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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

PREFÁCIO

A Odontologia do Século XXI tem como principal preocupação a saúde de forma


integral. E de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS): “Saúde é o bem estar
físico, mental e psicológico do ser humano”.

Há um consenso entre os autores da área da saúde que nenhuma outra parte do


corpo é tão versátil como a nossa área de atuação, visto que a cavidade bucal além da
função nutricional, que é de grande importância, envolve ainda funções estéticas (aparência)
e emocionais (auto estima) e ainda possibilita a comunicação dos sentimentos e idéias
através da fala e da expressão facial. Os problemas dentais podem interferir de forma muito
negativa na alimentação e na qualidade da nutrição das pessoas, especialmente em
pacientes idosos, prejudicando-lhes a resistência orgânica ou dificultando a comunicação e
a aparência. Nesta situação o individuo sofre biologicamente, psicologicamente e
socialmente, afetando de forma indelével sua condição de cidadão e na sua qualidade de
vida. As relações funcionais fazem com que a Oclusão seja o foco principal deste estudo.
A Oclusão é um fenômeno composto por elementos estáticos e dinâmicos, no qual todos os
componentes do Sistema Estomatognático (SE) são interdependentes relacionado-se
hamoniosamente coordenados pelo Sistema Nervoso Central (SNC).

Segundo os autores mais importantes da odontologia mundial há uma


afirmação que diz: “Não existe odontologia de qualidade sem que se aplique os
conhecimentos dos principios da OCLUSÃO.”

A saúde pública bucal conseguiu despertar a preocupação e o interesse numa


grande parcela da população quanto à manutenção de uma dentição sem cárie e com uma
mastigação saudável. Os materiais restauradores são produzidos com qualidade,
oferecendo segurança aos profissionais que o utilizam e aos pacientes que recebem. A
osseointegração é uma realidade mundial. A estética está ao alcance de todos.

Porém a muitos pacientes e profissionais em odontologia uma pergunta surge, e em


um primeiro momento não se tem a resposta: Por que meu dente fraturou? Por que a
restauração caiu novamente, já fiz três vezes e recentemente? Por que esta prótese desloca
tanto na boca? Um tema pouco abordado até algum tempo atrás, pode ser a resposta para
muitos problemas: Oclusão.

Os dentes têm numerosas relações de contato: por oclusal, com os dentes


antagonistas; por proximal, com os dentes vizinhos; internamente, com a língua; por
vestibular, com os lábios e a mucosa jugal; e, às vezes, os dentes estão em contato com
corpos estranhos, como por exemplo, elementos de uma prótese. Durante o transcurso da
vida, estes contatos podem alterar-se individualmente, de um modo fisiológico ou mesmo
patológico. A direção, a intensidade e a frequência destes contatos influem de maneira
incisiva sobre as estruturas que suportam os dentes na posição do dente em oclusão. As
funções normais (mastigação, deglutição e movimentos vazios) estão submetidos a outras
leis, diferentes daquelas alteradas, de uma maneira patológica (parafunções, compressões,
rangidos, bruxismo).

Por isso aqueles que pretendem atuar na superfície oclusal devem ter um
conhecimento básico de oclusão para aplicá-lo na clínica diária, preocupando-se com o
significado funcional dos contatos oclusais.

Profa. Dra. Daisilene Baena Castillo


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Sumário

I- HISTÓRICO................................................................................................ 3
Seção 1 – Origem........................................................................................ 4
Seção 2 - Diretrizes curriculares................................................................. 6
II - ANATOMIA DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO (SE).................... 7
Seção 1 - Sistema estomatognático (SE).................................................... 8
Seção 2 – Ossos.......................................................................................... 10
Seção 3 – Músculos.................................................................................... 13
Seção 4 - Articulação temporomandibular (ATM).................................... 16
Seção 5 - Sistema Nervoso........................................................................ 24
Seção 6 - Fisiologia do SE......................................................................... 26
Seção 7 – Periodonto................................................................................. 27
Seção 8 – Dentes........................................................................................ 28
III - CONCEITOS BÁSICOS DE OCLUSÃO................................................. 29
Seção 1 - Relação maxilo-mandibular....................................................... 30
Seção 2 - Guias de desoclusão................................................................... 34
Seção 3 - Plano oclusal............................................................................... 37
Seção 4 - Dinâmica mandibular................................................................. 39
Seção 5 - Determinantes anatômicos do SE............................................... 42
Seção 6 - Movimentos mandibulares......................................................... 43
Seção 7 - Estabilidade mandibular............................................................. 45
Seção 8 - Tipos de oclusão......................................................................... 46
Seção 9 - Classificação de Angle............................................................... 49
Seção 10 - Fatores que podem provocar alteração no plano oclusal......... 50
IV - CONTATOS OCLUSAIS......................................................................... 55
Seção 1 - Variação quanto a localização.................................................... 56
Seção 2 - Variação quanto a relação interoclusal...................................... 57
Seção 3 - Variação quanto a dinâmica do fechamento oclusal.................. 58
Seção 4 - Contatos oclusais cúspide-fossa................................................. 59
Seção 5 - Ajuste oclusal............................................................................. 61
V- MONTAGEM EM ARTICULADOR SEMI-AJUSTÁVEL (ASA).......... 69
Seção 1 – Articulador................................................................................. 70
Seção 2 - Moldagem em alginato............................................................... 72
Seção 3 - Montagem do modelo superior................................................... 75
Seção 4 - Montagem do modelo inferior.................................................... 78
Seção 5 - Individualização do ASA............................................................ 83

Referências................................................................................................................ 85

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UNIDADE I

HISTÓRICO DA OCLUSÃO

Objetivos de estudos
 Conhecer parte da história da oclusão

Roteiro de estudos
 SEÇÃO 1: Origem
 SEÇÃO 2: Diretrizes curriculares de oclusão

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SEÇÃO 1 - Origem

A palavra oclusão origina do latim “occlusione”, ato de fechar, fechamento.


Interessante observar que, no início de 1800, todo estudo da oclusão tinha como
movimento da mandíbula somente a abertura e fechamento. Somente após 1850
que Bonwill, um matemático e dentista, apresentou seu primeiro artigo no qual
descrevia suas “leis geométricas e mecânicas da articulação” – Triângulo de Bonwill,
no qual a mandíbula foi descrita em termos de um triângulo eqüilátero com lados de
10 cm, que conectava ambos os côndilos e os ângulos meso-incisais dos incisivos
centrais inferiores – que houve um ‘despertar’ quanto ao deslocamento dos côndilos
e aos movimentos mandibulares de forma variável. Bonwill teve como propósito por
em contato a maior quantidade de superfícies triturantes dos pré-molares e molares
e, ao mesmo tempo, ter todos os incisivos em ação durante os movimentos laterais.

Antes das “leis” de Bonwill, os conceitos de oclusão eram baseados na


idéia de uma dobradiça única e estática. De acordo com Washbum em 1893, Walker
reconheceu que percurso do côndilo é inclinado inferiormente devido a inclinação
condilar – ele desenhou um articulador com mecanismo ajustável ao percurso do
côndilo para cada paciente.

O conceito de oclusão balanceada é creditado a Ferdinand Graf Spee que


em 1890 apresentou suas observações sobre a função dos dentes naturais de
humanos. Spee propôs que (1) as superfícies oclusais contactantes de todos os
dentes inferiores, “deslizam” contra os dentes superiores; (2) essas áreas ficam
numa superfície cilíndrica e (3) o eixo desse cilindro passa no meio da órbita, atrás
do ducto lacrimal.

Em 1900, Edward Hartley Angle desenvolveu a classificação de má-


oclusão, conhecida e utilizada como Classe I, II e III de Angle.

Em 1910, Alfred Gysi criticou o uso contínuo do articulador simples de


dobradiça ou charneira. Gysi compreendeu os problemas biomecânicos dos dentes
artificiais e propôs uma abordagem de tratamento para acomodá-los em uma
oclusão balanceada bilateralmente. Numa extensão dos realizados por Bonwill e
Spee, George S. Monson, em 1920, propôs o “princípio esférico na solução do
problema da oclusão humana”. Ele adaptou o triângulo eqüilátero de Bonwill e
adicionou ao conceito do eixo de rotação central da Curva de Spee. Suas
conclusões produziram a esfera de 10 cm de raio, representando um ideal

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geométrico – uma incorporação geométrica da função, forma e beleza do sistema


mastigatório.

A escola Gnatológica nasceu de um encontro de B.B. McCollum e um


grupo de cirurgiões dentistas na Califórnia, em 1926, que fundaram a Sociedade
Gnatológica da Califórnia. Eles lançaram o termo gnatologia que foi definido como o
“estudo dos movimentos da articulação temporomandibular, sua medição seletiva,
reposição e uso como determinantes no diagnóstico e tratamento da oclusão”
(Kaplan, 1963 - apud Mohl e Davidson, 1989 - Fundamentos de Oclusão).

A relação côndilo e a fossa eram consideradas imutáveis, sendo


responsável por guiar a mandíbula em sua relação correta com o maxilar. A partir de
então, McCollum e os outros dedicaram-se a restaurar a função e a anatomia
‘ideais’.

O articulador totalmente ajustável foi desenvolvido em 1955 e era capaz


de seguir todos os movimentos mandibulares. Com a era da industrialização, os
conceitos gnatológicos ficaram muito influentes no campo da oclusão.

Em 1929, Clyde H. Schuyler afirma que nem todos os princípios de


oclusão aplicável às próteses totais são aplicáveis à dentição natural, a perfeição
exigida na oclusão de prótese total não é essencial para a saúde e manutenção das
estruturas de apoio dos dentes naturais. Em 1935, Schuyler desenvolveu a primeira
técnica de ajuste oclusal baseado no desgaste cuidadoso de vertentes específicas.

Após o esclarecimento sobre a movimentação da mandíbula na fossa


mandibular, os conceitos de oclusão passaram por várias fases: importante registrar
a participação de Beyron (1954), Bagg (1954), D’Anmico (1958), Peter Thomaz,
dentre outros.

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Seção 2 – Diretrizes curriculares de oclusão

Em 1976, o Conselho da Associação Dental Americana sobre Educação


Dental recomendou que o ensino de Oclusão fizesse parte do programa de ensino
das escolas de Odontologia. Em 1983, a Associação Americana de Escolas de
Odontologia desenvolveu “Diretrizes Curriculares de Oclusão”. A seguir, a
transcrição de parte desta diretriz:

“O estudo da oclusão envolve todo o sistema estomatognático. A


compreensão das inter-relações dos dentes, tecidos periodontais, ossos,
articulações, músculos e sistema nervoso durante a variação total de movimentos
mandibulares, bem como os movimentos funcionais normais é essencial. As relações
de contatos aceitáveis dos dentes durante esses movimentos e a instrumentação de
técnicas necessárias para reproduzir essas relações durante os procedimentos
restauradores devem ser apresentadas.

Uma vez que o funcionamento saudável do sistema estomatognático e as


relações de contato aceitáveis dos dentes são compreendidos, o conhecimento,
técnicas e procedimentos para o diagnóstico e tratamento das condições
potencialmente patológicas e as patologias em si podem ser apresentadas. Isso
inclui: (1) fatores etiológicos que levam ao patológico, (2) a fisiologia neuromuscular
que leva ao estado patológico, (3) efeitos da parafunção ou patofunção dos dentes,
tecidos periodontais, músculos e articulações, (4) auxílios diagnósticos, (5)
diagnóstico de condições potencialmente patológicas, (6) métodos de tratamento, (7)
integração desses métodos em um plano de tratamento abrangente, (8) experiência
clínica em diagnóstico e tratamento dos problemas relacionados com a oclusão.
Algum material de conteúdo pode ser coberto em cursos que não sejam de oclusão,
mas devem ser considerados como parte do currículo total sobre oclusão.

O currículo de oclusão deve ser apresentado durante os quatro anos do curso


de graduação. A oclusão relaciona diretamente as disciplinas de ciências básicas e
as disciplinas pré-clínicas e clínicas. A fase inicial do currículo de oclusão deve ser
iniciada o mais rápido possível depois da apresentação da anatomia e histologia do
sistema estomatognático. A neuro-anatomia e a fisiologia devem ser apresentadas
antes ou juntamente com os aspectos apropriados dessa parte do currículo de
oclusão. A instrumentação e as técnicas de substituição ou reprodução da relação
oclusal devem ser apresentadas antes dos cursos de restauração pré-clínica. A parte
clínica do currículo deve ser integrada à experiência clínica das disciplinas, para um
tratamento abrangente do paciente”.

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UNIDADE II

ANATOMIA DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO

Objetivos de estudos
 Conhecer a detalhadamente as estruturas que compõe o SE, bem como o
entendimento da fisiologia das mesmas.

Roteiro de estudos
 SEÇÃO 1: Sistema estomatognático (SE)
 SEÇÃO 2: Ossos
 SEÇÃO 3: Músculos
 SEÇÃO 4: Articulação temporomandibular (ATM)
 SEÇÃO 5: Sistema nervoso
 SEÇÃO 6: Fisiologia do SE
 SEÇÃO 7: Periodonto
 SEÇÃO 8: Dentes

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Seção 1- SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO

O sistema estomatognático é considerado uma unidade complexa e


refinada do corpo, e, funcionalmente, é responsável pela mastigação, fala e
deglutição, sendo que seus componentes atuam também no paladar e respiração. É
um sistema composto por ossos, músculos, articulações e dentes, e regulado e
coordenado por um sistema neurológico. Cada um destes componentes apresenta
uma biologia e estrutura funcional própria adaptada a funções específicas, que, em
condições normais, podem promover um equilíbrio funcional entre as partes
envolvidas. Caso ocorra uma alteração patológica, principalmente sobre os dentes,
isso poderá induzir a um desequilíbrio de parte ou de todos os órgãos que o
compõe. Este sistema está em constante e permanente adaptação, portanto, é
dinâmico e se auto-regula com o próprio uso.

O aparelho mastigatório forma parte de um corpo humano como um todo,


e alterações patológicas que ocorrem no resto do corpo humano podem refletir
negativamente sobre a sua função. Da mesma forma, a perda da integridade e da
saúde em alguns componentes do sistema, principalmente em dentes e articulação
temporomandibular, pode afetar órgãos e sistemas distantes. Exemplos disso, são
as alterações no sistema gastrointestinal ocasionados por mastigação deficiente,
alterações no ouvido, devido a uma ATM patológica e ainda, dor na região superior
da coluna vertebral causada por disfunção do aparelho estomatognático. Assim, não
se deve separar a função e a importância deste aparelho em relação ao resto do
organismo. Mas, infelizmente, muitos clínicos ainda continuam tratando os dentes
como unidades completamente separadas das ATMs, demonstrando
desconhecimento sobre a inter-relação entre os diversos componentes do sistema
estomatognático.

Paiva (1997), define como componentes do Sistema Estomatognático:

Ossos – crânio, mandíbula, hióide, clavícula e esterno

Músculos – mastigatórios, deglutição e mímica

Articulações – dento-alveolar e ATM

Ligamentos – periodontais e da ATM

Dentes

Língua, lábios e bochechas

Sistema vascular e nervoso

Classificados como componentes fisiológicos:


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- Oclusão Dentária

- Periodonto

- Articulações Temporomandibulares (ATMs)

- Mecanismo neuromuscular

Tendo como funções:

- Gustação

- Mastigação

- Deglutição

- Postura da mandíbula, da língua e do osso hióide

- Sucção

- Respiração

- Fonação

- Mímica ou expressão facial

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Seção 2 - OSSOS

O aparelho locomotor, é o responsável direto pela locomoção. Está


constituído pelos ossos, articulações e pelos músculos. Os músculos representam a
parte ativa no movimento, enquanto os ossos a passiva. Porém ambos são
indispensáveis para que ocorra o movimento.

Os ossos são constituídos por substância compacta (densa) e substância


esponjosa (trabecular). A substância compacta apresenta como unidade de
construção, as denominadas osteonas, lamelas concêntricas ao redor do canal
vascular (de Havers), cuja direção depende das forças mecânica que atuam sobre o
osso, oferecendo maior resistência. A matriz óssea da substância esponjosa forma
lamelas que são paralelas e constituem trabéculas delgadas, que se entrecruzam
como uma rede, se apresentando em orientações adequadas para também oferecer
a melhor resistência, de acordo com a solicitação mecânica em cada parte do osso.
Importante lembrar que independente do arranjo microscópico as substâncias
compacta e esponjosa apresentam matriz orgânica (fibras colágenas e células) e
inorgânica (cristais iônicos).

Outro aspecto a ser destacado é a plasticidade do tecido ósseo. Pois os


mesmos apresentam uma construção especial que assegura melhor resistência com
máxima economia de material, e um mínimo de peso, o que é importante para a vida
no meio terrestre sob a ação da gravidade.

Apesar da sua resistência e dureza, o osso tem uma estrutura dinâmica viva
constantemente renovada e reconstruída, com marcante capacidade de resposta a
estímulos mecânicos externos e internos, ou seja, uma grande capacidade de
adaptação funcional às solicitações mecânicas. Esse processo é denominado de
remodelação óssea, fenômeno contínuo até a senilidade e que depende tanto da
formação óssea pelos osteoblastos quanto da reabsorção óssea pelos osteoclastos.
Remodelação óssea = formação óssea (por deposição) + reabsorção óssea (por
decomposição). A remodelação óssea garante o equilíbrio arquitetônico entre todas
as partes isoladas do esqueleto em desenvolvimento, modificando os ossos na
forma, no tamanho e no ajuste funcional bem afinado, adaptando-se às diversas
solicitações mecânicas como afirmado anteriormente. O ritmo dessa remodelação
óssea é ditado naturalmente pelo conjunto de tecidos “moles” que se relaciona com
cada um dos ossos do esqueleto.

É importante destacar que os fatores intrínsecos (genéticos) determinam a


forma geral do osso, porém os fatores extrínsecos (solicitações mecânicas)
influenciam diretamente seu arranjo estrutural.

O crânio, apresenta diversos esteios (ou pilares) de reforço (ou sustentação),


que irradiam dissipam as forças de tração exercidas pelos músculos da mastigação,
como também as forças de compressão exercidas pelos arcos dentais maxilar e
mandibular.

Para Okeson (1992), existem três componentes esqueléticos mais


importantes que compõem o sistema estomatognático. Dois suportam os dentes:
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maxila e mandíbula. O terceiro, o osso temporal, suporta a mandíbula em sua


articulação com o crânio. Na maxila, como seus ossos são fundidos nos outros
ossos próximos que compõem o crânio, os dentes maxilares são considerados como
uma parte fixa do crânio e desta forma constituem a parte estacionária do sistema
mastigatório. A mandíbula é um osso em forma de “U” que sustenta os dentes
inferiores e forma a parte inferior do esqueleto facial; não tem ligação óssea com o
crânio. Ela é sustentada abaixo da maxila por músculos, ligamentos e outros tecidos
moles que por sua vez possibilitam a mobilidade necessária ao seu funcionamento.

Os ossos servem de fixação para os músculos manterem a cabeça em


equilíbrio na coluna cervical e para realizar as funções estomatognáticas.

Maxila

 Osso par
 Formam a maior parte do esqueleto facial superior
 Osso pneumatizado
 Bordo posterior:
Tuberosidade maxilar
 Bordo inferior:
Rebordo alveolar e palato
 Bordo superior:
Assoalho da cavidade nasal
e órbita

Trajeto das Forças Mastigatórias

Pilares = apófise alveolar



base do crânio

Arcos = ligam os pilares

Pilares: canino, zigomático e pterigoideo

Arcos: orbitário, infra-orbitário e alveolar

Mandíbula

 Osso único
 Forma de “U”
 Não apresenta inserção óssea com o crânio

Se divide em :
Processo alveolar;
Corpo;
Ângulo;
Ramo ascendente;

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Processo coronóide;
Processo condilar

Côndilo Mandibular
 “Cabeça da mandíbula”
 Porção da mandíbula que se articula com o crânio
 2 Pólos – Medial e Lateral
 Superfície articular (disco articular)

Trajeto das forças mastigatórias (transmissão)


- trajetória marginal;
- trajetória temporal;
- trajetória alveolar.

Temporal

 Osso par
 Eminência articular
 Fossa articular ou cavidade glenóide

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Seção 3 – MÚSCULOS

O tecido muscular apresenta diferenças celulares evidentes, sendo


tradicionalmente ensinados como músculo estriado (esquelético e cardíaco) e
músculo liso. O músculo estriado esquelético é assim denominado devido ao fato da
maioria deles estar inserida em ossos do esqueleto.

Os músculos apresentam inervação sensitiva (dor, propriocepção) e


inervação motora. Esta é caracterizada pela existência das unidades motoras,
típicas do músculo estriado esquelético.

Cada unidade motora é constituída por um neurônio motor somático


(“motoneurônio”), a ramificação terminal de seu axônio (neurofibra) em n ramos e a
quantidade x de células (fibras) musculares estriadas esqueléticas por ele inervadas.
É, portanto, a menor fração de contração do músculo. Esse conceito é importante
pelo fato das unidades motoras de um determinado músculo apresentarem a relação
quantitativa “fibras musculares/axônio” de acordo com sua ação. A relação é maior
em músculos cuja ação é predominante de força (potência) dos movimentos, e
menor em músculos cuja ação é de precisão.

Os músculos considerados da mastigação são: três elevadores (masseter,


temporal e pterigóideo medial), um protrusor da mandíbula (pterigóide lateral), os
supra-hióideos (digástrico, milo-hióideo, gênio-hióideo e estilo-hióideo) que em
conjunto são descritos como músculos abaixadores e retrusores da mandíbula,
portanto, colaboram na mastigação; e, ainda os infra-hióides (esterno-hióideo, omo-
hióideo, esternotireóideo).

Os músculos:
 Responsáveis pelo movimento
 Ação em grupo
 Função:
 Origem e inserção
 Direção das fibras
 Regulação do sistema nervoso

Contração Isotônica

 O músculo mantém o tônus alterando o comprimento


 Realização de trabalho
 Processo aeróbico
 Acúmulo mínimo de metabólitos

Contração Isométrica
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 O músculo aumenta o tônus mantendo constante o comprimento


 Não realização de trabalho
 Processo anaeróbico
 Acúmulo de metabólitos
 Atividade parafuncional (fadiga e dor)

Relaxamento controlado

 Relaxamento de um grupo muscular enquanto outro grupo se contrai


 Manutenção da suavidade do movimento

Tonus muscular

 Contração alternada de grupos de fibras


 Mantém o comprimento e equilíbrio postural da estrutura sustentada
 Manutenção das atividades fisiológicas

Músculos principais da mastigação


 Temporal
 Masseter
 Pterigoideo Medial
 Pterigoideo Lateral
 Músculos acessórios
 Supra-hióideos

Músculo Temporal
 3 grupos de fibras
 Origem: Fossa temporal
 Inserção: Processo coronóide e borda anterior do ramo
 Função: Eleva e retrai a mandíbula, ativo no apertamento.

Músculo Masseter
 2 feixes
 Origem: Arco zigomático
 Inserção: Ângulo da mandíbula
 Função: Eleva e protrui a mandíbula, ajuda no movimento lateral, ativo no
apertamento.

Músculo Pterigoideo Medial


 Origem: Fossa pterigóidea e superfície média da lâmina lateral pterigoidea
 Inserção: Superfície média do ângulo da mandíbula
 Função: Eleva a mandíbula, causa movimento lateral e protrusão
Músculo Pterigoideo Lateral
 Possui 2 feixes

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 Superior
 Inferior
Músculo Pterigoideo Lateral Superior
 Origem: Superfície infratemporal da asa maior do esfenóide
 Inserção: Cápsula articular, disco articular, côndilo
 Função: Posiciona o disco no fechamento, inativo na abertura
Músculo Pterigoideo Lateral Inferior
 Origem: Superfície lateral da lâmina pterigoide lateral.
 Inserção: Colo do côndilo.
 Função: Protrui e abaixa a mandíbula, causa movimento lateral, inativo no
fechamento
Musculatura acessória

 Músculos acessórios
 Supra-hióideos
 Digástrico
 Milohióideo
 Genohióideo
 Estilohióideo

Músculo Digástrico
 Origem: Incisura mastóidea
 Inserção: Fossa digástrica (borda inferior da mandíbula)
 Função: Eleva o hióide e deprime a mandíbula

Músculo Milohióideo
 Origem: Linha milohióidea da mandíbula.
 Inserção: Osso hióide.
 Função: Eleva e estabiliza o hióide, deprime a mandíbula, forma o assoalho
bucal

Músculo Geniohióideo
 Origem: Apófises genianas inferiores
 Inserção: Osso hióide
 Função: Eleva e traciona o hióide e a língua para a frente, deprime a
mandíbula.

Músculo Estilohióideo
 Origem: Processo estilóide
 Inserção: Osso hióide
 Função: Eleva e retrai o hióide, eleva o assoalho da boca e a língua

Importância da Anatomia Muscular


 Movimentos mandibulares
 Avaliação de desordens
 Tratamento protético

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Seção 4 - ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

 Articulação entre a mandíbula e o osso temporal


 Bilateral
 Anatomicamente: 2 articulações
 Funcionalmente: 1 articulação
 Articulação Ginglimo artroidal
 Ginglimóide = Rotação
 Artroidal = Translação
 Articulação composta (3 ossos)
 Principais componentes
 Osso temporal
 Côndilo
 Disco articular
 Ligamentos

Superfícies ósseas
 Côndilo, fossa articular, eminência articular.
 Recobertas por tecido conjuntivo denso fibroso, ao invés de cartilagem hialina
 Resistência a esforços
 Remodelação

Disco articular
 Regulariza a discrepância anatômica existente entre as estruturas ósseas
 Absorção de choques
 Movimentação suave
 Morfologia estável
 Tecido conjuntivo denso e fibroso
 Sem vascularização e inervação

Divide-se em 3 regiões:
Borda anterior;
Zona intermediária;
Borda posterior;

Inserções:
 Borda anterior do disco
 Cápsula articular
 Pterigóideo lateral superior
 Tecidos retrodiscais
 Borda posterior do disco
 Vascularizados e inervados
 Lâmina retrodiscal superior
 Fibras elásticas
 Lâmina retrodiscal inferior
 Fibras colágenas

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Ligamentos

 Cápsula articular (Capsular)


 Envolve toda a ATM
 Retém o fluido sinovial

 Ligamentos colaterais
 Medial e Lateral
 Prendem o disco ao côndilo
 Divisão da articulação em 2 compartimentos
 Cavidade superior
 Cavidade inferior

 Ligamento Temporomandibular
 Lateral
 Abertura bucal
 Horizontal
 Evita retrusão condilar

LIGAMENTOS ACESSÓRIOS

 Ligamento esfenomandibular
 Sustentação
 Não limita o movimento
 Ligamento estilomandibular
 Limita a protrusão excessiva
 Relaxado na abertura

ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR (ATM)

A articulação temporomandibular é constituída pelos dois côndilos


mandibulares e a fossa mandibular, que inclui a articulação do processo condilar da
mandíbula e disco articular com a fossa mandibular do osso temporal.

É uma articulação sinovial, do tipo bicondílica que permite amplos


movimentos da mandíbula em torno de um osso fixo que é o temporal. É a única
presente no esqueleto cefálico capaz de realizar todos os movimentos, sendo
classificada funcionalmente como uma articulação triaxial, portanto, ela é capaz de
realizar movimentos em torno de três eixos de simetria do corpo humano. É
considerada a juntura mais complexa do corpo humano, pois existe uma relação de
interdependência da ATM com a oclusão dos dentes em ambos os arcos, tornando-a
peculiar; é composta pelo côndilo mandibular, parte móvel que se desloca, e pelo

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

osso temporal, parte fixa e um disco articular fibrocartilaginoso interposto entre os


dois componentes ósseos. Partes constituintes da ATM:

Disco articular

É uma estrutura firme, flexível e localizada entre as superfícies articulares.


Tem uma forma bicôncava com a qual se adapta perfeitamente entre as superfícies
recíprocas contrárias, atuando na regularização da discrepância anatômica entre as
mesmas, absorvendo choques e promovendo uma movimentação suave da ATM.

O disco articular é interposto entre duas superfícies articulares, dando


origem a dois compartimentos:

SUPERIOR: separa da superfície articular do crânio, onde há o movimento de


translação.

INFERIOR: circunda a cabeça do côndilo.

Ao observar criteriosamente o disco articular, visualizamos duas porções


transversais:

-anterior ao pólo superior do côndilo : inserção do m. pterigóideo lateral superior;

-posterior ao pólo superior do côndilo

As inserções posteriores ao disco articular (tecidos retrodiscais) - “zona bilaminar” é


composta por duas camadas de fibras encaixadas em tecido conjuntivo aureolar
frouxo.

a) a camada superior insere na lâmina timpânica, é composta de elastina. A sua


inserção posterior ao osso deve ser suficientemente elástica para permitir o
movimento translatório na conjunção com o côndilo.

b) a camada inferior e demais estruturas é composta de colágeno. Essa camada não


é estendida da mesma maneira que o côndilo quando este sofre movimento
translatório anterior, já que o disco gira e alivia qualquer estiramento nesta camada.
Essa camada também é chamada de coxim retrodiscal.

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

Disco articular: verde


Coxim retrodiscal:
- elastina: branco
- porção inferior: vermelho

Côndilo Fossa Articular

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

Cápsula articular

É uma membrana que liga ou prende o côndilo mandibular ao osso


temporal, envolvendo-os completamente. A cápsula atua para resistir a qualquer
força mediana, lateral ou inferior que tende a separar ou deslocar as superfícies
articulares, definindo os limites anatômicos e funcionais da articulação, entre a fossa
mandibular, eminência articular e nos pólos medial e lateral do côndilo, abaixo da
inserção dos ligamentos.

Membrana sinovial

É uma membrana conjuntiva, delgada de natureza epitelioidea, que


reveste a face interna da cápsula articular. Tem por função secretar um líquido
lubrificante, a sinóvia ou líquido sinovial que impede o atrito entre as superfícies
articulares.

LIGAMENTOS

Têm importante papel na proteção das estruturas da ATM. São composto


por tecido conjuntivo colagenoso, não se esticam. Agem como agentes limitadores
ou de restrição. São classificados em ligamentos funcionais e acessórios.

A) Ligamentos funcionais:

• Ligamentos Colaterais
• Ligamento Capsular
• Ligamento Temporomandibular

LIGAMENTOS COLATERAIS (DISCAIS)

Prendem a borda mediana e lateral do disco aos pólos do côndilo, são


responsáveis pelos movimentos da ATM, que ocorre entre o côndilo e o disco
articular no momento da abertura de boca. Eles fazem o disco mover passivamente
com o côndilo quando ele desliza anterior e posteriormente.

As aderências dos ligamentos discais permitem o disco rotacionar anterior e


posteriormente na superfície articular do côndilo. Tem suprimento vascular e são

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inervados, sua inervação proporciona informação sobre a posição da articulação e


sua movimentação. O esforço nesses ligamentos causa dor.

Ligamentos colaterais: rosa


Ligamento temporomandibular: azul
Ligamento capsular: preto

Ligamento Capsular

Envolve a eminência articular e toda a superfície da articulação. As fibras do


ligamento capsular são presas na parte superior do osso temporal ao longo das
superfícies articulares, a parte inferior prende-se ao côndilo. Retem o líquido
sinovial. Age para resistir qualquer força mediana, lateral ou inferior, ou seja,
qualquer força que atua para separar ou deslocar as superfícies articulares. É bem
inervado e proporciona estímulo proprioceptivo sobre a posição e movimento da
articulação.

Ligamento Temporomandibular

Protege os tecidos retrodiscais de trauma causado pelo deslocamento posterior


do côndilo. É composto por duas porções:

• Parte interna (horizontal)


• Parte externa (oblíqua)

PARTE INTERNA

Estende-se da superfície externa do tubérculo articular e do processo


zigomático horizontal posterior até ao pólo lateral do côndilo e da parte posterior do
disco articular. Limita o movimento posterior do côndilo e do disco e protege também
o músculo pterigoideo lateral de estiramento ou distensão.

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

PARTE EXTERNA

Estende-se da superfície exterior do tubérculo articular e do processo


zigomático posterior e inferior, até a superfície externa do colo do côndilo. Impede a
queda excessiva do côndilo e dessa maneira atua para limitar a abertura da boca,
influencia na abertura normal da mandíbula.

Importante saber:

Durante a fase inicial de abertura, o côndilo pode girar em torno de


uma parte fixa, até o ligamento se tornar rígido. Quando o ligamento se
retesa o côndilo não gira mais. Se a boca tiver de ser aberta mais
amplamente, o côndilo necessitará mover-se para baixo e para frente
através da eminência articular, ocorrendo o movimento de translação.
Ligamento temporomandibular:
É o único verdadeiro ligamento da ATM. Ele age como ligamento
suspensório da mandíbula e serve ainda para limitar movimentos
retrusivos da mandíbula e assim evitar a compressão das estruturas
situadas atrás da cabeça da mandíbula.

B) Ligamentos acessórios:

• Ligamento esfenomandibular

Parte da espinha do osso esfenóide e estende-se para baixa e


lateralmente até a espinha de Spix. Não tem efeito limitador, é um

ligamento de estabilização.

• Ligamento estilomandibular

Parte do processo estilóide, vai para baixo e para frente até a


borda posterior do ramo da mandíbula, fica rígido quando se abre a
boca, é um ligamento de estabilização.

Nota :

As peculiaridades que distinguem a ATM das demais articulações do


corpo, são: o revestimento de fibrocartilagem e não de cartilagem hialina; a cabeça
da mandíbula cresce na superfície, sem cartilagem epifisária; as faces articulares
são bastante discordantes; o disco articular se coloca entre as faces articulares; tem
movimentos de rotação e de translação associados; impulsos proprioceptivos são
gerados também ao nível dos dentes e estruturas bucais.
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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

BIOMECÂNICA DA ATM

Articulação temporomandibular
 Articulação composta
 Dois sistemas distintos
 Complexo côndilo-disco = Ligamentos discais
Rotação

 Côndilo-disco X osso temporal = Translação (ocorre entre o complexo


côndilo-disco e a fossa articular)

Estabilidade da Articulação
 Tônus muscular dos músculos elevadores
 Pressão intrarticular
 Morfologia do disco
 Ligamentos discais

Remodelação das ATMs


 Tratamento Ortodôntico
 Cirurgia Ortognática
 Traumatismos:
 Dieta

Nota: A perfuração do disco articular é um estímulo para mudanças


remodelativas na cartilagem condilar, do tipo degenerativas (aplainamento da
superfície do côndilo).

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Seção 5 - SISTEMA NERVOSO

“Sistema responsável pela coordenação e integração de todas as atividades


orgânicas e pela adaptação do organismo às mudanças que ocorrem dentro
dele e do meio ambiente”

 Sistema Nervoso Central


 Sistema Nervoso Periférico
 S. Nervoso Motor
 S. Nervoso Sensitivo

Comportamento oral

“Movimento ativo da boca e suas estruturas adjacentes”


 Fala
 Deglutição
 Mastigação
 Ranger/apertamento
 Expressões de emoção
 Umedecimento dos lábios
 Outros

Papel na Oclusão

 Controle no crescimento e desenvolvimento da oclusão


 Manutenção e operação da oclusão normal
 Patogenia de certas desordens oclusais

SISTEMA NERVOSO SENSITIVO

Tipos de receptores

 Nociceptivos – desconforto e dor


 Proprioceptivos – posição e movimentos da mandíbula e estruturas
associadas
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 Interoceptores – estado dos órgãos internos

Receptores no Sistema Estomatognático

1. Fusos musculares
2. Órgão tendinoso de Golgi
3. Corpúsculo de Pacini
4. Nociceptivos

Fuso Neuromuscular

 Conjunto de fibras musculares intrafusais unidas por um invólucro de tecido


conjuntivo
 Controlam o estiramento dentro dos músculos esqueléticos
 Estão dispersos através dos músculos, paralelamente às fibras extrafusais

SISTEMA NERVOSO MOTOR

Unidade motora

 São as Unidades Motoras numerosas fibras musculares inervadas por um


neurônio motor, que apresentam um movimento único: contração ou
encurtamento.
 (lei do “tudo ou nada”)

Reflexo

 É o resultado de um impulso sensorial transmitido diretamente para um


neurônio motor, sem o envolvimento dos centros motores maiores, atuando
no controle dos movimentos normais e como proteção dos tecidos contra
lesões.

Reflexos

 Reflexo Miotático
- Reflexo monossináptico de estiramento
- Contrai músculo estirado repentinamente (protetor)
- Importante na posição de descanso mandibular (tônus
muscular)

 Reflexo Nociceptivo
- Reflexo polissináptico flexor
- Protege os dentes e as estruturas de suporte dos danos
criados por uma força súbita muito pesada (inibição antagônica)

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Seção 6 - FISIOLOGIA DO SISTEMA ESTOMATOGNATICO

De acordo com Madeira, 1998, a rotação e translação são os dois


movimentos básicos da ATM. Na rotação a mandíbula se movimenta sobre um eixo
transversal que passa pelos côndilos, este movimento ocorre a cada abertura e
fechamento da boca; a mandíbula não se desloca horizontalmente e o disco articular
não se move de onde está encaixado. Na translação, o côndilo excursiona até a
frente e retorna à sua posição de origem, levando consigo o disco articular que a
seus pólos se prende. Assim, côndilo e disco deslizam sobre a face articular
temporal da articulação na abertura e fechamento da boca.

A cabeça do côndilo possui três possibilidades de movimentação: rotação.


Translação e o movimento de rototranslação. O movimento de rotação acontece na
porção inferior do disco. A translação depende da movimentação côndilo + disco, ou
seja, acontece no compartimento superior do disco (supra-meniscal), que está
relacionado com os movimentos excêntricos da mandíbula, inclusive na propulsão
da mandíbula.

Os movimentos de rotação podem ser observados principalmente:

- No movimento de Bennett no côndilo do lado funcional;

- No início do movimento de abertura bucal;

- No movimento da posição de oclusão cêntrica para a posição de repouso.

Os movimentos de translação podem ser observados:

- Combinados com o movimento de rotação no movimento de Bennett (lado


ativo);

- No movimento de abertura após terminar o movimento no eixo terminal de


Charneira;

- No movimento protrusivo;

- No movimento que forma o ângulo de Bennett (lado inativo).

A ATM recebe inervação dos nervos aurículo-temporal e masseterino,


ambos pertencem ao ramo mandibular do nervo trigêmeo (V par craniano). E sua
irrigação é realizada pelos ramos das artérias temporal superficial, timpânica,
meníngea média, auricular posterior, palatina ascendente e faríngea superior.

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Seção 7 - Periodonto

Para Paiva (1997), o periodonto é composto pelos tecidos que envolvem o


órgão dental. É dividido em periodonto de proteção, representado pela mucosa
ceratinizada (gengiva), e periodonto de inserção ou sustentação, composto pelo
cemento, ligamento periodontal e osso alveolar.

Dentes X Ligamento Periodontal

Os dentes ficam fixados nos alvéolos por meio do periodonto ou também


denominado de ligamentos dento-alveolares.

A disposição oblíqua do ligamento permite transformar as forças de pressão, em


forças de tração.

Mecanismo neuromuscular

O sistema neuromuscular forma a parte ativa do aparelho


estomatognático. Os movimentos mandibulares voluntários e involuntários
dependem deste sistema que deve estar bem integrado e cuja finalidade é proteger
os componentes do aparelho estomatognático, principalmente as ATMs, do trauma
interno ou externo. É formado pelos proprioceptores do periodonto, ATM, músculos,
ligamentos, mucosa, região perioral, cerebelo, córtex, mesencéfalo, nervos V, VII,
IX, XI, e os músculos da mastigação, deglutição, respiração, fonação e postura.
Para promover um movimento mandibular preciso, o estímulo de vários
receptores deve ser recebido pelo sistema nervoso central por meio das fibras
aferentes. O cérebro deve receber e organizar este estímulo e iniciar atividades
motoras adequadas através do sistema eferente. Estas atividades motoras envolvem
a contração de alguns músculos e a inibição de outros. Assim, em um movimento de
abertura mandibular ocorre a ação de músculos agonistas, ou seja, agentes
principais executores do movimento e ação dos antagonistas, ou seja, músculos
inativos que devem estar relaxados para que o movimento se processe.

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Seção 8 - Dentes

Os dentes constituem os grupos dos incisivos, caninos, pré-molares e


molares, cada um adaptado às funções mastigatórias de apreender, cortar, dilacerar
e triturar os alimentos sólidos. Em conjunto desempenham as funções de
mastigação, proteção e sustentação de tecidos moles relacionados e auxiliam na
fonação e são imprescindíveis na estética facial.
Os dentes fixam-se nos ossos por meio de fibras colágenas, que
compreendem o ligamento alvéolo-dental ou ligamento periodontal. Esta união da
raiz do dente ao seu alvéolo é denominada gonfose, um tipo específico de
articulação fibrosa do corpo. O ligamento alvéolo-dental resiste a forças da
mastigação, atenuando os impactos mastigatórios que sofrem os dentes ao serem
introduzidos nos alvéolos. As fibras do ligamento, ao se estirarem, transformam as
forças de pressão sobre o dente em tração no osso, já que o dente está suspenso
no alvéolo.

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

UNIDADE III
Conceitos básicos de oclusão

Objetivos de estudos
 Compreender a dinâmica da oclusão, e sua funcionalidade.

Roteiro de estudos
 SEÇÃO 1: Relação maxilo-mandibular
 SEÇÃO 2: Guias de desoclusão
 SEÇÃO 3: Plano Oclusal
 SEÇÃO 4: Dinâmica mandibular
 SEÇÃO 5: Determinantes anatômicos do SE
 SEÇÃO 6: Movimentos mandibulares
 SEÇÃO 7: Estabilidade Mandibular
 SEÇÃO 8: Tipos de Oclusão
 SEÇÃO 9: Classificação de Angle
 SEÇÃO 10: Fatores que podem provocar alterações no plano oclusal

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

Seção 1 – Relação maxilo-mandibular

Oclusão se refere ao estudo das relações estáticas (intercuspidação dentária) e


dinâmicas (movimentos mandibulares) entre as superfícies oclusais e entre estas e
todos os demais componentes do aparelho estomatognático.

A oclusão fisiológica é a harmonia entre os determinantes anatômicos e as unidades


fisiológicas.

O termo maloclusão é utilizado quando os dentes se encontram mal posicionados no


arco.

a) DIMENSÃO VERTICAL – DV
É a medida vertical da face, entre dois pontos quaisquer, localizados um acima e
outro abaixo da boca. É fundamental na preservação da unidade fisiológica do
Aparelho Estomatognático. Medida vertical da face entre dois pontos quaisquer,
selecionados arbitrariamente e convenientemente localizados um acima e outro
abaixo da boca, normalmente na linha média ou próximos a ela.

b) DIMENSÃO VERTICAL DE REPOUSO – DVR


É a dimensão vertical da face, quando a mandíbula se encontra sustentada pela
posição postural de repouso fisiológico dos músculos e com os lábios levemente em
contato. É uma posição fisiológica onde os tecidos faciais e temporomandibulares
estão com tônus muscular normal, em equilíbrio, não há contato interoclusal.

c) DIMENSÃO VERTICAL DE OCLUSÃO –DVO

É a dimensão vertical da face, quando os dentes estão ocluídos.

d) ESPAÇO FUNCIONAL LIVRE – EFL

É a distância existente entre as superfícies oclusais e incisais dos dentes


antagonistas, quando a mandíbula se encontra em repouso fisiológico. Representa a
diferença entre a DVO e a DVR. Aproximadamente 3 mm.

e) RELAÇÃO CÊNTRICA – RC

É a relação do côndilo com a fossa mandibular em completa harmonia com o disco


articular. É uma posição estável e reproduzível pelo equilíbrio fisiológico dos
músculos de sustentação mandibular, e independe do relacionamento dentário.

Posição inicial, estável, fácil de ser reproduzida, é a posição de eleição para o


tratamento reabilitador do paciente.

f) OCLUSÃO EM RELAÇÃO CÊNTRICA - OC/ORC

Oclusão dos dentes quando a mandíbula está em relação cêntrica com a maxila
intercuspidada. Ou seja, é a posição maxilomandibular em que a relação cêntrica é
coincidente com a intercuspidação entre os dentes.

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g) ESPAÇO FUNCIONAL LIVRE – EFL

Também denominado de espaço da fala, é variável, dependendo de pessoa para


pessoa, possui em média de 3 a 4 mm. É a diferença entre a DVR e a DVO. DVR –
DVO = EFL.

h) MÁXIMA INTERCUSPIDAÇÃO HABITUAL – MIH

É a posição maxilomandibular com o maior número de contatos entre os dentes


antagonistas.

Interessante saber:

Arcos reflexos = Os reflexos podem ser classificados em Incondicionados


(Inatos ou Congênitos – respiração, deglutição e sucção) e Condicionados
(Adquiridos ou Aprendidos).

Habituação = “Quando a mandíbula é induzida várias vezes a uma posição


que não seja fisiológica (devido à um contato oclusal traumático), cria-se em
um curto espaço de tempo, um arco reflexo adquirido, inconsciente,
modificando o padrão atual de mastigação. Isto passa a ser uma resposta
motora automática e involuntária a um estímulo sensorial (trauma). Nela,
já não intervêm mais nem a vontade, nem a consciência, posto que a
estimulação já não chega mais ao cérebro. Este processo é conhecido em
fisiologia como Habituação”.

i) OVERBITE (SOBREMORDIDA)

O mesmo que trespasse vertical, distância em que se projetam verticalmente os


dentes de uma arcada sobre os da arcada antagonista quando intercuspidados ao
máximo. O termo é usualmente empregado para as distâncias em que as bordas
incisais dos dentes maxilares ultrapassam os mandibulares, todavia, pode ser usado
também para indicar as relações verticais de cúspides antagonistas.

j) OVERJET (SOBRESSALIÊNCIA)
O mesmo que trespasse horizontal, distância em que se projetam horizontalmente os dentes
maxilares sobre os dentes mandibulares, quando em intercuspidação máxima.

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k) TRAUMA DE OCLUSÃO

É lesão causada aos dentes, ao periodonto ou ao sistema neuromuscular, por forças


oclusais que excedem a capacidade de adaptação deste sistema. Está associado ao
contato prematuro ou à interferência oclusal. Pode ser primário ou secundário.

l) CONTATO PREMATURO

São contatos não fisiológicos entre dentes antagonistas que impedem ou dificultam
o fechamento mandibular em ORC sem causar desvio. Ocorre entre a ponta de
cúspide e a fossa antagonista.

m) CONTATO DEFLECTIVO

É o contato oclusal dentário não fisiológico que dificulta ou impede o completo


fechamento da mandíbula, desviando-a de sua trajetória normal de fechamento em
RC. Gerando deslize em direção:
- anterior;
- à linha média da face;
- contrária à linha média da face

n) INTERFERÊNCIA OCLUSAL

É o contato oclusal dentário não fisiológico que ocorre entre as superfícies oclusais
antagonistas, dificultando ou impedindo os movimentos excursivos da mandíbula em
protrusão, trabalho ou balanceio.

o) OCLUSÃO MUTUAMENTE PROTEGIDA

É uma oclusão que proporciona contato oclusal máximo em certos dentes ou grupos
de dentes enquanto outros dentes têm leve contato.

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p) RELAÇÃO OCLUSAL DENTE A DOIS DENTES (1X2)

É a oclusão mais encontrada na dentição natural, cada dente oclui com dois
antagonistas, exceto os incisivos centrais inferiores e os terceiros molares
superiores. As cúspides funcionais cêntricas contactam com as cristas marginais e
fossas oclusais dos dentes antagônicos.

q) OCLUSÃO DENTE A DENTE (1X1)

Outra forma de oclusão, bem menos encontrada nas dentições naturais, é o


esquema cúspide com fossa, onde cada cúspide cêntrica oclui apenas em um dente
antagônico.

r) CÚSPIDES DE CONTENÇÃO CÊNTRICA - CCC

Também denominadas de cúspide de suporte, cúspide de apoio ou cúspide de


trabalho. São as cúspides que ocluem contra a fossa ou crista marginal do dente
antagonista, são as cúspides vestibulares dos dentes inferiores e as cúspides
palatinas dos dentes superiores - VIPS. Essas cúspides ao ocluírem estabelecem e
mantêm a dimensão vertical de oclusão (DVO).

s) CÚSPIDES EXCÊNTRICAS

Também denominadas de cúspides de balanceio ou de não trabalho. Não ocluem


com os dentes antagonistas, sendo as cúspides linguais dos dentes inferiores e as
faces vestibulares dos dentes superiores – LIVS. Fisiologicamente tem a
propriedade de proteger a língua e a bochecha, durante a mastigação.

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Seção 2 – Guias de desoclusão

Têm a função de diminuir e equilibrar as forças musculares nos movimentos


excursivos da mandíbula.

a) GUIA ANTERIOR

É o relacionamento das bordas incisais dos dentes anteriores inferiores com a face
lingual dos dentes anteriores superiores, durante os movimentos protrusivo e
retrusivo da mandíbula, sem contato dentário posterior, formando-se com as ATMs
direita e esquerda um tripé de estabilidade. A guia incisal influência dos movimentos
mandibulares pelo relativo trespasse dos dentes anteriores, conforme determinado
pelas superfícies palatinas dos dentes anteriores superiores e pelas bordas incisais
ou superficiais labiais dos dentes anteriores superiores.

O efeito da guia anterior

Os incisivos e caninos são os dentes mais anteriores da arcada dentária.


Eles compreendem a determinante anterior do movimento mandibular e ajudam a
guiar a mandíbula na sua excursão para frente (movimento protrusivo) e para
esquerda e direita (movimentos laterais). Nós temos controle direto sobre esta

determinante através das restaurações, equilíbrio e movimentos ortodônticos. As


outras determinantes da oclusão: a articulação temporomandibular e o sistema
neuromuscular, não podem ser desconsiderados em seus efeitos sobre os
movimentos mandibulares, eles não são subordinados diretamente a nossa ação.

Os contatos dos dentes anteriores em excursão afetam os movimentos da


mandíbula. Isto por fim afeta a localização e a altura das cúspides, e a direção e
profundidade dos sulcos. Restaurações de dentes anteriores devem ser realizadas
cuidadosamente, pois mudanças do aspecto anatômico, destes dentes, podem
mudar a guia anterior, com possível efeito deletério sobre a oclusão posterior. Quanto
maior for o trespasse vertical dos dentes anteriores, mais altas podem ser as
cúspides posteriores. Ao contrário quanto menor o trespasse vertical, menores
devem ser as cúspides dos dentes posteriores. Quanto maior for o trespasse
horizontal dos dentes anteriores menores podem ser as cúspides dos dentes
posteriores. As cúspides devem ser altas quando o trespasse horizontal for pequeno.

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

Portanto:

a) Todos os movimentos excursivos da mandíbula são conduzidos pelos


dentes anteriores, de tal maneira que os dentes posteriores só recebem cargas
axiais, não participando dos contatos horizontais deslizantes. Os movimentos
excursivos laterais são limitados e dirigidos pelos caninos superiores do lado de
trabalho, na latero-protrusão os incisivos do lado correspondente conduzem a
mandíbula, e na protrusão os movimentos são conduzidos pelos incisivos e caninos
inferiores.

b) A altura das cúspides dos dentes posteriores é ditada pela média das
guias incisal e condilar. Isto é compreendido se observarmos a erupção dos
primeiros molares (primeiro dente permanente) aos seis anos na criança, que dita
assim o crescimento facial, a inclinação da cavidade glenóide e da guia incisal.

Nos casos de uma reabilitação oclusal, devemos nos lembrar que quanto
maior a guia condilar, mais alta as cúspides podem ser; quanto menor a guia
condilar mais baixas as cúspides devem ser.

b) GUIA CONDILAR

Protrusão
Plano sagital

c) GUIA CANINO

Durante o movimento excursivo da mandíbula, há o deslizamento natural do vértice


do canino inferior na face lingual do canino superior do mesmo arco, e os demais
dentes não se tocam. A guia lateral tem a função de guiar a mandíbula para um
fechamento correto, sem toque dos dentes posteriores, durante os movimentos
excursivos (horizontais). Também chamada de desoclusão protegida pelo canino.

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d) FUNÇÃO DE GRUPO

Quando no movimento de desoclusão os caninos e um ou mais pares adjacentes de


dentes posteriores no lado de trabalho ficam em contato oclusal simultâneo durante
a excursão lateral da mandíbula.

e) LADO DE TRABALHO

Segmento lateral da dentição da qual a mandíbula se move durante a excursão


lateral.

f) LADO DE BALANCEIO

Lado oposto ao lado de trabalho durante a excursão lateral.

Lado de Lado de
trabalho balanceio

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Seção 3 – Planos oclusais

Refere-se a uma superfície imaginária que está relacionada anatomicamente com o


crânio e que, teoricamente toca as bordas incisais dos incisivos e as pontas das
cúspides das superfícies oclusais dos dentes posteriores.

a) PLANO DE FRANKFURT

É o plano de orientação que passa pela borda superior do trágus até a borda inferior
da órbita.

b) PLANO DE CAMPER

É o plano de orientação que passa pela borda superior da asa do nariz e pela borda
superior do trágus.

c) LINHAS DO PLANO OCLUSAL


Curva de Spee: curvatura anatômica do alinhamento oclusal dos dentes,
partindo do ângulo incisal do canino inferior (ponta de cúspide), passando pelas
cúspides vestibulares dos pré-molares e molares naturais, continuando em direção à
borda anterior do ramo ascendente da mandíbula.

Curva de Wilson: curvatura no plano frontal, de sentido vestíbulo-lingual,


passando pelas cúspides vestibulares e linguais dos dentes posteriores de ambos os
lados. A curva é côncava no arco inferior e convexa no arco superior, resultando
principalmente das diferentes inclinações axiais dos dentes posteriores de ambos os
arcos

.
37
Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

d) ALTERAÇÕES NO PLANO OCLUSAL

Linguo-versão
Dente inclinado para a região lingual ou palatina.

Mésio-versão
Dente inclinado para o lado mesial (linha média).

Disto-versão
Dente apresenta no arco uma inclinação para distal

Giro-versão
Quando o dente no arco apresenta um giro em torno do seu próprio eixo.

Infra-Oclusão
O dente apresenta uma posição mais baixa em relação a linha de oclusão.

Supra-Oclusão
Quando o dente está acima da linha de oclusão.

Transposição
Ocorre quando o dente no arco erupciona em lugar de outro.

Apinhamento Dentário
É uma má-oclusão dentária onde os dentes ficam desalinhados por falta de espaço
em determinado local do arco.

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Seção 4 - DINÂMICA MANDIBULAR

a) Abertura simples da boca: o movimento de abertura pode ser dividido em três


fases distintas: a primeira, que vai da posição de oclusão até a posição de repouso
muscular, sob a ação da gravidade, atingindo a dimensão vertical de repouso (DVR);
a segunda fase, vai da DVR até a abertura da boca, para a apreensão de pequenos
objetos, que na região dos incisivos gira em torno de 18 mm. Nessas duas fases só
a articulação infra-meniscal é solicitada, ou seja o côndilo gira na fossa mandibular,
acontece a rotação pura, chamado eixo terminal, é importante para a determinação
da oclusão e relação cêntrica. Na terceira fase da abertura da boca, os côndilos
sofrem rotação e translação através da guia condilar até a abertura máxima da boca.

b) Movimentos bordejantes: também denominados de limítrofes dos movimentos


mandibulares. Demonstrado por Posselt, a movimentação mandibular no plano
sagital, recebendo a denominação de Gráfico de Posselt. Quando a mandíbula
move-se no plano horizontal, o ponto incisivo descreverá a figura do arco gótico
descrito por Gysi.

São os movimentos mandibulares extremos, limitados pelas estruturas anatômicas.


Ocorrem nos planos frontal, horizontal e sagital. O envelope do movimento de
Posselt: É o espaço tridimensional delimitado pelo ponto incisivo (incisal), durante os
movimentos bordejantes mandibulares.

c) MOVIMENTO DE BENNETT

Movimento de deslocamento lateral total da mandíbula, resultante do deslizamento


dos côndilos ao longo das vertentes da fossa mandibular durante as trajetórias
excursivas laterais da mandíbula.

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

d) SULCOS DE TRABALHO

Durante o movimento de lateralidade, no lado de trabalho, as cúspides de contenção


ao deslizarem nos dentes opostos, determinam tais sulcos. Nos pré-molares
superiores, saem próximo das cristas marginais mesiais e nos inferiores das fossas
distais, nos molares superiores estes sulcos se localizam entre as cúspides
vestibulares, nos molares inferiores entre as cúspides linguais.

e) SULCOS DE BALANCEIO

A passagem das cúspides de trabalho, na face oclusal do dente antagônico, durante


o movimento de lateralidade no lado oposto, de balanceio, determina esse sulco.

Interessante saber:

Nos molares superiores se situa na vertente interna da cúspide mésio


palatina, denominado de Fenômeno de Stuart e nos molares inferiores,
entre as cúspides mediana e disto-vestibular, denominado de Fenômeno
de Thomas. Nos pré-molares inferiores estaria na vertente distal da
cúspide vestibular e nos pré-molares superiores na vertente mesial da
cúspide palatina. Estes sulcos, por serem funcionais, muitas vezes não
correspondem aos sulcos anatômicos encontrados nos dentes naturais.

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

f) Movimento de trabalho - guia canina de proteção lateral:

Nas excursões laterais de trabalho da mandíbula; Somente os caninos tocam;


Prevenindo (evitando) contato dos demais dentes anteriores e posteriores. Este
movimento é de aproximadamente 10 mm. Na excursão lateral de trabalho da
mandíbula, ocorrem contatos contínuos de deslocamento entre: superfície incisal do
canino inferior e a fossa lingual do canino superior; as pontas de cúspides
vestibulares dos dentes inferiores (CF) e as vertentes triturantes das cúspides
vestibulares superiores (CNF).

g) Movimento de não-trabalho ou balanceio

Acontece no lado oposto do trabalho, no mesmo momento do trabalho, é de


aproximadamente 10 mm.

h) MOVIMENTO PROTRUSIVO (protrusão)

Movimentos da mandíbula em direção póstero-anterior.

GUIA ANTERIOR: É o relacionamento das bordas incisais dos dentes anteriores


inferiores com a face lingual dos dentes anteriores superiores, durante os
movimentos protrusivo e retrusivo da mandíbula, sem contato dentário posterior,
formando-se com as ATMs direita e esquerda um tripé de estabilidade.

i) MOVIMENTOS LATERAIS

Movimentos de um corpo para um e outro lado em relação a sua posição


de estabilidade. Na mandíbula, diz-se do movimento excursivo realizado para a
direita ou para a esquerda do plano sagital mediano, observado principalmente no
plano horizontal.

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

Seção 5 – Determinantes anatômicos do Sistema Estomatognático (SE)

São quatro os determinantes anatômicos, e o quinto determinante é o fator


emocional, ligado diretamente ao SNC.

a) Determinantes I e II – Determinantes posteriores = Articulações


temporomandibulares

. - Estabelecem a relação temporomandibular;

- Estão fora do controle do Cirurgião Dentista, exceto por via cirúrgica.

b) Determinante III - Determinante anterior = Oclusão dentária

- Estabelece a relação maxilo-mandibular;

- Pode ser modificada pelo Cirurgião Dentista.

Esses três determinam mecanicamente o limite superior dos movimentos


mandibulares e programam o IV determinante.

c) Determinante IV = Sistema neuromuscular proprioceptivo.

Sistema neuromuscular proprioceptivo presente nas ATMs, polpa e tecido


periodontal, manda impulsos nervosos para o SNC, criando reflexos condicionados,
pode ser modificado diretamente até certo ponto pelo Cirurgião Dentista,
modificando-se o terceiro determinante, a oclusão.

d) V Determinante = Fator emocional

O Estado emocional, estresse ou tensão do paciente, situado no Sistema Nervoso


Central - SNC, e contribui para o apertamento dentário, bruxismo, espasmo
muscular e queixas sobre a ATM.

... PORTANTO, OS MOVIMENTOS MANDIBULARES...Resultam da interação de


fatores biológicos, incluindo contatos dentários, anatomia e fisiologia das ATMs, eixo de
rotação da mandíbula e atividade dos músculos mastigatórios.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA:

 Forma das restaurações (Dentística, Próteses);


 Entendimento da Oclusão;
 Arranjo dos dentes artificiais (Próteses);
 Diagnóstico das DTMs;
 Ajuste dos articuladores.

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Seçaõ 6 - MOVIMENTOS MANDIBULARES

Didaticamente, os movimentos mandibulares, são classificados em:


movimentos elementares, movimentos compostos, movimentos fundamentais,
movimentos funcionais.

a) MOVIMENTOS ELEMENTARES

- ROTAÇÃO: Movimento descrito pelos côndilos mandibulares, em torno


de um centro de rotação, localizado neles próprios, em torno de um eixo fixo. Diz-se
dos movimentos que os côndilos executam dentro da fossa mandibular
(predominantes no compartimento articular inferior), quando no início da abertura da
boca (primeira etapa de abertura - 15 a 25mm de abertura).

- TRANSLAÇÃO: Movimento executado pelos côndilos mandibulares,


quando estes se deslocam em torno de um centro de rotação, que estaria localizado
fora das fossas articulares. Considera-se o movimento descrito pelos côndilos
durante a segunda etapa de abertura da boca. Complexo Disco-Côndilo, dentes e
ramos movem-se todos na mesma direção, angulação e velocidade.

b) MOVIMENTOS COMPOSTOS

Assim denominados por se constituírem dos movimentos de ROTAÇÃO e


TRANSLAÇÃO juntos, num único movimento.

c) MOVIMENTOS FUNDAMENTAIS

Abaixamento: Ação sinérgica dos músculos depressores e propulsores;


Movimento de roto-translação; Efetuado a partir da posição inicial (MIH ou RC)

Elevação: Ação sinérgica dos músculos elevadores; Relaxamento dos


músculos depressores.

Retrusão: Movimento entre a MIH e a RC; Geralmente Inferior a 1mm*.

Protrusão: Contração Simultânea e bilateral dos Pterigóideos laterais;


Movimento Póstero-Anterior. Aproximadamente 10mm. Guia Anterior + Guia
Posterior. PROTRUSÃO = GUIA ANTERIOR

Lateralidade: Movimento assimétrico, excêntrico. Possui uma fase de


excursão (ir), e incursão (voltar).

MOVIMENTOS MANDIBULARES FUNCIONAIS

Ocorre dentro das posições bordejantes: Fala; Mastigação; Deglutição.

Mastigação:

1ª Fase – Abertura;

2ª Fase – Fechamento;
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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

3ª Fase – Parada em Posição de Máxima Intercuspidação

O SIGNIFICADO CLÍNICO DOS MOVIMENTOS:

Expressa as diferenças entre os pacientes. Apresenta suas próprias


relações maxilo-mandibulares (cúspide-fossa) e temporomandibulares.

Determinantes verticais da morfologia oclusal (altura de cúspide e


profundidade da fossa) podem ser alterados pelas: Guia condilar; Guia
anterior; Plano de oclusão; Curva de Spee; Movimento de Bennet.

Determinantes horizontais da morfologia oclusal (direção das cristas e


sulcos) podem ser alterados pela: Distância intercondilar; Movimento de
Bennet.

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Seção 7 - ESTABILIDADE MANDIBULAR

Alguns quesitos necessários para se obter estabilidade mandibular:

o Deve haver contatos dentais bilaterais simultâneos em posição cêntrica.


Com contato harmônico bilateral simultâneo dos dentes ocorre uma
parada estável do côndilo em cêntrica e um posicionamento estável e
correto de músculos e ligamentos da ATM.
o As cúspides cêntricas devem contactar com o dente antagônico, de
modo simultâneo e regular. Relação Cúspide & fossa: cúspide vestibular
inferior contacta a fossa central do superior; cúspide palatina superior
contacta a fossa central do inferior.
o A força da intercuspidação máxima é de aproximadamente 120 kg. Esta
força quando distribuída de forma balanceada e equilibrada possibilita a
absorção por dente de aproximadamente 4kg.
o Uma plataforma oclusal estreita proporciona a estabilização dos contatos
dentais e da mandíbula, impedindo assim, que ocorra o deslizamento e a
desarmonia dos músculos e ligamentos da ATM.

Cargas Axiais

Um dos quesitos para se obter a estabilidade mandibular, pois:

a) As relações interoclusais (cúspide-fossa) devem dirigir as forças


mastigatórias o mais próximo possível do longo eixo do dente antagônico;

b) As superfícies oclusais devem ser estreitas no sentido vestíbulo-lingual,


para facilitar o direcionamento das forças mastigatórias no sentido dos longos eixos
dos dentes (sentido axial);

c) O periodonto é organizado para suportar as cargas axiais, através de


mecanismos de propriocepção. Este mecanismo atua nos dentes, quando as forças
se dirigem axialmente, protegendo-o contra forças excessivas tanto de intrusão
(contato pré-maturo), quando de cisalhamento (interferências em lateralidade);

d) As vertentes das cúspides devem ser basicamente convexas, sendo as


cúspides funcionais ou cêntricas de forma esferoidal, para proporcionar toques
estáveis na relação cúspide & fossa. As cúspides não cêntricas devem apresentar a
forma incisiva e são, de certo modo, transição das bordas incisais e por isso podem
ser chamadas de cúspides de corte por cisalhamento;

e) Nos dentes naturais, encontramos relações oclusais em cúspide – fossa


(dente a dente) e cúspide - crista marginal (dente a dois dentes);

f) Os dentes posteriores são preparados para receberem cargas axiais,


protegendo assim os dentes anteriores de traumatismo; eles devem estar
ligeiramente fora de contato, formando um pequeno espaço entre os dentes
anteriores superiores e inferiores, e somente em caso de contactar fortemente os
dentes posteriores é que esses dentes devem estabelecer contato.
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Seção 8 - TIPOS DE OCLUSÃO

a) Oclusão Ideal

É uma situação funcional harmônica de todo o sistema estomatognático, sem


nenhuma evidência de alterações patológicas.

Características da Oclusão Ideal:

 Contatos bilaterais simultâneos


 Movimentos mandibulares sem interferência
 Forças oclusais bem distribuídas
 Forças oclusais axiais
 Espaço funcional livre fisiológico

b) Oclusão Normal

É uma oclusão que atua harmonicamente e não apresenta nenhuma manifestação


patológica sobre os dentes ou estruturas de suporte, mas não é a oclusão ideal.

Características da oclusão normal:

 Contatos oclusais bilaterais e simultâneos


 Alinhamento correto dos dentes
 Trespasse vertical e horizontal harmônicos
 Relação normal dos dentes no arco e entre os arcos

 Relação dento-periodonto normal


 Harmonia neuromuscular
 Espaço funcional livre fisiológico
 Curvas de compensação em harmonia

c) Oclusão Ótima

Este tipo de oclusão é obtida em função das condições preexistentes em que é


restaurada a oclusão, aproximando-se ao máximo das características da oclusão
ideal.

Características da oclusão ótima:

 Contatos bilaterais simultâneos e estáveis.

 Axialidade de forças.

 Correta distribuição das forças nas diferentes posições mandibulares.

 Movimentos de excursão mandibular sem bloqueios.


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 Espaço livre interoclusal adequado.

 Anatomia oclusal, voltada mais para a função do que para a perfeição


morfológica.

d) Oclusão Balanceada Bilateral

Essa oclusão é planejada para evitar o deslocamento das próteses totais, com
relação às estruturas de suporte; ocorre quando temos contatos simultâneos e
bilaterais dos dentes superiores e inferiores.

Características da oclusão balanceada bilateral:

 Contatos bilaterais simultâneos dos dentes maxilares e mandibulares.

 Contato no maior número possível de dentes durante os movimentos


mandibulares.

 Contato tanto no lado de trabalho como no lado de balanceio.

e) Oclusão balanceada unilateral

É a oclusão encontrada na dentição natural e que deve ser planejada nos trabalhos
de reabilitação bucal.

Características da oclusão balanceada unilateral:

 Movimento de lateralidade:

 Toque dos dentes no lado de trabalho.


 Desoclusão dos dentes no lado de balanceio.

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f) Oclusão Fisiológica

Esse conceito refere-se a uma oclusão, em geral de adulto, que se desvia de um ou


mais modos da teoricamente ideal, sendo bem adaptada ao meio em particular,
esteticamente satisfatória para o paciente e não tem manifestações patológicas ou
problemas disfuncionais.

g) Oclusão Não Fisiológica

Esse conceito envolve a presença de sinais e sintomas de patologias, disfunção ou


adaptação inadequada de um ou mais componentes do sistema mastigatório que
podem ser atribuídas às relações estruturais ou atividades funcionais mandibular
falhas; assim, a terapia pode ser indicada.

h) Articulação (Oclusão) Anteriormente Protegida

O trespasse vertical e horizontal dos dentes anteriores desocluem os dentes


posteriores em todos os movimentos excursivos mandibulares.

i) Oclusão Mutuamente Protegida

Dentes posteriores: previnem o excessivo contato dos dentes anteriores em máxima


intercuspidação.

Dentes anteriores: desocluem os dentes posteriores em todos os movimentos


excursivos da mandíbula.

j) Oclusão Terapêutica

É a oclusão modificada por modalidades terapêuticas apropriadas, de modo a alterar


uma oclusão não fisiológica para uma que, pelo menos, seja enquadrada nos
parâmetros de uma oclusão fisiológica, se não for teoricamente ideal.

k) Má Oclusão

Qualquer oclusão na qual as características estruturais estão longe das


estabelecidas para a oclusão teoricamente ideal. Embora a palavra má signifique
ruim ou inadequada, o termo má oclusão não implica necessariamente que ela seja
não fisiológica ou que esteja indicada terapia. Pode ser por:

 Crescimento e desenvolvimento anormal maxilo-mandibular.


 Posição anormal do dente no arco.
 Devido à perda dentária.

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Seção 9 - CLASSIFICAÇÃO DE ANGLE

a) Classe I

Neste grupo a relação M-D entre os 1º molares está correta, isto é a cúspide MV do
1º molar superior oclui no sulco vestibular mesial do 1º molar inferior.

Harmonia entre as arcadas.

 Desarmonia entre ossos e dentes.


 Pode ocorrer apinhamento na região anterior.

b) Classe II

Caracteriza-se pela posição distal dos 1º molares inferiores em relação aos 1º


molares superiores.

Classe II – Divisão 1

 Alinhamento correto dos dentes.


 Curva de Spee bastante acentuada.
 Pode ou não apresentar overjet acentuado.

Classe II – Divisão 2

Incisivos com overbite acentuado.

c) Classe III

Neste grupo o 1º molar inferior relaciona-se mesialmente com o superior.

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Seção 10 - FATORES QUE PODEM PROVOCAR ALTERAÇÃO NO PLANO


OCLUSAL

O plano oclusal é estabelecido através da relação intermaxilar, ou seja,


os dentes ocluídos, estabilizam a mandíbula em relação a maxila a uma dada
dimensão vertical de oclusão (DVO). Sabe-se que a DVO é mantida pelas
cúspides de contenção cêntrica, porém pode haver alteração da DVO, caso
alguma intercorrência venha surgir, alterando o equilíbrio do sistema
estomatognático, além do comprometimento do plano oclusal em decorrência
da perda de elementos dentários, que pode provocar algumas alterações como
extrusão, mesialização e distalização, dentre outros, é interessante mencionar
outros fatores, tais como:

A) COMPROMETIMENTO PERIODONTAL

Alterações do periodonto de sustentação que levam à mobilidade dental ou


migração patológica dos dentes.

São considerados distúrbios oclusais: Interferência oclusal (contato


prematuro, contato deflectivo, interferência em trabalho ou balanceio), ausência de
estabilidade oclusal, alteração da dimensão vertical, ausência de guia anterior.

Os fatores etiológicos da desordem do periodonto de sustentação são:

- Determinantes
- Precipitantes ou modificadores
- Predisponentes: - intrínsecos,

-extrínsecos.

FATORES DETERMINANTES: é considerado o biofilme dental (a placa bacteriana),


constituído de microorganismo de diferentes espécies e formada a partir da
microbiota bucal.

FATORES PRECIPITANTES: O trauma oclusal e hábitos parafuncionais são fatores


locais que alteram o curso de evolução da doença periodontal, contribuindo para o
agravamento dos efeitos produzidos pelos microorganismos. Uma força oclusal que
supere o limiar de tolerância fisiológica do periodonto de sustentação, induz uma
série de lesões, caracterizando o trauma de oclusão.

Trauma de oclusão – pode ser desencadeado a partir de um excesso oclusal em


uma restauração, caracterizando o contato prematuro. Dentro de certos limites é
possível uma adaptação fisiológica, podendo, no entanto ocorrer lesão a nível de
periodonto de sustentação. Tornando fundamental a reconstrução dentária oclusal e
verificação da ausência de interferência dentro dos limites dos movimentos

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mandibulares. A não observância deste aspecto pode levar ao aparecimento de uma


iatrogenia.

- trauma de oclusão primário: é aquele que provoca uma lesão por forças oclusais
excessivas sobre um periodonto de sustentação ou de inserção íntegro, ou seja,
ainda não afetado pela doença periodontal inflamatória. Neste tipo de lesão, quando
observada precocemente, não ocorre perda de inserção. A lesão é reversível e
geralmente pode ser corrigida pela eliminação da causa que é a força oclusal
excessiva.

- trauma de oclusão secundário: é aquele que provoca uma lesão por forças
oclusais normais ou excessivas sobre um periodonto de sustentação ou de inserção
já comprometido pela doença periodontal inflamatória. Esse tipo de lesão ocorre
freqüentemente nos casos de periodontites avançadas, onde os dentes apresentem
inserções bastantes reduzidas.

Hábitos parafuncionais: que indiretamente atuando como trauma de oclusão, temos


o bruxismo, deglutição atípica, além da colocação de corpos estranhos (lápis,
caneta, etc.) entre os dentes, freqüentes na infância e na adolescência. A força
oclusal anormal (fator precipitante) deve ser considerado fator de sua importância
quando associado à presença de inflamação.

FATORES PREDISPONENTES INTRÍNSECOS; são considerados:

1- Características morfológicas das raízes: o tamanho a forma e número são


importantes, pois que dentes com raízes curtas, cônicas, finas ou fusionadas
estão mais predispostos ao traumatismo oclusal quando submetidos a uma força
excessiva do que os dentes de morfologia normal.
2- Orientação das forças oclusais: as forças oclusais axiais são mais toleradas do
que as inclinadas não axialmente, que podem ser funcionais ou parafuncionais.
Se os dentes não estiverem bem alinhados (mesializados, distalizados), o efeito
da força excessiva será prejudicial.
3- Características morfológicas do processo alveolar: se a qualidade e a quantidade
de osso alveolar não forem razoáveis, os efeitos das forças parafuncionais
prolongadas podem resultar em uma perda rápida da sustentação alveolar.

FATORES PREDISPONENTES EXTRÍNSECOS:

1- Irritantes como: impacção alimentar, restaurações e coroas com contornos


insatisfatório, e grampos de próteses parciais mal adaptados.
2- Neuroses que resultam em atividades parafuncionais, tais como apertamento
dentário e bruxismo, estes são os mais prevalentes e mais sérios dos fatores
causadores de tensões oclusais anormais.
3- Perda de osso de suporte por: ressecção óssea, trauma inadvertido e
enfermidade sistêmicas são os principais fatores etiológicos.
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4- Perda de dentes resultando em sobrecarga dos dentes remanescentes e colapso


posterior da mordida.
5- Má oclusão funcional criadas iatrogenicamente.

B) PARAFUNÇÃO

O hábito é adquirido por repetição ou aprendizado, sendo assim um comportamento


estável, tornando-se automático. O comportamento parafuncional, pode provocar
várias reações orgânicas, derivadas de alguns tipos de estímulos através do SNC,
dentre elas o aumento das reações motoras, dentre os hábitos parafuncionais,
destaca-se o bruxismo, com aumento das reações motoras.

Bruxismo é todo contato dentário com pressão e/ou deslizamento dos dentes entre
si e fora dos atos fisiológicos de mastigação e deglutição.

Fatores contribuintes locais: interferências oclusais, defeitos anatômicos dos dentes,


superfícies ásperas, falta de erupção dos dentes, inclinação dos dentes, oclusão
unilateral, e próteses hiatrogênicas.

Bruxismo classificado com excêntrico, é aquele em que há deslizamento dos dentes


entre si, é caracterizado pelo desgaste uniforme das superfícies incisais e oclusais
dos dentes superiores e inferiores.

Etiologia:

1) FATORES INTRA-ORAIS: iatrogênicos, primários e secundários.


2) FATORES EXTRA-ORAIS: neurológicos, sistêmicos e uso de drogas.

1) Fatores intra-orais: como fator geral dizemos dizemos que qualquer


interferência pode ser responsável pelo início do bruxismo.

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a) Iatrogênicos: qualquer interferência ou prematuridade ocasionada por tratamento


incorreto quer seja conservador, protético ou ortodôntico.
b) Primários: prematuridades que alteraram a harmonia entre a RC e MI que
ocasionam posições oclusais nas quais a MIH não coincida com a posição
condilar de RC.
c) Secundários: qualquer problema oclusal não dentário propriamente dito como:
gengivites, estomatites, cálculos, periodontites, galvanismo, etc.

2) Fatores extra-orais:

a) Neurológicos: tensão psíquicas, inibição, stress, frustração, hostilidade,


ansiedade, apreensão, etc. e quebra de laços familiares, quebra de estrutura
social, privação de necessidades básicas, separação viuvez, perda de emprego,
aposentadoria.
b) Sistêmicos: alterações obstrutivas do trato digestivo, alterações nutricionais,
hipocalcemia, hipovitaminose, alterações sanguíneas.
c) Uso de drogas: como: Anfetaminas, Fenfluramina, Álcool.

No bruxismo cêntrico bem como no excêntrico o que realmente ocorre é uma


combinação de fatores intra e extra-orais.

O bruxismo cêntrico, acontece através do apertamento dentário com pressão.


Devido a pressão que acontece na maxila e na mandíbula, pode-se observar no
bruxômalo cêntrico a presença do tórus maxilar e mandibular, assim como a linha
alba na bochecha (devido a força centrípeta exercida nos músculos da face) e a
língua denteada (devido a pressão da língua contra os dentes, no momento do
bruxismo).

Língua denteada Linha alba

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Tórus mandibular

NOTA:

EROSÃO (PERIMÓLISE)

É a descalcificação ou perda de substância dentária resultante de ações químicas ou


química e mecânica, sem ação bacteriana nas superfícies dos dentes.

Nos pacientes com vômito, o ácido estomacal é projetado sobre a superfície da língua
e entra em contato com a face palatina dos incisivos, caninos e pré-molares
superiores, e a erosão comumente não aparecerá antes que a regurgitação tenha
ocorrido por dois anos. Observar as figuras de I a III.

A Perimólise tem sido descrita associada a várias condições médicas como disfunção
gástrica, obstipação, hérnia de hiato, úlcera péptica e duodenal, gravidez e
regurgitação crônica.

Fig. 1 – Vista de frente Fig. 2 – Vista lingual Fig. 3 – Perda da DVO

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UNIDADE IV
Contatos Oclusais

Objetivos de estudos
 Entender como acontece os contatos oclusais e a importância dos
mesmos.

Roteiro de estudos
 SEÇÃO 1: Variação quanto a localização
 SEÇÃO 2: Variação quanto a relação interoclusal
 SEÇÃO 3: Variação quanto a dinâmica do fechamento oclusal
 SEÇÃO 4: Contatos oclusais cúspide-fossa
 SEÇÃO 5: Ajuste oclusal

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Os pontos de contato que decorrem do toque entre superfícies


oclusais de dentes opostos, denomina-se contatos oclusais.

As cúspides de trabalho (cêntricas) são agentes limitantes da parada


de fechamento mandibular, mantendo, assim, a altura morfológica da face
oclusal, consequentemente, mantém-se a Dimensão Vertical de Oclusal
(DVO).

Os contatos oclusais variam quanto a sua localização, relação


interoclusal , quanto a dinâmica do fechamento oclusal e ralação cúspide
fossa.

Seção 1 – Variação quanto a localização

Quando a ponta de cúspide contacta uma área do antagonista, fundo


da fossa ou única crista marginal.

A. Cúspide - crista: quando as vertentes mesial e distal (aresta


longitudinal) da cúspide, contatam apenas as cristas marginais antagonistas.

B. Cúspide – fossa: quando três vertentes de uma mesma cúspide,


(duas na Aresta Longitudinal – mesial e distal – e uma triturante ou lisa),
contatam três vertentes de uma fossa. A fossa poderá ser formada por três
vertentes triturantes de duas cúspides associadas a uma crista marginal.

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Seção 2 – Variação quanto a relação interoclusal

Os contatos oclusais variam quanto a relação interoclusal:

I – monopodismo
II – bipodismo
III- tripoidismo

Importante:

Considerando uma pessoa Classe I normal, sem hábitos nocivos,


que altere a estabilidade do Sistema.

O espaço existente entre a maxila e mandíbula, ocupado pelos


dentes fica na chamada “zona neutra”. A neutralidade entre as
forças aplicada pela musculatura desta região (língua e bucinador,
para os dentes posteriores; língua e lábios, para os dentes
anteriores) orienta a erupção quanto ao posicionamento dental e
vestíbulo-lingualmente.

O movimento de parada vertical do elemento dental ocorre quando


os contatos oclusais geram forças que se igualam de forma
antagônica à força eruptiva. Os contatos proximais contribuem para
a manutenção da posição horizontal, mésio-distal (aresta
longitudinal) dos dentes de cada arco.

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Seção 3 – Variação quanto a dinâmica do fechamento oclusal

CONTATO OCLUSAL EM FECHAMENTO

Os contatos oclusais em arco de fechamento mandibular limitam o


movimento para cima, da mandíbula, determinando a DVO (Dimensão Vertical
de Oclusão).O relacionamento oclusal limita o movimento ântero-posterior e
látero-lateral, criando uma posição tridimensional a que se convencionou
denominar de Oclusão Central.

Apesar de ocorrerem de forma simultânea, didaticamente, podemos


nomear os contatos de arco de fechamento, em:

- “parada de fechamento”
- “equilíbrio”

parada de fechamento parada de equilíbrio

Os contatos de parada de fechamento são aqueles que ocorrem no


momento do primeiro toque dos dentes mandibulares com os dentes maxilares.
Esses contatos limitam o movimento de fechamento mandibular, quer pelo
próprio contato físico das superfícies oclusais, quer pela propriocepção
periodontal, criando o arco reflexo neuromuscular, responsável pela ação dos
músculos elevadores.

Simultaneamente aos contatos de parada de fechamento, surgem os


contatos de equilíbrio. Esses contatos ocorrem entre as vertentes distais dos
dentes posteriores inferiores e vertentes mesiais dos dentes posteriores
superiores. Nota-se que os contatos de equilíbrio ocorrem entre as vertentes
opostas aos contatos de parada de fechamento.

Assim, a força dos contatos de fechamento é anulada pelo


componente de força dos contatos de equilíbrio, tanto na maxila quanto na
mandíbula, sendo a resultante uma força axial ao longo eixo dos dentes
posteriores. Essa distribuição é fundamental para o equilíbrio da mandíbula em
Oclusão Central.

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Seção 4 - CONTATOS OCLUSAIS CÚSPIDE – FOSSA - (Contatos A, B e C)

Enquanto os contatos de “fechamento” e de “equilíbrio” ocorrem na


direção mésio – distal (AL) entre os dentes posteriores, os contatos
denominados de A, B e C, ocorrem na direção vestíbulo – lingual (AT)

- O contato A ocorre entre a vertente lisa da cúspide vestibular dos


dentes posteriores inferiores e a vertente triturante da cúspide vestibular dos
dentes posteriores superiores.

- O contato B ocorre entre as vertentes triturantes das cúspides


palatina superior e vestibular inferior.

- O contato C ocorre entre a vertente lisa da cúspide palatina superior e


a vertente triturante da cúspide lingual inferior.

Contato em “A” Contato em “B” Contato em “C”

Contato A – gera um componente de força tangencial aos dentes em


contato e cujo sentido será para vestibular nos dentes superiores e para lingual
nos dentes inferiores. Esse contato, isolado, tende a vestibularizar o dente
superior; lingualizar o dente inferior ou (dependendo do número e distribuição
dos dentes em contato) desviar a mandíbula.

Contato B – gera um componente tangencial, com sentido oposto à


componente gerada pelo contato “A”, ou seja, esse contato, quando isolado,
tende a inclinar para palatino o dente superior e para vestibular, o dente
inferior; pode haver mobilidade dental; dependendo do número e distribuição
dos dentes pode haver desvio mandibular.

Contato C - tem uma resultante tangencial com o mesmo sentido do


contato em A. Tende a vestibularizar o dente superior e/ou inclinar para a
lingual o dente inferior.

Havendo contatos “A”, “B” e “C”,


simultaneamente, haverá equilíbrio tanto das
cúspides vestibulares quanto das linguais,
A B C assim a estabilidade vestíbulo – lingual estará
garantida.

59
Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

Compreende-se que os contatos ”A” e “C” embora distintos quanto à sua


disposição, tem resultados semelhantes quanto ao resultado. O contato “B” se
contrapõe aos contatos “A” e “C”. Compreende-se, também, que ocorrendo
contatos “A” e “B” ou “B” e “C”, esses contatos garantem a estabilidade
vestíbulo-lingual ao dente e, evidentemente, havendo contatos “A”, “B” e “C”
haverá equilíbrio tanto das cúspides vestibulares quanto das palatinas/linguais.

Numa visão mais ampla, pode-se verificar que os contatos “A”, “B” e “C”
são gerados pelos contatos de “parada de fechamento” e de “equilíbrio” de tal
forma que a estabilidade ântero - posterior e látero - lateral da mandíbula será
garantida pela presença da somatória desses contatos. Da mesma forma, a
ausência de contatos antagônicos pode ser responsável tanto pela mobilidade
dental, quanto pelo deslocamento mandibular.

Contato “A” e Parada de fechamento


Contato “A” e Equilíbrio

Contato “B”
Tripoidismo

60
Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

Seção 5 - AJUSTE OCLUSAL

Objetivo:
• Estabelecer as relações funcionais entre os dentes, músculos e ATM;
• Estabelecer pontos de contato em MIC, com a mandíbula em equilíbrio
ortopédico e que distribuam as forças na direção axial;
• Eliminar contatos prematuros e interferências oclusais.

Indicação:
• Indivíduos com sinais e sintomas de DTM correlacionado com fatores
oclusais;
• Doença periodontal;
• Perdas ósseas relacionadas a trauma oclusal;
• Parafunção;
• Após tratamento ortodôntico;
• Antes de reconstruções oclusais.

Indivíduos com problema articular ou muscular, é necessária primeiramente a


confecção de placa miorrelaxante!

Formas de ajuste:
Ajuste Oclusal – por acréscimo
Ajuste Oclusal – por desgaste seletivo

Material e instrumental necessários para o ajuste oclusal na clínica:


• modelos montados em articulador semi ajustável em RC e previamente
estudado
• mapeamento da seqüência laboratorial
• carbono de espessura fina – tipo accufilm
• pinça porta carbono
• broca de acabamento diamantada - com ponta ativa forma de lápis e
pêra
• pontas de polimento

61
Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

Regras básicas para Ajuste Oclusal – por acréscimo:


Buscar obter:

• Contatos bilaterais simultâneos;


• Movimentos mandibulares sem interferência;
• Forças oclusais bem distribuídas;
• Forças oclusais axiais;
• Espaço funcional livre fisiológico.

O restabelecimento oclusal por acréscimo pode ser realizado, por:


• Restaurações;
• confecção de prótese.

Regras Básicas para Ajuste Oclusal – por desgaste seletivo

I. Ajuste dos dentes, devido ao contato prematuro, no arco em relação


central sem deslizamento dental.
Contato prematuro:está em ponta de cúspide e fossa. Provavelmente
não há deslizamento látero-protrusivo, mas caso haja apertamento dental,
se verificará uma báscula no plano frontal de modo que um côndilo é
tracionado para baixo e o outro é intruído na fossa mandibular produzindo
desequilíbrio ortopédico da mandíbula.

Essa prematuridade geralmente é iatrogênica e pode ser originada de


restauração sem escultura, selante de sulco, prótese fixa.

62
Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

Ao efetuar o ajuste deve verificar se apresenta interferência nos movimentos


laterais na mesma cúspide ou não.
a) se houver interferência durante o movimento lateral e os contatos ocorrem
entre cúspide vestibular do dente mandibular e palatina do dente maxilar:
desgastar a cúspide do dente mandibular.

b) se o contato prematuro ocorrer apenas no arco de fechamento, e não


durante os movimentos excêntricos: aprofundar as fossas antagonistas.

Portanto:

Nota: A redução em ponta de cúspide não é totalmente contra-indicado, pode


ser desgastada quando por extrusão ou mesialização do dente está interferindo
nos movimentos de protrusão e lateralidade, desde que constituam
interferência ou contato prematuro.

II. Ajuste dos dentes, devido ao contato prematuro, no arco em relação


central com deslizamento lateral.

a) Se a interferência produz um deslizamento em direção à linha


média, o ponto incisivo se aproxima da linha mediana,
provavelmente o contato prematuro está ocorrendo entre a vertente
triturante da cúspide vestibular do dente maxilar e uma cúspide

63
Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

vestibular do dente mandibular ou entre a vertente triturante de


uma cúspide lingual do dente mandibular e uma cúspide palatina
do dente maxilar, nesse caso, desgasta-se a vertente triturante da
cúspide vestibular do dente maxilar, ou a vertente triturante da
cúspide lingual do dente mandibular.

Desgasta-se a vertente
triturante da cúspide
L vestibular do dente
* I
N
L
I
maxilar, ou ...

N
H H
A A
M
É M
D É
I D
A I
* A
... a vertente
triturante da
cúspide lingual do
dente mandibular

b) Quando o contato dental produz um deslizamento onde, o ponto


incisivo se distancia da linha mediana, os contatos prematuros,
provavelmente estão localizados em uma vertente triturante da
cúspide palatina maxilar e em uma vertente triturante da cúspide
vestibular mandibular, nesse caso, desgasta-se a vertente triturante
da cúspide palatina do dente maxilar, e/ou a vertente triturante da
cúspide vestibular do dente mandibular. Desgastar o contato que
se localiza mais próximo à ponta de cúspide (quando os dois
contatos se localizarem à mesma distancia da ponta de cúspide,
desgastar o dente com posição mais desfavorável).

64
Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

L
L I
I N
N H
H A
* A ° °°

M M
É É
D D
I I
A A

Desgasta-se a
vertente triturante
da cúspide palatina
do dente maxilar, ou
a vertente triturante
da cúspide
vestibular do dente
mandibular

III. Ajuste dos dentes no arco de relação central com deslizamento


protrusivo:

Geralmente o contato prematuro localiza-se em uma vertente triturante


distovestibular do dente mandibular contra a vertente mesial da cúspide
distovestibular do dente maxilar ou cúspide palatina do dente maxilar contra a
crista marginal do dente mandibular. Nesse caso, desgasta-se a vertente
triturante da cúspide suporte ou, dependendo da inclinação do dente,
remodelar acrista marginal de maneira a propiciar liberdade no movimento
mandibular.

Desgastar a vertente
triturante da cúspide
de suporte

Remodelar a crista
marginal para
liberdade no mov
mandibular

65
Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

IV. Ajuste em lateralidade

Inicialmente deve-se marcar os pontos de contatos oclusais em RC ou


em máxima intercuspidação com cor diferente da que for registrar os pontos
durante o movimento de lateralidade. Não desgastar as pontas de cúspides de
contenção cêntrica durante o ajuste de lateralidade, pois a dimensão vertical
pode ficar comprometida.
Antes de ajustar uma interferência no lado de trabalho,
deve-se verificar se há interferência no lado de balanceio, quando houver,
removê-la primeiro.

No lado de trabalho, pode ocorrer interferência na vertente externa da


cúspide vestibular dos dentes mandibulares e vertentes triturantes das
cúspides vestibulares dos dentes maxilares, neste caso, desgasta-se as
vertentes triturantes das cúspides vestibulares dos dentes maxilares.

No lado de balanceio, os contatos podem estar presentes entre a


vertente triturante da cúspide vestibular do dente mandibular e a vertente
triturante da cúspide palatina do dente maxilar, neste caso, desgasta-se as
vertentes triturantes das cúspides vestibulares dos dentes maxilares e
vertentes triturantes das cúspides vestibulares dos dentes mandibulares.

Lado de balanceio Lado de trabalho

* Desgastar as
*
Vertentes vertentes
triturantes triturantes
das cúspides
vestibulares
das cúspides
dos dentes vestibulares
mandibulares

Lado de balanceio Lado de trabalho


Lado de trabalho

Quando a interferência atinge a área da ponta de cúspide que mantém a


RC, deve-se realizar o ajuste de modo que, pelo menos, um desses pontos de
contenção cêntrica permaneça ocluindo com o dente antagonista, em MIC.
Importante é que após o ajuste oclusal em lateralidade não deve ocorrer
nenhum contato dos dentes posteriores, no lado de balanceio, quando a
mandíbula inicia sua excursão.

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

V. Ajuste em protrusão:

Se a interferência oclusal estiver impedindo o movimento da protrusão,


decorrrente da inclinação de um molar, deve-se remover a parte interferente. A
depender da guia anterior e da má posição dos dentes, os contatos podem
acontecer nas cristats marginais mesial ou distal e vertentes mesiais das
cúspides dos dentes mandibulares ou nas distais das cúspides dos dentes
maxilares. Neste caso, desgasta-se a vertente distal da cúspide vestibular dos
dentes maxilares. Dependendo do guia incisal, pode ser necessário desgastar
a crista marginal dos dentes mandibulares para dar passagem à cúspide
superior. Importante não envolver o ponto de contenção da posição de MIC.

Nos casos em que a guia anterior é pouco inclinada, após o ajuste é possível
ocorrer contato entre as vertentes distais das cúspides vestibulares dos dentes
maxilares e vertentes mesiais das cúspides vestibulares dos dentes
mandibulares. Essas ares são denominadas de facetas de propulsão. O ideal
é que essas facetas não se toquem no movimento protrusivo.

Quando a guia incisal for pouco


inclinada: faceta de propulsão

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

VI. Ajuste dos dentes anteriores

Se apenas contato prematuro, mas no movimento protrusivo, não


apresenta interferência: deve-se desgastar a superfície palatina do dente
maxilar. Porém, se o contato prematuro for também uma interferência oclusal
durante a protrusão: deve-se desgastar a incisal do dente mandibular.

Se o contato for prematuro


somente em RC, desgasta-se a
superfície palatina dos dentes
anteriores maxilares.

Porém, se esse contato for uma


interferência também em protrusão,
desgasta-se a incisal do dente
mandibular.

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

UNIDADE V
Montagem em Articulador Semi - Ajustável
(ASA)

Objetivos de estudos
 Ter noção de como replicar a relação interoclusal, no ASA

Roteiro de estudos
 SEÇÃO 1: Articulador
 SEÇÃO 2: Moldagem em alginato
 SEÇÃO 3: Montagem do modelo superior
 SEÇÃO 4: Montagem do modelo inferior
 SEÇÃO 5: Individualização do ASA

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

Seção 1 - Articulador

Conforme o conhecimento da oclusão foi sendo esclarecido, a forma de


avaliá-la, ou melhor a busca do aprimoramento de como visualizá-la foi
aumentando, com isso, houve a evolução no desenvolvimento do articulador,
que é o aparelho onde montamos os modelos obtidos dos arcos superior e
inferior de forma articulada, para se verificar a relação entre os dentes e os
movimentos mandibulares, a depender da especificidade do mesmo.

A fidelidade da reprodução da relação entre os arcos dentais superior e


inferior, está na dependência de múltiplas variáveis. Entre elas estão, o tipo de
aparelho, técnica de transferência da posição espacial do maxilar superior,
habilidade e experiência do operador, materiais empregados nos registros
oclusais e os materiais empregados na fixação dos modelos ao articulador.

A precisão da montagem em articulador tem implicações no diagnóstico,


planejamento, execução laboratorial e interfere no número e tipos de ajustes
clínicos e na qualidade final das restaurações elaboradas sobre os modelos
montados (LOPES, 2003).

O articulador é um instrumento mecânico que representa a articulação


temporomandibular, a maxila, a mandíbula, além de registrar alguns
movimentos mandibulares. Os articuladores são classificados de acordo com
os movimentos por ele realizados, e, pode seu usado como um meio auxiliar de
diagnóstico, planejamento ou para o tratamento reabilitador propriamente dito
(CARDOSO, 2003)

A – Articulador de bisagra ou charneira

Foi o primeiro modelo desenvolvido, a haste inferior (mandíbula) é unida


a haste superior (maxila) através de duas ‘dobradiças’ (côndilos), com isso
dizemos que é um articulador rígido quanto aos movimentos de lateralidade,
somente permite os movimentos de abertura e fechamento. Apesar de sua
limitação pode-se dizer que é o mais utilizado devido a facilidade de manipulá-
lo.

70
Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

B – Articulador de bisagra ou charneira modificado

Basicamente possui o mesmo desenho do modelo anterior, porém as


‘dobradiças laterais, não são fixas, dão liberdade de movimentos laterais - ou
seja, na região dos “côndilos”, há uma base que permite um deslocamento
padrão para os lados, porém não é possível individualizá-los.

C – Articulador Semi-Ajustável (ASA)

Possui um desenho mais completo, viabilizando uma melhor


visualização dos movimentos mandibulares, oferecendo condições de
individualizar parcialmente por serem estruturas metálicas. Ou seja,
personificá-lo para cada indivíduo – ângulo da guia condilar ou condílico ( φ ) =
inclinação da parede anterior da fossa mandibular e ângulo de Bennet ( ß ) =
inclinação da parede medial da fossa mandibular. É constituído de duas partes:
ramo superior e ramo inferior, e é necessário a utilização do arco facial para a
fixação do modelo superior na haste superior. Os ASA são classificados em
Arcon e não-Arcon. Os modelos Arcon possui a trajetória condilar às expensas
do ramo superior e possui a distância intercondilares ajustáveis em S ou 1
(pequeno), M ou 2 (médio) e L ou 3 (grande) e os modelos não-Arcon a
trajetória condilar está unida ao ramo inferior, a distância intercondilar não é
ajustável. No Brasil são comercializados os modelos Arcon similares ao Whip-
Mix: Gnatus, Bio-Art, Dent-flex; e o modelo não-Arcon similar ao Hanau:
Gnatus JP 30.

Articulador Arcon (Dent-flex) Articulador não arcon JP 30 (Gnatus)

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Seção 2 - MOLDAGEM EM ALGINATO

O ato da obtenção do molde é uma etapa clínica simples, porém necessita de


alguns cuidados para que se possa realizá-la com sucesso.

1) Selecionar as moldeiras de forma que não devem entrar muito justas,


pois pode traumatizar a mucosa de revestimento ou não deixar espaço
para o material de moldagem e nem muito folgadas, além do risco de
promover bolhas, o excesso de material de molgaem (alginato) possui
maior risco de distorção, devido a alta sensibildade de perda de água
para o meio. Indica-se iniciar a seleção com as moldeiras S-2 e I-2, a
depender da prova opta-se por outra de maior ou menor tamanho. Ver
figs. 1 e 2
2) Individualização das moldeiras com cera utilidade. Recortar tiras finas
(2mm) de cera, aquecê-las levemente e precionar contra as bordas da
moldeira, na moldeira superior, acomodar na região de palato, conforme
o contorno do arco do indivíduo, deixando uma espessura de 1 a 2 mm
para o material de moldagem. Ver fig. 3
3) Prova novamente a moldeira na boca, para melhor delimitação da cera.
Ver figs. 4 a 6
4) Com intuito de promover melhor estabilidade do molde na moldeira para
não se ter o deslocamento do mesmo na moldeira vernner (quando a
mesma não for perfurada), risca-se a cera com a espátula le cron, e
aplica-se algodão levemente desfiado, para que o mesmo adira na cera
e promova maior retenção com o alginato. Ver figs. 7 a 9
5) Antes de dosar o alginato, não esquecer de homogeinizá-lo. Para as
moldeiras tipo Verner tamanhos 1,2 superior e 1,2 e 3 inferior
proporcionar duas porções de água para duas porções de pó. Somente
a S-3 que são proporcionadas três porções. Posicionar a paciente. Ver
figs. 10 e 11
6) Verter o pó na água e efetuar a manipulação do material. Colocar na
moldeira e inserir. No arco superior, comprimir de posterior para anterior
(para o material não escorrer para a garganta). No arco inferior,
comprimir de anterior para posterior (com intuito de afastar melhor a
língua) e pedir para fechar a boca (a mão do profissional deve ficar
posicionando a moldeira). Ver figs. 13 e 14
7) Após a geleificação total do material, remover num só golpe, com
cuidado. Recortar os excessos do material de moldagem que estiver
abaixo do nível moldeira (que possa comprometer a estabilidade do
molde no momento da colocação do gesso). Ver figs. 15 a 17
8) Lavar o molde solução de Milton ou similar, lavar com água gessada
(diminui a tensão superficial, menor risco de promover bolhas), remover
o acúmulo de água, sem secar – para não desidratar o alginato. Ver fig.
18
9) Manipular gesso especial de acordo com a especificação do fabricante.
10) Entre uma moldagem e outra, e, enquanto espera a presa do gesso,
deixar todo o tempo os moldes no umidificador. Ver fig. 19
11) Após a presa final dos modelos, remover os moldes e recortar os
modelos, tomar cuidado com a região posterior, deixar o gesso

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Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

recortado abaixo da superfície oclusal do último dente moldado, para


não interferir na fixação dos mesmos no ASA.

Fig. 1 - seleção da moldeira sup. Fig. 2 - Moldeiras selecionadas Fig. 3 - Individualização da moldeira

Fig. 4 - Prova pós-individualização Fig. 5 - Visualização Fig. 6 - Remove do excesso

Fig. 7 - Riscos múltiplos na cera Fig. 8 - Acomodação do algodão Fig. 9 - Algodão posicionado

Fig. 10 - Dosagem do alginato e Fig. 11 - Posição Fig. 12 - Acomodação do material


água na moldeira

Fig. 13 - Inserção no arco inferior Fig. 14 - Manipulação dos tecidos Fig. 15 - Remove-se a moldeira

73
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moles

Fig. 16 - Recorta-se os excessos... Fig. 17 -...que ficam além da base Fig. 18 - Lava-se
da moldeira

Fig. 19 - No umidificador Fig. 20 - Pesagem do gesso Fig. 21 - Gesso sendo aplicado...

Fig. 22 - Escoando até a região dos Fig. 23 - Acomodação total do Fig. 24 - Espera-se a presa do
dentes gesso de base gesso

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Seção 3 - MONTAGEM DO MODELO SUPERIOR NO ASA

ARCO FACIAL

É um acessório do articulador semi-ajustável, imprescindível para a


montagem do modelo superior no ASA, dentro da técnica preconizada. Tem
como finalidade registrar:
- A distância das articulações aos dentes superiores;
- A relação entre o plano oclusal do arco superior e o plano horizontal de
Frankfurt;
- A distância entre os côndilos.

Etapas para o registro do arco facial:

1) Colocar o modelo superior para hidratar.


2) Com o arco facial em mãos, deixar os parafusos livres, com
movimentação entre as estruturas, prova o garfo na posição para avaliar
se ele desliza suavemente. Plastificar a godiva (pode ser em bastão) e
colocar em dois pontos posteriores do arco, bilateralmente, e um na
porção anterior (mediana). A godiva estando na fase plástica, posicionar
no modelo ou na boca – cuidado com o alinhamento da haste com a linha
média - fazer leve pressão para marcar as pontas das cúspides dos
dentes posteriores e as incisais dos anteriores. Ver figs. 25 a 29
3) Provar na boca para verificar se há báscula, caso houver repetir a fase
anterior.
4) Posicionar o garfo, pedir para o indivíduo, com os dedos polegares, firmar
o garfo, comprimindo para cima, na região de pré-molares, em ambos os
lados. Colocar as olivas no ouvido direito e esquerdo, fixá-las, observando
o tamanho (se 1, 2 ou 3). Posicionar o násio, de forma a observar se ao
colocar na região do násio, se obtém o alinhamento horizontal do plano de
Frankfurt, ou se será necessário fixá-lo na região mais superior. Após ter
apertado todos os pontos móveis da parte superior do arco, apertar a
haste horizontal do garfo, e em seguida a vertical. Apertar bem. Verificar
se há deslocamento do arco, qual é o motivo, corrigir. Ver figs. 31 e 32
5) Anotar a distância intercondilar (se 1, 2 ou 3). Desapertar o násio e as
olivas e remover o arco facial com cuidado.

Fig. 25 - Arco facial Fig. 26 - Emplastificação da godiva Fig. 27 - Colocação da godiva no garfo

75
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Fig. 28 - Garfo preparado Fig. 29 - Inserção do garfo no arco Fig. 30 - Garfo marcado
superior

Fig. 31 - Posicionamento do arco facial Fig. 32 - Arco facial posicionado Fig. 33 - Registros realizados, arco
facial removido

PREPARO DO ARTICULADOR

Nas extremidades da porção superior do ramo inferior, há os números:


1, 2 e 3 gravados, onde os elementos correspondentes aos côndilos devem ser
posicionados, conforme foi verificado no momento da fixação do arco facial,
caso tenha dado o tamanho 2 (ou M), colocar os côndilos de ambos os lados
no número 2. Coloca-se a placa de montagem na base (deve ficar bem
adaptada).

No ramo superior, em suas extremidades, correspondentes às ‘fossas


mandibulares’, deve ser individualizado, quando for verificado tamanho 2, deve-
se acrescentar um anel espaçador (quando for tamanho 1, fica sem espaçador,
e quando tamanho 3, coloca-se 2 espaçadores) – esses espaçadores conforme
o fabricante, pode vir embutido, internamente, conforme solta o parafuso do
guia condilar e movimenta um anel na região média posterior (intercondilar) do
ramo superior, o espaçador exterioriza. Os guias condilares (φ) devem ficar em
35º e Bennet (ß) em 15º. Coloca-se a placa de montagem na base (deve ficar
bem adaptada).

MONTAGEM DO MODELO SUPERIOR

Preparados os ramos,

1) Fixa-se as olivas nas laterais das ‘fossas mandibulares’, aperta-se os


parafusos da haste superior, para não haver movimentação enquanto o
gesso toma presa; Ver fig. 39
2) Posiciona-se o ramo superior no inferior; manipula-se 50 gramas de gesso
especial;
3) Remove-se o ramo superior do ramo inferior, deixa-o levantado ou apoiado
na bancada, coloca parte do gesso na placa de montagem e parte do gesso
no modelo, posiciona-se o modelo no garfo, abaixa (ou volta) o ramo
superior para posição (que fica estabilizado na haste do arco);
4) Reposiciona o ramo superior no ramo inferior – firma o modelo no garfo com
elástico de borracha (duas voltas) e espera o gesso tomar presa. Ver fig. 41

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Fig. 34 - Articulador semi-ajustável Fig. 35 - Ramo superior Fig. 36 - Preparo do ramo inferior

Fig. 37 - Preparo do ramo superior Fig. 38 - Articulador preparado Fig. 39 - Arco facial posicionado

Fig. 40 - Modelo de gesso posicionado Fig. 41 - Fixação do modelo superior no


no arco facial ramo superior

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Seção 4 – MONTAGEM DO MODELO INFERIOR

I) REGISTRO EM RELAÇÃO CÊNTRICA

a) Método fisiológico

Paciente estando relaxado, com tônus muscular normal, posiciona-se a


cadeira de forma a estar quase paralela ao piso (paciente deitado), posiciona a
mão no queixo do paciente – de forma que o dedo indicador fica posiciona na
direção de um hemi-arco e a polpa do dedo polegar para outro e o dedo médio
no queixo - e pede-se para elevar a língua ao céu da boca e fazer vários
movimentos de abrir e fechar a boca, lentamente. Observa-se que o paciente
oclui sempre na mesma posição suavemente. Plastifica-se uma lâmina de cera
sete, dobra-a ao meio, recorta a forma do arco, plastifica novamente, até fica
macia de forma homogêna, posiciona-a, comprimindo levemente contra o arco
superior e leva o paciente na posição de oclusão (sem deixar que os dentes se
contatem). Resfria a cera com spray ar-água e remove o registro da boca, num
único golpe.

Fig. 42 - Lâmina de cera sete Fig. 43 - Delimitação para recorte Fig. 44 - Ceras recortadas
das ceras

Fig. 45 - Posicionamento da mão ... Fig. 46 -... para auxílio do registro de Fig. 47 - Recorte posterior do registro
RC

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b) JIG MODIFICADO de LUCIA – Prof. Dr. Tetsuo Saito

Toda a manipulação feita no item anterior é repetida, porém quando não


se tem certeza que o paciente está em relação cêntrica, ou que consiga
registrar na posição de conforto muscular, encontrada, faz-se um jig. O Prof
Tetsuo Saito indica o jig de Lucia, modificado por ele:

1- Isola os dentes incisivos centrais com vaselina;


2- manipula-se uma porção de duralay vermelho (Ver fig.48), quando na fase
plástica, faz-se uma bola (Ver fig.49) e posiciona nos incisivos centrais,
recobrindo-os (Ver fig.50 e 51), pede ao paciente para ocluir suavemente
com língua elevada no palato (Ver fig.52) ;
3- pede para parar de fechar, antes que haja o primeiro toque em algum
dente,. Modela-se a porção interna do jig de forma a ficar levemente
inclinada (quando em posição, para a cervical) (Ver fig.53);
4- Antes da polimerização final do acrílico, deve-se remover e colocar o jig em
posição várias vezes.
5- Após a polimerização, faz-se um recorte com broca para desgaste, na linha
média, ficando como se fosse uma ‘janela’- para que se possa visualizar o
contato que acontece no jig (Ver fig.54 - 56). Dá-se acabamento de forma
que fique um único ponto (vértice do incisivo central inferior-geralmente)
tocando na superfície do jig no arco antagônico. Cuidado para deixar o
menor espaço possível entre os arcos, desde que não haja contato com os
demais dentes (Ver fig.57) ;
6- verificar se o paciente está tocando sempre no mesmo ponto, após 5 a 10
minutos, caso afirmativo – marca-se este ponto e registra onde passa a
linha média do arco inferior – (para servir de referência, ao ocluir com a
lâmina de cera) (Ver fig.58 e 59);
7- prepara-se a lâmina de cera sete, aquecendo-a, dobrando-a ao meio,
colocar uma camada de gaze no meio, para firmar a cera (ter menor risco
de distorção da cera), recorta-se o lugar do jig, plastifica-se novamente a
cera (Ver figs. 60 e 61), e faz-se o registro da mordida (Ver fig.62) .

79
Disciplina de Oclusão – FAODO/UFMS Caderno de estudos da Oclusão

Fig. 48 – Resina Duralay® misturado pó Fig. 49 - Resina Duralay® manipulada Fig. 50 - Resina Duralay® posicionando
e líquido nos incisivos

Fig. 51- Resina Duralay® feito o registro Fig.52 - Resina Duralay® feito o Fig.53 - Resina Duralay® feito o registro
de mordida registro de mordida de mordida

Fig.54 – Fazendo os recortes Fig.55 – Feita a abertura para a Fig.56 – Jig posicionado
necessários visualização

Fig.57 – Vista ântero-inferior do Jig Fig.58 – Fazendo a marecação Fig.59 – Linha média registrada no Jig

Fig.60 – Registro da mordida com o Jig Fig.61- Registro da mordida com o Jig Fig.62 - Registro da mordida com o Jig

80
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I) FIXAÇÃO DO MODELO INFERIOR

Após a remoção do arco facial e obtido o registro de mordida:

1) Coloca o pino guia em posição (caso o registro de mordida ficou bem


marcado, com a cera fina, sobe a haste do ramo superior cerca de 2
mm da aréola cheia – marca existente no pino guia que envolve toda
a sua volta -, deixando o ramo superior levemente mais alto = 2mm);
2) Coloque o articulador na posição invertida;
3) Recorte a cera que sobrou na distal do último dente (molar); Ver
fig.63
4) Posiciona o registro da mordida em cera no modelo superior;
5) Coloca-se o modelo inferior (previamente hidratado) ocluindo,
fazendo uma leve pressão em toda a base do modelo, para um boa
adaptação na cera; passe o elástico que está fixo no modelo
superior;
6) Manipula-se 50 gramas de gesso especial, coloca-se metade no
modelo e metade na placa de montagem;
7) Posicione o ramo inferior, de forma que os côndilos devem ficar
encostados na parede posterior na ‘fossa mandibular’, para não
correr risco de deslocamento, é indicado negativar o ângulo de
Bennet, travando a movimentação do côndilo. Ver figs.66 e 67

Fig.63 – Recorte da cera na porção Fig.64 – Cera recortada


distal

Fig.65 – Remover os excessos de gesso Fig.66 - Modelo inferior posicionado Fig.67 - Modelo inferior posicionado
na porção distal

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Nota:

Indicamos a colocação do elástico de borracha como auxílio na fixação dos


modelos, devido a alteração dimensional do gesso. Pois, na montagem dos modelos
ao articulador, a alteração dimensional, tem como resultado a alteração de posição
dos modelos e uma relação maxilo- mandibular distorcida. As conseqüências clínicas
são a imprecisões na análise oclusal funcional e a elaboração de restaurações
indiretas com maiores necessidades de ajustes clínicos.

Lopes et al. (2003), de acordo com a pesquisa por eles realizada, afirmam
ainda, que:
- a alteração de posição do modelo superior significa uma distorção na
reprodução do real arco de fechamento do paciente. Sendo assim, prováveis
alterações nas posições dos contatos oclusais no articulador e clinicamente poderão
ocorrer. A ocorrência destas alterações está na dependência da posição em que é
feita a montagem, RC (Relação Cêntrica) ou DVO (Dimensão vertical de oclusão);

- a montagem de modelos dentados totais ou parciais em RC com interposição


de registro interoclusal e conseqüentemente ausência de contato dentário, pode levar
a uma imprecisão dos contatos oclusais dificultando a análise oclusal funcional;

- transpondo esses resultados na fixação do modelo inferior deverá ocorrer


uma abertura entre os ramos superior e inferior de articulador, com afastamento do
pino incisal da respectiva mesa. Se essa não for compensada pelo abaixamento do
pino, em uma situação clínica em que os dentes presentes não mantenham a
dimensão vertical de oclusão e houver a presença de registro inter-oclusal. Quando
esse registro for removido, o pino vai restabelecer contato com a mesa incisal em
uma dimensão vertical de oclusão diminuída. Sendo assim, quaisquer trabalhos
restauradores feito nessas situações clínicas terão uma dimensão vertical de oclusão
muito próxima da real quando os modelos forem fixados com o gesso pedra especial e
significativamente menor quando o gesso pedra for usado. A menor alteração
posicional dos modelos ocorreu quando foram fixados com o gesso especial e
previamente hidratados durante 1 minuto.

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Seção 5 - INDIVIDUALIZAÇÃO DO ASA

Embora alguns colegas pularem essa etapa, deixando o articulador com


valores médios de guia condilar (φ) em 30, 35 ou 40º e o ângulo de Bennet (ß)
em 15º, somos favorável quanto a individualização dos mesmos, geralmente os

registros em cera é feito na mesma fase clínica em que é feito o registro de


mordida em RC ou MIC. Solicitando ao paciente que desvie a mandíbula,
deslizando os dentes, até que os vértices dos caninos se encontrem, treine
nessa posição o abrir e fechar a boca, para que memorize essa posição,
facilitando a posição do fechamento em lateralidade. Recorta-se duas lâminas
de cera dobradas ao meio, faze-se um V de recorte no local onde deverá haver
os toques dos canino que se encontram, no lado de balanceio coloca-se mais
uma tira de cera (devido a desoclusão, geralmente o espaço interoclusal é
maior) deve-se acrescer cera para que possa haver o registro oclusal dos
dentes nesse lado do registro de mordida.

Feito os registros das lateralidades direita e esquerda, transfere os


mesmos para o articulador semi-ajustável.

1) Remove-se a cera do registro da RC;


2) Para individualizar o lado direito do ASA, escolha o registro da
lateralidade esquerda (e para o lado esquerdo o registro da
lateralidade direita).
3) Deixe levemente solto os parafusos de fixação dos ângulos condilar e
Bennet do lado direito.
4) Posicione a cera no arco superior, encaixe-a bem e, com cuidado
direcione o modelo inferior nas marcas registradas na cera, após a
verificação de os modelos estarem bem posicionados, conforme o
registro realizado na boca; Ver fig.70
5) Observe a posição do côndilo, movimente a aleta superior (que
corresponde ao teto da fossa mandibular), com movimento suave,
até que a mesma se encoste suavemente na ´porção superior do
côndilo. Aperte o parafuso do guia condilar. Ver figs 71 a 73
6) A seguir com cuidado faça as mesmas observações e movimentos
com a aleta lateral (que representa a parede medial da fossa
mandibular) até que encoste na porção lateral do côndilo, registrando
então o ângulo de Bennet. Ver figs. 74 a 77
7) Após determinados os valores do lado direito, faça o mesmo
procedimento para registrar o lado esquerdo.
8) Anote os valores obtidos.

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Fig.68 – Ceras 7 para registro preparadas Fig.69 – Feito os registros de mordida Fig.70 – Registro de mordida posicionado

Fig.71- Modelos ocluindo no registro Fig.72 – Realizando a individualização Fig.73 – Realizando a individualização

Fig.74 – Realizando a individualização Fig.75 – Realizando a individualização Fig.76 – Realizando a individualização

Fig.77 – Realizando a individualização

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