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A ELABORAÇÃO DE LAUDOS EM PERÍCIAS AMBIENTAIS

ALMEIDA, Denise Minte de 1


SOUZA, Cinthia Raquel de 2

RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de apresentar aos profissionais na área ambiental que
desejam ter uma mínima referência na elaboração de um parecer técnico ou de um
laudo pericial judicial ambiental. Visa pontuar as principais e essenciais
características de um parecer técnico ou de laudo pericial ambiental que deve ser
encaminhado ao juiz requerente pois há muitos peritos e assistentes técnicos que
ainda carecem de formatação e clareza de dados em seus respectivos laudos e
pareceres técnicos, sendo esta área ainda carente de informações e de profissionais
qualificados. O texto foi estruturado de modo a apresentar uma breve explicação dos
termos do meio ambiente e seu histórico, bem como, características essenciais de
laudos periciais e seu desenvolvimento. Foram realizados estudos de diferentes
laudos de profissionais com grande experiência na área judicial e de informações
sobre o que os juízes prezam em laudos de acordo com a bibliografia encontrada na
área judicial.

Palavras-chave: Perícia Ambiental. Perito Ambiental. Perícia Judicial. Laudo


Ambiental. Laudo Pericial.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente as questões ligadas ao Meio Ambiente são preocupações de


todas as pessoas, governos, empresas e áreas do conhecimento científico. Essas
preocupações são justificadas pela degradação que a ação humana vem causando
no ecossistema.

1
Aluna pós-graduanda em Perícias e Auditorias Ambientais pela Univirtus de Curitiba no Paraná.
Graduada em Engenharia Elétrica pela Universidade de Santa Cecília dos Bandeirantes de Santos
em São Paulo. Pós-Graduanda em Engenharia Legal pela mesma instituição e graduanda no MBA de
Gestão em Projetos pela UnYleYa de Brasília, DF.

2
Professora Orientadora formada em Química pela Universidade Federal do Paraná, Mestre em
Química Orgânica pela mesma instituição.
2

A ação humana através de sua atuação isolada ou como representante de


uma entidade no processo de produção, de lazer ou de vandalismo tem degradado
de maneira espantosa o meio ambiente.
Paralelamente a esse levantamento de questões e aos impactos ambientais
dessas degradações, o homem preocupado com a natureza e o seu bem-estar vem
desenvolvendo leis e ações para se evitar ou diminuir os danos causados por ele
mesmo.
Com o aprimoramento das leis no setor ambiental, cria-se processos
ambientais em que a natureza é estudada e avaliada, sendo um objeto muito
importante para experimentos e estudos científicos. Para a verificação e
comprovação de danos causados à um ecossistema há um parecer técnico, que
nada mais é do que um relato detalhado de todo esse processo de degradação
ambiental ocorrido em certo habitat.
Assim, ainda não foram criados parâmetros certos para esses pareceres
técnicos que, quando feito por um perito, denomina-se laudo pericial. Neste trabalho
apresenta-se uma análise de parâmetros de bom discernimento para a elaboração
desses documentos de tamanha importância, detalhamento e complexidade na
informação.

2 PERÍCIAS AMBIENTAIS

2.1 HISTÓRICO DO CONCEITO AMBIENTAL

Os diversos ramos da ciência desenvolveram terminologia própria,


procurando dar às palavras um significado o mais exato possível, eliminar
ambiguidades e reduzir a margem para interpretações de significado. A gestão
ambiental, ao contrário, utiliza vários termos do vocabulário comum. Palavras como
“impacto”, “avaliação” e mesmo a própria palavra “ambiente” ou o termo “meio
ambiente” não foram cunhadas propositalmente para expressar algum conceito
preciso, mas apropriadas do vernáculo, e fazem parte do jargão dos profissionais
desse campo. Por essa razão, é preciso estabelecer, com a maior clareza possível,
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o que se entende por expressões como “impacto ambiental” e “degradação


ambiental”, entre outras.
Uma visão histórica sobre o entendimento coletivo da problemática da
degradação ambiental constará a grande diferença conceitual entre “impacto
ambiental” e “poluição”, termo bem incorporado ao linguajar contemporâneo. A partir
da década de 1950, a palavra “poluição” passou a ser bastante difundida, primeiro,
no meio acadêmico e, em seguida, pela imprensa. Foi incorporada a uma série de
leis que estabeleceram condições e limites para a emissão e presença de diversas
substâncias nocivas – chamadas de “poluentes” – nos diversos compartimentos
ambientais. Durante algum tempo, a idéia de “poluição” dominou o debate sobre
temos ambientais, mas a complexidade dos problemas de meio ambiente mostrou
que esse conceito era insuficiente para dar conta de inúmeras situações. Foi quando
se consolidou a idéia de “impacto ambiental”, ao longo dos anos 1970.
O próprio conceito de “ambiente” admite múltiplas acepções, que serão
exploradas antes de se buscar conceituar “impacto ambiental”. A questão ambiental
diz respeito ao meio natural, como também, ao meio de vida dos seres humanos,
por isso quando se diz que determinado projeto não é viável ou aceitável
ambientalmente, deve-se especificar a qual ambiente está se referindo; bem como,
quem afirma que tal resíduo industrial não representa um risco ambiental, também
deve referir-se ao ambiente ao qual se está estudando.

2.2 AMBIENTE

O conceito de “ambiente”, no campo do planejamento e gestão ambiental, é


amplo, multifacetado e maleável. Amplo porque pode incluir tanto a natureza como a
sociedade. Multifacetado porque pode ser apreendido sob diferentes perspectivas.
Maleável porque, ao ser amplo e multifacetado, pode ser reduzido ou ampliado de
acordo com as necessidades do analista ou os interesses dos envolvidos.
Muitos livros-texto de ciência ambiental sabiamente passam longe de
qualquer tentativa de definição do termo. Envolver-se em insolúveis controvérsias
filosóficas e epistemológicas ou em ásperas discussões sobre campos de
competências profissionais pode ser a sina de quem se arrisca nessa área. Mesmo
assim, não são poucos os que o fizeram, desde anônimos assessores
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parlamentares, redatores de projetos de lei, até renomados cientistas. Conceituar o


termo “ambiente” está longe de ser somente relevância acadêmica ou teórica. O
entendimento amplo ou restrito do conceito determina o alcance de políticas
públicas, de ações empresariais e de iniciativas da sociedade civil. No campo de
avaliação de impacto ambiental, define-se a abrangência dos estudos ambientais,
das medidas mitigadoras ou compensatórias, dos planos e programas de gestão
ambiental.
Nesse sentido, a interpretação legal do conceito de “ambiente” é determinante
na definição do alcance dos instrumentos de planejamento e gestão ambiental. Em
muitas jurisdições, os estudos de impacto ambiental não são, na prática, limitados às
repercussões físicas e ecológicas dos projetos de desenvolvimento, mas incluem
também suas consequências nos planos econômico, social e cultural. Tal
entendimento faz bastante sentido quando se pensa que as repercussões de um
projeto podem ir além de suas consequências ecológicas. Uma barragem que afete
os movimentos migratórios de peixes poderá causar uma redução do estoque de
espécies consumidas por populações humanas locais ou capturadas para fins
comerciais. Isso certamente terá implicações para as comunidades humanas, seu
modo de vida ou sua capacidade de obter renda. Trata-se, claramente, de impactos
sociais e econômicos que não deveriam ser ignorados ou menosprezados em um
estudo ambiental dessa barragem.
Na legislação brasileira, meio ambiente é “o conjunto de condições, leis,
influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e
rege a vida em todas as suas formas”, de acordo com a Lei Federal nº 6.938, de 31
de agosto de 1981, art. 3º, inciso “I”. Definições legais muitas vezes acabam por se
revelar tautológicas ou, então, incompletas, a ponto do termo nem mesmo ser
definido em muitas leis, deixando eventuais questionamentos para a interpretação
dos tribunais. O caráter múltiplo do conceito de ambiente não só permite diferentes
interpretações, como se reflete em uma variedade de termos correlatos ao de meio
ambiente, oriundos de distintas disciplinas e cunhados em diferentes momentos
históricos. O desenvolvimento da ciência levou a um conhecimento cada vez mais
profundo da natureza, mas também produziu uma grande especialização não
somente dos cientistas, mas também dos profissionais formados nas universidades.
Por essa razão, o campo de trabalho do planejamento e gestão ambiental requer
equipes multidisciplinares (além de profissionais capazes de integrar as
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contribuições dos vários especialistas). As contribuições especializadas aos estudos


ambientais são muitas vezes divididas em três grandes grupos, referidos como o
meio físico, o meio biótico e o meio antrópico, cada um deles agrupando o
conhecimento de diversas disciplinas afins.
Por um lado, ambiente é o meio de onde a sociedade extrai os recursos
essenciais à sobrevivência e os recursos demandados pelo processo de
desenvolvimento socioeconômico. Esses recursos são geralmente denominados
naturais. Por outro lado, o ambiente é também o meio de vida, de cuja integridade
depende a manutenção de funções ecológicas essenciais à vida. Desse modo,
emergiu o conceito de recurso ambiental, que se refere não mais somente à
capacidade da natureza de fornecer recursos físicos, mas também de prover
serviços e desempenhar funções de suporte à vida.
Até a primeira metade do século XX era quase universal o uso do termo
recurso natural. Desenvolveram-se disciplinas especializadas, como a Geografia dos
Recursos Naturais e a Economia dos Recursos Naturais. Implícita nesse conceito
está uma concepção da natureza como fornecedora de bens. No entanto, a sobre-
exploração dos recursos naturais desencadeia diversos processos de degradação
ambiental, afetando a própria capacidade da natureza de prover os serviços e
funções essenciais à vida.

2.3 O DIREITO AMBIENTAL

Didaticamente o estudo do Direito pode ser dividido em duas grandes áreas: o


público e o privado. O primeiro trata de uma gama de direitos comuns aos cidadãos
enquanto o segundo, dos direitos particulares do cidadão. No direito privado,
a propriedade é o principal instituto e no direito público, o bem-estar comum. O
Direito Ambiental por sua vez caracteriza-se por pertencer a uma pluralidade de
sujeitos não identificáveis, mas que pode ser exercido a qualquer tempo. Acima de
qualquer interesse está o da sociedade, é o que chamamos de Direito Difuso. O
Direito existe pelo homem e para o homem. Desta forma, todo o disciplinamento
intentado pelo legislador no âmbito de resguardar recursos naturais, vivos ou não,
deve ser feito, através da lente da equidade social. Enfim, é preciso que saibamos
os diversos aspectos, ou os vários sentidos, em que se fala de Direito Ambiental.
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Um dos aspectos é o do meio ambiente propriamente dito, isto é, dos recursos


naturais existentes (ar, água, flora, fauna, etc.). Outro aspecto é o do ambiente
criado pelo homem, isto é, o ambiente eminentemente humano tais como praças,
ruas, edifícios, obras, etc. Por último o ambiente do trabalho, onde aspectos
relacionados como iluminação, ventilação, ruídos, temperatura, dentre outros são
importantes.

2.3.1 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Admitir-se que existe um Direito Ambiental exige, no mínimo, que se


conceitue os princípios norteadores da aplicação da legislação ambiental como:
 Princípio da Prevenção ou Precaução: Este é o maior e mais importante
ordenamento jurídico ambiental, considerando que a prevenção é o grande
objetivo de todas as normas ambientais, uma vez que, desequilibrado o meio
ambiente a reparação é na maior parte das vezes uma tarefa difícil e
dispendiosa.
 Princípio da Cooperação: Significa dizer que todos, o estado e a sociedade,
através de seus organismos, devem colaborar para a implementação da
legislação ambiental, pois não é só papel do governo ou das autoridades,
mas de toda a população.
 Princípio da Publicidade e da Participação Popular: Importa afirmar que não
se admite segredos em questões ambientais, pois afetam a vida de todos.
Tudo deve ser feito, principalmente pelo Poder Público, com a maior
transparência possível, e de modo a permitir a participação na discussão dos
projetos e problemas dos cidadãos de um modo geral.
 Princípio do Poluidor-pagador: Apesar de um princípio lógico, pois quem
estraga deve consertar, infelizmente ainda não é bem aceito na prática,
ficando para o Estado esta obrigação de recuperar e para a sociedade o
prejuízo, e para o mal empreendedor somente o lucro. 
 Princípio In dúbio pro natura: É uma regra fundamental da legislação
ambiental, que leva para a preponderância do interesse maior da sociedade
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em detrimento do interesse individual e menor do empreendedor ou de um


dado projeto.

2.3.2 MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A Constituição de um país é a sua Lei Maior. O Direito Ambiental que integra


o Sistema Jurídico Nacional se apoia na Carta Magna. O Legislador Constituinte de
1988 dedicou especial atenção ao tema, reservando um capítulo da constituição,
para tratar do meio ambiente. O Capítulo VI do Título VIII, no art. 225, cuja
transcrição é obrigatória diz: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações”. O termo Todos significa que qualquer
pessoa é sujeito de direitos relacionados ao meio ambiente. Na linguagem jurídica o
bem de uso comum abrange todos os bens (tudo que possa ser valorado) que não
pertencem a ninguém especificamente, entretanto, que possam ser utilizados por
qualquer um, a qualquer tempo, sem qualquer ônus (como por exemplo: água, ar,
luz solar, etc). O sentido da qualidade de vida é amplo e abrange todos os aspectos
da vida humana, tais como transporte coletivo, segurança pública, comunicações,
hospitais, lazer, habitação, enfim, tudo o que possa conduzir a um nível de bem-
estar do cidadão. A responsabilidade pelo meio ambiente ecologicamente
equilibrado não está restrita ao Poder Público constituído. O termo preservar para
gerações futuras está associado ao desenvolvimento sustentável.

2.4 LAUDO TÉCNICO

O laudo é o produto final da perícia, é uma história contada, limitadamente,


envolvendo os fatos que motivaram e deram andamento ao processo judicial,
somados às conclusões a que chegou o perito a respeito da matéria em que se
pautou. É plenamente recomendável que a história seja contada com início, meio e
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fim, sem se tornar extensa em demasia nem prolixa. É sabido que laudos extensos
correm o risco de não serem lidos.
O perito não deve se preocupar em apresentar um texto linguisticamente
impecável, objetivando quase a construção de uma narrativa literária. Se tentar fazê-
lo, é possível que lhe tome tempo de trabalho em excesso, o qual não foi previsto
nos honorários; além do mais, aumenta a probabilidade de insucesso quanto à
clareza do que foi escrito, podendo até obter, como resultado, um texto rebuscado
demais para o fácil entendimento do trabalho. Apropriada à escrita do laudo,
traduzindo de modo claro o conteúdo e utilizando-se de critérios legítimos para
expressar com consistência suas opiniões.
Laudos em que o perito se estende em exposições demasiadamente
científicas, saltando de técnica para técnica, sem que seja feito o relato do objeto
que envolve a perícia, começam a ser lidos pelos leigos, advogados e juízes, folha
após folha, sem que entendam o que está sendo dito. Inevitavelmente, lá adiante,
desistirão da leitura. Desse modo, recomenda-se atenção ao perito no sentido de
que tenha cuidado ao expor toda sua compreensão relativa ao assunto, de forma
simples, clara e bem fundamentada, no corpo do laudo.
Chama-se corpo do laudo o texto em que está escrito tudo o que não esteja
contido nos dados da folha de rosto, somado à transcrição ordenada dos quesitos e
suas respectivas respostas, assim como os anexos. Desse modo, no corpo do laudo
está o conteúdo de tudo aquilo que o perito encontrou sobre a perícia e entendeu
ser necessário fazer menção, acompanhado da conclusão a que chegou, citando e
explicando os fundamentos técnicos e científicos utilizados – na verdade, trata-se da
história contada pelo perito, abarcada e definida pelo termo laudo.
Quando for necessário, o perito fundamentar a sua tese, utilizando-se de
textos crivados de muita técnica, ele procurará colocar o escrito enfadonho como um
dos anexos, citando no corpo do laudo a sua localização entre os demais. A citação
da localização do anexo obriga-se a estar exatamente junto ao texto que discorre do
assunto em questão.
O laudo é uma prova no interior do processo, como são as afirmações das
testemunhas e documentos juntados aos autos. Um laudo prolixo, alargado em
apresentações, oferece razão de não ser utilizado no processo e, assim, deixar de
funcionar como prova.
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O laudo do perito é compelido a ser conclusivo, devendo ser evitada a


colocação de mais de uma tese ou ótica como adequadas ao entendimento dos
fatos. Isso porque tal procedimento poderá vir a confundir as partes e promover,
entre elas, debates desnecessários. Laudos que propiciam esse tipo de debate
possibilitam levar o processo a arrastar-se por largo tempo, acarretando prejuízos,
pelo menos, a uma das partes. O laudo necessita ser claro nas suas afirmações.
Formas obscuras ou pouco nítidas também levam as partes a fazerem defesas de
teses, que ficam muito além da realidade do caso que o perito pretendia expor. A
afirmação clara é tudo aquilo de que o juiz e o processo necessitam.
Laudos com apresentações vagas ou sem clareza revelam a falta de
segurança do perito. Tal situação é comum ocorrer com peritos que não conhecem a
prática e a rotina forense, assim como desconhecem a intenção predominante de
conclusividade – fator que orienta a finalidade do laudo. Conforme previamente
referido, considera-se que tais temas possuem dimensões pequenas, não são
extensos – aqui eles são abordados e bem-detalhados, com razoável facilidade e,
assim, são entendidos e assimilados.
O laudo há de ser conclusivo, sem receio de mostrar o causador dos fatos
que originaram danos ou prejuízos às partes, ou a uma única parte. Quando não se
sucede assim, há a probabilidade de o perito ser intimado a prestar esclarecimentos
a respeito do laudo em audiência, a pedido das partes. Na audiência, essas tiram
dúvidas sobre aquilo que o perito não apontou com precisão.
Devido ao laudo não ser esclarecedor ou ainda ser motivador de confusão no
que se refere ao fatos e coisas da perícia, as partes têm direito a impugnar o laudo,
requerendo a nomeação de um novo perito, a fim de que realize outra perícia. O juiz,
por julgar que o laudo não foi elucidativo, determinará nova perícia, mesmo que as
partes não a tenham requerido, o que pode prejudicar a reputação do perito.
O laudo deve ser escrito com a intenção de ser irrefutável e invulnerável às
contestações das partes, com o intuito de possibilitar seu uso como fundamentação
da sentença que será proferida pelo juiz. Para obter isso, é necessário ser
empregada a mais apropriada técnica disponível e explicada a sua base científica,
sendo, a todo o momento, conciso e esclarecedor de dúvidas.
O perito se preocupará em aclarar as dúvidas já existentes no processo, o
mesmo valendo para aquelas que, porventura, venham a surgir no decorrer da
leitura do laudo pelo leigo.
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Ao final do corpo do laudo, chega-se à conclusão. Recomenda-se ser ela o


menor resumo possível do laudo, para que não perca o nexo existente do que foi
escrito até ali. A conclusão deve ser exposta de forma perfeitamente clara e
inequívoca, com o propósito de tornar-se uma súmula a ser utilizada como
referência no texto da sentença. Os advogados das partes podem aproveitar trechos
do texto resumido como alusão em suas manifestações.
Em laudos complexos, as circunstâncias dos fatos e técnicas são postas à
vista segundo uma conformação de texto específica; já o pequeno trecho de texto da
conclusão que resume a perícia é escrito de maneira diferente, uma vez que
pretende ser sucinto. A diferença de redações será extremamente produtiva ao
leigo, pois, se houver a compreensão da conclusão, ele até terá condições de
absorver melhor o texto mais detalhado.
O perito tratará de estar sempre atento ao fato de se limitar a escrever apenas
assuntos técnicos e fatos acercado objeto da perícia, tendo o cuidado de não julgar,
acusar, defender, ou dissertar sobre matéria de direito em seu lado.

2.5 A ELABORAÇÃO DO LAUDO

Desde a instituição dos diplomas legais e com o advento da Lei dos Crimes
Ambientais (Lei nº 9.605/98), os tribunais dão conta de inúmeros processos movidos
pela coletividade, pelo Ministério Público, pelo Estado ou pelo particular no exercício
da proteção aos direitos individuais e coletivos na esfera do meio ambiente. O dano
ou a ameaça ao meio ambiente é o objeto principal destas lides. Nas ações judiciais
sobre o meio ambiente que se destaca a Perícia Ambiental. Prevista no Código de
Processo Civil (artigos 420 a 439 da Seção VII, Cap. VI – Das Provas), a prova
pericial é solicitada sempre que, na averiguação da verdade dos fatos, faz-se
necessária a atuação de profissionais com conhecimentos técnico-científicos
especializados. Na área ambiental as informações e documentos não bastam para
elucidar a lide, muitas vezes a averiguação da existência do fato danoso e dos
efeitos prejudiciais depende de prova eminentemente técnica que somente pode ser
produzida por profissionais especializados na área, é neste momento que se faz
necessário a perícia ambiental. A atividade pericial em meio ambiente é regida pelo
Código de Processo Civil, bem como as demais modalidades de perícias. E, em
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razão da especificidade das questões ambientais, esta atividade deve ser amparada
na Legislação Ambiental vigente no âmbito Federal, Estadual e Municipal.
O laudo de um perito deve ser objetivo, completo e conciso, restringindo-se
ao assunto da perícia, sem divagações, como já mencionado anteriormente. O laudo
pericial é o documento que apresenta os resultados da perícia ambiental. Não existe
um formato padrão para este tipo de documento, mas é recomendado por peritos
experientes, juízes e advogados que contenha, no mínimo, as seguintes
informações:
 Identificação do processo e solicitante da perícia;
 Identificação das partes envolvidas;
 Descrição do objeto da perícia;
 Apresentação da equipe de trabalho (perito e assistente técnico);
 Relação dos documentos e informações utilizados (fornecidos, leis e normas);
 Metodologia de trabalho adotada;
 Descrição do local da perícia;
 Data, hora e período de tempo das diligências;
 Descrição dos dados e informações disponíveis para fundamentar a análise e
as respostas dos quesitos da perícia em execução e as conclusões.
 Resultados e discussões
 Conclusões
 Identificação do perito ou assistente técnico, registro profissional, registro
geral, assinatura do profissional, data. Considerando que a perícia ambiental
está, geralmente, relacionada com impactos e danos causados ao meio
ambiente, não se pode deixar de considerar no trabalho a análise dos fatores
abióticos (clima, atmosfera, hidrologia, geologia, etc.), fatores bióticos (micro-
organismos, flora e fauna) e dos fatores socioeconômicos (cultura, religião,
nível social, raça, etc.). De um modo geral, o Perito Ambiental atua mais nos
fatores abióticos e bióticos, entretanto, em alguns casos, os fatores
socioeconômicos podem desempenhar papel preponderante.

2.5.1 SEQÜÊNCIA PARA CONFECÇÃO DE LAUDO DE PERÍCIA AMBIENTAL


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A sequência apresentada trata de uma sugestão de organização e


complexidade dos elementos importantes para a confecção de um laudo mais
completo possível. Para cada caso específico são importantes os itens mais
relacionados com o problema ambiental em estudo.

2.5.1.1 FOLHA DE ROSTO

Uma introdução contendo todos os dados do processo como número, vara,


juiz, requerido, requerente, e uma apresentação ao juiz como perito intitulado na
ação.

2.5.1.2 SUMÁRIO

Um índice com todos os itens e subitens para a fácil localização do leitor.

2.5.1.3 CONDIÇÕES PRELIMINARES

Um resumo da cronologia dos fatos e de todo o histórico do processo para


fácil entendimento do leitor.

2.5.1.4 OBJETIVO

Um breve relato do conflito ilustrado e responsabilizando o perito pela análise.

2.5.1.5 DA VISTORIA

Fazer um relato detalhado sobre as visitas no local e sobre a localização do


local em questão com detalhamentos, sempre que possível, como:
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 Localização da Área: Apresentar mapas da área em análise em escala


compatível indicando o local e vizinhança. Utilizar preferencialmente as
coordenadas geográficas em unidades técnicas métricas.
 Situação Legal da Área: Verificar se a área é pública ou privada, a qual
unidade da federação pertence e se é considerada uma área de proteção
ambiental. Descrever sucintamente a que se destina e qual o seu uso atual. 
 Clima: Realizar o levantamento climatológico regional (índice pluviométrico,
frequência, direção e intensidade do vento, umidade e temperatura
ambientes médias). 
 Recursos Hídricos: Inventariar os recursos hídricos superficiais e
subterrâneos e mapear os corpos d’água e mananciais. 
 Geologia e Morfologia do Solo: Descrever o perfil geológico do terreno e
relevo local, relacionar os recursos minerais e indicar a direção de fluxo do
lençol freático. 
 Solo: Mapear os solos, com considerações sobre a pedologia e a edafologia.
 Vegetação: Descrever e mapear as principais formas de vegetação. Listar
as plantas, principalmente, aquelas de interesse econômico. Constatar a
ocorrência de espécies raras ou endêmicas.
 Fauna e Ictiofáuna: Identificar principalmente os vertebrados e peixes, dando
ênfase às espécies endêmicas, raras, migratórias e cinergéticas.
 Ecossistema: Identificar e descrever os principais ecossistemas da área, nos
seus componentes abióticos e bióticos.
 Áreas de interesse histórico ou cultural: Listar e descrever locais de interesse
histórico, culturais e jazidas fossilificas num raio de 50 km.
 Área de Preservação: Constatar se o local descrito está inserido em
área protegida por lei (Parques, Estação Ecológica, Reserva Biológica, etc.).
 Infraestrutura: Descrever as infraestruturas existentes no local (núcleo
habitacional, telefonia, estrada, cooperativas, etc.).
 Atividades previstas, ocorridas ou existentes na área: Relatar as tecnologias
utilizadas nas fases de implementação e operação do empreendimento.
 Listar insumos e equipamentos, usualmente, empregados nas atividades.
 Uso atual da terra: Constatar o uso atual da terra, dar o percentual
utilizado pela agropecuária.
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 Uso atual da água: Constatar o uso da água, bem como obras de engenharia
(canal, dique, barragem, drenagem). Verificar se ocorrem fontes poluidoras.
 Avaliação da situação ecológica atual: Realizar o levantamento das ações
antrópicas anteriores e atuais, bem como relatar a situação da vegetação e
fauna nativas. Com os dados obtidos inferir sobre a estabilidade ecológica
dos ecossistemas da área.
 Avaliação socioeconômica: Analisar a situação socioeconômica da área,
através de uma metodologia compatível com a realidade regional.
 Impactos ecológicos: Listar e analisar os impactos ecológicos, levando em
consideração a saúde pública e a estabilidade dos ecossistemas
naturais, principalmente, aquelas localizadas em áreas protegidas por lei.
 Impactos socioeconômicos: Avaliar os impactos socioeconômicos da área,
levando em consideração os aspectos médicos e sanitários.

2.5.1.6 DA FUNDAMENTAÇÃO LEGAL

Apontar as leis ambientais envolvidas nas problemáticas investigadas ou


encontradas durante as diligências com um breve resumo de suas publicações.

2.5.1.7 METODOLOGIA

Descrever os pontos de coleta e seus resultados, bem como, os materiais e


métodos de avaliação utilizados.

2.5.1.8 RESULTADOS OBTIDOS

Descrever todos os resultados obtidos das coletas, a avaliação de impactos,


riscos e propostas de medidas mitigadoras, geralmente analisados em uma tabela
com pontuações de níveis de significância de todo o processo. E, se possível,
apontar:
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 Perspectivas da evolução ambiental da área: Inferir sobre qual seria a


evolução da área com ou sem o empreendimento.
 Alternativas tecnológicas e locacionais: Optar por alternativas menos
impactantes para o meio ambiente, em termos tecnológicos e locacionais.
 Recomendações para minimizar os impactos adversos e incrementar
os benéficos: Listar as recomendações específicas para minimizar os
impactos negativos e incrementar os benéficos.
 Recomendações para o monitoramento dos impactos ambientais adversos:
Desenvolver e implantar programas de biomonitoramento, de controle de
qualidade da água, de controle de erosão, etc.

2.5.1.9 REGISTROS FOTOGRÁFICOS

Registros com setas e legendas descrevendo pontos importantes a serem


ressaltados do processo, bem como, a vizinhança e os pontos de coleta. Sempre
datadas e com boa qualidade de imagem.

2.5.1.10 CONCLUSÃO

Ela deve ser elaborada de forma sucinta, mas sempre que possível,
conclusiva, abrangendo os aspectos ambientais anteriormente discutidos e os
resultados obtidos de uma maneira clara e direta.

2.5.1.11 QUESITOS

Apreciação dos quesitos: Como geralmente há quesitos formulados pelo


Promotor, advogados das partes, Juiz ou Delegado, neste subitem eles deverão ser
claramente discutidos e esclarecidos. Sempre com respostas sim ou não e uma
breve explicação em seguida, podendo ser mencionadas tabelas e fotos já
explicitadas no corpo do laudo.
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2.5.1.12 ENCERRAMENTO

Um encerramento breve relatando o número de folhas do laudo, local, data e


qualificações do profissional.

2.5.1.13 ANEXOS

Anexar tabelas, leis ou outro documento de valor que achar pertinente para
uma informação complementar ao que foi dito.

3 CONCLUSÃO

A função da perícia é prerrogativa do profissional Ambiental numa equipe


multidisciplinar formada por diversos profissionais em áreas distintas que o perito
designou necessária para a melhor análise do problema encontrado. Tem se
constituído em um permanente desafio aos profissionais face às inúmeras causas e
danos ambientais que ocorrem sem a própria consciência da população.
As pessoas físicas, órgãos públicos, empresas e organizações não
governamentais se interagem, dentro de um ambiente sistêmico e holístico, com o
meio ambiente das formas mais variadas. Em algum momento dessa relação é
possível que algum desses agentes acabem por poluir ou degradar o meio ambiente
e que, não somente no aspecto técnico jurídico, mas também no aspecto financeiro,
tem que arcar com a responsabilidade social da reparação do dano causado.
Fica evidenciado que a perícia ambiental não é uma função isolada, mas que
é necessária uma equipe multidisciplinar para a análise de todos os fatores
ambientais envolvidos, como biólogos, geólogos, topólogos, engenheiros
ambientais, e a área que for necessária.
Para essa análise rebuscada há um meio físico o qual o juiz necessita para
entender o que aconteceu no local do processo em questão, porque o juiz é leigo,
apenas entende de leis. Cabe aos profissionais de cada área passar seu
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conhecimento resumido e em palavras de fácil entendimento para uma equipe


chegar a conclusão das causas e consequências de forma clara e simples através
de laudos.
Assim, como não há um modelo específico de laudo para a apresentação do
juiz, foi feito um estudo e detalhamento de vários laudos e muitos aspectos que um
laudo ambiental deve conter para uma apresentação completa e satisfatória ao juiz
ou a qualquer pessoa. Ressaltando que essa seria uma forma de laudo mais
detalhado e bem visto aos olhos dos juízes pela organização e facilidade da leitura,
mas não há um modelo correto e fixo a ser seguido ainda. Essa área ainda há de
melhorar e evoluir levando junto a forma de passar conhecimento e apresentar fatos
jurídicos a um nível diferente e mais aprimorado.

REFERÊNCIAS

CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA, no site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm;
10.11.2016, 23:00.

FIKER José, Avaliação de Imóveis Manual de Redação de Laudos, Pini, 2ª edição,


São Paulo, 2014.

JULIANO, Rui, Apostila Curso Perícias Judiciais, Rio Grande do Sul, 2014.

LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS, no site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm; 10.11.2016, 23:00.

NEGRA, Elizabete Marinho Serra, Trabalho Perícia Contábil Ambiental, Minas


Gerais, 2001.

NETO, Georges Kaskantis, Apostila de Perícia Ambiental, Paraná, 2005 no site:


https://pt.scribd.com/doc/19494889/Apostila-Pericia-Ambienta; 16.10.2016, 22:00.

SÁNCHEZ, Luis Enrique, Avaliação de Impacto ambiental conceitos e métodos,


Oficina de textos, 2ª edição, São Paulo, 2013.
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