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GISELA CONSOLMAGNO
MARCO NICOTARI
VAINE FERMOSELI VILGA
SILVIA HELENA CARVALHO RAMOS VALLADÃO DE CAMARGO
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social UNIDADE 3
PLANEJAMENTO E GESTÃO DE
NEGÓCIOS COM IMPACTO SOCIAL
3
INTRODUÇÃO
A presente unidade tem como objetivo abordar questões referentes ao planejamento e
gestão de negócios com impacto social. O primeiro capítulo, Negócios com impacto
social, destaca importantes conceitos referentes à temática do negócio de impacto,
destacando o contexto brasileiro e apontando os desafios apresentados. Por fim, é des-
tacado o modelo de negócio de impacto que pode ser desenvolvido.
Por fim, o capítulo quatro, Planos de negócios para organizações sociais, procura
estabelecer os caminhos necessários para se estabelecer um plano de negócios (que
abarque aspectos financeiros, de marketing, etc.) para os denominados empreendedo-
res sociais. Neste sentido, será amplamente analisado o Marco Regulatório das Orga-
nizações da Sociedade Civil (OSC), visando estabelecer os passos corretos para que
as Organizações da Sociedade Civil possam funcionar de forma legal perante os órgãos
públicos, que sejam funcionais e que possam atingir seus objetivos com a finalidade de
contribuir para mudanças positivas para a sociedade. Então, vamos aos estudos!
De acordo com Limeira (2018), seu surgimento foi marcado por desafios no campo
econômico nos EUA, o que motivou os negócios a buscarem novas fontes de financia-
70
mento, apoiando-se no governo, em doações e na filantropia empresarial e teria sido
em Harvard que o termo “empreendedorismo social” surgiu.
Empreendedorismo Social 71
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social
Observe que suas diferenças versam sobre o público atingido, bem como suas
estruturas de lucros, visando ou não a distribuição de dividendos, o cliente alvo,
entre outros.
3
Além dos dois exemplos citados acima, também é possível encontrar negócios sociais
híbridos, que combinem as características mencionadas nos exemplos e também vi-
sem lucro.
As oportunidades do setor versam sobre três áreas: saúde, saneamento básico e edu-
cação (SEBRAE, 2019). Em 2019, os números apontavam que o país contava com uma
concentração de apenas 11% na região nordeste.
Segundo o Sebrae (2019), 76% dos negócios apontavam que contavam com in-
vestimento próprio, 43% ainda não faturavam, enquanto 34% faturavam até R$
100.000,00 por ano. Além disso, apenas 17% destes negócios adotavam uma me-
dição do impacto causado.
9 no uso tecnológico, 27% reportam o uso de Big Data, 26% de Internet das Coi-
sas e 20% utilizam energias renováveis.
Em 2021, os setores com maiores impactos podem ser vistos na figura a seguir:
72
Figura 02. Mapa de impacto
Um dado importante do último mapeamento é que 27% das empresas que participaram
já contavam com patentes de suas inovações (PIPELABO, 2021). Em termos de ten-
dência, a pesquisa aponta que o Brasil possui um potencial para o desenvolvimento de
tecnologias verdes, que vêm crescendo desde 2016, tanto no setor agro, florestal, no
uso de solos, no uso de energia, biocombustíveis, água, entre outros.
Empreendedorismo Social 73
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social
74
3
O autor também sugere que a modelagem de negócio também se apresente com vari-
áveis relacionadas à missão, visão e valores, além de trazer a proposta de valor social
agregada ao modelo.
Deste modo, para ilustrar este modelo com impacto imagine uma empresa que atua
neste modelo. Os benefícios que tal organização pode oferecer à comunidade ou pú-
blico-alvo podem se referir tanto ao aspecto social quanto ambiental. Tomemos como
exemplo a empresa Good Truck. Segundo o site institucional Good Truck (2022), a
empresa já alimentou 157.000 pessoas e possui 1.500 voluntários, doando mais de
360 toneladas de alimentos. Destaca-se que os benefícios oferecidos pela organização
consistem em diminuir a pobreza e a fome, que são parte dos Objetivos de Desenvol-
vimento Sustentável.
Empreendedorismo Social 75
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social
De acordo com Sparviero (2019), a tentativa de criar valores sociais e ambientais atra-
vés dos negócios apresenta diversos desafios no âmbito estratégico, de governança e
de legitimidade. A iniciar pela estratégia, uma vez que o desafio é permanecer no mer-
3 cado e ainda assim equilibrar demais objetivos e missão. No âmbito da estratégia de
preços, desafia-se as organizações a pensarem em preços competitivos, que cubram
os custos operacionais e que ainda possam alcançar o mercado-alvo, equilibrando o
aspecto social.
SAIBA MAIS
A iniciativa PIPE.Social, plataforma que trata do Programa Pesquisa Inovativa Em Pequenas
Empresas com ênfase em impacto social, realizou uma pesquisa (PIPESOCIAL, 2020) du-
rante a crise gerada pelo Covid-19. Segundo os entrevistados, os maiores desafios foram,
de fato, comercializar seus produtos e serviços, seguido pela produção dos produtos, rece-
bimento das contas dos clientes, realizar os pagamentos de salários e contas e, por último,
pagar os fornecedores.
CONCLUSÃO
Em suma, este capítulo apresentou os conceitos de negócio de impacto encontrados na
literatura, abordando algumas diferenças entre nomenclaturas similares.
Nota-se que o mapa de negócios de impacto no Brasil ainda está em fase de crescimen-
to, e, como consequência, ainda há espaço para desenvolvimento. É possível notar um
grande foco na utilização de tecnologia e tecnologias verdes, além de um foco expres-
sivo de negócios de impacto na região sudeste do país.
Figura 05. Negócio de impacto
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Modelo de negócio
Conceito
04 Divide-se, além das 9 partes
01 Focam em resolver tradicionais do Canvas, em
problemas ligados à pobreza
(educação, saneamento, mais duas: custos e
beneficios ambientais e
habitação)
Negócio de sociais 3
02 Foco Impacto
Indivíduos de baixa renda, Desafios
preferencialmente 05 • Criação do capital social;
SAIBA MAIS
TED TALK:
Os cinco passos para criar um modelo de negócio replicável | Guilherme Oliveira.
SAIBA MAIS
Muhammad Yunus: uma oportunidade para os pobres
Muhammad Yunus é responsável pela criação de um banco – chamado de Grameen Bank
– que oferece microcrédito para a população pobre não atingida pelos serviços bancários
tradicionais. Foi destaque em sua atuação, devido ao sucesso de suas operações bancárias,
o que conferiu à Yunus o Nobel da Paz.
SAIBA MAIS
O texto complementar se trata de uma pesquisa realizada pela PIPE.Social em 2019 e nova-
mente em 2021, que retrata o mapa dos negócios de impacto no Brasil. A leitura trará insights
sobre o cenário brasileiro, no que tange os setores mais abordados pelos negócios, assim
como as regiões, as tecnologias utilizadas e seus desafios.
Pesquisa 2019: Disponível em: https://noticiasdeimpacto.com.br/pipe-social-apresen-
ta-resultados-do-2o--mapa-de-negocios-de-impacto-social-ambiental/#:~:text=Na%20
pr%C3%A1tica%2C%20a%20Pipe.,nos%20diferentes%20est%C3%A1gios%20de%20
matura%C3%A7%-C3%A3o.
Empreendedorismo Social 77
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social
IMPORTANTE!
3 Um aspecto importante do negócio de impacto é que ele é, por diversas vezes, confundido
com Organizações Sem Fins Lucrativos (ONGs). No entanto, faz-se necessário destacar
que, com a evolução do modelo de negócio, atualmente é possível constatar que é uma for-
ma legal e ética de obtenção de lucro e ainda assim contribuir positivamente com a sociedade
ou determinadas causas. Discorrer sobre um caso específico.
O modelo de Negócio Social e sua estrutura é tratado em seguida, incluindo sua com-
paração com plano de negócio.
Por fim, trata-se da Gestão do Negócio Social. Poder-se-á verificar as diferenças bá-
sicas entre empreendedorismo privado, a responsabilidade social de organizações e o
empreendedorismo social. O perfil do gestor de empreendimento social também será
abordado. E, também, o fluxo do processo de gestão de organizações que atuam no
âmbito social como negócio.
78
Figura 06. O Empreendedor e a Cooperação
¾ Empreendedorismo Econômico
Empreender não é apenas criar um negócio que gera dividendos ou lucros aos seus
fundadores. Empreender é tomar um conjunto de atitudes, ter ideias, inovar, tomar deci-
sões, que trazem contribuições e benefícios aos indivíduos e/ou grupos de pessoas ao
adquirirem seus bens e serviços.
Figura 07. Ideias conjuntas, benefícios coletivos
Fonte: 123RF.
Empreendedorismo Social 79
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social
Então, se não é tão simples assim ser empreendedor, qual o perfil esperado? O SE-
BRAE, uma destacada entidade especializada em estudos, pesquisas, consultorias e
cursos a micro e pequenos empresários, destaca alguns requisitos do candidato a em-
3 preendedor: visão de futuro; coragem para assumir riscos calculados; responsabilidade
sobre o negócio e pessoas; facilidade de comunicação e expressão; capacidade de
liderança; habilidades de lidar com equipes de trabalho; ser excelente ouvinte; com-
petência em planejamento e organização; [se possível] criatividade, inovação; ter pre-
disposição, indo em busca de informações, soluções, ideias, visando melhoria ao seu
próprio negócio; persistência; disciplina. Sim, não é nada simples. Caberiam aqui mais
substantivos e adjetivos ao perfil do empreendedor.
Mas, duas coisas são evidentes: a primeira é que nada garante o sucesso ou o êxito
de organização própria – depende de muitas variáveis que não estão sob o controle do
empreendedor, como economia da localidade/região/estado/país, clima, políticas públi-
cas e governamentais, aspectos socioculturais, tecnologia acessível, movimentos dos
concorrentes, entre outras; e, segundo, que é fundamental, portanto, indispensável, a
capacidade de gestão do empreendedor.
SAIBA MAIS
É de Joseph Schumpeter a frase que o empreendedorismo é o agente de destruição cria-
tiva, que é o impulso fundamental que aciona e mantém em marcha o motor capitalista.
Empreendedorismo provoca a destruição criativa?! Assista a esse vídeo – um mapa mental
- para conhecer um pouco dos importantes dos pensamentos de Schumpeter (economista,
1883-1950) sobre economia, inovação tecnológica, destruição criativa, desenvolvimento eco-
nômico e empreendedorismo.
“Quem foi Schumpeter? Entenda suas contribuições para Economia nesse Mapa Mental”.
Disponível em: https://youtu.be/x5qO0sFAtcU.
80
¾ Empreendedorismo Social
SAIBA MAIS
Conheça a Ashoka Empreendedores Sociais.
Empreendedorismo Social 81
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social
Obtém-se lucro com o empreendedorismo social? Sim, mas a riqueza pessoal do funda-
dor não é o foco. Num olhar ampliado, o empreendedorismo social pode requerer inves-
timentos sociais e comerciais, os quais devem produzir retorno lucrativo aos investido-
res, mesmo tendo objetivos sociais. Há, também, as atividades sociais corporativas não
lucrativas. Ou, ainda, as híbridas, com as duas vertentes (lucrativas e não lucrativas) no
mesmo negócio. Em qualquer das ênfases de negócio social o enfoque é a inovação
invés de replicação de negócios já existentes.
82
Quadro 02. As 10 características dos empreendedores sociais – Os 10 ‘Ds’
OS 10 DS CARACTERÍSTICAS
Os empreendedores sociais conseguem visionar o que o futuro pode trazer, não apenas
Dream
aos próprios (o que sucede com os empreendedores privados), mas às organizações e 3
(Sonhadores)
à própria sociedade onde estão envolvidos.
Decisiveness Os empreendedores sociais são por natureza indivíduos que rapidamente tomam
EXEMPLO
Conheça aqui 10 empreendedores sociais internacionais.
Empreendedorismo Social 83
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social
AUTOR CONCEITO
O empreendedor social é uma das espécies dos empreendedores. [...] São
3 Leite (2002) empreendedores com uma missão social, que é sempre central e explícita.”
(OLIVEIRA, 2004, p.12)
“Os empreendedores sociais possuem características distintas dos empreen-
dedores de negócios. Eles criam valores sociais pela inovação, pela força de
Ashoka Empreendedores recursos financeiros em prol do desenvolvimento social, econômico e comu-
nitário. Alguns dos fundamentos básicos do empreendedorismo social estão
Sociais; Mackinsey e Cia.
diretamente ligados ao empreendedor social, destacando-se a sinceridade,
INC (2001) a paixão pelo que faz, clareza, confiança pessoal, valores centralizados, boa
vontade de planejamento, capacidade de sonhar e uma habilidade para o
improviso.” (OLIVEIRA, 2004, p.12)
“Quando falamos de empreendedorismo social, estamos buscando um novo
paradigma. O objetivo não é mais o negócio do negócio [...] trata-se, sim, do
Melo Neto; Froes (2001) negócio social, que tem na sociedade civil o seu principal foco de atuação e
na parceria envolvendo comunidade, governo e setor privado, a sua estraté-
gia.” (OLIVEIRA, 2004, p.12)
“Empreendedores sociais, indivíduos que desejam colocar suas experiên-
Rao (2002) cias organizacionais e empresariais mais para ajudar os outros do que para
ganhar dinheiro.” (OLIVEIRA, 2004, p.12)
“Constituem a contribuição efetiva de empreendedores sociais inovadores
cujo protagonismo na área social produz desenvolvimento sustentável, quali-
Rouere; Pádua (2001)
dade de vida e mudança de paradigma de atuação em benefício de comuni-
dades menos privilegiadas.” (OLIVEIRA, 2004, p.12)
Fonte: Oliveira (2004, p. 12).
EXEMPLO
Conheça 5 exemplos de empreendedorismo social no Brasil.
IMPORTANTE!
Esse artigo explica as diferenças entre Plano de Negócio e Modelo de Negócio, e 13 tipos e
exemplos reais de modelos de negócio.
1
A metodologia mais conhecida e usada para elaborar um modelo de negócio é o Business Model Generation
(BMG) ou pela ferramenta Business Model Canvas – ver subitem 3.
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MODELO DE NEGÓCIO PARA O EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Os negócios com impacto social objetivam geração de valor social. Os aspectos econô-
micos desse tipo de negócio são tratados como a condição necessária para assegurar 3
a viabilidade financeira.
Os negócios com impacto social – algumas publicações os tratam pela sigla NIS
SAIBA MAIS
Saiba mais sobre o Terceiro Setor com exemplos.
Os modelos de negócios com impacto social podem ser descritos pelas seguintes formas:
01. Negócios para a base da pirâmide. São negócios que oferecem acesso a bens
e serviços para a população de baixa renda, contribuindo para a diminuição do déficit
social. Por exemplo, preços mais baixos, embalagens menores.
03. Negócios inclusivos. São negócios que estabelecem elos entre o negócio e a po-
pulação, gerando benefício mútuo. Contempla a efetiva inserção da população de baixa
renda no processo produtivo do negócio e não somente ao consumidor. Envolvem, efe-
tivamente, pessoas de comunidades de baixa renda nos processos do negócio.
Quadro 04. Modelos de negócios com impacto social - NIS
Empreendedorismo Social 85
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social
EXEMPLO
Conheça 8 exemplos práticos de empreendedorismo social.
Essa ferramenta permite que o empreendedor tenha maior controle, maior conheci-
mento sobre o negócio, saber seus pontos fortes e pontos fracos, aprimorar e otimizar
suas atividades.
O BMG foi desenvolvido como um mapa visual pré-formatado em blocos com quatro
pilares: Oferta, Clientes, Infraestrutura e Finanças. Contém as principais categorias em
vários setores do empreendimento: (1) O quê? Proposta de Valor. (2) Para Quem?
Relacionamento com Clientes; Canais; Segmentos de Clientes - (3) Como? Parcerias
Principais; Atividades Principais; Recursos Principais – (4) Quanto? Estrutura de Cus-
tos; Fontes de Receita.
SAIBA MAIS
Leia o resumo do livro Business Model Generation de Alexander Osterwalder.
86
Figura 08. Apresentação do Modelo de Negócio Canvas
Fonte: 123RF.
SAIBA MAIS
Leia mais sobre o Business Model Canvas.
SAIBA MAIS
Assista a vídeos com explicações e exemplos de aplicação do Business Model Canvas.
Disponível em: https://youtu.be/OTOJ8RUy75c.
Disponível em: https://youtu.be/mSJARw1iCHA.
Disponível em: https://youtu.be/_9Fst3Os3Ds.
Disponível em: https://youtu.be/dPDrK43pqZg.
Disponível em: https://youtu.be/3zie3De4jKA.
Disponível em: https://youtu.be/gTLMz8mz4nQ. Acesso em: 14 fev. 2023.
Empreendedorismo Social 87
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social
Por sua natureza econômica, os negócios sociais promovem impactos sociais, cujos
resultados são obtidos pela capacidade de gestão sobre esses negócios. Trata-se, as-
sim, da autossuficiência financeira, ou seja, obter receita, pagar os custos, promover
investimentos e contemplarem-se com resultados econômicos e financeiros. É um ne-
gócio! Ou seja, utiliza-se de mecanismos de mercado oferecendo maiores benefícios a
setores da sociedade com dificuldades sociais e estruturais, sendo um meio e não um
fim em si mesmo.
2
STAKEHOLDERS. Conceito criado na década de 1980 pelo filósofo norte-americano Robert Edward Free-
man. Stakeholder é qualquer indivíduo ou organização que, de alguma forma, é impactado pelas ações de
uma determinada empresa. Em uma tradução livre para o português, o termo significa parte interessada. Por
exemplo, sócios, investidores, funcionários, fornecedores, clientes, sociedade em geral, parceiros.
88
Quadro 06. Perfil do empreendedor social
Para uma gestão consistente do negócio social, há sete princípios dessa operação
apresentados por Yunus (2010) apud Sucupira (2015, p. 42):
Empreendedorismo Social 89
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social
Fonte: 123RF.
CONCLUSÃO
Pode-se entender, em várias frentes de abordagens, do que se trata a prática do em-
preendedorismo social.
O empreendedorismo social é um negócio, uma atividade que obtém lucros, mas que
esses não são o seu objetivo principal. Seu foco está voltado para atividades centradas
90
nas pessoas e grupos sociais que necessitam de apoio e oportunidades para sua inclu-
são no mercado de trabalho e na própria comunidade que vive.
Neste capítulo, estudaremos o que são projetos, seus fundamentos, os aspectos e pas-
sos que dirigem sua gestão qualificada.
Por que eles são tão requeridos? Porque antes de se transformarem em realidade, pos-
tos em prática, os projetos podem ser ajustados, alterados, reduzidos, ampliados até
serem aprovados e confirmados ou não. Sim, os projetos não são garantias e certezas,
também podem apontar objetivos e desejos que são inviáveis.
Empreendedorismo Social 91
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social
Um dos principais institutos foi o Project Management Institute (PMI), localizado na Fi-
ladélfia, nos Estados Unidos. Com o PMI surgiu um guia chamado Guide to the Project
Management Body ok Knowledge (PMBOK) – Guia do Conjunto de Conhecimentos em
Gerenciamento de Projetos, que fornece uma visão geral sobre como os processos de
gestão interagem no desenvolvimento de projetos.
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ESCOPO
É o que será feito no projeto. Uma vez identificadas as partes interessadas no projeto,
ou seja, as áreas que serão atendidas no projeto, o escopo do projeto deve ser bem e 3
amplamente elaborado.
Entende-se por escopo de projeto todas as etapas e recursos necessários para atingir
SAIBA MAIS
Conheça mais sobre o escopo do projeto no vídeo “Escopo Do Projeto: Para que serve e
Como fazer”.
SAIBA MAIS
Conheça mais sobre a EAP no vídeo “Como Elaborar Uma Eap - Estrutura Analítica Do Pro-
jeto - Cinco Regras Básicas”.
CRONOGRAMA
O cronograma de um projeto corresponde exatamente o seu significado: é planejamen-
to do tempo necessário para realizar o projeto e obter seus objetivos.
Empreendedorismo Social 93
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social
SAIBA MAIS
3 Conheça mais sobre pensar e elaborar o cronograma do projeto no vídeo “Como Definir As
Atividades E O Cronograma De Um Projeto?”.
CUSTOS
O projeto deve conter a estimativa de gastos para sua execução. Para tal, um orça-
mento deve ser detalhadamente preparado. Além dos gastos previstos com o projeto,
reservas de contingência, destinadas a riscos previstos, e as reservas gerenciais, que
visam cobrir gastos imprevisíveis, devem constar no orçamento de custos do projeto.
SAIBA MAIS
Conheça mais sobre a estimativa de custos de projetos no vídeo “Gestão De Custos Em
Projetos (Como Fazer)”.
QUALIDADE
A qualidade de um projeto é imprescindível, pois ela estabelece formas de garantir que
expectativas das partes interessadas sejam atingidas. Portanto, a qualidade de um proje-
to é planejada. A inspeção pode ser verificada à medida que a execução do projeto evolui.
SAIBA MAIS
Conheça mais sobre a qualidade nos projetos no vídeo “Entenda A Área De Qualidade Do
Pmbok Em Tempo Recorde”
RECURSOS
São os itens necessários para a qualidade de execução do projeto, como os materiais,
os equipamentos e as pessoas envolvidas direta e indiretamente no projeto.
94
SAIBA MAIS
Conheça mais sobre a área de pessoas envolvidas no projeto no vídeo “Entenda A Área De 3
Recursos Humanos Do Pmbok Em Tempo Recorde”.
SAIBA MAIS
Conheça mais sobre como se dá se a comunicação nos projetos no vídeo “Gestão De Proje-
tos De Comunicação: Qual Sua Importância?”.
RISCOS
Os riscos de um projeto geram uma Estrutura Analítica dos Riscos (EAR) ou Risk Break-
down Structure (RBS), em inglês. Não confunda com a EAP, que é a Estrutura Analítica
do Projeto.
SAIBA MAIS
Conheça mais sobre o EAR no vídeo “Gestão De Riscos Em Projetos”.
AQUISIÇÕES
Ou procurement, em inglês, refere-se a tudo o que for necessário adquirir para o bom
andamento do projeto em termos de produtos, mercadorias, serviços e terceiros.
Empreendedorismo Social 95
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social
3 SAIBA MAIS
Conheça mais sobre a etapa de aquisições no projeto no vídeo “Entenda A Área De Aquisi-
ções Do Pmbok Em Tempo Recorde”.
PARTES INTERESSADAS
Partes Interessadas no projeto são todas as pessoas ligadas direta ou indireta-
mente no projeto, e afins. Essa identificação se inicia tão logo o projeto é autori-
zado a ser arquitetado.
SAIBA MAIS
Conheça mais sobre as partes interessadas no projeto no vídeo “Entenda A Área De Partes
Interessadas Do Pmbok Em Tempo Recorde”.
Fonte: 123RF.
96
REUNIÕES
As reuniões de planejamento e execução dos projetos devem ser produtivas de modo que
a pauta deve ser delineada com clareza e com foco. Os participantes devem ser todas 3
as pessoas ou partes interessadas e envolvidas de alguma forma no projeto em questão.
OPNIÃO ESPECIALIZADA
5W2H
Essa é uma técnica que orienta as pessoas envolvidas no projeto a como entender de-
terminadas situações, documentá-las, identificar alternativas e compor planos de ação.
É um roteiro com perguntas para entender o que se está avaliando. O site PMO Escri-
tório de Projetos sintetiza no Quadro 08:
Empreendedorismo Social 97
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social
SAIBA MAIS
Nesse vídeo o autor explica sobre metodologia e o uso de ferramentas genéricas para a ges-
tão de projetos: “Melhores Ferramentas Para Gestão De Projetos 2021 - Como Escolher?”.
SAIBA MAIS
Os links a seguir são de empresas especializadas em gestão de projetos. Contém diversas
ferramentas específicas e genéricas.
Ferramentas e técnicas do Guia PMBOK®. Por: Eduardo Montes. Disponível em: https://es-
critoriodeprojetos.com.br/ferramentas-e-tecnicas-do-guia-pmbok. Acesso em: 17 jan. 2023.
5 ferramentas para gestão de projetos para facilitar o seu dia a dia e alcançar grandes
resultados. Por: Siteware. Disponível em: https://www.siteware.com.br/projetos/ferramen-
tas-acompanhamento-de-projetos/. Acessos em: 14 nov. 2022.
98
3.4 PASSOS PARA GESTÃO DE PROJETOS
Um dos grandes desafios dos projetos é garantir a sua execução, o seu monitoramento
até o encerramento.
3
EXECUÇÃO
ÁREAS DE
ATIVIDADES
CONHECIMENTO
Integração Manter as áreas e os recursos do projeto integrados
Qualidade Realizar a garantia da qualidade
Adquirir Recursos
Recursos Desenvolver a equipe
Gerenciar a equipe
Comunicações Gerenciar as informações
Riscos Implementar as respostas aos riscos (quando isso for aplicável)
Aquisições Efetuar as aquisições e contratações
Gerenciar as expectativas das partes interessadas
Partes Interessadas Gerenciar as estratégias para manter um alto nível de engajamento das
partes interessadas
SAIBA MAIS
Nesse vídeo o canal explica desde o que é projeto até os passos de como aplicar a gestão de
projetos de forma eficiente e eficaz: “GERENCIAMENTO DE PROJETOS (05 DICAS CER-
TEIRAS PARA TRABALHAR O GERENCIAMENTO DE PROJETO).
MONITORAMENTO
Monitorar o projeto é acompanhar passo a passo se sua execução está em conformi-
dade com o planejado.
Empreendedorismo Social 99
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social
ÁREAS DE
MONITORAMENTO E CONTROLE DOCUMENTOS
CONHECIMENTO
3 Monitorar e controlar o trabalho
Integração Realizar o controle integrado de Plano de Gerenciamento de Projeto
mudanças
Verificar escopo
Escopo EAP e Dicionário da EAP
Controlar escopo
Cronograma Controlar cronograma Cronograma
Custos Controlar custos Orçamento
Listas de Verificação (Checklists) e Matriz
Qualidade Controlar a qualidade
de Rastreabilidade e plano de aquisições
Matrizes de recursos, matriz RACI, crono-
Recursos Controlar os recursos
grama e plano de aquisições
Plano de Comunicações
Comunicação Controlar as comunicações Relatórios de Desempenho
Atas de Reuniões
Riscos Monitorar os riscos Análise de Riscos
Aquisições Controlar as aquisições Plano de Gerenciamento das Aquisições
Monitorar o nível de engajamento Matriz de Gerenciamento das Partes
Partes Interessadas
das partes interessadas Interessadas
SAIBA MAIS
Nesse vídeo o canal explica o papel do gerente de projetos: “(Entenda) O Papel Do Gerente
De Projetos”.
ENCERRAMENTO
É o fechamento de todas as atividades do projeto.
Atividades:
Reunião de encerramento;
100
9 Apresentar um relatório do projeto quanto aos aspectos apreendidos;
5. Os objetivos do projeto foram atingidos? Se não foram, o que precisa ser mudado
para os próximos?
SAIBA MAIS
Nesse vídeo o canal dá um exemplo simulado sobre como gerenciar um projeto: “Como ge-
renciar um projeto na prática?”.
CONCLUSÃO
Neste capítulo estudamos o que são projetos, seus fundamentos, os aspectos e passos
que dirigem sua gestão qualificada.
Tendo em vista várias decisões das organizações sobre mudanças estruturais, investi-
mentos, retomada ou busca de novos caminhos, lançamentos de novos produtos etc.,
serem de tamanha relevância, a gestão dispõe da ferramenta projeto como grande alia-
do no sentido de se proceder análises e discussões que forneçam elementos seguros
para que, com maior convicção, se entenda com profundidade o que se deseja, bem
como suas repercussões, facilitando o processo.
em prol de uma mudança social, e cujos objetivos são o bem público de maneira geral,
sem restringir-se aos interesses individuais ou de determinado grupo da sociedade.
Portanto, pode-se dizer que uma grande parte das organizações sociais são fundadas
3 sem o plano de negócios (plano financeiro, de marketing, dentre outros).
Conhecida como Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (OSC), a Lei
13.019/14 representa um avanço no âmbito do novo regime jurídico das parcerias por
meio de instrumentos jurídicos capazes de assegurar a continuidade das atividades das
organizações junto aos entes públicos, assim, beneficiando diretamente a sociedade civil.
O Marco Regulatório das OSC foi pensado para que as entidades tenham um norte a
seguir uma vez que seus fundadores são visionários e nem sempre conseguem apoio
ou recursos para que a entidade comece “certo”, “legalizada” perante os órgãos públicos.
IMPORTANTE!
Filme: O curta metragem Sorry: um filme sobre pessoas com deficiência e atitude ilustra uma
cena rápida no elevador de um shopping que está sobrecarregado. Uma metáfora ao individu-
alismo e ao direito que cada um acha que possui, fazendo com que o elevador não se mova.
DINIZ, A. A. A importância do marketing social para o terceiro setor. Disponível em: https://co-
nafasf.fasf.com.br/anais2020/arquivos/10142020_181044_5f8772b41f169.pdf. Acesso em:
22 jan. 2023.
2ª: estar organizada dentro de algum modelo de organização sem fins lucrativos defini-
do pela legislação;
102
3ª: ter estruturas de governança que excluam de antemão qualquer possibilidade de
trabalhar por interesses privados ou de obter qualquer ganho financeiro individual;
SAIBA MAIS
Antes de iniciar a atividade é importante que todas as pessoas que farão parte da entidade
tenham acesso ao Estatuto Social para a leitura antes da realização da primeira assembleia.
A leitura e a interpretação do Estatuto são necessárias para que cada membro, ora convidado
para fazer parte da entidade, conheça o propósito a que se destina a ONG, para que pessoas
façam uma análise e contribuam para o seu desenvolvimento do respectivo documento e
para posterior registro em cartório.
No primeiro momento algumas entidades surgem com o trabalho de voluntários que vão
arrecadando algo e gerando os primeiros recursos, ou a pessoa tem algum ente querido
que nasce com algum problema e, diante das dificuldades encontradas, vai buscando
forças para superar o dia a dia (empreendedor por necessidade). Não é difícil nos de-
pararmos com vendas de rifa, almoço, jantar, quermesses, dia do sorvete e da pizza,
bazar, ou festa em prol de uma determinada entidade.
Fonte: 123RF.
104
` Quais serão as atividades principais – primárias - secundárias?
Com a ideia em mente, parte-se para a elaboração do Estatuto Social da Entidade. Atu-
9 Equipe contratada;
9 Voluntários.
Segundo RAMAL,
[...] o Sumário Executivo deve conter as seguintes informações:
• Objetivo do Plano de Negócios;
• A oportunidade de trabalho percebida e como será desenvolvida;
• O público-alvo que se pretende atender e suas características principais;
• A missão da organização;
• A formação do Conselho Diretor;
• Quais produtos/serviços serão fabricados, vendidos, prestados, forne-
cidos pela organização;
• Como será abordado o público alvo;
• Como serão vendidos os produtos/serviços;
• Como a organização será estruturada para cumprir seus objetivos;
• As características (perfil) do pessoal da empresa e dos voluntários;
• O volume total de investimentos necessários para a organização reali-
zar o trabalho que se propõe;
• O volume de recursos mensais para manter a organização em
funcionamento;
• O fluxo de caixa previsto para a organização: como evoluirão suas re-
ceitas e despesas;
• A previsão da organização de tornar-se autossustentável; e
• Que impactos a organização espera obter e como estes serão mensu-
rados. (RAMAL, [s.d.], [n.p.])
Uma vez definido o plano de negócios, ora de começar a buscar recursos: onde? Como?
106
PARA REFLETIR
Na reunião de apresentação dos possíveis associados de uma determinada entidade um 3
dos membros pega o telefone, liga para um empresário e pede uma bicicleta para fazer uma
rifa para os custos iniciais da abertura da entidade. O empresário imediatamente concede a
bicicleta. Outro membro informa que ganhou um cavalo para a entidade. De imediato, veio a
Passados dois anos de organização estabelecida, as portas se abrem com mais facili-
dade. Com a organização estabelecida é possível buscar recursos na Prefeitura Muni-
cipal, na Secretaria da Educação, no Fundo Social e dentre outros. Antes, é preciso ler
os editais de chamamento e interpretar para que os projetos sejam desenvolvidos de
acordo com cada necessidade. Outras fontes de recursos são as emendas parlamenta-
res, juízes (recursos de multas), empresas privadas, comunidade local.
SAIBA MAIS
Leia os textos a seguir para enriquecer seu conhecimento.
Plano de ação:
Entrada de recursos:
108
CURIOSIDADE
A Associação Comunidade Auxiliadora Recuperando Vidas de Batatais, em São Paulo, é uma 3
comunidade terapêutica que oferece acolhimento voluntário e transitório, para pessoas com
problemas decorrentes do uso e/ou dependência de substâncias psicoativas. Com o objetivo
de promover a organização biopsicossocial do indivíduo, com a garantia de direitos, qualida-
Além disso, a entidade se mantém ativa com recursos vindos do poder público como o
Programa Recomeço do Governo do Estado de São Paulo e a Secretaria Nacional de
cuidados e Prevenções à Drogas (SENAPRED) do Governo Federal. Além do poder pú-
blico, a entidade também se mantém ativa com recursos vindos de empresas privadas
e da sociedade, como a Usina Batatais, Família do Sr. João Martins de Barros, Sócios
contribuintes e dentre outros. Nesse caso, a entidade pode adotar a estratégia de sócio
contribuinte, grupo de pessoas que contribuem mensalmente com a entidade por meio
de depósito bancário ou valor em espécie.
Outra opção utilizada por algumas entidades é o telemarketing, o qual existe um call
center onde um grupo de funcionários, por meio de ligações telefônicas, solicita a con-
tribuição em espécie naquele mês. Após a solicitação e a aceitação da doação, um
motoboy vai até o local recolher o valor doado (em espécie).
CURIOSIDADE
Na entidade AAA, a tesoureira, mãe de um incapaz, recebe diariamente os valores arrecada-
dos em espécie pelo malote. O malote sai do prédio do telemarketing e vai para a sede. Sua
função é fazer a conferência do relatório e enviar os valores para depósito bancário. Acontece
que a contabilidade é terceirizada e o contador nunca parou para pensar como é de fato o
funcionamento da entidade. Por uma falha no processo, o estagiário do curso de Direito pre-
senciou por várias vezes a tesoureira colocando o dinheiro em espécie em sua bolsa. O fato
é que os valores arrecadados pelo telemarketing em espécie nunca foram depositados e não
foram contabilizados. Com o passar dos anos, surgem atritos e o estagiário então, se torna
advogado e coloca câmeras para gravar os fatos. O rombo foi em torno de R$3.200.000,00
(processo em segredo de justiça).
A relevância pública e social no primeiro momento é o que mais chama a atenção para
atender a demanda da sociedade. O poder público por si só não dá conta de atender todas
as demandas existentes por diferentes tipos de diagnósticos e necessidades. Por exemplo:
9 Quantas pessoas estão dormindo na rua e podem morrer de frio por não que-
rer ir para o abrigo? É uma opção não querer ir para um abrigo, pois lá existem
regras.
Para auxiliar uma entidade que cuida de crianças de comunidades carentes, um grupo
de jovens se propôs a trabalhar distribuindo hambúrguer e, para isso, denominaram
como o dia da Hamburgada do Bem (s.d.). Além de levar amor, diversão, cuidados e
informações, o grupo listou os pontos principais que os levaram a tomar essa iniciativa:
110
A questão é: como irão organizar os próximos passos para que todos saiam satisfeitos
desse dia especial de comunhão e solidariedade?
Figura 13. Crianças comendo na confraternização
3
9 Público-alvo;
9 Prestação de serviços;
9 Demanda;
9 Resultado;
9 Voluntários; e
No final, tudo o que foi discutido e planejado, em reunião, o grupo irá oferecer essas informa-
ções em forma de sumário (Quadro 11) tanto para os membros quanto para os voluntários.
Prezado voluntário,
Ficamos felizes em tê-lo conosco, participando desse dia especial: a Hamburgada do Bem.
3
A inquietude está estampada nos nossos rostos quando nos unimos em prol do bem-estar de crianças que
não tiveram privilégios ou sentem falta de paz e alegria em suas vidas. Por isso, pensamos realizar essa
confraternização de recreação e adoção, passando um dia com essas crianças e realizando seus simplórios
sonhos e desejos. Para começar, pedimos para a entidade que suas crianças escrevessem uma cartinha
com seus pedidos particulares, como: querer que os pais parem de brigar, ao invés de um brinquedo; que
sua avó volte...lá do céu...; ter um amigo para brincar, ou seja, coisas que o dinheiro não compra.
Os tópicos abaixo apresentam as propostas, as regras e o passo-a-passo que vamos realizar no dia.
O Estudo de caso: Hamburgada do bem
A natureza econômica da entidade é: 94.93-6-00 - atividades de organizações associativas ligadas à
cultura e à arte.
Atividade secundária: 94.30-8-00 - atividades de associações de defesa de direitos sociais; 94.99-
5-00 - atividades associativas não especificadas anteriormente; 88.00-6-00 - serviços de assistência
social sem alojamento.
9 O atendimento à demanda da sociedade é feito por meio de trabalho voluntário, ou seja, são de
preferência jovens que estão em busca de curtir algo diferente a cada final de semana. O jovem
paga para fazer parte desse grupo de voluntários, ou seja, para participar do evento ele precisa
fazer a inscrição, e, no dia e horário da prestação de serviços, estará à disposição da organização
para realizar o trabalho voluntário. No ato da inscrição a informação é de que o voluntário está
custeando o café da manhã (seu), o almoço (seu e de uma criança), que seria hambúrguer, batata
e refrigerante, milk-shake de sobremesa e muita diversão.
9 O voluntário fica responsável por acompanhar uma criança o dia todo na recreação, outro time fica
na organização do evento, na cozinha, churrasqueira, fazendo desde o hambúrguer com o manu-
seio da carne até a entrega do hambúrguer pronto às crianças e muita diversão.
9 O primeiro trabalho é descarregar o caminhão logo cedo e começar a montar os brinquedos da
recreação, ou seja, trabalho voluntário o dia todo. Além de trabalhar gratuitamente para a ONG, o
voluntário também contribui com doces e brinquedos. Pelos grupos dos WhatsApp, os voluntários
se agrupam por atividade e vão arrecadando doces, brinquedos, roupas, calçados, itens de higiene
pessoal etc.
9 Após o evento o voluntário é convidado a realizar o sonho de uma criança que esteve presente
nesse evento: um ursinho de pelúcia, computador, celular, bicicleta, compra de supermercado etc.,
pois os sonhos são variados e tem aqueles que pedem que a vó volte, o pai e a mãe parem de
brigar, a polícia prenda os ladrões e assim por diante.
Público-alvo: criança feliz de uma escola da rede pública de ensino.
Prestação de serviços: por voluntários dispostos a prestar serviços e pagar para proporcionar um dia
feliz na vida de uma criança.
Demanda: uma escola da periferia.
Resultado: a criança não quer ir para sua casa, então, pela cor da pulseira a criança vai sendo chamada
pela equipe de recreação para receber sua lembrancinha e é direcionada para o portão da escola. E no
término dos eventos, alguém da equipe da recreação faz agradecimento aos voluntários, canta o hino da
Hamburgada e são recolhidos os brinquedos.
Voluntários: alguns vão para suas residências e não participam mais de eventos, outros mais assíduos
vão para o after.
Resultado financeiro da ação: a entidade não disponibiliza a prestação de contas no portal da transparência.
112
PARA REFLETIR
O pulo do gato
3
Gestão participativa: com o trabalho de voluntários a empresa não cria vínculo empregatício,
ou seja, não possui encargos trabalhistas. Em sua atividade principal retrata cultura e arte.
Os voluntários fazem sua parte no trabalho voluntário “antes, durante e depois do evento”.
Após a realização do evento a entidade deve ser transparente na prestação de contas do
resultado daquele evento, se deu lucro, ou prejuízo.
CONCLUSÃO
Diariamente nos deparamos com pessoas pedindo dinheiro ou comida, uma ajuda qual-
quer, ou as vezes, a pessoa nem pede, pega restos de alimentos do lixo. Alguns optam
por recolher lixo reciclado, vende no depósito mais próximo em função do peso que car-
rega e dorme na rua, calçada ou qualquer lugar coberto. Um retrato triste da realidade
em qualquer cidade no Brasil.
Não é difícil encontrar famílias, igrejas, grupo de amigos, comunidades que se juntam
em prol desses necessitados, preparam refeições, arrecadam alimentos, fazem o pre-
paro e saem para distribuição. Do jeito que vem e vai, pede arroz, feijão, café, roupas,
agasalhos, calçados etc., monta-se uma cesta básica e alguém fica responsável por
entregar. Parece simples, pedir e ajudar em pequena proporção e esse negócio é como
se fosse um vício, você ajuda, e vai recebendo forças para ajudar mais, ajuda uma
família e quando vê, já são dez, cem, mil e por ai vai, somasse tudo que é palpável e o
amor ao próximo.
A parte mais difícil é entender que se tornou um negócio e que alguém já faz um con-
trole de quem precisa e de quem pode ajudar, a soma vai aumentando na medida que
vão surgindo as necessidades. Ninguém tem tempo para parar e escrever o “plano de
3 negócios” para organizações sociais, ele vai sendo moldado na cabeça dos integrantes
que vão fazendo com que o negócio dê certo.
O fato de atender quem necessita se torna mais importante do que atender a burocracia
e a formalidade do negócio. Parar para elaborar o plano de negócios pautado no Esta-
tuto Social, estabelecer metas e buscar recursos, é algo que acontece naturalmente, é
como apagar um incêndio, “deixa que depois alguém faz”, “é só papel mesmo” e dentre
outros jargões que as pessoas falam no cotidiano. Tudo o que importa é buscar parce-
rias com o poder público e privado, atender a demanda da sociedade e, em seguida,
resolver os problemas.
SAIBA MAIS
Leitura complementar para entender um pouco sobre as legislações que amparam o
terceiro setor.
114
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Governo do Distrito Federal. Secretaria da Casa Civil, Relações Institucionais e Sociais. Gestão
de parcerias do marco regulatório das organizações da sociedade civil. Lei Nacional nº 13.019/2014 e
3
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