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CRIMES AMBIENTAIS:
A perícia ambiental como ferramenta de investigação

Carlos Eduardo Tavares Orosco1

RESUMO

Compreendendo os danos sociais, econômicos e ambientais causados pela


exploração descontrolada e insustentável dos recursos naturais, o mundo
estabelece regras de convívio entre homem e o ambiente natural, de modo que cada
país define ruas regras de convivência e suas interpretações de crime ambiental.
Neste sentido, aqui no Brasil, a perícia ambiental passa a ser compreendida como
uma ferramenta importante para que se reduza ou que se controle o excesso de
exploração insustentável ao meio ambiente, servindo ainda como uma prova cabal
para os processos judiciais que envolvem este tipo de crime. Frente ao exposto, o
presente trabalho focou seu objetivo geral compreender a atuação e os
procedimentos dos peritos judiciais em caso de acidente ou tragédia ambiental.
Considerando os objetivos propostos para o presente projeto, os procedimentos
metodológicos definem-se por uma pesquisa qualitativa, aplicada e descritiva,
utilizando-se do procedimento de uma pesquisa bibliográfica, realizada a partir do
levantamento de referências publicadas em fontes digitais ou impressas, como
livros; artigos científicos; teses e dissertações, além de sites oficiais do Governo ou
de instituições privadas ou não governamentais. A partir da revisão de literatura
realizada foi possível observar que a perícia ambiental é uma importante prova para
se determinar a culpabilidade de crimes ambientais.

Palavras-chave: crime ambiental, perícia ambiental, direto ambiental.

ENVIRONMENTAL CRIMES:
Environmental expertise as a research tool

ABSTRACT

Understanding the social, economic and environmental damage caused by the


uncontrolled and unsustainable exploitation of natural resources, the world
establishes rules for coexistence between man and the natural environment, so that
each country defines its rules of coexistence and its interpretations of environmental
crime. In this sense, here in Brazil, environmental expertise comes to be understood
as an important tool to reduce or control the excess of unsustainable exploitation of
the environment, also serving as a clear proof for the legal proceedings that involve
this type of crime. In view of the above, the present work focused on its general
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Acadêmico do curso de Direito. E-mail: [escrever seu e-mail]
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objective to understand the performance and procedures of judicial experts in the


event of an accident or environmental tragedy. Considering the proposed objectives
for the present project, the methodological procedures are defined by a qualitative,
applied and descriptive research, using the procedure of a bibliographic research,
carried out from the survey of published references in digital or printed sources, such
as books; scientific articles; theses and dissertations, as well as official websites of
the Government or private or non-governmental institutions. From the literature
review carried out, it was possible to observe that environmental expertise is an
important evidence to determine the culpability of environmental crimes.

Keywords: environmental crime, environmental expertise, environmental law.

1 INTRODUÇÃO

A se considerar a importância do ambiente natural para o equilíbrio social,


econômico e ambiental do planeta, faz-se cada vez mais que os recursos da
natureza sejam protegidos por Lei, de modo que as crescentes crises climáticas
possam ser enfim controladas, evitando-se assim o comprometimento das
populações animais (incluindo as populações humanas), vegetais, fúngicas,
microbiológicas (GARRIDO; RODRIGUES, 2017). Para os autores loc. cit., este
controle do equilíbrio ecossistêmico confere às gerações futuras condições básicas
de desenvolvimento e crescimento econômico e social.
Frente ao exposto, entende-se como papel primordial da perícia ambiental
prover a segurança de que os padrões de exploração ambiental sejam respeitados e
conduzidos dentro de um princípio sustentável, de modo que sujeitos que praticam
excessos na exploração dos recursos ambientais possam ser punidos e, com isso, a
sociedade como um todo possa ser beneficiada a partir de uma conscientização
sustentável (SILVA, 2018). Assim, de acordo com o autor loc. cit. cabe a esta perícia
ambiental cumprir os requisitos estabelecidos para a segurança ambiental, evitando
assim a impunidade sobre o dano ambiental ocorrido ou em risco de ocorrer.
Considerando tais colocações teóricas utilizadas para a delimitação do tema
deste trabalho, o presente artigo fora construído a partir do seguinte postulado:
como a perícia ambiental pode ser usada como ferramenta de investigação no
ambiente degradado?
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A partir deste postulado, se estabeleceu como hipótese do trabalho o fato de


que ao lidar com os danos ambientais, descobre-se que o comportamento e a
atitude das pessoas, por se tornarem parte influente do sistema, trazem a tendência
oposta de manter o equilíbrio do meio ambiente.
Pensando no exposto, traçou-se como objetivo geral deste trabalho
compreender a atuação e os procedimentos dos peritos judiciais em caso de
acidente ou tragédia ambiental. Este objetivo geral se limita pelos específicos: [i]
demonstrar como é as características dos danos ambientais; [ii] analisar as
instâncias da perícia ambiental; [iii] verificar a importância da perícia ambiental
utilizado em processos judiciais.
Considerando os objetivos propostos para o presente projeto, os
procedimentos metodológicos definem-se por uma pesquisa qualitativa, aplicada e
descritiva, utilizando-se do procedimento de uma pesquisa bibliográfica, realizada a
partir do levantamento de referências publicadas em fontes digitais ou impressas,
como livros; artigos científicos; teses e dissertações, além de sites oficiais do
Governo ou de instituições privadas ou não governamentais. A busca pelo material
bibliográfico materializou-se no Google Acadêmico e no Scielo, utilizando como
descritores a combinação de termos como crime ambiental, perícia ambiental, direito
ambiental.
Para critério de inclusão são considerados aqueles publicados em periódicos
nacionais ou internacionais, com publicação ocorrida entre os anos de 2012 até
2022, salvaguardando as publicações mais antigas de clássicos tradicionalmente
utilizados pela área de direito ambiental, para conceituação de um dado termo ou
aplicação do mesmo, bem como para exemplificação de Legislações que versam
sobre o tema. Ainda como critérios de inclusão considera-se apenas artigos; anais
de eventos; capítulos de livros; ou livros completos cuja obra apresenta claramente
a data de publicação e que estejam dentro da delimitação proposta do tema.
Já no que versa o critério de exclusão, desconsidera-se os artigos; os anais
de eventos; os capítulos de livros; ou os livros cuja abordagem teórica esteja
incompleta ou cuja data de publicação seja esteja claramente explicitada, uma vez
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que não é possível confirmar a delimitação do tema e a inclusão destas produções


no lapso temporal estabelecido como critério de inclusão.
Ainda como critério de exclusão foram desconsideradas as publicações cujo
lapso temporal de publicação esteja fora do período de 10 últimos anos (de 2012 a
2022) estabelecido para pesquisa, desde que esses não sejam clássicos que
versam o tema. A adoção desta exclusão é pautada na necessidade de se abordar
trabalhos cada vez mais atuais, haja vista a dinâmica da ciência que se mostra cada
vez mais veloz nos campos das publicações.
Tomando por base tal apresentação temática e metodológica, compreende-se
a importância de se pensar no ambiente natural tanto por intermédio de conotações
ecológicas, como pelo viés social, econômico e jurídico, de modo que as paisagens
natural e artificial possam enfim compartilhar um contexto único, permitindo a
exploração dos recursos naturais por parte dos homens, mas também a
manutenção, a preservação e a conservação dos mesmos para as gerações futuras.
Assim, considerando tais considerações autorais, compreende-se que o estudo e o
entendimento dos conceitos e dos procedimentos técnicos que envolvem o combate
aos danos ambientais é fundamental para se garantir qualidade de vida presente e
futura. Com isso, o presente artigo. se justifica, pois se entende que, de acordo com
a atual legislação brasileira, o trabalho do especialista em meio ambiente está se
tornando cada vez mais um profissional exigido no processo judicial.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O presente referencial teórico será apresentado partir de um contexto teórico,


conforme observado na seção de metodologia desta pesquisa, de modo eu seja
possível compreender não apenas os conceitos que norteiam este estudo, como
também o perfil econômico e de desenvolvimento do Brasil que versam sobre as
estratégias jurídicas para a garantir da preservação de espécies e conservação de
fragmentos, possibilitando, desta maneira, o desenvolvimento e o impulsionamento
do pensamento sustentável em território nacional.
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2.1 Dano ambiental

Considerado uma mercadoria pelos seres humanos, o ambiente natural foi


incluído nos ordenamentos jurídicos, de modo que fosse salvaguardada as
compreensões atuais sobre a necessidade de se estabelecer proteção dos recursos
finitos disponibilizados pela natureza (RAMBUSCH; BENDER, 2011). Neste sentido,
os autores loc. cit. ressalta que o planeta Terra atravessa uma grave crise climática,
decorrente de um comportamento indiscriminado e irrelevante dos seres humanos
sobre os recursos naturais, observados como mercadorias naturais por tais sujeitos,
e que pode afetar diretamente o bem-estar da população humana, em função de um
desequilíbrio ecossistêmico.
Neste sentido, Garrido e Rodrigues (2017) alertam para o fato de que o
crescimento econômico desde sempre esteve atrelado à degradação do ambiente
natural, mas que a partir do advento industrial e tecnológico este consumo
descontrolado dos recursos naturais tomou uma proporção ainda maior. De acordo
com os autores loc. cit., com a chegada da primeira Revolução Industrial no século
XVIII, quando o mundo passou a priorizar uma produção exacerbado das
mercadorias exclusivamente para fins econômicos, a visão da natureza como uma
mera mercadoria passou a se difundir rapidamente pelas sociedades modernas.
Ainda de acordo com os mesmos autores, à época, a compreensão da finitude de
muitos recursos parecia bastante remota, tanto pela sua composição natural da
época, como pela compreensão de mundo e de sociedade que se predominava.
Neste sentido, ainda de acordo com Garrido e Rodrigues (2017), o homem
passou explorar massivamente os recursos naturais, levando a um quadro atual de
desespero ambiental, em que tal uso não apenas é o responsável pela finitude de
muitos recursos, como também passa a ser citado como um dos fatores que
contribui para o desequilíbrio climático que tanto preocupa os cientistas e os
ambientalistas. Os autores loc. cit. ainda mencionam o uso irrestrito do combustível
fóssil (primeiro carvão, depois petróleo) para o desenvolvimento econômico, social, e
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industrial das populações como uma pressão negativa sobre os recursos naturais
(GARRIDO; RODRIGUES, 2017).
Moreira et al. (2022) corroboram com tal compreensão ao alertarem sobre os
impactos que práticas socioeconômicas atuais trazem para o ambiente natural:

No decorrer do estudo, observou-se que a ação do homem no ambiente não


é recente, desde o começo das práticas relacionadas à agricultura, já eram
evidentes a relação do homem com a natureza visando consumo para sua
sobrevivência. Dessa forma, as ações antrópicas evoluídas que se tornaram
excessivas e prejudiciais ao meio ambiente ao longo dos anos, ocasionaram
o aquecimento global e suas graves consequências ao planeta Terra
(MOREIRA et al., 2022, p. 26).

Frente ao exposto, o dano ambiental em si manifesta-se como fato físico,


podendo também estar relacionado com os fatos jurídicos considerados na norma e
seu incumprimento, sendo que o dano somente poderá ser considerado quando a
conduta for avaliada como ilegal no respectivo ordenamento jurídico (SILVA, 2018).
Para o autor loc. ci. deve haver uma regra para impedir uma atividade ou proteger
um bem ecológico, sendo que o ato de incorporar eventos ao texto normativo será
sempre influenciado pela atitude pessoal do intérprete (SILVA, 2018).
Magalhães Filho et al. (2021) destacam que o uso indevido da terra pode
gerar sérios danos ambientais, que podem causar não apenas o desequilíbrio
ecossistêmico como podem reduzir a qualidade de vida dos seres humanos,
levando, inclusiva a uma curva de extinção da espécie que pode ser irreversível
mesmo com todos os avanços científicos e tecnológicos sobre a proteção e
perpetuação da humanidade. Neste sentido, de acordo com os autores loc. cit., é
compreensível que o relevo tenha estabelecido pisos para uma população fixa,
desenvolvido suas atividades, e obtido o valor econômico e social que lhes é dado a
partir daí.
Ainda de acordo com Magalhães Filho et al. (2021) a evolução desta
integração entre homem e ambiente natural pode trazer tanto benefícios como riscos
para a perpetuação da espécie sendo que sua estabilidade também vem de sua
convergência evolutiva e sua possível interferência de outros componentes
ambientais ou do comportamento humano. Ferreira e De Chagas (2015) destacam
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para o fato de que ainda que os problemas ambientais sejam coletivos, os danos
ambientais podem ter caráter tanto individual como coletivamente.
Ainda de acordo com Ferreira e De Chagas (2015), um exemplo desta relação
coletiva e individual entre danos e problemas ambientais é facilmente explicada
quando há, a partir de um dado dano ambiental, o prejuízo de um grupo de pessoas
com patrimônio ou moral. Neste caso, de acordo com os autores loc. cit. o sistema
Legal prevê danos pessoais e a terceiros, sendo o comportamento individual
ambiental muito menos comum do que o comportamento coletivo.
Neste sentido, Cabreira et al. (2019) o problema do desenvolvimento social é
peculiar às sociedades de risco, diante da necessidade de reconstruir novos
modelos (não para negar os modelos tradicionais, mas para lhes dar novos
contornos) para que o direito possa responder com segurança e eficácia à
sociedade emergente- Política- necessidades econômicas, tendo em vista a
dignidade humana e uma assistência não afetada pelo meio ambiente.
Nesta direção de pensamento, Behrens (2015) discutir a assistência jurídica
ambiental não compreende apenas o combate à época destruição, mas inclui as
possibilidades e as necessidades da expansão de um pensamento sustentável que
venha reger a organização social e a racionalização da utilização dos recursos
naturais, salvaguardando o futuro da humanidade. Ainda segundo o autor loc. cit., o
desequilíbrio ecossistêmico sobre o qual tanto se falo e o qual a humanidade
percebe através do próprio aquecimento global, é uma condição multifatorial que
não envolve apenas a variável homem, mas também o próprio dinamismo terrestre
que inclui desde o aumento e redução da temperatura global, até a extinção natural
e artificial de espécies. Ainda de acordo com o mesmo autor, o meio ambiente é
uma combinação de subsídios naturais, artificiais e culturais, e fornece várias formas
de desenvolvimento pacífico da vida.
Nesta direção de pensamento, Galarraga (2019) corrobora com o supracitado
compreendendo as mudanças ambientais como um processo evolutivo estabelecido
por fatores naturais e antrópicos. De acordo com o autor loc. cit. o avanço
tecnológico e o desenvolvimento cultural exacerbaram tanto contribuem
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positivamente para o controle das ações destrutivas ao ambiente natural, como


exacerbam os danos ambientais colhidos por cada geração.

Para Moreira et al. (2022), justamente por esse conjunto de fatores que
envolve um dado dano ambiental, avaliar a sua extensão e seu real impacto para a
população humana pode ser uma tarefa bem difícil, já que os impactos gerados são
resultado tanto do dinamismo natural como da evolução cultural antrópica. Segundo
os autores loc. cit., ao passo que se compreende tal associação e fatores naturais e
artificiais na promoção de um dano ambiental, novas discussões Legais e de
ralações sociais passam a ser construídas.
Neste sentido, Botteon (2016) alerta para o fato de que o aquecimento global;
a extinção de espécies; e a perda de hábitats naturais mostram claramente que este
problema se torna cada vez mais sério. Segundo o autor loc. cit, na imensa maioria
dos casos, os impactos ambientais, quando considerados agudos, estão
relacionados às emissões no prazo, como acidentes e vazamentos subsequentes,
enquanto os impactos crônicos estão relacionados às emissões contínuas de óleo,
que são causadas por quebras, escoamento urbano (escoamento) causado e outros
incidentes semelhantes.
Considerando tal exposto, Pereira (2017) alerta para o fato de que uma vez
que há a demanda sobre um dado recurso, os problemas ambientais permanecem
por gerações, sendo necessário, para se combater os danos ambientais
potencialmente letais para a humanidade, a mudança de paradigmas sociais e de
padrões culturais. De acordo com o autor loc. cit., estes consumos e contínuos
desastres ambientais têm promovido a revisão dos parâmetros seguidos no
passado.
Vale aqui ressaltar que ao longo do tempo, seja em países desenvolvidos ou
em desenvolvimento, o desenvolvimento desordenado dos recursos naturais e a
poluição ambiental são suas características, sendo natural que em muitos casos
seja impossível repor seus recursos renováveis ao seu uso (LINS et al., 2021). De
acordo com os autores loc. cit., a velocidade não restaura os meios afetados. Isso
não se refere ao desenvolvimento de recursos naturais não renováveis. Ainda
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segundo os mesmos autores, esta situação acaba por levar a situações de conflito,
que se devem à restrição de bens ambientais e ao aumento da concentração
populacional, e têm resultado em processos judiciais cada vez mais complexos
envolvendo questões ambientais.
2.2 Perícia Ambiental

Com o advento da globalização, os recursos naturais passaram a ser


largamente explorados, a fim de se atender as necessidades sociais, econômicas e
culturais, resultando em uma intensa degradação ambiental que, como
consequência, trouxe uma série de riscos para a humanidade (RAMBUSCH;
BENDER, 2011). Compreendendo estre processo, em 1998 o país aprovou a Lei nº,
9.605 de 1998 (Lei de Crimes Ambientais), que dispõe sobre as sanções dados a
sujeitos que assumem condutas lesivas ao ambiente natural (BRASIL, 1998).
Segundo o autor loc. cit., os efeitos de poluentes ou outras circunstâncias
específicas podem causar danos ambientais a animais, plantas, gestão ambiental,
planejamento urbano e patrimônio cultural, portanto, o objeto de pesquisa é amplo.
A aprovação da referida Lei só foi possível devida promulgação da Lei de
Processo Civil Público em 1985, que possibilitou o aumento de ocorrências sobre os
conflitos ambientais nos tribunais, tanto em número como em complexidade técnica
(BRASIL, 1985). Interpretando o referido documento, compreende-se ser cada vez
maior a necessidade de o Judiciário absorver e resolver os conflitos apresentados.
Neste sentido, Garrido e Rodrigues (2017) destacam que:

Os esforços para proteger o meio ambiente e resolver esses conflitos


costumam resultar em elevados custos ambientais e sociais. Por isso, nos
últimos anos, é necessária a construção de teorias, princípios, métodos e
ferramentas inovadores no campo jurídico e no campo do direito. Vários
campos do conhecimento relacionadas às questões ambientais (GARRIDO;
RODRIGUES, 2017, p. 14).

Neste sentido, Silva (2018) destaca que no decorrer do processo de proteção


do meio ambiente, o contencioso cível público ambiental inter-relaciona-se com a
perícia ambiental voltada para a solução dos problemas ambientais, motivando-os a
agir nesse sentido para punir os causadores de danos ambientais e providenciar
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indenizações ou reparos de escopos. Para Magalhães Filho et al. (2021), a expertise


ambiental é definida como um procedimento metódico previamente planejado que
fornece resultados consistentes ao final do trabalho e é reconhecido pela
comunidade científica.
Assim, as atividades de investigação de danos ambientais devem ser
realizadas de forma técnica e independente, não devendo haver interferência ou
interferência das partes no processo (MAGALHÃES FILHO et al., 2021). De acordo
com os autores loc. cit. já que seu objetivo básico é provar, buscar as informações
necessárias para responder de forma técnica e justa às questões levantadas pelas
partes.
Ainda segundo Magalhães Filho et al. (2021), de um modo geral, as principais
atividades do conhecimento profissional ambiental incluem: pesquisa de
documentos; inspeção de locais de atividades; amostragem de locais; análise e
teste; análise e discussão de resultados; conclusões; respostas a perguntas e;
preparação de relatórios de especialistas.

2.2.1 Atividade da perícia e seus efeitos

A atuação dos especialistas em meio ambiente está vinculada à legislação


ambiental, que regulamenta a proteção ambiental nos níveis federal, estadual e
municipal no âmbito da nova disciplina jurídica do Direito Ambiental (NEGRA;
NEGRA, 2002). De acordo com os autores loc. cit. a expertise ambiental é uma
expertise importante no Brasil, e relativamente nova, que se desenvolveu muito nos
últimos anos, principalmente devido ao aprimoramento da legislação ambiental, que
está cada vez mais voltada para a proteção do "meio ambiente" dos ativos jurídicos.
Neste sentido, para Ferreira e De Chagas (2015), esse modelo de
especialista inclui atividades profissionais relacionadas aos interesses sociais, de
natureza complexa e ainda em estágio inicial de estrutura, exceto por exames,
pesquisas e pesquisas que subsidiem seu desenvolvimento em direito, teoria,
tecnologia e metodologia. Cabreira et al. (2019) alertam que os esforços para
proteger o meio ambiente e resolver muitos conflitos muitas vezes acarreta altos
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custos ambientais e sociais, e nos últimos anos tem sido necessário construir
teorias, princípios, métodos e ferramentas inovadores.

Na área jurídica e em diversas áreas do conhecimento relacionadas às


questões ambientais (CABREIRA et al., 2019). Segundo os autores loc. cit. nesse
processo, existe a expertise ambiental, que é uma expertise extraordinária,
relativamente nova no Brasil, mas que se desenvolveu nos últimos anos,
principalmente em função de melhorias na legislação ambiental. Portanto, ainda de
acordo com os mesmos autores, na realização de levantamentos ambientais, como
em outros levantamentos, é necessária a presença de técnicos que tenham
comprovado sua capacidade profissional e possuam conhecimentos técnico-
científicos profissionais para verificar a autenticidade dos fatos relatados.

2.3 A importância da perícia ambiental para os processos judiciais

Considerando o exposto até o presente momento aqui neste artigo, observa-


se que o processo de produção industrial contém elementos deletérios ao ambiente
natural, produzindo uma balança desigual entre o lucro das grandes empresas e a
qualidade de vida da maior parcela da população (BEHRENS, 2015). Neste sentido,
o autor loc. cit., destaca para o fato de que tais prejuízos colhidos pela natureza
precisam ser reparados pelos seus poluidores, a fim de se garantir que o recurso
explorado venha existir o suficiente para que as populações futuras possam usar.
Desta maneira, questões classificadas para fornecer evidência especializada
em ações ou medidas envolvendo intervenções ou implementações ou omissões
que podem mudar ou são realmente prejudiciais ao meio ambiente, geralmente
parecem dolorosas, para estabelecer uma avaliação amplamente complexa que
viola os procedimentos atuais das regras normativas (GALARRAGA, 2019).
É neste cenário que, segundo Galarraga (2019), a perícia ambiental passa a
ser discutida. De acordo com o autor loc. cit., esta perícia é, portanto, uma evidência
utilizada em processos judiciais, estando sujeita às disposições do Código de
Processo Civil (CPC). Ainda segundo os mesmos autores, a perícia ambiental tem a
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mesma prática forense que uma perícia criminal, mas cumpre requisitos específicos
decorrentes da questão ambiental.

Para Soares, Oliveira e Figueiredo (2017) ainda que esta espécie de perícia
atenda às necessidades específicas da preservação e da conservação dos
ambientes naturais, há uma dificuldade notória em se dimensionar o dano causado
por um dado prejuízo:

A título de exemplificação, apresenta-se o questionamento: como avaliar o


dano ocasionado pela perda de uma espécie animal ou vegetal? Daí a
importância da perícia ambiental ser realizada por profissionais
especializados e legalmente habilitados junto aos respectivos conselhos de
classe profissional. Dependendo da complexidade do caso investigado, faz-
se necessário que a perícia ambiental seja realizada por equipe técnica
multidisciplinar (SOARES; OLIVEIRA; FIGUEIREDO, 2017, p. 29).

De acordo com o CPC, todas as partes envolvidas no processo são


responsáveis por nomear assistentes técnicos e fazer perguntas claramente
respondidas por especialistas. Para Soares, Oliveira e Figueiredo (2017) as
perguntas devem ser formuladas de acordo com cada caso, respeitando suas
características de forma personalizada, e levantadas por profissionais qualificados,
pois os advogados conhecem a ordem lógica em que são formuladas, mas não
entendem certas características do assunto e terminologia específica, que pode ser
danos a um dos componentes.

Um especialista ambiental é uma pessoa selecionada pelo juiz e de sua


confiança. Ele é responsável por coletar todos os dados possíveis sobre a
causa, escala e natureza dos danos ambientais, para os quais pode (ou
mesmo deve) contar com a ajuda de uma equipe multidisciplinar que
escolher e confiar. Mais uma vez, isso se deve ao tamanho ou à limitação
dos danos ambientais, pois tais tarefas requerem conhecimento profissional,
difícil de ser realizado com apenas uma pessoa (BOTTEON, 2016, p. 15).

De acordo com Ribaski (2021), sob o olhar da Legislação, tanto a perícia


como a avaliação ambiental deverão compor um relatório completo, que sirva de
subsídios para decisões judiciais, portanto, devem ser transformados em
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documentos substantivos, planos, esboços, fotos, orçamentos, relatórios de análise


e qualquer declaração de materiais que reflita a situação da pesquisa.

Pereira (2017) destaca que o referido relatório deverá apresenta ruma


arquitetura de fácil compreensão e interpretação, de modo que facilite a análise
técnica por parte do magistrado competente. Assim, de acordo com o autor loc. cit.,
se o problema não for explicado em detalhes conforme exigido, o corpo principal do
relatório deve ser formado, primeiro para demonstrar efetivamente o objetivo
esperado de conhecimento profissional e, em seguida, para responder à pergunta
especificamente, ao invés de nunca o fazer.
Semelhante a outros tipos de especialização, a especialização ambiental
deve ser contratada por técnicos com capacidade profissional comprovada e
conhecimento técnico e científico profissional para determinar a complexidade da
verdade (LINS et al., 2021). Para os autores loc. cit., se o processo não fornecer
elementos suficientes para esclarecer o registro que conduz a um julgamento justo,
uma das partes ou o juiz pode iniciar a perícia.
Assim, ainda de acordo com Lins et al. (2021) o objetivo dos especialistas é
sempre buscar evidências substantivas com base nos dados científicos obtidos em
procedimentos de análise, esclarecer dúvidas no processo por meio de investigação,
medição e avaliação de dados, e gerar relatórios coesos e diretamente conclusivos.
Ribaski (2021) ressalta que a expertise ambiental se tornou parte fundamental
dessas novas eras, onde a dinâmica e a velocidade das mudanças sociais
contemporâneas promoveram o rápido processo de transformação ambiental devido
ao comportamento humano, levando à aceleração e agravamento do meio ambiente.
Para Lins et al. (2021), o desequilíbrio, redução ou mesmo desaparecimento de
espécies e ecossistemas. Sobre este assunto, De Castro e Maders (2012) destacam
que:

Em levantamentos ambientais, todos os danos ao meio ambiente, como


solo, lençóis freáticos, animais, plantas, paisagem, saúde, cultura, etc.,
devem ser investigados e quantificados. A abrangência dessa avaliação
exige conhecimento técnico em diferentes áreas, o que é difícil para um
único profissional alcançar. Portanto, a complexidade da perícia ambiental
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requer uma abordagem multidisciplinar, que a distingue da perícia judicial


tradicional (DE CASTRO; MADERS, 2012, p. 44).

Neste sentido, é comum que equipes multidisciplinares se juntem a outros


profissionais das mais diversas profissões para participarem das ações de equipes
técnicas que requerem formação em áreas afins (RAMBUSCH; BENDER, 2011).
Ainda de acordo com o CPC, os peritos que prestarem informações falsas de
forma deliberada ou por negligência serão responsáveis pelos danos causados
pelas partes, não podendo atuar em outras áreas profissionais no prazo de 2 (dois) a
5 (cinco) anos, independentemente de outras disposições da lei (BRASIL, 2015).
Para este autor loc. cit., quanto às sanções, o juiz deve comunicar os factos às
respectivas instituições profissionais, a fim de tomar as medidas que considere
convenientes.

O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas responderá


pelos prejuízos que causar à parte e ficará inabilitado para atuar em outras
perícias no prazo de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, independentemente das
demais sanções previstas em lei, devendo o juiz comunicar o fato ao
respectivo órgão de classe para adoção das medidas que entender cabíveis
(BRASIL, 2015, art. 158).

Neste sentido, Garrido e Rodrigues (2017) alertam para o fato de que os


recursos têm uma função auxiliar nos Tribunais, podendo fornecer dados na fase de
orientação do procedimento, utilizados para formar provas a serem utilizadas pelo
magistrado, capaz de proferir o seu julgamento com fundamentação adequada.
Ainda segundo Garrido e Rodrigues (2017) isso torna a função de tomada de
decisões do laudo pericial. Neste sentido, de acordo com o relatado pelos autores
loc. cit. os relatórios de especialistas devem ser claros, objetivos, razoáveis e
conclusivos. Ainda para os mesmos autores, é necessário coletar todos os dados e
elementos que os especialistas considerem importantes e que possam efetivamente
facilitar a condenação do juiz.
Sendo assim, finaliza-se o presente artigo compreendendo que é necessário
enfatizar que a destruição do meio ambiente é cada vez mais vista como objeto de
pesquisa da perícia ambiental, que envolve seus aspectos não biológicos, biológicos
e socioeconômicos, incluindo atividades naturais e humanas.
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Retomando o objetivo geral traçado para este artigo, que versou sobre
compreender a atuação e os procedimentos dos peritos judiciais em caso de
acidente ou tragédia ambiental, pode-se dizer que o mesmo fora atendido já que foi
possível concluir que os laudos periciais são, muitas vezes, a única estratégica
palpável que um magistrado possui para julgar crimes ambientais, haja vista a
dificuldade de se materializar as provas para esta espécie.

REFERÊNCIAS

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