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Empreendedorismo social: propósitos em

equilíbrio com os negócios


SEBRAE JEFFERSON REIS BUENO

O empreendedorismo social é caracterizado pela criação de produtos e serviços que tem o


foco principal na resolução, ou minimização, de problemas em áreas como educação,
violência, saúde, alimentação, meio ambiente, etc. Mais do que obter o simples lucro, o
objetivo destas empresas é gerar transformação nas comunidades em que estão
inseridas. O faturamento adquirido é investido em ações que possam aumentar o impacto
e promover o bem-estar do público.

O artigo Empreendedorismo Social, pós-modernidade e psicologia: compreendendo


conceito, atuações e contextos indica que o termo “empreendedorismo social” foi utilizado
pela primeira vez em 1972 nos Estados Unidos. No Brasil, o conceito tem se popularizado
nos últimos anos, mas muitas empresas sociais ao longo da história executaram ações
visando atender problemas pontuais com campanhas ou arrecadação de recursos.

Qual a diferença entre empreendedorismo social


e clássico?
A diferença é que enquanto o empreendedor clássico realiza apenas ações sazonais
ou em datas comemorativas, como Natal e Dia das Crianças, o empreendedor social
desenvolve um negócio que possa servir constantemente determinada causa. Um
exemplo são as campanhas de inverno realizadas todos os anos por empresas que doam
roupas aos moradores que estão em situação de rua. Apesar de minimizar o frio, esse tipo
de ação não transforma a situação, pois mais questões associadas como o desemprego,
continuam a existir.

Já no empreendedorismo social, por exemplo, um profissional poderia criar uma loja de


roupas que só fizesse a contratação de moradores em situação de rua, ensinando a
costurar e doando parte da produção aos funcionários. O lucro obtido com a venda das
peças seria utilizado para o pagamento de despesas e salário dos empregados. O
negócio ainda poderia oferecer diferentes benefícios aos trabalhadores, como cursos e
grupos de apoio.

Uma distinção entre empresas tradicionais e os negócios sociais, é que enquanto muitas
organizações adotam práticas internas para redução do impacto ambiental, os
empreendedores sociais vão desenvolver produtos e serviços específicos para resolver
problemas ambientais. Por exemplo: lojas de reciclagem, moda sustentável e
indústrias limpas.

Os focos de atuação do empreendedorismo


social
As principais áreas de desenvolvimento do empreendedorismo social são:

 educação, alfabetização e inclusão digital;


 moradia de baixo custo;
 reciclagem, indústrias limpas e energias alternativas;
 agricultura, floresta e uso de água;
 saúde e nutrição comunitárias;
 diversidade e multiculturalismo;
 oportunidades para deficientes;
 serviços em geral;
 apoio ao empreendedorismo e microcrédito;
 direitos humanos.

Mas o que leva uma pessoa abrir mão do lucro total para investir em soluções para
problemas sociais? Propósito. Tais empreendedores encontram no trabalho uma missão
que ultrapassa a busca pelo sucesso financeiro e se reflete em benefício do próximo. Essa
missão pode ser criar casas com materiais recicláveis para comunidades carentes, ou
um salão de beleza que realize cortes gratuitos para crianças de abrigos e orfanatos.

Não há como alguém definir a missão de outra pessoa, mas cada um pode detectar aquilo
que mais o incomoda e buscar desenvolver soluções por meio de atividades comerciais.

Usando novas tecnologias no


empreendedorismo social
Uma das inúmeras maneiras de criar empreendimentos socioambientais é utilizar novas
tecnologias e plataformas online. Redes sociais, blogs, softwares e programas digitais
podem ser tanto um canal para desenvolver as propostas do negócio, quanto uma
ferramenta para gerar transformação social.
Com a infinidade de informações disponibilizadas gratuitamente pelo Governo e
instituições mundiais como a ONU, o empreendedor pode identificar problemas locais,
desenvolver soluções e novos modelos de negócio.   

Em 2017, por exemplo, foi divulgado pela UNAids (ONU), que o Brasil registrou um
aumento de 3% no número de casos de AIDS entre 2010 e 2016 – sendo que o combate a
AIDS, assim como da malária e outras doenças é um dos oito objetivos do
milênio. Empreendedores sociais podem desenvolver diferentes soluções para o
problema, atuando tanto na prevenção quanto no apoio aos pacientes, com o uso de
tecnologias, como aplicativos ou plataformas online.

Uma ferramenta do tipo poderia auxiliar os soropositivos com dados, informações, e


mecanismos para o controle da medicação e uma rede de apoio digital. O negócio seria
capaz de obter recursos com materiais específicos e reverter parte dos lucros para
campanhas de prevenção ou casas de tratamento populares para crianças e jovens em
situação de vulnerabilidade e abandono.

Essa é mais uma ideia de produto que é capaz de gerar impacto tanto para o usuário da
ferramenta, quanto para a organização que viesse a receber os recursos destinados pela
empresa. Tal mecanismo não precisa ser desenvolvido apenas por grandes
empreendimentos de tecnologia, mas por qualquer pessoa que se identifique com este ou
outros problemas de saúde, educação, segurança, meio ambiente e etc.   

Empatia
A empatia é a principal característica dos empreendedores sociais, que devem buscar
conhecer o público ou a causa que desejam atender, percebendo seus impasses e
dificuldades. Não é possível desenvolver empatia apenas com números e relatórios; para
isso é essencial ouvir e conversar com potenciais clientes (não buscando apenas uma
ideia de negócio), se colocando no lugar de quem realmente convive com a situação – seja
a falta de alimentos, questões de segurança, convívio com o lixo ou a dificuldade de
acesso à cultura.
A busca por equilíbrio financeiro
Nem só de propósitos e tecnologias vivem os negócios de empreendedorismo social. A
sustentabilidade e continuidade dos negócios de impacto depende de inúmeros
fatores além de sonhos e objetivos socioambientais. Mesmo não sendo a principal
meta para os empreendedores do segmento, o controle e retorno financeiro do negócio é
que irão possibilitar a remuneração dos colaboradores, o pagamento das despesas e a
realização de novos investimentos.

Vale destacar que esta modalidade de empreendedorismo não deve ser confundido


com o trabalhado realizado por organizações não governamentais sem fins
lucrativos. Na verdade, o faturamento e o equilíbrio financeiro são fundamentais para o
desenvolvimento e crescimento das empresas sociais, que não buscam patrocínios ou
subvenções. Em 2017, o 1º Mapa Brasileiro de Negócios de Impacto
Socioambiental lançado pela Pipe, listou 579 empreendimentos que atuam nas áreas de
educação, tecnologias verdes, cidadania, cidades, saúde e finanças. A pesquisa indicou
que em 2016:

– 35% não tiveram faturamento;


– 31% obtiveram lucro de até R$100 mil;
– 13% entre R$ 101 mil e R$ 500 mil;
– 6% entre R$ 501 mil e R$1 milhão;
– 5% entre R$ 1,1 milhão e R$ 2 milhões;
– 7% acima de R$ 2,1 milhões;
– 3% não sabem ou não responderam.

Para conseguir o capital inicial para abrir uma empresa muitos empreendedores lançam


campanhas de financiamento coletivo, buscam investidores, aceleradoras, incubadoras de
projetos ou instituições financeiras. Ao apresentar a ideia de negócio é importante destacar
o impacto social esperado e como ocorrerá o retorno financeiro.

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