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U N I V E R S I DA D E

CANDIDO MENDES

CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA


PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010

MATERIAL DIDÁTICO

DIREITO AMBIENTAL PENAL

Impressão
e
Editoração

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SUMÁRIO

UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO .......................................................................... 03

UNIDADE 2 – EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO PENAL AMBIENTAL


NO BRASIL...................................................................................................... 05

UNIDADE 3 – ASPECTOS RELEVANTES DA LEI 9.605/98 .......................... 08

UNIDADE 4– O DIREITO REPARADOR ......................................................... 11

UNIDADE 5 – TUTELA DO MEIO AMBIENTE ................................................ 31

UNIDADE 6 – MEIOS PROCESSUAIS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL .......... 64

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 72

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UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO

Meio ambiente é tudo o que nos cerca. Na definição de FERNANDO DA


COSTA TOURINHO NETO (1997, p. 5), o meio ambiente constitui um conjunto em
que o homem está inserido, dele dependendo para sobreviver biológica, espiritual e
socialmente.

Inevitável é que alguns questionem o porquê da proteção ao meio ambiente,


ou, qual o motivo do empenho do legislador ao elaborar normas penais que venham
a tutelar o tão defendido bem jurídico em questão. Busca-se resguardar o ambiente
para o próprio beneficio do homem, para se alcançar uma boa qualidade de vida, ou
seja, proteger-se o ecossistema para a garantia da própria sobrevivência humana na
Terra. Não se defende o bem jurídico porque está na moda, porque é politicamente
correto, mas para a sobrevivência e bem-estar do homem, pois, sem ele, o homem
não pode viver.

Aos poucos vem sendo inserida no contexto da proteção ao meio ambiente a


questão da ética ambiental, que é uma ciência da moral e pode ser definida como a
teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade (VASQUEZ,
1993).

Essa nova ética vem surgindo e ganhando forças no que diz respeito ao trato
com o meio ambiente. Assim como a legislação vai com o tempo se aprimorando no
sentido de se enquadrar às necessidades atuais, a ética tradicional deu lugar à ética
ambiental que vem sendo muito divulgada.

Segundo seus estudiosos, toda a sociedade é responsável pela degradação


do meio ambiente. O mais rico polui com a sua atividade industrial e comercial e o
mais pobre por falta de condições econômicas de viver condignamente e por pouco
acesso às informações ecológicas.

Surge então uma nova forma de conduta frente à natureza, devido à grande
degradação atual, de forma a conscientizar o homem de que a natureza existe para
proporcionar-lhe meios de sobrevivência, tendo em vista que o meio ambiente vinha

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sendo posto em último lugar na hierarquia de valores, devido à extrema valoração


dos direitos individuais.

Embora tenhamos discorrido sobre ética, a bem da verdade, esta apostila


tratará da evolução da legislação penal ambiental no Brasil, dos aspectos mais
relevantes da Lei nº 9605/98 que dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, do direito reparador,
da tutela do meio ambiente e dos meios processuais de proteção ao nosso habitat
terrestre, entretanto, um dos motivos de tantos mecanismos e instrumentos para
proteção e conscientização do uso racional dos nossos recursos advém da falta de
conhecimento e falta de uma ética que permeie a vida dos seres humanos.

Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como


premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um
pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados
cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar,
deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores,
incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma
redação original.

Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se muitas


outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir para
sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos.

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UNIDADE 2 – EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO PENAL


AMBIENTAL

Estudiosos da matéria penal, no que diz respeito ao tema em questão, ou


seja, o meio ambiente e sua tutela por parte da legislação, apontam em suas
pesquisas que desde o século XVI já se verificava a existência de uma ampla
legislação protecionista vigente no Brasil, porém não era suficiente para se ter uma
tutela autêntica.

Segundo ANN HELEN WAINER (1991, p. 5), que analisou a legislação


portuguesa e também a brasileira, vigentes no país após o descobrimento, já se
preocupavam com o abastecimento de gêneros alimentícios que se tornavam
escassos em Portugal, contendo regras de proteção à caça de animais e a alguns
alimentos básicos, como o pão e a farinha, riquezas como o ouro, a prata, dentre
outros.

Com a instituição do Governo Geral do Brasil, surgem os chamados


Regimentos do Governo Geral, os quais buscaram prevenir a devastação
exacerbada das florestas, que tinham por fim a construção de navios para
incremento da frota portuguesa.

De acordo com JOSÉ HENRIQUE PIERANGELLI (1980), na evolução


histórica tratada no livro “Códigos Penais do Brasil”, o Código Filipino, ou
Ordenações Filipinas, promulgado em 1603, trazia em seu bojo a tipificação de
vários crimes contra o meio ambiente, como o dano causado em olivais e pomares
pelo pasto de animais pertencentes a vizinhos, restrições sobre a caça e a pesca,
poluição das águas, e ainda um dispositivo que proibia a qualquer pessoa jogar
material nas mesmas, que pudesse sujá-las ou matar os peixes.

A aplicação da legislação extravagante penal que acompanhou o processo de


desenvolvimento do Brasil colônia foi difícil, devido às extensões das terras coloniais
que se faziam maiores a cada dia, com grandes distâncias a serem vencidas.

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Afirma CARLOS GOMES DE CARVALHO (1990, p. 98) que a distância


administrativa, mais até que a geográfica, foi o principal fator que levou à deficiência
da aplicação e até da divulgação da norma penal que tutelava o meio-ambiente,
nessa fase.

O primeiro Código Penal, promulgado em 1830, já continha dispositivos que


puniam o corte ilegal de árvores e o dano ao patrimônio cultural, seguido, já em
1850, pela Lei 601 (“Lei das Terras”), que estabelecia sanções administrativas e
penais, no seu art. 2°, para o dano causado pela derrubada das matas e queimadas.

Foi em meados de 1850 que surgiu no Mundo Velho, a expressão hoje tão
conhecida por “ecologia”, introduzida pelo alemão Ernerst Haeckel, em 1866,
figurando juntamente com ele Charles Darwin, Thomas Robert Malthus e outros
cientistas que, com seus estudos, contribuíram e figuraram na história da proteção
ambiental.

Em 1917, o Código Civil veio dar aos bens ambientais um tratamento sob a
ótica dos interesses privados. Encontramos também essa proteção em nível
administrativo no Decreto nº 4.421/21, que veio criar o Serviço Florestal do Brasil,
objetivando a conservação dos recursos florestais, já vistos como bens de interesse
público.

Só então, em 1934, surge o primeiro Código Florestal (Decreto nº 23.793/34),


que vem tutelar juridicamente o meio ambiente, tipificar as ofensas cometidas na
utilização das florestas, classificando-as como crimes e contravenções penais.
Surge também a nova Constituição Federal, contendo alguns dispositivos
ambientalistas (IVETE SENISE FERREIRA, 1995, p. 82); o Código de Águas
(Decreto nº 24.643/34) e o Código de Caça (Decreto nº 24.645/34).

Pouco tempo depois, foi promulgado um novo Código Penal (Decreto-lei nº


2.848/40), bem como a Lei das Contravenções Penais (Decreto n. 3.688/41), sendo
que, quanto ao primeiro, pouca atenção foi dispensada à questão ambiental (FARIA,
2004).

Mais tarde, na década de 1960, época em que houve uma intensa elaboração
legislativa na área ambiental, surge uma nova reformulação no que tange à tutela
penal ambiental, surgindo um novo Código Florestal (Lei nº 4.771/65). Também
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preocupou-se com a proteção à fauna (Lei nº 5.197/67), a pesca (Dec. lei nº


221/67) e também com a poluição das águas (Dec. nº 50.877/61, alargado pelo
Dec. lei nº 303/67), que, além das águas tuteladas pelo primeiro, passaram também
ao âmbito de proteção o ar e o solo, mas foi somente com a Lei nº 6.938/81 que se
promoveu a adequação do conceito às novas exigências e à nova visão da proteção
ambiental, partindo, então dos efeitos que as degradações da qualidade ambiental
podem causar nas condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente, por cujos
danos seu autor deverá ser responsabilizado, tendo como obrigação reparar tal
dano.

Eis que chegamos à Constituição Federal de 1988, a qual veio inovar em


várias questões concernentes à proteção ambiental e tivemos ainda a elaboração de
mais leis extravagantes na área ambiental, nas suas modalidades mais atuais, que
expressam as necessidades ao mundo moderno, frente à evolução tecnológica,
como a necessidade de proteção à camada de ozônio, a regulamentação do uso de
agrotóxicos, comercialização e utilização da moto-serra, a regulamentação das
atividades nucleares frente aos sérios danos que possivelmente possam ser
causados, como o acidente na usina nuclear de Chernobil, há alguns anos (FARIA,
2004).

Como bem observa IVETE SENISE FERREIRA (1995, p. 82), “ao lado dessa
profusa legislação especificamente ambiental, embora não exclusivamente penal,
subsistem e podem ser aplicados todos aqueles dispositivos que, tanto no Código
Penal quanto na Lei das Contravenções Penais podem ser referidos às ofensas
ambientais, embora não tivessem sido imaginados para tal, constituindo um conjunto
legislativo de proteção ambiental por extensão ou por interpretação, já que aí foram
colocados pelo legislador com outros objetivos sendo, porém, adequados à tutela
nessa área, como são, principalmente, os crimes contra a saúde pública e contra a
incolumidade pública. Essa interpretação coaduna-se com o espírito da lei, e serve
de paliativo enquanto se aguarda o adequado cumprimento dos mandamentos
constitucionais e a elaboração de uma legislação penal ambiental mais eficiente.

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UNIDADE 3 – ASPECTOS RELEVANTES DA LEI 9.605/98

A lei nº 9.605/98, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas de


condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, proposta pelo Governo e, após sete
anos de tramitação no Congresso Nacional, foi então aprovada em regime de
urgência pelo Poder Legislativo, devido ao reclamo social à tutela do bem jurídico,
vindo dispor sobre as sanções não só penais como administrativas derivadas de
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, sendo que estas últimas ainda
carecem de regulamentação.

Essa lei caracteriza-se como um diploma normativo moderno, dotado de


regras avançadas, estabelecendo coerentemente quase todas as condutas
administrativas e criminais lesivas ao meio ambiente, sem prejuízo das sanções
civis, já existentes em outras leis específicas. Antes, as regras no que tange ao meio
ambiente eram confusas e geralmente conflitantes entre si. Agora, com a nova lei,
as normas de direito penal ambiental estão sistematizadas adequadamente,
possibilitando o seu conhecimento pela sociedade e sua execução pelos entes
estatais.

Contudo, como era de se esperar, nem todos os atos lesivos contra o meio
ambiente foram abrangidos pela nova lei, ao contrário da intenção de seus
idealizadores. Essas lacunas serão ainda preenchidas pelo Código Penal, Lei das
Contravenções Penais e pelo Código Florestal, como é o caso do delito de difusão
de doença ou praga, de poluição sonora e de proibição da pesca de certos animais
marinhos, entre outros.

Segundo o promotor de justiça MIGUEL SALES (s.d. apud FARIA, 2004), a


referida lei, lapidada por juristas de renome, assemelha-se, no seu formato, ao
Estatuto da Criança e do Adolescente e ao Código de Defesa do Consumidor, que
são leis de terceira geração, visando promover a qualidade de vida e a dignidade
humana, num País cheio de contrastes e marginalização social.

Veio tal lei aplicar a noção de responsabilidade penal, já que as infrações


praticadas contra o meio ambiente possuem características próprias em relação à
maior parte das práticas delituosas já disciplinadas pelo direito penal e também

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disciplinar penas alternativas, como substituição das penas restritivas de liberdade


de até 4 anos.

Segundo LEONARDO ROCHA DE FARIA (2004), tal conjunto de normas dá


força de lei à fixação da multa administrativa, dependendo do ilícito cometido pelo
infrator.

A principal novidade trazida pela lei nº 9.605/98 ao nosso ordenamento


jurídico é a responsabilidade penal da pessoa jurídica, prevendo para elas tipos e
sanções bem definidos, diferentes daquelas que só se aplicam à pessoa humana.

Tal questão, no entanto, é bastante polêmica e será comentada adiante. A


nova lei trouxe uma grande inovação ao transformar os ilícitos que antes eram
apenas contravenções penais para crimes contra o meio ambiente, como o
desmatamento não autorizado, maltratar animais domésticos e realizar experiências
dolorosas ou cruéis em animais vivos, mesmo que seja para fins didáticos ou
científicos. Corrigiu distorções existentes no Código de Caça, como a que tipificava
de crime inafiançável, com alta punição, o fato de um simples camponês abater um
animal silvestre para o consumo; enquanto os imensos latifúndios, pulverizados com
agrotóxicos, ficavam isentos de sanção penal, mesmo que houvesse a dizimação de
um ecossistema por inteiro.

Confere também, àquele que reparar o dano causado pelo ilícito, o direito de
se eximir da punição. Exime-se de pena também aquele que mata animal silvestre
para saciar a sua própria fome ou de seus familiares, o que não ocorria antes dessa
lei (FARIA, 2004).

Com essa nova lei, os produtos apreendidos da fauna e flora podem ser
doados ou até destruídos, e os instrumentos utilizados na infração podem ser
vendidos.

Como não poderia deixar de ser, críticas estão sendo alvejadas por
renomados juristas, no sentido de que a lei em referência não prospera em seu
conteúdo, quando, verbi gratia, responsabiliza penalmente a pessoa jurídica, ou
tipifica culposamente o ato de “destruir, danificar, lesar ou maltratar plantas de
ornamentação em propriedade privada alheia” (art. 49), assim como, ao estabelecer
reprimenda mais elevada (art. 32, pena: detenção de três meses a um ano e multa)
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àquele que “maltrata animais silvestres ou domesticados, nativos ou exóticos”, ao


passo que ao próprio ser humano, a lei penal prevê a magra pena de detenção de
dois meses a um ano ou multa ao delito de maus tratos (art. 136, CP).

O legislador de 1998 utiliza termos amplos e indeterminados, frequentemente


vazados em normas penais em branco e com um liame muito tênue com o direito
administrativo, o que é prejudicial, devendo acontecer só em caso de necessidade.

Como brilhantemente afirma MIGUEL SALES (s.d apud FARIA, 2004), é


preciso cautela na aplicação da lei de crimes ambientais, pois, desde que não agrida
realmente a natureza, devemos utilizar a madeira, o minério, a caça, a pesca e
outros recursos naturais.

Não se deve esquecer que a maioria do nosso povo é pobre e vive do


extrativismo. O puro conservadorismo serve mais a países como Estados Unidos,
Alemanha, Canadá, que depredaram florestas, mataram seus solos, secaram suas
fontes de água e, agora, querem ditar regras para os países emergentes como o
Brasil, sem deixar de explorar os seus recursos naturais e de ter qualquer
preocupação com o subdesenvolvimento que nos assola.

Em suma, cumpre observar a lei em questão com bons olhos, pois, no geral,
foi positiva, porque deixou o campo exclusivo da abstração (normalmente
predominante entre as normas) e procurou com essa e outras inovações, trazer
melhor exequibilidade no tratamento das sanções penais, naquelas situações
delituosas não enquadradas como de grave ameaça ou violência à pessoa, estando,
assim, em substancial consonância com a problemática penitenciária do país que
em tais casos, não mais salvaguarda o intuito preventivo repressivo da pena,
mediante a privação da liberdade do criminoso (FARIA, 2004).

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UNIDADE 4 – O DIREITO REPARADOR

A proteção penal do meio ambiente no Brasil dá-se, principalmente, pela Lei


nº 9.605/98, conhecida como Lei dos Crimes contra o Ambiente. Referida lei trouxe
impactos expressivos no Direito Ambiental Penal, como reflexos na tipologia,
valorização das alternativas à pena de prisão, destacada preocupação com a
reparação do dano ao ambiente, transformou a transação penal e a suspensão do
processo em instrumentos de efetiva proteção ambiental, bem como impactos trouxe
na autoria singular e coletiva, com a concorrência por omissão do dirigente da
pessoa jurídica no crime de outrem e a responsabilização criminal da própria pessoa
jurídica.

Dentre ditos impactos, destacamos no âmbito deste estudo, a valorização das


alternativas à prisão e uma acentuada preocupação com a efetiva reparação do
dano ao meio ambiente.

4.1 Valorização das penas alternativas

A nova Lei dos Crimes contra o Meio Ambiente valorizou as penas


alternativas, prevendo, para a pessoa natural, restritivas de direitos autônomas e
substitutivas, ampliando possibilidade de substituição para delitos dolosos com
penas privativas de liberdade aplicadas inferiores a quatro anos (artigo 7º), quando,
na sistemática do Código Penal, até então limitada, estava a substituição para
sanções aplicadas inferiores a um ano.

Posteriormente, tendo em vista alteração do Código Penal pela Lei nº 9714 de


25 de novembro 1998, ampliado o limite para quatro anos, sendo de se aplicar
também aos crimes contra o meio ambiente, visto tratar-se de lei nova mais benigna
e pelo princípio da subsidiariedade das regras do Código Penal aos delitos
tipificados em leis especiais.

Vários delitos tipificados pela Lei dos Crimes Contra o Meio Ambiente
preveem cominação de penas privativas de liberdade até dois anos, sendo infrações

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de menor potencial ofensivo, consoante artigo 61 da Lei dos Juizados Especiais,


permitindo transação penal, conforme artigo 76 da mesma Lei nº 9099/95. São eles
os artigos 29, 31, 32, 41, parágrafo único, 44, 45, 46, 48, 49, 50, 51, 52, 54,
parágrafo 1º, 55, 56, parágrafo 3º, 60, 62, parágrafo único, 64, 65, 67, parágrafo
único da Lei nº 9605/98. Vinte delitos.

Outros tantos, exatamente vinte crimes, são punidos com penas mínimas não
superiores a um ano (Lei nº 9605/98, artigos 30, 33, 34, 35, 38, 38A, 39, 40, 42, 54
caput, 54, parágrafo 2º, 56, 61, 62, 63, 66, 67 68, 69 e 69A, parágrafo único), sendo
infrações de “médio potencial ofensivo”, admitindo suspensão do processo,
conforme artigo 89 da Lei nº 9099/95.

Assim, tendo em vista as penas cominadas aos delitos contra o meio


ambiente tipificados pela Lei nº 9605/98, aplicáveis à quase totalidade dos crimes a
transação e/ou a suspensão do processo previstas na Lei nº 9099/95.
Desconsideradas as causas de aumento, que na realidade não configuram tipos
penais, pois não caracterizam autênticas qualificadoras, somente os delitos
tipificados pelos artigos 41, caput, 50A e 69A, caput não admitem transação ou
suspensão. E, sabidamente, a transação e a suspensão do processo têm como
consequência a aplicação de alternativa à prisão.

É de se destacar, igualmente, que os próprios crimes dos artigos 41, caput e


50A poderão ter as penas privativas de liberdade substituídas, já que as máximas
cominadas são de quatro anos – o que revela também valorização das penas
alternativas e que dificilmente restarão aplicadas em concreto privativas de
liberdade.

A aplicação do procedimento previsto na Lei dos Juizados Especiais, para as


infrações de menor potencial ofensivo, em razão das penas cominadas às infrações
contra o ambiente, inclusive com possibilidade de transação penal e de aplicação da
suspensão do processo prevista na mesma lei, a par de proporcionar pronta solução
aos conflitos, com aplicação imediata de pena não privativa de liberdade, tem
especial relevo à reparação do dano ambiental.

Ademais, com a responsabilização penal da pessoa jurídica, ao estabelecer


as sanções a ela aplicáveis, trouxe a nova lei ambiental efetivo destaque às penas

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restritivas de direitos (e, de consequência, às sanções alternativas), elencadas no


artigo 22.

Ainda, o que se mostra de maior relevo e de grande valia na reinserção


social, está previsto no artigo 23: penas de prestação de serviços à comunidade com
efetivo reflexo na proteção do meio ambiente, como são o custeio de programas e
de projetos ambientais, a execução de obras de recuperação de áreas degradadas,
a manutenção de espaços públicos e as contribuições a entidades ambientais ou
culturais públicas.

4.2 Preocupação e princípios norteadores da composição e reparação dos


danos ao ambiente

Tendo em vista a peculiaridade do bem tutelado pela norma penal


incriminadora em matéria de direitos coletivos e difusos, sua danosidade
macrossocial, acaso ocorrendo lesão, impõe-se a busca de uma célere e pronta
reparação do dano, o que, principalmente em termos de Direito Ambiental Penal
assume magnitude, tendo em vista as sérias e extremamente graves, por vezes até
irreversíveis, consequências.

Daí, a composição do dano, a transação penal e a suspensão do processo,


instrumentos trazidos pela Lei dos Juizados Especiais são aplicáveis,
principalmente, à quase totalidade dos crimes contra o ambiente. Estes
instrumentos, se bem aplicados, podem constituir eficazes meios e formas de
reparação do dano e também de proteção efetiva ao bem e interesse tutelado.

Apresenta também o Direito Ambiental Penal preocupação com a reparação


do dano ao ambiente. Dita preocupação se mostra explicitada na Lei dos Crimes
contra o Meio Ambiente em seus artigos:

Art.17 - onde exigida a verificação da reparação do dano ambiental por laudo


como condição ao sursis especial;

Art. 19 - a perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível,


fixará o montante do prejuízo causado; e,

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Art. 20 - a sentença fixará o valor mínimo para reparação dos danos sofridos
pelo ofendido e pelo meio ambiente.

A preocupação com a reparação do dano ao meio ambiente vem expressada


ainda e principalmente pelo artigo 27 que condiciona a transação penal (aplicação
imediata de multa ou restritiva de direito) à prévia composição do dano e pelo artigo
28 que condiciona a declaração da extinção da punibilidade na transação processual
(suspensão do processo) à comprovação da reparação do dano, através de laudo de
sua constatação.

Assim, a transação e a suspensão do processo, na sistemática da Lei dos


Crimes contra o Meio Ambiente, são valiosos mecanismos à concretização da
reparação do dano e de tutela efetiva ao meio ambiente.

Como já salientado, a grande maioria, quase a totalidade na verdade, dos


crimes previstos na Lei nº 9605/98 tem cominadas penas privativas de liberdade em
quantificações que admitem transação, que apresenta como prévia condição a
composição do dano (que, obviamente, proporcionará a reparação) ou que
possibilitam a suspensão do processo que tem, por sua vez, como condição a
reparação do dano (condição a mais relevante já que seu descumprimento, como
prevê a lei, será causa de revogação do benefício). Assim, a referida lei de proteção
penal ao ambiente, proporcionando e preocupando-se significativamente com a
reparação, constitui autêntico Direito Penal Reparador.

4.3 Direito Ambiental Reparador

Segundo ELADIO LECEY (2007), há quem critique a referida lei, sustentando


que o Direito Penal não deve se ocupar da reparação, devendo ser apenas
preventivo e punitivo.

Embora seja tarefa tradicional destinada ao Direito Civil, o direito reparador,


concordamos com Lecey que esta é a tendência do Direito Penal da atualidade, que
veio mais acentuadamente ao ordenamento jurídico brasileiro com a Lei dos
Juizados Especiais, a Lei nº 9099/95, surgida em razão da falência da pena de

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prisão, que não vem cumprindo com seu papel de ressocializar o delinquente.
Também na busca de imprimir um processo de resultados, visando célere solução
aos conflitos. Daí, ter sido introduzida a composição do dano, resolvendo de logo as
ofensas aos bens juridicamente tutelados, sem necessidade de se aguardar a
instauração de ação penal, instrução, sentença e a execução no juízo civil. Também
introduzida a reparação do dano como condição da suspensão do processo pelo
artigo 89 da mesma lei especial.

1º - Há de se observar ainda que o próprio Código Penal, desde 1° de abril de


1996, trouxe a reparação do dano como condição do sursis especial (artigo 78).

2° Também há de se considerar que a reparação do dano há muito constitui


atenuante tendo sido transformada em causa de diminuição da pena nos crimes sem
violência ou grave ameaça à pessoa, desde a reforma de 1984, o denominado
arrependimento posterior previsto no artigo 16.

Em matéria de meio ambiente, considerando-se a danosidade coletiva e


macrossocial das condutas que atentam contra dito bem – difuso por excelência –
ainda mais necessária se revela a busca de reparação do dano. E o Direito Penal,
como instrumento de pressão, em razão de sua coercibilidade garantida pelas
sanções criminais, mais severas do que as cíveis, e como meio de solução mais
pronta aos conflitos, se apresenta útil à efetivação da reparação.

Assim, deve o Direito Ambiental Penal, embora precipuamente preventivo e


punitivo, ser também reparador, possibilitando pronta garantia ao bem jurídico
tutelado por suas normas.

4.4 Os reflexos da composição do dano ambiental no juízo criminal

A composição do dano ao meio ambiente, espécie de transação que tem por


finalidade o ajuste sobre a forma de reparação do dano, trata-se, por óbvio, de um
acordo com o causador da ofensa. Na área civil é cabível em qualquer situação de
dano.

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Poderá ser acordada, e na grande maioria dos casos assim ocorre, perante o
Ministério Público, titular que é da ação civil pública que visa a tutela do meio
ambiente. Através de termo de ajustamento de conduta previsto no artigo 5°,
parágrafo 6°, da Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7347/85) poderá ser avençada a
composição do dano como ajuste da conduta às exigências legais.

No juízo criminal, no entanto, a composição do dano somente poderá ser


instrumentalizada no procedimento sumaríssimo dos Juizados Especiais Criminais,
conforme artigo 72 da Lei nº 9099/95 e artigo 1° da Lei nº 10259/01. Sua execução
compulsória, acaso necessária, será efetuada no juízo civil, conforme artigo 74
daquela lei. Assim, somente é possível a composição do dano, no juízo criminal, em
caso de infração de menor potencial ofensivo.

Nada impede, todavia, que, em caso de infração penal que não de menor
potencial ofensivo, seja efetuada na esfera civil transação visando à reparação do
dano, que nada mais é do que a composição do dano. Basta que em termo de ajuste
de conduta seja acordada dita composição, o que, em verdade, é bastante ocorrente
na prática. Assim, reitere-se possível composição do dano em caso de qualquer
infração criminal contra o meio ambiente (LECEY, 2007).

Acaso efetuado termo de ajustamento de conduta e ali acordada a


composição do dano ao meio ambiente como ajuste da conduta do autor do fato às
exigências legais, onde, então, fique ajustada a reparação do dano, duas questões
vêm à baila, quais sejam:

1. Primeiramente, segundo infundada crença, a circunstância de ser feito


ajustamento perante o Ministério Público e acordada a composição do dano
teria como consequência o reconhecimento de responsabilidade criminal.
Assim, alguns menos avisados vêm orientando no sentido de não ser feito
ajustamento, o que equivaleria à admissão da mencionada responsabilidade
no campo penal.

Cumpre salientar, no entanto, que o acordo em matéria cível, com


ajustamento de conduta e até efetuada ou avençada a composição do dano ao
ambiente, não implica em reconhecimento de responsabilidade criminal. A
responsabilidade penal, como sabemos, é bem mais restrita, exigindo, além de

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prova do fato e de sua autoria de forma inconteste, a tipicidade da conduta, tanto no


aspecto objetivo quanto subjetivo com dolo e culpa, mais a antijuridicidade (inclusive
com não presença de causas justificantes) bem como a culpabilidade. Cumpre
destacar ser inadmissível responsabilidade objetiva no campo penal, mesmo,
obviamente, em caso de dano ambiental.

Ao contrário, nos parece que o ajustamento de conduta e o acordo pela


composição do dano terão reflexos altamente favoráveis ao autor do fato, já que na
área criminal e sendo caso em tese de infração de menor potencial ofensivo, terá
como consequência a possibilidade de transação penal, pois estará implementado
requisito à transação, qual seja, a composição do dano. Cumpre salientar que,
sendo caso de transação penal, não será instaurada ação no juízo criminal, não
havendo sequer oferecimento de denúncia. Assim, o efeito será justamente o
inverso daquela infundada crença, ou seja, acordada a composição do dano, restará
impedida a instauração de processo criminal, desde, destaque-se, que efetuada
transação penal.

2. Outro questionamento vem no sentido oposto: efetuado ajustamento de


conduta e acordada a reparação do dano ao ambiente, será possível a
intervenção no juízo criminal? Ou seja, poderá ser, em caso de infração de
menor potencial ofensivo, levado o caso ao Juizado Especial Criminal, com
lavratura de termo circunstanciado, proposta de transação e até com eventual
instauração do procedimento sumaríssimo? Ou, em se tratando de infração
de médio potencial ofensivo, poderá ser ofertada no juízo comum denúncia e
eventual proposta de suspensão do processo, ou, quando não presentes
requisitos subjetivos à suspensão, poderá haver instrução do processo
criminal com sentença? Ou ainda, não se tratando de infração de menor nem
de médio potencial ofensivo, será possível que venha a ser instaurada ação
penal e dada instrução ao processo criminal?

Na jurisprudência, interessante analisar pronunciamento da 3ª Câmara


Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais que, no julgamento do habeas
corpus n° 1.0000.04.410063-4/000(1), manifestou-se no sentido de que o
ajustamento de conduta perante o Ministério Público, visando regularizar a situação,

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configura ausência de justa causa à ação penal. Fundamenta o acórdão que, nos
termos do artigo 79-A da Lei nº 9605/98, o mencionado “termo de acordo” extingue a
punibilidade do agente e impede a propositura da ação criminal.

O referido artigo 79-A, no entanto, não se aplica às infrações penais e tão


somente às infrações administrativas, como está expressamente regulado no seu
parágrafo 3°. Ainda, e justamente porque o dispositivo se refere tão somente às
infrações administrativas, os legitimados para lavrar este termo de compromisso não
são os agentes do Ministério Público e, sim, os órgãos integrantes do SISNAMA,
como consta do caput do mesmo artigo 79-A. Deste modo, no caso julgado, não se
trata sequer de situação do artigo 79-A.

Acaso se tratasse de tal hipótese, reitere-se, a esfera penal não seria atingida
por vedação constitucional. Dito artigo 79-A foi introduzido na Lei nº 9605/98 pela
Medida Provisória nº 2.163-41, de 23.08.01. E, como dispõe o artigo 62, parágrafo
1°, “b” da Constituição Federal, “É vedada a edição de medidas provisórias sobre
matéria relativa a direito penal”. O dispositivo legal em questão, destaque-se, não
atinge infrações penais e tão somente as administrativas, como está, reitere-se,
expressamente consignado no texto do mencionado artigo 79-A.

Sabidamente, a esfera civil, a administrativa e a penal são distintas, sendo o


ilícito penal sobreposto às ilicitudes extrapenais. Nem todo o ilícito civil é penal, mas
todo o ilícito penal é também ilícito no campo extrapenal. Mesmo ocorrendo
ajustamento na esfera civil e até com reparação do dano, remanescerá a
necessidade de intervenção no juízo criminal. Logicamente, tendo ocorrido termo de
ajustamento de conduta com composição do dano e sendo a infração de menor
potencial ofensivo, cabível, de regra, a transação penal.

Em caso de infração de médio potencial ofensivo, constatada, posteriormente,


a efetiva reparação do dano por laudo, preenchida estará condição da suspensão do
processo porventura aplicada. Finalmente, a reparação do dano poderá influenciar,
em caso de sentença condenatória, na aplicação da pena. Não terá, no entanto, o
condão de afastar a ação penal (LECEY, 2007).

A propósito, vem se manifestando a jurisprudência, no sentido de que, não


obstante termo de ajustamento de conduta persistirá justa causa à ação penal.

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Destaque-se o habeas corpus 423.283.3/6-00, da 4ª Câmara Criminal do Tribunal de


Justiça de São Paulo, onde consignado que “os fatos tem existência jurídico-penal
própria, independente de suas repercussões cíveis, onde as medidas legais de
retificação ou recuperação das características ambientais da área afetada tem
fundamentos próprios e independentes das consequências de ordem penal
aplicáveis”.

No mesmo sentido, decisão da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de


Santa Catarina, no inquérito 99.021.393-5, em feito de sua competência originária
em razão de prerrogativa de função, que assim decidiu, recebendo denúncia contra
prefeito municipal: “o fato de o indiciado ter firmado compromisso com o Ministério
Público e a FATMA para a regularização do loteamento às normas ambientais,
evidentemente realizado na esfera administrativa, apesar de relevante, não justifica
o trancamento da ação penal. Outros elementos dos autos podem autorizar a
acusação e, como se sabe, em decorrência da separação dos Poderes, as
jurisdições administrativa e criminal são autônomas e distintas”.

Assim também vem decidindo a Turma Recursal Criminal dos Juizados


Especiais Criminais do Estado do Rio Grande do Sul, como nas apelações-crime
71001202886-2006 e 71001202944-2006, cumprindo destacar da ementa e do voto
da relatora, a Juíza de Direito Nara Leonor Castro Garcia: “Não configura bis in idem
a realização de audiência preliminar e oferta de transação com anterior termo de
ajustamento de conduta firmado para reparação do dano ambiental” [...] “A
reparação do dano é prioritária, mas não afasta a cumulação na esfera penal, pois
os fundamentos são distintos. Um visa à reparação do meio ambiente in natura. O
outro, atender ao interesse público penal retributivo e preventivo pela prática de
conduta que, além de danosa ao meio ambiente, também tipificada como crime no
ordenamento jurídico” (26/02/2007, LECEY, 2007).

O ajustamento de conduta poderá proporcionar a reparação do dano e seus


reflexos cíveis, até com repercussão na área criminal como a possibilidade de
transação e de condição à suspensão do processo criminal, mas, evidentemente,
não torna a conduta atípica penalmente. A tipicidade ocorre no passado, sendo
julgada no futuro.

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Finalmente, cumpre observar que o Direito Penal não é apenas reparador e


sim, precipuamente, preventivo (inclusive através da tipificação de condutas
perigosas e danosas) e punitivo (com o que estará fazendo a prevenção especial
das condutas praticadas, julgadas e condenadas criminalmente). Assim, não
obstante, o ajustamento da conduta e a eventual ocorrência de composição do dano
remanescerá a necessidade de intervenção no juízo criminal para exame da
punibilidade da conduta no aspecto penal.

Na Lei dos Juizados Especiais, a composição do dano não é condição para a


transação. Na Lei dos Crimes Contra o Meio Ambiente, o é, como expressamente
exige o artigo 27. Para Lecey (2007), há quem aponte “perversidade” em tal
exigência de reparação do dano, independentemente de culpa do autor do fato, o
que implicaria em responsabilidade criminal sem culpa, ferindo o princípio da
culpabilidade.

Todavia, como destaca o parágrafo 1º do artigo 14 da Lei nº 6938/81 (Lei de


Política Nacional do Meio Ambiente) é prevista a responsabilidade objetiva por
danos causados ao meio ambiente. Dita responsabilidade independe de culpa,
sendo irrelevantes o licenciamento da atividade, o cumprimento de padrões e até a
ocorrência de fortuito. Ou seja, basta a conduta e o nexo causal com o dano ao meio
ambiente para haver responsabilidade pela reparação. Daí, não perversa a
exigência de prévia composição do dano à transação penal, já que responsável
objetivamente é o autor do fato, no âmbito cível.

Assim, a reparação do dano exigida pela lei penal como condição da


transação nada mais é do que decorrência da responsabilidade civil.
Consequentemente, não equivale ao reconhecimento de culpa criminal, de modo
que intocado fica o princípio da culpabilidade.

Sobre a exigência de prévia composição do dano para a admissibilidade de


transação penal, na jurisprudência encontramos decisão da Primeira Câmara
Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, no mandado de segurança
1.0000.04.414546-4/000(1) impetrado por pessoa jurídica que se insurgiu contra
determinação judicial no sentido de impor a apresentação de plano de recuperação
de área degradada como condição para viabilizar transação penal. Alegou a

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impetrante estar sofrendo constrangimento ilegal em razão da referida exigência,


tendo a câmara criminal, por unanimidade, denegado a ordem, com a seguinte
ementa no acórdão: “Mandado de segurança – crime ambiental – danos ambientais
provocados por atividade de mineração – apresentação de plano de recuperação de
área degradada para viabilizar a transação penal – Lei nº 9605/98, artigo 27 –
ilegalidade não verificada – ambiente ecologicamente equilibrado é garantia
constitucional, sendo expresso, ainda, a necessidade de recuperar a área
degradada”.

Na mesma linha, decisão da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça


de Santa Catarina no Inquérito 2003.006835-0, de sua competência originária que,
tendo ocorrido composição do dano, homologou transação penal com aplicação de
restritiva de direitos.

4.5 A reparação do dano

A reparação do dano já era condição da suspensão do processo na Lei dos


Juizados Especiais (artigo 89, parágrafo 1°, I). Continua sendo, por óbvio, nas
infrações contra o meio ambiente em que cabível a suspensão. Agora, em se
tratando de crime contra o ambiente, é exigível laudo de constatação da reparação
do dano à declaração da extinção da punibilidade (vejam-se incisos do artigo 28 da
Lei dos Crimes Contra o Meio Ambiente). Mas efetiva, pois, a tutela do ambiente, na
busca de verificação da reparação.

A lei ambiental excepciona, ressalvando a comprovada impossibilidade de


reparação do dano. Ou seja, é exigível à declaração da extinção da punibilidade, na
suspensão do processo, laudo constatando a efetiva reparação do dano, salvo
quando impossível a reparação. Dita impossibilidade há de ser entendida não como
a irreversibilidade do dano, já que sempre será possível reparação, nem que seja
compensação em natura ou pela indenização do dano produzido. Dever-se-á
entender a exceção como a impossibilidade de o autor do fato ter condições
econômicas de fazer a reparação.

A jurisprudência vem se manifestando, reiteradamente, no sentido de tal


requisito indispensável à declaração de extinção da punibilidade, ou seja, da
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exigência de laudo constatando a reparação do dano ao ambiente, como nos


recursos em sentido estrito 1.0461.03.011748-9/001, da 4ª Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, sendo relator Walter Pinto da Rocha, decisão
de 29/08/2007, e 1.0024.03.928442-7-001, da 3ª Câmara Criminal do mesmo
Tribunal, sendo relator Sergio Resende, em decisão de 19/02/2008. Assim também
na decisão proferida na ação penal 146.811-1, proferida pela 2ª Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça do Paraná, em feito de sua competência originária.

Sendo, como já destacado, a reparação do dano uma das condições da


suspensão do processo, acaso recuperada naturalmente a área degradada, tornar-
se-ia desnecessária a reparação? Em tal sentido se pronunciou a apelação crime
70009996281, em julgamento pela Quarta Câmara Criminal do Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul.

Tratava-se de imputação do crime tipificado pelo artigo 39 da Lei nº 9605/98,


com o corte de diversas árvores em floresta de preservação permanente.
Embasando-se em laudo da 3ª Companhia de Policiamento Ambiental que constatou
a regeneração natural da vegetação danificada, o magistrado de primeiro grau
afastou a condição de reparação de dano.

O Ministério Público apelou e a referida câmara criminal negou provimento,


com a seguinte ementa: “Crime ambiental. Suspensão condicional do processo.
Reparação do dano. Se a área danificada foi recuperada naturalmente, a condição
de reparar o dano torna-se desnecessária, eis que já alcançado o objetivo”.

Lecey (2007) não concorda com a decisão, primeiramente porque, para


constatação da regeneração natural, conhecimentos específicos em matéria de flora
se fazem indispensáveis, exigindo-se perícia e constatação por expertos no tema.

Embora os integrantes do Batalhão de Polícia Ambiental possam fazer


constatações, produzir relatórios, levantamentos fotográficos e tomar outras
providências, não terão competência para analisar e avaliar tais dados, a fim de
constatar a efetiva recuperação da área degradada. Para tanto, são necessários
profissionais habilitados, como biólogos, engenheiros agrônomos, especialistas em
flora.

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Conforme parecer de Rovena Zanchet (s.d. apud LECEY, 2007), assessora


técnica e especialista em flora, a regeneração natural se dá, primeiramente, com o
aparecimento das espécies secundárias pioneiras que formam o estágio inicial de
regeneração. Tais espécies podem proporcionar as condições para a vinda das
espécies de maior durabilidade e permanência na floresta, são as ditas secundárias
iniciais, seguidas das secundárias tardias e, por fim, das climáticas. Para a vinda
dessas espécies é necessária a existência, nas proximidades, das chamadas
dispersoras, ou seja, das matrizes porta-sementes, ou ainda, se o solo não foi muito
remexido ou desgastado após a supressão, talvez possa ainda comportar um banco
natural de sementes, que poderá ser ativado dependendo das condições climáticas.
Dito processo é conhecido como processo de sucessão ecológica.

Portanto, a regeneração natural pode não ser efetiva se constatada a falta


dos subsídios expostos. Nesse caso, se faz necessária uma vistoria a campo para
identificar o comportamento das espécies no local impactado, que, por sua vez,
dependendo do resultado do laudo técnico, mostre seja necessária uma intervenção
através de plantio daquelas espécies anteriormente existentes no local (as
secundárias tardias e de clímax), mas que, no momento, não possuem meios de
regenerarem-se naturalmente por lhes faltar as condições mínimas, tais como:
banco de sementes, tanto do solo como das matrizes porta-sementes. Assim, a
constatação da regeneração natural somente poderá ser efetuada por peritos a tanto
habilitados.

Segundo Sendim (s.d. apud STEIGLEDER, 2003, p. 236), “o dano deve


considerar-se ressarcido in integrum quando in casu o fim que a norma violada
protege esteja de novo assegurado (ex.: quando a água volte a ser salubre, quando
o ar tenha a qualidade adequada, quando a paisagem deixe de estar comprometida
ou quando o equilíbrio ecológico esteja restabelecido”.

Assim, não dispunha a Companhia de Policiamento Ambiental condições


técnicas para fazer constatação tão específica e complexa.

A par do questionamento sobre a efetiva constatação da recuperação natural


do bem lesado no caso, por outra razão, esta mais de ordem jurídica, impunha-se,

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segundo nosso entendimento, a manutenção da exigência legal no sentido de a


reparação do dano ser condição da suspensão do processo.

Mesmo tivesse sido constatada a recuperação natural, no entanto,


remanesceria o passivo, o dano que já se concretizou entre o fato até a recuperação
acaso ocorrida. Dito dano deverá ser reparado através de compensação, in natura
e/ou mediante indenização que, embora integrando a reparação, é distinta da
recuperação da área degradada. A compensação, por óbvio, integra a reparação do
dano “para uma maior efetividade do princípio do poluidor-pagador, não basta a
cessação do dano e a recuperação do bem ambiental, mas o poluidor/degradador
deverá indenizar a coletividade pela utilização perdida do bem de uso comum do
povo (BITTENCOURT E MARCONDES apud STEIGLEDER, 2003, p. 236)”.

Sendo a reparação do dano uma das condições da suspensão do processo,


sua ausência será causa de revogação do benefício. Dita revogação será
obrigatória, como se verifica dos termos do parágrafo 3° do artigo 89 da Lei nº
9099/95: “a suspensão será revogada se o acusado não efetuar, sem motivo
justificado, a reparação do dano”. A conclusão pela revogação obrigatória advém da
expressão “será revogada” determinada no já citado dispositivo legal, ainda mais
reforçada na comparação com a revogação facultativa prevista no parágrafo 4° do
mesmo artigo 89 onde previsto que a suspensão poderá ser revogada em caso de
descumprimento de qualquer outra condição imposta.

Assim também vem se manifestando a jurisprudência, como no julgamento da


apelação criminal 1.348.081/9, da 11ª Câmara do Tribunal de Alçada Criminal de
São Paulo, cuja ementa é a seguinte: Crime ambiental – Suspensão do processo –
Agente que não recompôs os danos causados – Fato que impõe a revogação do
benefício – Hipótese em que o acusado pleiteia a extinção da punibilidade ou a
transação – impossibilidade – Reparação do dano que é condição para deferimento
dos pedidos.

Como já destacado, a reparação do dano é uma das condições da suspensão


do processo e, na sistemática da Lei dos crimes contra o meio ambiente, é, ainda,
requisito para a declaração da extinção da punibilidade, como se verifica do artigo
28, I da Lei nº 9605/98 onde está determinado que a declaração da extinção da

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punibilidade na suspensão do processo dependerá de laudo de constatação da


reparação do dano ambiental.

No inciso II do mesmo dispositivo legal, está previsto que, na hipótese de o


laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo de
suspensão será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo 89 da Lei nº
9099/95 (quatro anos), acrescido de mais um ano.

No inciso IV, vem determinado que, findo o prazo de prorrogação, proceder-


se-á à lavratura de novo laudo de constatação da reparação do dano ambiental,
podendo, conforme seu resultado, ser novamente prorrogado o período de
suspensão, até o máximo previsto no inciso II.

Assim, a ausência de completa reparação do dano é causa de prorrogação da


suspensão do processo quando se tratar de crime contra o meio ambiente, o que
não está previsto relativamente às demais infrações. Dito tratamento diferenciado
revela a relevância da proteção ao ambiente e a destacada preocupação da
legislação com a busca de reparação ao dano ambiental (LECEY, 2007).

Na jurisprudência encontramos também esta sensibilização do Judiciário para


com a questão do dano ao ambiente e a preocupação com a efetiva e completa
reparação. Em tal sentido, a decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, por sua
3ª Câmara Criminal, no agravo 1.0000.03.402990-0/001(1). No caso, aplicada
suspensão do processo, tendo o laudo constatado a recuperação parcial (dez por
cento) da área degradada, o juiz prorrogou o período de prova da suspensão.
Interposto o agravo, visando à reforma da decisão de primeiro grau, o Tribunal de
Justiça negou provimento ao recurso, com a seguinte ementa: “Crime ambiental –
suspensão condicional do processo – prorrogação do prazo – falta de reparação da
área degradada – art. 28, II, da Lei nº 9065/98 – recurso conhecido e desprovido”.

A reparação do dano, em se tratando de crime contra o meio ambiente, é tão


relevante, na sistemática da Lei nº 9605/98 que, ao contrário do que poderia ser
admissível segundo uma corrente jurisprudencial, relativamente a outros delitos, o
simples decurso do prazo da suspensão do processo, sem reparação do dano, não
pode determinar a declaração da extinção da punibilidade.

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Como é sabido e já foi destacado, a suspensão do processo, autêntica


transação processual, é o instituto pelo qual, oferecida denúncia por fato tipificado
como ilícito penal a que cominada pena mínima não superior a um ano de privativa
de liberdade, poderá ser suspenso o curso do processo, pelo prazo de dois a quatro
anos, mediante condições. Cumpridas as condições, transcorrido o prazo, sem
revogação, é declarada extinta a punibilidade.

Na sistemática da Lei dos Juizados Especiais, a reparação do dano é


condição da suspensão do processo conforme artigo 89, parágrafo 1°, I. De
conformidade com o parágrafo 3° do mesmo artigo, a suspensão do processo será
revogada se o beneficiário não efetuar a reparação, como já analisado
anteriormente. Todavia, de acordo com o parágrafo 5° do referido artigo, expirado o
prazo da suspensão sem revogação, o juiz declarará extinta a punibilidade.

Em razão de tais determinações legais, há jurisprudência no sentido de que


transcorrido o prazo, mesmo não evidenciada a reparação do dano, se não tiver
ocorrido revogação expressa da suspensão, deverá ser declarada a extinção da
punibilidade. Ou seja, o simples decurso do prazo da suspensão, sem revogação
explícita, terá como consequência a extinção da punibilidade, já ocorrente, que,
então, cumpre seja declarada.

Em se tratando de crime contra o ambiente, no entanto, a Lei nº 9605/98,


como já apontada, preocupando-se com a busca de reparação do dano, determinou
a aplicação das disposições do artigo 89, com alterações, de modo que exigida à
declaração da extinção da punibilidade, a comprovação por laudo da reparação do
dano ao ambiente, inclusive com prorrogação, por mais de uma oportunidade, do
prazo da suspensão acaso não comprovada a completa reparação do dano (Lei nº
9605/98, artigo 28,I).

Assim, está presente mais um requisito expresso à declaração da extinção da


punibilidade, qual seja, a reparação do dano que não é mera condição da
suspensão, mas condição da própria declaração da extinção da punibilidade.

Deste modo, a declaração da extinção da punibilidade na suspensão do


processo, em se tratando de crime contra o meio ambiente apresenta mais um
requisito não explicitado aos demais delitos na sistemática da Lei nº 9099/95, qual

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seja, a comprovação da reparação do dano. Em razão disso, o simples decurso do


prazo da suspensão, sem comprovação da reparação do dano, não permite a
declaração da extinção da punibilidade.

Em tal sentido, encontramos manifestação na jurisprudência no Recurso em


sentido estrito n° 70003844495, da Câmara Especial Criminal do Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul, sendo relatora a Desembargadora Breton Baish, com a
seguinte ementa: Recurso em sentido estrito. Crime ambiental. Suspensão
condicional do processo. Extinção da punibilidade. Impossibilidade. O simples
transcurso do lapso temporal do prazo de prova não enseja, automaticamente, o
decreto extintivo da punibilidade. Mister a comprovação do cumprimento da
condição – reparação do dano ambiental – assumida quando da concessão do
sursis processual. É a inteligência do artigo 28 da Lei nº 9605/98. Recurso em
sentido estrito provido para cassar a decisão extintiva da punibilidade.

No mesmo sentido, os recursos em sentido estrito 70005001342 e


70020595252, da 4ª Câmara Criminal do mesmo Tribunal, sendo relator o
Desembargador Aristides Pedroso de Albuquerque Neto, bem como os recursos
estritos 70012439741 e 70021594759, relatados pelo Desembargador Gaspar
Marques Batista.

Destaca-se também, o recurso criminal 2005.034404-8, da 2ª Câmara


Criminal do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, relator o Desembargador José
Antonio Torres Marques, assim a reclamação 2005.00.2.005249-1, decidida pela
Primeira Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios,
relator o Desembargador Edson Alfredo Smaniotto.

4.6 Medidas a serem aplicadas na transação penal

Através das medidas a serem aplicadas na transação penal poderá sua


implementação pelos operadores do Direito constituir autêntico instrumento de
proteção efetiva ao ambiente. Deverão os aplicadores do Direito Ambiental Penal
usar medidas alternativas de valia e utilidade efetiva ao meio ambiente (LECEY,
2007).

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Assim, a aplicação de restritiva, em princípio, deve ser preferível à multa. Não


deve, no entanto, constituir “alto negócio” ao autor do fato. Por exemplo: degradou
determinada área (mangue), mesmo quando não possível a recuperação da área (o
que deve ser buscado ao máximo empenho) não há como se trocar degradação por
outros bens que não de interesse ao meio ambiente, como doação de computadores
ou veículos e ajustamento com o autor do fato no sentido de poder utilizar a área
degradada, construindo, exemplificativamente, um galpão. Nem a doação de cestas
básicas se afigura a medida indicada.

A medida alternativa a ser aplicada deverá constituir prestação de interesse


ao meio ambiente. Deverá ter relação com bem de valia ao ambiente. As medidas
previstas no artigo 23 da Lei nº 9605/98 à pessoa jurídica, como o custeio de
programas ambientais (inciso I), a manutenção de espaços públicos (inciso III) e as
contribuições a entidades ambientais públicas (inciso IV) devem ser as alternativas
buscadas na transação penal, tanto à pessoa jurídica, quanto à pessoa natural. A
recuperação de obras degradadas (inciso II) também poderá ser, mas não a da área
degradada pelo autor do fato no caso concreto, porque esta já terá sido objeto da
composição, da reparação do dano.

Formalmente pode-se entender existente óbice a tais alternativas: a Lei nº


9099/95, bem como a nº 9605/98, preveem aplicação imediata de restritiva de
direitos.

Para a pessoa natural poder-se-á aplicar a restritiva do artigo 9 prevista para


a pessoa física (tarefas gratuitas junto a parques e jardins públicos e unidades de
conservação). No entanto, de maior valia se afiguram as do artigo 23 da Lei dos
Crimes contra o Meio Ambiente, previstas para a pessoa jurídica, sanções que,
todavia, para a pessoa natural não estão elencadas, tais medidas, como penas
restritivas de direitos. É possível observar que a restauração da coisa danificada não
será pena, já que é composição do dano e, pois, na sistemática da lei de proteção
ao meio ambiente, condição da aplicação da alternativa.

Estar-se-ia, segundo alguns, aplicando medidas não previstas legalmente


para a pessoa natural, o que feriria o princípio da legalidade. A solução será aplicá-
las como prestação social alternativa, prevista na Constituição Federal, artigo 5º,

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inciso. XLVI, alínea “d”. Dita norma constitucional não foi ainda recepcionada por lei
penal de modo que se poderia entender por ferido o princípio da legalidade. Todavia,
como orientam ADA GRINOVER E CO-AUTORES (1997, p. 135), através da
interpretação extensiva, já que o objetivo é a aplicação de pena não privativa de
liberdade, perfeitamente possível aplicar-se de logo tais sanções.

Já para a pessoa jurídica, estão previstas tais penas, mas não no rol das
restritivas de direito (prestação de serviços à comunidade tem tratamento
diferenciado, previstas como restritivas às pessoas jurídicas somente as elencadas
no artigo 22 da Lei nº 9605/98). Todavia, tradicionalmente, prestação de serviços à
comunidade é restritiva de direitos, na essência. Como tal deve ser tratada. Haveria,
assim, previsão legal infraconstitucional. Ou, então, aplicar como prestação social,
constitucionalmente prevista, em interpretação extensiva (idem à pessoa natural).

4.7 Sobre as condições da suspensão do processo

Forte na finalidade precípua de tutela do ambiente recomenda-se incluir no rol


das condições da suspensão do processo medidas de valia ao meio ambiente como
são as elencadas na lei ambiental, priorizando-se a prestação de serviços à
comunidade e já destacadas quando da abordagem da transação. Poderia parecer
não ser possível a imposição de tais medidas alternativas porque o artigo 89,
parágrafo 1°, da Lei nº 9099/95 não inclui ditas medidas no rol das condições.
Todavia, o parágrafo 2° do mesmo dispositivo legal prevê expressamente que o juiz
poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que
adequadas ao fato e à situação do acusado (LECEY, 2007).

Observa-se que na suspensão do processo não é admissível crítica que vem


sendo feita de no sursis se incluir uma pena substitutiva, como a prestação de
serviços à comunidade ou a limitação de fim de semana. Isso porque o não
cumprimento da condição leva à revogação do sursis e à execução da pena privativa
de liberdade. Todavia, tal não se passaria na suspensão do processo, como
destacam ADA GRINOVER E CO-AUTORES (1997, p. 298).

Ou seja, acaso não cumprida a condição na suspensão do processo, não


haveria execução da pena, sendo que somente prosseguiria o processo até então
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suspenso. Ademais, se é possível a aplicação de tais medidas na transação penal,


com mais razão poderá ser aplicada na suspensão do processo, benefício menos
expressivo e aplicável em tese às infrações com maior potencial ofensivo (LECEY,
2007).

Recomenda-se, como destacado, incluir dentre as condições da suspensão


do processo medidas que reflitam valores ao ambiente, tais como as sugeridas para
a transação penal, com real interesse ao meio ambiente.

Conclusão ideal proposta por ELADIO LECEY (2007) seria a lei que, por
atender ao princípio da lesividade e aos anseios sociais, não precisasse da
instrumentalização do Judiciário para se tornar efetiva, porque a ela se adequariam
as condutas, concretizando a principal função do tipo e da norma penal, qual seja, a
prevenção geral de ofensas à bem de extrema relevância social, como é o meio
ambiente.

Todavia, em se fazendo necessário o socorro ao Judiciário, na busca de


prevenção especial e na tutela do valor ambiente, se mostra como instrumento de
efetivação desta proteção a via da Justiça Criminal com a implementação da
transação e da suspensão do processo. Isso em razão da consequente efetivação
da reparação do dano como condição tanto da transação quanto da declaração da
extinção da punibilidade na suspensão do processo, assim como através da
aplicação (na transação ou como condição na suspensão) de medidas de real valia
ao ambiente de que tanto necessitamos não apenas nós, mas as futuras gerações
como bem aponta a Constituição do Brasil.

Desta forma, o Direito Ambiental Penal, além de punitivo e preventivo, na


linha tradicional do Direito Penal, deve ser também reparador e um instrumento de
autêntica e integral proteção ao meio ambiente (LECEY, 2007).

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UNIDADE 5 – TUTELA DO MEIO AMBIENTE

Para iniciarmos nossa jornada, é imprescindível compreendermos o meio


ambiente como um bem a ser tutelado pelas normas jurídicas ambientais. Mas, o
que vem a ser “bem”?

Para o direito clássico, bens são “coisas úteis e raras, suscetíveis de


apropriação e contêm valor econômico”. O enfoque deste conceito centra-se na
patrimonialidade como sua essência. Nota-se, ainda, claramente, um enfoque nos
bens corpóreos, já que a teoria jurídica tradicional se mostrou resistente em
considerar a tutela de bens de natureza incorpórea.

No ensinamento de PABLO STOLZE GAGLIANO (2003), o conceito mais


atual considera como bem “toda a utilidade física ou ideal, que seja objeto de um
direito subjetivo”. O enfoque agora está centrado na tutela jurídica dos direitos
subjetivos. Envolve tanto as prestações jurídicas quanto os bens jurídicos stricto
sensu. Estes últimos, o mesmo autor define como “utilidade, física ou imaterial,
objeto de uma relação jurídica, seja pessoal ou real”.

Entretanto, precisamos ir mais longe, para podermos compreender o que seja


o bem ambiental, definido na Constituição Federal como “bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida”. O Direito Civil brasileiro, no que diz
respeito à titularidade, faz uma divisão dos bens entre públicos e particulares. Os
particulares são definidos por exclusão ao disposto nos artigos 98 a 103 do Código
Civil, que dispõem a respeito da titularidade pública dos bens. Dentre a classificação
adotada no Código, encontramos a definição civilista dos bens de uso comum do
povo:

Art. 99. São bens públicos:

I - os de uso comum do povo, tais como os rios, mares estradas, ruas e


praças”.

A utilização dos bens públicos de uso comum do povo não se submete a


qualquer tipo de discriminação ou ordem especial de fruição.

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Mas há que se destacar que, no que diz respeito à titularidade, o bem


ambiental, como disposto na Constituição, não está adstrito à dominialidade pública
ou privada. Isto porque o meio ambiente não é suscetível de apropriação, posto que
“todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado” (art. 225, caput).
Insere-se em uma categoria diversa daquelas preconizadas pela ordem civilista, que
não pode ser adequada à necessidade da construção do piso vital mínimo exigido
pela sanidade ambiental. Desta forma, o meio ambiente ecologicamente equilibrado
não é bem público nem privado: é bem difuso.

O “meio ambiente” visto na Constituição e na legislação, é visto como um bem


incorpóreo, que tem valor enquanto universalidade. Suas manifestações materiais
(solo, subsolo, florestas, água, etc.) é que são suscetíveis de apropriação pública ou
privada.

Como bem de interesse difuso que é, necessitamos precisar seu significado,


que nos é dado pela Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), em seu
artigo 81. É aquele “transindividual, de natureza indivisível, de que são titulares
pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato”

Com efeito, destacamos o pensamento do professor CELSO ANTÔNIO


PACHECO FIORILLO (2003), que observa o seguinte:

Na verdade, deve-se frisar que o texto constitucional em vigor aponta


dispositivos modernos, os quais têm por conteúdo interesse difuso. São exemplos: o
princípio de que todos são iguais perante a lei; o direito à vida digna, o direito às
cidades, o uso da propriedade adaptado à função social; a higiene e a segurança do
trabalho; a educação, o incentivo à pesquisa e ao ensino científico e o amparo à
cultura; a saúde; o meio ambiente natural; o consumidor, entre tantos outros. Isto
porque tais normas assumem a característica de direito transindividual, de natureza
indivisível, de que são titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias
de fato.

Com isso, reitera-se que o art. 225 da Constituição Federal, ao estabelecer a


existência jurídica de um bem que se estrutura como de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, configura nova realidade jurídica disciplinando
bem que não é público nem, muito menos, particular.

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O art. 225 estabelece a existência de uma norma vinculada ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, reafirmando, ainda, que todos são titulares do referido
direito. Não se reporta a uma pessoa individualmente concebida, e sim a uma
coletividade de pessoas indefinidas, o que demarca um critério transindividual, em
que não determinam, de forma rigorosa, as pessoas titulares desse direito.

O bem ambiental é, portanto, um bem que tem como característica


constitucional mais relevante ser essencial à sadia qualidade de vida, sendo
ontologicamente de uso comum do povo, podendo ser desfrutado por toda e
qualquer pessoa dentro dos limites constitucionais.

É, portanto, da somatória dos dois aspectos: bem de uso comum do povo e


essencial à sadia qualidade de vida, que estrutura constitucionalmente o bem
ambiental.

CELSO ANTONIO PACHECO FIORILLO (2003) ainda destaca uma série de


diferenças entre o bem público e o difuso, citando disposições constitucionais,
finalizando a afirmação da existência dessa terceira categoria de bem, destacando a
incumbência do poder público e da coletividade de defendê-lo e preservá-lo.

Afasta, portanto, a ideia consagrada no direito tradicional, de um bem estar


ligado ao direito de propriedade, conservando, entretanto, um dos poderes
atribuídos pelo direito de propriedade, transposto ao artigo 225 da Constituição, o de
que todos podem utilizá-lo, sem deter, contudo, o direito de disposição ou mesmo o
de transação.

Como direito de terceira geração, se caracteriza por sua natureza de


solidariedade intergeracional, decorrente dos interesses sociais.

É NORBERTO BOBBIO (1992, p. 6) quem descreve com desenvoltura o


desenvolvimento dos direitos humanos, destacando sua historicidade e sua
emergência das lutas travadas pelo homem em busca de sua própria emancipação e
das transformações das condições de vida que essas lutas produzem:

Como todos sabem, o desenvolvimento dos direitos do homem passou por


três fases: num primeiro momento, afirmaram-se os direitos de liberdade,
isto é, todos aqueles direitos que tendem a limitar o poder do Estado e a

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reservar para o indivíduo, ou para os grupos particulares, uma reserva de


liberdade em relação ao Estado; num segundo momento, foram
propugnados os direitos políticos, os quais – concebendo a liberdade não
apenas negativamente, como não impedimento, mas positivamente, como
autonomia – tiveram como consequência a participação cada vez mais
ampla, generalizada e frequente dos membros de uma comunidade no
poder político (ou liberdade no Estado); finalmente foram proclamados os
direitos sociais, que expressam o amadurecimento de novas exigências –
podemos dizer, de novos valores -, como os do bem-estar e da igualdade
não apenas formal, e que poderíamos chamar de liberdade através ou por
meio do Estado.

Dentre esses direitos, destaca o mestre, “o mais importante deles é o


reivindicado pelos movimentos ecológicos: o direito de viver num ambiente não
poluído”.

Todo esse desenvolvimento modifica sobremaneira ao só o modo de ver a


questão da titularidade material dos direitos, como também a titularidade processual,
permitindo que não só o indivíduo singularmente falando, como também
coletividades possam ingressar em juízo na defesa dos seus interesses de natureza
difusa, configurando essa defesa em juízo como verdadeira conquista de cidadania,
no dizer de Ada Pelegrini Grinover (1999).

Essa conquista tem caráter também político, como destaca PAULO DE


BESSA ANTUNES (2004) :

Se observarmos o caput do artigo 225 da Constituição Federal, veremos


que, dentro dos esquemas tradicionais não é possível compreender o meio
ambiente como um ‘direito de todos’, pois até agora a noção de direito,
salvo algumas poucas exceções, estava vinculada à ideia da existência de
uma relação material subjacente. A defesa dos interesses difusos, não
estando baseada em critérios de dominialidade, entre sujeito ativo e objeto
jurídico tutelado, dispensa essa relação prévia de direito material. Não
dispensa, entretanto, uma base legal capaz de assegurar a proteção
buscada perante o Poder Judiciário. O que informa os interesses difusos é a
participação democrática na vida da sociedade e na tomada de decisões
sobre os elementos constitutivos de seu padrão de vida. Toda a questão
suscitada pelos interesses difusos é essencialmente política. O fator curioso
a ser observado é que, mediante a construção teórica dos interesses
difusos, houve uma ‘jurisdicização’ da política e não, como é a regra, uma
‘politização’ do jurídico.

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5.1 Mas o que é meio ambiente?

A doutrina costuma afirmar que o termo “meio ambiente”, amplamente


utilizado na matéria, é na verdade incorreto. Ora, “meio” é tudo que envolve, que
está em volta, ou seja, é sinônimo de “ambiente”, “entorno”. “Meio ambiente” acaba
sendo um pleonasmo, que soa bem aos ouvidos, mas gramaticalmente incorreto.
Entretanto, como o termo acabou se firmando no linguajar cotidiano, foi incorporado
e conceituado pela legislação, e é aceito sem qualquer problema.

Assim, como tudo que nos envolve, devemos enxergar o meio ambiente como
um complexo formado de elementos naturais e culturais, que interagem e
condicionam nossa forma de viver. Mas nem sempre foi assim. Por muito tempo
imperou, tanto na visão doutrinária quanto na visão legislativa, uma visão naturalista
do meio ambiente: este seria composto apenas por elementos naturais, que
condicionariam a vida no planeta. Desta forma, ainda está inscrito na Lei nº
6.938/81, nossa Política Nacional do Meio Ambiente, embora legislação
hierarquicamente inferior já tenha evoluído na conceituação. Somente para ilustrar
este trabalho, citamos alguns conceitos legais:

A Lei nº 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente), assim o define:


“conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

A Resolução CONAMA nº 306/2002, que estabelece termo de referência para


auditorias ambientais, define, para os seus fins, que meio ambiente é o “conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química, biológica, social,
cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

Na lição de JOSÉ AFONSO DA SILVA (2004), podemos destacar a ideia do


meio ambiente como interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e
culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas
formas. Tem-se assim a ideia de unidade do ambiente, em que interagem
concretamente os elementos naturais aos elementos construídos pela genialidade
humana, propiciando a todas as formas de vida a manutenção de seu equilíbrio
ecológico, como preconizado na Carta Magna brasileira.

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5.2 A Tutela do Meio Ambiente

Tutela Constitucional

Embora Constituições anteriores tenham trazido dispositivos de interesse


ambiental, a atual, promulgada em 5 de outubro de 1988 é a primeira a trazer um
capítulo específico destinado ao meio ambiente, consubstanciado no artigo 225 e
seus seis parágrafos. Ele é o Capítulo VI do Título VIII, que dispõe sobre a Ordem
Social. Procedendo a uma hermenêutica sistemática, poderemos ver também que o
meio ambiente, como disposto na Constituição brasileira, deve-se voltar para
garantia também do bem-estar e da justiça social, tendo como primazia o trabalho.
Tem, por isso, natureza econômica, em que não se descura, obviamente, que
esta peculiaridade está destinada a garantir a todos uma vida digna, em condições
de satisfazer plenamente as necessidades do gênero humano, garantindo-lhe o piso
vital mínimo.

Mas, apesar de ter um capítulo inteiramente dedicado ao meio ambiente,


podemos visualizar em todo o seu texto dispositivos de interesse implicitamente ou
explicitamente ambiental.

JOSÉ AFONSO DA SILVA (2004) afirma o seguinte:

Pode-se dizer que ela é uma Constituição eminentemente ambientalista.


Assumiu o tratamento da matéria em termos amplos e modernos. Traz um
capítulo específico sobre o meio ambiente, inserido no título da ‘Ordem
Social’ (Capítulo VI do Título VIII). Mas a questão permeia todo o seu texto,
correlacionada com os temas fundamentais da ordem constitucional.

Abaixo, transcrevemos alguns artigos que, no nosso modesto entender,


trazem para o texto constitucional componentes de interesse ambiental natural ou
social:

Art. 5º, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular
que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado
participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e

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cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do


ônus da sucumbência;

Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o


lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Art. 7º - São direitos dos trabalhadores [...]

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de


saúde, higiene e segurança;

Art. 20 - São bens da União:

II - as terras devolutas indispensáveis (...) à preservação ambiental,


definidas em lei;

III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu


domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com
outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele
provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;

V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica


exclusiva;

VI - o mar territorial;

VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;

VIII - os potenciais de energia hidráulica;

IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;

X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-


históricos.

Art. 21: Compete à União: [...]

XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e


definir critérios de outorga de direitos de seu uso;

XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive


habitação, saneamento básico e transportes urbanos;

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XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer


natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o
enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de
minérios nucleares e seus derivados;

XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;

XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da


atividade de garimpagem, em forma associativa.

Art. 22 - Compete privativamente à União legislar sobre:

IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;

XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;

XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;

Art. 23 - É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e


dos Municípios:

II - cuidar da saúde e assistência pública, [...];

III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico,


artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e
os sítios arqueológicos;

IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de


arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de


suas formas;

VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

Art. 24 - Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:

VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do


solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da
poluição;

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VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e


paisagístico;

VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a


bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico;

Art. 26 - Incluem-se entre os bens dos Estados:

I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em


depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de
obras da União;

Art. 30 - Compete aos Municípios:

I - legislar sobre assuntos de interesse local;

II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial,


mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da
ocupação do solo urbano;

IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local,


observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

Art. 91, § 1º - Compete ao Conselho de Defesa Nacional:

III - propor os critérios e condições de utilização de áreas


indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu
efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com
a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo;

Art. 129 - São funções institucionais do Ministério Público:

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do


patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos;

Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e


na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
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III - função social da propriedade;

VI - defesa do meio ambiente;

Art. 173, § 5º - A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos


dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às
punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem
econômica e financeira e contra a economia popular.

Art. 174, § 3º - O Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em


cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a promoção
econômico-social dos garimpeiros.

Art. 182 - A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder


Público Municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar
o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de
seus habitantes.

§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às


exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área


incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo
urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado
aproveitamento.

Art. 186 - A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos:

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e


preservação do meio ambiente.

Art. 200 - Competências do Sistema Único de Saúde:

II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem


como as de saúde do trabalhador;

IV - participar da formulação da política e da execução das ações de


saneamento básico;

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VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte,


guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e
radioativos;

VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do


trabalho.

Art. 215 - O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e
acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a
difusão das manifestações culturais.

§ 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas


e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório
nacional.

Art. 216 - Constituem patrimônio cultural brasileiro:

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,


artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Art. 217, § 3º - O Poder público incentivará o lazer, como forma de promoção


social.

Art. 220 - Pensamento, criação, expressão e informação livres de restrição.

§ 3º - Compete à lei federal:

II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a


possibilidade de se defenderem de programas ou programações de
rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da
propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à
saúde e ao meio ambiente.

Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações.

§ 1.º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:

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I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o


manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do


País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e


seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que
justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade


potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,


métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a


conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas


que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade.

§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio


ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei.

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente


sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o


Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua

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utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a


preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por


ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização
definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

Art. 231 São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.

§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas


em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar
e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e
tradições.

§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua


posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios
e dos lagos nelas existentes.

§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais


energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só
podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as
comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da
lavra, na forma da lei.

§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os


direitos sobre elas, imprescritíveis.

§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, ad


referendum do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha
em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do
Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que
cesse o risco.

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§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que


tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este
artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas
existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser
lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a
ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da
ocupação de boa-fé.

§ 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, §§ 3.º e 4.º.

Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas


para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o
Ministério Público em todos os atos do processo (JESUS JUNIOR, 2008).

O Fundamento Constitucional

Dano ecológico é qualquer lesão ao meio ambiente causada por condutas ou


atividades de pessoa física ou jurídica de direito público ou de direito privado.

Este conceito harmoniza com disposto no art. 225 §3 da CF, segundo o qual
as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente, estarão sujeitos os
infratores (pessoas físicas ou jurídicas) a sansões penais e administrativas,
independente da obrigação de reparar o dano causado.

Segundo a orientação da norma federal sobre o assunto (lei nº 6.938/81,art.


14, §1º- responsabilidade independente de culpa) os estados poderão, por exemplo,
estabelecer a prestação de caução para a realização de uma atividade perigosa
para o meio ambiente. Não será invadir a competência da União os estados exigirem
a realização de seguro para uma atividade potencialmente perigosa ao meio
ambiente.

O legislador estadual poderá alargar o atual campo de competência dos


juizados especiais, atribuindo-se a função de julgar atentados ambientais.

Poderá o legislador estadual como exemplo, possibilitar que as associações


ambientais, de defesa do consumidor e de defesa do patrimônio cultural, possam
colher provas através de inquéritos civis já previstos para o Ministério Publico federal

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e estadual, e também poderá atender a obrigação de assistência jurídica para


Defensoria Pública amparando e patrocinando as pessoas e associações na
proteção do meio ambiente,do consumidor e do patrimônio cultural (SILVA, 1997).

Tutela administrativa

A responsabilidade administrativa resulta de infração as normas


administrativas, sujeitando ao infrator a uma sansão de natureza também
administrativa como advertência, multa, interdição de atividade, suspensão de
benefícios, etc. A responsabilidade administrativa fundamenta-se na capacidade que
tem as pessoas jurídicas de direito público de impor condutas aos administrados.

Esse poder administrativo é inerente a administração de todas as entidades


estatais: União, Estado, Distrito Federal e Municípios nos limites das respectivas
competências institucionais.

Dentre os poderes administrativos, interessa o poder de polícia administrativa,


que na administração pública exerce sobre todas as atividades e bens que afetam
ou possam afetar a coletividade.Todas as entidades estatais dispõe de poder de
polícia referente a matéria que lhes cabe regular. Como cabe as três unidades
proteger o meio ambiente, também lhes cabe fazer valer as providências de sua
alçada, condicionando e restringindo o uso e gozo de bens, atividades e direitos em
benefícios da qualidade de vida da coletividade, aplicando as sanções pertinentes
nos casos de infrações as ordens legais da autoridade.

O meio ambiente é um bem essencialmente difuso, de interesse comum,


transcende o interesse privado e os limites geopolíticos. Sua destinação é comum,
razão pela qual a tutela administrativa do ambiente, por meio de instrumentos legais,
conduz a própria ação do poder público para um sistema de gestão ambiental, que
nada mais é que o conjunto de medidas necessárias à prática da tutela
administrativa ambiental a ser efetivada pelos órgãos da Administração Pública e da
sociedade organizada conjuntamente, especificamente com relação ao aspecto
executivo propriamente dito.

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1 – Poder de polícia ambiental

A principal decorrência da tutela administrativa do ambiente em favor do


Estado é o poder de polícia administrativa ambiental a ser exercício em função dos
requisitos da ação tutelar, conforme o que dita o art. 225, da CF.

Assim, o poder de polícia ambiental, como prerrogativa do poder público, é a


atividade da administração pública que limita ou disciplina direito, interesse ou
liberdade, regula a prática ou a abstenção de fato em razão de interesse público
concernente à saúde da população, à conservação dos ecossistemas, à disciplina
da produção e do mercado, ao exercício da atividade econômica ou de outras
atividades dependentes de concessão, autorização, permissão ou licença do poder
público de cujas atividades possam decorrer poluição ou agressão à natureza.

Tal poder não é exercido por policiais profissionais, embora em alguns casos
seu exercício tenha que ser reforçado por outras modalidades de polícia. Seus
agentes são, em geral, técnicos capacitados que se ocupam de aspectos
específicos do bem comum e da manutenção da qualidade ambiental.

O poder de polícia ambiental é exercido por meio de ações fiscalizadoras,


uma vez que a tutela administrativa do ambiente compreende ações corretivas e
inspectivas, dentre outras, como o licenciamento ambiental. Mas de sua natureza
básica de instrumento a serviço da comunidade infere-se que somente será
eficazmente exercido com a pedagogia adequada às situações, vez que muitos dos
desvios nocivos ao ambiente provêm de velhos vícios culturais e da falta de
consciência da população em geral (ROCHA, 2007).

A competência para o exercício do poder de polícia ambiental é concorrente


entre os entes federativos União, Estados e Municípios, devendo a polícia ambiental
ser exercida pelos três níveis do poder público. A Lei nº 6.938/81, que dispôs sobre
a Política Nacional do Meio Ambiente, estruturou o Sistema Nacional do Meio
Ambiente – SISNAMA – integrando os órgãos e entidades municipais, atribuindo-
lhes a responsabilidade pelo controle e fiscalização, na esfera local, das atividades
capazes de provocar degradação ambiental. O mesmo diploma legal conferiu ao
Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA – a competência para estabelecer

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normas para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras,


cuja incumbência é distribuída entre os três níveis federativos.

Assim é que ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais


Renováveis – IBAMA – cabe o licenciamento de atividade potencialmente causadora
de significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, que interessem a
dois ou mais estados, ou país limítrofe, ou atividades nucleares ou militares, ou
áreas marítimas adjacentes à costa, terras indígenas e áreas de conservação de
domínio da União.

Aos órgãos ambientais dos Estados e do Distrito Federal cabe o


licenciamento dos empreendimentos situados em seus territórios, cujo impacto
compreenda mais de um município. Em qualquer caso, o licenciamento ambiental
será conferido em um único nível de competência, conforme resolução do CONAMA.

A omissão do exercício do poder de polícia ambiental por qualquer das


autoridades competentes para tanto pode configurar tanto infração administrativa,
quanto crime e ato de improbidade administrativa, ensejando até mesmo a perda do
cargo público (ROCHA, 2007).

Tutela civil

Esta responsabilidade impõe ao infrator a obrigação de ressarcir o prejuízo


causado por sua conduta ou atividade. Pode ser contratual, por fundamentar-se num
contrato, ou extracontratual por decorrer de exigência legal (responsabilidade legal)
ou de ato ilícito (responsabilidade por ato ilícito) ou até mesmo por ato lícito
(responsabilidade por risco).

O Art. 225 § 3º CF diz que as condutas e atividades consideradas lesivas ao


meio ambiente sujeitarão aos infratores, pessoas físicas ou jurídicas as sanções
penais e administrativas, independente da obrigação de reparar o dano.

A lei nº 6938/81, art. 14 § 1º diz que sem prejuízo das penas administrativas
previstas nos incisos do artigo, o poluidor é obrigado, independentemente de culpa,
a indenizar ou reparar o dano causado ao meio ambiente e a terceiros, afetados por
sua atividade.

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O direito brasileiro assume o princípio da responsabilidade objetiva pelo dano


ecológico, o que é uma tendência do direito estrangeiro, sob a modalidade do risco,
significou apreciável avanço no combate a devastação do meio ambiente, pois que
não se leva em conta subjetivamente a conduta do causador do dano, mas a
ocorrência do resultado prejudicial ao homem e ao ambiente.

Para exigir a reparação do dano é suficiente que se demonstre o nexo causal


entre a lesão infringida ao meio ambiente e ação ou omissão do responsável pelo
dano.

O ordenamento jurídico brasileiro não dá relevância para fins de exclusão da


responsabilidade objetiva pelo dano ambiental. O aspecto fundamental da
responsabilidade consiste em desvincular a obrigação de reparar danos da
existência de culpa por parte do agente causador.

Para que ele seja obrigado a reparar o dano ao meio ambiente é suficiente
que, além dos demais pressupostos também exigidos na teoria da culpa, o ato ou
fato danoso, o dano provocado e o liame de casualidade entre eles, seja
comprovado que o foi proveniente do risco criado por uma atividade de quem o
causou.

A palavra chave da modalidade de responsabilidade civil nesta teoria é por


tanto, o risco de dano criado pela atividade exercida pelo agente poluidor.

Responsabilidade civil ambiental

A responsabilidade de pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado


será realizada em função das condutas e atividades que causarem qualquer lesão
ao meio ambiente. A CF de 1988 conferiu proteção ao meio ambiente de maneira
bem abrangente, e estabeleceu ao seu art. 225 § 3º que as condutas e atividades
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas as sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados.

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O direito ambiental compreende três esferas de atuação: a preventiva, a


repressiva e a reparatória.

O funcionamento da reparação ambiental se observa através da aplicação


das normas de responsabilidade civil, atuando na tutela e controle da propriedade. A
responsabilidade civil consiste na apuração de prejuízo a terceiro, ensejando pedido
de reparação ao dano causado, em espécie, ou seja, impõe-se ao infrator a
obrigação de indenizar ou reparar o prejuízo por sua conduta ou atividade.

O direito ao meio ambiente sadio e equilibrado, não pode ser individualizado,


é um direito pertencente a toda sociedade. Assim, sendo, toda pretensão que se
apure em juízo buscando reparação por dano causado ao meio ambiente será
difusa, visto que se trata de direito cujo objeto é indivisível, pois que os seus titulares
são indetermináveis e ligados por circunstâncias de fato.

Existem duas teorias no que se refere a responsabilidade civil. Na primeira, a


vítima tem que provar a existência de nexo entre o dano e a atividade danosa, e
especialmente a culpa do agente. Na segunda, basta a existência do dano e o nexo
com a fonte poluidora ou degradadora (LEITE, 2003).

A lei de política nacional no meio ambiente (lei nº 6938/81) adotou a


sistemática da responsabilidade civil objetiva (art. 14 § 1º) e foi integralmente
recepcionada pela ordem jurídica atual, de sorte que é irrelevante e impertinente a
discussão da conduta do agente (culpa do dolo) para atribuição do dever de
indenizar.

Há discussões sobre se admitem-se as tradicionais cláusulas excludentes da


obrigação de reparar o dano ecológico. A tendência da doutrina é no sentido de não
aceitar as cláusulas excludentes da responsabilidade, pois em interesse difuso o que
conta é o dano produzido e a necessidade de uma integral reparação.

O estudo do impacto ambiental, no entanto, facilita a determinação do


responsável pelo dano ambiental de empreendimento licenciado. O estudo para
determinar o impacto ambiental será realizado por equipe multidisciplinar habilitada,
não dependente direta ou indiretamente do proponente do projeto, o que serão
responsável tecnicamente pelos laudos apresentados.

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Nem sempre é fácil determinar ou identificar o responsável. Sendo foco


emissor a identificação é simples, mas se haver multiplicidade de focos já se torna
mais difícil e é por isso que se justifica a regra da atenuação do relevo do nexo
causal.

Mas a responsabilidade por dano ambiental poderá usar as regras da


solidariedade entre os responsáveis, podendo a reparação ser exigida de todos ou
de qualquer um dos responsáveis. Há até que sustente que o estado também é
solidariamente responsável, podendo a ação dirigir-se contra o mesmo, que depois
que reparar a lesão poderá identificar e demandar regressivamente os poluidores
(LEITE, 2003).

A lei fala em dano ao meio ambiente e a terceiro, quer dizer, que a vítima
pode ser uma pessoa e será ela a beneficiária do ressarcimento, mas também pode
ser simplesmente o meio ambiente sem referência direta a alguém. O dano é assim
mesmo reparável. A questão fica no saber quem será o beneficiário: parece-nos que
é a coletividade que se torna o prejudicado, como ocorre em geral com os danos a
interesses coletivos.

Cabe ao poder público aferir a indenização que pode ser acumulado, em


qualquer caso, com outra forma de recomposição.

O Direito Ambiental, como já dito, tem três esferas básicas de atuação: a


preventiva, a reparatória e a repressiva, sendo que a atuação preventiva é tida como
a mais importante, vez que volta-se para o momento anterior ao dano ambiental, de
menor risco. Tal princípio é decorrência do art. 1.525, do Código Civil, e art. 225, §
3º, da CF, que estabelecem a independência entre as responsabilidades
administrativa, civil e criminal.

O conceito de dano ambiental no ordenamento pátrio não é totalmente claro,


vez que o próprio constituinte não elaborou uma noção técnico-jurídica acerca do
mesmo, mas pode ser entendido como a lesão aos recursos ambientais, com a
consequente degradação ou alteração adversa do equilíbrio ecológico e da
qualidade de vida.

Os recursos ambientais compreendem não apenas os recursos naturais, mas


também os elementos da biosfera. O certo é que o meio ambiente é realidade mais
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ampla do que os ecossistemas naturais, embora a legislação predominante privilegie


a proteção dos recursos naturais.

O dano ambiental se caracteriza basicamente pela pulverização de vítimas e


pela difícil reparação e valoração, daí porque o ordenamento pátrio já poderia buscar
novos instrumentos processuais como, por exemplo, a ação revisional dos danos
causados ao ambiente, toda vez que condenações forem insuficientes para a
completa reparação dos bens lesados (ROCHA, 2007).

Há duas formas principais de reparação do dano ambiental: a recuperação


natural ou o retorno ao status quo ante e a indenização em dinheiro, sendo que
modalidade ideal é a primeira, vez que pode garantir a inteira fruição do bem
ambiental, restando à segunda opção apenas para o caso da reconstituição ser
inviável. De qualquer forma, o que se busca é impor um custo ao poluidor, de forma
não apenas punitiva, mas principalmente preventiva.

No direito comum, o regime da responsabilidade extracontratual de aplicação


geral é o da responsabilidade subjetiva, fundada na culpa ou dolo do agente
causador.

Na legislação ambiental, contudo, o dano ambiental é regido pelo sistema da


responsabilidade objetiva, fundada no risco, prescindindo por completo da
culpabilidade do agente causador, sendo exigível para a responsabilização apenas o
nexo de causalidade entre o dano e a atividade causadora do mesmo.

O regime da responsabilidade objetiva (pressuposto) funda-se na teoria do


risco da atividade, bastando para que se possa pleitear reparação a demonstração
do evento danoso e o nexo de causalidade.

O evento danoso é aquele resultante de atividades que, direta ou


indiretamente, causem degradação do meio ambiente ou a um ou mais de seus
componentes. Tanto as lesões materiais como as imateriais são suscetíveis de
composição, desde que sejam significativas, cujos reflexos negativos transcendam
os padrões de suportabilidade definidos, quer no plano fático, quer no plano
normativo.

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O nexo de causalidade equivale à relação de causa e efeito entre a atividade


do agente e o dano dela advindo, de forma a se concluir que o dano oriundo dessa
atividade é suficiente para estabelecer o dever de reparação do prejuízo, o que não
é tarefa fácil, dada à complexidade e multiplicidade de causas, fontes e
comportamentos dos problemas ambientais. Daí porque alguns doutrinadores já
defendam a instituição do sistema de inversão do ônus da prova, a exemplo do que
já ocorre em termos de relações de consumo (ROCHA, 2007).

Dentre as principais consequências do dever de indenizar, as quais são


essencialmente de natureza pública, temos a prescindibilidade de investigação
(objetividade) da culpa, na qual a obrigação surge sem qualquer apreciação
subjetiva de contribuição da conduta do agente para a produção do dano; a
irrelevância da licitude da atividade, significando dizer que o que interessa é a
potencialidade do dano que a atividade, mesmo legal, possa trazer aos bens
ambientais, gerando, inclusive para o poder público, solidariamente, a obrigação de
indenizar caso autorize a atividade considerada danosa; e a inaplicabilidade das
causas de exclusão da responsabilidade civil, segundo a qual o sistema de
responsabilidade objetiva adota a modalidade do risco integral, não incidindo caso
fortuito ou força maior como exonerativas, tampouco a possibilidade de invocar-se a
cláusula de não-indenizar, pela qual o devedor procura liberar-se da reparação do
dano.

O principal responsável pelo dano ambiental é, segundo a legislação pátria, o


poluidor, isto é, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental.

Visto que a partir disso, emergem como responsáveis o próprio


empreendedor, titular principal do dever de zelar pelo meio ambiente, dado que ele
se aproveitará da atividade econômica; o Estado, por danos provocados em razão
de suas funções peculiares (como, por exemplo, não realização de estudo de
impacto ambiental) ou em razão de terceiros, já que a ele incumbe o dever de
fiscalizar e impedir a ocorrência dos danos.

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Responsabilização da pessoa jurídica por danos ambientais

Em linhas gerais e em termos de responsabilidade civil da pessoa jurídica,


a Lei nº 9.605/98, a prevê, desde que o dano causado decorra de decisão de seu
representante, tendo em vista interesse ou benefício da entidade em questão.
Porém, tal não pode ser interpretado literalmente, uma vez que a própria
Constituição Federal assenta como princípio a tríplice responsabilidade, extensiva
inclusive aos entes públicos da administração direta e indireta e, portanto, também à
pessoa jurídica privada (ROCHA, 2007).

Discute-se em nosso sistema penal a possibilidade de se atribuir


responsabilidade penal às pessoas jurídicas que venham a infringir normas que
tutelem o meio ambiente. Há muita controvérsia no que diz respeito a esse assunto,
com posicionamentos favoráveis e contrários por parte da doutrina, onde se discute
a punibilidade das ofensas praticadas por empresas e instituições, sejam elas
públicas ou privadas.

IVETE SENISE FERREIRA (1995, p. 102) faz objeções quanto a isso, pois, a
pena, segundo ela, deve ter caráter individualizado e a verificação da culpabilidade é
medida como condição pessoal, advindo de conduta de pessoa humana.

LUIZ REGIS PRADO (1992, p. 42) vai mais além, admitindo somente a
aplicação de medidas sancionatórias extra-penais às pessoas jurídicas.

Já PAULO JOSÉ DA COSTA JR. (1989, p. 648) milita em favor da


responsabilização da pessoa jurídica, clamando por inovações na legislação, a qual
deva conter sanções específicas para tais casos, pois também reconhece a natureza
personalista da responsabilidade penal.

Embora sendo coautor em mesma obra, juntamente com PAULO JOSÉ DA


COSTA JR., LUIZ VICENTE CERNICCHIARO (1990, p. 26) entende que a
responsabilização da pessoa jurídica não é possível, pois os princípios fundamentais
da legalidade, da responsabilidade pessoal, da culpabilidade, da presunção de
inocência e o da individualização da pena não lhe são aplicáveis.

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Como antecedente lógico da penalização, há a responsabilidade subjetiva,


repudiando qualquer resquício de responsabilidade objetiva e de presunção do
crime. A responsabilidade da pessoa física é individual. A da pessoa jurídica é
coletiva. Trata-se de institutos jurídicos diversos e inconfundíveis. Não deve-se,
então, aplicar nomen juris a institutos jurídicos diversos (CERNICCHIARO, 1997).

Portanto, em vista de todos estes entendimentos doutrinários, cabe-nos


acolher o ponderado entendimento de que a responsabilização da pessoa jurídica
enquanto infratora de normas penais ambientais só será possível se forem criadas
sanções próprias a essa natureza. Tal entendimento, possivelmente, é o mais
razoável (ROCHA, 2007).

Segundo EDUARDO LUIZ SANTOS CABETTE (2011), a instituição da


responsabilidade penal das pessoas jurídicas, especialmente com seu advento na
reforma do Código Penal Francês e, em sua esteira em terras brasileiras, na edição
da Lei nº 9605/98 (art. 3º.), vem sendo objeto de inúmeras polêmicas. Vários
questionamentos têm sido suscitados na doutrina, dentre os quais a falta de uma
regulamentação legal quanto aos procedimentos aplicáveis aos crimes imputados às
pessoas jurídicas. Isso porque o nosso legislador, diferentemente do Francês, “nada
mais fez do que enunciar a responsabilidade penal da pessoa jurídica, cominando-
lhe penas, sem lograr, contudo, instituí-la completamente. Isso significa não ser ela
passível de aplicação concreta e imediata, pois lhe faltam instrumentos hábeis e
indispensáveis para a consecução de tal desiderato”

Não obstante, respeitável corrente doutrinária aponta para a possibilidade de


superação da lacuna legal no âmbito processual, através de um procedimento de
integração do sistema jurídico, utilizando-se, com as devidas adequações, as
normas processuais penais e civis vigentes (GRINOVER, 1999 apud GOMES, 1999,
p. 46)

Para FERNANDO CASTELO BRANCO (2001) são possíveis boas soluções


por esse método, a darem respostas a inquietantes questões como, por exemplo, a
forma de citação, intimações, interrogatório, direito ao silêncio, aplicação da Lei nº
9099/95, competência, etc.

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Embora o artigo 3º, Parágrafo Único, da Lei Ambiental acolha o “sistema da


dupla imputação” (SHECAIRA, 1998, p. 129), ao registrar que “a responsabilidade
das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou
partícipes do mesmo fato”, não é impossível que apenas a pessoa jurídica esteja
sendo processada ou que algum ou alguns de seus integrantes não estejam no polo
passivo da relação jurídica penal (PIERANGELLI, 2001).

Isso pode acontecer por diversos fatores, inclusive mais comumente pelo fato
de tornar-se difícil a determinação da responsabilidade individual em certos casos
concretos. Com fulcro nisso, imagine-se uma situação em que um representante
legal de pessoa moral processada, o qual, por seu turno, não se encontra na
qualidade de réu ou indiciado, mas apenas como representante para fins
processuais, venha a tumultuar a apuração dos fatos, mediante, por exemplo,
intimidação de testemunhas, ocultação de provas, destruição de corpo de delito, etc.

Certamente os interesses na aplicação da lei penal e da conveniência da


instrução criminal (art. 312, CPP) estariam a justificar, numa situação ordinária, o
decreto da Prisão Preventiva, acaso cabível de acordo com a natureza da infração
(art. 313, CPP) e os demais requisitos da prisão cautelar (prova da existência do
crime e indícios suficientes de autoria - art. 312, in fine, CPP) (SILVA JUNIOR,
2000).

Mas, será que neste caso seria admissível a prisão cautelar do representante,
que, embora praticando atos reprováveis, não figura no polo passivo da ação penal?

FERNANDO CASTELO BRANCO (2001), ao tratar do tema dos efeitos do


não atendimento à citação edital e revelia nos casos de pessoas jurídicas, conclui
pela possibilidade de aplicação parcial da disciplina do art. 366, CPP. Assim, afirma
serem plenamente compatíveis com os casos de responsabilidade das empresas, a
suspensão do processo e do prazo prescricional, bem como a produção antecipada
de provas como medida cautelar e assecuratória. Porém, no que tange à
possibilidade de decretação da custódia preventiva (art. 366 in fine, CPP), conclui
pela sua total incompatibilidade com o caso. Isso pela simples razão de que a prisão
somente tem cabimento em relação às pessoas naturais. “Inadmissível, portanto, a
imposição da medida cautelar de índole pessoal contra o ente coletivo ou, até

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mesmo, contra o seu representante legal, pelo simples fato de ele estar investido
nessa função, não guardando qualquer relação de participação ou autoria com a
prática delitiva” (CASTELO BRANCO, 2001).

A Prisão Preventiva somente poderia alcançar as pessoas físicas e somente


aquelas que integrem o polo passivo da relação processual penal nos termos do art.
3º, Parágrafo Único, da Lei n. 9605/98, obviamente, desde que satisfeitos os
requisitos e motivos dos arts. 312 e 313 do Código de Processo Penal. No caso que
agora ventilamos o entendimento exposto é amplamente aplicável. Mesmo na
situação mais grave de atuação no sentido de prejudicar a aplicação da lei penal e a
instrução processual, inadmissível seria a decretação de Prisão Preventiva de
alguém que não está sendo processado ou investigado.

Nem mesmo em uma reforma legislativa processual penal, com vistas às


peculiaridades das pessoas jurídicas, tal custódia poderia ser prevista sem jogar por
terra toda a sistemática de garantias penais e processuais. Esta seria uma
teratológica forma híbrida de prisão processual e administrativa, cujo sujeito passivo
não estaria a responder naquele processo ou inquérito por nenhuma acusação ou
suspeita. Ou mesmo uma espécie de “cautelar satisfativa” no âmbito processual
penal, a infringir garantias constitucionalmente tuteladas (v.g. art. 5º., XXXIX, LIV,
LV, LVII, LXVII, CF).

Restaria como resposta repressiva à conduta ilícita do representante a sua


responsabilização por infração aos artigos 344, CP (Coação no Curso do Processo)
e/ou 347, CP (Fraude Processual), em procedimento autônomo. Mas, uma solução
imediata para assegurar a regularidade processual no âmbito do crime atribuído à
pessoa jurídica permanece, a nosso ver, uma aporia a exemplificar as dificuldades
ingentes com que se depara o Direito Penal do século XXI (CABETTE, 2011).

Ocorre que em face do caráter inusitado do tema, surgirão inevitavelmente


problemas cuja solução nem sempre possibilitará respostas tão simples.

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Tutela penal

Por ser um dos direitos fundamentais da pessoa humana, do direito ao meio


ambiente equilibrado emerge também o sancionamento penal das agressões contra
aquele perpetradas, como última ratio.

No ordenamento pátrio, a figura do tipo penal ambiental surge apenas, de


forma minguada, no Código Penal de 1940 e na Lei de Contravenções Penais de
1941, sucedendo-se, após, vários dispositivos legais esparsos e específicos,
somente havendo uma norma abrangente com a promulgação da Lei nº 9.605/98,
que definiu as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente, em consagração ao princípio da responsabilidade tripla já
mencionado.

A responsabilidade penal emana do cometimento de crime ou contravenção,


ficando o infrator sujeito a perda de liberdade ou pena pecuniária. Há pois, dois tipos
de infração penal: o crime e a contravenção.

O crime constitui-se de ofensa grave a bens e interesses jurídicos de alto


valor, de que resultam danos ou perigos próximos, de onde há duas categorias de
crime: de dano e de perigo, a que a lei comina pena de reclusão ou detenção,
acumulada ou não com multas. A segunda se refere a condutas menos gravosas,
apenas reveladoras de perigo, que a lei comina sansões de pequena monta, prisão
simples ou multa. Na verdade a lei é que vai dizer o que é contravenção e o que é
crime.

O Código Penal, entre os crimes contra a saúde pública, inseriu o de poluição


ou corrupção das águas no art. 271 que assim o define: Corromper ou poluir água
potável de uso comum ou particular, tornando-a imprópria para o consumo ou nociva
a saúde, pena: reclusão de 2 à 5 anos. Se o crime é culposo, pena: detenção de 2
meses a 1 ano. Corromper é alterar a essência ou composição da água, de modo a
torná-la perigosa para a saúde pública.

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O código florestal define no Art. 26, várias condutas, como contravenções


penais, puníveis com 3 meses a um ano de prisão simples e isolado ou
cumulativamente e multa de 100 salários mínimos.

Alguma dessas condutas são altamente danosas ao patrimônio florestal, por


isso deveriam ser definidas como crime, como: destruir ou danificar a floresta
considerada de preservação permanente, sem autorização da autoridade
competente, causar danos aos parques nacionais, estaduais ou municipais, ou
reservas biológicas. São danos efetivos que deveriam ser definidos como crimes. Há
outras que não passam de perigo como características de mera contravenção, tais
como: penetrar em florestas de preservação permanente conduzindo armas,
substâncias ou instrumentos próprios para caça proibida ou para exploração de
produtos florestais ou transportar animais sem autorização, etc.

A tendência da legislação é definir, como crime, os danos ecológicos. A lei nº


6.938/81, com a redação dada a seu art. 15 pela lei nº 7.804/89, definiu como crime
a conduta de poluidor que expuser a perigo a incolumidade humana, animal ou
vegetal, ou estiver tornando mais grave a situação de perigo existente, sujeitando-o
a pena de reclusão, pois trata-se de crime de perigo, ou seja precisa ocorrer o dano
para a incriminação.

A ocorrência do dano é agravante da pena, que aumenta até o dobro:

a) se resultar dano irreversível a fauna, a flora ao meio ambiente, ou lesão corporal


grave;

b) se a poluição decorrer de atividade industrial ou de transporte;

c) se o crime for praticado durante a noite, em domingo ou feriado. Incorre no


mesmo crime a autoridade competente que deixar de promover as medidas
tendentes a impedir a prática das condutas acima descritas.

A previsão de crime especificamente ecológico, esteja ela compreendida no


código penal ou expressa em leis especiais, é de qualquer modo, a única forma para
assegurar aos valores ambientais aquela proteção “imediata” de que necessitam no
momento atual.

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Desde que sejam compreendidos tais interesses, estando eles


compreendidos no âmbito da legislação penal, a ecologia passará a receber tutela
imediata, pois o ambiente em sua unidade é entendido como sistema ecológico que
deverá ser protegido.

A complexidade da matéria penal ecológica torna nem sempre fácil a exata


individuação do bem jurídico tutelado por determinadas preposições incriminadoras.
Na atualidade, em todas as ordenações penais que se mostrem amadurecidas,
existem um complexo de normas que mesmo diferidas em seu objeto específico,
referem-se todas elas ao bem jurídico que integra a categoria “segurança da
conservação do ambiente natural”.

As infrações penais, crime ou contravenção penal contra o meio ambiente são


de ação pública. Vale dizer, cabe ao Ministério Público propor a ação penal
pertinente na forma prevista no código de processo penal.

Os crimes ecológicos classificam o sujeito ativo como qualquer pessoa


imputável; sujeito passivo de forma direta a coletividade e de forma indireta o
proprietário ou possuidor; o objeto jurídico a preservação do meio ambiente;
tentativa nesta matéria é considerada inadmissível. Para a aplicação da pena nos
crimes contra o meio ambiente, o órgão responsável para aplicar a mesma deverá
observar os artigos 6º ao 24 da lei de crimes ambientais onde são estipulados os
métodos e meios a serem seguidos.

Os crimes e contravenções penais previstas no código florestal, de caça e


pesca, bem como na legislação complementar, não só previstos em legislação
específica, como por apresentarem características próprias, tem sua apuração
disciplinada de maneira diversificada, com atos especiais e meios de provas
adequados as suas diferentes modalidades.

Hoje, com satisfação, vemos introduzidos no nosso ordenamento jurídico


estes relevantes institutos, que já se constitui em uma realidade e vem concorrendo
para a agilização e solução de inúmeras infrações penais.

A ação penal referentes as infrações contravencionais tipificada nos códigos


florestal, de caça e pesca, bem como nas leis que os complementam, é a pública

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incondicionada. Isto significa que, para a instauração do inquérito policial ou da ação


penal basta a ocorrência do delito.

A instauração do inquérito policial somente deverá ocorrer quando não seja


possível estabelecer a autoria ou recolher os elementos necessários para
demonstrar a materialidade, ou ainda, quando se cuidar de caso complexo.

Em se tratando de infração de menor potencial ofensivo, ou seja, as


contravenções penais e os crimes a que a lei comine, pena máxima não superior a
um ano, executados os casos a que a lei prevê procedimento especial (art 61), a
autoridade policial que tomar conhecimento do fato, lavrará um termo
circunstanciado e o encaminhará ao juizado especial, providenciando a requisição
dos exames necessários.

No contexto da Lei nº 9.605/98, encontram-se descritos crimes contra a fauna,


contra a flora, de poluição, contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural e
contra a administração ambiental.

1 – Tipicidade

O meio ambiente, pela amplitude e complexidade de seu conceito, dificulta


sobremaneira a definição dos tipos penais a tutelá-lo, caracterizando-se, por vezes,
a figura do tipo aberto, ou seja, aquele em que não aparece por completo a norma
que o agente transgride com seu comportamento. É a chamada norma penal em
branco, posto que necessita de complementação de outros dispositivos legais.

A maioria das infrações penais ambientais é fato ilícito porque o agente atuou
sem autorização legal, sem licença ou em desacordo com as determinações legais.
Vale dizer, a punição do agente decorre não da prática do fato ou ato considerado
danoso ao meio ambiente, mas sim em decorrência do descumprimento de alguma
norma legal ou regulamentar necessária à mesma prática do fato ou ato. Por
exemplo: caçar animais silvestres tanto pode ser crime como não, se o agente tiver
autorização para tanto (ROCHA, 2007).

O mesmo ocorre com a pesca. Por outro lado, há que se atentar para o fato
de que o legislador, ao criar o tipo penal, o faz, principalmente, sob a ótica

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preventiva, razão pela qual o crime ecológico é, basicamente, crime de perigo,


conquanto a norma penal deva abarcar também os riscos e não apenas os danos.

2 – Bem jurídico protegido

Nos crimes ambientais o bem jurídico precipuamente protegido é o meio


ambiente em sua dimensão global, porque é bem essencial à vida, à saúde e à
felicidade da pessoa humana, valores que dizem respeito a toda a coletividade.

3 – Elemento subjetivo

A culpabilidade do agente dá o tom de sua responsabilidade, razão pela qual,


nos crimes ambientais, o elemento subjetivo tanto pode ser o dolo quanto a culpa,
sendo a regra a punição a título de dolo, conforme disposição do art. 18, parágrafo
único, do CP.

Anteriormente à edição da Lei nº 9.605/98, a punição se dava basicamente


aos crimes ambientais dolosos, sendo certo que a formulação do conceito de culpa
por tal diploma legal cassou o clima de impunidade que vigorava até então.

4 – Sujeito ativo

O sujeito ativo nos crimes ambientais tanto pode ser a pessoa física como a
jurídica. Até há pouco reservava-se apenas à pessoa física a possibilidade de ser
sujeito ativo de crime, em face do conceito restrito de imputabilidade.

Ressalte-se que os criminosos ambientais, por seu turno, destoam do perfil do


criminoso comum, pois não raro são cometidos por pessoas que não oferecem
nenhuma periculosidade ao meio social, tendo sido levadas à prática delituosa por
circunstâncias do meio e dos costumes.

Já a pessoa jurídica “ganhou” responsabilidade criminal com o advento da Lei


nº 9.605/98, seguindo-se as tendências do direito penal moderno no intuito de punir
não apenas o pequeno delinquente, o “pé-de-chinelo”, mas a pessoa jurídica por trás

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deste, que busca o lucro como finalidade precípua e para a qual pouco interessam
os prejuízos causados à coletividade (ROCHA, 2007).

A responsabilidade da pessoa jurídica não exclui a da pessoa física autoras,


coautoras ou partícipes de mesmo fato delituosos, na medida em que, por si só, a
empresa não comete crime. São condicionantes para a responsabilidade penal da
pessoa jurídica: que a infração tenha sido cometida em seu interesse ou benefício e
por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu colegiado.

A lei nº 9.605/98 erigiu a desconsideração da personalidade da pessoa


jurídica como preceito básico, donde se conclui que há possibilidade de
responsabilização criminal tanto da pessoa jurídica de direito privado, quanto da de
direito público, sempre que tal personalidade for obstáculo ao ressarcimento dos
prejuízos causados ao meio ambiente.

5 – Sujeito passivo

O sujeito passivo do crime ambiental é o titular do bem jurídico lesado ou


ameaçado de lesão pela conduta criminosa, ou seja, a coletividade, por ser o bem
ou interesse tutelado considerado de uso comum do povo.

Não é impossível que, indiretamente, pessoas certas e determinadas sejam


também lesadas ou ameaçadas em seus bens jurídicos em face de aspectos
peculiares do dano, podendo também ser sujeitos passivos.

6 – Sanções penais

As penas previstas para as infrações ambientais acompanham a moldura do


direito penal tradicional: privativas de liberdade, restritivas de direitos e multa, sendo
preferencialmente aplicadas estas duas últimas, conquanto a finalidade seja dúplice:
suportar o dano e pagar a conta do prejuízo.

As penas privativas de liberdade, ainda que não preferenciais, são a reclusão,


a detenção e a prisão simples, ressalvando-se a aplicação dos institutos da

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transação penal e da suspensão condicional do processo, previstos na Lei nº


9.099/95.

As penas restritivas de direitos previstas na Lei nº 9.605/98 serão aplicadas


em substituição às privativas de liberdade, tendo a mesma duração, conforme a
regra geral do CP, podendo ser convertidas em privativas de liberdade, caso haja
descumprimento injustificado da restrição imposta ou de superveniente condenação
à outras penas privativa de liberdade, mesmo que por outro delito.

A pena de multa, instrumento tradicional de retribuição, pode, revelar-se


ineficaz, ser aumentada até três vezes o valor máximo, tendo em vista o valor da
vantagem econômica obtida pelo infrator.

As penas aplicáveis às pessoas jurídicas são multa, onde se aplica a regra


geral do CP; restritivas de direitos, que pode ser a suspensão parcial ou total das
atividades, interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade e proibição
de contratar com o poder público, e prestação de serviços à comunidade,
consistente no custeio e manutenção de programas e projetos ambientais,
recuperação de áreas degradadas e contribuições a entidades ambientais ou
culturais públicas.

Existem circunstâncias atenuantes e agravantes para a aplicação das penas


previstas na Lei nº 9.605/98, as quais são específicas (arts. 14 e 15), assim como as
causas de diminuição e aumento de pena (art. 58).

As causas excludentes de ilicitude são as mesmas previstas no art. 23, do


CP, ou seja, o estado de necessidade, a legítima defesa e o estrito cumprimento do
dever legal (ROCHA, 2007).

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UNIDADE 6 – MEIOS PROCESSUAIS DE PROTEÇÃO


AMBIENTAL

O dano ambiental necessariamente precisa ser reparado. Geralmente ocorre


a reparação ou pela via administrativas (poder de polícia e processo administrativo
punitivo) ou pela via judicial (ações).

O Direito Ambiental comporta ações cíveis, Constitucionais, Penais e também


descritas em leis especiais.

Ação penal ambiental

Ação penal ambiental é pública incondicionada, sendo necessariamente o


autor o Ministério Público, cabendo ação privada nos casos em que não for
intentada no prazo legal. O processo segue as normas do Código de Processo legal.

Ações cíveis

As ações cíveis em direito ambiental são cabíveis na reparação dos danos


causados ao meio ambiente originados da responsabilidade objetiva. A parte
legítima para intentar é especificamente aquele que sofreu prejuízo pela ação ou
omissão do infrator. O processo segue as normas do Código de Processo Civil.

Ação Civil Pública

A lei nº 7.347/85, conhecida como a Lei da Ação civil pública, foi recepcionada
pela Constituição Federal de 1988 (art.129, III) e prevê a proteção do patrimônio
público e social e do meio ambiente. As pessoas jurídicas estatais, autárquicas e
paraestatais, associações civis e o Ministério Público configuram como parte legítima
para propor Ação Civil Pública. O pedido da ação deve conter condenação em
dinheiro ou cumprimento da obrigação de fazer ou de não fazer algo frente, no caso,
ao dano ecológico causado.

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Vale dizer que na defesa do ambiente a Ação Civil Pública é considerada um


dos instrumentos mais adequados para reprimir danos ambientais, inclusive,
prevendo a lei nº 7347/85 tutela cautelar com possibilidade de concessão de medida
liminar com ou sem justificação prévia

Ação popular

De acordo com art. 5º, LXXII, todo cidadão pode propor ação popular visando
anular ato lesivo ao patrimônio ao meio ambiente, ao patrimônio histórico e cultural.
Essa ação é regulada pela Lei nº 4.717 de 29.06.65.

O pedido da ação deve conter pagamento para reparação por perdas e danos
e/ou reposição do bem ambiental lesado ao estado que se encontrava antes da
lesão, cabendo também pedido de liminar.

Mandado de segurança coletivo

Os partidos políticos com representação no Congresso Nacional, organização


sindical, entidade de classe ou associado legalmente constituída e em
funcionamento a pelo menos um ano pode impetrar mandado de segurança coletivo
na defesa de seus associados, conforme art. 5º, LXX da Constituição Federal.
Assim, as instituições que tenham nas suas finalidades institucionais a defesa do
meio ambiente podem impetrar mandado de segurança coletivo com tal objeto.

O Direito Penal Ambiental adotou as sanções clássicas do Direito Penal


comum, que são as penas privativas de liberdade e a pena de multa, reguladas pelo
Código Penal e pela Lei de Execução Penal.

Na maioria dos crimes ecológicos é cominada a pena de reclusão; a de


detenção é menos frequente, e a pena de multa é alternativa ou cumulativa com a
de privação de liberdade. Num único caso, estabelecido na Lei das Contravenções
Penais, a punição é somente pecuniária, preferindo o legislador deixá-la para a área
administrativa, onde exerce o predomínio.

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Não foram acolhidas as medidas alternativas da prisão, hoje em voga no


Direito Penal Comum sob a forma de penas restritivas de direitos. Estas, como
penas principais, consistem em: prestação de serviços à comunidade, interdição
temporária de direitos e limitação de fim de semana.

Todavia, apenas uma das modalidades da interdição de direitos seria, em


princípio, condizente com a natureza das infrações ecológicas: a proibição do
exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de
licença ou autorização do Poder Público. A sua aplicabilidade porém é limitada,
segundo o art. 56 do Código Penal, aos casos em que houver abuso no exercício da
atividade ou com infração de dever a ela inerente.

As penas privativas de liberdade costumam ser bastante criticadas pelos


efeitos deletérios que a prisão exerce sobre o condenado, e pela ineficácia para
conseguir a readaptação social do criminoso. Deve-se porém ter em conta que o
Direito Penal Ambiental tem uma função subsidiária, se comparado com a
regulamentação administrativa das questões ecológicas, devendo intervir apenas
nos casos mais graves, de dano ou perigo para os bens ambientais. Por isso
justifica-se maior severidade, já que somente chegarão à Justiça penal os casos
mais graves, que exigem maior rigor na repressão para que se alcance os desejados
efeitos da prevenção geral e especial contidos na norma.

Maior relevo, porém, poderia ser dado à pena de multa como sanção penal
para os crimes ecológicos. Deveria ela significar realmente um ônus, que
desencoraje o agente e outros prováveis infratores à prática das condutas proibidas;
somente assim funcionaria como eficaz alternativa à pena de prisão, podendo ser
aplicada como pena única (FERREIRA JR, 2011).

As normas penais ambientais são encontradas tanto no próprio Código Penal,


como em leis extravagantes, as quais visam promover a tutela legal. Tal tutela é
mais facilmente alcançada através das leis extravagantes, pois são mais recentes e
já se enquadram à realidade atual, ao contrário do Código, que já se faz
ultrapassado, em alguns pontos.

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Porém, a legislação penal especial não está totalmente desvinculada dos


princípios gerais do Direito penal, valendo tal regra também para as contravenções
penais.

Como estão subordinadas aos princípios gerais do Direito Penal, as sanções


aplicáveis às infrações ambientais também acolherão as penas previstas no velho
Código, quais sejam, a privativa de liberdade (reclusão e detenção), restritiva de
direitos e multa.

Para as contravenções previstas na legislação penal ambiental, a pena


privativa de liberdade a ser aplicada será a de prisão simples, cumprida em rigor
penitenciário, em estabelecimento especial, ou seção especial de prisão comum, em
regime aberto ou semi-aberto, como reza o art. 6º da Lei das Contravenções Penais.
Já as penas restritivas de direitos limitam-se à prestação de serviços à comunidade,
interdição temporária de direitos e limitação de fins de semana. Contudo, na área
ambiental as medidas alternativas, como a interdição de direitos pode ser aplicada
de forma muito mais ampla.

A pena de multa também pode ser largamente aplicada e deve ser


individualizada para que se evite injustiças, mas fixado o seu quantum de acordo
com as condições econômicas do infrator (ROCHA, 2007).

6.1 Meios processuais de proteção ambiental

Inquérito e ação civil pública

O inquérito civil público visa realizar atividades investigativas preparatórias


para eventual proposição de ação civil pública. Não está submetido aos princípios da
ampla defesa e do contraditório, porque não se trata de processo administrativo
destinado à aplicação de pena ou sanção, mas de mero procedimento voltado à
apuração de fatos a embasar eventual ação judicial.

É função institucional exclusiva do Ministério Público cujo pressuposto é a


existência de fato determinado, razão pela qual também pode instruir a ação penal,

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dispensando-se a instauração de inquérito policial. Há, contudo, vários co-


legitimados para a instauração da ação civil pública.

É procedimento de tríplice função:

 preventivo, com o compromisso de ajustamento de conduta;

 reparatório, porque enseja a colheita de elementos necessários à propositura


da ação civil pública por dano causado ao meio ambiente; e,

 repressivo, quando se presta ao ajuizamento de ação penal.

A instauração do inquérito civil público se dá por meio de portaria, por


despacho admitindo representação ou por determinação do Procurador Geral de
Justiça ou do Conselho Superior do Ministério Público e o prazo obedecerá à
legislação local. A conclusão se dá por meio da proposição da ação civil pública ou
arquivamento, cujo pedido deve ser remetido ao Conselho Superior do Ministério
Público, que pode ou não concordar com o mesmo.

O compromisso de ajustamento de conduta é marca da mitigação do princípio


da indisponibilidade dos interesses e direitos transindividuais, adequado ao
ordenamento pátrio como forma de prevenção ou finalização de litígios, com a
integral reparação do dano, dada à natureza indisponível do direito violado.

Cumpridas as obrigações avençadas, serão as mesmas consideradas


extintas, desaparecendo o interesse de agir dos legitimados a propor a ação civil
pública.

A ação civil pública foi inserida com esta denominação no ordenamento pátrio
a partir da vigência da Lei nº 7.347/85, como instrumento de defesa de interesses
transindividuais relativos ao meio ambiente, consumidores e do patrimônio artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico. A origem da ação civil pública ambiental,
no entanto, está na Lei nº 6.938/81.

Com a Carta de 1988, o instituto ganhou fôlego constitucional, e, por isso


mesmo, sua natureza é especialíssima, posto que não é direito subjetivo, mas direito
atribuído a entes públicos e privados para a tutela de interesses não individuais.

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Seu principal objetivo é fazer atuar a função jurisdicional em favor da tutela de


interesses vitais da comunidade, constituindo-se, portanto, em poder-dever de agir
dos legitimados, especialmente o Ministério Público.

Admite-se o litisconsórcio ativo, inclusive entre Ministérios Públicos da União


e Estados, e passivo.

É competente para a ação civil pública o foro do lugar onde ocorreu ou deva
ocorrer o dano e o rito processual, pode ser tanto o ordinário como o sumário,
podendo ser precedida de medida cautelar.

Inquérito e ação penal pública

O inquérito policial, como procedimento extrajudicial inquisitório prévio,


processa-se na forma prevista no Código de Processo Penal (CPP), destinando-se a
fundamentar a denúncia, já que a ação penal em matéria ambiental é sempre
pública incondicionada. Pode ser dispensado nos casos já previstos na lei penal
adjetiva e, ainda, se o inquérito civil contiver os elementos necessários à propositura
da ação penal.

Quanto à ação penal pública, inobstante a titularidade exclusiva do Ministério


Público, cabe a medida de forma subsidiária em caso de inércia de tal órgão.

O foro competente para a ação penal é o do lugar em que se consumar a


infração ou, no caso de tentativa, do lugar em que foi praticado o último ato de
execução. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á
pelo foro do domicílio do réu.

Com relação à competência ratione materiae, a Justiça Estadual a terá nos


casos de crimes e contravenções perpetrados contra o meio ambiente que não
atinjam bens e interesses da União, conforme a regra do art. 109, da Constituição
Federal que trata da competência Justiça Federal.

O rito processual é o ordinário, para os crimes apenados com reclusão, ou o


sumário, para os apenados com detenção. Se a parte ré for pessoa jurídica, o rito
será sempre o mais amplo, ou seja, o ordinário.

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Nas infrações penais de menor potencial ofensivo segue-se o rito especial da


Lei nº 9.099/95.

Ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo

Tem por objeto a declaração, em abstrato, da inconstitucionalidade de lei ou


ato normativo, com a consequente retirada da lei declarada inconstitucional do
mundo jurídico por intermédio de eficácia ergaomnes da coisa julgada.

Ação popular constitucional

É remédio jurídico constitucional destinado a fazer de todo cidadão um fiscal


do bem comum, o qual pode reclamar um provimento judicial que declare nulos atos
do poder público lesivos ao patrimônio público.

Mandado de segurança coletivo

É instrumento que serve à tutela dos direitos subjetivos e interesses coletivos


e difusos, relacionados à qualidade de vida, dentre os quais o meio ambiente é um
dos mais expressivos.

Mandado de injunção

É instituto pelo qual a pessoa, física ou jurídica, nacional ou estrangeira, titular


de um direito, uma liberdade ou uma prerrogativa constitucional, que faça prova de
não tê-los exercido por falta de instrumento regulamentador, o que é extremamente
alvissareiro para os casos relacionados ao meio ambiente, face à pequena
quantidade de normas regulamentadoras que tornam inviável a tutela dos interesses
a ele relativos.

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Ações civis tradicionais

Servem ainda à tutela ambiental, além dos instrumentos processuais


mencionados, a ação de responsabilidade civil, em caso de ilícito comum; a ação
cominatória, nos conflitos de vizinhança, para impedir que o mau uso da propriedade
vizinha prejudique a segurança, o sossego ou a saúde dos que a habita; a ação de
nunciação de obra nova, para impedir construção contrária à lei, ao regulamento ou
à postura (ROCHA, 2007).

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REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS BÁSICAS

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FERREIRA Jr, Valter Otaviano da Costa. Direito Ambiental: resumo dos tópicos mais
importantes para concursos públicos. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo: Método,
2011.

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Paulo: Saraiva, 2003.

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