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UNIDADE 2

EMPREENDEDORISMO

EMPREENDEDORISMO SOCIAL

AUTOR

ÂNGELO JOSÉ PENNA MACHADO


APRESENTAÇÃO
Nos últimos tempos, o mundo tem passado por diversas mudanças. E no mundo
do trabalho não foi diferente. As profissões e os ambientes organizacionais
mudaram de acordo com as questões econômicas, sociais e principalmente em
função dos avanços tecnológicos. Profissões tradicionais tiveram que se adaptar
ao mundo virtual e novas possibilidades de trabalho surgiram. Uma das
mudanças mais destacadas, indubitavelmente, foi o crescimento do
Empreendedorismo, algumas vezes por vocação, outras por necessidade. O fato é
que muitos profissionais, das mais diversas áreas do conhecimento, têm no
Empreendedorismo sua principal – em alguns casos até a única – fonte de
rendimentos.

Mas para que esses profissionais, independentemente se por necessidade ou por


vocação, tenham êxito em suas empreitadas, é necessário um mínimo de
conhecimento sobre aspectos de gestão, finanças, mercado, plano de negócio,
enfim, o conhecimento necessário para abrir uma empresa ou até mesmo para
atuar como autônomo. Para iniciar na seara do mundo dos negócios, o
profissional precisa se inteirar destes importantes aspectos, não importando se o
negócio em mente é uma grande empresa ou um pequeno consultório ou clínica.

Portanto, a disciplina de Empreendedorismo tem por objetivo principal


sensibilizar os alunos e alunas sobre a importância do conhecimento sobre os
aspectos ligados à área empresarial para o sucesso profissional. As respectivas
capacidades técnicas são imprescindíveis para qualquer profissional, mas o
conhecimento sobre gestão é o que proporciona a longevidade da empresa.

A disciplina foi dividida em 3 módulos, cada um contendo textos e slides para


facilitar o aprendizado sobre o tema. No Módulo 1, veremos a base conceitual
sobre Empreendedorismo e suas nuances (empreendedorismo social e
intraempreendedorismo). No Módulo 2, vamos estudar sobre dois componentes
fundamentais para o empreendedorismo, que são a criatividade e a inovação. E
por último, no Módulo 3, será possível conhecer duas ferramentas fundamentais
para o primeiro passo na direção da criação de uma empresa: o Plano de Negócio
e o Modelo Canvas de Negócios.

01
CONHEÇA O
CONTEUDISTA

ÂNGELO JOSÉ PENNA MACHADO

Ângelo José Penna Machado: Graduado em Administração de Empresas pela


Fundação Presidente Antônio Carlos (1992). Professor das Faculdades ICESP de
Brasília. É oficial da Reserva das Forças Armadas – Exército Brasileiro, onde atuou,
desde 1993, na área de Gestão Pública e, entre 2000 a 2018, na área de licitações
e contratos no Comando Logístico. Possui experiência docente, a partir de 1997,
em cursos de graduação e pós graduação lato sensu em Administração e
Contabilidade em várias instituições do Distrito Federal, nas áreas de
Administração Pública, Teoria Geral da Administração, Administração de Materiais
com ênfase em Logística, Organização Sistemas e Métodos, Metodologia de
Pesquisa Científica, Gestão da Criatividade e da Inovação, Empreendedorismo,
Gestão de Projetos e orientação de trabalhos de conclusão de curso. Mestre em
Educação pela Universidade Católica de Brasília (UCB) e pós graduado, nível
especialização, em Logística e Contabilidade pela Fundação Getúlio Vargas.
Participa do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Gestão e Saúde do Trabalhador
das Faculdades de Administração, Contabilidade e Economia (FACE) da
Universidade Federal de Goiás (UFG).

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UNIDADE 2
Introdução

O empreendedorismo, como nós sabemos, é um caminho fantástico capaz de


transformar a realidade de cidades e países. Não há forma melhor do que
melhorar o cotidiano de um local que cria novos negócios, gerar empregos e
atender às demandas das pessoas que vivem ali.

Mas e se, além dos interesses econômicos, tudo isso tivesse um objetivo social?
Isso se chama empreendedorismo social, uma corrente do empreendedorismo
que tem crescido muito no Brasil nos últimos anos. Um empreendedor social tem
no coração da sua empresa, como objetivo principal, atender às necessidades
sociais dos lugares onde atua e contribuir para mudar a realidade dos seus
consumidores.

Os empreendimentos sociais devem vender produtos ou serviços capazes de


aumentar a qualidade de vida das pessoas e contribuir para a mudança de
realidades sociais, e que ao mesmo tempo viabilize a manutenção da empresa e o
seu crescimento.

Conceito de Empreendedorismo Social

De acordo com Rosolem, Tiscoski e Comini (2015), o sistema econômico vigente


trouxe desafios de ordem social e ambiental que inicialmente eram ignorados ou
subestimados, mas que atualmente passam a ocupar cada vez mais espaço nas
discussões e atuação de empresas, governo e sociedade civil. As consequências
provocadas pelo aumento das desigualdades sociais e do desgaste dos recursos
naturais são alguns exemplos da abrangência dessas discussões.

Na tentativa de prover respostas e soluções a esses desafios, começam a surgir


novos modelos de organizações, os quais têm como intuito a geração de valor
social e/ou ambiental além do valor econômico. Esses empreendimentos
apresentam produtos e formatos inovadores para atender a uma demanda da
sociedade, e sua organização pode variar entre o modelo privado e o do terceiro
setor.

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EMPREENDEDORISMO

Em uma concepção mais ampla, empreendedorismo social refere-se a uma


atividade inovadora com um objetivo social, podendo ocorrer no setor privado,
no terceiro setor ou em organizações híbridas. Assim, o conceito de
empreendedorismo social está pautado na criação de valor social e na introdução
de inovações de metodologia, serviços ou produtos, as quais geram uma
transformação social. A inserção da dimensão econômica e da lógica de mercado,
de acordo com Rosolem, Tiscoski e Comini (2015), abriu novas possibilidades para
a atuação das organizações que até então contemplavam uma única dimensão
(social ou econômica). Nesse sentido, surgem novos termos para caracterizar
iniciativas que operam na lógica de mercado, porém com objetivos de geração de
valor social: empresas sociais, negócios sociais e negócios inclusivos.

Lima (2013), citada por Oliveira (2021) aponta o empreendedorismo social como
um tipo de empreendimento que corresponde a um método do mercado
capitalista com o social, equilibrando os objetivos econômicos e sociais. A autora
afirma que as empresas sociais são classificadas também como organizações
híbridas, ou seja, quando o efeito social sobressai perante a outros aspectos. O
empreendedor social é apontado pela citada autora como o indivíduo que melhor
sabe gerir a preocupação da missão social e o que melhor consegue equilibrar as
finanças da empresa social.

Causar um impacto positivo em uma comunidade, ampliar as perspectivas de


pessoas marginalizadas pela sociedade, além de gerar renda compartilhada e
autonomia financeira para os indivíduos de classe baixa são alguns dos objetivos
dos negócios de impacto social. Os negócios de impacto social buscam sempre
beneficiar diretamente pessoas de renda mais baixa, das chamadas classes C, D e
E e buscam impacto socioambiental positivo gerado através do próprio core
business do empreendimento, ou seja, a atividade principal deve beneficiar
diretamente pessoas com faixa de renda mais baixas. Portanto, viabilidade
econômica e preocupação social e ambiental possuem a mesma importância e
fazem parte do mesmo plano de negócios.

Na prática, os negócios sociais se configuram como organizações de várias


naturezas jurídicas que operam como negócio, orientando-se pela lei da oferta e
demanda e dedicando-se a conhecer seu público, oportunidades e riscos, e
utilizando mecanismos de mercado para atingir seus propósitos sociais.

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EMPREENDEDORISMO

Como um negócio tradicional, ele deve gerar suas próprias receitas a partir da
venda de produtos e/ou de serviços como de educação, saúde, nutrição,
tecnologia, etc. E sua motivação de existir é primordialmente ou exclusivamente
por uma causa sócio ambiental.

Os negócios de impacto social mostram que não há conflito entre ambição social
e econômica, pois são empreendimentos que focam o seu negócio principal na
solução, ou minimização, de um problema social ou ambiental de uma
coletividade. Esse objetivo faz parte do seu plano de negócios e é o que vai trazer
lucro para a empresa.

A viabilidade econômica do negócio é crucial para sua sobrevivência, que não


busca subvenções e patrocínios. Portanto, viabilidade econômica, preocupação
social e ambiental possuem a mesma importância e fazem parte do mesmo plano
de negócios. Além disso, esses empreendimentos buscam incentivar o consumo
responsável e sustentável, sem endividamentos excessivos.

Segundo o Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro


Setor da Universidade de São Paulo (CEATS), citado pelo SEBRAE (2014), a
intencionalidade é um fator importante e diferencial nos negócios de impacto
social. Bem como sua relação com a realidade local e compromisso com o
desenvolvimento do território. A análise da realidade social e seu contexto é
fundamental para determinar o negócio de impacto social.

Negócios sociais também são chamados de empresas sociais, empresas 2.5,


empresas BOP (base da pirâmide) ou negócios inclusivos. Podem distribuir seus
lucros entre os investidores e sócios, da mesma maneira que podem reinvestir
todo o resultado no próprio negócio de forma a gerar melhores resultados e mais
impacto social (SEBRAE, 2013).

Para melhor esclarecer a questão da intencionalidade para determinar se um


negócio é de viés social ou não, veja os exemplos da figura a seguir (SEBRAE,
2014):

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EMPREENDEDORISMO

Pelos exemplos acima, percebe-se que a intencionalidade é um fator importante


e um diferencial nos negócios sociais, bem como sua relação com a realidade
local e compromisso com o desenvolvimento do território ou de uma
coletividade. A análise da realidade social e seu contexto são fundamentais para
determinar o negócio social.

Importante destacar que o empreendedorismo social não deve ser confundido


com filantropia. Mesquita (2016) ensina que uma das características do
empreendedorismo social é que ele não se confunde com filantropia, embora nos
dois casos haja impacto positivo na sociedade. A distinção acontece porque
empreendimentos sociais são, de fato, empresas que procuram ser
autossustentáveis e competem no mercado em busca de lucro — ou, ao menos,
de fechar as contas no verde no fim do mês. Depende da filosofia do
empreendedor.

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EMPREENDEDORISMO

As ONG (Organizações Não Governamentais) e outros braços de filantropia vivem


de doações ou tem a venda de produtos como um acessório para se
sustentarem, como faz o Projeto TAMAR. A diferença é bem clara. No caso dos
negócios sociais, o produto não é um acessório, é a razão de existir da empresa.
É ele próprio que causa impacto social, não ações desenvolvidas a partir do
dinheiro alcançado com as vendas.

Origem, motivação e modelos de gestão do empreendedorismo social

O termo empresa social começou a ser empregado nos Estados Unidos, quando
as organizações não governamentais começaram a expandir suas atividades
comerciais. Esse movimento foi impulsionado pela escassez de recursos gerada
pela retração do financiamento estatal, iniciado no fim dos anos 1970 (KERLIN,
2006, apud ROSOLEN, Tiscoski E COMINI, 2015).

Conforme o citado autor, na visão norte-americana, é notório o entendimento do


termo como maneira de englobar organizações de diversos tipos envolvidas em
atividades socialmente benéficas. Empresas sociais podem ser definidas como
empresas de duplo propósito e que adequam metas de lucro com objetivos
sociais (híbridas), ou organizações sem fins lucrativos empenhadas em
desenvolver atividades comerciais que ofereçam suporte à execução de sua
missão (organizações com fins sociais).

Ainda na corrente norte-americana, Rosolen, Tiscoski e Comini (2015) destacam o


pensamento de Dees (1998), o qual assinala que as empresas sociais se
aproximam de uma orientação de mercado, como maneira de manterem sua
atividade social e se tornarem menos dependentes de doações e subvenções e
mais de honorários e contratos.

Essa tendência, segundo o mencionado autor, tem como razões: o


desenvolvimento do capitalismo e a crescente confiança no poder da
concorrência e do lucro como promovedores da eficiência e da inovação; a
promoção do bem estar social sem causar dependência aos beneficiados; a
busca por fontes de financiamento mais sustentáveis (o desenvolvimento de
atividades que geram renda parece ser mais confiável que as doações e
subsídios); mudança no foco das instituições que destinam recursos às
organizações não lucrativas, pois passaram a preferir fomentar empresas com
abordagens mais comerciais; e ação de forças competitivas (empresas
tradicionais e não lucrativas com orientação de mercado).

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EMPREENDEDORISMO

Sobre a atuação das empresas sociais, Dees (1998) evidencia uma gama de serviços
suportados por elas, tais como educação, artes, cuidados médicos, moradia,
combate à fome, poluição ambiental, violência doméstica e uso de drogas. Ou seja,
segundo o autor, elas atuam em áreas onde o mercado por si só não irá suprir
adequadamente as necessidades e/ou completando as atividades exercidas pelo
governo.

Além da perspectiva norte-americana, a qual se refere a empresas sociais como


organizações do setor privado que operam de acordo com a lógica de mercado com
foco em soluções viáveis aos problemas sociais, Fischer e Comini (2012), citados por
Rosolen, Tiscoski e Comini (2015) explicam que existem outras duas principais linhas
de pensamento sobre o conceito de empreendimentos sociais:

1ª) A perspectiva europeia, nascida de uma tradição de economia social, como


associações e cooperativas, destaca as atividades de organizações da sociedade civil
com funções públicas; e
2ª) A linha de pensamento predominante nos países em desenvolvimento, que
enfatiza iniciativas de mercado que visam reduzir a pobreza e transformar as
condições sociais dos indivíduos marginalizados ou excluídos.

Apesar das diferenças entre os países da Europa, a maioria das empresas sociais
daquele continente é fundada pela sociedade civil com o objetivo de promover
serviços de interesse coletivo, oferecendo suporte a grupos com alto risco de
exclusão social. Assim, para a empresa social europeia, a produção de bens e
serviços está intimamente ligada à sua missão. Ou seja, se o objetivo é desenvolver
serviços sociais, a atividade econômica é a entrega de tais serviços.

O modelo de governança é um dos pontos de maior importância na definição das


empresas sociais europeias. A lógica de processos de tomada de decisão
participativos e transparentes é um pré-requisito para sua caracterização. No
entendimento europeu, essa dimensão coletiva e participativa das empresas sociais
reduz a probabilidade de comportamentos oportunistas de indivíduos isolados.
Essas organizações possuem perfil de prestação de serviços públicos e, em sua
maioria, são, de fato, financiadas por recursos governamentais. Isso faz com que
algumas de suas práticas de gestão sejam diferenciadas do contexto norte-
americano.

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EMPREENDEDORISMO

O movimento do empreendedorismo social também foi intensamente disseminado


nos países em desenvolvimento, porém o termo “empresa social” não adquiriu tanta
aceitação em regiões como a América Latina e Ásia. Assim, surgiram novas
nomenclaturas, como negócios sociais e negócios inclusivos.

O termo “negócios sociais” passou a ganhar evidência com o destaque de


Muhammad Yunus, empreendedor social criador do Grameen Bank, ganhador do
Prêmio Nobel da Paz de 2006 e autor de artigos acadêmicos na área. Foi utilizado
não somente um novo termo, mas surgiu também uma nova visão a respeito dos
negócios sociais.

Nessa corrente teórica, há concordância com o entendimento de Kerlin (2006) de


que tais organizações se situam em meio a dois extremos: empresas com fim de
lucro e organizações sem fins lucrativos. Entretanto, a abordagem proposta por
Yunus, Moingeon e Lehmann-Ortega (2010), citados por Rosolen, Tiscoski e Comini
(2015), diferencia-se ao impor maior rigidez em relação à distribuição de dividendos.
Os autores citados defendem que o proprietário de um negócio social não visa
gerar lucro para si próprio, mas tem direito a recuperar seu investimento inicial, se
assim desejar. O excedente econômico gerado deve ser reinvestido no negócio e,
em última instância, revertido aos beneficiários na forma de redução de preços,
serviços melhores e maior acessibilidade.

A importância atribuída à solução de problemas sociais, principalmente envolvendo


a pobreza, por meio da utilização de mecanismos de mercado fez com que o termo
“negócio social” ganhasse mais espaço na realidade dos países em desenvolvimento.
Assim, essa terminologia passa a ser mais frequente no Brasil e em outros países
latino-americanos, além de outras variações como “negócios com impacto social” ou
“negócios socioambientais”.

Além das tipologias apresentadas, vale destacar um termo que surgiu mais
recentemente, mas que também passa a ganhar relevância nesse campo de
estudos: os “negócios inclusivos”. Essa vertente, assim como a dos negócios sociais,
adquiriu mais espaço no contexto dos países em desenvolvimento, uma vez que
coloca grande ênfase na inclusão social por meio do consumo. A questão principal a
qual essa corrente abrange é a oferta de produtos e serviços para a “base da
pirâmide”, nomenclatura utilizada para designar a parcela da população com menor
poder aquisitivo, que está presente principalmente nos países em desenvolvimento.

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EMPREENDEDORISMO

Sendo assim, Prahalad e Hart (2002), referenciados por Rosolen, Tiscoski e Comini
(2015) chamam a atenção para o crescente número de pessoas que, por conta da
melhoria de condições econômicas de seu ambiente, passam a ter acesso à
economia de mercado pela primeira vez. Os autores apresentam a abordagem do
capitalismo inclusivo como um modelo a ser buscado pelas grandes corporações.

Nessa concepção, as empresas deparam-se com uma imensa oportunidade de


expansão de seus negócios, ao mesmo tempo em que contribuem com a população
de baixa renda. Propõem às grandes corporações o seguinte desafio: “vender para
as populações mais pobres e ajudá-las a melhorar suas vidas por meio da produção
e distribuição de produtos e serviços de maneira sensível à sua cultura,
ambientalmente sustentável e economicamente rentável”.

Características de um empreendimento/negócio social

De acordo com o SEBRAE (2014) existem algumas características que fazem de um


empreendimento um negócio de impacto social. Entre elas, estão:

Trabalho em rede, fazendo parcerias de forma a fortalecer e ampliar o impacto


da atuação do negócio;
Combate ao trabalho escravo, forçado ou infantil;
Cuidado com a cadeia produtiva (seleção e avaliação dos fornecedores);
Gerenciamento do impacto ambiental;
Articulação com as políticas públicas.

Além disso, negócios de impacto social vendem produtos que contribuem para
melhorar a qualidade de vida da população de baixa renda. Esse produto ou serviço
principal deve ser capaz de sustentar financeiramente a empresa, de forma que ela
não dependa de doações ou da captação de recursos para as suas operações. Por
fim, o negócio deve ter um plano de gestão inovador e comprometido com a
transformação social.

A figura a seguir apresenta mais algumas diferenças entre os empreendimentos


tradicionais e os sociais:

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EMPREENDEDORISMO

Mesquita (2016) elenca mais algumas diferenças entre empreendimentos sociais


e os tradicionais:

Responsabilidade social como core business do negócio: Não confunda!


Muitas empresas desenvolvem ações de responsabilidade social, como a
Natura e a Coca-Cola. Nem por isso essas empresas se encaixam no conceito
de empreendedorismo social. Um negócio social tem a responsabilidade
social como centro da sua filosofia, dos seus produtos. A Coca-Cola mantém
programas de incentivo à reciclagem de metal em inúmeros lugares do
mundo, mas o seu produto é o refrigerante, não a reciclagem. Em um negócio
social, o próprio produto ou serviço causa impacto social, como cursos para
jovens pobres, roupas autossustentáveis, próteses de baixo custo, turismo
acessível e comunitário, etc.

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EMPREENDEDORISMO

O empreendedorismo social tem uma forte veia inovadora: o empreendedor


social precisa, necessariamente, pensar em novas soluções que melhorem a
vida das pessoas e que sejam acessíveis. Já dá pra imaginar o quanto a
inovação é uma característica presente nesse tipo de empreendimento. A
enorme maioria dos negócios sociais se pauta na inovação para oferecer
produtos ou serviços acessíveis e que, de fato, façam a diferença na vida das
pessoas.

Negócios sociais dependem do contexto em que estão inseridos: muitas


vezes, um mesmo serviço é considerado social em um contexto e não em
outro. Por exemplo, uma solução de energia solar de baixo custo e eficaz
pode ser considerada um negócio social no sertão do Brasil, em um município
de 10 mil habitantes sem eletricidade, mas não na cidade de São Paulo, onde
todos estão conectados à rede elétrica. É por isso que os negócios sociais
estão intrinsecamente ligados ao contexto em que estão inseridos e, também
por isso, tem como mercado lugares socialmente deficitários, onde vivem
pessoas pobres e normalmente excluídas de serviços públicos e do consumo.

Características comportamentais de um empreendedor social

Uma importante teoria que buscou ajudar a compreender o empreendedor social


foi a Teoria das Mudanças, surgida a partir da necessidade de uma abordagem
diferenciada que permitisse descortinar elementos contidos na complexidade dos
fenômenos socioeconômicos. Segundo Baggio & Baggio (2014), a Teoria da
Mudança é uma metodologia, um conjunto de diretrizes, que orientam os
empreendedores sociais a concretizarem o seu objetivo último: a mudança social.

Os empreendedores sociais fazem um mapeamento dos requisitos e condições


necessárias para o seu fim e desenvolvem indicadores para medir os progressos
e resultados avaliando, assim, o desempenho da sua iniciativa de mudança.

Para Carreira et al. (2015), citados por Oliveira (2021), o empreendedor clássico é
um indivíduo enérgico, que se mantém frente a seus objetivos, sabe ser ágil
quanto às suas decisões com a finalidade de vencer os empecilhos que
aparecerem, abdicando muitas vezes também de sua vida pessoal. Para a citada
autora, o perfil ideal de um empreendedor social, consiste em “saber aproveitar
as oportunidades, ter competência gerencial, ser pragmático e responsável e
saber trabalhar de modo empresarial para resolver problemas sociais”.

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EMPREENDEDORISMO

No que se diz respeito às habilidades, de acordo com a mesma autora, é preciso


que o empreendedor que esteja à frente de uma organização social, tenha visão
clara, equilíbrio, que tome iniciativas, que saiba ser participativo, que consiga
trabalhar em equipe, saiba ser estrategista e tomar as melhores decisões e que
esteja concentrado aos detalhes. Além disso, conclui a autora, é necessário que
tenha senso crítico, criatividade, agilidade, habilidade, objetividade e seja
inovador.

A partir de Baron e Shane (2007) e Mello, Leão e Paiva Júnior (2006), Oliveira
(2021) elenca algumas competências observadas e/ou consideradas importantes
para empreendedores sociais:

percepção social (saber compreender o seu próximo, além de conseguir


diferenciar quando alguém está agindo de maneira honesta ou somente para
obter vantagem);
expressividade (expor suas emoções de forma perceptível para que sejam
facilmente compreendidas, provocando até mesmo entusiasmos a quem está
por perto ou que têm os mesmos objetivos);
administração da imagem (habilidade em causar boas impressões com o
indivíduo em que está se relacionando pela primeira vez);
persuasão e influência (aptidão em convencer atitudes ou comportamentos a
serem modificados para os objetivos desejados);
adaptabilidade social (sentir-se confortável com indivíduos e situações
variadas);
competências de oportunidade (o empreendedor identifica um contexto
favorável no que procura e começa a trabalhar em para transformá-lo em
uma circunstância positiva);
competências conceituais (capacidade de tomar a melhor decisão com base
nos conhecimentos adquiridos);
competências estratégicas (habilidade em fazer planejamentos a longo prazo,
ou tomar decisões acessíveis a médio prazo);
competências de comprometimento (capacidade em se dedicar e ser
responsável quanto a organização e se preocupar também quanto a equipe
nela inserida);
competências administrativas (habilidade em saber como agir diante dos
recursos disponíveis); e
competências de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

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EMPREENDEDORISMO

Alguns casos de sucesso de empreendimentos sociais

A exemplo do que acontece com os empreendimentos tradicionais, os quais têm no


lucro seu principal objetivo, os negócios sociais também necessitam deste quesito
para serem sustentáveis e atingirem seus objetivos. Porém, como já dito
anteriormente, os negócios sociais têm uma ideia diferente e uma preocupação em
proporcionar impactos positivos no ambiente em que atua. Desta forma, a avaliação
contábil-financeira e a mensuração dos benefícios que o negócio social
proporcionou ao ambiente em que está inserido são igualmente importantes.

Santana e Molina (2015), em um estudo realizado para a Universidade Federal do


Paraná para identificar casos de sucesso de negócios sociais, avaliaram algumas
instituições a partir de parâmetros objetivos com o intuito de verificar se os
produtos e serviços desses empreendimentos sociais conseguem impactar
positivamente a sociedade como um todo e em particular as pessoas e localidades
que estão envolvidas e abrangidas pelo negócio social.

O modelo utilizado pelas citadas autoras para a avaliação dos negócios sociais
partiu do pressuposto que empreendimentos sociais com sucesso possuem as
seguintes características:

desenvolve uma atividade comercial;


tem como propósito a remoção de obstáculo(s) que impede(m) a inclusão
socioeconômica de indivíduos, famílias e comunidades que se situam na base da
pirâmide social;
adota inovações técnicas e tecnológicas;
potencializa os recursos econômicos locais (humanos, materiais, etc.), gerando
emprego, renda, direitos sociais, capacitação, empregabilidade;
remunera todos os fatores e recursos econômicos, produzindo lucro;
adota escalas reduzidas de alcance local para a produção dos bens ou serviços e
comercialização, com possibilidades de replicação em outros ambientes;
o lucro se constitui o meio que permite realizar o propósito; e
o(s) investidor(es) recebe(m) de volta o capital investido no prazo pactuado com
o empreendedor.

A partir destes parâmetros, a seguir serão relatados, de forma resumida, alguns


casos de sucesso de negócios sociais no Brasil:

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EMPREENDEDORISMO

- SOLIDARIUM: ao oferecer uma solução de mercado focada em um problema social,


a Solidarium classifica-se como modelo de negócio social disponibilizando uma
plataforma como um canal de vendas para artesãos do Brasil inteiro. A ideia surgiu
quando identificaram que 80% dos 8,5 milhões de artesãos em atividade no Brasil
são mulheres pertencentes às classes B, C e D e que menos de 1% delas têm acesso
à venda online. Assim nasce o propósito da Solidarium em contribuir com a inclusão
digital desses artesãos e ampliar substancialmente suas vendas e desta forma
melhorar seu padrão de rendimentos e reduzir a desigualdade de renda no país.

A empresa foi fundada em 2007 por Tiago de Angeli Dalvi, que teve contato com
empreendedores localizados em comunidades de baixa renda e notou que muitos
eram artesãos, tinham um bom produto, preço competitivo, design adequado, mas
tinham poucas informações e canais para vender suas peças. No começo, Tiago
conta que foi “pegando na mão” destes artesãos e apresentando seus produtos
para pequenas lojas em Curitiba. Logo percebeu que existia uma grande
oportunidade de mercado, visto que não havia nenhuma empresa conectando esses
dois mundos.

A missão da Solidarium é construir um melhor ambiente para esses artesãos e


disponibilizar ferramentas para transformar a realidade desse setor. Funciona como
um marketplace online, onde artesãos de todo o Brasil podem acessar, cadastrar-se,
listar seus produtos e, em menos de 5 minutos, começam a vender para todo o
Brasil. Do lado do consumidor, ele pode encontrar produtos 100% feitos à mão por
artistas, designers e artesãos de todo o Brasil. O artesão cadastrado na Solidarium
vende para consumidores norte-americanos, franceses e asiáticos, que podem
utilizar-se de informações úteis e importantes colocadas à sua disposição para
alcançar o comprador que deseja um produto feito à mão, de qualidade e com
preço justo. A parceria artesão e Solidarium leva à participação nas maiores feiras
de decoração e design do mundo como a Maison & Objet em Paris e a NY Now, em
Nova York.

Não é cobrada taxa de cadastro, mensalidade ou anuidade, mas sim uma comissão
de 15% quando a venda é realizada. O produto da Solidarium permite aos seus
beneficiários acessarem novos canais de distribuição além de gerar renda. O
principal diferencial é disponibilizar ferramentas para estarem lado a lado deste
artesão no desenvolvimento do seu negócio e permitir que eles distribuam seus
produtos não apenas pelo próprio site da Solidarium, como também em grandes
redes varejistas como Walmart, Tok Stok, dentre outras.

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EMPREENDEDORISMO

O resultado da empresa aponta para um cadastro de mais de 3.500 associações,


cooperativas, microempresas e artesãos individuais, com mais de 25.000
produtos listados, tendo conquistado acordos comerciais com os maiores
varejistas do país, a exemplo de empresas como Walmart, Tok&stok, Lojas Renner
e muitas outras pequenas e médias lojas que revendem os produtos da sua rede
de artesãos.

- Terra NOVA: Foi fundada em 2001, por André Luís Cavalcanti de Albuquerque.
Filho de uma tradicional família de advogados paranaenses, André Luís encontrou
uma forma de conciliar sua formação em advocacia com a vocação na mediação
de conflitos sociais. A Terra Nova Regularizações Fundiárias não depende de
doações. É hoje um case de sucesso e recebe investimentos na sua
reestruturação e um plano de negócios ambicioso pela PriceWaterhouseCoopers
e Mattos Filho.

Atuando no Paraná, em São Paulo e em Rondônia, a Terra Nova vem sendo


procurada tanto por proprietários de terras ocupadas irregularmente como por
ocupantes em busca de uma solução pacífica e também por construtoras de
hidrelétricas dispostas a negociar o reassentamento dos afetados pela obra,
como a Odebrecht fez na Usina de Santo Antônio.

Para evitar a desocupação judicial, a empresa busca o valor justo para as partes,
homologa um acordo, cuida do loteamento, convoca a prefeitura, as empresas
concessionárias de água e energia locais, e emite os carnês de pagamento. Todas
as partes se beneficiam evitando o conflito e a comunidade resulta pacificada.

A Terra Nova, de acordo com seu site, é uma empresa social que trabalha com a
mediação de conflitos humanos para a Regularização Fundiária Sustentável de
áreas urbanas particulares ocupadas irregularmente”, que tem como missão
"pacificar e melhorar a qualidade de vida de comunidades que vivem em
assentamentos precários no Brasil e no mundo". Adota a visão de "ser um agente
multiplicador de ações sustentáveis, promotor de transformação social e
ambiental em todo o mundo" e os valores com que impregna sua ação são: “ética,
transparência, respeito, comprometimento, sustentabilidade e trabalho em
equipe”. “Pertencente ao setor dois e meio da economia, é a única empresa
brasileira especializada neste tipo de atividade”. “Hoje, presente em três estados
brasileiros, a organização regulariza mais de 2,5 milhões de m 2 de áreas urbanas
particulares, contribuindo para o desenvolvimento de diversas comunidades”.

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EMPREENDEDORISMO

Metodologicamente, “através de um trabalho de mediação, respaldado pelo Código


Civil Brasileiro, a Terra Nova promove acordos judiciais nas ações de reintegrações
de posse que pairam sobre áreas ocupadas irregularmente (invasões), resolvendo,
de forma pacífica, os conflitos relacionados à posse/propriedade da terra”. “O
proprietário é indenizado pelo imóvel que foi ocupado irregularmente, o poder
público não precisa desapropriar a área e passa a regularizar os serviços públicos.
Depois da aprovação do parcelamento do imóvel, cada família recebe o título de
propriedade do lote que ocupa, após a conclusão do pagamento da respectiva
indenização.

A empresa funciona com sócios e diretores em seu quadro de gestão. “Com um staff
técnico multidisciplinar formado por advogados, arquitetos-urbanistas, assistentes
sociais, economistas e comunicadores, a empresa possui uma equipe completa,
competente e comprometida com os trabalhos diários que envolvem o processo de
regularização” (TERRA NOVA, 2014).

As decisões são tomadas pelo Conselho de Administração e executadas pela


Diretoria da empresa. Atualmente, conta com um fundo de investimento em
expansão de impacto para empresas de negócios sociais. Além disso, a fonte de
recurso são os próprios projetos, por meio do pagamento dos beneficiários. Como
ainda está na fase de gerar impacto e expandir o alcance, a distribuição de lucros
ainda não acontece, mas nada impede que em outro momento a empresa possa
fazê-lo. André explica que essa prática, inclusive, é um estímulo para que grandes
investidores aportam em negócios sociais, sem visar exclusivamente o lucro, mas
sem uma proibição de que isso aconteça, caso possível e sem desviar o foco
principal. De acordo com seu fundador, é melhor investir em um negócio que faça a
diferença positiva na vida das pessoas, e se puder conciliar isso com algum retorno
financeiro, excelente”.

- SOLAR EAR: Lembra quando falamos que inovação está ligada diretamente ao
empreendedorismo social? Pois é, este é um exemplo: a Solar Ear produz aparelhos
auditivos de baixo custo recarregável por energia solar. Como se não bastasse, os
aparelhos são montados por jovens surdos brasileiros com a colaboração de
africanos.

18
EMPREENDEDORISMO

- Banco PÉROLA: Quando pequenos empreendedores locais precisam de crédito


nas cidades de Sorocaba e Votorantim (ambas de São Paulo), o Banco Pérola é a
referência. A instituição foi fundada em 2008 e inspirada na história do ganhador do
Nobel da Paz Muhammad Yunus, que criou um banco de microcrédito comunitário
em Bangladesh. A empresa atua oferecendo microcrédito com taxa de juros
acessível para micro empreendedores que querem fazer seus negócios crescerem.
E quando se fala em microempreendedores neste caso, pode ser considerado, por
exemplo, uma dona de casa que faz salgadinhos para vender.

Indubitavelmente, o empreendedorismo social possui uma importância ímpar no


contexto socioeconômico brasileiro. Pesquisa de 2021 realizada pelo INOVA SOCIAL,
entidade vinculada ao Grupo SABIN, em parceria com o IMPACTO – iniciativa do
Ministério da Economia – e outras entidades, revelou que no Brasil há mais de 1.300
negócios sociais, os quais impactam a vida de milhares de pessoas tanto no âmbito
social quanto no econômico, gerando emprego e rendas.

Mas, comparado a outros países, ainda há muito o que fazer e muitas áreas a serem
exploradas por negócios sociais. Nas áreas de saúde, educação, meio ambiente,
dentre outras, há diversos nichos a serem explorados. Mas, é importante ressaltar e
ratificar que negócios sociais exigem competências e habilidades similares às dos
negócios tradicionais, pois a sustentabilidade de qualquer empreendimento
depende de uma boa gestão dos recursos humanos, financeiros e estruturais para
atingir os objetivos propostos.

Algumas ideias do SEBRAE (2013) para negócios sociais:

Água e Saneamento Básico - por exemplo: um negócio social que desenvolve e


comercializa tecnologia inovadora e de baixo custo para o reaproveitamento e
reutilização de água escura, para uso doméstico, em comunidade afetada pela
estiagem.
Agricultura - por exemplo: um negócio social que trabalhe com a formação de
pequenos agricultores dentro das técnicas da agroecologia e cria um modelo de
distribuição de cestas de produtos orgânicos aos consumidores, promovendo
uma eficiente cadeia produtiva.
Artesanato - por exemplo: um negócio social que desenvolve acessórios e
brindes artesanais provenientes de resíduos gerados da operação de outras
empresas e os comercializa em grandes feiras de brindes corporativos ou venda
direta, gerando receita para os artesãos e outras instituições envolvidas.

19
EMPREENDEDORISMO

Cultura - por exemplo: um negócio social que preste consultoria a espaços


culturais como museus para adequação à acessibilidade de pessoas com
deficiências auditivas, visuais, mentais ou motoras. Além de promover mudanças
na arquitetura desses locais, também são formados agentes culturais para o
atendimento especializado deste público e desenvolvidos novos projetos
culturais e exposições de arte, que já inclui a acessibilidade na sua concepção.
Educação - por exemplo: creches comunitárias particulares oferecendo
educação de alta qualidade e em horário comercial para que os pais possam
trabalhar, a um preço acessível para as famílias de baixa renda; ou aulas
interativas de reforço escolar para determinadas disciplinas via plataforma
online que pode ser acessada gratuitamente.
Energia - por exemplo: negócio social que desenvolve tecnologia de geração de
energia solar, como é o caso de fogões solares, a preços acessíveis para famílias
sem acesso à rede de distribuição elétrica.
Habitação - por exemplo: um negócio social que produz e comercializa tijolos
ecológicos para baratear o custo em obras de construção em comunidades
carentes e envolve o público na sua fabricação.
Meio Ambiente - por exemplo: um negócio social que presta serviços a grandes
empresas que desejam certificar suas operações e obter licenças ambientais e
capacitam técnicos a trabalharem com o manejo sustentável na área de reservas
ambientais.
Tecnologia de Informação e Comunicação – por exemplo: plataforma online de
divulgação de dados sobre medicamentos de baixo custo, vacinação e postos de
atendimentos de saúde, com o intuito de oferecer acesso à informação de
qualidade e contribuir para a prevenção de doenças.
Turismo - por exemplo: uma agência de turismo que tem compromisso com o
desenvolvimento dos locais que serão visitados por seus clientes, oferecendo
vivência e conhecimento sobre as manifestações culturais locais. Além disso,
preparam a população local para receber bem os turistas, com aberturas de
casas de albergues, pequenas pousadas e transformam a visita de um ateliê e
um artista popular em uma aula experimental.
Saúde - por exemplo: oferecimento de consultas e exames médicos de boa
qualidade a preços acessíveis para a população de baixa renda que não tem
acesso a planos de saúde e desenvolvimento de aparelhos médicos com
tecnologia de ponta, mas de baixo custo financeiro.

20
EMPREENDEDORISMO

Serviços financeiros/microfinanças - por exemplo: um negócio social que fornece


crédito ágil e desburocratizado para pequenos empreendedores, em sua
maioria comerciantes formais ou informais excluídos da política do sistema
financeiro e também oferece um trabalho de fortalecimento da gestão financeira
desses pequenos negócios.

21
CONCLUINDO A
UNIDADE

Nesta 2ª unidade do Módulo 1, foi possível conhecer de forma mais aprofundada,


os conceitos e as nuances sobre o Empreendedorismo Social. Um setor
importante e com muito potencial para crescimento nos próximos anos.

A profissionalização do negócio social é uma tendência irreversível e isto,


juntamente com a possibilidade de retorno financeiro associado a um impacto
positivo para pessoas e lugares com problemas sociais, faz desta modalidade de
empreendedorismo um objetivo que deveria ser parte importante das políticas
públicas e da formação acadêmica de profissionais das mais diversas áreas do
conhecimento.

Há muito o que ser feito e a ser explorado em relação aos negócios sociais. Os
exemplos de grandes empreendedores sociais como o economista Muhammad
Yunus e outros menos conhecidos, porém igualmente importantes, precisam
influenciar mais pessoas para este nicho social do empreendedorismo.

Na próxima unidade de ensino vamos estudar e conhecer mais sobre outra


importante vertente do empreendedorismo: o intraempreendedorismo ou
empreendedorismo corporativo.

22
DICA DO
PROFESSOR

Além de compreender a importância do empreendedorismo social e dos negócios


sociais para a economia do país e também como fator de melhoria das condições
socioeconômicas da população menos favorecida, a principal ideia desta etapa da
disciplina é deixar claro que os negócios sociais, apesar do seu caráter
humanitário e socialmente responsável, necessitam de um modelo de gestão
profissional que proporcione lucros justos e sustentáveis, visando perenidade
para o empreendimento.

DICA IMPORTANTE: Não deixem de assistir ao vídeo sugerido cujo link está
disponibilizado na seção “SAIBA MAIS” desta unidade. Trata-se de uma versão
editada e mais compacta do documentário “Quem se importa?”, dirigido e
produzido por Mara Mourão, que trata do empreendedorismo social de uma
forma didática e realista. É imprescindível para que vocês consolidem o conceito
e vejam alguns casos de sucesso na área e percebam o potencial do
empreendedorismo social para modificar a realidade de comunidades carentes.

23
EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
1ª Questão: De acordo com Mesquita (2016), uma corrente do
empreendedorismo que tem crescido muito no Brasil nos últimos anos é o
Empreendedorismo Social. O citado autor afirma que um empreendedor social
tem no coração da sua empresa, como objetivo principal, atender às
necessidades sociais dos lugares onde atua e contribuir para mudar a realidade
dos seus consumidores. Sobre isto, avalie as afirmações a seguir:

I- O empreendedorismo social tem a Responsabilidade Social como foco do


negócio
II – Empreendedorismo Social é a mesma coisa que filantropia, porém mais bem
estruturado
III – O empreendedorismo social não precisa de ter a inovação como meta, pois o
objetivo é apenas gerar renda para os mais necessitados
IV - Negócios sociais dependem do contexto em que estão inseridos

Estão corretas as afirmativas:

a) I e IV
b) III e IV
c) I e II
d) II e III
e) Todas as afirmativas estão corretas.

SEU GABARITO

24
EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO

2ª Questão: Sabe-se que empreendedores podem ser donos do seu próprio


negócio, empreender dentro de organizações já existentes ou atuar com projetos
sociais. Sobre o empreendedor social, é correto afirmar que:

a) Tem capacidade reduzida para criar novos negócios informais.


b) Assume os riscos do negócio social de forma diferente do negócio tradicional
mesmo em cenários de certezas e com financiamento
c) Possui capacidade de reagir fortemente perante os problemas sociais.
d) Exerce pouca autonomia em seus projetos sociais
e) Tem pouca capacidade para inovar e dificuldade para se relacionar e convencer
as pessoas dentro e fora da organização.

SEU GABARITO

25
EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO

3ª Questão: Em uma concepção mais ampla, empreendedorismo social refere-se


a uma atividade inovadora com um objetivo social, podendo ocorrer no setor
privado, no terceiro setor ou em organizações híbridas. A inserção da dimensão
econômica e da lógica de mercado, de acordo com Rosolem, Tiscoski e Comini
(2015), abriu novas possibilidades para a atuação das organizações que até então
contemplavam uma única dimensão (social ou econômica). Sobre isto, avalie as
afirmativas a seguir:
I – A exemplo dos negócios tradicionais, os empreendimentos sociais devem
gerar suas próprias receitas a partir da venda de produtos e/ou de serviços como
de educação, saúde, nutrição, tecnologia, etc.
PORQUE
II - Os negócios de impacto social mostram que não há conflito entre ambição
social e econômica, pois são empreendimentos que focam o seu negócio
principal na solução ou minimização de um problema social ou ambiental de uma
coletividade.
A respeito dessas asserções, assinale a opção correta:
a) As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II explica a I
b) As asserções I e II são proposições incorretas
c) A asserção I é uma proposição correta e a II é uma proposição falsa
d) As asserções I e II são corretas, mas a II não explica a I
e) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira

SEU GABARITO

26
EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO

4ª Questão: De acordo com Oliveira (2021) o perfil ideal de um empreendedor


social, consiste em “saber aproveitar as oportunidades, ter competência
gerencial, ser pragmático e responsável e saber trabalhar de modo empresarial
para resolver problemas sociais”. A partir destas premissas, qual (ou quais) das
competências abaixo podem ser consideradas essenciais para um empreendedor
social?

a) competências de oportunidade (o empreendedor identifica um contexto


favorável no que procura e começa a trabalhar em para transformá-lo em uma
circunstância positiva);
b) competências estratégicas (habilidade em fazer planejamentos a longo prazo,
ou tomar decisões acessíveis a médio prazo);
c) competências de comprometimento (capacidade em se dedicar e ser
responsável quanto a organização e se preocupar também quanto a equipe nela
inserida);
d) competências administrativas (habilidade em saber como agir diante dos
recursos disponíveis);
e) Todas as competências acima citadas são essenciais para um empreendedor
social.

SEU GABARITO

27
EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO

5ª Questão: Apesar de várias semelhanças com negócios tradicionais, os


negócios de impacto social têm algumas características peculiares, que os
diferenciam bastante do contexto dos empreendimentos não focados em causas
sociais. Assinale, entre as opções abaixo, qual é a característica que se enquadra
apenas para negócios sociais:

a) O foco é o modelo de negócio que foque apenas no lucro e na rentabilidade


b) A função social de um negócio é gerar o máximo de lucro para seus acionistas
c) O público-alvo de um negócio, por conta do poder de compra, está focado nas
classes A, B e C.
d) São negócios que visam ser rentáveis e lucrativos, mas gerando impacto social
e contribuindo para a redução da pobreza
e) Todas as características acima se enquadram nos negócios sociais

SEU GABARITO

28
SAIBA MAIS

Vídeo: Quem se importa? de Mara Mourão. Documentário compacto sobre


Empreendedorismo Social no Brasil. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=EpEB8Hrr6JQ

29
ANOTAÇÕES

30
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BAGGIO, Adelar Francisco; BAGGIO, Daniel Knebel. Empreendedorismo: Conceitos e
definições. In: Revista de Empreendedorismo, Inovação e Tecnologia, Passo Fundo, v. 1,
n.1, p. 25-38, jan. 2015. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistasi/article/view/612. Acesso em: 07 fev. 2021.

INOVA SOCIAL. Mapa 2021: O raio-x do empreendedor de impacto socioambiental no


Brasil. 2021. Disponível em: https://inovasocial.com.br/negocio-social/mapa-2021-
empreendedor-impacto-socioambiental/ Acesso em 09 jul. 2022.

MESQUITA, Renato. Empreendedorismo social: o que é? 2016. Disponível em:


http://saiadolugar.com.br/empreendedorismo-social-o-que-e/ Acesso em 12 abr. 2021.

OLIVEIRA, Beatriz Assis de. Empreendedorismo social e suas características: um estudo


multicasos na cidade de Arcos/MG. 2021.Disponível em:
https://www.formiga.ifmg.edu.br/documents/2021/biblioteca/TCC_Beatriz_VersoFinal.pdf
Acesso em 10 jul. 2022.

ROSOLEN, Talita; Tiscoski, Gabriela; COMINI, Graziella. Empreendedorismo social e


negócios sociais: um estudo bibliométrico da publicação nacional e internacional. IN:
Empreendedorismo com foco em negócios sociais. Ana Lúcia Jansen de Mello de Santana,
Leandro Marins de Souza (Organizadores). Curitiba: NITS UFPR, 2015. 172 p.

SANTANA, Ana Lúcia de Melo; MOLINA, Andressa de Fátima. Cases paranaenses de negócios
sociais. IN: Empreendedorismo com foco em negócios sociais. Ana Lúcia Jansen de Mello de
Santana, Leandro Marins de Souza (Organizadores). Curitiba: NITS UFPR, 2015. 172 p.

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Negócios Sociais:


Uma maneira inovadora de empreender e promover o bem (2013). Disponível em:
www.sebrae.com.br Acesso em 09 jul. 2022.

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. O que são negócios
de impacto social e como funcionam. 2014. Disponível em:
https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraeaz/o-que-sao-negocios-de-impacto-
social,1f4d9e5d32055410VgnVCM1000003b74010aRCRD Acesso em 09 jul. 2022.

31
GABARITOS

1- GABARITO: Letra “A”. Na Afirmativa II, o erro está na citação de que empreendedorismo
social e filantropia são a mesma coisa. Também está errado, na afirmativa III, onde se diz
que a inovação não é meta para o empreendedorismo social. A inovação é fundamental
para os negócios sociais.

2- GABARITO: Letra “C”. A capacidade de reagir fortemente diante de problemas sociais é


uma das características marcantes de empreendedores sociais. As demais não condizem
com as características deste tipo de empreendedor.

3- GABARITO: Letra “A”. Apesar do viés social, onde o lucro não é um fim em si mesmo, os
negócios sociais necessitam ser sustentáveis e, para isso, necessitam de gerenciar suas
atividades de forma eficaz, a exemplo dos negócios tradicionais, os quais necessitam do
lucro para se manterem no mercado.

4- GABARITO: Letra “E”. Todas as competências elencadas são essenciais para um


empreendedor social, conforme a literatura sobre o tema. Há um consenso entre autores
sobre o tema que o empreendedor social necessita das mesmas habilidades e
competências de um empreendedor de negócios tradicionais, porém com uma
preocupação mais acentuada nas questões socioambientais.

5- GABARITO: Letra “D”. É a única opção que mostra uma característica inerente apenas aos
negócios sociais (gerar impacto social e contribuir para a redução da pobreza). As demais
opções são características de negócios tradicionais.

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