artigo 145, parágrafo 1o CF), para Torres, tem escassa importância
na tributação ambiental, tendo em vista a ausência que entraria em
conflito com o princípio do poluidor-pagador, o qual independe da
situação econômica do contribuinte. Por outro lado, o princípio do
Custo/Benefício, segundo o mesmo autor, se aplica com tranquilidade
aos tributos ambientais, no que tange as taxas cobradas em relação ao
poder de polícia (TORRES, 2009).
Quanto o valor segurança Torres os classifica em princípio da
legalidade, tipicidades tributárias, precaução, prevenção.
O princípio da legalidade insculpido no artigo 150, inciso I,
da Constituição Federal, se apresenta como garantia e segurança
constitucional, sendo fundamental para os contribuintes pois prevê que
nenhum tributo será instituído ou aumentado senão por intermédio de
uma lei.
No mesmo sentido o princípio da tipicidade tributária o qual
exige a necessidade de definição prévia de todos os elementos
tributários, para que somente então se possa exigir a compensação do
tributo pelo cidadão contribuinte, trazendo, assim a segurança jurídica
do contribuinte frente ao legislador tributário.
Quanto aos princípios da prevenção e da precaução Modé,
ressalta que os mesmos foram extraídos da Declaração na ECO 92. O
da prevenção que se volta contra atos que possuem danosidade
comprovada ao meio ambiente pode ser extraído do princípio 8 da
58

mencionada Declaração de 1992: “Para alcançar o desenvolvimento


sustentável e uma melhor qualidade de vida para todas as pessoas, os
Estados devem reduzir e eliminar os sistemas de produção e consumo
não-sustentados e fomentar políticas demográficas apropriadas”. Já
havendo evidências científicas de que determinada atividade é
prejudicial ao ecossistema, mister se faz que os Estados envidem
esforços na redução ou eliminação do desenvolvimento desse meio de
produção.
Já o princípio da precaução volta-se contra o mero risco pode
ser extraído do princípio 15 da Declaração firmada na ECO 92 o qual
afirma que “a falta de certeza científica absoluta não deverá ser
utilizada como razão para que seja adiada a adoção de medidas eficazes
em função dos custos para impedir a degradação ambiental”. Trata-se
de uma espécie de tutela do meio ambiente voltada contra o simples
risco de sua lesão. De fato, seria muito custoso ao ecossistema - quanto
mais por conta da provável irreversibilidade de sua degradação -
aguardar confirmação científica de danosidade para que os Estados
tomassem as providências necessárias à sua preservação (MODÉ,
2016).
Birnfeld, nos faz observar que, num sentido literal, a
atribuição de encargos preventivos ou precaucionais jamais poderia ser
direcionada a um sujeito que se denominasse poluidor, no sentido de
causador de poluição, posto que os encargos preventivos ou
precaucionais tem como consequência básica a não configuração, a
inexistência de poluição, que, pela aplicação correta dos princípios da
precaução ou prevenção é assim evitada (BIRNFELD, 2003).
Quanto ao princípio da prevenção, Torres destaca que
o mesmo pode, assim como o princípio da legalidade, conduzir à
instituição de taxas com base no exercício do poder de polícia, tendo
em vista que as taxas de fiscalização ambiental se caracterizam como
tributos devidos em decorrência do exercício do poder de polícia
ambiental, o qual age preventivamente para evitar danos ambientais. É
a contraprestação estatal de prevenção que constitui o aspecto material
do fato gerador, justificando a prestação tributária (TORRES, 2009).
59

Mas é importante a ressalva que Birnfeld nos traz, tendo em


vista que a taxa pelo poder de polícia envolve uma aplicação
assumidamente parcial do princípio poluidor-pagador, com efeitos
limitados à remuneração de serviços estatais de fiscalização
necessários para materializar a ação pública de precaução e prevenção
de danos ambientais.
Segundo o autor trata-se de aplicação parcial, porque
circunscrita aos efeitos preventivos ou precaucionais, que na sua
parcialidade revela-se indispensável. No âmbito infraconstitucional
federal pode-se referir o exemplo da recente lei 10.165, de 27/12/2000,
que instituiu a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental - TCFA, cujo
fato gerador é o exercício regular do poder de polícia conferido ao
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis - Ibama para controle e fiscalização das atividades
potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos naturais.
E, justamente porque se constitui em instrumento de escopo
parcial, o seu pagamento não se constitui em licença para poluir, sendo
que a eventual desídia estatal ou mesmo a superveniência de dano
impensável ao tempo da cobrança, não elide o dever do poluidor de
responder civilmente pelos encargos resultantes de dano ambiental
posterior (BIRNFELD, 2003).
O serviço de recolhimento de lixo é um bom exemplo para
uso extrafiscal da taxa, eis é possível estabelecer valores diferenciados
tendo em vista a quantidade e mesmo a qualidade do lixo (separado),
privilegiando os usuários que produzam menos lixo e que tenham
hábito de separá-lo.
Assim, as taxas ambientais se incluem no ordenamento
tributário informadas pelos princípios da legalidade, do poluidor-
pagador, da precaução da prevenção e da tipicidade.
Torres também destaca os princípios capacidade contributiva
solidária e da solidariedade do grupo estão vinculados ao valor
solidariedade.
Para o autor os efeitos da solidariedade no Estado de Direito
a qual está imbricada no valor liberdade, e apresenta o princípio da
60

capacidade contributiva solidária tendo em vista a aproximação da


ética e do direito onde procura-se ancorar a capacidade contributiva nas
ideias de solidariedade e fraternidade entre os cidadãos. E nesse
sentido o autor defende que a "carga tributária deve recair sobre os mais
ricos, aliviando a incidência sobre os mais pobres e dispensando os que
estão abaixo do nível mínimo da sobrevivência” (TORRES, 2005).
No mesmo sentido, na solidariedade de grupo, que o autor
justifica cobrança das contribuições sociais e econômicas. Ele destaca
que na Constituição Federal de 1988 a solidariedade de grupo está
fundamentada no princípio da justiça que fundamenta, por exemplo, na
cobrança das contribuições sociais de natureza previdenciária
incidentes sobre a folha de salários.
O autor justifica a importância da solidariedade de grupo para
o Direito Tributário Ambiental, tendo em vista que o mesmo é imanado
pelos valores e princípios jurídicos que reaproximam a ética e o direito.
E, assim, o autor demonstra que as questões ambientais são
tocadas pelos valores de liberdade, justiça segurança e solidariedade e
que os princípios informadores da tributação ambiental concretizam
esses importantes valores da sociedade.
Ainda, quanto aos princípios conformadores do Direito
Tributário Ambiental cabe destaque o princípio da participação, da
informação e o do desenvolvimento sustentável.
Fernando Magalhães Modé, que com apoio de Paulo
Affonso Leme Machado, nos lembra do princípio da participação como
importante orientador do direito econômico e do direito ambiental. Tal
princípio incluiria a participação na formação das decisões
administrativas, nos recursos e julgamentos administrativos, na
legislação direta (através de plebiscitos e referendos ou referendo
ambiental, opções que nunca ocorreram no Brasil) e nas ações judiciais
(MODÉ, 2016).
Tal princípio decorre do próprio regime democrático
acolhido pela Constituição da República de 1988 em seu art. 1º. Ainda
no texto constitucional, houve uma especial preocupação do
constituinte com a participação do cidadão na proteção ambiental,
61

dispondo em seu art. 225 que “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado [...] impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações”. Dessa forma, o princípio da participação acaba por
permitir à coletividade e ao cidadão a fiscalização da atuação estatal na
proteção ambiental.
O princípio da informação, assegura por sua vez, que todos
os cidadãos têm o direito de receber informações sobre intervenções
que atinjam o meio ambiente de maneira efetiva, de modo a viabilizar
a implementação também do princípio da cooperação repostando ao
Estado e aos cidadãos a divisão dos custos decorrentes da
implementação de uma política de prevenção ambiental.
Mas resta destacar ainda o princípio do desenvolvimento
sustentável, o qual busca o equilíbrio entre presente e futuro, o respeito
às gerações que estão por vir e a conciliação entre desenvolvimento
econômico e preservação ambiental. Trabalha-se a ideia de que o
desenvolvimento para ser sustentável deve atender às necessidades
presentes, sem comprometer a capacidade de as futuras gerações
atenderem às próprias necessidades e se estrutura a partir de duas
premissas básicas, a primeira atinente aos recursos materiais e a
segunda pautada na ética intra e intergerações.
Luís Antônio Monteiro de Brito lembra que a Declaração do
Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) apesar de
diversas menções ao princípio, não trouxe o conceito o
desenvolvimento sustentável. Entretanto tal definição já havia sido
realizada pelo relatório Brundtland, em 1987, “o desenvolvimento que
satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (BRITO, 2017).
Esse princípio foi a grande tônica das discussões da
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento no Rio de Janeiro em 1992. No ano de 2015, líderes
mundiais se reuniram na sede da ONU e decidiram um plano de ação
para erradicar a pobreza e proteger o planeta, surgindo assim a Agenda
2030 da ONU, na qual é possível encontrar o conjunto de 17 Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável e 169 metas para erradicar a
62

promover vida digna em todo o planeta., a serem seguidos pelos países


membros.
Por fim, não restam dúvidas da necessária integração do
Direito econômico, do Direito ambiental e com o Direito tributário e,
o Direito Tributário Ambiental nasce da interface dessas áreas,
podendo ser visto como um sub-ramo de qualquer um desses Direitos
e como sub-ramo de Direito o Direito Tributário Ambiental conta com
um sistema de valores e princípios informadores que lhe dão
sustentação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS

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Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros Editora, 2011.
ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. O Princípio poluidor-
pagador: Pedra Angular da Politica Comunitária do Ambiente.
Coimbra: Coimbra Editora, 1997.
ARAÚJO, Fernando. Introdução à economia. 3. ed. Lisboa: Edições
Almedina Ltda, 2009.
BIRNFELD, Carlos Andre. O princípio poluidor-pagador e suas
potencialidades - uma leitura não economicista da ordem
constitucional brasileira. Florianópolis: UFSC/Florianópolis, Tese.
Centro de Ciências Jurídicas, UFSC, 2003.
BRITO, Luis Antônio Monteiro de. Direito Tributário Ambiental:
isenções fiscais e proteção do meio ambiente. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2017.
COASE, Ronald. (1960). The Problem of Social Cost. The Journal of
Law Economics, vol. III. p . 43. Consultada em 12 de junho de 2012.
Biblioteca da Universidade de Lisboa, Faculdade de Direito.
63

DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. 3. ed. São Paulo:


Saraiva, 2008.
FERNANDES, Abel L. Da Costa. Economia pública: eficiência
econômica e teoria das escolhas colectivas. 2. ed. Lisboa: Edições
Sílabo Ltda, 2011.
MODÉ, Fernando Magalhães. Tributação Ambiental. Curitiba:
Juruá, 2016.
KRUGMAN. Paul. WELLS. Robin et MAYTT, Anthony.
Microeconomics: Canadian Edition.Worth Publishers. 2006.
PAZINATO, Liane Francisca Hüning. A Extrafiscalidade ambiental:
A extrafiscalidade nos impostos brasileiros como instrumento
jurídico-econômico de defesa do meio ambiente ecologicamente
equilibrado. São Paulo: Lumen Juris, 2020.
SARLET, Ingo Wolfgrang; FERSTENSEIFER, Tiago. Notas sobre os
deveres de proteção do estado e a garantia da proibição de
retrocesso em matéria (socio) ambiental. In. Dano ambiental na
sociedade de risco. São Paulo: Saraiva editora, 2012.
SILVEIRA, Paulo Antonio Caliendo Velloso da. Direito tributário e
análise economica do direito: uma visão crítica. Rio de Janeiro:
Elsevier. 2009.
TORRES, Ricardo Lobo. Valores e Princípios no Direito Tributário
Ambiental. In: Direito Tributário Ambiental. Organizador: Heleno
Taveira Tôrres. São Paulo: Malheiros, 2005.
TORRES, Ricardo Lobo. Interação entre Princípios Constitucionais
Tributários e Princípios da Ordem Econômica. In: Princípios e
Limites da Tributação 2. Coordenador Roberto Ferraz. São Paulo:
Editora Quartier Latin do Brasil, 2009. 493-512 p.
64

TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

Epaminondas José Messias1

INTRODUÇÃO

Com a Revolução Industrial e a expansão do capitalismo, a


produção mundial de bens e serviços amplia-se em escala antes
inimaginável. Entretanto, juntamente com o aperfeiçoamento dos
meios de produção e do crescimento da economia mundial, com
produção em série, concentração urbana, aumento populacional, e a
exploração irracional de matérias primas para atender as demandas da
sociedade de consumo do pós-guerra, vieram a escassez de recursos
naturais e a degradação ambiental.
Frente a um meio ambiente degradado e a escassez dos
recursos naturais, não havia mais dúvidas, ficou evidente que era e é
preciso mudar o atual modelo de produção e consumo. Eis que os
recursos naturais, imprescindíveis para a produção econômica não são
ilimitados, ao contrário, são escassos e finitos.
A busca por um modelo econômico mais sustentável, justo e
racional, passou a ser uma das maiores preocupações da sociedade
moderna. Cientistas e estudiosos das mais variadas áreas do
conhecimento, governantes, empresários, intelectuais, setores
organizados da sociedade, todos têm debatido e refletido sobre o tema.
A problemática do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável é
tema recorrente nos meios de comunicação, representando a principal
pauta debatida em várias conferências e encontros mundiais.
Organismos internacionais, notadamente a Organização das Nações
Unidas (ONU), têm capitaneado o debate acerca do tema, buscando

1Doutorando em Direito pela Universidade Federal de Santa Catariana, UFSC. Mestre


em Direito Internacional, Econômico e Tributário pela Universidade Católica de
Brasília. Especialista em Direito Tributário pela Universidade Cândido Mendes-RJ.
Advogado. E-mail: epa_messias@globo.com
65

que países e governantes se comprometam e operacionalizem políticas


ambientais voltadas para o desenvolvimento sustentável.
No âmbito jurídico, como reação à crise ambiental,
desencadeia-se um significativo processo de normatização. Os tributos
ambientais, voltados para a proteção ambiental e inspirados nos
princípios do poluidor pagador e do protetor recebedor, passaram a
orientar as legislações de diversos países. Com base nestes princípios,
surgiram aplicações práticas da extrafiscalidade objetivando a
conciliação do desenvolvimento econômico com equilíbrio ecológico.
Vários países têm utilizado o direito tributário como
instrumento de tutela ambiental. As normas tributárias podem
estimular condutas desejáveis ou desestimular ações agressivas ao
meio ambiente. Situação semelhante, também é experimentada em
nosso país.
No Brasil, o tributo na modalidade imposto, tem apresentado
alguns resultados satisfatórios na busca da sustentabilidade, que pode
ser entendida como o crescimento e o desenvolvimento econômico
com preservação ambiental. Em nosso ordenamento jurídico, vários
são os exemplos da aplicação prática da extrafiscalidade através dos
impostos. Pode-se mencionar a possibilidade de redução das alíquotas
e/ou isenção no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), no
Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), no
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), e no Imposto Territorial
Rural (ITR) e a instituição do ICMS Ecológico.
Esse ensaio ficará subordinado aos impostos, embora as taxas
também possam ser utilizadas como instrumento de proteção
ambiental.

1 MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO


CONTEXTO MUNDIAL

Meio ambiente e Desenvolvimento Sustentável, são temas


recorrentes nos principais meios de comunicação do planeta.
Constituíram uma das principais pautas do debate de várias
66

conferências e encontros mundiais realizados nos últimos (50)


cinquenta anos por Organismos Internacionais como a ONU.
Com a 1ª Conferência Mundial sobre o meio ambiente
realizada em 1972, inaugura-se uma nova fase, uma nova visão nas
relações homem-meio ambiente. A Declaração de Estocolmo, também
conhecida por Manifesto Ambiental, contém 26 princípios
estabelecendo as bases para uma nova agenda ambiental. Visando
padronizar um ponto de vista comum para guiar e inspirar as Nações
na busca da preservação e na melhoria do meio ambiente, no item nº 6,
proclama que:

Chegamos a um ponto da História em que devemos


moldar nossas ações em todo o mundo, com maior
atenção para as consequências ambientais. Pela
ignorância ou indiferença podemos causar danos
maciços e irreversíveis ao ambiente, do qual nossa vida
e nosso bem-estar dependem. Por outro lado, através do
maior conhecimento e de ações mais sábias, podemos
conquistar uma vida melhor para nós e para a
posteridade, com um meio ambiente em sintonia com as
necessidades e esperanças humanas [...] Tornou-se
imperativo para a humanidade defender e melhorar o
meio ambiente, tanto para as gerações atuais como para
as futuras. (ONU, 1972, p. 1-2).

Já foram redigidos vários relatórios sobre a questão


ambiental em suas variadas problematizações, sobretudo pela
Organização das Nações Unidas (ONU), através do seu Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA); Organização
Mundial do Comércio (OMC) e; Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE). Alguns relatórios recomendam
aos governos de todos os países a necessidade de criar instrumentos
tributários aptos a contribuírem para o desenvolvimento sustentável. A
tributação ambiental passa a representar uma importante ferramenta na
efetivação da proteção do meio ambiente.
Em 2009, focados em uma economia globalizada, a
Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), elaboraram conjuntamente
67

um relatório denominado de Comércio e Mudanças Climáticas, do qual


depreende-se que, diferentemente daquilo que se acreditava, uma
maior liberalização comercial com a redução de barreiras, pode incitar
países a alterarem seus padrões de produção e incentivar os setores
econômicos menos poluentes (WTO, 2009).
Em 2010, a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2010), divulgou o Relatório
“Tributação, Inovação e Ambiente”, demonstrado que os países
membros da OCDE estão cada vez mais usando impostos relacionados
ao meio ambiente, pois constituem um dos instrumentos políticos mais
eficazes para a proteção ambiental na atualidade.

Nesta mesma vereda, o PNUMA apresentou em 2011, o


Relatório “Rumo a Uma Economia Verde” (PNUMA, 2011).
Os tributos ambientais, voltados para a proteção ambiental e
inspirados nos princípios do poluidor-pagador e do protetor-recebedor,
passaram a orientar as legislações de diversos países. Com base nestes
princípios, surgiram aplicações práticas da extrafiscalidade com vistas
à conciliação do crescimento econômico com desenvolvimento
sustentável.
Quase todos os países têm modificados seus sistemas
tributários, procurando modelos baseados na simplicidade e na
eficiência. O denominado modelo de reforma fiscal verde associa as
reformas tributárias com a legislação ambiental. Para Montero (2014,
p. 257), com base na intensidade das reformas propostas, o modelo de
reforma fiscal verde admite duas versões: a primeira com enfoque
restrito ou parcial; a segunda com enfoque generalizado ou de reforma
integral, como seguem:

1ª) Modelo de reforma fiscal ambiental restrito ou de


reforma parcial. Os tributos ambientais ainda têm um
papel secundário, com finalidades predominantemente
arrecadadoras, sendo incorporados de maneira isolada e
sem conexão com uma reforma geral. Esse papel
residual pode se traduzir num desenho pouco cuidadoso
68

de tributos ambientais, fundamentado num vínculo


pouco claro entre o tributo e o problema ambiental.
Seguem esse modelo: Estados Unidos, Alemanha,
Bélgica e Grã-Bretanha.2ª) Modelo de enfoque
generalizado ou de reforma integral. Desde 1990, vários
países da Europa têm seguido uma estratégia qualitativa
e quantitativa diferenciada no que diz respeito à
tributação ambiental. Esses países têm realizado
reformas fiscais que introduziram de maneira séria o
argumento ambiental no seu conteúdo normativo.
Destacam-se: Suécia (1990), Noruega (1992),
Dinamarca (1994), Finlândia e Holanda (1997).

Como forma de diminuição das várias formas de poluição, é


comum a tributação de produtos que causam impacto ao meio
ambiente. A Dinamarca, Noruega e Suécia, tributam a venda de
agrotóxicos, não exatamente pelo fato da venda em si, mas por se tratar
de produto de impacto ao meio ambiente. Também, a Dinamarca,
Noruega, Holanda e Suécia, fazem incidir impostos sobre as
embalagens não recicladas (NUNES, 2005, p 189).
Na Alemanha há um imposto sobre a eletricidade. Na
tributação dos hidrocarbonetos, consideram-se critérios ecológicos de
acordo com o tipo de combustível. Um dos impostos de grande eficácia
é o imposto sobre os veículos automotores, calculado segundo as
características do motor e tipo de combustível utilizado. Os veículos
elétricos, durante os primeiros cinco anos de circulação ficam isentos
de impostos (MONTERO, 2014, pp. 266-267).
Os Estados Unidos têm vários tipos de impostos ecológicos,
entre eles: imposto sobre petróleo e seus derivados; adicionais de
impostos sobre produtos químicos, imposto sobre equipamentos de
caça e a pesca, impostos sobre emissões de poluentes, e outros
(OLIVEIRA, 2003, pp. 117-118).
As normas tributárias podem estimular condutas desejáveis
ou desestimular ações agressivas ao meio ambiente. Situação
semelhante, como se demonstrará adiante, também já é experimentada
no Brasil.
69

2 TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

Embora já existissem normas anteriores tratando do meio


ambiente, foi com a publicação da Lei 6.938/81, Lei da Política
Nacional de Meio Ambiente- PNMA, que se inaugura um tratamento
mais efetivo e direto sobre o tema. A referida lei passou a nortear e a
balizar as intervenções sobre as atividades e empreendimentos
utilizadores ou degradadores dos recursos naturais.
Por força do artigo 225 da CF/88, todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, cabendo e devendo ao Poder
Público e a toda coletividade o dever de defender e preservá-lo para as
gerações de hoje e do amanhã. A proteção ao meio ambiente é
competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios (art. 23, inciso VI).
Vale destacar que as normas de direito ambiental do art. 225
caput e parágrafos, se incorporam e entrelaçam com outros institutos e
dispositivos constitucionais, entre eles, a função social da propriedade
(art. 5º, inciso XXIII e artigo 186); o planejamento como determinante
para o setor público e indicativo para a iniciativa privada (art. 174, §§
3º e 4º); a ordem econômica (art. 170, VI); e as competências
legislativas e administrativas (artigos 23 e 24).
Cumpre ao Poder Público adotar mecanismos para a proteção
ambiental, implantando políticas públicas com vistas a minimizar os
impactos ambientais gerados pelas atividades econômicas.
A inexistência de um tributo ambiental na constituição de
1988, fez com que o legislador utilizasse os tributos de forma indireta,
através da concessão de incentivos fiscais, na chamada função
extrafiscal dos tributos, com o objetivo de estimular nos contribuintes
um comportamento mais favorável ao meio ambiente; é a chamada
função indutora.
Completando a ideia acima, Costa (2005, p. 321) leciona que
“a extrafiscalidade é o emprego de instrumentos tributários para o
atingimento de finalidades não arrecadatórias, mas, sim,
incentivadoras ou inibitórias de comportamentos”. Pode-se
operacionalizar a extrafiscalidade através da instituição e a graduação
70

de tributos, por isenções e outros incentivos, como a dedução de


despesas efetuadas pelo contribuinte em relação aos recursos
empregados na produção econômica e na preservação ambiental.
As normas tributárias podem ser utilizadas como ferramentas
voltadas para a preservação ambiental e a sustentabilidade. Nessa
esteira, Correia Neto (2008, p. 146), assevera que no relacionamento
entre o Direito Tributário e Direito Ambiental, existem pelo menos
quatro formas de utilização das normas tributárias voltadas à proteção
ambiental:
1) a criação de tributos aplicáveis sobre a poluição;
2) a utilização de agravamentos dos tributos já
existentes;
3) a vinculação de receitas arrecadadas a atividades de
proteção ambiental;
4) a concessão de incentivos fiscais.
Os números 1 e 2 cuidam de internalizar, por meio do
tributo, externalidades negativas, ao passo que o 4 se
refere às positivas. O 3 não se enquadra necessariamente
nem numa, nem noutra hipótese e usa de instrumentos
que se inserem mais propriamente no Direito Financeiro
do que no Direito Tributário, segundo a concepção
tradicional. Não poderia, a rigor ser definido como
norma tributária indutora ou extrafiscal.
Cada um dos instrumentos acima relacionados só poderá ser
utilizado em determinadas hipóteses e condições. As hipótese 2 e 4
podem ser utilizadas pelos Estados, Distrito Federal e Municípios. Por
força do art. 167, III, da CF/88, a hipótese 3 ficaria prejudicada, pois é
vedado a vinculação da receita de impostos. Em relação ao item 1,
criação de tributos aplicáveis sobre a poluição, como hipótese poderia
ser criado um “novo imposto”. Para essa hipótese, somente a União
poderia criá-lo com base na sua competência residual, estampada no
artigo 154, I, da Constituição.
Mesmo existindo alguns entraves, o imposto é a modalidade
de tributo mais utilizada para fins extrafiscais, Valadão (2000, p. 106-
107), lembra que:
71

O imposto é a modalidade tributária que mais se presta


à utilização extrafiscal. Isto deve-se a razões técnicas. A
mais importante é que, em virtude de sua receita não ter
destinação específica, previamente delimitada, a
eventual renúncia de receita, com efeito extrafiscal, não
implicará diretamente diminuição da prestação de uma
atividade estatal específica, e, mutadis mutandis, o
incremento de receita, decorrente da sobrecarga
tributária, com efeito extrafiscal, não implica excesso de
arrecadação para uma atividade estatal específica. Ou
seja, para se atingir os efeitos extrafiscais, o imposto
apresenta caráter de generalidade e de não
interdependência orçamentária, o que implica
determinar o imposto, ente as demais exações fiscais,
como o principal instrumento de atuação extrafiscal.

Em nosso ordenamento jurídico, vários são os exemplos da


aplicação prática da extrafiscalidade através dos impostos. Pode-se
mencionar a possibilidade de redução das alíquotas do Imposto Predial
e Territorial Urbano (IPTU), do Imposto sobre a Propriedade de
Veículos Automotores (IPVA) e do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI), além da isenção do Imposto Territorial Rural
(ITR) e da instituição do ICMS ecológico. Quando um ente da
Federação, isenta, diminui alíquotas ou reduz a base de cálculo de um
tributo ambiental, na verdade, está fazendo uso do princípio do Protetor
Recebedor. Frisa-se que a adoção de tais medidas deve vir
acompanhada de um correspondente benefício ao meio ambiente e, por
conseguinte, na melhoria da qualidade de vida da população. A seguir,
no Brasil, alguns casos práticos

2.1 IPTU VERDE

Com o intuito de incentivar a preservação ambiental e uma


melhor qualidade de vida nas cidades, surgiram projetos de Leis
Municipais tratando da redução das alíquotas do IPTU, desde que os
contribuintes adotem práticas sustentáveis ou que promovam ações
benéficas ao meio ambiente.
72

O chamado IPTU verde, ao conceder benefícios fiscais como


isenções, alíquotas reduzidas, ou descontos, estimula o contribuinte a
adotar um comportamento ecologicamente desejável. Novamente entra
em uso o princípio do protetor-recebedor. A versão verde de tal tributo
é encontrada em diversos municípios do País, a exemplo: Salvador,
Goiânia, Araraquara, Colatina, Campos do Jordão, Guarulhos,
Florianópolis, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro e muitos outros.
Os descontos do IPTU estão previstos nas respectivas Leis
Municipais. Leis que objetivam fomentar medidas que preservem,
protejam e/ou recuperem o meio ambiente urbano. Os descontos
variam de 10, 20, 30 ou até 90%, alguns exemplos:
a) Goiânia (GO) – concede até 27% de desconto – Lei
Complementar nº 235/2012 – Institui o Programa IPTU Verde no
município de Goiânia.
b) Araraquara (SP) – concede até 40% de desconto – Lei nº
7.152/2009 – Concede isenção de imposto predial e territorial urbano
para propriedades que conservarem área arborizada – IPTU Verde.
c) Colatina (ES) – concede até 50% – Lei 4.537/1999 – Fica
denominado “Manto Verde” o presente projeto de lei que visa autorizar
descontar 50% (cinqüenta por cento) no IPTU dos proprietários de
terrenos urbanos com declividade igual ou superior a 40% (quarenta
por cento) que promoverem reflorestamento.
d) Campos do Jordão (SP) – concede até 90% de desconto –
Lei nº 3.199/2009 – Dispõe sobre desconto no IPTU aos imóveis com
área verde preservada.
Com o IPTU Verde, muitos Municípios de vários Estados da
Federação estão incentivando as mais variadas práticas ambientais,
todas relevantes para o equilíbrio ambiental e a melhoria da qualidade
de vida nos centros urbanos, destacando-se: o sistema de captação e
utilização da água da chuva; o sistema de reuso de água; o sistema de
aquecimento hidráulico/elétrico solar e de aproveitamento da energia
solar; as construções com materiais sustentáveis; separação e
encaminhamento de resíduos sólidos inorgânicos para reciclagem;
plantios de mudas (espécies arbóreas nativas); arborização no
73

calçamento; instalação de telhado verde; sistema de utilização de


energia solar e eólica, e muitos outros.

2.2 IPVA ECOLÓGICO

Através da EC nº 42/03, o Congresso Nacional alterou a


natureza estritamente fiscal do imposto sobre a propriedade de veículos
automotores (IPVA), anteriormente vigente. A Emenda Constitucional
admite a aplicação de alíquotas diferenciadas do IPVA em função do
tipo e utilização do veículo. Com a atual redação do artigo 155, § 6º,
II da CF/88, possibilita-se a alteração da natureza fiscal do elemento
quantitativo do fato gerador. Permite-se a progressividade de acordo
com o tipo, características dos veículos, tais como: cilindradas do
motor, combustível utilizado, se é de luxo ou popular (BRASIL, 1988).
A Tabela 1, elaborada pelo autor após análise da legislação
do IPVA de 13 (treze) Estados e apresentada abaixo, demonstra a
isenção do IPVA concedida para veículos com grande tempo de uso ou
de fabricação, geralmente 15 (quinze) ou vinte (20) anos, como segue:

Quadro 1- - Isenção do IPVA nos estados


INSTRUMENTO
Nº UF NORMATIVO ISENÇÃO DE VEÍCULOS

1 PR Lei nº 14.260/03, art. 14, IX Mais 20 anos fabricação

2 SP Lei nº 13.296/08, art. 13, VII Mais 20 anos fabricação

3 RS Lei nº 8.115/85, art. 4º, IV Mais 20 anos fabricação

Que completarem 20 anos de


4 AC LC 298/15, art.12, IX fabricação

5 ES Lei nº 6.999/01, art. 6º, I, e Mais de 15 anos de fabricação

6 RJ Lei nº 2.877/97, art. 5º, VII Mais de 15 anos de fabricação

7 CE Lei nº 12.023/92, art. 4º, VIII Mais de 15 anos de fabricação


74

Mais de 15 anos de uso a partir


8 AM LC nº 19/97, art. 149, V 1º Licenciamento

Quinze (15) anos ou mais de


9 RO Lei nº 950/00, art. 6º, X uso

Quinze (15) anos ou mais de


10 GO Lei nº 19.021/15, art. 94, X uso

Nacionais ou estrangeiros mais


11 BA Lei nº 6.348/91, art. 4º, XI 15 anos fabricação

12 AL Lei nº 6.555/04, art. 6º, V Fabricado até 31/12/2000

13 SC Lei nº 7.543/88, art. 8º, V, f Fabricado até 31/12/1984

Fonte: Elaborada pelo autor


Os carros, caminhões e ônibus mais antigos, em sua maioria
são movidos a gasolina ou diesel. Portanto, poluem muito mais que os
novos, fabricados com tecnologias mais avançadas, entre elas: veículos
com motores (flex- bicombustível) e os com catalisadores. De acordo
com o 1º Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos
Automotores Rodoviários, divulgado pelo Ministério do Meio
Ambiente (BRASIL, 2011, p. 36), os catalisadores veiculares foram
introduzidos no Brasil em 1992, e passaram a equipar a totalidade dos
veículos novos em 1997, constituindo um período de transição os anos
intermediários. Os catalizadores são acoplados ao escape dos veículos,
servem para impedir que gases poluentes originados na combustão
sejam lançados na atmosfera.
Em regra, a base de cálculo do IPVA é o valor venal do
veículo ou preço comercial de tabela. As alíquotas são fixadas por Lei
Ordinária Estadual ou do Distrito Federal, variando de 0,5% (meio por
cento) a 4% (quatro por cento). No Paraná, a Lei nº 14.260, de 22 de
dezembro de 2003, estipula no art. 4º, I, "c"; uma alíquota de 1% (um
por cento) para veículos que utilizem o Gás Natural Veicular (GNV).
Em São Paulo, conforme a Lei n. 13.296/08 art. 9º, III; modelos que
rodam com Gás Natural Veicular ou etanol, pagam 3 (três) e não 4%
(quatro por cento), como os veículos movidos a gasolina. No Rio de
75

Janeiro, a Lei n. 2.877/97, prevê no artigo 10, incisos VI, VI-A e VII,
as seguintes alíquotas:
VI - 2% (dois por cento) para automóveis que utilizem
motor especificado de fábrica para funcionar,
exclusivamente, com álcool;
VI-A – 1,5% (um e meio por cento) para veículos que
utilizem gás natural ou veículos híbridos que possuem
mais de um motor de propulsão, usando cada um seu tipo
de energia para funcionamento sendo que a fonte
energética de um dos motores seja a energia elétrica;
VII – 0,5% (meio por cento) para veículos que utilizem
motor de propulsão especificado de fábrica para
funcionar, exclusivamente, com energia elétrica. (RIO
DE JANEIRO, 1997).
Em síntese, as iniciativas dos Estados do PR, SP e RJ, de
incentivar a utilização de combustíveis menos poluentes, através da
redução das alíquotas do IPVA, seria muito mais eficiente caso não
isentassem os veículos de fabricação mais antiga, veículos que poluem
muito mais que os de fabricação mais recente. No mesmo sentido, os
Estados do RS, AC, ES, CE, AM, RO, GO, BA, AL e SC, que também
isentam do IPVA os veículos antigos conforme demostrado na Tabela
1, também cometem o mesmo equívoco (erro).

2.3 ICMS ECOLÓGICO

O denominado ICMS Ecológico é outro importante


instrumento de política de preservação ambiental. Mas, há de se
ressaltar, não se trata da tributação em si, ou seja, da relação Fisco x
Contribuinte, seja ele pessoa física ou jurídica. Aqui o foco não é o
Direito Tributário, ou seja, as formas pelas quais o Estado poderá
instituir e fiscalizar, cobrar e arrecadar tributos, com intuito de manter
e prover as necessidades de seus governados. Mas, tão somente de
Direito Financeiro (orçamentário), a repartição dos recursos,
notadamente aqueles advindos do ICMS e que já foram arrecadados e
ingressaram nos cofres públicos dos Estados e devem ser repassados
aos Municípios.
76

Os critérios de repartição do ICMS estão previstos no artigo


158, inciso IV e parágrafo único, II, da CF/88. Do valor total
arrecadado com ICMS, os Municípios fazem jus a 25%, e até 1/4 (um
quarto) desse total será repassado de acordo com o que dispuser a Lei
Estadual. A partir desse dispositivo, abre-se espaço para a adoção de
políticas públicas e, os Estados poderão induzir comportamentos de
preservação ambiental nos Municípios por meio do ICMS Ecológico.
Correia Neto (2010, p. 207), ao discorrer sobre a repartição de receitas
tributárias do ICMS e transferências intergovernamentais, menciona:

A margem de discricionariedade deixada aos Estados no


inciso II permite que a legislação estadual utilize
critérios que considerem não apenas elementos
estritamente econômicos para distribuição do produto da
arrecadação do ICMS entre os Municípios. É um espaço
aberto para implementação de políticas públicas e
indução de comportamentos por parte dos Estados em
relação à Administração municipal.

Infere-se das palavras de Loureiro (2002, pp. 1-5), que o


Estado do Paraná foi pioneiro na instituição do ICMS Ecológico, tendo
por objetivo compensar os Municípios pela restrição de uso do solo em
locais protegidos por unidades de conservação e outras áreas de
preservação específicas, afinal, com a finalidade de garantir a
preservação ambiental, algumas atividades econômicas ficam restritas
ou até mesmo proibidas em determinados áreas e locais. A experiência
paranaense redundou em resultados positivos. O ICMS Ecológico
contribuiu para o aumento da superfície das áreas protegidas; para a
melhoria da qualidade dos parques do Estado, dos Municípios e das
Reservas Particulares. Ademais, constata-se:

[...] aumento no número de municípios beneficiados pelo


ICMS Ecológico, bem como do volume de recursos
financeiros repassados aos municípios; tem havido
aumento nas despesas municipais nas funções
programáticas que tratam da problemática ambiental.

A experiência Paranaense acabou se expandindo para outras


unidades da Federação. De acordo com Lucik (2015, p. 182-183),
77

outros Estados passaram a legislar no mesmo sentido. Cada um


vinculando critérios de repasse que melhor atendessem aos seus
interesses e realidades, tais como: existência de unidades de
conservação, áreas de manancial para abastecimento público,
saneamento ambiental, coleta seletiva de lixo, preservação de
patrimônio histórico, reservas indígenas, etc.
Aliado ao aspecto ambiental, outros fatores também podem
ser levados em conta no estabelecimento desses critérios, entre eles:
número de crianças matriculadas no ensino fundamental, taxa de
evasão escolar, taxa de mortalidade infantil, número de leitos
hospitalares disponíveis, entre tantos outros. Ainda de acordo com a
autora, das 27 unidades da Federação brasileira, 17(dezessete) já
instituíram o ICMS ecológico. Apenas 10 (dez) ainda não elaboraram
lei dispondo sobre o assunto, a saber: DF, SC, BA, ES, SE, AL, RN,
MA, RR E AM.

2.4 IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL -ITR

O Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural, de apuração


anual, tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse
de imóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do município,
em 1º de janeiro de cada ano.
A progressividade do ITR está prevista no artigo 153, VI, §
4º, I da CF/88. Não tem função fiscal ou arrecadatória, mas sim função
extrafiscal, servindo como instrumento para desestimular a
manutenção de propriedades improdutivas e garantidor da função
social da propriedade que adota práticas de manejo ecologicamente
corretas e voltadas para a preservação do meio ambiente.
A Lei nº 9.393/96, de 19 de dezembro de 1996, regulamenta
o ITR. Cria nova metodologia de apuração e declaração, gravando de
forma mais onerosa os imóveis rurais improdutivos. Impõem a
progressividade de alíquotas, definidas em razão direta ao tamanho da
propriedade e em função inversa ao grau de utilização da área
aproveitável, com variação entre 0,03% (três centésimos por cento) a
20% (vinte por cento) do valor da terra. Nos artigos 2º e 3º,
respectivamente, trata das imunidades e das isenções. No artigo 10,
78

excluem-se da base de cálculo as áreas cuja destinação estão afetas de


forma direta ou indireta a proteção ambiental.
Por derradeiro, ressalta-se que as áreas de preservação
permanente e de reserva legal para serem deduzidas da área total
tributável e comporem o cálculo do ITR a ser pago, deverão observar
as regras contidas no Novo Código Floresta, Lei nº 12.651/12, que
impõe uma série de obrigações aos proprietários rurais. Atualmente,
todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa,
a título de Reserva Legal, nos termos dos percentuais fixados no artigo
12 da referida lei, que deve ser de 80% na Amazônia Legal; 35% para
as áreas de cerrado; 20% para as áreas de campos gerais e demais
regiões do país (BRASIL, 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A CF/88 elevou o meio ambiente a posição de um valor


constitucional, expressamente atrelou a dignidade da pessoa humana
ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, ainda
estipulou que a ordem econômica fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa tem como princípios, entre outros: “defesa
do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus
processos de elaboração e prestação” (art. 170, VI).
A expressão “tratamento diferenciado”, inserida pela EC nº
42, de 19 de dezembro de 2003, permite uma interpretação mais ampla,
inclusive no que se refere a adoção de mecanismos tributários, como
incentivos fiscais, redução de alíquotas e isenções. O tratamento
diferenciado que diz respeito à autorização de regras tributárias
variadas conforme a necessidade da política ambiental promovida pelo
Poder Público, também ampliou e intensificou as reflexões jurídicas
sobre a temática da tributação ambiental no Brasil.
Um tratamento diferenciado em termos de tributação se
coloca como um mecanismo útil para o estímulo da preservação do
meio ambiente e de seu uso sustentável, desde que extrapole sua
definição para além do princípio do poluidor pagador e se estenda para
79

o protetor recebedor. Somente assim o princípio da precaução e o


princípio da prevenção poderão ser de fato efetivados no Brasil.
Como não ficou expresso no texto constitucional qual seria
esse tratamento diferenciado, dessa lacuna advém a possibilidade de se
estabelecer um tratamento jurídico tributário diferenciado de acordo
com as práticas ambientais, podendo o tratamento ser benéfico e
premiar aquele que preserva o meio ambiente, ou punir ou ser mais
rigoroso com quem o degrada. Afinal, apenas a punição (instrumento
de comando e controle) tem se mostrado ineficiente para a preservação
ambiental, uma vez que existem negócios e atividades econômicas tão
lucrativas que não teriam o menor problema em pagar as multas e
sanções, já que estas entrariam nos custos do negócio e não trariam
nenhum tipo de empecilho para sua continuidade.
A inexistência de um tributo ambiental de forma expressa na
CF/88, não impediu que o legislador utilizasse os tributos de forma
indireta, através da concessão de incentivos fiscais, na chamada função
extrafiscal dos tributos, com o objetivo de estimular nos contribuintes
um comportamento mais favorável ao meio ambiente. Como
demonstrado, são vários os exemplos da aplicação prática da
extrafiscalidade através dos impostos: IPTU Verde; IPVA Ecológico;
ICMS ecológico e ITR.
Ademais, o atual quadro jurídico da tributação ambiental
mostra-se coerente com o princípio da sustentabilidade, já que a
Constituição Federal de 1988 foi influenciada pelo intenso debate
internacional visando conciliar desenvolvimento e crescimento
econômico com a utilização racional dos recursos naturais sejam eles
renováveis ou não renováveis.
Em síntese, após uma análise do quadro jurídico da tributação
ambiental, notadamente dos impostos, forçoso concluir que a
extrafiscalidade tributária configura-se como uma alternativa viável e
em um importante instrumento de preservação e conservação
ambiental no Brasil.
80

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83

INCENTIVOS TRIBUTÁRIOS À GERAÇÃO E AO USO DE


ENERGIA EÓLICA

Jackson Torres1

INTRODUÇÃO

Todo tipo de energia que, de algum modo, retorna à sua


origem no ciclo de transformações energéticas no qual se insere é
considerada energia renovável (CORRÊA, 2019, p. 28). As energias
renováveis são, pois, aquelas derivadas de processos naturais que são
repostos a uma taxa mais elevada do que consumidos.
Não há se falar em desenvolvimento sustentável sem
incentivar o uso de energias renováveis ou limpas, o que levou a
Organizações das Nações Unidas – ONU a incluir, dentre os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável – ODS, o de “assegurar o acesso
confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para
todos” (ODS n.º 7).
Dentre as metas relativas ao ODS n.º 7, destaca-se, no que
diz respeito às energias renováveis, a meta 7.a, que é a de “reforçar a
cooperação internacional para facilitar o acesso a pesquisa e
tecnologias de energia limpa, incluindo energias renováveis, eficiência
energética e tecnologias de combustíveis fósseis avançadas e mais
limpas, e promover o investimento em infraestrutura de energia e em
tecnologias de energia limpa”.
As principais espécies de fontes de energias renováveis são a
solar, a hídrica e a eólica.

1Procurador da Fazenda Nacional. Mestrando em direito na Universidade Federal de


Santa Catarina, UFSC. Especialista em Direito Constitucional pela Universidade
Anhanguera, UNIDERP (2012). Bacharel em direito pela Fundação Universidade
Regional de Blumenau, FURB (2003).
84

Sendo originária da irradiação solar, a energia solar pode ser


empregada fundamentalmente por dois tipos de processos: o térmico e
o fotovoltaico. No primeiro visa-se a transformação da energia solar
em energia térmica, como nos casos de sistemas de aquecimento de
água para piscinas e para uso residencial. No segundo processo a
energia solar é captada e convertida em eletricidade por intermédio de
materiais semicondutores, fenômeno que é conhecido como efeito
fotovoltaico (CORRÊA, 2019, p. 62).
Para que a geração de energia hídrica seja possível são
necessárias condições ligadas à vazão do rio, à quantidade de água
disponível em determinada estação do ano e aos desníveis do relevo. O
Brasil sabidamente tem boas condições naturais para a instalação de
hidrelétricas (CÔRREA, 2019, 111). Embora esta fonte energética seja
considerada alternativa de energia renovável, sabe-se que ela não é
totalmente sustentável – aliás, como nenhuma outra o é –, tendo em
vista as influências ambientais negativas causadas pela instalação de
grandes hidrelétricas. Outro fator a ser considerado são as oscilações
na produção energética decorrentes da falta de água no país.
Por isso também que a busca pela diversificação da matriz
elétrica é de suma relevância atualmente, surgindo com destaque nesse
cenário, de períodos de escassez de água, a fonte eólica de energia
elétrica, que dispensa o uso de água no seu processo de produção. A
produção de energia elétrica ou mecânica a partir dos ventos ocorre
meio de turbinas eólicas quando o objetivo é gerar eletricidade e
moinho e cata-ventos quando a finalidade é a execução de trabalhos
mecânicos (CÔRREA, 2019, p. 89).
Trata-se, também a eólica, de uma fonte de energia
abundante, renovável e limpa, que, em face das impostergáveis
exigências da sustentabilidade ambiental, merece ser incentivada pelo
Direito, inclusive por normas tributárias indutoras.
A fim de identificar a existência, no Brasil, de um arcabouço
jurídico incentivador da produção e do uso da fonte eólica de energia
elétrica é que se realizou este breve estudo, a partir da Constituição, da
legislação infraconstitucional, da doutrina e de dados divulgados pela
Empresa de Pesquisa Energética -EPE.
85

O estudo inicia com a análise das matrizes energética e


elétrica brasileiras, passa pelo relacionamento entre o texto
constitucional e o temática das energias renováveis e finda com o seu
objetivo específico, que é o de identificar as principais normas
tributárias fomentadoras da geração e do uso de energia eólica.

1 MATRIZES ENERGÉTICA E ELÉTRICA BRASILEIRAS

Cabe ao Ministério de Minas e Energia formular as diretrizes


da política energética brasileira. Para auxiliar nessa tarefa foi criada a
Empresa de Pesquisa Energética – EPE, empresa pública federal
vinculada ao Ministério de Minas e Energia, que divulga anualmente o
Balanço Energético Nacional – BEN.
De acordo com o Balanço Energético Nacional – BEN 2020
(EPE, 2020), referente ao ano-base 2019, na matriz energética
brasileira - que não se confunde com a matriz elétrica brasileira - há
uma predominância de fontes de energia não renováveis – 53,9% -,
com destaque para o petróleo e derivados (34,4%).
A respeito, merece ser lembrado que o Brasil, na 21ª
Conferência do Clima (a COP 21), realizada em 2015 em Paris,
assumiu compromisso de (a) alcançar, em 2030, uma participação
de, no mínimo, 45% de fontes de energias renováveis na composição
da matriz energética e de (b) expandir o uso de fontes renováveis a fim
de atingir uma participação de 28% a 33% na matriz energética até
2030, desconsiderando-se hídrica (BRASIL, 2016).
Se analisado o mencionado BEN 2020, conclui-se que o
Brasil atingiu esses dois objetivos, pois, em 2019: a) as fontes de
energia renováveis representaram 46,1% da matriz energética
brasileira; e b) as fontes de energia renováveis, desconsiderada a fonte
hídrica, representaram 33,7% da matriz energética brasileira.
Quanto à matriz elétrica brasileira, infere-se igualmente do
BEN 2020 que - diferentemente do que ocorre com a matriz energética
-, há uma predominância de fontes renováveis de energia, com grande
destaque à energia hidráulica, que representa 64,9% da matriz elétrica
86

brasileira. Se levarmos em consideração as participações da energia


hidráulica (64,9%), da biomassa (8,4%), da eólica (8,6%) e da solar
(1%), notaremos que as fontes de energia renováveis representam
82,9% da matriz elétrica brasileira.
Sobre isso cabe lembrar novamente da posição assumida pelo
Brasil na 21ª Conferência do Clima (a COP 21), que, quanto à
matriz elétrica, comprometeu-se a aumentar a parcela de energias
renováveis (desconsiderada a energia hídrica) no fornecimento de
energia elétrica para ao menos 23% até 2030.
Esse é um compromisso ainda não alcançado, pois as
renováveis, se desconsiderada a energia hídrica, representaram 18% da
matriz elétrica brasileira em 2019. Parece, no entanto, que o Brasil
caminha para alcançar, em alguns anos, também esse objetivo, pois as
renováveis, se desconsiderada a energia hídrica, representaram 16,6%
da matriz elétrica brasileira em 2018 (biomassa, 8,5%, eólica 7,6% e
solar, 0,5%) e, no ano seguinte, conforme antes mencionado, 18%, ou
seja, houve um aumento significativo em apenas um ano.

2 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O INCENTIVO ÀS ENERGIAS


RENOVÁVEIS

Embora a Constituição Federal não contenha cláusula


expressa incentivadora da geração e uso de energias renováveis, o
regime de incentivo constitucional extrai-se dos princípios e regras
constitucionais que protegem o meio ambiente (CALIENDO, 2016,
p.13) e, em especial, dos princípios da ordem econômica, dentre os
quais o da defesa do meio ambiente, que deve ocorrer mediante
tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e
serviços e de seus processos de elaboração e prestação (CF, art. 170,
inciso VI).
Entende-se que há um dever geral de proteção favorecida às
energias renováveis, inclusive porque não faria sentido, de um lado,
prever a proteção ao meio ambiente e, de outro, conferir um tratamento
favorecido às energias não-renováveis, sujas ou poluidoras. Seria
incoerente tratar igualmente situações ambientalmente distintas. Os
87

produtos ou serviços que nada ou menos agridem o meio ambiente


devem, pois, ter tratamento diferenciado (CALIENDO, 2016, p.15).
Trata-se de dever do legislador concretizar essa distinção. O
texto constitucional, em seu artigo 23, exige não só medidas de
proteção ambiental, mas também de promoção, determinando que é
competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios proteger o meio ambiente e combater a poluição em
qualquer de suas formas.
A ordem econômica deve ser sustentável e, por estar
diretamente relacionado à atividade econômica, o Direito Tributário
pode - e deve – incorporar a sustentabilidade como fim a ser alcançado
(CALIENDO, 2016, p. 20). Não basta simplesmente criar tributos
incidentes sobre atividades poluentes. Convêm ou impõe-se também
estimular e fomentar atividades sustentáveis, via incentivos tributários.
Noutros termos: deve-se estimular a extrafiscalidade ambiental.
Conforme bem observou Juarez Freitas (2017, p. 67 a 82):

Toda tributação exerce função regulatória. Bem ou mal.


Quer dizer, favorece a internalização das externalidades
negativas, ou inibe a aludida internalização. Fomenta as
energias fósseis ou as energias limpas. Induz a opção por
veículos a diesel ou a migração, o mais cedo possível,
para veículos de emissões que não se mostrem letais. (...)
Em todas essas questões hamletianas, não existe espaço
regulatório indiferente ou neutro. (...) Então, tributar
menos a energia fóssil, em detrimento das energias
renováveis é mais do que exemplo de grosseiro erro
político na fixação de prioridades. Configura estridente
inconstitucionalidade.

Exige-se, no atual cenário de crise ecológica e climática, a


adoção de um novo paradigma de criação e interpretação de normas
jurídicas, focado na sustentabilidade ambiental, na linha do defendido
por Fritjof Capra e Ugo Mattei (2018, p. 211, 226 e 253):

Uma revolução sistêmica no campo de ação social


requer que as instituições jurídicas gerem incentivos
88

para o comportamento ecologicamente sustentável das


pessoas (...). Temos o conhecimento, a tecnologia e os
meios financeiros para construir um futuro sustentável.
O que precisamos agora é da capacidade de transformar
a concepção sistemática em leis humanas radicalmente
novas, capazes de criar um sistema correto de incentivos
que nos permita tomar a direção certa (...). (...)
Precisamos de uma nova narrativa que torne o
comportamento ecológico atraente (...).

Daí a atual e crescente importância da extrafiscalidade


ambiental. Os incentivos tributários ao uso de energia eólica são
exemplos do manejo do Direito Tributário com finalidade extrafiscal e
servem como instrumentos de fomento da sustentabilidade ambiental.

3 INSTRUMENTOS TRIBUTÁRIOS AO USO DE ENERGIA EÓLICA

Embora não se trate, a rigor, de incentivo tributário, a


Resolução Normativa da Agência Nacional de Energia Elétrica n.º 482
de 2012 tem papel central no âmbito da interpretação de boa parte dos
incentivos tributários referente à energia eólica. Isso porque parcela
considerável dos incentivos tributários existentes toma como base as
definições dessa resolução, a qual trata, em suma, da microgeração, da
minigeração e do sistema de compensação de energia elétrica
A referida resolução estabeleceu um regime de
aproveitamento de créditos produzido para autoconsumo: a energia
produzida - pela própria unidade consumidora - é cedida à distribuidora
e posteriormente compensada com o consumo de energia elétrica desta
mesma unidade consumidora (e geradora) ou de outra unidade
consumidora de mesma titularidade.
Nos últimos anos aumentou substancialmente a chamada
microgeração ou minigeração de energia elétrica a partir das energias
solar e eólica. Ao final do período de apuração, a concessionária cobra
a diferença entre a energia elétrica que foi produzida e a que foi
89

consumida, se esta superar aquela. Em o saldo sendo positivo, ou seja,


se a energia elétrica produzida superar a consumida, a diferença
converte-se em crédito a ser utilizado pelo consumidor/gerador no
período subsequente.
A fim de estimular a autogeração de energia elétrica,
celebrou-se o Convênio CONFAZ n.º 16/2015, autorizando os Estados
e o Distrito Federal a:

(...) conceder isenção do ICMS incidente sobre a energia


elétrica fornecida pela distribuidora à unidade
consumidora, na quantidade correspondente à soma da
energia elétrica injetada na rede de distribuição pela
mesma unidade consumidora com os créditos de energia
ativa originados na própria unidade consumidora no
mesmo mês, em meses anteriores ou em outra unidade
consumidora do mesmo titular, nos termos do Sistema
de Compensação de Energia Elétrica, estabelecido pela
Resolução Normativa nº 482, de 17 de abril de 2012.

Em outras palavras: no caso de diferença entre a quantidade


gerada de energia elétrica e a quantidade consumida, sendo esta última
superior, o ICMS é devido apenas sobre essa diferença. Sobre o tema,
Hugo de Brito Machado Segundo entende que:

Quanto à energia gerada e consumida pela própria


unidade, é evidente que não incide o ICMS, o que aliás
independente de qualquer consideração de ordem
ambiental. Não se trata de isenção, mas de não
incidência. A situação é igual à do sujeito que, no quintal
de sua própria casa, tem uma pequena horta na qual
cultiva manjericão, tomates e cebolas. Caso colha alguns
desses vegetais, ao chegar do trabalho, para preparar
uma massa para a sua família, é evidente que não se pode
cogitar de incidência do ICMS, pois não houve operação
de circulação de mercadoria. Não houve operação. Não
houve circulação. E tais bens não são mercadorias, pois
não se destinam ao comércio. O mesmo se dá com a
energia microgerada e consumida pelo proprietário do
microgerador.
90

Necessário pontuar que a aventada isenção tributária de


ICMS - sobre a energia elétrica produzida e consumida pelo próprio
consumidor – somente tem aplicabilidade no âmbito do mencionado
sistema de compensação de energia de que trata a Resolução
Normativa da Agência Nacional de Energia Elétrica n.º 482 de 2012.
Logo, caso a energia eólica seja produzida não no regime de
microgeração, minigeração e compensação de energia elétrica, mas por
grandes usinas eólicas para fim exclusivamente comercial – e não pelo
próprio consumidor para autoconsumo -, incidirá a alíquota normal de
ICMS, que, em Santa Catarina, parte de 12% e chega a 25%.
Ainda sobre o referido tributo estadual, merece menção o
Convênio CONFAZ n. 101/1997, que fomentou significativamente a
geração de energia eólica, pois autorizativo da concessão de ICMS
quanto às operações de circulação de equipamentos e componentes
para o aproveitamento da energia eólica. Entre esses equipamentos e
componentes incluem-se aerogeradores para conversão de energia dos
ventos em energia mecânica para fins de bombeamento de água e/ou
moagem de grão, aerogeradores de energia eólica, torres para suporte
de gerador de energia eólica e pás de motor ou turbina eólica.
No referente aos tributos federais, a União, via Lei n.º 10.865,
art. 28, XXXVII, reduziu a 0 (zero) as alíquotas da contribuição para o
PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre a receita bruta decorrente
da venda, no mercado interno, de partes utilizadas exclusiva ou
principalmente em aerogeradores.
Igualmente foram reduzidas a zero, via Lei n.º 13.169, art. 8º,
as alíquotas da Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para
Financiamento da Seguridade Social - COFINS incidentes sobre a
energia elétrica ativa fornecida pela distribuidora à unidade
consumidora, na quantidade correspondente à soma da energia elétrica
ativa injetada na rede de distribuição pela mesma unidade consumidora
com os créditos de energia ativa originados na própria unidade
consumidora no mesmo mês, em meses anteriores ou em outra unidade
consumidora do mesmo titular, nos termos do Sistema de
Compensação de Energia Elétrica para microgeração e minigeração
distribuída, conforme regulamentação da Agência Nacional de Energia
Elétrica - ANEEL.
91

Também há, quanto à tributação federal, previsão de alíquota


zero referente ao Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI
incidente sobre partes utilizadas exclusiva ou principalmente em
geradores e grupos eletrogêneos de energia eólica (Tabela TIPI,
Decreto n.º 10.254/2017, posições 8503.00.90 e 8502.31.00).
Por fim, merecem menção também iniciativas
tributárias municipais de incentivo ao uso de energia eólica,
casos do Município de Guarulhos que, por meio da Lei Municipal
n.º 6.793/2020, concede descontos de IPTU relativamente a
imóveis edificados que adotem duas ou mais medidas ecológicas,
dentre elas a adoção de sistema de utilização de energia eólica,
bem como do Município de Salvador, o qual, via Decreto n.º
29.100/2017, institui benefícios fiscais aos contribuintes que utilizam
fontes alternativas de energia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na esteira do entendimento de Juarez Freitas, entendemos


que “a releitura valorativa, ‘esverdeada` e de cores limpas do
ordenamento jurídico, não apenas do Direito Ambiental, é a chave
mestra da reinterpretação jurídica” (FREITAS, 2019, p. 35). A
defendida reorientação legislativa e hermenêutica com viés ecológico
revela-se imperiosa em tempos de crise climática.
Necessário, nesse contexto, uma atuação multidisciplinar,
inclusive no que se refere às escolhas energéticas:

(...) no campo da tributação ambiental voltado para o


setor da energia elétrica, é indispensável a conexão entre
economia, engenharia elétrica, direitos da energia,
financeiro, tributário, ambiental, dentre outros. A
multidisciplinaridade possibilita melhor visão das
questões primordiais e conduz à elaboração de eficientes
diretrizes para o uso sustentável da energia
(CAVALCANTE, 2016, p. 34).
92

O Direito Tributário, pela via da extrafiscalidade ambiental,


tem potencial de contribuir decisivamente nessa tarefa, qual seja, a de
frear a degradação ambiental em curso, o que necessariamente passa
pelo estímulo à geração e ao uso de energias limpas ou menos
poluentes.
É razoável supor que os antes abordados incentivos
tributários - federais, estaduais e municipais – contribuíram para o
expressivo aumento verificados nos últimos anos na geração e no uso
de energia eólica no Brasil.
Note-se, a título exemplificativo: no ano de 2018, a energia
eólica equivalia a 7,6% da matriz elétrica brasileira e, no ano
imediatamente seguinte, alcançou a marca de 8,6%, aumento de 13%
em apenas um ano (EPE, 2020).
Esse é mais um exemplo que nos leva a crer que o Direito
Tributário consiste em poderoso instrumento auxiliar de proteção e
promoção do meio ambiente.
Há, inexiste dúvida, muito ainda a avançar, não só no
referente a incentivos tributários à geração e ao uso de energias limpas,
mas sobretudo quanto à - cada vez mais - necessária tributação de
energias fósseis, sujas e poluidoras.

REFERÊNCIAS

BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. 2016. Entenda


melhor a INDC do BRASIL. DISPONÍVEL EM:
http://redd.mma.gov.br/pt/noticias-principais/414-entenda-melhor-a-
indc-do-brasil. Acesso em: 22 dez. 2020.
CALIENDO, Paulo. Extrafiscalidade ambiental e o incentivo às
energias renováveis. In: Tributação ambiental e energias
renováveis. CALIENDO, Paulo; CAVALCANTE, Denise Lucena
(Org.). Porto Alegre, RS: Editora FI, 2016.
CAPRA, Fritjof; MATTEI, Ugo. A revolução ecojurídica. São Paulo:
Cultrix, 2018.
93

CAVALCANTE, Denise Lucena. Tributação ambiental e energias


renováveis. In: Tributação ambiental e energias renováveis.
CALIENDO, Paulo; CAVALCANTE, Denise Lucena (Org.). Porto
Alegre, RS: Editora FI, 2016.
CORRÊA, Nayara Borges de Oliveira. Fontes renováveis de energia:
uma abordagem interdisciplinar no ensino de física. Curitiba: Appris,
2019.
EPE. Balanço Energético Nacional. Disponível em:
https://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dados
abertos/publicacoes/balanco-energetico-nacional-ben. Acesso em: 22
dez. 2020.
FREITAS, Juarez. Função Regulatória dos tributos sustentáveis. In:
CALIENDO, Paulo; CAVALCANTI, Denise Lucena (org). Políticas
públicas, tributação e energia solar. Curitiba: CRV, 2017. p.67 a 82.
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: Direito ao Futuro. 4. ed. Belo
Horizonte: Fórum, 2019.
ONU. Plataforma Agenda 2030. Disponível em:
http://www.agenda2030.org.br/ods/7/. Acesso em: 02 dez. 2020.
MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. ICMS e microgeração de
energia: tributação ambiental como pretexto? Conjur, 2019.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-out-02/consultor
tributario-icms-microgeracao-energia-tributacao ambiental-pretexto.
Acesso em: 28 nov. 2020.
94

APONTAMENTOS SOBRE A PROMOÇÃO DA


SUSTENTABILIDADE ATRAVÉS DA TRIBUTAÇÃO
AMBIENTAL E DO ESTÍMULO ÀS ENERGIAS RENOVÁVEIS

Leatrice Faraco Daros1

INTRODUÇÃO

O presente texto pretende estudar a promoção da


sustentabilidade através da tributação ambiental no campo das energias
renováveis. O estímulo à adoção de matrizes energéticas renováveis
coaduna-se com uma tributação relacionada com a concepção de
sustentabilidade, pois o setor de energia tem ligação com a produção
dos gases de efeito estufa, os quais interagem na questão das mudanças
climáticas. Desta forma, é importante traçar as bases que podem
sustentar a adoção de uma tributação ambiental que poderá servir para
incentivar a produção de energia renovável e limpa.
Desta maneira, o trabalho irá abordar o conceito de tributação
ambiental bem como a diferenciação entre os tributos ambientais. Na
sequência, serão analisadas as noções de externalidades negativas e
extrafiscalidade, passando-se para a noção de desenvolvimento
sustentável. Por fim, serão buscados os fundamentos jurídicos que
podem embasar uma tributação ambiental que promova o uso das
energias renováveis, as quais espelham uma ideia de tributação
sustentável.

1 Doutoranda em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Mestre


em Direito pela UFSC (2018). Especialista em Direito Ambiental pela Verbo
Educacional, VERBO (2018); em Direito Público: Constitucional e Administrativo
pela Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC (2011); e em Direitos
Fundamentais e Constitucionalização do Direito, pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul, PUCRS (2009). Bacharela em Direito pela Universidade
Federal de Santa Catarina, UFSC (2006).
95

1 A TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL E O TRIBUTO AMBIENTAL

A tributação ambiental caracteriza-se pelo emprego dos


instrumentos de direito tributário na busca de um fim ligado ao meio
ambiente. Nota-se, na doutrina especializada, o destaque para duas
finalidades ligadas aos tributos ambientais: “[...] geração de recursos
para custeio de serviços públicos de natureza ambiental e a orientação
do comportamento dos contribuintes para a preservação do meio
ambiente” (RIBEIRO; FERREIRA, 2005, p. 665). Desta forma, dois
aspectos se destacam no campo da tributação ambiental: o aspecto
arrecadatório ou fiscal, e o aspecto extrafiscal ou regulatório.
Nesse panorama, Montero (2014, p. 183-186) traz uma
classificação na qual diferencia os tributos ambientais em sentido
amplo ou sentido impróprio; e os tributos ambientais em sentido estrito
ou sentido próprio. No primeiro grupo estão incluídos aqueles tributos
que apresentam finalidade preponderantemente de arrecadação, porém
trazem em algum dos seus elementos um atributo ecológico. Assim,

A tributação ambiental em sentido amplo compreende o


uso de técnicas fiscais - incentivos e benefícios fiscais -
para estimular a proteção ambiental, e os tributos
ordinários que de maneira secundária ou indireta
contemplam problemas de caráter ambiental
(MONTERO, 2014, p. 187).

Na segunda categoria encontram-se os tributos nos quais há


“[...] um vínculo entre a sua estrutura e o impacto causado no meio
ambiente [...]” (MONTERO, 2014, p. 188), sendo que o tributo
desestimula a geração de impactos ambientais ao mesmo tempo em que
incentiva a proteção do ambiente. Diante disso, percebe-se a
predominância da finalidade extrafiscal no chamado tributo ambiental
stricto sensu (MONTERO, 2014, p. 188). A característica da
extrafiscalidade “[...] tem como objetivo conduzir o comportamento
dos contribuintes [...]” (RIBEIRO; FERREIRA, 2005, p. 665). Desta
maneira, pode-se afirmar que o tributo ambiental em sentido estrito
caracteriza-se como
96

[...] aquele cuja estrutura estabeleça um incentivo para a


proteção da natureza, de forma que as deseconomias
externas derivadas da degradação ambiental sejam
assumidas pelo causador” (MONTERO, 2014, p. 189).

No mesmo sentido são as ponderações de Soares sobre o


assunto:

Para que o tributo ecológico seja coerente com os


objetivos que persegue e não viole o princípio da
equidade, terá que ter por objecto uma actividade ou uma
situação que, além de manifestar capacidade
contributiva, apresente uma ligação estreita com o dano
ambiental e com a internalização das externalidades. [...]
Deve existir uma conexão entre o fato gerador da
obrigação fiscal e a base tributável, medindo esta o
elemento material do primeiro. E se o facto gerador é a
perturbação do equilíbrio ecológico, em princípio, deve
eleger-se como base do imposto não uma medida de
riqueza, mas uma medida de contaminação, ou seja,
deve escolher-se um parâmetro não monetário,
requerendo-se uma medição de elementos físicos
(SOARES, 2001, p. 381-382).

Ao tratar das vantagens da utilização de tributos ambientais,


Costa (2005, p. 323) ressalta dois pontos: o estímulo ao comportamento
individual de uma postura ambientalmente correta; e o fato de um
sistema de tributos ambientais não exigir a mesma infra-estrutura e
fiscalização - em resumo: o mesmo custo - da política administrativa
nesse âmbito.
Portanto, pode-se asseverar que os tributos ambientais, ou
eco tributos, procuram conciliar as metas ecológicas e os interesses
econômicos, sem olvidar a principiologia que embasa o direito
tributário, especialmente no que tange às limitações ao poder de
tributar, que, no Brasil, receberam guarida constitucional. A mediação
entre meio ambiente e economia remete à ideia de internalização dos
custos socioambientais de origem antrópica, bem como à questão do
desenvolvimento sustentável.
97

2 AS EXTERNALIDADES NEGATIVAS E A EXTRAFISCALIDADE

A noção de internalização das externalidades negativas


reflete-se no princípio de direito ambiental chamado princípio do
poluidor pagador (PPP). O princípio parte do pressuposto de que, no
processo de produção de bens e serviços, a utilização dos chamados
recursos naturais gera externalidades negativas como a poluição e a
degradação do meio ambiente. Diante dessa realidade, o princípio
procura “internalizar” os custos ecológicos nas práticas produtivas de
maneira que o poluidor assuma tais despesas, evitando-se que a
sociedade os suporte de modo indiscriminado (SARLET,
FENSTERSEIFER, 2017, P. 113).
Nesse sentido, ensina Montero (2014, p. 203):

O PPP orienta as possíveis respostas para o problema da


degradação ambiental, seu principal objetivo é que os
custos sociais provocados pela atividade que lesa ao
agredir o meio ambiente repercutam nos custos finais
dos produtos e serviços ligados a essa atividade. Trata-
se de um princípio de justiça que tem por escopo que a
sociedade não seja obrigada a suportar os custos da
sustentação da qualidade do meio ambiente. O princípio
exige a internalização dos custos ambientais, uma vez
que parte da ideia de que nenhum indivíduo ou agente
econômico deve lucrar à custa da sociedade
(MONTERO, 2014, p. 203).

Aragão (2014, p. 56) informa a origem econômica do


princípio do poluidor pagador no âmbito da OCDE . Ela também
recorda que as duas finalidades apontadas na formulação do princípio
eram: incentivar o uso racional dos recursos ambientais, trazendo uma
resposta ao problema econômico da escassez; e promover a equidade
econômica internacional, ao evitar as possíveis distorções no comércio
e nos investimentos “[...] derivadas das diferenças na distribuição dos
custos das políticas de protecção do ambiente adoptadas por cada
Estado” (ARAGÃO, 2014, p. 56).
É importante ressaltar que o propósito do princípio consiste
em reduzir as externalidades negativas derivadas do processo de
98

produção, incentivando um aperfeiçoamento das técnicas de proteção


do meio ambiente, pois o dano ambiental mostra-se economicamente
prejudicial para aquele que o pratica. Conforme esclarece Montero
(2014, p. 204) “O PPP não cria um direito de poluir, não é um pedágio
que permite poluir a quem pode pagar[...]”.
Diante disso, destaca-se o alerta de Aragão sobre a “poluição
normativa” na interpretação do princípio do poluidor pagador. Assim,

A ‘poluição normativa’ verifica-se quando as normas


vigentes são pretensamente conformes ao PPP, mas na
realidade, pelo seu conteúdo ou forma de aplicação, não
o observam rigorosamente ou então fazem dele uma
aplicação incorrecta, redundando, substancialmente, em
autênticas licenças gratuitas de poluição, que fazem
prevalecer o interesse particular dos poluidores, de
redução dos custos, sobre o interesse público de
protecção do ambiente (ARAGÃO, 2014, p. 52).

Ainda, quanto ao princípio do poluidor pagador, é importante


sublinhar a observação de Montero:

Por outra parte, da leitura do PPP deve interpretar-se, a


contrario sensu, que aqueles que com as suas condutas
criem condições específicas de conservação ambiental
que beneficiem a sociedade deverão receber uma
compensação justa, internalizando-se assim as
externalidades ambientais positivas (MONTERO, 2014,
p. 204).

Portanto, diante de tudo isso, pode-se concluir que

O PPP fundamenta e orienta os tributos ambientais com


o intuito de permitir uma eficiente redução dos impactos
ambientais negativos causados por determinadas
atividades, até alcançar níveis adequados e sustentáveis.
(MONTERO, 2014, p. 205).

Nesse contexto, percebe-se a extrafiscalidade inerente aos


tributos ambientais. Com efeito, a extrafiscalidade consiste no “[...]
99

emprego de instrumentos tributários para o atingimento de finalidades


não arrecadatórias, mas, sim, incentivadoras ou inibitórias de
comportamentos [...]” (COSTA, 2005, p. 321), as quais contemplam
valores perseguidos pelos ordenamentos jurídicos. No mesmo sentido,
Valadão e Carnaúba (2017, p. 84) esclarecem que os tributos podem
ser utilizados como “[...] instrumento de regulação/direção, com
objetivos que não o meramente arrecadatório, podendo servir a
consecução de finalidades políticas, sociais, econômicas ou ambientais
[...]” (VALADÃO; CARNAÚBA, 2017, p. 84). A extrafiscalidade
pode ser concretizada através da criação e graduação de tributos - os
tributos ambientais - ou pela concessão de isenções e outros incentivos
fiscais - os benefícios fiscais ambientais (COSTA, 2005, p. 321).
O pioneirismo na abordagem da tributação ambiental
extrafiscal é atribuído ao economista Arthur Cecil Pigou. Ele defendeu
a necessidade do estabelecimento de uma tributação ambientalmente
orientada, na qual se busque a internalização dos custos das
externalidades negativas bem como os benefícios derivados das
externalidades positivas (VALADÃO; CARNAÚBA, 2017, p. 84).
Convém enfatizar que a extrafiscalidade atua no campo da
licitude e da ação preventiva, em situações nas quais o dano ambiental
não se caracteriza como crime ambiental. Desta forma, nota-se que “O
tributo ambiental não tem como objetivo o castigo: pretende que os
agentes econômicos reduzam a produção ou consumo de produtos
poluidores [...]” (MONTERO, 2014, p. 206).
Portanto, a intervenção do Estado surge no controle das
externalidades advindas da exploração da natureza pelos humanos
entre aqueles que promovem o crescimento econômico e aqueles que
suportam o crescimento econômico. Para Modé: “A intervenção do
Estado como ordenador da atividade econômica em face da defesa do
meio ambiente é, em suma, inafastável” (MODÉ, 2016, p. 70). Assim,
o Estado surge como conciliador de interesses individuais e coletivos
no contexto intertemporal entre as presentes e as futuras gerações
procurando assegurar uma sadia qualidade de vida (MODÉ, 2016).
Nessa perspectiva, pode-se ponderar que o Estado intervencionista atua
para promoção do chamado desenvolvimento sustentável, o que no
Brasil encontra respaldo nos artigos 170 e 225 da Constituição Federal.
100

3 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A noção de desenvolvimento surge no debate internacional


com o relatório “Nosso Futuro Comum” (Relatório Brundtland de
1987). Nesse documento, o desenvolvimento sustentável foi
conceituado como “[...] aquele que atende às necessidades do presente
sem comprometer a possibilidade de gerações futuras atenderem a suas
próprias necessidades”. Na Conferência das Nações Unidas sobre
desenvolvimento sustentável (Rio+20), o desenvolvimento sustentável
foi entendido como “[...] o modelo que prevê a integração entre
economia, sociedade e meio ambiente. Em outras palavras, é a noção
de que o crescimento econômico deve levar em consideração a inclusão
social e a proteção ambiental”.
Percebe-se que a definição de desenvolvimento sustentável
esteve ligada, historicamente, à ideia de crescimento econômico. Na
abordagem econômica tradicional, o desenvolvimento sustentável
significa o balanceamento de três pilares fundamentais: o ambiental, o
econômico e o social. Diante disso, Voigt (2013, p. 146-157) alerta que,
apesar do equilíbrio entre os fatores ambientais, econômicos e sociais
ser importante, isso não pode significar necessariamente um tratamento
equânime. A autora explica que é fundamental uma delimitação do
objetivo, sendo que esse deve ser marcado pela proteção da natureza.
De maneira semelhante, Winter (2009, p. 5) traz a
diferenciação entre a sustentabilidade fraca (imagem dos três pilares
equivalentes) e a sustentabilidade forte (imagem de dois pilares e um
fundamento). Nessa última, a natureza é o fundamento que sustenta os
aspectos sociais e econômicos, os dois pilares. Tanto no modelo dos
três pilares como na representação da natureza enquanto fundação que
sustenta os pilares social e econômico, essas colunas são os
sustentáculos das presentes e futuras gerações. Nas palavras de Winter
(2009, p. 4), com a sustentabilidade forte:

[...] a biosfera torna-se de fundamental importância. A


economia e a sociedade são parceiros mais fracos, pois
a biosfera pode existir sem os humanos, mas os humanos
certamente não podem existir sem a biosfera. Portanto,
humanos, enquanto exploram a natureza, devem
101

respeitar suas limitações, uma necessidade que eles são


capazes de preencher, uma vez que possuem o potencial
da razão e, então, os padrões alternativos de ponderação
do comportamento (WINTER, 2009, p. 4).

Desta forma, conforme expõem Ávila da Silva e Viana (2017,


p. 157):

O grande desafio do século XXI é a implementação de


uma mudança no sistema de valores que está por trás da
economia global, de modo a torná-la compatível com as
exigências da dignidade humana e da sustentabilidade
ecológica (ÁVILA DA SILVA; VIANA, 2017, p. 157).

Em termos de definição, a noção de desenvolvimento segue


como um conceito em disputa. Conforme explicam Leite et al. (2017,
p. 174) há uma discussão sobre a natureza jurídica da noção de
desenvolvimento sustentável ou sustentabilidade: princípio, valor ou
objetivo. No contexto de um Estado de Direito Ecológico (ou Estado
de Direito para a Natureza), Leite et al. consideram a caracterização da
sustentabilidade como um objetivo primordial, pois “[...] confere uma
maior proteção, garantindo a prevalência dessa meta dentro da
sociedade” (LEITE et al., 2017, p. 176). Desta maneira, afasta-se uma
eventual colisão entre princípios, o que poderia mitigar a
sustentabilidade. Além disso, os autores ressaltam que o entendimento
da sustentabilidade como objetivo coaduna-se com os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS), os quais devem orientar as
políticas nacionais e as ações de cooperação internacional (LEITE et
al., 2017, p. 177).
Portanto, com base na ideia de desenvolvimento sustentável
e sustentabilidade forte, a tributação ambiental deve evidenciar a
relevância do fator ecológico na utilização das ferramentas tributárias.
102

4 A PROMOÇÃO DA SUSTENTABILIDADE ATRAVÉS DA


TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL E O ESTÍMULO ÀS ENERGIAS
RENOVÁVEIS

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 traz os


fundamentos jurídicos para a instituição da tributação ambiental. O
artigo 170 da Constituição2 trata da possibilidade de atuação do Estado
de forma intervencionista na defesa do meio ambiente, inclusive
mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos
produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação.
Assim, o fundamento de ação para fins de instituição dos tributos
ambientais possui como fonte normativa o art. 170, VI, da
Constituição, bem como os artigos 225 e 174 que também integram o
texto constitucional3.
Conforme explica Caliendo,

[...] a dedução lógica da norma expressa no art. 170 da


CF exige claramente a aplicação de um regime
constitucional diferenciado aos produtos e processos que
tenham efeito positivo sobre o meio ambiente
(CALIENDO, 2016, p. 15).

2
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano
e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme
os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] VI -
defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação [...].
3
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para
as presentes e futuras gerações.
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o
Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e
planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para
o setor privado.
103

No mesmo sentido são as ponderações de Valadão e


Carnaúba (2017, p. 90):

Infere-se do referido preceito constitucional a


possibilidade de ser adotado tratamento diferenciado
entre pessoas com base no impacto ambiental dos
produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação, decorrendo claramente a possibilidade de
instituição de tributos extrafiscais levando-se em
consideração os impactos ambientais que possam ser
causados por atividades econômicas (VALADÃO;
CARNAÚBA, 2017, p. 90).

Portanto, embora a Constituição não obrigue a criação de


tributos ecológicos, ela prescreve que a proteção ambiental é um dever
do Estado e da coletividade (CORBETTA, 2017, p. 48). Assim, para
Caliendo (2016, p. 16), o legislador ordinário tem o dever de
concretizar a distinção que preconiza o tratamento diferenciado aos
produtos ou serviços que protegem o meio ambiente. Diante disso,
afirma que: “[...] não bastam medidas protetivas ao meio ambiente,
devem ser tomadas medidas ativas de ‘combate à poluição’”
(CALIENDO, 2016, p. 16). Entre tais medidas, destacam-se as
questões de eficiência energética e de promoção de fontes renováveis
de energia, bem como o incentivo à pesquisa energética.
Na esteira deste raciocínio, Caliendo (2016, p. 16-17) pontua
a existência de uma dupla eficácia no comando constitucional:
negativa, ao impedir condutas poluidoras, e positiva, ao exigir uma
conduta ativa do Estado. Com base naqueles preceitos constitucionais,
é possível afirmar a existência de um dever fundamental de promoção
da sustentabilidade, que atravessa todo o ordenamento jurídico
constitucional voltado à ordem econômica e relaciona-se com o
imperativo constitucional de dignidade (CALIENDO, 2016, p.17).
Nesse panorama, Caliendo (2016, p. 17) constata a fundamentalidade
na promoção de energias renováveis.
Com efeito, Caliendo identifica as energias renováveis como
“[...] pilar de um desenvolvimento energético sustentável”
104

(CALIENDO, 2016, p. 11)4. Do mesmo modo, Freitas (2017, p. 68)


defende uma “intervenção tributária sustentável”, na qual as funções
ordenadora e indutora permitem o alcance dos benefícios ambientais.
Desta forma, a função extrafiscal, além de internalização das
externalidades negativas também irá colaborar para proteção dos bens
públicos socioambientais e acelerar a transição para energias
renováveis (FREITAS, 2017, p. 68).
Todavia, Freitas alerta que “[...] o sistema tributário brasileiro
demanda revisão crítica acentuada” (FREITAS, 2017, p. 68), pois
ainda não se adequa a uma tributação sustentável. Esse modelo
defendido por Freitas (2017, p. 70) pauta-se na inibição de “[...]
práticas lesivas à saúde pública e irresponsabilidades na produção, no
consumo e no pós-consumo.” Em resumo, a tributação sustentável
defendida por Freitas possui como propósito

[...] a realização da travessia, na seara tributária, de


políticas 'fósseis', chumbadas à inércia do poluente
‘status quo’, rumo à inovadoras configurações do tributo
apto a oferecer respaldo à precificação do carbono, a
inclusão social efetiva e a solidariedade racional entre
gerações (FREITAS, 2017, p. 71).

É importante destacar o alerta trazido por Freitas de que


“Toda tributação exerce função regulatória” (FREITAS, 2017, p. 67).
Essa função pode ser bem utilizada, ao fomentar energias limpas, ou
mal utilizada, ao não desestimular o uso de automóveis antigos
movidos a combustíveis fósseis, por exemplo. Assim, “[...] tributar
menos a energia fóssil, em detrimento das energias renováveis, é mais
do que exemplo de grosseiro erro político na fixação de prioridades”

4
Nesse sentido, o autor recorda os compromissos relacionados a Pretendida
Contribuição Nacionalmente Determinada (INDC) - pertencente ao quadro
normativo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima
(UNFCCC) - firmados pelo Brasil na Convenção de Paris de 2015 (COP21),
que se relacionam com a substituição da matriz energética e promoção das
energias renováveis.
105

(FREITAS, 2017, p. 67). Na opinião de Freitas, seria um caso de


inconstitucionalidade.
Portanto, percebe-se que a tributação ambiental pode
funcionar como um instrumento importante para promoção da
sustentabilidade, o que pode ser alcançado com o estímulo à utilização
de energias renováveis, uma vez que o processo de produção de energia
de matriz não renovável contribui para geração dos gases do efeito
estufa, os quais exercem influência no quadro das mudanças
climáticas. Além disso, no processo de produção da energia não
renovável também podem ocorrer grandes impactos ambientais.
Portanto, no campo das fontes alternativas de energia, os
instrumentos tributários para o estímulo ao uso das energias renováveis
é um assunto de elevada importância. Isso porque a questão da energia
renovável relaciona-se intimamente com a sustentabilidade, tanto que
integra uma das 17 metas dos objetivos do desenvolvimento
sustentável (ODS), objetivo número 7 da Agenda 2030 da ONU5.
Todavia, deve-se também sublinhar que as respostas às
questões ligadas ao meio ambiente e à preservação da natureza não se
encerram com a adoção da tributação ambiental. Tanto o Estado como
a coletividade precisam trabalhar em prol de um paradigma
ecologizado, no qual se ultrapasse as heranças cartesianas e
mecanicistas (CAPRA; MATTEI, 2018) que dissociaram o homem da
natureza para que uma visão biocêntrica prevaleça e se possa buscar o
ideal de dignidade para todas as formas de vida cumprindo-se com a
justiça ecológica. Porém, apesar de não ser uma solução pronta, a
intersecção entre o direito tributário e o direito ambiental oferece
ferramentas que auxiliam na tarefa de preservação da vida na Terra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente ensaio se propôs a estudar a promoção da


sustentabilidade através da tributação ambiental bem como o estímulo
que tal proposta pode oferecer ao incentivo das energias renováveis.

5
Conforme as informações do sítio: http://www.agenda2030.org.br/ods/7/
106

Desta maneira, foi apresentado o conceito de tributação ambiental bem


como a diferenciação entre os tributos ambientais, próprios e
impróprios, verificando-se que ambos podem desempenhar um papel
na proteção do meio ambiente. Entretanto, constatou-se que os tributos
ambientais em sentido estrito são aqueles em que prepondera a
finalidade extrafiscal.
Desta forma, na sequência, foram abordadas as noções de
externalidades negativas e extrafiscalidade. Neste ponto, observou-se
que a questão da internalização das externalidades negativas reflete no
princípio do poluidor pagador e interage com a ideia de
extrafiscalidade. Essa, por sua vez, relaciona-se com a noção de
desenvolvimento sustentável. Assim, seguiu-se a análise do conceito
de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade. Finalmente,
verificou-se que a Constituição Federal brasileira oferece os
fundamentos jurídicos para embasar a tributação ambiental bem como
a promoção das energias renováveis, as quais espelham uma ideia de
tributação sustentável.

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angular da política comunitária do ambiente. São Paulo: Inst. O Direito
por um Planeta Verde, 2014.
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107

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CORBETTA, Janiara Maldaner. Taxa ambiental como instrumento de
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LEITE, José Rubens Morato (Org.). São Paulo: Inst. O direito por um
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MONTERO, Carlos Eduardo Peralta. Tributação Ambiental. São
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RIBEIRO, Maria de Fátima; FERREIRA, Jussara S. Assis Borges
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SOARES, Claudia Alexandra Dias. O imposto ecológico – contributo
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MACHADO, Paulo Affonso Leme; KISHI, Sandra Akemi Shimada
(Orgs.). Desenvolvimento sustentável, OGM e responsabilidade
civil na União Europeia. Tradução de Carol Manzoli Palma.
Campinas: Millennium Editora, 2009.
109

A TRIBUTAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AO


MEIO AMBIENTE

Luana Regina Debatin Tomasi1

INTRODUÇÃO

A sociedade moderna internalizou a equivocada premissa de


que o meio ambiente possui recursos infinitos, capazes de fazer frente
às necessidades do crescimento econômico, o que se pode verificar da
conduta humana e econômica voltada ao consumo desenfreado. Tal
percepção foi sendo modificada apenas a partir da década de 70,
quando passou a ser debatida a necessidade de uma mudança cultural
e comportamental de preservação do meio ambiente e seus recursos
naturais.
A Conferência de Estocolmo ocorrida em 1972, da qual
originou a Declaração sobre o Meio Ambiente, pode ser considerada o
maior marco histórico na discussão sobre a questão ambiental no
âmbito internacional.
A mencionada declaração, posteriormente denominada
apenas de Declaração de Estocolmo, reconhece o meio ambiente
ecologicamente equilibrado como um direito fundamental
internacional, sendo considerada uma complementação da Declaração
Universal dos Direitos do Homem da ONU (1948), tendo inspirado
diversas constituições, como a Constituição Brasileira de 1988, que
incluiu a defesa do meio ambiente como um princípio de ordem

1Bacharela em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí (2008) e especialista em


Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários - IBET (2013).
Advogada, sócia do escritório Mosimann, Horn & Advogados Associados, professora
permanente da Escola Superior de Advocacia de Santa Catarina - ESA/SC e professora
do curso de Pós-Graduação em Direito, Tecnologia e Inovação da Faculdade Cesusc
mantida pelo Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina no Curso de Direito.
110

econômica (art. 170, VI) e um direito fundamental, cuja proteção é


dever de toda a coletividade (art. 225).
A partir de então, a economia passou a ser compreendida a
partir da relação dicotômica entre a infinitude das necessidades do
homem e a escassez de recursos ambientais para supri-las. Dessa
percepção surgiu a denominada “economia do meio ambiente”, que
estuda o sistema econômico sob a perspectiva da finitude dos recursos
naturais e a necessária busca por instrumentos que inibam a degradação
e incentivem a preservação. (DE BRITO, 2017)
Sob essa concepção, a ausência de estímulo ao controle do
uso dos recursos naturais é considerada uma falha de mercado que deve
ser corrigida por seus agentes econômicos, mas principalmente pelo
Estado, através da criação de instrumentos de mensuração e imposição
dos danos ambientais aos atores envolvidos na operação econômica, e
mecanismos de estímulo a condutas ambientalmente positivas.
É nesse cenário que está inserida a tributação ambiental que,
conforme será demonstrado no presente ensaio, permite a
implementação de instrumentos eficazes para a proteção do meio
ambiente com a internalização das externalidades negativas a serem
custeadas pelo seu causador, garantia de arrecadação e destinação de
receitas para políticas públicas voltadas à preservação ambiental e,
principalmente, mecanismos de desincentivo de práticas degradatórias
e estímulo à condutas positivas.

1 EFICIÊNCIA ECONÔMICA-AMBIENTAL

Conforme mencionado no capítulo anterior, a existência de


externalidades positivas ou negativas não consideradas no custo da
transação é considerada uma falha de mercado ou uma representação
de ineficiência econômica da operação, que deve ser corrigida.
No caso específico do presente trabalho, no qual se analisa as
operações realizadas entre os agentes econômicos do ponto de vista da
geração de efeitos no meio ambiente, faz se necessário analisar os
mecanismos de correção dessa falha também sob o âmbito ambiental.
111

A eficiência econômica ambiental deve ser considerada como


um princípio matriz do qual decorrem os princípios jurídicos do
poluidor-pagador, do usuário- pagador e do protetor- recebedor. Por
meio da aplicação de tais princípios se conseguiria internalizar
externalidades ambientais, desestimular condutas negativas e
incentivar as positivas (DE BRITO, 2017).
Para o autor (DE BRITO, 2017, p. 136), não se trata de criar
um novo princípio, mas de realizar uma releitura científica do
fenômeno jurídico, a partir de uma conceituação mais abrangente, na
qual se identifique todas as suas características decorrentes da mesma
base normativa:

A expressão princípio da eficiência econômica-


ambiental é mais acertada para representar a norma
jurídica brasileira orientadora da internalização das
externalidades ambientais, preventiva e
repressivamente, justamente porque ela é notadamente
mais abrangente, sendo possível dela especificar os
prismas negativos e positivos de realização e deixe os
subprincípios usualmente conhecidos.

A via negativa do princípio da eficiência econômica-


ambiental identifica os instrumentos econômicos voltados à
internalização das externalidades ambientais negativas, no qual os
custos da ação nociva dos agentes ao meio ambiente e, por conseguinte,
à toda a coletividade, passam a ser inseridos na cadeia produtiva, além
de daqueles voltados ao desestímulo de atividades e comportamentos
danosos ao meio ambiente pronto.
O princípio do poluidor pagador ordena que o agente
econômico que cause prejuízos ao meio ambiente por meio de suas
atividades deve internalizar essas consequências negativas, evitando
que a sociedade, terceira nessa relação, arque com tais prejuízos
injustamente.
Luiz Antônio Gomez de Brito (2017) esclarece que o
princípio do poluidor-pagador possui quatro vertentes: a precaução, a
prevenção, a redistribuição dos custos da degradação e a
112

responsabilização do agente, como se depreende da leitura do art. 225,


§3º, da CF e art. 4, VII, da Política Nacional do Meio Ambiente.
Sobre o princípio do poluidor-pagador, convém
destacar o princípio 16 da Declaração do Rio de Janeiro de 1992 (ECO-
92), que estimula os Estados à promoção de mecanismos de
internalização dos custos decorrentes da poluição que considerem tanto
o interesse público quanto o mercado.
Nesse sentido, convém destacar ser imprescindível
para análise e concepção de instrumentos econômicos que sejam
realmente efetivos no âmbito ambiental, que tais soluções levem em
conta as possibilidades do mercado, sob pena da criação de brilhantes
mecanismos do ponto de vista jurídico e ideológico, mas com nenhuma
ou pouca aplicabilidade.
O princípio do usuário-pagador pressupõe o uso de
recursos naturais com finalidade econômica, ainda que de tal atuação
não decorra qualquer dano ambiental. Isso porque, em sendo os
recursos naturais bens públicos de uso comum, quando um
determinado agente os explora economicamente impede que outros o
façam, devendo compensar a coletividade pelo uso, assim como pelos
custos do controle de tal atividade.
Veja que a diferença basilar entre o princípio do
poluidor-pagador e o princípio do usuário-pagador está na exigência,
para aplicação do primeiro, de um dano ambiental. Em ambos os casos,
se verifica a existência de externalidades ambientais negativas que
deverão ser internalizadas, seja porque a utilização de determinado
bem ambiental como fins econômicos impede que outros o faça, seja
porque a porque determinada operação acarretou danos ao meio
ambiente.
Por outro lado, o princípio da eficiência econômica
ambiental poderia ainda ser analisado sob o ponto de vista da
necessidade de compensação pelo uso ou degradação do meio
ambiente pelo usuário-consumidor, que se utiliza de um recurso
ambiental para uso próprio, sem qualquer viés econômico. Isto porque,
a mera fruição de um bem ambiental pode, muitas vezes, significar
113

alguma espécie de perda à coletividade, contribuindo para a diminuição


ou o esgotamento de determinados recursos naturais (BRITO, 2017).
Da mesma forma que as condutas negativas devem ser
compensadas por seus agentes, as condutas geradoras de
externalidades positivas devem ser recompensadas e estimuladas.
Entende-se por externalidades positivas as ações que
extrapolam o âmbito da exigência legal, ou seja, quando a gente
contribui com a coletividade além do que dele é esperado e exigido
pela norma cogente. Isto ocorre quando determinada empresa passa a
adotar o uso de equipamentos e processos não poluentes em toda a sua
cadeia produtiva, utiliza insumos recicláveis ou de baixa degradação,
dentre outros.
Nesse cenário está inserido o princípio do protetor-
recebedor que norteia a utilização de instrumentos econômicos de
valorização de tais condutas por meio de políticas de não oneração ou
desoneração da atividade produtiva, estimulando a implementação e
manutenção de atividades que promovam a proteção e/ou recuperação
do meio ambiente (BRITO, 2017).
Tal princípio representa verdadeira consequência
lógica do princípio do poluidor-pagador. Afinal, se condutas nocivas
ao meio ambiente devem receber uma contrapartida negativa, a fim de
recompensar os custos ambientais dela decorrentes e desestimular suas
práticas; atuações que produzam efeitos positivos à coletividade,
reduzindo ou impedindo a degradação ambiental, igualmente merecem
resposta à altura.

2 TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL

Arthur C. Pigou foi o primeiro a sugerir a utilização da


tributação como forma de internalizar os custos externos causados
pelos impactos ambientais decorrentes da atividade produtiva,
denominados de “externalidades negativas”, propondo que no preço do
produto vendido estivesse o custo dos recursos ambientais utilizados.
114

Segundo Arthur Pigou, o tributo teria a função de inibir o


comportamento nocivo do poluidor e criar uma fonte de recursos ao
Estado que permita a realização de investimentos na reparação do meio
ambiente (AVILA DA SILVA, 2017).
O objetivo da tributação ambiental seria, portanto, a
mensuração e repasse dos custos ambientais ou “externalidades do
sistema econômico” no preço do bem ou mercadoria vendida, de modo
que tanto os agentes econômicos, quanto os potenciais poluidores
escolham entre o mais caro e o mais barato, a partir de uma análise da
preservação ambiental.
Nesse sentido, a tributação ambiental tem a finalidade de
promover a educação ambiental, na medida em que, por meio de
mecanismos inibidores, mas, principalmente, de estímulo, norteia
condutas, direcionando consumidores e produtores a escolhas mais
responsáveis do ponto de vista ecológico.
Por meio da adoção de instrumentos tributários, o
Estado passa a desestimular condutas entendidas como
ambientalmente negativas ou, alternativamente, incentivar atividades
tidas como positivas por meio de subsídios ou recompensas aos
agentes. Isso porque apesar de ser admissível o uso, a exploração e, até
determinada medida, a degradação dos recursos ambientais, estas
operações devem ser reguladas pelo Estado. A utilização desses
recursos individualmente considerados deve ser razoável a ponto de
não prejudicar o equilíbrio ecológico que depende diretamente do uso
racional desses bens.
Nesse contexto, a extrafiscalidade apresenta-se como um
importante instrumento de implementação de políticas públicas
voltadas à manutenção dos recursos naturais e um meio ambiente
sustentável, por meio da instituição de tributos que, para além do
objetivo arrecadatório, inibam condutas nocivas ao meio ambiente e
induzam comportamentos desejáveis do ponto de vista ambiental.
De acordo com Regina Helena Costa (2005, p.321), a
extrafiscalidade:
Afina-se com a noção de poder de polícia ou de
polícia administrativa, conceituada como a
115

atividade estatal consistente em limitar o


exercício dos direitos individuais em benefício do
interesse coletivo, e que repousa no princípio da
supremacia do interesse coletivo sobre o
individual, visando impedir a adoção de condutas
individuais contrastantes com o interesse com
interesse público.

Sua implementação pode se dar a partir da gradação de


alíquotas proporcionalmente ao nível de degradação da cadeia ou
produto, p. ex., concessão de isenções, redução de alíquota,
instituição de novos tributos com viés eminentemente ambiental
e diversas outras modalidades de incentivo fiscal.

2.1 CONCEPÇÃO DE TRIBUTO AMBIENTAL

A denominação “tributo ambiental” ou “tributo verde” é


usualmente empregada a partir de uma concepção mais ampla, no
sentido de identificar o tributo que possua algum elemento relacionado
à proteção ambiental, como, p. ex., quando parte de sua arrecadação é
destinada para tal fim.
Carlos Eduardo Peralta Monteiro (2014, p. 187) citando José
Marcos Domingues aduz que “em sentido amplo, tributo ambiental é
um tributo tradicional ou ordinário adaptado de molde a servir aos
esforços de proteção ambiental”.
Tal conceituação é objeto de divergência, principalmente
porque grande parte da doutrina entende que tal nomenclatura deve
indicar apenas os tributos cuja hipótese de incidência esteja relacionada
a uma ação ou conduta relacionada ao meio ambiente.
Para o autor, os tributos ambientais devem ser divididos em
duas categorias: tributos ambientais em sentido amplo e tributos
ambientais em sentido estrito. Os primeiros, seriam todos os tributos
que de alguma forma estejam vinculados à causa ambiental, e os
segundos, aqueles cuja finalidade ambiental – desincentivadora de
condutas nocivas e de caráter extrafiscal - possa ser identificada
claramente no critério antecedente da norma matriz de incidência
116

tributária, e não apenas vinculada à destinação de sua arrecadação.


(MONTEIRO, 2014).
Para que um tributo possa efetivamente representar um
instrumento de proteção ambiental a ponto de ser denominado como
“ambiental” ou “verde” deve possuir em sua estrutura, mais
precisamente na hipótese de incidência, tal objetivo, o que exigiria que
fosse concebido a partir de tal perspectiva e finalidade.
A interpretação mais restritiva sobre o conceito de tributo
ambiental não se confunde com a utilização da tributação com a
finalidade de proteção ao meio ambiente, na medida em que o “tributo
ambiental” apenas é um dos inúmeros instrumentos a serem utilizados
pela tributação ambiental.

3 TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

O Brasil adota políticas de gestão ambiental essencialmente


a partir de instrumentos de comando e controle que exigem um grande
aparato administrativo para sua implementação, mais especificamente
para a fiscalização das condutas determinadas por lei e regulamentadas
pela administração (COSTA, 2005).
Além disso, esse sistema não possui nenhum elemento de
verdadeiro estímulo à adoção de comportamentos ecologicamente
sustentáveis, já que o único efeito mediato da conduta adequada à
norma será a não penalização.
Por outro lado, a tributação ambiental possui características
que, somadas ao atual modelo de gestão ambiental, podem trazer
resultados muito mais efetivos para a defesa do meio ambiente, como
a possibilidade de internalização dos custos ambientais e a utilização
da função extrafiscal, a qual poderá ser adotada em maior ou menor
grau em todos os tributos, atuando como um mecanismo de alteração
do comportamento dos agentes – incentivo e desincentivo (MINARDI,
2016).
Apesar de seu importante potencial, a tributação ambiental é
utilizada no Brasil de maneira esparsa, sem uma maior sistematização.
117

A maioria dos instrumentos tributários utilizados relacionam-se ao o


poder de polícia ambiental e a extrafiscalidade, atuando a partir de
reduções de alíquotas como forma de incentivo de condutas
ecologicamente mais positivas.
A utilização dos tributos como mecanismos de internalização
das externalidades negativas exige uma maior conscientização acerca
dos efeitos nefastos que cadeias de produção e consumo poluentes
acarretam à toda a coletividade, bem como quanto à importância do
papel do Estado na necessária mudança cultural no relacionamento do
ser humano com o meio ambiente, o que ainda se apresenta de forma
muito incipiente no Brasil.
No âmbito federal, podemos destacar os seguintes exemplos
de utilização da tributação ambiental: (a) Decreto Federal 755/1993
que estabeleceu alíquotas diversas do IPI para os veículos movidos a
gasolina e a álcool, no intuito de fomentar a produção de álcool; (b)
Lei 5.1068/66, Decretos n. 95607/86 e 86.233/88 que alteraram a
legislação do imposto de renda para permitir a dedução de valores
utilizados em projetos de reflorestamento; (c) Lei 9.396/96 que retira
da base de cálculo do ITR as áreas de reserva legal, APP, interesse
ecológico para a proteção de ecossistemas e as comprovadamente
imprestáveis para qualquer tipo de exploração e de interesse ecológico;
(d) Lei 10.165/00 que instituiu a taxa de controle e fiscalização
ambiental – TCFA; (e) Lei nº 9.433/97 que instituiu a contribuição de
intervenção no domínio econômico – CIDE para a concessão de
direitos de uso de recursos hídricos; e (f) Lei nº 10.336/01 que instituiu
a contribuição de intervenção no domínio econômico – CIDE sobre a
importação e comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural
e seus derivados e álcool etílico combustível.
No âmbito estadual, destaca-se a instituição do ICMS-
ecológico, do qual o estado do Paraná foi pioneiro, que permite a
distribuição de um percentual maior do total devido pelos estados aos
municípios que promovam ações de preservação dos recursos naturais;
redução da alíquota do ICMS para os veículos movidos à álcool,
implementada em estados como São Paulo, Mato Grosso do Sul Rio de
Janeiro; a taxa de preservação ambiental instituída pela Lei estadual nº
10.406/89 pelo estado de Pernambuco para o Distrito Estadual de
118

Fernando de Noronha; além de taxas florestais, como a instituída pela


Lei nº 4.747/68 pelo Estado de Minas Gerais.
Na esfera municipal, podemos mencionar o IPTU verde ou
ecológico, instituído por diversos Municípios brasileiros como São
Paulo, Manaus, São Bernardo do Campo, Salvador e Porto Alegre; que
se constitui em uma série de inventivos ambientais aos proprietários
que empregarem materiais renováveis, técnicas de construção mais
“limpas” e/ou implantação de sistemas de captação e reuso de águas
pluviais, telhados verdes, dentre outros.
Além disso, vem crescendo o número de Municípios
litorâneos que, inspirados pelo bem sucedido exemplo de Fernando de
Noronha, estão instituindo taxas de preservação ambiental, dentre os
quais Ilhabela/SP (Lei nº 547/2007), Bombinhas/SC (Lei
Complementar nº 185/2013 e Lei nº 1.407/2014) e Governador Celso
Ramos/SC (Lei nº 1.115/16 e Decreto nº 132/18).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento econômico deve ser analisado a partir da


perspectiva da economia do meio ambiente, a qual considera a proteção
ambiental como um dos objetivos a serem perseguidos durante o
delineamento e execução de todo o ciclo produtivo. A sua
desconsideração equivale a uma falha de mercado que deve ser
reparada pelos agentes econômicos mediante a intervenção estatal.

Nesse cenário, merece destaque a importância do estudo da


tributação ambiental e sua implementação a partir da revisão dos
instrumentos tributários existentes, avaliação das cadeias produtivas e
seus efeitos para o meio ambiente, com a consequente mensuração de
seus custos ambientais, e instituição de tributos que realmente
internalizem as externalidades ambientais negativas, atribuindo aos
causadores dos danos o preço de tal reparação, assim como
beneficiando aqueles que produzem externalidades positivas.
119

A utilização de mecanismos norteadores do comportamento


humano, a partir de políticas de incentivo e desincentivo financeiro,
permitida a partir da função extrafiscal dos tributos, é uma das
importantes medidas implementadas pela tributação ambiental,
estimulando, a longo prazo, uma mudança cultural na percepção da
relevância da proteção ambiental pelos agentes econômicos e os
consumidores.
No entanto, apesar de a tributação ambiental se apresentar
como uma alternativa altamente eficaz para a defesa do meio ambiente,
o Brasil a emprega de modo muito pontual, sem planejamento,
relacionando-a muito mais à redução de alíquotas e concessão de
isenções e a instituição de algumas taxas de poder de polícia.
Dada a relevância e urgência que o tema merece, é necessário
que o Brasil aprofunde os debates e empreenda esforços no sentido de
construir políticas públicas coordenadas voltadas à implementação de
mecanismos fiscais capazes de evitar ou reduzir a degradação
ambiental, realocando os custos ambientais da coletividade para os
agentes causadores e incentivando comportamentos ambientalmente
positivos.

REFERÊNCIAS

AYDOS, Elena de Lemos Pinto. Tributação Ambiental no Brasil


fundamentos e perspectiva. in LEONETTI, Carlos Araújo; MOTA,
Sergio Ricardo Ferreira (Org). Direito Público – estudos desenvolvidos
no programa de pós-graduação em direito da UFSC. Florianópolis:
Insular, 2015.
AVILA DA SILVA, Carolina Schauffert; VIANA, Iasna Chaves. A
proposta de remanejamento fiscal de Fritjof Capra e as políticas
públicas de energia solar. in CALIENDO, Paulo; CAVALCANTE,
Denise Lucena (Org). Políticas Públicas, Tributação e Energia Solar.
Curitiba: Editora CRV, 2017.
COSTA, Regina Helena. Apontamentos sobre a tributação
ambiental no Brasil. in TÔRRES, Heleno Taveira (Org). Direito
Tributário Ambiental. São Paulo: Malheiros, 2005.
120

DE BRITO, Luiz Antônio Monteiro. Direito Tributário Ambiental.


Rio de Janeiro. Lumen Juris, 2017.
MINARDI, Josiane Ribeiro. A utilização de instrumento tributários
pelo Estado na preservação do meio ambiente sustentável. In
CALIENDO, Paulo; CAVALCANTE, Denise Lucena (Org).
Tributação Ambiental e Energias Renováveis. Porto Alegre: Editora
Fi, 2016.
MONTERO, Carlos Eduardo Peralta. Tributação Ambiental. São
Paulo: Saraiva, 2014.
121

O FENÔMENO DA ESCASSEZ NO DIREITO TRIBUTÁRIO


AMBIENTAL

Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin1

INTRODUÇÃO

Este ensaio acadêmico tem propõe a observação sobre o


fenômeno da escassez dos recursos naturais e sua função no sustento
do meio de vida capitalista, assim afasta-se desde o início a vertente da
análise crítica entre certo ou errado, ou seja, não se está aqui a escrever
sob o viés de julgamento, se o sistema capitalista é mais ou menos
adequado aos princípios do direito ambiental, ou se se é possível
conjugá-los, mas se reforça que este o trabalho traz como limite tão
somente uma observação sobre a produção do fenômeno da escassez
dos recursos naturais e seus efeitos enquanto suporte de sustentação do
meio de vida capitalista.
Para tanto utilizar-se-á a pluralidade metodológica, num
movimento epistemológico como forma de propiciar uma reflexão para
as ciências sociais e humanas mediante considerações sobre as
condições sociais e contextos culturais, projetadas no mundo a partir
de um espaço-tempo-local, com pressupostos encontrados na pesquisa
ação, utilizando-se das ferramentas: levantamento bibliográfico,
análise de mercado e pesquisa de legislação, com sistema de
referenciais teóricos formado entre a conjugação do Direito Sistêmico
em sintonia com a natureza e a comunidade de Fritijof Capra e Ugo
Mattei e ferramentas do Law and Economics, principalmente em razão
da necessidade da análise econômica do direito, na sua interação com

1Mestre em direito pela Universidade de Marília, UNIMAR (2019). Especialista em


Gestão Tributária pela Toledo Prudente Centro Universitário ou Centro Universitário
Antônio Eufrásio de Toledo (2013), em Direito Empresarial pela Universidade
Estadual de Londrina, UEL (2012) e em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de
Estudos Tributários, IBET (2005). Bacharela em direito pela Toledo Prudente Centro
Universitário (2003).
122

a tecnologia, onde observa-se a necessidade de decisões rápidas e


eficientes, que sobretudo debruçam-se em novos paradigmas, os quais
não possuem um resultado a ser comparado, mas que demonstram um
indicativo no sentido de uma melhora do ambiente de negócios para
iniciativas inovadoras.
A opinião posta a discussão, no sentido de que a produção do
fenômeno da escassez dos recursos naturais e seus efeitos serve de
suporte de sustentação do meio de vida capitalista, parte da ideia
desenvolvida a partir da observação de que quem controla o gargalo
produtor da escassez é também que tem o poder de produzir, controlar
e absorver a maior fatia do lucro, ao passo que a retirada dos gargalos
impostos no processo de produção e distribuição de acesso aos recursos
naturais é justamente o que daria ensejo a promoção da propriedade
generativa, onde todos, independente de qualquer qualificação ou
atributo pessoal podem ter acesso aos recursos do cosmos, sem a
necessidade de qualquer pagamento por essa fruição, apenas mediante
o compromisso de utilização apenas do suficiente para si, de modo a
permitir o mesmo aos demais, sejam eles membros das presentes ou
das futuras gerações.

1 A ESCASSEZ E A PROPRIEDADE GENERATIVA

A definição de propriedade generativa, como bem explorada


por Fritjof Capra e Ugo Mattei, tem por princípio, servir as
necessidades da vida:

[...] pois tem a tendência de ser socialmente justa e


ecologicamente inserida na tessitura mesma de suas
estruturas organizacionais, o que a torna sustentável. Ela
gera bem estar e riqueza genuína, viva, do tipo que
necessitamos para transformar o capital em commons,
ou seja, em bens e recursos comuns. (CAPRA;
MATTEI, 2018, p.208)

Ao passo que o gargalo produtor da escassez representa


justamente o ponto onde o fluxo da presença em abundância dos
123

recursos naturais enquanto bens comuns de fruição geral e


despersonalizada deixa de existir.

2 A OBSERVAÇÃO DO FENÔMENO DA ESCASSEZ PELO VIÉS DA


TEORIA DAS RESTRIÇÕES

Esclarecendo melhor o fenômeno da escassez, o físico


Eliyahu Goldratt (GOLDRATT, 2014) desenvolveu a chamada Teoria
das Restrições, onde trabalha uma filosofia de negócios baseada na
existência de restrições ou gargalos, sendo que gargalo nada mais é do
que um recurso dentro do sistema de produção cuja capacidade é menor
que a demanda alocada para esse recurso.
Na Teoria de restrições pressupõe a necessidade de uma
adequada compreensão do inter-relacionamento entre dois tipos de
recursos que estão normalmente presentes em todas as situações, quais
sejam: o recurso restritivo e o recurso não- restritivo, onde o primeiro
corresponde a qualquer elemento que limita o desempenho de sua
fruição, e o segundo àquele que não limita, neste seguir a Teoria das
Restrições propõe a máxima de que a soma dos ótimos locais não é
igual ao ótimo total.
Trabalhando a Teoria das Restrições em um contexto de
gestão de recursos ambientais, traz-se a ideia de que o exercício do
direito à propriedade privada, sustentáculo da ordem econômica
baseada na livre iniciativa, conforme previsto na Constituição Federal,
em seu art. 170, inciso II2 , representa um recurso restritivo a geração
de fluxo contínuo na fruição dos bens naturais enquanto bens comuns,
posto que, sob o ponto de vista de que o direito de propriedade se dá
na relação de um sujeito em oposição a todos os outros, o detentor da
propriedade a exerce em detrimento do direito de a todos os demais
sobre o objeto de apropriação, ainda que sejam recursos naturais, tais
quais: as florestas, o solo, a energia solar, o movimento dos ventos, os

2 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios: [...] II - propriedade privada;
124

animais, os vegetais, os minérios, a água e muitos outros dos quais a


sociedade se utiliza economicamente.
Assim, não é difícil se constatar que aquele que detém a
propriedade privada sobre tais recursos, dos quais a sociedade se utiliza
economicamente, pois deles depende para sustentar seu meio de vida,
é capaz de exercer o poder de controle sobre a sua fruição em relação
aos demais e, por isso, é quem também tem a capacidade de gerar reter
os lucros, ou uma boa parcela deles, enquanto representativos de ganho
auferido durante uma operação comercial ou no exercício de uma
atividade econômica, a partir da exploração econômica dos recursos
naturais.
Percebendo a presença do gargalo da escassez, decorrente do
exercício do direito da propriedade privada o Direito Ambiental, traz
alguns princípios informadores que buscam regular a utilização dos
recursos naturais, tais quais: as florestas, o solo, a energia solar, o
movimento dos ventos, os animais, os vegetais, os minérios, a água e
muitos outros, justamente no intuito de redução ou mitigação de efeitos
produzido pelos gargalos promotores de escassez em decorrência do
princípio da propriedade privada, informadora da livre inciativa.
Desta maneira aquele que detém mais poder pra fazer com
que a escassez se torne perceptível, controla e faz a gestão do fluxo da
demanda, isto porque, consegue um numero maior de pessoas
acreditando na iminência do risco da escassez e salva a todos à um
preço que lhe promova uma geração de riqueza e retenção de lucro
ainda maior, podendo aumentar ainda mais a proporção de recursos
naturais sobre os quais pode exercer a propriedade de forma privada,
potencializando o desequilíbrio que já existia na distribuição do fluxo
de distribuição dos recursos frente às demandas sociais por eles
reduzindo a capacidade do gargalo, tornando-o cada vez mais apertado
e custoso.
A capacidade do exercício do poder neste caso, é diretamente
proporcional a capacidade de controle do fluxo natural da fruição dos
bens comuns, ou seja, o sujeito que se torna capaz de gerar
concentração e acúmulo de recursos de um lado, é aquele que tem o
poder de salvar à todos os necessitados que estão no outro lado, onde
125

permanecem aguardando por meios de subsistir, essa é a base de


concentração de poder que se mostra como protegida a toda força pelo
paradigma mecanicista na defesa e permanência do domínio humano
sobre a natureza.
Nessa linha de raciocínio Fritijof Capra e Ugo Mattei, trazem
toda uma digressão histórica, a partir da qual vão demonstrando que:

O direito serviu de instrumento da dominação humana


sobre a natureza, eliminando progressivamente a
participação das pessoas nos processos reprodutivos
naturais, sobrepujando a antiga sabedoria orgânica
medieval (CAPRA, MATTEI, 2018, p.33)

ao passo que a natureza passou a ser vista como algo


pertencente à humanidade e sua finalidade básica passou a ser vista
como recurso para satisfação das necessidades humanas, explorado a
sua máxima potência pelo advento da tecnologia.
Trabalhando a mitigação dos gargalos propulsores de
escassez, com enfoque na promoção e geração de um fluxo contínuo
de abundância, através do uso da propriedade generativa em evolução
ao conceito de propriedade privada, é que propõe-se a elevação do
nível de maturidade da evolução humana, pela construção de um
circulo de confiança, a partir da segurança individual de cada indivíduo
enquanto suficiente por si, ou seja, dotado de consciência ecológica,
que lhe permite consumir somente o essencial, sem a necessidade de
acúmulo, aqui representado pela geração de lucro, na defesa de seus
interesses individuais, ao passo que todos os outros indivíduos também
estarão comprometidos à da mesma forma, consumir somente aquilo
que lhe é essencial, não somente de forma extrativista, mas também
regenerativa em respeito e sinergia com a natureza.

3 UMA PROPOSTA DE EVOLUÇÃO DA ESCASSEZ À ABUNDÂNCIA


PELA ADOÇÃO DO PARADIGMA SISTÊMICO

A luz da Teoria das Restrições, é justamente essa sinergia


criada a partir da construção de uma consciência de confiança mútua e
126

universal, que se mostra a possibilidade de geração de abundância em


detrimento à escassez, onde a partir do consumo individual consciente
e comprometido com a subsistência do todo, pela promoção de ações
regenerativas, não haja presença da falta à ninguém.
Ou seja, a mudança de perspectiva proposta a partir da
percepção do sujeito enquanto superior equidistante, detentor do poder
de salvar a todos, na tentativa de domínio e exploração sobre a natureza
e por consequência dos lucros advindos desta atividade de econômica,
para o paradigma sistêmico, quando eu me percebo como parte, apenas
capaz de dominar a mim e às minhas atitudes, abrindo mão da
necessidade de ter importância e poder de salvar aos outros,
reconhecendo-os como capazes, tal qual a mim de salvarem-se por si
sós, em igualdade de participar e estabelecer relações de forma
sistêmica, seja em relação aos recursos naturais, seja em relação aos
outros indivíduos, estabelecendo o exercício da propriedade generativa
a partir da presença da confiança pelos integrantes da comunidade, uns
nos outros, se tornando dispensáveis, de forma gradativa a necessidade
da presença de comandos de poder e controle.
Nesse contexto de indução de comportamento, com escopo a
ampliação de consciência sistêmica e a evolução do paradigma
mecanicista para o paradigma sistêmico, em rede, interessante trazer a
consideração os ensinamentos de Leonardo Secchi (SECCHI, 2012,
p.33), que ao discorrer a respeito do processo de elaboração de políticas
públicas, menciona a composição do ciclo das políticas públicas em
sete fases principais: 1) Identificação do problema; 2) Formação da
agenda; 3) Formulação de Alternativas; 4) Tomada de decisão; 5)
Implementação; 6) Avaliação e; 7) Extinção e especialmente no que diz
respeito à terceira fase de formulação de alternativas, menciona que:

A etapa de construção de alternativas é o momento em


que são elaborados métodos, programas, estratégias ou
ações que poderão alcançar os objetivos estabelecidos.
Um mesmo objetivo pode ser alcançado de várias
formas, por diversos caminhos. (SECCHI, 2012, p.33)

Os objetivos estabelecidos da forma trazida pelo autor são


justamente a formulação de políticas públicas para servirem de
127

respostas aos problemas identificados no grupo de pessoas que


receberão a incidência dessas políticas, representadas por normas
prescritivas de condutas, que, para tanto, precisarão estar revestidas dos
atributos de validade, vigência e eficácia, para que possam produzir
efeitos e provocar ações a sensibilizar o plano da realidade, moldando-
a de acordo com a finalidade eleita como meta para ser alcançada.
Como citado, o atingimento de um objetivo, no caso,
alteração da realidade social, pode ser alcançando por diversos
caminhos, pelos quais as alternativas eleitas poderão se mostrar
altamente eficazes ou desastrosas, representando a possibilidade de
propostas na indução dos comportamentos almejados.
Assim, se apresentam como mecanismos de indução de
comportamento a serem analisados pelo governante, no momento da
formulação de uma política pública, tomando por base para elaboração
desses mecanismos o poder econômico, político e ideológico:
premiação, coerção, conscientização e apresentação de soluções
técnicas, descritas por Leonardo Secchi da seguinte maneira: 1.
Premiação: influenciar comportamento com estímulos positivos, como
os incentivos fiscais, por exemplo; 2. Coerção: influenciar
comportamento com estímulos negativos, tal qual a aplicação de
sanções; 3 Conscientização: influenciar comportamento por meio da
construção e apelo ao senso de dever moral; 4. Soluções técnicas: não
influenciar comportamento diretamente, mas sim aplicar soluções
práticas que venham a influenciar comportamento de forma indireta,
como a instituição de barreiras mecânicas.
A princípio, foi com essa arquitetura que o Direito Tributário
Ambiental, enquanto política pública indutora de comportamento
social, restou desenhado, principalmente quando considerada vertente
finalística trazida pelo art. 170, inciso VI, da Constituição Feral, onde
a defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus
processos de elaboração e prestação, representa princípio orientador da
ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na
livre iniciativa, que tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social.
128

Tendo ainda que o Direito Tributário Ambiental deve


acontecer conforme as diretrizes trazidas pelo art. 225 da Constituição
Federal 3, de modo a viabilizar que todos tenham direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.

4 DOS PRINCÍPIOS INFORMADORES DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL

Esclarecendo melhor, como princípios informadores da


tributação ambiental, em conjugação do Direito Ambiental com o
Direito Econômico, o autor Fernando Magalhães Modé (2016, p.48-
68) , traz a análise o princípio da participação (ou princípio
democrático), princípio da precaução, princípio da prevenção,
princípio do poluidor pagador e o princípio do desenvolvimento
sustentável.
Assim, o princípio da participação compreenderia quatro
formas: a) participação na formação das decisões administrativas,
participação nos recursos administrativos e nos julgamentos
administrativos, participação legislativa direta e participação nas ações
judiciais, acrescendo também o seu caráter informacional, trabalhado
pelo autor Paulo de Bessa Antunes com o princípio da informação, pelo
qual os cidadãos tem o direito de receber informações sobre
intervenções que atinjam o meio ambiente de maneira efetiva, de modo
a viabilizar a implementação também do princípio da cooperação
repostando ao Estado e aos cidadãos a divisão dos custos decorrentes
da implementação de uma política de prevenção ambiental.
O princípio da precaução traz a necessidade de se conhecer
os impactos de determinada atividade sobre o meio ambiente para
assim agir-se de maneira preventiva, por isso diz-se que ele é a própria

3Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
129

essência do Direito Ambiental, na aplicação desse princípio, o perigo


de determinada atividade, tal qual as incertezas científicas sobre a
existência do próprio perigo ou sua extensão são postas constantemente
à prova, para que uma vez constata seja a presença ou a ausência de
perigo ao meio ambiente seja para as presentes ou futuras gerações, a
atividade seja afastada ou permitida.
Já o princípio da prevenção cuida do dever jurídico de se
evitar a consumação de danos ao meio ambiente, quando já se existe a
certeza científica sobre o potencial lesivo de determinada atividade,
impondo-se o dever de prevenir os danos advindos do seu exercício.
No princípio do desenvolvimento sustentável, trabalha-se a
ideia de que o desenvolvimento para ser sustentável deve atender às
necessidades presentes, sem comprometer a capacidade de as futuras
gerações atenderem às próprias necessidades e se estrutura a partir de
duas premissas básicas, a primeira atinente aos recursos materiais e a
segunda pautada na ética intra e intergerações.
O princípio do poluidor pagador trabalha a internalização,
por parte dos praticantes da atividade lesiva ao meio ambiente, dos
custos ambientais decorrentes da atividade por ele praticada, de modo
a impor-se ao agente econômico arcar com os custos da diminuição ou
afastamento do dano por ele causado, não de modo sancionatório, mas
reparador das externalidades negativas advindas da sua atuação
enquanto agente econômico.
Dentro da perspectiva de desenvolvimento sustentável, as
professoras Maria de Fátima Ribeiro e Jussara Ferreira , apresentam a
ideia de que ele precisa se sustentar em três pilares, representados pelo
crescimento econômico, qualidade de vida e justiça social, destacando
que a livre iniciativa não pressupõe irresponsabilidade por prejuízos
causados à natureza e a comunidade, justamente porque para promover
o desenvolvimento deve o Estado promover a combinação entre
crescimento econômico com as condições básicas de vida, dentre as
quais a alimentação, a saúde e a preservação ambiental, tendo como
base a efetivação dos direitos sociais (RIBEIRO, FERREIRA, 2005).
Na busca da promoção de uma maior eficiência econômica
ambiental, Luiz Antônio Monteiro de Brito , trabalha os princípios do
130

poluidor pagador, usuário pagador e protetor recebedor como


orientadores a internalização das externalidades ambientais, sejam elas
positivas ou negativas (DE BRITO, 2017, p. 63-236).
No que diz respeito às externalidades negativas, aqui tratadas
como efeito externo percebido por terceiros gerado a partir de uma
transação entre agentes econômicos, destaca-se a utilização dos
princípios do poluidor pagador e usuário pagador, como além de
orientadores à internalização das externalidades ambientais negativas,
também para o desestímulo a atividades e comportamentos que sejam
capazes de gerar tais deseconomias, variando conforme o custo do fato
gerador do custo social, seja a poluição ou o simples uso.
Assim, referido autor destaca que o desenvolvimento
sustentável não se limita à relação entre o meio ambiente e a atividade
econômica, abrangendo também os aspectos sociais, voltado a
realização de um modo de desenvolvimento que propicie a melhora de
qualidade de vida a todos os indivíduos, conjugando economia, meio
ambiente e fatores sociais, num modelo de produção mais
compatibilizado com a solidariedade, principalmente dentro de uma
relação intergeracional.
A eficiência econômica ambiental, restaria representada pelo
incentivo a produção de maiores externalidades positivas que
negativas, estas em maior número verificadas no contexto onde os
agentes econômicos tendem a assumir os benefícios e negligenciar
prejuízos, solidarizando aos terceiros apenas estes.
Daí a presença necessária com o implemento de condições
favoráveis a manifestação do protetor recebedor como fomento à
produção de externalidades positivas, com forma de estimular
comportamentos ambientalmente positivos sem que haja uma oneração
do custo produtivo ou até mesmo propiciando certa desoneração, de
modo a permitir que o criador de benefícios sociais receba uma
contrapartida por suas ações.
Por isso, a proposta de uma ideia de adoção de uma postura
promocional para estimular a produção de externalidades positivas,
através da utilização do princípio do protetor recebedor.
131

Fritjof Capra e Ugo Mattei seguindo a linha promocional,


relembram a necessidade da produção maior de intercâmbios baseados
na solidariedade e nas necessidades comuns, para que seja deixada de
lado a lógica extrativista de modo a tornar a propriedade generativa, a
partir do entendimento de que os recursos necessários a satisfação de
uma necessidade podem ser entendidos como comuns a uma
comunidade e por meio da solidariedade compartilhados para que
todos tenham suas necessidades atendidas e a comunidade prospere
como um todo, justamente pela criação de mecanismos de
compensação entre produtores de externalidades negativas e
promotores de externalidades positivas, até se chegar ao equilíbrio
representado pela propriedade generenativa, que serve às necessidades
da vida, pois tende a ser socialmente justa e ecologicamente
sustentável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Feito esse pequeno passeio sobre as possibilidades de se


trabalhar a elaboração das políticas públicas voltadas a preservação
ambiental para as presentes e futuras gerações, tendo a figura do
Direito Tributário Ambiental importantes instrumentos para sua
realização, vale lembrar que enquanto mecanismo de indução de
comportamento social, sua estruturação se dá a partir de uma hierarquia
possível pelo exercício do poder da figura da autoridade, construída e
sustentada pela dentro do paradigma mecanicista conhecido até então.
Contudo, a partir da perspectiva proposta de evolução do
paradigma mecanicista ao sistêmico, cuja dinâmica se dá a partir da
construção de um sensu de auto determinação e auto responsabilidade
individual, para criação de um movimento de confiança mútua, tem-se
que ao próprio governante caberia lançar mão de parcela considerável
de poder, a partir do reconhecimento de que cada indivíduo seria capaz
de gerir por si os recursos necessários a sua própria existência, tal qual
em equanimidade aos demais, tornando-se dispensáveis de forma
paulatina os mecanismos de domínio dos subordinados, através do usos
de mecanismos de comando e controle, uma vez que a ele próprio
caberia despir-se de sua importância, de sua superioridade e
132

reconhecer-se como igual, enquanto parte do todo formado pela rede


de indivíduos integrante da comunidade por ele liderada, viabilizando
o surgimento de comunidades auto-organizadas, através da construção
de regras por cidadãos engajados e comprometidos nesse sentido de
trabalho cooperativo em sinergia, de maior adaptação ao meio e não na
tentativa de domínio sobre o meio, com um Direito de conceitos mais
elásticos, preenchidos pelas interpretações humanas da realidade
social, conforme o momento do tempo no fato, com viés de percepção
do Direito enquanto atividade fim de redução de caos social e não mais
de perpetuação da litigiosidade.

REFERÊNCIAS

CAPRA, Fritjof; MATTEI, Ugo. A revolução Ecojuridica. São


Paulo : Pensamento – Cultrix, 2018
DE BRITO, Luiz Antônio Monteiro. Direito Tributário Ambiental.
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GOLDRATT, Eliyahu. A Meta: um processo de melhoria continua.
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MODÉ, Fernando Magalhães. Tributação Ambiental. Curitiba: Juruá,
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SECCHI, Leonardo. Políticas Públicas: conceitos, esquemas de
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133

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