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Faculdade São Leopoldo Mandic

Centro de Pós-Graduação
Especialização em Prótese Dentária

UTILIZAÇÃO DE PLACAS
OCLUSAIS NO DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO DAS
DISFUNÇÕES
TEMPOROMANDIBULARES
Especializanda: Agira Cangy Mussá
Orientador: Prof. Dr. Milton Edson Miranda
INTRODUÇÃO

 O sistema mastigatório é constituído por três componentes


esqueléticos principais: a maxila, mandíbula e o osso
temporal (Okeson, 2013).

 A Articulação Temporomandibular (ATM) é uma articulação


sinovial interligada por músculos, tecidos retrodiscais e
ligamentos, do tipo ginglimo-artroidal (Nishimori et al., 2014; Cardoso,
2003).
INTRODUÇÃO

 A ATM é dotada de uma dinâmica capacidade de


remodelações adaptativas que lhe garantem o
funcionamento normal e eficiente, no entanto, ao longo da
vida alguns fatores podem criar interferências resultando
em disfunção (Okeson, 2013; Pihut et al., 2017).

 A etiologia das DTMs é complexa e multifatorial,


dependente de fatores pré-disponentes, desencadeantes e
perpetuantes, podendo em alguns casos um único fator
desempenhar um ou todos esses papéis (Okeson, 2013).
INTRODUÇÃO

 Para o controle bem sucedido das DTMs, por meio da


seleção de uma terapia efetiva, é essencial que o clínico
certifique-se que um histórico e exame completo suportam
o desenvolvimento de um tipo específico de DTM (Okeson, 2013).

 Existem muitas controvérsias sobre as formas de


diagnóstico e tratamento mais adequadas para as DTMs,
entretanto sugere-se formas mais conservadoras de
diagnóstico e tratamento.

 Neste contexto, as placas oclusais, apresentam grande


vantagem porque são consideradas reversíveis, de
confecção e uso fácil, e estas destinam-se a alterar a
condição oclusal temporariamente (Molina, 1997)
PROPOSIÇÃO

 O presente trabalho teve como objetivo fazer uma


revisão da literatura por meio de pesquisas que
relacionam o uso de placas oclusais no diagnóstico
e tratamento de disfunções temporomandibulares,
analisando sua eficácia e suas limitações.
Desordens
Temporomandibulares
REVISÃO DA LITERATURA

Desordens Temporomandibulares

• Disfunção temporomandibular (DTM) é um termo coletivo


que abrange um largo espectro de problemas clínicos da
articulação e dos músculos na área orofacial.

• As DTMs apresentam origem multifatorial não sendo


possível reconhecer um único fator etiológico
desencadeante.
(Carlsson et al., 2006)
REVISÃO DA LITERATURA

Classificação das Desordens Temporomandibulares

Classificadas em dois grandes grupos: patologias musculares


e articulares

a) Desordens dos músculos mastigatórios:

• Co-contração protetora;
• Sensibilidade dolorosa muscular local;
• Dor miofascial;
• Mioespasmo;
• Mialgia centralmente mediada.
Okeson (2013)
REVISÃO DA LITERATURA

Classificação das Desordens Temporomandibulares

b) Desordens da articulação temporomandibular:

• Desarranjo do complexo côndilo-disco;

• Desordens inflamatórias da ATM;

• Desordens inflamatórias das estruturas associadas.

Okeson (2013)
REVISÃO DA LITERATURA

Classificação das Desordens Temporomandibulares

c) Hipomobilidade mandibular crônica:

• Anquilose;

• Contratura muscular;

• Interferência pelo processo coronóide.

Okeson (2013)
REVISÃO DA LITERATURA

Classificação das Desordens Temporomandibulares

d) Desordens de crescimento:

• Desordens ósseas congênitas e de desenvolvimento;

• Desordens musculares congênitas e de desenvolvimento.

Okeson (2013)
Sinais e sintomas das Disfunções
Temporomandibulares
Okeson (2013); Miranda (2003)
REVISÃO DA LITERATURA

Tratamento das Disfunções Temporomandibulares

• Os métodos terapêuticos necessários para o tratamento das


DTMs envolvem duas categorias: tratamentos conservadores
e reversíveis e tratamentos irreversíveis.

• Métodos conservadores procuram alterar ou mudar a posição


mandibular e os padrões de contatos oclusais, permitindo um
bom relacionamento côndilo-disco e dando harmonia
muscular ao paciente. São a primeira opção pela natureza
reversível, e incluem modalidades farmacológicas, físicas e
biomecânicas.
REVISÃO DA LITERATURA

Tratamento das Disfunções Temporomandibulares

• Métodos irreversíveis que modificam a condição oclusal


como a modalidade oclusal e cirúrgica. (Molina, 1997).

• Segundo Miranda (2004), quando há o estabelecimento


rápido de uma DTM, com frequência controla-se com
medicação, calor e limitação de movimentos, mas se o
problema for de longa duração, se alcançam melhores
resultados com a inserção imedita de uma placa
estabilizadora.
Placas Oclusais
REVISÃO DA
LITERATURA
História:

• D.H. Goodwillie, 1881: tratamento de um paciente com um


aparelho para deslocamento anterior do disco (Ramjford & Ashm,
1994).

• Com o desenvolvimento e patenteamento da borracha


vulcanite em 1855, Charles Goodyear proporcionou aos
dentistas um material que poderia ser moldado para
diversos usos orais, como a ferulização em ossos
mandibulares fraturados (Room, 1986).

• Thomas Gunning em 1862, utilizou a vulcanite para fabricar


uma placa de encaixe para tratar uma fratura mandibular
por dois meses (Fraser & Moodie, 1969).
REVISÃO DA LITERATURA

História:

• James Bean, usou um dispositivo de vulcanite para fraturas


mandibulares enquanto servia no exército. Esta placa é
notavelmente semelhante aos aparelhos usados hoje para
tratar de DTMs (Dupont & Brown, 2006).

• M. Karolyi (1901), defendeu a utilização de um aparelho


feito de vulcanite para tratar periodontite alveolar. (Ramjford &
Ashm, 1994).
REVISÃO DA LITERATURA

Definição de Placas Oclusais

 Placa oclusal lisa é um aparelho biomecânico, removível,


que cobre a superfície oclusal e incisal dos dentes de um
arco dental, criando contatos bilaterais, simultâneos e
estáveis em cêntrica e desoclusão nos movimentos
excursivos, devolvendo a harmonia entre os componentes
articulares, musculares e oclusais (Miranda, 2005).

 Também é conhecida como placa estabilizadora, placa de


mordida, placa noturna, placa de bruxismo, aparelho
interoclusal, splint oclusal, placa de Michigan, placa de
Shore e placa lisa (Miranda, 2005).
REVISÃO DA LITERATURA

Caracteristicas das Placas Oclusais:

 Devem possuir a conformação fina;

 Ser estáveis e retentivas;

 Possuir uma superfície lisa;

 Recobrir toda a superfície oclusal e incisal;

 Ter guia anterior;

 Devem ter contatos posteriores mais fortes que os


anteriores.

(Nishimori, 2013)
REVISÃO DA LITERATURA

Mecanismos de Ação das Placas Oclusais


Miranda, ME; Teixeira, ML (2007)
REVISÃO DA LITERATURA

Classificação das Placas Oclusais

 De acordo com o mecanismo de ação

Estabilizadoras:

 É considerada como padrão ouro das placas oclusais;

 Constituem a primeira opção de escolha para DTMs;

 Também denominada placa oclusal lisa;

 O objetivo é eliminar qualquer instabilidade ortopédica entre a posição


oclusal e a articular;

 Também são úteis para pacientes que apresentam retrodiscite secundária


ao trauma;
Okeson, 2013; Miranda, ME & Teixeira, ML (2007)
REVISÃO DA LITERATURA

Classificação das Placas Oclusais

 De acordo com o mecanismo de ação

Estabilizadoras:

 Reduz a chance de desgaste dentário e de fratura dentária;

 Indicada para casos de mialgias e/ou artralgias, e como adjunto no tratamento


de deslocamento do disco articular;

 Seu uso pode diminuir a atividade parafuncional que frequentemente acompanha


os períodos de estresse;

 Geralmente indicadas para serem utilizadas durante o sono e por uma a duas
horas durante o dia;

 O tempo de utilização depende do tipo de problema que o paciente possui, mas


geralmente é de 4 meses.

Okeson, 2013; Miranda, ME & Teixeira, ML (2007)


REVISÃO DA LITERATURA

Classificação das Placas Oclusais

 De acordo com o mecanismo de ação

Reposicionadoras:

 Utilizadas quando o paciente apresenta deslocamento e desarranjos do


complexo côndilo/disco;
 Alguns transtornos inflamatórios são controlados com essa placa;
 Alteram a posição de máxima intercuspidação, posicionando a mandíbula
anteriormente;
 Não há consenso sobre o tempo diário de utilização;
 Está indicada para ser usada por um período de 8 a 10 semanas;
 Também são utilizadas para casos de apnéia obstrutiva do sono;
 Por muitos anos, o seu uso foi concebido para proporcionar uma extensa e
irreversível reconstrução oclusal.

Okeson, 2013; Miranda, ME & Teixeira, ML (2007)


REVISÃO DA LITERATURA

Classificação das Placas Oclusais

 De acordo com o material


Miranda, ME; Teixeira, ML (2007)

- Acrílico auto-polimerizável: feita diretamente na boca através


da técnica direta:

 Efetua-se a moldagem, vazamento, delimitação e confecção


da placa a partir de uma placa de acetato e preenchimento
oclusal e incisal com resina auto polimerizável;
 Adaptação da placa nos dentes superiores;
 Localização da posição musculoesqueleticamente estável;
 Ajuste da oclusão.
Okeson, 2013; Miranda, ME & Teixeira, ML (2007)
REVISÃO DA LITERATURA

Classificação das Placas Oclusais

 De acordo com o material:

Miranda, ME; Teixeira, ML (2007)

- Acrílico termo-polimerizável: feita em laboratório por meio da


técnica indireta: encerada e prensada em laboratório:

 Montagem dos modelos de gesso em articulador;


 Preenchimento das áreas retentivas do arco maxilar e
encerramento da placa;
 Modelo incluído em mufla;
 Ajuste para adaptação final na boca;
 Ajuste da oclusão.
Okeson, 2013; Miranda, ME & Teixeira, ML (2007)
REVISÃO DA LITERATURA

Classificação das Placas Oclusais

 De acordo com o material:


- Acrílicos resilientes

 O objetivo do tratamento é atingir contatos iguais e simultâneos com os


dentes antagonistas;

 A indicação mais comum é como um aparelho protetor; para pacientes que


sofrem de sinusites recorrentes ou crônicas e podem ser usadas em alguns
pacientes com bruxismo e alto nível de apertamento apenas como
protetores, sem DTM;

 Comumente inseridas imediatamente após o exame inicial;

 Tem como vantagem a simplicidade de confecção e tem como


desvantagem em uso prolongado, causar mudanças nas posições dos
dentes e ser deletéria para os músculos da mastigação.

Okeson, 2013; Miranda, ME & Teixeira, ML (2007)


REVISÃO DA LITERATURA

Classificação das Placas Oclusais

 De acordo com o material e método de confecção

- Silicones / polivinil - Pré-fabricadas

Miranda, ME; Teixeira, ML (2007)


REVISÃO DA LITERATURA

Classificação das Placas Oclusais

 De acordo com a cobertura oclusal

- Cobertura parcial com contatos apenas nos dentes


anteriores (Jig, Front Plateau):

 Sua pretensão inicial é desocluir os dentes posteriores;


 Sugerida para o tratamento de transtornos musculares
relacionados com a instabilidade ortopédica ou uma
alteração aguda na condição oclusal;
 Algumas complicações podem surgir como a extrusão dos
dentes posteriores e intrusão dos anteriores;
 A terapia com esta placa deve ser monitorada de perto e é
recomendada por períodos curtos.
Okeson, 2013; Miranda, ME & Teixeira, ML (2007)
REVISÃO DA LITERATURA

Classificação das Placas Oclusais

De acordo com a cobertura oclusal

- Cobertura parcial com contatos apenas nos dentes


posteriores (Placa de Gelb):

 Indicadas em casos de perda severa da dimensão vertical ou


quando há necessidade de grandes alterações no
posicionamento anterior da mandíbula;

 Geralmente confeccionada para os dentes inferiores, em


acrílico duro e conectada por uma barra lingual de metal
fundido;

 Oclusão apenas nos dentes posteriores


Okeson, 2013; Miranda, ME & Teixeira, ML (2007)
REVISÃO DA LITERATURA

Classificação das Placas Oclusais

De acordo com a cobertura oclusal

• Cobertura total, envolvendo todos os dentes do arco:

 É geralmente mais estável por envolver todos os dentes;

 É mais versátil;

 Fornece maior estabilidade;

 Auxilia na localização da posição músculo esqueletica


estável dos côndilos na fossa.
Okeson, 2013; Miranda, ME & Teixeira, ML (2007)
CONCLUSÃO

 As placas oclusais têm tido um lugar de destaque no


diagnóstico e tratamento das DTMs por serem de baixo
custo, reversíveis e por atingirem um elevado índice de
sucesso.

 Não existe uma placa que é útil para tratar todas as DTMs.
Existem DTMs que não respondem à terapia por placas,
sendo necessárias formas de tratamento adicionais.

 Placas confeccionadas com material rígido demonstraram


ser mais efetivas que as confeccionadas com material
resiliente, sendo recomendadas como primeira escolha.
CONCLUSÃO

 Muitos casos de insucessos com o tratamento de placas


está relacionado a um diagnóstico incorreto e, por
conseguinte, a uma terapia inadequada.

 Apesar de existirem muitos estudos sobre o uso de placas


oclusais, seu mecanismo de ação não está totalmente
compreendido.

 A placa oclusal estabilizadora, é a mais utilizada, pois causa


menor risco de alterações oclusais irreversíveis ao paciente.
REFERÊNCIAS

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• Miranda ME, Silva JE. Avaliação longitudinal da efetividade das placas oclusais reposicionadoras no controle de
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Odontologia de Bauru; 2000.
• Miranda ME. Review em ATM e Oclusão. 1ª ed. Quintessence; 1988.
REFERÊNCIAS

• Miranda ME, Teixeira ML. A utilização das placas oclusais no controle das Disfunções Temporomandibulares
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• Molina OF. Placas de Mordida na Terapia Oclusal. São Paulo: Pancast; 1997.
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• Okeson JP. The effects of hard and soft occlusal splints on nocturnal bruxism. J Am Dent Assoc. 1987 Jun;
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• Okeson JP. Tratamento das desordens temporo-mandibulares e Oclusão. 7ªed. São Paulo: Elsevier; 2013.
• Paiva HJ. Noções e Conceitos Básicos Em Oclusão Disfunção Temporomandibular Dor. 1ª ed. Editora:
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• Pertes AR e Gross SG. Tratamento Clínico das Disfunções Temporomandibulares e da Dor Orofacial. São
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• Pihut M, Gorecka M, Ceranowicz P, Wieckiewicz M. The Efficiency of Anterior Repositioning Splints in the
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• Pihut ME, Margielewicz J, Kijak E, Wiśniewska G. Evaluation of articular disc loading in the
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