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ETIOLOGIA DAS MÁS OCLUSÕES DENTÁRIAS

@dracristinapadilha.odontologia
Etimologicamente o termo etiologia origina-se:

Do grego Do latim

AITIA= causa LOGOS= estudo

1-Definição
Significa o estudo, investigação e o diagnóstico das causas
de um fenômeno.

Em ortodontia, refere-se às causas das anomalias da


oclusão dental.
POLÊMICA
“Toda má oclusão apresenta uma origem multifatorial e não uma única causa específica”.
MOYERS, R. E. Ortodontia. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1979

Uma interação de vários fatores pode influenciar o crescimento e o desenvolvimento


dos maxilares suscitando em más oclusões.

“Quanto mais precocemente for detectada a causa determinante da maloclusão, mais


imediatamente deve ser a medida, visando evitar os efeitos”.
Alael de Paiva Lino
Relevância: Conhecer a etiologia nos dá a possibilidade de
eliminar as causas para se corrigir a má oclusão.

CONHECER PREVENIR
Korkaus (1939): classificou em Graber (1966): divide em
origem endógena e exógena dois grandes grupos,
intrínsecos ou locais e
Guardo (1953): refere-se às extrínsecos ou gerais
causas hereditárias e
congênitas, gerais, locais e às Moyers (1979): interpreta a
causas proximais (hábitos etiologia a partir da equação
bucais) ortodôntica. Essa equação
representa uma expressão
Salzmann (1966): divide em concisa do desenvolvimento
pré natais e pós natais de todas as deformidades
dento faciais.
Begg (1965): salienta a
hereditariedade, a persistência Proffit et all (2007): causas
da overbite e outras causas e específicas, influência
efeitos da má oclusão genética e influência
- ambiental
3- As várias abordagens....
- confundiram a origem do problema com a sua época de
manifestação
- confundiram os adjetivos hereditário, genético e congênito
- nem toda alteração congênita apresenta caráter genético:
alterações por drogas teratogênicas (apesar de congênitas são
ambientais)
- nem todo problema genético pode ser diagnosticado ao
nascimento, desmerecendo a qualificação de congênito
(diabetes mellitus tipo I, agenesia dentária e padrão esquelético
III)
4- FATORES GENÉTICOS
5- FATORES AMBIENTAIS

MALOCLUSÃO

FATORES GENÉTICOS FATORES AMBIENTAIS


maior a possibilidade
de prevenção

melhor o prognóstico
INFLUÊNCIA de correção

AMBIENTAL maior a chance de


INFLUÊNCIA estabilidade pós -
tratamento, desde
GENÉTICA que a causa seja
eliminada.
Ambiental Genética

Fonte: a autora
4- FATORES GENÉTICOS
• Tais fatores não são prevenidos, simplesmente instalam-se
como fatalidade biológica.

• Podem ser atenuados com intervenção ortodôntica, ortopédica


e/ou cirúrgica, na dependência da localização, extensão e
gravidade da má oclusão.
As características dentofaciais com etiologia genética
preponderante e de interesse para o ortodontista serão expostas
obedecendo a seguinte ordem:
4.1- Tipo facial
4.2- Miscigenação
4.3- Padrão esquelético sagital da face
4.4- Discrepâncias dente-osso
4.5- Diversos tipos de anomalias dentárias
4.6- Infraoclusão de molares decíduos
4.7- Anomalias craniofaciais
Consiste em uma característica
predominantemente genética, sobre a
qual o ambiente e as mecânicas
4.1- TIPO ortopédicas exercem influência mínima.

FACIAL
A Ortopedia Facial e a Ortodontia não são
capazes de alterar o tipo facial herdado.
4.1- TIPO FACIAL

Fonte: a autora
Tipo facial hereditário
4.1.1-Braquifacial
❑ Apresenta direção de crescimento horizontal
maior do que vertical.

❑ Caracteriza o tipo de face mais curta, quadrada


e ampla que apresenta mandíbula forte e
marcada.

❑ A musculatura mandibular é mais espessa e


evidencia os contornos faciais.

❑ Este biotipo tem tendência a parecer senil mais


cedo do que os demais com o passar dos anos.
4.1.2- Dolicofacial

• Apresenta direção de crescimento


vertical maior do que horizontal.

• É o tipo de face longa, cabeça


ovalada, comprida e estreita que não
apresenta mandíbula marcada.

• A musculatura mandibular é mais


delgada e com tendência a retrusão.

Fonte: a autora
4.1.3-Mesofacial

• Apresenta crescimento proporcional


entre os diâmetros vertical e horizontal.

• O termo mesofacial deriva de meso, que


está na média, equilibrado e
proporcional.

• Trata-se da face com perfil de


crescimento proporcional ao longo da
vida, com boa relação entre os maxilares.

Fonte: a autora
4.2- Miscigenação racial

Almeida R., et all


4.3- PADRÃO ESQUELÉTICO SAGITAL DA FACE
A morfologia do perfil facial apresenta uma forte determinação genética.
• NEGROS: biprotrusão e perfil convexo
• Asiáticos: grau de protrusão intermediário
• Ingleses: perfil reto ou côncavo

• A morfologia facial estabelece-se precocemente, sendo possível o seu


diagnóstico desde a dentadura decídua e, em regra, o crescimento facial
preserva o padrão esquelético.

• Seguindo uma herança poligênica, os distintos padrões esqueléticos


sagitais (I, II e III) mostram prevalências aumentadas em famílias.
PADRÃO ESQUELÉTICO SAGITAL DA FACE

Correlação entre pais e filhos- herança poligênica

Fonte: a autora
Família real austro-húngara de Habsburg- Padrão esquelético Classe III
Clássico exemplo de característica genética de interesse ortodôntico,
transmitida por sucessivas gerações.

(Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Philip_III_of_Spain)
4.4- DISCREPÂNCIAS DENTE- OSSO

• A dimensão e, ocasionalmente, a morfologia das bases maxilares seguem


predominantemente um comando genético.

• Estudos em gêmeos demonstraram que o tamanho das coroas dentárias


também se mostra fortemente determinado pela genética.
O apinhamento pode ter caráter genético
ou ambiental
• Dado o caráter genético do apinhamento e do
espaçamento, essas características oclusais não
são passíveis de prevenção, podendo apenas ser
corrigidas.

• No apinhamento genético, o tratamento é voltado


para a redução da massa dentária, adequando-a
ao tamanho da base óssea.
CARÁTER AMBIENTAL DO
APINHAMENTO
• Nesse caso, a irregularidade dos dentes reflete uma
discrepância entre a massa dentária e a morfologia dos arcos
alveolares.

• A atresia das arcadas dentárias acarreta a irregularidade na


disposição dos dentes ao longo do rebordo alveolar.

• O tratamento indicado, ao contrário do apinhamento genético,


é a mecânica transversal para expansão dos arcos alveolares.
ATRESIA MAXILAR CAUSANDO APINHAMENTO

Fonte: a autora
FREIO LABIAL

Fonte: a autora
IMAGEM RADIOGRÁFICA
Fonte: a autora

REMOÇÃO CIRÚRGICA
4.5- ANOMALIAS
DENTÁRIAS
• 4.5.1- Supranumerário
• 4.5.2- Anadontia
• 4.5.3- Microdontia/ Macrodontia Supranumerário
• 4.5.4- Anomalias de forma

Fonte: a autora
4.5.2-Anadontia

Acesso em 08/12/22
4.5.3- Microdontia e Macrodontia
32

O dente possui somente uma câmara pulpar, e


o dente coalescido exibe mineralização total

Fonte: https://www.researchgate.net/publication/281574669

Fonte: https://raiosxis.com/geminacao-fusao-e-concrescencia
33

Duas câmaras pulpares independentes

Fonte: https://raiosxis.com/wp-content/uploads/2015/01/fusao_radiografia.jpg

Fonte: https://www.researchgate.net/publication/281574669
4.6- INFRAOCLUSÃO DE MOLARES DECÍDUOS
4.7- ANOMALIAS CRANIOFACIAIS
• Displasia ectodérmica
• Disostose cleidocraniana

Acesso em 08/12/22
5.1- Traumatismo;
5.2- Perda precoce de dentes decíduos;
5.3- Perda de dentes permanentes;
5- FATORES AMBIENTAIS 5.4- Hábitos bucais deletérios de sucção
5.4.1- sucção do polegar
Tais fatores
5.4.2- Sucção do lábio
constituem influências
não genéticas, 5.5- Pressionamento lingual atípico;
provenientes do meio 5.6- Respiração bucal.
ambiente ou do modo 5.7- Retenção prolongada
de vida, que 5.8- Hábitos de postura locais
concorrem para a
5.9- Vias de erupção anormal
determinação das
másoclusões. 5.10- Erupção tardia dos dentes
5.11- Anquilose
5.12- Cáries dentais
5.1- TRAUMATISMO
• pode induzir desde defeitos superficiais no esmalte dentário até uma
alteração posicional no germe dos sucessores permanentes

Freitas,G.B., et all(2019)
5.2- PERDA
PRECOCE DE
DENTES
DECÍDUOS
5.3-Perda de dentes
permanentes
Fonte: a autora

Perda de dentes permanentes bilaterais


5.4- Hábitos • 5.4.1- Sucção do polegar

bucais • 5.4.2- Sucção labial


deletérios de
sucção • 5.4.3- Uso de chupeta
• “a Ortodontia reconhece que os
benefícios psicológicos do hábito
de sucção suplantam seu potencial
de originar más oclusões nos
Aleitamento primeiros anos de vida”.
materno
Sucção não nutritiva
Mas, afinal de contas, em qual idade devemos recomendar a
interrupção do hábito de sucção não-nutritiva?

• Segundo a psicologia: até os dois anos de idade

• Os hábitos de sucção devem receber o adjetivo de deletérios a partir do


final da dentadura decídua ou, em termos de idade cronológica, a partir dos
5 anos de idade

• autocorreção da mordida aberta anterior quando o hábito de sucção é


abandonado ainda na dentadura decídua
5.4.1-Sucção de polegar
5.4.2-Hábito de sucção labial
A repercussão do hábito de sucção do lábio inferior consiste na retroinclinação dos incisivos
inferiores, enquanto os incisivos superiores são inclinados para vestibular
5.4.3-Mordida
aberta anterior

Fonte: a autora
5.5- Pressionamento atípico da língua

Fonte: a autora
5.6- Respiração bucal- Síndrome da face
alongada
5.7-Retenção prolongada
5.8-Mordida cruzada posterior
• Não existe a auto correção após o abandono do hábito

Fonte: a autora(1996)
Fonte: a autora
Mordida cruzada posterior
Instalação de alterações morfológicas
não depende exclusivamente da
presença do hábito, mas também de:
• sua frequência,
Tríade de • intensidade
Graber • duração
5.9- Via erupção anormal
Causa:
• Mudança na trajetória de irrupção dos dentes.
• Falta de espaço
• Pode provocar alterações como:
• Impactação
• Erupção vestibular ou lingual
• Resultando em posições incorretas na arcada
dentária.
Fonte: a autora

5.10- Erupção tardia dos dentes permanentes


• É uma lesão que pelo rompimento da
membrana periodontal, determina a
formação de uma ponte óssea, unindo o
5.11-Anquilose cemento à lâmina dura alveolar,
retardando ou mesmo impedindo que o
dente faça sua erupção completa.
5.12-
Cáries
dentais
6-Lábio leporino São deformidades de origem congênita resultantes da falta de
coalescência dos segmentos que formam os lábios e palato.
e fenda palatal
6.1- Classificação de Spina
• fissuras pré-forame incisivo (fissuras de palato primário)

• fissuras transforame incisivo (fissuras de palato primário e secundário, simultaneamente)

• fissuras pós-forame incisivo (fissuras de palato secundário)


Representação
esquemática das
fissuras que
envolvem o palato
primário e/ou o
palato
secundário.
6.2-Fatores genéticos
• As fissuras labiopalatinas apresentam um padrão de herança poligênica
interagindo com o meio ambiente, o que qualifica uma etiologia multifatorial.

• Essa irregularidade é determinada pela interação de genes em diferentes lócus,


cada um com um pequeno efeito aditivo, fatores ambientais.

• As fissuras labiopalatinas são determinadas dependendo do número ou


procedência dos genes e/ou fatores ambientais em ação. A malformação
apresenta-se apenas quando a suscetibilidade excede um limiar crítico.
6.3- Fatores ambientais
Principais fatores etiológicos ambientais das fissuras:
- Tabagismo
- ingestão de bebidas alcoólicas
- deficiências vitamínicas e drogas anticonvulsivantes (fenitoínas).

Além disso, especula-se que o estresse, devido à liberação de corticosterona,


os benzodiazepínicos, doenças virais agudas (vírus Influenza da gripe e vírus do
sarampo) ou a febre relacionada a elas, radiação ionizante e certos químicos
(pesticidas) também possam elevar o risco de fissura.
6.4- Fatores nutricionais e vitamínicos
• O planejamento da gravidez, assim como o acompanhamento médico pré-
natal com suplementação vitamínica e administração de ácido fólico,
consistem na conduta preventiva ideal para as fissuras labiopalatinas

• Os folatos pertencem ao grupo da vitamina B e são encontrados em vegetais de


folhas verdes, feijão, vagem, fava, brócolis, espinafre, gema de ovo, germe de
trigo, carnes magras, fígado, peixe e no suco de frutas cítricas, como a laranja e
o limão.
6.5- Tabagismo
• A OMS atribui 20% dos casos de fissuras labiopalatinas ao
tabagismo.
• Até mesmo o fumo passivo parece elevar o risco para essa
malformação.
6.6- Bebidas alcoólicas
• Um consumo excessivo de álcool pode aumentar o risco de fissuras.
Shaw e Lammer encontraram um risco elevado em 3,4 vezes diante do
consumo de mais de cinco drinques por ocasião.
• Evidência adicional da influência do álcool na etiologia das fissuras é que
10% dos bebês com Síndrome Alcoólica Fetal apresentam fissura
palatina.
6.7- Drogas anticonvulsivantes
• A fenitoína é considerada um antifolato.
• Mulheres que utilizam drogas anticonvulsivantes apresentam um risco de 1% de
gerar filhos com fissuras, o que equivale a um risco aproximadamente 10 vezes
aumentado em relação à população em geral.
6.8- AS FISSURAS LABIOPALATINAS:
ABORDAGEM TERAPÊUTICA
• O processo de reabilitação das fissuras inicia-se com as cirurgias plásticas primárias,
queiloplastia e palatoplastia, realizadas nos primeiros meses e nos primeiros anos de
vida, respectivamente.
• Mas o processo reabilitador não se restringe ao reparo anatômico da fissura.
Dependendo do tipo e extensão da fissura, vários outros comprometimentos funcionais
e morfológicos — como a fala, audição, desenvolvimento da oclusão e crescimento
craniofacial — acompanham o indivíduo com fissuras, exigindo a intervenção da equipe
interdisciplinar em épocas oportunas, no afã de alcançar a reabilitação integral do
paciente com essa malformação. Geralmente, a reabilitação estende-se até a maturidade
esquelética e a Ortodontia constitui parte essencial da reabilitação estética e funcional.
Enxertia em fissurados
• Pacientes com fissuras de lábio e palato (fissuras dos palatos primário e secundário
simultaneamente) mostram más oclusões complexas.
• A ausência de tecido ósseo alveolar na região da fissura impõe modificações nas
angulações dentárias naturais dos dentes que irrompem vizinhos à fissura.
• O procedimento de enxerto ósseo alveolar secundário, realizado no final da dentadura
mista, imediatamente antes da erupção do canino permanente adjacente, soluciona essa
limitação alveolar na reabilitação bucal.
Imagem radiográfica
periapical do
rebordo fissurado.
A ausência de osso
alveolar na região
limita a movimen-
tação ortodôntica.
Conclusão
• Podemos dizer que a etiologia das más oclusões é multifatorial,
dividindo-a em fatores genéticos e fatores ambientais.
• A distinção dos fatores etiológicos, que podem ou não ser alterados
pelo homem, aponta os limites de nossa especialidade na
prevenção, tratamento e estabilização de irregularidades
dentofaciais.
• Além disso, ao entender o peso da genética na causalidade das
más oclusões, o profissional pode prever as chances de parentes e
filhos de pacientes ortodônticos desenvolverem irregularidades
semelhantes, aumentando seu poder de realizar um diagnóstico
precoce
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Garib D.G. Etiologia das más oclusões: perspectiva clínica (parte III) – fissuras labiopalatinas. Rev Clín Ortod Dental Press. 2010 ago-set;9(4):30-6
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