Você está na página 1de 23

Apostila de Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável

José Fernando Miranda


2003
APRESENTAÇÃO

Constantemente, Educação ambiental é confundida com uma simples observação


do ambiente em seu estado original ou intocado. É claro que para atuarmos na melhoria
ou recuperação uma determinada área degradada, precisamos conhecer um pouco das
complexas relações ecológicas existentes no mesmo anteriormente. Também é ilusão
acharmos possível a reconstituição de toda a diversidade de vida em uma área
degradada.
Essas afirmações são importantes para entendermos que a educação ambiental
não deve tratar somente de aspectos relacionados ao ambiente natural, como também ao
ambiente urbano e social.
Muitas vezes, esquecemos que ambiente como já foi dito acima, não representa
somente áreas naturais, onde existam árvores e animais silvestres; nós seres humanos,
por exemplo temos o nosso habitat, que é a cidade. Dentro da cidade por sua vez, temos
vários outros ambientes nos quais trabalhamos, nos divertimos, temos aulas, e etc.
O processo de ensino – aprendizagem em Educação Ambiental fundamenta-se
numa visão complexa e sistêmica das realidades ambientais, concebidas como problemas
e potencialidades, visando a compreensão de suas interrelações e determinações, ao
mesmo tempo, considera o papel e as caraterísticas das instituições e agentes sociais
envolvidos localizados em um tempo e espaço concreto.
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL como processo que consiste em propiciar às pessoas
uma compreensão crítica e global do Ambiente, para elucidar valores e desenvolver
atitudes que lhes permitam adotar uma posição consciente e participativa a respeito das
questões relacionadas com a conservação e adequada utilização dos recursos naturais,
para a melhoria da qualidade de vida e a eliminação da pobreza extrema e do
consumismo desenfreado.
A Educação Ambiental visa a construção de relações sociais, econômicas e
culturais capazes de respeitar e incorporar as diferenças, (minorias étnicas, populações
tradicionais), a perspectiva da mulher, e a liberdade para decidir caminhos alternativos de
desenvolvimento sustentável respeitando os limites dos ecossistemas, substrato de nossa
própria possibilidade de sobrevivência como espécie. (Medina,1998).
A Educação Ambiental apresenta-se como uma das alternativas de transformação
da educação, no marco de um novo paradigma em construção e de novas formas de
pensar, interpretar e agir no mundo, capaz de possibilitar a superação da visão positivista,
instrumental e tecnocrática que caracteriza a civilização contemporânea e que se
manifesta a traves das crises global e generalizada deste final de século.
Acreditamos que atualmente a Educação Ambiental pode fundamentar-se, em uma
reelaboração teórica e prática dos princípios de três perspectivas teóricas emergentes.
Em primeiro lugar, a teoria crítica, supressora da visão técnica e instrumental; em
segundo, a concepção de uma perspectiva complexa da realidade do conhecimento e dos
processos de ensino-aprendizagem; e por último, os aportes do construtivismo no sentido
amplo do termo, como processo individual e social de construção de conhecimentos
significativos. (Medina,1996).
A intenção desta apostila não é esgotar o assunto, mas nortear os estudos frente
aos assuntos referentes à Educação Ambiental, de maneira mais eficiente.
Visando melhorar o estudo este material foi dividido em duas unidades, da seguinte
forma:
Unidade 1:
Introdução
1. O papel do gestor ambiental
2. A questão ambiental no mundo e no Brasil
3. A concepção da estrutura ambiental no Brasil
4. Conceitos básicos de educação ambiental
5. Finalidades da educação ambiental
6. A questão ambiental e o processo de Gestão Ambiental
7. A educação ambiental no processo de Gestão Ambiental
8. O Ciclo de Educação Ambiental
9. Desenvolvimento e análise de ações educativas
10. Interdisciplinaridade e Participação

Unidade 2 -
1. Introdução ao Desenvolvimento Sustentável
2. A degradação ambiental e o desenvolvimento sustentável
3. Cidades sustentáveis
4. Agenda 21
UNIDADE 1

INTRODUÇÃO

A cada dia os noticiários divulgam a ocorrência de grandes acidentes ambientais,


todos eles causados pela falta de gerenciamento. Muitos desses problemas poderiam ter
sido evitados se os gerenciadores destas organizações tivessem consciência dos efeitos
causados por suas ações.
Nos últimos anos houve o aparecimento de várias legislações e regulamentações
para tratar dos problemas decorrentes do desequilíbrio ecológico e da sua preservação.
O homem sempre alterou seu meio ambiente. Nas últimas décadas a humanidade
alterou os sistemas físicos, químicos e biológicos de diversas maneiras, estabelecendo
uma espécie de experiência com o planeta terra.
A cada dia os veículos de comunicação noticiam problemas ambientais, porém
ainda não o suficiente para conscientizar os homens sobre a nova e perigosa era em que
o mundo entrou. A maioria dos grandes sistemas biológicos do mundo está em
desequilíbrio porque os derrubamos, degradamos, fazemos mau uso
As espécies vegetais e animais estão entrando em extinção cada vez mais rápida.
Elevamos a temperatura em todo o planeta, provocamos buracos na camada de
ozônio aumentando a exposição de plantas, animais e pessoas à radiação solar.
Poluímos os rios, os mares, o ar e o solo e como conseqüência estamos perdendo em
qualidade de vida.
O ser humano tem que entender que a questão ambiental envolve vários aspectos,
ela afeta diversas áreas como: educação, saúde, saneamento, agricultura, transportes
entre outros.
Hoje, pensar em conservação ambiental não pode ser só no sentido
preservacionista. A natureza não pode ser vista como uma peça de museu, protegida e
imune à ação do tempo e dos seres humanos. O ser humano tem que perceber que a
natureza não pertence a ele, o ser humano é que pertence à natureza.
Os bens naturais são renováveis, mas não infinitos.
Capitulo1 – O PAPEL DO GERENTE DE MEIO AMBIENTE NA EMPRESA

No passado, o desenvolvimento industrial e a preservação do meio ambiente eram


vistos como tendências opostas: quanto maior o desenvolvimento, menor a preservação e
quanto maior a preservação, menor o desenvolvimento. Há algumas décadas, essa
mentalidade vem mudando, abrindo espaço para o surgimento de um novo profissional,
misto de engenheiro, administrador e ecólogo: o gestor ambiental.
Os gestores ambientais conciliam as necessidades de cada atividade econômica
com a crescente exigência de uso equilibrado dos recursos naturais, controlando a
utilização de recursos energéticos e matérias-primas de modo a reduzir os custos de
produção e a pressão sobre as fontes naturais existentes.
O gestor ambiental possui uma gama bastante extensa de atividades devendo,
normalmente:

• participar da elaboração de relatório de impacto ambiental (RIMA), documento


indispensável à realização de grandes empreendimentos;
• controlar mecanismos de tratamento, estocagem e destinação de resíduos sólidos,
líquidos e gasosos;
• mediar a relação de empresas com organizações voltadas para a preservação do
meio ambiente e com agências governamentais de fiscalização ambiental e
sanitária;
• conceber e coordenar programas de prevenção de acidentes ambientais,
identificando riscos e implantando medidas preventivas;
• orientar a assessoria de imprensa das empresas envolvidas em acidentes
ambientais;
• tomar medidas para que o impacto social e ecológico de acidentes seja reduzido;
• assessorar empresas que pretendem obter certificados de excelência ambiental
(ISO 14000);
• fornecer informações sobre a toxicidade dos produtos às agências públicas de
fiscalização sanitária;
• participar dos processos de compra de material, incluindo exigências de qualidade
ambiental nos requerimentos de compra e licitação;
• conceber e coordenar programas de conscientização ambiental.

Condições de trabalho
O gestor ambiental costuma visitar todos os setores da empresa em que atua,
colhendo informações que depois serão analisadas em escritórios refrigerados e
informatizados. Sua atividade pode obrigá-lo a freqüentar locais insalubres e de difícil
acesso, como depósitos de resíduos tóxicos e sítios contaminados por acidentes
ambientais. O planejamento e aplicação de métodos que conciliam as necessidades de
produção com o uso sustentado dos recursos naturais enfrenta, muitas vezes, forte
resistência por parte de setores conservadores estabelecidos dentro das próprias
empresas, aumentando o estresse na rotina de muitos gestores. A Lei de Crimes
Ambientais, que prevê penas rigorosas aos seus infratores, torna ainda mais delicada a
atuação desse profissional, que pode ser processado e responsabilizado criminalmente
quando a empresa em que atua é denunciada por agressão ao meio ambiente.

Mercado de trabalho e perspectivas.


O mercado de trabalho para gestores ambientais é amplo, está em expansão e
tende a crescer ainda mais com o aumento da consciência ecológica e a preocupação
das empresas e instituições com a questão ambiental. As empresas voltadas para
atividades de grave impacto ambiental, como as hidrelétricas, siderúrgicas, mineradoras e
petrolíferas são as que mais empregam esses profissionais, mas estima-se que 85% das
grandes empresas do país empreguem esse tipo de profissional. Segundo consultores
nacionais, a estimativa de crescimento desse setor é de 30% ao ano. Em termos
regionais, o estado do Rio de Janeiro é o que vem ofertando maior número de vagas, em
decorrência do forte fluxo de investimentos de empresas do setor petrolífero
A influência do ambiente afeta de forma diferente as pequenas, médias e grandes
empresas e isto acarreta diferenças de percepção por parte das organizações. O que
afetado também a tarefa de administração das organizações.
Os executivos das corporações dispendem uma parte significativa de seu tempo
lidando com problemas do ambiente empresarial.
Esta atitude contrasta de forma significativa com o comportamento dos executivos
de 20 anos atrás, pois diferentemente do que ocorria com os antigos executivos, os atuais
administradores estão cada vez mais envolvidos com questões de cunho social, político e
ambiental e, o que é mais significativo ainda, sua performance e desempenho estão
sendo medidos pela sua habilidade de lidar com essas áreas.

O GERENTE DE MEIO AMBIENTE


A característica fundamental da existência de uma atividade administrativa na
organização que se preocupa com a variável ambiental é a existência de um núcleo
central de autoridade e responsabilidade dentro da empresa que cuida especificamente
da questão ambiental sob o comando de um indivíduo (formalmente designado para
responder pela área ambiental da organização) e seus subordinados.

ATRIBUIÇÕES DO CARGO: ATIVIDADES A EXECUTAR


O problema de definir as atribuições do cargo de gerente de meio ambiente está no
fato de que em algumas organizações esse cargo não está fortemente estabelecido,
sendo que a melhor forma de definir o papel por ele representado, é aquela que relaciona
as atividades que se espera que ele desempenhe no cumprimento de sua função.
O prof. Denis Donaire (1995), em pesquisa realizada naquele ano, catalogou 24
atividades distintas para o cargo de gerente de meio ambiente:
1. Conduzir as ações da política ambiental da empresa;
2. Propor soluções e medidas viáveis, técnica, política e economicamente;
3. Elaborar e divulgar programas de controle ambiental;
4. Assessorar tecnicamente as demais unidades (pareceres/sugestões)
5. Participar de comissões internas;
6. Representar a organização externamente;
7. Garantir a atualização das informações sobre o meio ambiente em todos os níveis;
8. Garantir a imagem institucional da empresa;
9. Opinar nos investimentos ambientais e na elaboração das prioridades;
10.Integrar a empresa à comunidade;
11.Desenvolver e recomendar melhorias ambientais;
12.Manter a empresa na vanguarda das questões ambientais;
13.Incentivar o respeito ao meio ambiente no âmbito da empresa;
14.Zelar pelo patrimônio físico da empresa;
15.Definir o Plano Diretor Ambiental;
16.Decidir paralisação, em casos emergenciais;
17.Manter sistema de auditoria ambiental preventiva e corretiva;
18.Integrar os projetos da fábrica no contexto ambiental, paisagístico e urbano;
19.Manter contato com o “staff” da Matriz;
20.Contratar consultores externos;
21.Elaborar e aplicar Programas de Treinamentos na área ambiental;
22.Recepcionar clientes e apresentar os processos de controle utilizados;
23.Negociar com fornecedores;
24.estudar riscos e alternativas para transporte de matérias primas.
Analisando estas atividades, Donaire sugere que as atribuições do cargo de
gerente de meio ambiente, devem incluir, no mínimo, as seguintes:
1. Planejar, organizar, dirigir e controlar a política de meio ambiente ditada pela
Alta Administração;
2. Controlar as operações das fábricas, através de relatórios dos técnicos e
visitas pessoais, evidenciando uma monitoração constante das fontes
poluentes;
3. Assessorar tecnicamente as demais unidades da empresa em todos os
assuntos relativos à sua área de especialização;
4. Acompanhar a execução das medidas propostas;
5. Garantir a utilização e informação relativas ao desenvolvimento da
tecnologia no seu nível de especialização;
6. Acompanhar o desenvolvimento da legislação ambiental;
7. Responsabilizar-se pela formação e pelo treinamento dos indivíduos ligados
a atividade de meio ambiente;
8. Representar institucionalmente a organização, seja junto aos órgãos
públicos de controle ambiental, seja junto à comunidade, em todos os
assuntos relacionados com o meio ambiente.

PERFIL DO OCUPANTE
O responsável pela área de meio ambiente para dar provimento às
responsabilidades que constituem uma interpretação de seu desempenho real, deve
desempenhar inúmeros papéis, entre os quais:
• Representante organizacional;
• Planejador;
• Conhecedor de tecnologias e legislação;
• Assessor técnico;
• Organizador;
• Administrador de equipe.
Portanto, pode-se notar que os papéis exercidos, variam de empresa para
empresa, embora possamos considerar como mais importantes na atuação do
responsável pela área de meio ambiente os que dizem respeito a representar a
organização, planejar a atividade ambiental, e conhecer a tecnologia envolvida.
Os demais papéis de assessoria técnica, organização e administração de equipe
(ambiental), ainda que importantes são exercidos em uma intensidade menor nas
empresas.
Assim, constata-se que o elemento adequado para ocupar a posição de gerente de
meio ambiente deve aliar formação especializada e experiência prática, possuindo
excelente conhecimento na área técnica com grande familiarização a respeito do
processo produtivo.
Essa condição especializada permitirá que ele discuta em igualdade de condições
com os demais técnicos da empresa, especialmente com o pessoal de produção, a
adequação do processo produtivo, no mínimo, às normas estabelecidas pela legislação
ambiental e possa representar de forma adequada o pensamento da política institucional
da empresa relativo à área ambiental.
Deve, assim, possuir as seguintes habilidades:
Habilidade técnica - para poder avaliar as diferentes alternativas, em relação a insumos,
processos e produtos, considerando-as sob o aspecto ambiental e seu
relacionamento com os conceitos de custo e de tempo;
Habilidade administrativa - relacionada com o desempenho das tarefas do processo
administrativo: planejar, organizar, dirigir e controlar, pois caberá a ele a
responsabilidade de executar a política ambiental da empresa;
Habilidade política - para sensibilizar os demais administradores da empresa, que podem
lhe dar apoio e respaldo organizacional, no engajamento da temática ambiental,
propagando e consolidando a idéia de que a sua atividade, antes de ser uma
despesa a mais para a empresa, é uma grande oportunidade para a prospecção de
novas formas de redução de custos e melhoria de lucros;
Habilidade de relacionamento humano - para conseguir a colaboração e o engajamento
de todos os funcionários para causa ambiental da empresa, pois o sucesso desse
empreendimento está intimamente ligado à participação coletiva e à incorporação
dessa variável à cultura da organização.

CONTATOS
No desenvolvimento de suas atividades, o gerente de meio ambiente deverá
estabelecer uma rede de contatos muito ampla, seja a nível interno, seja a nível externo.

ALTA ADMINISTRAÇÃO
CONTATOS Ï CONTATOS
EXTERNOS INTERNOS

- ÓRGÃOS - PRODUÇÃO
GOVERNAMENTAIS - MANUTENÇÃO
- COMUNIDADE - P&D
- IMPRENSA - SUPRIMENTOS
- ORGANIZAÇÕES - MARKETING
CIVIS GERENTE DE - RECURSOS
MEIO AMBIENTE HUMANOS
- ASSOCIAÇÕES - RELAÇÕES
AMBIENTALISTAS PÚBLICAS
- ASSOCIAÇÕES - COMUNICAÇÃO
DE CLASSE - FINANÇAS
- ASSOCIAÇÕES - OUTRAS
INTERNACIONAIS UNIDADES
Ð

INFORMAÇÕES SOBRE
- LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
- NOVAS TECNOLOGIAS
- POLUIÇÃO
- RECICLAGEM
- ECONOMIA DE ENERGIA

A nível interno - seus contatos serão realizados junto às demais unidades administrativas,
discutindo informações sobre legislação ambiental, novas tecnologias, acompanhamento
de melhorias, poluição, reciclagem, aproveitamento de resíduos, economia de energia,
etc.

A nível externo - representando a organização e traduzindo seus valores ambientais para


o mundo exterior, deverá se envolver com os órgãos governamentais, comunidade,
imprensa, organizações civis, etc.
CAPÍTULO 2 - A QUESTÃO AMBIENTAL NO MUNDO E NO BRASIL

Histórico

Este histórico sobre o tema ambiental poderia começar em épocas muito recuadas.
Consta que há cerca de 65 milhões de anos um meteorito atingiu a Terra, alterando
profundamente os ecossistemas de então. Muitas espécies, entre elas os dinossauros,
desapareceram devido ao grande impacto ambiental provocado pelo choque. Outros
fenômenos naturais, como os terremotos e as erupções vulcânicas, também causam
impactos importantes sobre o meio ambiente, ainda em nossos tempos, sem que as
ações tomadas pelo homem possam reparar os danos causados pela própria natureza.
Apesar de ser imenso o desafio de proteger o meio ambiente das ações do homem, os
exemplos acima citados mostram que esse desafio é bem mais fácil de ser vencido do
que aqueles de causas naturais, cuja extensão e data de ocorrência a humanidade
sequer consegue prever.
Nos tempos modernos a preocupação com a conservação dos recursos naturais e
com a degradação da biosfera pelo homem pode ser identificada em diversos autores, de
forma pontual. Spinoza, Malthus, Humboldt e Darwin são exemplos desses precursores.
Foi apenas na segunda metade deste século, no entanto, que um grupo de cientistas,
reunidos no chamado Clube de Roma, na década de 60, utilizando-se de modelos
matemáticos, alertou sobre os riscos de um crescimento econômico contínuo, baseado
em recursos naturais esgotáveis. Seu relatório “Limits Growth” (Limites ao Crescimento),
publicado em 1972, foi um sinal de alerta que incluía projeções, em grande parte não
cumpridas, mas que teve o mérito de conscientizar a sociedade para os limites da
exploração do planeta.
A primeira grande catástrofe ambiental - sintoma da inadequação do estilo de vida
do ser humano - viria a acontecer em 1952, quando o ar densamente poluído de Londres
(smog) provocaria a morte de 1.600 pessoas, desencadeando o processo de
sensibilização sobre a qualidade ambiental na Inglaterra, e culminando com a aprovação
da Lei do Ar puro pelo Parlamento, em 1956. Esse fato desencadeou uma série de
discussões em outros países, catalisando o surgimento do ambientalismo nos Estados
Unidos a partir de 1960.
A década de 60 começava, exibindo ao mundo as conseqüências do modelo de
desenvolvimento econômico adotado pelos países ricos, traduzidos em níveis crescentes
de poluição atmosférica nos grandes centros urbanos (Los Angeles, NY, Berlim, Tóquio e
Londres), principalmente em rios envenenados por despejos industriais - Tâmisa, Sena,
Danúbio, Mississipi e outros -; em perda da cobertura vegetal da terra, ocasionando
erosão, perda da fertilidade do solo, assoreamento dos rios, inundações e pressões
crescentes sobre a biodiversidade. Os recursos hídricos, sustentáculo e derrocada de
muitas civilizações, estavam sendo comprometido a uma velocidade sem precedentes na
história da humanidade.
Assim, a década de 60 viu surgirem os primeiros movimentos ambientalistas
motivados pela contaminação das águas e do ar nos países industrializados. Já ocorrera
então a contaminação da baía de Minamata, no Japão, com mercúrio proveniente de uma
planta química. Criara-se a consciência de que resíduos incorretamente dispostos podem
penetrar na cadeia alimentar e causar mortes e deformações físicas em larga escala,
através de um processo de bioacumulação.
Os anos 70 foram a década da regulamentação e do controle ambiental. Após a
Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente, em 1972, as nações começaram a
estruturar seus órgãos ambientais e estabelecer suas legislações, visando o controle da
poluição ambiental. Poluir passa então a ser crime em diversos países. Na mesma época,
a crise energética causada pelo aumento do preço do petróleo traz à discussão dois
novos temas que, constatou-se depois, ajudam em muito a luta daqueles que se
preocupam com a proteção do meio ambiente: discute-se a racionalização do uso de
energia e buscam-se combustíveis mais puros, de fontes renováveis. Ao mesmo tempo,
as primeiras tentativas de valorização energética de resíduos unem dois dos temas mais
em evidência nessa década: meio ambiente e conservação de energia. O conceito de
desenvolvimento sustentável começa a surgir no painel de temas em discussão.
Em 1978, na Alemanha, surge o primeiro selo ecológico, o Anjo Azul, destinado a
rotular produtos considerados ambientalmente corretos.
Com a chegada da década de 80 e a entrada em vigor de legislações específicas
que controlam a instalação de novas indústrias e estabelecem exigências para as
emissões das indústrias existentes, desenvolvem-se empresas especializadas na
elaboração de Estudos de Impacto Ambiental e de Relatórios de Impacto Ambiental. Os
resíduos perigosos passam a ocupar lugar de destaque nas discussões sobre a
contaminação ambiental. Alguns acidentes de vulto, como Chernobyl, na então União
Soviética; Sevesco, na Itália; Bhopal, na Índia; e Basiléia, na Suíça, e a constatação da
destruição progressiva da camada de ozônio que circunda a Terra e a protege de
algumas faixas de radiações solares, trazem finalmente a discussão dos temas
ambientais para o dia-a-dia do homem comum.
Nos Estados Unidos, país particularmente afetado por um grande número de áreas
industriais degradadas e depósitos de resíduos construídos sem os cuidados que
assegurassem sua estanqueidade, o governo cria um fundo especial de recursos para
custear a reabilitação dessas áreas, o chamado “Superfund”.
Ainda nesta década, a proteção ambiental, que era vista por um ângulo defensivo,
estimulando apenas soluções corretivas baseadas no estrito cumprimento da legislação,
começa a ser considerada pelos empresários como uma necessidade, pois reduz o
desperdício de matérias-primas e assegura uma boa imagem para uma empresa que
adere às propostas ambientalistas.
A década de 80 se encerrou com uma globalização das preocupações com a
conservação do meio ambiente. Dois claros exemplos dessa preocupação global são o
Protocolo de Montreal, firmado em 1987, que bane toda uma família de produtos químicos
(os clorofluorcarbonos ou CFC’s) e estabelece prazos para sua substituição, e o Relatório
da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, instituída pela
Assembléia Geral das Nações Unidas. Este último, também chamado de Relatório de
Brundtland, em razão do nome de sua coordenadora, foi publicado em 1987 sob o título
de “Nosso Futuro Comum” e permitiu disseminar mundialmente o conceito de
Desenvolvimento Sustentável.
Ainda nos anos 80, mais precisamente em 1989, em Basiléia, Suíça, é firmado um
convênio internacional que estabelece as regras para os movimentos transfronteiriços de
resíduos, dispõe sobre o controle da importação e exportação e proíbe o envio de
resíduos para países que não disponham de capacidade técnica, legal e administrativa
para recebê-los. É a Convenção de Basiléia, já ratificada por muitos países, criada, entre
outras razões, para coibir o comércio de resíduos tóxicos para serem descartados em
países menos desenvolvidos.
Na década de 90, já consciente da importância de manter o equilíbrio ambiental e
entendendo que o efeito nocivo de um resíduo ultrapassa os limites da área em que foi
gerado ou disposto, o homem está preparado para internalizar os custos da qualidade de
vida em seu orçamento e pagar o preço de manter limpo o ambiente em que vive. A
preocupação com o uso parcimonioso das matérias-primas escassas e não renováveis, a
racionalização do uso de energia, o entusiasmo pela reciclagem, que combate o
desperdício, convergem para uma abordagem mais ampla e lógica do tema ambiental que
pode ser resumida pela expressão “Qualidade Ambiental”.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
(note-se a inclusão do termo Desenvolvimento no título já utilizado na conferência
precursora de 1972), conhecida também como Cúpula da Terra ou Rio 92, mostrou que
nesse final de século a questão ambiental ultrapassa os limites das ações isoladas e
localizadas, para se constituir em uma preocupação de toda a humanidade.
A introdução de novos conceitos, como Certificação Ambiental, Atuação
Responsável e Gestão Ambiental, tende a modificar a postura reativa que marcava, até
recentemente, o relacionamento entre as empresas, de um lado, e os órgãos de
fiscalização e as ONG’s atuantes na questão ambiental, de outro. Uma nova postura,
baseada na responsabilidade solidária, começa a relegar a um segundo plano as
preocupações com multas e autuações, que vão sendo substituídas por um maior cuidado
com a imagem da empresa.
A década de 90 assistiu também à entrada em vigor, em 1992, das normas
britânicas BS7750 - Specification for Environmental Management Systems (Especificação
para Sistema de Gestão Ambiental), que serviram de base para elaboração de um
sistema de normas ambientais a nível mundial. A entrada em vigor dessas normas
internacionais de gestão ambiental, que constituem a série ISO 14000, e a integração que
já começa a ocorrer entre elas e as normas de gestão da qualidade (série ISO 9000)
constituem o coroamento de uma longa caminhada em prol da conservação do meio
ambiente e do desenvolvimento em bases sustentáveis.
Para as empresas a questão ambiental deixa de ser, assim, um tema-problema,
para se tornar parte de uma solução maior - a Credibilidade da Empresa junto à
sociedade através da qualidade e da competitividade de seus produtos.

Panorama da estrutura ambiental

A análise da realidade ambiental na América Latina indica que, em muitos países,


existe uma estrutura de Gestão Ambiental, mas com eficácia variável na adoção de
medidas preventivas e corretivas para controlar a emissão de poluentes e a proteção da
biodiversidade.
Possivelmente, dentre os países da América Latina, o Brasil possui um Sistema
Ambiental mais organizado, mas, se isto é verdade, também o é o fato de que os
problemas nesta parte do Planeta possuem uma dimensão significativa. Basta lembrar a
questão da Amazônia e a degradação ambiental nas áreas metropolitanas.
A maioria dos países latino americanos tem uma estrutura ambiental voltada muito
mais a privilegiar a conscientização da comunidade do a realizar ações efetivas de defesa
da fauna e flora. Por exemplo, é muito comum a criação de unidades de conservação
através de medidas legais e a total ausência de práticas operacionais para impedir a sua
degradação pela ação antrópica. Por outro lado, no que diz respeito à poluição química
nos ambientes urbanos e naturais, persiste a adoção de frágeis Políticas e Estratégias
destinadas a eliminar os riscos que podem ocasionar à saúde pública, aos recursos
naturais e à economia.
Com a finalidade de sintetizar o modelo de Gestão Ambiental nesta parte do
continente americano, pode-se dividi-lo em dois componentes: um, voltado ao controle
das emissões das fontes antropogênicas no ar, água e solo e outro destinado à
preservação ou conservação da fauna e flora. Os instrumentos de controle para prevenir
as atividade potencialmente poluidora são os estudos de impacto ambiental, a autorização
para funcionamento, o monitoramento e a fiscalização. Os instrumentos para fomentar a
conservação da biodiversidade faunística e florística consistem na implantação do
zoneamento ecológico e econômico, estabelecimento de áreas protegidas, promoção do
manejo sustentado e essencialmente a fiscalização. Com relação à preservação
ambiental, por se constituir de biomas intocáveis, a fiscalização contra a ocupação
antrópica constitui-se no único instrumento de ação. Todavia, para que os objetivos de
proteção da qualidade ambiental e da biodiversidade tenham êxito, torna-se imperativo a
sustentação da atividade ambiental através de normas, de pesquisa, de tecnologia e pela
educação ambiental da comunidade.
Ao se examinar com maior atenção o conjunto da legislação disciplinadora da
proteção ambiental na América Latina, freqüentemente detecta-se a existência de um
grande número de normas dispondo sobre o controle da poluição, uso e exploração dos
recursos naturais, unidade de conservação e tantas outras. Dentre essas leis, decretos,
normas, alguns atendem plenamente a sua finalidade enquanto outros merecem revisão e
atualização para adequá-los às necessidades da Gestão Ambiental de cada país.
O aparato institucional tem como finalidade prevenir e corrigir a degradação
ambiental em suas diferentes formas. Evidentemente o seu cumprimento está a exigir
uma estrutura operacional, pois a sua simples existência não é garantia automática de
preservação e proteção da qualidade ambiental. Justamente ai é que reside o grave
problema da Gestão Ambiental na América Latina, onde aos órgãos ambientais sempre
lhe aumentam as atribuições legais, cobram-lhe maiores responsabilidades e os recursos
para executar as suas ações normalmente não ultrapassam a 0,6% do orçamento geral
do Estado.

Protocolo Ambiental do MERCOSUL


A formação do Mercado Comum (MERCOSUL) dos países localizados no extremo
Sul da América Latina (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), possui um potencial de 200
milhões de consumidores, Produto Interno Bruto(PIB) de aproximadamente US$ 1 trilhão
de dólares, renda per capita de mais de US$ 4.950 dólares, representando 55% do
mercado latino-americano e o quarto espaço econômico do mundo. Entre os parceiros do
MERCOSUL existe a consciência de que o êxito da integração da Economia destes
países também está condicionado às Políticas Ambientais. Por isso, entre eles vêm sendo
realizadas negociações no sentido de estabelecer um Protocolo Ambiental do qual se
destacam alguns aspectos, como:

objetivos
• incentivar a evolução da atividade normativa, estimulando a harmonização das
legislações nacionais dos Estados-Partes em matéria ambiental, objetivando
otimizar os níveis de sustentabilidade na apropriação dos recursos naturais e da
qualidade ambiental do MERCOSUL;
• fortalecer a cooperação para elaboração de leis, regulamentos, procedimentos,
políticas e práticas ambientais;
• monitorar o cumprimento da legislação, fiscalizar investigar possíveis violações,
inclusive através de inspeções locais;
• favorecer a participação da sociedade civil no tratamento das questões ambientais
afetas ao processo de integração.

compromissos
• promover e incentivar a educação ambiental e o ecoturismo;
• desenvolver e implementar sistema de informações ambientais;
• promover o uso de indicadores de sustentabilidade ambiental;
• estabelecer níveis de exigências em matéria de saúde e meio ambiente, levando
em consideração o nível de qualidade ambiental que se requer para o MERCOSUL
e a sadia competitividade;
• cada Estado-Parte do MERCOSUL informará aos países que importam pesticidas
e substâncias perigosas as eventuais restrições ou proibições existentes, no
território do país exportador, relacionadas ao uso daqueles produtos.
instrumentos de controle ambiental

• promover auditorias ambientais periodicamente em instalações de grande potencial


poluidor ou em atividades com grande potencial de degradação ambiental;
• as atividades, obras e empreendimentos a serem realizados na área sob jurisdição
dos Estados-Partes deverão ser planejados e executados de forma a limitar os
impactos negativos ao seu meio ambiente e os ecossistemas dependentes e
associados;
• cada Estado-Parte deverá assegurar que as emissões gasosas, de efluentes
líquidos de resíduos sólidos nas atividades geradoras de poluição sejam mantidas
dentro das condições e limites estipulados no licenciamento/habilitação;
• cada Estado-Parte constituirá um Sistema de Certificação Ambiental baseado em
normas próprias ou internacionais que tenham sido aprovadas por organismos de
reconhecida competência;
• para atender às situações de emergência na área ambiental, cada Estado-Parte
deve estabelecer e implementar planos de contingência e emergência para
prevenir e reagir em casos de acidentes que possam ocasionar efeito negativo
sobre o ambiente;
• os Estados-Partes, na composição do custo total, deverão incorporar, também, os
investimentos relacionados ao controle ambiental, ao aprimoramento e
modernização tecnológica, à otimização do processo produtivo e ao combate e
redução do desperdício.

biosegurança

• cada Estado-Parte deverá estabelecer mecanismos regulamentares sobre


biosegurança, baseados em sólidos conhecimentos científicos, que contenham
princípios a serem aplicados na análise e manejo de riscos em biotecnologia.
• os mecanismos regulamentares devem estabelecer normas de segurança e uso de
técnicas de biotecnologia em construção, cultivo, manipulação, transporte,
comercialização, consumo, liberação e descarte de Organismos Geneticamente
Modificados(OGMs), de forma a garantir a proteção do meio ambiente, de saúde e
da vida humana.
• a utilização de Organismos Geneticamente Modificados que envolva o seu
descarte no meio ambiente ou apresente riscos de liberação deve ser precedido de
validação de riscos que garanta a análise de todo o processo de produção de
OGMs, de forma a garantir medidas a evitar os possíveis efeitos ambientais
adversos desta liberação.
• cada Estado-Parte deve, na medida do possível, impedir a introdução, controlar ou
erradicar espécies exóticas que ameacem os ecossistemas ou habitats.

Eliminação e tratamento de resíduos(domésticos, industriais e perigosos)

• a coleta, o armazenamento, o manejo, o tratamento e o transporte de resíduos


domésticos ou industriais, no âmbito do MERCOSUL, assim como a sua
reciclagem e redução na fonte, serão considerados atividades de especial
importância na cooperação entre os Estados-Partes;
• o transporte e a movimentação de resíduos estarão limitados, na medida do
possível, aos territórios dos Estados-Partes onde se situam as atividades
geradoras desses resíduos. Somente poderão ser transportados resíduos entre os
Estados-Partes quando o receptor desses resíduos possuir comprovadamente, as
condições técnicas necessárias ao tratamento dos mesmos, de conformidade com
as normas internacionalmente aceitas;
• cada Estado-Parte deverá estabelecer um sistema de classificação de resíduos e
realizar inventários, com vistas a possibilitar estudos que tenham por objetivo a
avaliação de impacto ambiental;
• cada Estado-Parte deverá desenvolver um Plano Nacional de Gerenciamento de
Resíduos, que considere todo o ciclo dos resíduos, desde sua geração até sua
destinação e/ou eliminação final.

Produtos perigosos
visando assegurar o nível de proteção ambiental que cada Estado-Parte requer, o mesmo
poderá elaborar e manter normas ambientais, sanitárias e fitossanitárias tão ou mais
restritas que aquelas adotadas internacionalmente;
o transporte e a movimentação de cargas de produtos perigosos no MERCOSUL
dependerá de prévia anuência dos estados-partes envolvidos;
os Estados-Partes se comprometem a promover a gestão ambiental de produtos
perigosos, a fim de assegurar que sua produção, utilização e disposição final retenham a
máxima segurança.

Panorama do presente
A característica da sociedade latino americana, incluindo a brasileira, reside nas
disparidades sócio-econômicas e sanitárias que oscilam entre o anacrônico e o moderno,
entre o velho e o novo, no conhecimento privilegiado de uma minoria e enorme parcela da
população excluídos dos direitos à cidadania. Trata-se de uma sociedade da
desigualdade, visível ao se examiná-la no ângulo sócio-econômico, sanitária e ambiental.
O binômio saúde pública e meio ambiente sempre esteve vinculado e, na
sociedade latino americana, esta associação adquire uma acentuada evidência,
principalmente pela prevalência das doenças de curto prazo. Ao contrário do que ocorre
nas nações desenvolvidas em que, há décadas, conseguiram impor ações para
equacionar a proliferação das doenças da pobreza, representadas pela malária, dengue,
cólera e outras disenterias, na América Latina, além de não se conseguir erradicar estas
enfermidades, acrescente-se a esta realidade, novos riscos à saúde dos seus povos,
especificamente as doenças de longo prazo.
A contradição disto tudo é o aumento progressivo das doenças cancerígenas,
mutagênicas e teratogênicas que ocorrem mais freqüentemente nas áreas metropolitanas,
provocadas pela emissão de poluentes químicos, na utilização não racional das
substancias químicas e pela debilidade das ações de controle da poluição ambiental. O
aumento progressivo na prevalência das doenças crônicas não iniciou hoje e sim no
passado, mas afloram na atualidade, e contraditoriamente, tanto pela melhoria do bem
estar material das comunidades como pelo aumento da expectativa de vida. Se é difícil
mobilizar recursos para debelar as doenças que matam a curto prazo, muito mais difícil é
sensibilizar na adoção de medidas preventivas para debelar as doenças de letalidade a
longo prazo e no qual, a dispersão não controlada das substâncias químicas possui uma
contribuição especial.
Uma das causas das doenças típicas de países em desenvolvimento e da ameaça
à biodiversidade na América Latina continua sendo a falta de controle ambiental eficaz.
Tem-se alguns casos notáveis, de contaminação do ar, água e solo na América Latina,
como por exemplo:
• concentração de praguicidas nos sedimentos na Bacia do Rio San Juan entre a
Nicarágua e Costa Rica;
• contaminação provocada pelos garimpos de estanho e ouro na Amazônia;
• deficiências no tratamento das águas residuárias domésticas dos aglomerados
urbanos, assim como a disposição adequada dos resíduos sólidos industriais,
domésticos e hospitalares.
• deflorestação de El Salvador e outros países da América Central pela utilização de
lenha como fonte térmica destruindo o solo e a biodiversidade;
• degradação das águas costeiras e manguezais na costa do Atlântico sul americano
até Lacuna em Santa Catarina(Brasil), Colômbia, Equador e América Central;
• degradação dos recifes e corais na costa do Estado da Bahia no Brasil e na
América Central;
• emissão de contaminantes do Sistema Carboenergético de Candiota em Bagé no
Rio Grande do Sul(Brasil);
• emissão veicular de poluentes atmosféricos na área metropolitana da Cidade do
México, São Paulo e Santiago;
• mineração de Carvão na região de Criciúma em Santa Catarina(Brasil),
especialmente pela produção de rejeitos com elevado potencial de contaminação;
• presença de organoclorados como o DDT e seu metabolito o DDE no leite materno
e no cordão umbilical de crianças no Uruguai;
• queimadas e a devastação florestal na Amazônia;
• utilização de mananciais metropolitanos para abastecimento público de água com
elevado potencial de contaminação.
O que estimula na América Latina a tipologia da degradação ambiental tanto é o
mau uso da riqueza como a prevalência da miséria. Todavia, pairando sobre tudo, como
grande responsável, está a insensibilidade dos governantes em priorizar ações a médio e
a longo prazo para eliminar os impactos ambientais adversos à saúde pública e à
biodiversidade. As ações para a sustentabilidade ambiental na América Latina e no Brasil
somente serão realmente internalizadas na sociedade quando se unificar o caminho entre
a prática e o discurso.
As principais falhas observadas nas ações de controle da dispersão ambiental das
substâncias químicas na América Latina podem ser atribuídas aos seguintes fatores:
• carência de recursos financeiros, humanos e de banco de dados de informações
toxicológicas;
• disponibilidade de boas práticas tecnológicas para eliminação ou disposição segura
dos resíduos químicos sólidos e de critérios de monitoramento das
microquantidades no ambiente;
• existência de produtos químicos com ausência de advertência na rotulagem
relativa à sua manipulação, estocagem, transporte, dos riscos agudos à saúde
além da inexistência de informação relacionadas à biopersitência ambiental,
metabolitos e toxicidade a curto e a longo prazo;
• implantação de sistema de vigilância epidemiológica para as populações
ocupacionalmente expostas e disponibilização pública destas informações;
• importação e manipulação, em alguns países, de produtos químicos banidos ou
proibidos pelas autoridades sanitárias e ambientais dos países desenvolvidos.
Recentemente, o próprio Governo Brasileiro vetou artigo na Lei de Crimes
Ambientais que penalizava a comercialização de produtos químicos proibidos em
outros países;
• inexistência de legislação exigindo testes de pré-lançamento das substâncias
químicas ou da certificação da sua toxicidade e de impacto ao seres humanos e ao
ambiente por organismos internacionais de ilibada respeitabilidade;
Áreas para cooperação técnica
A macro análise da realidade ambiental na América Latina, permite identificar áreas
a exigir cooperação técnica para transferência de tecnologia para promover a qualidade
da vida dos seres humanos e a sustentabilidade ambiental dos recursos naturais. As
áreas que se julga fundamental aprimorar e consolidar o controle da dispersão das
substâncias químicas e da degradação da biodiversidade se relacionam a :

a) Contaminação da água para consumo humano


Notadamente nos países em processo de desenvolvimento, a tecnologia do
sistema público de tratamento sustenta-se na sedimentação, filtração e desinfecção da
água, sendo que a sedimentação tradicional atua muito mais como um auxiliar da
filtração. Tal conjunto de operações é capaz de produzir uma água aceitável aos sentidos
dos seres humanos e livre dos microrganismos patogênicos, portanto sem ocasionar
efeitos agudos à saúde pública.
A expansão das atividades antrópicas introduz, no corpo hídrico, contaminantes
que tanto podem dispersar-se no meio líquido como sedimentar e posteriormente,
ressuspender ou ressolubilizar. A remoção de microquantidades de compostos químicos é
extremamente difícil pelas técnicas convencionais de tratamento, razão pela qual a
qualidade de água produzida na estação de tratamento está intimamente limitada pelas
características do manancial. Além do mais, não se pode esquecer que a elevada
concentração de nitrogênio e fósforo provoca a proliferação de algas, que podem liberar
toxinas neurotóxicas ou hepatotóxicas.
Um caso real se presta à avaliação desta importante questão. Na Cidade de São
Paulo, a empresa responsável pelo abastecimento de água vem realizando obras para
interligar um corpo de água (o Sistema Billings-Taquacetuba), que desde a década de 30
é receptor das águas residuárias domésticas e industriais da Região Metropolitana de São
Paulo a outro manancial, já utilizado para abastecimento público(o Reservatório do
Guarapiranga). Ao longo destes anos a carga de poluentes gerou uma camada de
sedimento de fundo com espessura oscilando entre 5m a 25 m, e lamenta-se que se
pretenda realizar esta interligação sem um amplo Estudo de Impacto Ambiental.
Talvez por dificuldades de ordem econômica, nos países latino-americanos,
confere-se a existência de sistemas públicos de abastecimento de água garantia
automática de qualidade. Isto torna-se evidente ao constatar que, no Brasil, apenas 65%
da população tem os domicílios conectados a rede de água, 48% dos municípios à rede
de esgoto e destes apenas 8% são tratados. Assim, as principais vulnerabilidades
sanitárias e ambientais que se observa nos sistemas públicos de abastecimento de água
latino-americano a demandar cooperação técnica são as seguintes:
• carência de recursos econômico-financeiros para obtenção de tecnologias a
respeito de técnicas de tratamento de água que possibilitam a remoção de
microquantidades tóxicas presentes nos mananciais de abastecimento, através da
osmose reversa, eletroforese e catálise heterogênea, bem como das toxinas de
algas e dos subprodutos da cloração como o clorofórmio e outros trihalometanos.
• deficiência na fiscalização do produtor e na certificação da qualidade da água para
consumo humano associada a estudos epidemiológicos dos efeitos crônicos;
• inexistência de tratamento do lodo proveniente da sedimentação na estação de
tratamento, o qual quase sempre é lançado nas águas superficiais;
• insuficiência de ações redutoras de perdas de água, especialmente no sistema
distributivo;
• liberação de contaminantes por lixiviação de material construtivo das tubulações,
muitos dos quais danosos no aspecto estético ou econômico, mas não sanitário;
• operação e manutenção precárias do sistema de abastecimento ou realizadas com
recursos humanos dotados de treinamento insuficiente.
• proteção deficiente ou qualidade de água pouco adequada das fontes hídricas que
abastecem as áreas metropolitanas.

b) Monitoramento ambiental
Destaca-se como um dos problemas enfrentados na Gestão Ambiental na América
Latina para interpretação da qualidade o uso de parâmetros de monitoramento, que
detectam no meio, exclusivamente os aspectos físicos, químicos e bacteriológico. Ainda
são indicadores de qualidade de uma época em que a bioacumulação das micro doses na
biota ou o sinergismo da dispersão ambiental das substâncias químicas, ainda eram
relegados a um plano de importância inferior.
O critério de monitoramento tradicionalmente adotado em especial para as águas
superficiais e subterrâneas não avalia corretamente o reflexo das emissões das fontes de
contaminação pontuais e difusas e, com isso, pode orientar erradamente as ações de
controle ambiental. Além disso, outros fatores que alteram a qualidade da água como o
caso, da ressuspensão e ressubilização de contaminantes provenientes do sedimento de
fundo de rios, lagos ou reservatórios para o meio líquido e os riscos que podem ocasionar
à saúde pública e aos ecossistemas aquáticos, foram muito poucos estudos.
As ações de monitoramento ambiental são instrumentos da avaliação da qualidade
e é imperativo estimular e aprimorar o seu desempenho, intensificando a transferência de
tecnologia para as seguintes áreas:
normalização técnica relacionada a definição de objetivos do monitoramento,
desenho da rede, análise e interpretação dos dados.
análises biológicas e ecotoxicológicas: introdução de indicadores biológicos no
controle de poluentes;
apoio tecnológico: (i)técnicas para determinar a dispersão de poluentes em
ambientes aquáticos e na atmosfera; (ii)implantação de sistemas de
Gerenciamento de Dados de monitoramento ambiental, vinculado a inventário de
produtos químicos no mercado consumidor com avaliação de risco, a informação
toxicológica dos produtos químicos e seus ingredientes ativos, os efeitos da dose-
resposta em população exposta,(iii) técnicas de monitoramento de resíduos
químicos perigosos, especialmente no armazenamento, transporte e disposição
final, (iv) determinação simplificada de vazão de cursos de água
superficiais(volume médio) para determinação da carga poluidora.

c) Resíduos sólidos industriais e urbanos.


O retrato da disposição de resíduos sólidos da maioria dos países latino-
americanos pouco difere da realidade brasileira onde os dados disponíveis demonstram
que 76% dos resíduos urbanos são dispostos a céu aberto, 10% em aterros sanitários,
0,09% reciclados e apenas 0,01% incinerados. A coleta de resíduos sólidos na cidade de
São Paulo, da ordem de 15.000t/dia, apresenta a seguinte caracterização: domiciliares,
67%; serviços de saúde 1%; entulho 27%; resíduos industriais de categoria não inertes e
inertes de 5% Os resíduos domiciliares propriamente ditos correspondem a 1 kg/hab/dia
sendo 60% correspondente a matéria orgânica, 14% a papel e papelão, 11,5% a plástico
duro/filme, 5% a vidro, 5% a metais e 4,4% a outros.
Com relação aos resíduos industriais, levantamento realizado pela Agência
Ambiental do Estado de São Paulo(Brasil)1 revela que, do total destes resíduos gerados,
apenas 3,15% são armazenados e 35,5% são tratados e os demais dispostos da forma
mais variada. Outro aspecto a preocupar as autoridades ambientais diz respeito aos
produtos perigosos, cujos acidentes podem ocorrer em qualquer fase dos processos de
produção, transporte, utilização, manipulação e disposição final dos resíduos. Na malha
urbana viária do município de São Paulo, diariamente 5000 veículos transportam produtos
perigosos com aumento exponencial do número de acidentes. Embora sucinta a análise
deste tema, existem elementos a indicar a necessidade de suporte tecnológico nas
seguintes áreas:
1. normalização técnica relativa a:
• classificação de solos para disposição em aterros sanitários, industriais e
remediação de áreas contaminadas,
• critérios para avaliação de riscos dos empreendimentos que envolvam
substâncias perigosas,
• disposição de lodos de estação de tratamento de esgotos,
• responsabilidade dos fabricantes para receber, tratar e/ou destinar
adequadamente os seus produtos usados (pneus, pilhas, baterias, lâmpadas
fluorescente e outros),
• prevenção da geração de resíduos sólidos perigosos,
• substituição de matérias primas ou reformulação do produto final.

2. apoio tecnológico:
• gerenciamento de resíduos sólidos industriais ou hospitalares, especialmente
nas etapas de armazenamento, transporte, monitoramento e tratamento;
• aprimoramento das técnicas de disposição de resíduos nos aterros sanitários,
promovendo tratamento integral do chorume e monitoramento dos efeitos
adversos aos meios abiótico, biótico e antrópico;
• capacitação de recursos humanos em sistemas de alerta e informação para
atuar em acidentes ambientais químicos, assim como na identificação e
avaliação das áreas contaminadas por resíduos sólidos industriais;
• identificação de áreas com disposição inadequada dos resíduos sólidos
industriais
• implantação de Banco de Dados que forneça informações acerca das
características, especificações e cuidados quanto ao atendimento de ocorrência
de produtos perigosos;
• monitoramento da degradação da qualidade dos aqüíferos subterrâneos nos
aterros sanitários e industriais;
• técnicas de levantamento epidemiológico para avaliação de contaminantes em
comunidades próximas a unidades de tratamento de resíduos sólidos por
incineração
• tecnologias de baixo custo para disposição do resíduo urbano doméstico e
produção de energia;
• tecnologias para remediação de áreas contaminadas;
• uso ou disposição de lodo gerado por estação de tratamento de esgotos
domésticos e industriais
3. degradação da floresta tropical:
• implicações no efeito estufa

Um exame rápido pode induzir a estranheza, por parte do leitor, na abordagem


deste tema num evento destinado a discutir aspectos da Gestão Ambiental das
Substâncias Químicas no Planeta. Todavia, tenta-se justificar a sua introdução lembrando
a importância de que, num futuro próximo, a biodiversidade desempenhará função
primordial como fonte de matéria prima na síntese de novos produtos químicos,
especialmente para a industria farmacêutica. Atualmente, 25% de todas as espécies
farmacêuticas industrializadas no mundo utilizam matéria-prima oriunda das florestas
tropicais remanescentes no Planeta e avalia-se que as vendas anuais de remédios e
compostos ativos derivados da floresta excedam a 100 bilhões de dólares. Além do mais,
existe a questão da contribuição das queimadas para o aquecimento global do Planeta
(efeito estufa) e cuja contribuição se estima da ordem de 5%.
A importância da Amazônia para a geopolítica brasileira pode ser melhor
compreendida ao se recordar que do total das florestas tropicais úmidas do mundo,
estimadas em 8,5 milhões de km², o Brasil reúne cerca de 40% dessas florestas,
concentrando a maior densidade mundial de recursos naturais e biodiversidade. Esta área
equivale a aproximadamente 60% do território brasileiro ou 5.029.322 km2 , com cerca de
16 milhões de habitantes e uma densidade populacional ao redor de 3,3 hab/km2. O
espaço territorial da Amazônia possui uma área equivalente a Europa, exceto a Rússia,
com 91% da superfície coberta pela floresta densa de terra-firme e abrangendo os
Estados Brasileiros de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, Pará e parte dos
Estados de Mato Grosso, Tocantins, Maranhão.
A destruição atual de áreas significativas da Floresta Tropical da Amazônia foi
objeto de recente Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a Averiguar a Aquisição
de Madeireiras, Serrarias e Extensas Porções de Terras Brasileiras por Grupos Asiáticos
e concluída em 15 de dezembro de 1997. Este documento cita que apesar dos níveis de
crescimento relativamente baixos da economia brasileira, os impactos na ocupação da
Amazônia já se fizeram sentir e deste documento se destacam os seguintes pontos:
• incremento de 20 a 30% na taxa de desmatamento em 1995 e 1996;
• aumento de 33,4% nos anos de 1996 e 1997 no número de queimadas na
Amazônia conforme pode ser deduzido dos dados das séries históricas dos
satélites NOAA 14 e NOAA 12. Salienta-se que a maioria das queimadas foram
autorizadas pelo órgão ambiental do Governo Federal do Brasil responsável
pelo controle e conservação ambiental.
• efeito estufa – em função destas queimadas o Brasil elevou sua participação na
emissão global de CO2, , na atmosfera, com efeitos globais ainda não
dimensionados para o efeito estufa; mas bem conhecidas enquanto poluição do
ar nas grandes cidades da Amazônia, fazendo Manaus, Porto Velho, Rio
Branco, Cuiabá, Sinop, Paragominas muito semelhantes a Kuala Lampur,
Jacarta, e outras cidades da Malásia e da Indonésia, sob o efeito dos incêndios
florestais;
• elevação da taxa de antropização da floresta, através da exploração florestal,
expandindo o Cinturão da Madeira; dos projetos de reforma agrária, com
assentamentos de trabalhadores rurais sem terra em pleno coração da floresta
– abrindo um processo acelerado de intervenção, de alteração do ecossistema
e da perda da biodiversidade No período 95-97 estima-se que a taxa de
destruição da Floresta Amazônica foi no mínimo de 5,8 milhões de
hectares/ano, composta por 1,7 milhões de hectares de desmatamento; 1,1
milhão de alteração promovida pela exploração florestal/madeireira; cerca de
1,0 milhão pela ocupação desordenada, oficial e privada, responsável pela
segmentação da Floresta e cerca de 2,0 milhões pelos incêndios florestais
acidentais.
As dificuldades, o desconhecimento e a carência de pesquisa e tecnologia na
Amazônia Brasileira são argumentos suficientes como alerta que não se pretende ser
conclusivo na indicação de áreas de cooperação técnica na Amazônia. Realizada esta
ressalva, pode-se sugerir algumas das áreas factíveis de cooperação técnica, tais como:
• certificação de laboratório para implantação de rede de controle ambiental;
• controle dos riscos associados à utilização e liberação de organismos vivos
modificados e resultantes da biotecnologia;
• criação de Banco de Dados de Informação Ambiental da Amazônia;
• elaboração de planos ou programas de conservação e utilização sustentável da
biodiversidade para finalidade da química-industrial;
• implantação de laboratório para bioprospecção molecular de recursos genéticos;
• investigação epidemiológica de doenças crônicas de origem química;
• quantificação das queimadas da Amazônia no efeito estufa global;
• relação da biomassa e nutrientes na Floresta Tropical.
A Gestão Ambiental na América Latina, ressalvadas as peculiaridades entre os
países, alicerça-se muito mais numa legislação básica do que numa estrutura operacional
para cumpri-la. A cultura latino americana é pródiga em elaborar legislação e pouco eficaz
em cumpri-las. Talvez isto explique a raridade de Planos, Programas e Projetos e as
respectivas metas a serem alcançadas nas ações de controle das atividades antrópicas e
da proteção da biodiversidade;
A execução da Política Ambiental compete à estrutura formal de um Estado, com
reduzida tradição da participação da sociedade civil nos seus destinos e por isso, os
órgãos ambientais governamentais freqüentemente sujeitam-se mais aos interesses
políticos conjunturais do que ao controle da qualidade do ar, água, solo e proteção da
biodiversidade. Lamentavelmente, muito órgãos ambientais na América Latina são criados
mais como, instrumentos de defesa das pressões ambientais contra o país do que na
defesa da saúde pública e do ambiente;
O principal instrumento que agilizou o desenvolvimento, ainda que precário dos
órgãos de Gestão Ambiental foram os organismos multinacionais de créditos mas
atualmente, com a carência de tomadores de crédito no mercado internacional,
lamentavelmente percebe-se uma flexibilização negativa nas exigências ambientais
destes órgãos para aprovação de projetos;
As deficiências na estrutura operacional para o controle das fontes de poluição pontuais,
difusas, fixas ou móveis, a carência de recursos humanos, a fragilidade de tecnologia
disponível, o desconhecimento por parte de inúmeras autoridades governamentais de
estratégias e gerenciamento ambiental, muita vezes transformam esta fundamental
atividade em sinônimo de ecologia utópica e não de medidas para mitigar os impactos
adversos modificadores do ambiente. Portanto, é comum na América Latina, encontrar
nas dependências dos órgãos ambientais uma enorme quantidade de propaganda
institucional da fauna ou flora do que ações concretas para protegê-las, assim como ao
ser humano;
A mudança da composição etária da população da América Latina, com aumento
da expectativa de vida, torna as doenças ocasionadas pela exposição de contaminantes a
longo prazo(doenças crônicas) tão importantes como as doenças agudas. No ano de
1979, no Brasil, 25% das mortes atingiam crianças com menos de 1 ano, enquanto 47%
estavam concentradas na população com 50 anos ou mais. Este quadro mudou no ano de
1995, com a mortalidade inferior a 1 ano caindo para 9% do total e a das pessoas com
mais de 50 anos atingia a 63% dos óbitos ano de 1996;
As ações de controle ambiental das fontes de contaminação na América Latina,
para se desenvolverem, devem se apoiar em Planos, Programas e Projetos
dimensionados com recursos econômico-financeiros, humanos e previsão de
disponibilidade tecnológica e de necessidades de cooperação técnica em função dos
prazos desejados e metas a alcançar;
O controle da dispersão ambiental das substâncias químicas na América Latina
exige um inventário da quantidade, toxicidade, biopersistência ambiental e aplicação,
tanto daquelas produzidas pelas indústrias locais como importadas. Como instrumento
primordial de controle poderia ser criado um Sistema de Gerenciamento das Substâncias
Químicas de caracter supranacional entre os países da América e coordenados no âmbito
da Organização dos Estados Americanos ou a Organização Pan-americana da Saúde;
Atualizar as tecnologias de monitoramento ambiental das substâncias químicas
através de indicadores biológicos associados a avaliação dos níveis de contaminantes
nas populações;
As principais áreas a exigir cooperação técnica imediata para mitigar os riscos à
saúde dos seres humanos e evitar a bioacumulação das substâncias químicas se
relacionam a técnicas modernas de tratamento de água, controle do lodo de fundo de
reservatórios e lagos, recuperação do alumínio de sistemas de tratamento de água,
tratamento de contaminantes líquidos, atmosféricos e sólidos, prevenção da geração de
resíduos sólidos perigosos, eliminação das queimadas na Amazônia como fonte antrópica
de contribuição para o efeito estufa e destruição da biodiversidade, implantação de
laboratório de certificação da qualidade ambiental e para bioprospecção molecular dos
recursos genéticos.
CAPÍTULO 3 - A CONCEPÇÃO DA ESTRUTURA AMBIENTAL NO BRASIL

O marco referencial da Gestão Ambiental no Brasil, se consolidou a partir de1981


ao estabelecer os princípios, objetivos e instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente. Por sua vez, a Constituição promulgada em outubro de 1988 abordou
amplamente a questão ambiental dedicando à mesma, não apenas todo o seu Capítulo
VI, como inserindo-a em quase todos os setores da vida brasileira, ao contemplar a
matéria em inúmeros dispositivos ao longo do seu texto. no que respeita à competência
para legislar e atuar na proteção ao meio ambiente e no uso e exploração dos recursos
naturais.
A nova Constituição do Brasil, ao contrário da anterior, revelou-se bastante
descentralizadora e consagrando, nesta área, a co-responsabilidade da União, dos
Estados e dos Municípios. Com efeito, estabelece a competência concorrente da União e
dos Estados para legislar sobre florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,
defesa do solo e dos recursos naturais, proteção ao meio ambiente e controle da poluição
(Artigo 24, VI) e a competência comum (ou seja, o direito / dever de agir ) da União,
Estados e Municípios para proteger o meio ambiente e combater a poluição em todas as
suas formas, preservar as florestas, a fauna e a flora e ainda registrar, acompanhar e
fiscalizar a concessão de direitos de pesquisas e exploração de recursos hídricos e
minerais em seus territórios (Artigo 23, VI,VII e XI). Aos municípios, reservou ainda a
legislação sobre assuntos de interesse local e a suplementação da legislação federal e
estadual, no que couber (Artigo 30, I e II) .
Assim dispondo e fortalecendo a atuação dos Estados na área ambiental, a
Constituição veio, na verdade, retratar o quadro legal já existente e a estrutura implantada
pela Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981 que instituiu no Brasil o SISNAMA - Sistema
Nacional do Meio Ambiente, constituído pelos órgãos e entidades da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade
ambiental e que assim se estrutura:
Órgão Superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente da
República, na formulação da Política Nacional e nas diretrizes governamentais para o
meio ambiente e recursos naturais;
Órgão Consultivo e Deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com
a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de
Políticas Governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no
âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente
ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade da vida. O CONAMA, por contar
com representantes dos diversos níveis de governo e dos setores envolvidos direta ou
indiretamente em atividades modificadoras da qualidade ambiental e o uso dos recursos
naturais, se constitui num importante fórum a propiciar a tomada de decisões supra-
setoriais atendendo não apenas os princípios que regem a Política Nacional do Meio
Ambiente, tal como estabelecida na Lei n° 6.938 / 81, como as normas constitucionais que
deram nova perspectiva à questão ambiental;
Órgão Central: o Ministério do Meio Ambiente, Recursos Hídricos e da Amazônia Legal,
com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar as ações relativas ao
meio ambiente, formulando, como órgão federal, a Política Nacional e as diretrizes
governamentais fixadas para o meio ambiente e implementar os acordos internacionais na
área ambiental;
Órgão Executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA), entidade autárquica de regime especial, dotada de personalidade
jurídica de direito público, autonomia administrativa e financeira, com a finalidade de
executar a Política Nacional do Meio Ambiente e da preservação, conservação e uso
racional, fiscalização, controle e fomento dos recursos naturais renováveis. Por se
constituir numa estrutura centralizadora e que avoca, a si, ações operacionais,
freqüentemente entra em conflito com a autonomia dos Estados. O IBAMA deveria ser
uma estrutura reduzida e suficientemente forte para o exercício de ações supletivas,
sempre que se constatar a ocorrência de deficiências institucionais, tecnológicas,
operacionais ou omissões a nível local das autoridades ambientais, na observância da
legislação que disciplina as atividades modificadoras do meio ambiente.
Órgãos Setoriais: os órgãos ou entidades integrantes da Administração Pública Federal
direta ou indireta, bem como as Fundações instituídas pelo Poder público, cujas
atividades estejam, total ou parcialmente associadas às de preservação da qualidade
ambiental ou de disciplina dos recursos naturais;
Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de
programas, projetos e pelo controle e fiscalização das atividades susceptíveis de
degradarem a qualidade ambiental, tais como as Secretarias de Meio Ambiente ou
organismos correlatos;
Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo controle e
fiscalização dessas atividades, nas respectivas áreas de jurisdição.
No caso brasileiro, as medidas que estimulam a Gestão Ambiental se vinculam à
intensidade com que se desenvolve a consciência ecológica na sociedade, à atitude
fiscalizadora das organizações não governamentais(ONG) - inicialmente, com atuação
voltada a proteção dos recursos naturais e na atualidade, também mobilizando-se na
direção da melhoria dos ecossistemas urbanos. Destaca-se também, a contribuição do
Ministério Público no Brasil, como Fiscal e Pólo Ativo da Lei Ambiental agora também
apoiado na Lei N° 9.605, de fevereiro de 1998 que tipifica e penaliza os Crimes
Ambientais. É uma legislação avançada que inclusive criminaliza e penaliza(com reclusão
de um a três anos) a autoridade pública, conforme explicitado no Artigo 67 ao estipular
que: "conceder o funcionário público licença, autorização ou permissão em desacordo
com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização depende
de ato autorizativo do Poder Público" e no Artigo 68: " deixar, aquele que tiver o dever
legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental."
Apesar de todas as dificuldades, o modelo ambiental brasileiro possui uma razoável
organização sistêmica, quando comparado com algumas estruturas congêneres da
América Latina, possivelmente pela participação ativa da sociedade a exigir resultados
concretos na redução da degradação ambiental, em especial dos grandes centros
urbanos. A intensidade da relação organização-participação da sociedade, pressiona as
autoridades constituídas para aprimorar a qualificação profissional e a tecnologia
ambiental beneficiando positivamente a interação da Ecologia Humana com a Ecologia
dos Recursos Naturais.

Você também pode gostar