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Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic

Curso de Pós-Graduação em Prótese Dentária


Coordenador: Prof. Dr. Milton Edson Miranda

Ajuste oclusal por desgaste seletivo em dentes naturais

Técnica para o Ajuste Oclusal


A sequência do ajuste oclusal por desgaste seletivo descrita a seguir consiste em
uma adaptação da técnica proposta por Huffman & Regenos (1977), denominada como
Técnica Cúspide-Fossa1, abordando também princípios descritos por Bataglion e Nunes
(2009)2. Didaticamente, o ajuste oclusal deve ser realizado em três etapas: I. Relação
Cêntrica; II. Lateralidade (direita e esquerda); e III. Protrusão.

I. Relação Cêntrica (RC)


O objetivo do ajuste oclusal em RC consiste na coincidência entre a máxima
intercuspidação (MIC) e a posição de uma relação cêntrica fisiológica (RC), a fim de
propiciar uma estabilidade perfeita das cúspides de trabalho (cúspides vestibulares
inferiores e palatinas superiores) em suas respectivas fossas. Na maioria dos indivíduos,
há um grau de deslizamento da mandíbula da posição de RC para MIH, chamado
deslize em cêntrica ou má oclusão deflectiva, que pode gerar componentes lateral e
anterior de força2,3.
Baseando-se na Técnica Cúspide-Fossa, quando houver contato prematuro em
RC, deve-se ajustar sempre as cúspides de trabalho. Nesse momento, é importante
considerar que todas as vertentes direcionadas para a fossa central denomina-se
“vertentes internas”, enquanto as vertentes em direção oposta à fossa central denomina-
se “vertentes externas” (Figura 1).

Figura 1. Destaque para as vertentes internas e externas observadas nas superfícies dentais.

Prof. Milton Edson Miranda, DDS, MS, PhD; Andréa Araújo de Vasconcellos, DDS, MS, PhD.
Os contatos prematuros são classificados como tipo “A”, “B” ou “C” (Figura 2).

Figura 2. Contatos prematuros do tipo “A”, “B” e “C”.

a. Em contatos classificados como tipo “A” e tipo “C”, que desviam a mandíbula em
direção à linha média, observa-se que o contato prematuro ocorre entre a vertente
externa da cúspide de trabalho contra a vertente interna da cúspide de não trabalho.
Dessa forma, deve-se desgastar a vertente externa da cúspide de trabalho.
 Contatos tipo “A”: deve-se desgastar a vertente externa da cúspide
vestibular inferior até que o contato migre para a ponta da cúspide e
oclua na fossa oponente (Figura 3).

Figura 3. Contatos do tipo “A”. As setas correspondem ao local para onde os contatos prematuros
deverão ser migrados.

Prof. Milton Edson Miranda, DDS, MS, PhD; Andréa Araújo de Vasconcellos, DDS, MS, PhD.
 Contatos tipo “C”, deve-se desgastar a vertente externa da cúspide
palatina superior até que o contato migre para a ponta da cúspide e oclua
na fossa oponente (Figura 4).

Figura 4. Contatos do tipo “C”. As setas correspondem ao local para onde os contatos prematuros
deverão ser migrados.

b. Em contatos tipo “B”, que desviam a mandíbula em direção oposta à linha média,
observa-se contato prematuro entre as vertentes internas de duas cúspides de
trabalho. Assim, o desgaste deve ocorrer meio a meio, desgastando a vertente
interna da cúspide palatina superior e a vertente interna da cúspide vestibular
inferior até que o contato migre para a ponta da cúspide e oclua na fossa oponente.

Figura 5. Contatos do tipo “B”. As setas correspondem ao local para onde os contatos prematuros
deverão ser migrados.

Prof. Milton Edson Miranda, DDS, MS, PhD; Andréa Araújo de Vasconcellos, DDS, MS, PhD.
O objetivo desses desgastes em Relação Cêntrica consiste em migrar o contato
prematuro para a ponta da cúspide e deslocar a ponta da cúspide para ocluir na fossa
oponente, de forma a diminuir a tábua oclusal e direcionar a força no sentido axial do
dente. Entretanto, caso o contato tenha migrado para ponta da cúspide mas ainda haja
prematuridade, deve-se proceder da seguinte maneira: se nos movimentos excursivos a
cúspide desocluir, deve-se aprofundar a fossa. Entretanto, se há contato da cúspide em
cêntrica e nos movimentos excursivos, deve-se desgastar a ponta da cúspide. É
importante destacar que, uma vez estabelecida a oclusão em RC (MIC = RC), não se
deve desgastar mais as vertentes internas e/ou externas das cúspides de trabalho.

II. Lateralidade (esquerda e direita)


O objetivo do ajuste oclusal em lateralidade é manter uma oclusão mutuamente
protegida, com contato apenas em caninos durante os movimentos de lateralidade.
Interferências dentárias, principalmente no lado de não trabalho, são extremamente
patogênicas ao sistema estomatognático2.
Para o ajuste oclusal em lateralidade, aplica-se a Regra de “BULL” (Bucal
Upper – Lingual Lower). Assim, em casos de interferências em dentes posteriores
durante movimentos de lateralidade, deve-se desgastar sempre as vertentes internas das
cúspides de não trabalho, ou seja, vestibular superior e lingual inferior. Dessa forma, a
estabilidade oclusal com contatos simultâneos das cúspides de trabalho é mantida
inalterada.
Após todos esses passos, frequentemente os contatos do lado de balanceio serão
automaticamente eliminados. Entretanto, se esses contatos ainda persistirem, devem ser
eliminados, tornando as cúspides mais ponteagudas, promovendo uma passagem livre
das cúspides oponentes. Deve-se ter cuidado para que os contatos já conseguidos em
cêntrica não sejam alterados.

III. Protrusão
Por fim, realiza-se o ajuste oclusal durante o movimento protrusivo da
mandíbula. Assim, observa-se quais dentes anteriores estão envolvidos na guia anterior
e se existe a desoclusão de todos os dentes posteriores durante o movimento de
protrusão (Fenômeno de Christensen).
a. Quando há contato prematuro dos dentes posteriores, deve-se seguir a Regra de
BULL, desgastando-se sempre as cúspides de não trabalho (cúspide vestibular
superior e lingual inferior);
b. Se apenas um dente anterior mantiver contato durante o movimento protrusivo,
deve-se desgastar a concavidade palatina dos dentes anteriores superiores até
que os seis dentes tenham contato durante o início da protrusão e mantenham a
desoclusão dos dentes posteriores.

Prof. Milton Edson Miranda, DDS, MS, PhD; Andréa Araújo de Vasconcellos, DDS, MS, PhD.
Referências
1. Huffman RW, Regenos JW. Principles of occlusion laboratory and clinical teaching
manual: The Ohio State University. Columbus: H and R Press; 1977.
2. Bataglion C, Nunes LJ. Ajuste oclusal por desgaste seletivo: procedimentos
laboratoriais e clinicos. 1ª ed. São Paulo: Santos; 2009.
3. McHorris WH. Occlusal adjustment via selective cutting of natural teeth. Part II. Int
J Periodontics Restorative Dent. 1985b;5(6):8-29.

Prof. Milton Edson Miranda, DDS, MS, PhD; Andréa Araújo de Vasconcellos, DDS, MS, PhD.

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