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I N S T I T U T O P Ó L I S
cadear ações que ofereçam novas perspectivas anos, bem como oportunidades e espaços para
para a destinação final dos resíduos sólidos. lazer e esporte.
CRIANÇA NO A saúde e a alimentação também merecem aten-
ção especial. A partir de um diagnóstico epide-
N
qualidade de vida, para afastar as crianças des- po de permanência neste programa e um aten-
a maioria dos municípios brasileiros tas atividades. É importante privilegiar uma dimento social diferenciado. Outra alternativa
há pessoas vivendo no lixo. São cata- abordagem intersetorial (integrando órgãos é um programa como o Bolsa-Escola (veja DI-
dores de rua ou coletores de sucata e papelão. encarregados da limpeza pública, com as se- CAS nº 75) que pagam uma renda mensal às
Também há famílias inteiras que sobrevivem cretarias de educação, saúde, etc.). Além dis- famílias que mantém seus filhos na escola.
nos lixões, recolhendo restos de comida e ou- so, pode-se montar grupos interdisciplinares Também as mães devem ser envolvidas em pro-
tros materiais. integrando conselhos, entidades, universidades, gramas de orientação alimentar, combate à des-
Mais de 100 mil pessoas, incluindo crianças e organizações religiosos, ONGs e voluntários nutrição, saúde e violência, drogadição e rela-
adolescentes, trabalham na catação, tendo-se, que, de alguma forma, estejam envolvidos com ção com os filhos.
em alguns lugares, três gerações de uma mes- a problemática, ou sejam sensíveis a ela, para O resgate da auto-estima das pessoas que mo-
ma família vivendo no e do lixo. A situação que as ações sejam combinadas e consigam ram e vivem do lixo é imprescindível: em Belo
destas pessoas é extremamente cruel: expostas interferir em múltiplos lados da questão. Horizonte-MG, paralelamente à preocupação
a doenças através de vetores (moscas, ratos, Apesar das diferenças entre os municípios, três com a destinação dos resíduos, foram desen-
baratas), mutilações e risco de vida. Elas estão aspectos devem ser levados em conta: a crian- cadeadas ações culturais de valorização do tra-
privadas de educação, lazer, moradia, saúde, ça e o adolescente, a família, e a destinação balhador, de capacitação profissional e de dis-
afeto, e convivem com marginalidade, prosti- final do lixo. ponibilização de infra-estrutura digna para
tuição, uso indevido de drogas, sem qualquer a) Criança e adolescente: Deve-se orientar as quem trabalha neste setor (veja DICAS nº 66).
perspectiva de um futuro digno. escolas para que priorizem vagas para as crian- Deve-se levar em conta que estas pessoas difi-
Para reverter este quadro, o Programa Lixo e ças e adolescentes que vivem da catação do lixo. cilmente conseguirão emprego em outras áre-
Cidadania, uma iniciativa do Unicef em parce- Além disso, um dos desafios tem sido enfren- as. Ainda assim é importante capacitá-las com
ria com várias entidades, dentre elas o BNDES, tar os preconceitos por parte dos professores, cursos de alfabetização e profissionalizantes.
CEF, Ministério Público, Ministério do Meio servidores, diretores e alunos em relação às Em Timóteo-MG (65 mil hab.), por exemplo,
Ambiente e da Amazônia Legal e o Instituto crianças que vivem em locais como os lixões, foi criado o Programa de Autogestão de Lim-
Pólis, pretende favorecer alternativas sociais e ajudá-las em sua adaptação e integração uni- peza Pública, um convênio entre a prefeitura e
para que nenhuma criança tenha que sobrevi- verso escolar. Também devem ser promovidas o Conselho Comunitário Municipal para lim-
ver da catação de lixo, e, no caso dos adultos, atividades no período livre. Creche para as cri- peza e capina das vias e logradouros públicos,
que o possam fazer de forma digna e em outras anças menores, oficinas de artes e atividades contratando e capacitando pessoas nos própri-
condições de trabalho. Além disso, quer desen- profissionalizantes para os que têm mais de 14 os bairros onde os serviços têm que ser reali-
zados. Já a prefeitura de São Paulo-SP (9.842 clagem, envolvendo neste trabalho as pessoas lecimento de um plano que contemple as vári-
mil hab), em 1990, apoiou a organização dos que antes viviam da catação de lixo, e que pas- as frentes de atuação: ações destinadas direta-
catadores de papel em cooperativa, a COOPA- sam a ter renda e condições dignas de sobrevi- mente às crianças, ações de melhoria da quali-
MARE, ajudando a resgatar sua cidadania ao vência. A partir desta nova situação familiar, dade de vida das famílias, especialmente ações
mesmo tempo em que reduzia os gastos públi- será cada vez menor a presença de crianças e de geração de emprego e renda, integradas ou
cos com a gestão de resíduos (veja DICAS nº adolescentes nos lixões. não às ações de implantação de um novo mo-
58 e Revista Pólis nº 31). delo de gerenciamento de resíduos que substi-
Mas não basta organizar as pessoas para tirá- tua a utilização de lixões. O fator crítico para o
las dos lixões. Além de emprego e renda, é pre- sucesso desse plano é a integração das ações a
ciso garantir o atendimento às suas necessida- IMPLANTAÇÃO serem empreendidas.
des básicas, como moradia e saúde. Para resol- Para garantir a continuidade do projeto e evi-
ver de forma definitiva a situação, é preciso Um projeto de erradicação do trabalho infantil tar o retrocesso ao uso de lixões e o recrudes-
fechar ou transformar o lixão em aterro sanitá- nos lixões deve ser implantada por etapas. O cimento do trabalho infantil é necessário for-
rio ou controlado, com o seu cercamento, e a projeto deve ser construído e revisto durante a malizar acordos legais, tanto com a participa-
implantação da infra-estrutura para a sua ope- sua própria execução. Na maioria dos casos, ção da comunidade como do ministério públi-
ração como tal, evitando-se dessa forma que somente durante a realização das ações é que co, conselhos tutelar e de defesa da criança e
novos catadores se estabeleçam no local. se descobrirá o tamanho real do problema. Isto do adolescente, a promotoria de defesa do di-
c) Destinação final do lixo: A mudança no pa- não dispensa, entretanto, a realização de um reito do cidadão e do meio ambiente, secretari-
drão de destinação do lixo é uma boa oportu- bom diagnóstico inicial. as de estado do meio ambiente e habitação.
nidade para mudar o modelo de gerenciamen- A implantação de soluções discutidas com di- Os meios de comunicação devem receber aten-
to de resíduos adotado pela prefeitura. Esta versos setores da sociedade e todas as áreas da ção especial por conta do seu impacto junto a
mudança deve levar em conta a redução do prefeitura é fundamental para garantir o máxi- formadores de opinião, principalmente devido
volume, a reutilização e a reciclagem dos resí- mo de adesão à proposta e sua perfeita adapta- à grande possibilidade de polêmicas, e apresen-
duos (veja DICAS nº 109). A administração ção à realidade local. tar para a população as diversas (e muitas vezes
municipal, em parceria com organizações da A complexidade do tema exige um minucioso conflitantes) opiniões sobre o tema, permitindo
sociedade civil, pode aproveitar a oportunida- trabalho de identificação de problemas, difi- ao cidadão tirar suas próprias conclusões, a se-
de e iniciar programas de coleta seletiva e reci- culdades e oportunidades, levando ao estabe- rem defendidas nos fóruns de participação.