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ENCERAMENTO PROGRESSIVO

Alfredo Julio Fernandes Neto & Marlete Ribeiro da Silva - Univ. Fed. Uberlândia - 2006

Os critérios para o sucesso de uma funcionais ou de contenção cêntrica),


reabilitação oral incluem, além das ocluem nas fossas dos antagonistas
habili-dades técnicas clínicas e triturando o alimento que escapa pelo
laboratoriais, o conhecimento da trajeto dos sulcos principais e
harmonia entre os componentes secundários, (fig. 01).
fisiológicos do aparelho estomatognático
- AE: ATMs, oclusão dentária
(morfologia oclusal), sistema
neuromuscular e periodonto.
A morfologia oclusal em harmonia
com os demais componentes do aparelho
estomatognático, promove um estímulo
fisiológico ao periodonto imprescindível
na manutenção da estabilidade oclusal.
Para isto, a superfície oclusal deve: Fig. 01 - Apresentação esquemática da trituração
1. Apreender e triturar alimentos; e escape do alimento, pelo dentes posteriores.
(desenho modificado de THOMAS, P.K.)
2. Estar em harmonia com os tecidos
adjacentes; 2. Harmonia com os tecidos
3. Direcionar as forças no longo eixo do adjacentes.
dente; O movimento articular implica em
4. Promover conforto e, movimento mandibular. Este movimento
5. Ausência de interferência oclusal. apresenta vários padrões de diferenças
1. Apreensão e corte dos alimentos. individuais, entre eles, a configuração de
As estruturas que compõem a superfície ambas as fossas condilares, o relaciona-
oclusal dos dentes posteriores são: mento vertical dos dentes anteriores e o
cúspides (ponta, vertentes triturantes e relacionamento da mandíbula com o
lisas, arestas longitudinais mesial e crânio através do sistema neuromuscular,
distal), sulcos, fossas e cristas marginais (fig. 02).
mesial e distal. O relacionamento ideal dos elemen-
As cúspides vestibulares superiores tos da oclusão deve ser tal que os dentes
e linguais inferiores (cúspides não posteriores nunca se contatem durante o
funcionais ou de não contenção cêntrica), movimento mandibular, e este inicie e
exercem a função de apreensão e corte termine na posição fisiológica inicial dos
dos alimentos. movimentos mandibulares, relação cêntri-
As cúspides palatinas superiores e ca - RC. O contato dos dentes posteriores
vestibulares inferiores (cúspides durante os movimentos mandibulares
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poderá resultar ao sistema neuromuscular


uma situação de estresse, uma desordem
Fig. 04 - Direcionamento das
no periodonto de sustentação, um desgas- forças oclusais no longo eixo
te dentário e ou desordem nas ATMs. dos dentes posteriores.
(desenho modificado de
THOMAS, P.K.)

4. Promover conforto.
Uma restauração fisiológica é
aquela cujo paciente não tem consciência
da mesma, seja em função ou não, não
causando nenhum desconforto ao
Fig. 02 - Harmonia dos elementos da oclusão, e paciente. Dessa maneira, a superfície
entre estes e o sistema neuromuscular. (desenho oclusal de uma restauração deve estar em
modificado de THOMAS, P.K.) harmonia com os movimentos mandibu-
lares, não induzindo nenhum estresse ao
3. Direcionamento das forças sistema neuromuscular, (fig. 05).
oclusais no longo eixo dos dentes.
A força lateral que incide sobre os
dentes é sempre destrutiva ao periodonto.
Quando os dentes naturais ocluem em
uma relação cúspide-fossa, os contatos
devem ser do tipo tripoidismo, (fig. 03).

Fig.. 03 - Côn-
tatos de tripoidis-
mo na oclusão
dentária. desenho
modificado de
Fig. 05 - Representação esquemática da estabili-
THOMAS, P.K.)
dade condilar e oclusal, proporcionando conforto
ao sistema neuromuscular. (desenho modificado
de THOMAS, P.K.)

5. Ausência de interferência
oclusal.
Dessa maneira, quando os dentes Assim que se inicia o movimento
posteriores ocluem numa relação cúspide- mandibular os dentes posteriores são
fossa, a força é direcionada no longo eixo separados devido à função harmoniosa
do dente (fig. 04). Assim, a força não será entre os dentes anteriores (guia anterior)
deflectiva, seja no sentido vestíbulo- e a fossa condilar. Os dentes posteriores
lingual ou mesio-distal. antagônicos não podem contatar durante
os movimentos mandibulares, essa
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relação é chamada de desoclusão, (fig. 4. Força oclusal vertical.


06B). 5. Tripoidismo.
Já o contato das cúspides dos 6. Guia anterior - GA.
dentes posteriores durante os movimentos 7. Limitação da mesa oclusal.
mandibulares são referidos como 1. Oclusão em relação cêntrica é a
interferência oclusal, (fig. 06C). coincidência da relação cêntrica com a
intercuspidação bilateral simultânea e
uniforme, na oclusão dentária.
2- Estabilidade oclusal é obtida
através dos contatos dentários bilaterais
simultâneos, em RC e com a mesma
intensidade quando da oclusão dentária.
A B C Pequenos movimentos mandibulares
Fig. 06 - Relacionamento oclusal, A: ORC, B: desocluem os dentes posteriores.
desoclusão durantes os movimentos mandibu- 3- Relacionamento oclusal:
lares, C: interferência oclusal durante os 3.1- cúspide x fossa: é a relação de
movimentos mandibulares. (desenho modificado
um dente contra um dente, através da
de THOMAS, P.K.)
oclusão das cúspides funcionais dos
Oclusão orgânica dentes inferiores (vestibulares) ocluindo
nas fossas dos dentes superiores (fig. 07A
O homem adquire no decorrer da e 07C) e as cúspides funcionais dos
vida vários tipos de oclusão. No entanto, dentes superiores (palatinas) nas fossas
estas relações oclusais nem sempre são dos inferiores, (fig. 07B).
ideais para os dentes naturais, periodonto,
ATMs e demais componentes do
aparelho estomatognático.
Na busca de uma oclusão A
harmônica com a biologia dos tecidos e a
fisiologia do aparelho estomatognático,
Stallard, Stuart e Thomas baseados nos
trabalhos de McCollum, que a princípio
acreditava na oclusão balanceada,
estabeleceram os requisitos da oclusão
B
orgânica para dentes naturais.
Sendo aplicada pelos gnatologistas
na prática da reabilitação oral e no
tratamento da oclusão patológica, a
oclusão orgânica é também largamente C
reconhecida pelos periodontistas.
A oclusão orgânica é o arranjo
fisiológico da dentição. Fig.
Requisitos de uma oclusão 07 - Relacionamento oclusal cúspide x fossa: A -
orgânica: oclusão das cúspides funcionais dos dentes
1. Oclusão em relação cêntrica - ORC. inferiores (vestibulares) nas fossas dos dentes
2. Estabilidade oclusal - EO. superiores; B - oclusão das cúspides funcionais
3. Relacionamento oclusal.
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dos dentes superiores (palatinas) nas fossas dos No quadro 01 observa-se a


inferiores; C- relação cúspide x fossa em OCR. comparação dos relacionamentos
A oclusão cúspide-fossa direciona oclusais, cúspide versus fossa e cúspide
as forças para o longo eixo dos dentes e é vesus crista marginal:
fisiológica (Fig. 08). Quadro comparativo dos tipos de oclusão
Cúspide- Cúspide-crista
fossa marginal
Fig. 08 - Direcionamento Localização Somente nas Cristas
das forças para o longo dos contatos fossas marginais e
eixo do dente em uma oclusais nos oclusais fossas oclusais
relação cúspide x fossa. antagonistas
(desenho modificado de Relação entre Um dente Um dente
THOMAS, P.K.) os dentes contra um contra dois
antagonistas dente dentes
Vantagens Forças Encontra-se
oclusais no em 95% dos
eixo médio adultos
longitudinal
3.2- Cúspide x crista marginal: do dente
Este tipo de oclusão é freqüente- Desvantagens Raramente é Impacções
encontrada alimentares e
mente encontrado nos dentes naturais em dentes deslocamento
(fig. 09A). naturais de dentes
Ao contrário da oclusão cúspide x Aplicações Em Na maioria
fossa, que é estável com o tripoidismo, na reabilitações das
oclusão cúspide x crista marginal tanto a orais restaurações
completas na prática
cúspide de contenção, como as cristas
diária
marginais tendem a se desgastar e a Quadro 01- Comparação dos relacionamentos
impactar alimentos no espaço interpro- oclusais.
ximal (fig. 09B), sendo potencialmente
destrutiva ao periodonto. 4- Força oclusal vertical na oclusão
dentária, é o contatar uniforme dos dentes
posteriores quando ocluem numa relação
cúspide fossa (Fig 10).
A Este relacionamento objetiva dire-
cionar a força oclusal no longo eixo
médio do dente, evitando sobrecarga late-
ral e produzindo uma relação fisiológica.

Fig. 10 - Força oclusal


vertical na oclusão dentária.
Fig. 09 - A: Relacionamento oclusal cúspide x (desenho modificado de
crista marginal; B: relação de um dente contra THOMAS, P.K.)
dois dentes, resultando em impacção alimentar e
injúrias ao periodonto. (desenho modificado de
THOMAS, P.K.)
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Numa vista vestíbulo lingual, na


5- Tripoidismo é o contato tipo figura 14.A, os contatos na oclusão
tripé entre as cúspides funcionais e as cúspide-fossa são denominados A, B, C.
fossas antagonistas dos dentes em uma Sem o contato A ou C, a força oclusal
relação cúspide-fossa, (Fig. 11). pode ser direcionada próxima ao longo
Fig 11 - Dese- eixo do dente com grau de tolerância. No
nho esquema- entanto sem o contato B, a força oclusal é
tico do tripé na aplicada lateralmente, criando uma
fossa. (desenho oclusão patológica, logo o contato B é
modificado de
THOMAS,
extremamente importante (fig. 14.B).
P.K.).

A fossa é uma depressão criada por A B


C
três elevações e a cúspide toma a forma
de uma esfera. O contato entre estas é
similar ao de uma bola suportada por três
dedos, criando um tripé. Naturalmente, a A B
cúspide nunca toca o fundo da fossa, fig. Fig. 14 - Conatos na oclusão cúspide fossa, A:
12. pontos de contatos A, B e C; B: ausência do
contato B. (desenho modificado de THOMAS,
P.K.)

Onde ocorrer pontos de contato


versus superfície de contato, haverá um
aumento na eficiência de corte das
restaurações e proporcionará uma
desoclusão imediata, fazendo com que as
restaurações se tornem mais duradouras.
Fig. 12 - Representação esquemática do relacio- Já o contato entre duas superfícies
namento cúspide fossa (desenho modificado de
THOMAS, P.K.).
desgastadas tem o perigo potencial de
incluir força oclusal lateral, e são sempre
Esse relacionamento produz o deteriorantes.
máximo de estabilidade no sentido 6- Guia anterior, ocorre durante os
vestíbulo-lingual e mesio-distal, com o movimentos mandibulares, quando todos
mínimo contato o que evita a abrasão de os dentes posteriores se afastam, não
ponta de cúspide funcional, (fig. 13). contatando, até que entrem em oclusão no
final do ciclo mastigatório.
Na oclusão orgânica os dentes
anteriores protegem os posteriores e os
posteriores, os anteriores. É a chamada
oclusão mutuamente protegida.
O termo desoclusão, significando
separação, é utilizado em contraste com o
termo oclusão. Especificamente, desoclu-
Fig. 13: Representação esquemática do são significa que os dentes posteriores
tripoidismo, (desenho modificado de THOMAS, (que ocluem por meio das faces oclusais)
P.K.). são separados durante os movimentos
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mandibulares pelos anteriores (que vez, o SNC envia uma mensagem ao


incisam por meio das faces incisais) e que músculo, e este desvia a mandíbula de
os anteriores são separados quando os sua trajetória fisiológica. Esta tendência é
dentes posteriores ocluem. Por tanto em particularmente aparente, no movimento
condições anatomo fisiológicas o que antecede o retorno da mandíbula para
indivíduo não oclui e incisa ao mesmo a posição fisiológica de fechamento.
tempo. O fato dos posteriores não 7-Limitação da mesa oclusal, em
contatarem nos movimentos mandibu- uma restauração, a mesa oclusal não deve
lares, mantém a superfície oclusal dos ser maior que a dimensão original do
posteriores sem facetas, conservando a dente natural, diretamente relacionada ao
oclusão estável, (fig. 15). dente antagonista, pois seu aumento
resulta em uma maior dificuldade em
direcionar a força oclusal no longo eixo
do dente, (Fig. 17).

Fig. - 15 Representação esquemática da 6


desoclusão dos dentes posteriores pela ação da 10
guia anterior. (desenho modificado de THOMAS,
P.K.)

Qualquer contato nos dentes poste-


riores feito durante o movimento mandi-
bular, é chamado interferência oclusal.
Quando esta interferência existe, a força
oclusal é aplicada lateralmente ao dente
sendo destrutiva ao periodonto, Fig. 16.
Fig. 17 - Limitação da mesa oclusal para melhor
direcionamento das forças oclusais no longo eixo
do dente. (desenho modificado de THOMAS,
P.K.)
Fig. 16 - Interferência
oclusal durante movimento Na superfície oclusal, cúspide,
mandibular. (desenho fossa e sulcos definidos proporcionam
modificado de THOMAS,
P.K.)
uma mastigação e desoclusão mais
efetivas.
Para o melhor entendimento de
todos estes fundamentos se faz necessário
o exercício de escultura pela técnica de
enceramento progressivo, para o que
deve-se primeiramente obter um modelo
Quando ocorre uma interferência de trabalho a partir da moldagem com
oclusal durante o ciclo mastigatório, esta alginato de um modelo padrão e montá-lo
é reconhecida pelos sensores proprio- em um articulador semi-ajustável.
ceptivos do periodonto (aferentes), e a
mensagem é transmitida ao SNC. Por sua Modelo de trabalho
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Para a obtenção de restaurações


adequadas é fundamental um modelo de
trabalho de boa qualidade.
Requisitos de um modelo de
trabalho:
1. Abranger toda a arcada dentária.
2. Ausência de bolhas, principalmente Fig. 19 - Modelo de trabalho do arco dentário
no término cervical dos preparos. superior, com troquel recortado do dente 21.
3. Inexistência de distorções.
4. Permitir a obtenção de troqueis Moldagem do modelo padrão
removíveis e recortados, que facilite o
acesso á área cervical dos preparos Material e instrumental necessários,
dentários, durante os procedimentos (fig. 20):
laboratoriais de enceramento e - Modelos padrão da arcada dentária
selamento de borbo. - Alginato (hidrocolóide irreversível)
Troquel é a reprodução positiva da - Proporcionadores para o alginato
forma do dente preparado em material - Jogo de moldeiras com retenção
adequado, (figs. 18 e 19). Este material é - Cubeta de borracha
o gesso, pois possui: resistência, - Espátula para alginato
compatibilidade com todos os materiais
de moldagem, fácil vazamento, excelente
tempo de trabalho (pode ser trabalhado
em questão de horas), cor contrastante
com a cera e o metal, fácil recorte e
precisão dimensional (expansão
aproximada de 0,1%).

Fig. 20 - Material e instrumental necessários para


moldagem do modelo padrão.

As moldeiras utilizadas necessitam


de retenções para o material de
moldagem (fig. 21).

Fig. 18 - Modelo de trabalho do arco dentário


superior.

Fig. 21 - Moldeiras metálicas com retenção

O material de moldagem utilizado é


o alginato na proporção água/pó
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recomendada pelo fabricante, manipulado


manualmente por 45 a 60 seg.
A estabilidade dimensional do
modelo de trabalho está diretamente
relacionada ao tempo de contato da
superfície do gesso com o molde, e à
expansão de presa do gesso, cujo controle
está no uso da correta proporção água/pó
recomendada pelo fabricante. Fig. 25 - Carregamento da moldeira previamente
selecionada com alginato.

Fig. 22 - Colocação da água proporcionada na


cubeta de borracha, antes da colocação do pó de Fig. 26 - posicionamento do modelo padrão sobre
alginato. a moldeira carregada com alginato, para a
obtenção do molde.

Vazamento do modelo de trabalho

Material e instrumental necessários:


- Gesso pedra especial, tipo IV
- Gesso pedra, Tipo III
- Pinos metálicos para troquel (um médio
para pré-molar e um grande para molar)
- Alfinetes de cabeça (quatro)
Fig. 23 - Manipulação do alginato por 45 seg., até - Vaselina
adquirir consistência cremosa. - Pincel nº 02
- Lâmpada a álcool com pavio
- Cera pegajosa (um bastão)
- Cubeta de borracha
- Espátula e faca para gesso
- Gotejador de cera.
1- Lavagem e secagem do molde.
2- Posicionamento e estabilização
dos pinos para troquel no molde:
centralizar o pino no molde do preparo
Fig. 24 - Colocação do alginato sobre os dentes com o chanfrado voltado para a proximal,
pilares com o dedo indicador.
tendo a extremidade inferior do pino em
nível do término cervical. Em caso de
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preparos múltiplos, os pinos devem ser proporção recomendada pelo fabricante


paralelos entre si, para facilitar a remoção (qualquer alteração pode influenciar no
dos troqueis. As opções de fixação dos tempo de presa, porosidade, expansão de
pinos são: aparelho posicionador de pinos presa e dureza final), (fig. 30).
para troquel, cera pegajosa, cola
superbond e alfinetes (figs. 27 e 28).

Fig. 30 - Material e instrumental necessário para o


vazamento do modelo.
Fig. 27 - Posicionamento e estabilização dos
pinos para troquel sobre o molde dos dentes
preparados por meio de alfinetes.
A manipulação do gesso é manual
por 45 seg.
O vazamento do gesso sobre o
molde inicia-se no lado próximo aos
dentes preparados, fazendo com que o
gesso escoe de distal para mesial sempre
num único sentido. Utilizando-se de um
pincel, com a moldeira inclinada sobre
um vibrador, para auxiliar o escoamento
do gesso e evitar a inclusão de bolhas de
ar, que deverá apresentar ao final,
Fig. 28 - Centralização e posicionamento - altura aproximadamente 2,0 cm de altura. O
do pino no molde em relação à margem cervical. gesso especial não deve ser estendido em
direção ao palato ou região lingual, (figs.
31 e 32).

Fig. 29 - Fixação dos pinos aos alfinetes suportes


com cera pegajosa.

3- Vazamento da primeira camada Fig. 31 - Início do vazamento do gesso sobre o


de gesso pedra do tipo IV. molde pelo lado próximo aos dentes preparados.
Proporção água/pó: pesar 30 g. de
gesso pedra tipo IV e manipular na
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Fig. 32 - Conclusão do vazamento da primeira Fig. 34 - Cera utilidade na extremidade dos pinos
camada de gesso.

Retenções com o próprio gesso ou 6- Vazamento da segunda camada


com alças metálicas devem ser de gesso tipo III.
confeccionadas com a finalidade de fixar Proporção água/pó: pesar 100 g. de
a segunda camada de gesso a ser vazada. gesso pedra tipo III e manipular na
Estas devem ser posicionadas antes da proporção recomendada pelo fabricante,
presa final do gesso, na mesial e na distal por 45 seg.
dos pinos metálicos, assim como entre
eles.
4- Isolamento dos pinos e gesso
adjacente: após a presa inicial da primeira
camada de gesso (30 min.), com vaselina
sólida e auxílio de um pincel isola-se os
pinos e o gesso na área correspondente
aos dentes preparados. Nesta etapa
removem-se os alfinetes, (fig. 33).

Fig. 35 - Conclusão do vazamento da segunda


camada de gesso.

Faz-se o vazamento do gesso sobre


a primeira camada, não cobrindo a cera
utilidade nas extremidades dos pinos
metálicos para facilitar a remoção dos
troquéis do modelo, (fig. 35).
Fig. 33 - Isolamento dos pinos e gesso adjacente,
observar as retenções com gesso.
7- Separação do modelo/molde e
recorte: após uma hora remove-se o
5- Cera utilidade na extremidade modelo do molde, na direção do longo
dos pinos: coloca-se uma porção de cera eixo dos dentes, evitando movimentos
utilidade nas extremidades dos pinos para laterais, o que levaria a possíveis fraturas
possibilitar a posterior localização e dos mesmos, (fig. 36).
acesso aos mesmos, (fig. 34).
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Fig. 36 - Após a separação do molde e modelo, o


modelo padrão e o modelo trabalho em gesso.
9 Fig. 37 - Ajuste das guias condilares -parede
As características desejáveis de um mediana: 15º
modelo de trabalho em relação aos
troquéis são:
1- a superfície do gesso deve estar
lisa e resistente;
2- inexistência de bolhas,
distorções ou partes ausentes;
3- nítida separação entre o término
cervical do preparo e os tecidos
adjacentes, permitindo visualização da
margem cervical do prepara a ser
recortada.
9 Fig. 38 - Ajuste das guias condilares - parede
Montagem dos modelos de trabalho em superior: 30º.
articulador: 9 Controle anterior (guia incisal) - o
pino guia deve ser posicionado em
Material e instrumental necessários: relação ao ramo superior do articulador
- Articulador semi-ajustável no ponto zero, e em relação ao ramo
- Modelos de gesso inferior do articulador centralizado na
- Cubeta de borracha mesa incisal, obtendo-se assim o
- Espátula e faca para gesso paralelismo entre os ramos do ASA (fig.
- Espátula nº 7 ou 31 39).
- Pincel nº 02
- Quatro palitos de madeira ou hastes
metálicas
- Lâmpada a álcool com pavio
- Gesso pedra
- Vaselina sólida
- Cera pegajosa ou cola superbond
- Cera utilidade.

Ajuste do articulador:
9 Controle posterior (guias
condilares) -parede mediana: 15º, (fig. Fig. 39 - Ajuste do pino guia.
37) e parede superior: 30º, (fig. 38).
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As placas de montagem devem ser


fixas nos ramos superior e inferior do
articulador, vaselinando as retenções das
mesmas com o uso de pincel e vaselina
sólida, (fig. 40).

Fig. 41 - remoção da porção de cera e recorte do


modelo, criando acesso lateral.

3- Fazer retenções nas bases dos


modelos superior e inferior (utilizando
Fig. 40 Fixação das placas de montagem dos
modelos.
faca para gesso ou disco cortante), e em
seguida, hidratá-los somente na região da
Na montagem dos modelos de base, o que permitirá uma fixação efetiva
trabalho de um caso clínico, faz-se com o gesso da montagem, (fig. 42).
inicialmente a montagem do modelo
superior na posição determinada pela
transferência com o arco facial, e em
seguida o modelo inferior, por meio do
registro maxilo-mandibular.
Em se tratando da montagem de um
modelo simulando uma condição clínica
para o desenvolvimento do exercício de
enceramento progressivo, monta-se
inicialmente o modelo inferior e, em
seguida, o superior.
Preparo dos modelos de trabalho Fig. 42 - Colocação de camada de cera sobre o
para a montagem: acesso lateral e confecção de retenções na base do
1- Remover a porção de cera modelo.
utilidade posicionada na extremidade dos
Montagem do modelo inferior
pinos para troquéis no modelo inferior;
2- Recortar o gesso, criando um 1- Pesar 100 g. de gesso pedra na
acesso lateral às extremidades dos pinos proporção água/pó recomendada pelo
cobrindo-os com uma camada de cera fabricante, manipular por 45 seg., e
utilidade para preservá-los após a colocar sobre a placa de montagem
completa montagem dos modelos, (fig. inferior e na base do modelo (figs 43 e
41); 44).
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Fig. 43 - Proporcionamento do gesso e água. Fig. 46 - Colocação do gesso sobre a placa de


montagem do modelo no articulador.

3- Com o auxílio de duas placas


metálicas, posicionar o modelo no sentido
antero-posterior, fazendo com que as
pontas das cúspides do terceiro molar e
do canino, toquem bilateralmente na
superfície da placa, que deve estar com
sua base devidamente apoiada na mesa de
trabalho, (fig. 47).

Fig. 44 - Manipulação do gesso e água em cubeta


de borracha.

2- Quando o escoamento do gesso


diminuir o suficiente para suportar o peso
do modelo, este deve ser centralizado,
isto é, sua linha média coincide com a
posição do pino guia incisal. Deve ser
colocado exatamente sobre a placa de
montagem, não tomando posição anterior
Fig. 47 - Posicionamento das placas para auxílio
ou posterior, o que poderá dificultar a
na montagem do modelo inferior.
montagem do modelo superior, (figs. 45 e
46. 4- Regularização (acabamento) do
contorno do gesso, deixando visível
lateralmente a cera utilidade que cobre a
extremidade dos pinos para troquéis.

Montagem do modelo superior

1- Após a montagem do modelo


inferior, deve-se ocluir o modelo superior
da melhor forma possível,
particularmente do lado a ser encerado.
Fig. 45 - Colocação do gesso sobre a base do Observar a relação do canino do lado em
modelo. questão, para que seja possível uma
desoclusão imediata.
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2- Verificar a existência do espaço 4- Proporcionar o gesso pedra na


para a colocação do gesso de fixação quantidade suficiente, na proporção
entre o modelo e a placa de montagem do água/pó recomendada pelo fabricante e
articulador, (fig. 48). manipular por 45 seg., colocar sobre a
base do modelo e fechar, em seguida o
ramo superior do articulador. Neste
momento, é importante estabilizar os
côndilos nas paredes superior, posterior e
mediana das guias condilares, (figs. 51 e
52).

Fig. 48 - Verificação da relação dos caninos e do


espaço entre o modelo superior e a placa de
montagem, para colocação do gesso de fixação.

3- Fixar os modelos entre si com


palitos de madeira e cera pegajosa e
hidratar a base do modelo, (fig. 49 e 50).
Fig. 51 - Colocação do gesso sobre o modelo e a
placa de montagem.

Fig. 49 - Fixação dos modelos.

Fig. 52 - posicionamento e contenção do ramo


superior do articulador sobre o gesso de fixação,
observando o contato do pino guia na mesa
incisal.

5- Fazer a regularização do
contorno do gesso de fixação.
6- Após a presa do gesso, remover
os palitos de madeira que fixavam os
modelos. Certifique-se de que a
Fig. 50 - Colocação de algodão molhado para montagem esteja correta. Isto implica na
umedecer a base do modelo superior. estabilidade da oclusão dos modelos, com
contatos bilaterais simultâneos e sem
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existência de discrepâncias laterais, e duplicação exata do padrão de cera.


com os côndilos estáveis na cavidade Portanto, qualquer erro cometido nesse
condilar do articulador. Desta maneira, os padrão, será transferido à restauração
modelos estarão prontos para o início do fundida.
exercício de enceramento progressivo, Há duas formas de se confeccionar
(figs. 53, 54 e 55). um padrão de cera:
Técnica Direta onde o padrão é
obtido diretamente no preparo dentário,
na boca do paciente.
Técnica Indireta onde o padrão é
obtido em laboratório sobre um troquel.
A vantagem desta técnica é ter fácil
acesso a todos os bordos marginais do
preparo, facilitando a obtenção de um
enceramento de boa qualidade.
Fig. 53 - remoção dos palitos de fixação.
Cera para fundições odontológicas

Composição: parafina, goma


dammar, cera carnaúba, excipientes,
corantes.
Classificação quanto ao grau de
dureza (especificação Nº 4 da
ANSI/ADA):
9 Tipo I ou média - empregada na
técnica indireta.
Fig. 54 - Vista oclusal dos modelos montados em 9 Tipo II ou macia - utilizada em
ASA. técnicas indiretas para a confecção de
restaurações fundidas.
Características desejáveis:
Estabilidade dimensional, reprodu-
ção fiel de detalhes, ausência de resíduos
após sua eliminação no processo de
fundição e cor contrastante com o
troquel.
Durante a confecção do padrão de
cera aparecem tensões internas na cera
Fig. 55 - Verificação do espaço entre os dentes devido ao aquecimento e à manipulação.
antagonistas, no modelo de trabalho montado em
oclusão em relação cêntrica.
Quando essas tensões são liberadas, o
resultado é a distorção que se traduz em
Padrão de cera ajuste deficiente da restauração. Para
manter o mínimo de distorção deve-se:
O padrão de cera é o precursor da 9 plastificar a cera na menor
restauração fundida que será instalada no temperatura possível;
preparo dentário. Essa restauração, obtida 9 acrescentá-la em finas camadas
no processo de inclusão e fundição, é a circundando o troquel;
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9 obtido o padrão, incluir tão rápido 2. Utilizando a técnica de Nylon


quanto possível. (pincel), adiciona-se resina acrílica
Fases de transição da cera do estado nas paredes oclusal ou incisal e axiais
líquido para o estado sólido: dos dentes a serem encerados com
1ª- Líquida de 57ºC a 45º C. uma espessura uniforme de 0,5mm
2ª- Líquida /plástica. (não estendendo sobre o término
3ª- Plástica: de 45ª a 25ª C (contração). cervical do preparo), (figs. 57 e 58).
4ª- Plástica /sólida.
5ª- Sólida (temperatura ambiente): 20ºC a
23º C.

Confecção do casquete

O primeiro passo na obtenção de


um padrão de cera é a confecção de um
fino casquete de resina sobre o troquel.
O casquete de resina acrílica
Fig.57 - Potes dappen com resina para confecção
fornece uma base para a escultura do dos casquetes.
padrão de cera, evitando a distorção,
facilitando o manuseio pelo aumento da
resistência e simplificando a escavação.
Material e instrumental necessários:
- 02 Pincéis (nº 0 e nº 1)
- 02 Potes dappen
- Lapiseira
- Micromotor e peça reta
- Mandril longo
- Discos de lixa Fig. 58 - Confecção dos casquetes em resina.
- Vaselina
- Resina acrílica ativada quimicamente 3. O casquete deve ser removido dos
(duralay ou similar). troqueis antes da polimerização
Técnica: completa da resina, evitando assim
1. Isolar com vaselina os troquéis e uma retenção indesejada.
estruturas adjacentes dos dentes a 4. Acabamento do casquete com discos
serem encerados, (fig. 56). de lixa, (fig. 59).

Fig. 56 - Isolando o troquel com vaselina. Fig. 59 - Casquetes em resina concluídos, com
limite aquém do término cervical do preparo.
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5. Verificar a existência de espaço entre maneira ocupará o espaço da papila


o casquete e o antagonista para o gengival. A superfície axial da coroa, da
enceramento da superfície oclusal. cervical ao ponto de contato, deve ser
plana ou ligeiramente côncava, com o
Contornos axiais objetivo de não diminuir o espaço da
papila.
Serão estabelecidos os contornos Os contatos proximais entre os
vestibular, lingual e proximais do padrão dentes atuam como estabilizadores, sendo
de cera. responsáveis pela continuidade do arco
Material e instrumental necessários: dental e pela prevenção de movimentação
- Instrumental P.K.T. dentária individual. Quando os dentes
- Lâmpada a álcool com pavio ocluem durante a função há sempre um
- Espátula Lecron leve movimento, porém, o contato
- Cera pegajosa contínuo mantém os dentes em suas
- Cera para escultura (4 cores) posições próprias, auxiliando assim a
- Lapiseira manutenção da oclusão fisiológica
- Pincel corretamente estabelecida.
- Talco Outra função da relação de contato
- Vaselina é a proteção da papila interdental contra o
- Meia de seda trauma mastigatório, função que é
- Esmalte incolor. mantida pela continuidade do arco dental.
Técnica: Quando não existe essa relação
Inicialmente, remover o casquete de harmônica de continuidade, os alimentos
resina e isolar o troquel e as áreas além de serem desviados para as faces
adjacentes com vaselina. Reposicioná-lo vestibular e lingual, são forçados em
e iniciar a adição de cera sobre o mesmo, grande parte entre os dentes ocasionando
estabelecendo os contornos axiais. um trans-torno denominado impacção
A cera deve estar entre a lâmpada a alimentar.
álcool e o modelo a ser encerado. Desta Em 1979, THOMAS, P.K. numa
maneira o instrumento virá da fonte de análise clínica, detectou uma maior
calor para a cera e daí mais profundidade na sondagem dos dentes
eficientemente para o modelo. restaurados com coroas completas,
Nos dentes posteriores, o ponto comparando aos dentes naturais. Isto foi
mais proeminente da face vestibular está atribuído a uma tendência de se dar
situado no terço cervical; e na face contorno excessivo às restaurações, além
lingual essa proeminência está localizada de má higiene e maloclusão.
no terço cervical nos superiores e no Para a adição de cera referente ao
terço médio nos inferiores. contorno dental, deve-se ter em mente
Os contatos proximais dos dentes que os instrumentos PKT se aquecem e se
posteriores se localizam no terço oclusal resfriam rapidamente. Desta forma deve-
da coroa, ligeiramente desviados para a se aquecer o instrumento (PKT 1 ou 2)
vestibular, com exceção do contato entre através da chama, concentrando o calor a
o primeiro e o segundo molar superior aproximadamente 1 cm da extremidade,
que está no terço médio e centralizado. O (Fig. 60).
contato não deve ser de um ponto e nem
tão extenso para a cervical, pois desta
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Técnica de confecção do pôntico:


Após a conclusão do enceramento
Fig.60 - do terço médio-cervical dos dentes
Posicionamento pilares, isolar com vaselina a área do
do instrumento rebordo alveolar do modelo correspon-
na chama dente ao dente ausente.
Plastificar uma das extremidades do
bastão de cera, evitando o contato direto
do mesmo com a chama da lâmpada a
álcool, o que causaria alteração dos
componentes da cera.
Em seguida, encosta-se a parte Pressionar a cera plastificada sobre
convexa e aquecida do instrumento na o rebordo alveolar do modelo previa-
cera de cor azul, a qual formará uma gota mente isolado, (fig. 62).
que será depositada no devido local pela
aplicação correta da ponta não aquecida
do instrumento (se esta for aquecida
diretamente, a cera tende a escoar para a
haste e não para a extremidade). Pode ser
necessário passar o instrumento através
da chama antes de aplicar nova porção de
cera no modelo, (fig. 61).

Fig. 62 - Pressionando a cera plastificada sobre


rebordo alveolar do modelo.

Remover o excesso do bastão de


cera ao nível do plano oclusal dos
padrões de cera dos dentes adjacentes.
Conformar os contornos vestibular
e lingual à semelhança dos padrões de
Fig. 61 - Acréscimo de cera sobre o casquete de cera dos dentes adjacentes, (fig. 63).
resina, até atingir o término cervical do preparo.

Uma forma confiável para julgar o


adequado contorno axial, vestibular e
lingual do padrão de cera, é a observação
das superfícies correspondentes dos
dentes adjacentes e do lado oposto. Ou
ainda, quando o operador observar o Fig. 63 - Vista oclusal do contorno do pôntico e
dente encerado no modelo por uma vista dentes pilares (terço médio-cervical).
oclusal não se deve visualizar a gengiva
marginal livre que o contorna, quando O longo eixo axial do pôntico, tanto
houver excesso, este deve ser retirado no sentido mesio-distal quanto no
com o instrumento PKT 4.
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vestíbulo- lingual, deve ser paralelo ao Durante todo o exercício manter o


eixo axial dos dentes adjacentes. pino guia incisal em contato com a mesa
Deve ser observado entre o encera- guia anterior.
mento até aqui realizado e a superfície Acrescenta-se uma quantidade
oclusal antagonista, um espaço míni-ma de cera para cada passo, e
interoclusal de aproximadamente 2 mm, o sempre conferindo as excursões
que permitirá a conformação da morfolo- proporcionadas pelo articulador. Ao se
gia oclusal do enceramento, (fig. 64). acrescentar cera para formar as cúspides
procurar sempre formar superfícies
convexas.
Objetivando um melhor
aprendizado dos componentes da
superfície oclusal dos dentes, a escultura
é feita com ceras de cores diferentes.
Enceramento da superfície oclusal
dos dentes inferiores:
Antes de se iniciar o enceramento
Fig. 64 - Observação do espaço interoclusal. oclusal propriamente dito, deve-se
observar o espaço existente entre a
Evitar o fechamento do espaço superfície da cera onde se localizará a
inter-proximal, deixando que ocorra a fossa do inferior, e a cúspide funcional
união da cera apenas na região dos (contenção cêntrica) palatina superior,
contatos proximais dos dentes. Esse quando os modelos estão ocluídos. Este
espaço livre abaixo do contato dentário é espaço deve ser de 2 mm, o ideal para
imprescindível em qualquer trabalho permitir o levantamento correto dos
restaurador, para acomodar a papila cones e uma escultura adequada, a fim de
gengival sem compressão e também para que não haja possibilidade de perfurações
permitir a higienização pelo paciente, dos elementos fundidos durante os ajustes
evitando o acúmulo de placa em região oclusais.
de difícil limpeza (área de “col”), o que No enceramento de casos clínicos
pode trazer como conseqüência a aceita-se como mínimo indispensável, a
instalação da doença periodontal. distância de 1,5 mm entre dentes
preparados e antagonistas, para que seja
Normas gerais possível a obtenção das relações oclusais
A disposição das estruturas oclusais corretas.
é de fundamental importância na Observa-se na figura 65, que os
manutenção da função. contatos oclusais das cúspides funcionais
A cúspide é a porção mais alta do (vestibulares inferiores e palatinas
dente e a fossa é a mais baixa. A crista superiores) são correspondentes às
marginal encontra-se entre estas duas demarcações anotadas nas respectivas
estruturas. Os sulcos de desenvolvimento fossas oclusais antagonistas.
vestibulares e linguais terminam em um
nível abaixo das cristas marginais.
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do cone é feito utilizando-se o


instrumento PKT 1 ou 2 (gotejador),
sempre procurando um apoio efetivo da
mão sobre os dentes próximos, (fig. 66 A
e B e 67). O cone deve ser dirigido para o
fundo da fossa antagonista. Nesta fase, a
ponta do cone deve tocar a cera azul que
identifica a fossa superior e é terminado
com o instrumento PKT 4, estabelecendo
Fig. 65 - ilustração do tripoidismo obtido no sua forma final, (fig. 66B).
relacionamento cúspide-fossa dos dentes
antagonistas.

Após o entendimento correto das


relações cúspide-fossa, localizar no
modelo superior antagonista ao
enceramento, as fossas que receberão as
cúspides funcionais inferiores e demarcá-
las com uma gota de cera azul. Em
seguida, com lápis de ponta fina e com Fig. 66 - Ilustração: A: levantamento e B:
acabamento do cone vestibular do 2º pré-molar
base na figura 65 delimitar os contatos de inferior.
cada fossa, assim como de cada cúspide
funcional superior.
Depois de certificar-se do
posicionamento correto dos pontos,
pincela-se uma fina camada de esmalte
incolor sobre a superfície destes e dos
demais dentes íntegros dos modelos,
evitando assim o desgaste dos mesmos
pelo contato, durante os vários
movimentos funcionais a serem
realizados com o articulador. Fig. 67 - Levantamento do cone.

Levantamento dos cones

Antes de se iniciar o levantamento


dos cones propriamente dito, é
conveniente aplicar uma fina camada de
cera pegajosa, sobre as superfícies onde
eles serão colocados, para evitar que se
soltem posteriormente, utiliza-se para
isso a espátula Lecron.
Cones vestibulares inferiores: Fig. 68 - Direcionamento do cone para o funda da
O levantamento dos cones é fossa antagonista.
iniciado pela cúspide vestibular do
segundo pré-molar inferior, utilizando Nas relações laterais de trabalho, a
cera marfim ou amarela. O levantamento ponta do cone deve descrever uma
trajetória mesial à ponta da cúspide do
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segundo pré-molar superior sem


interferência. Também não deve haver
contato no movimento protrusivo.
Os cones vestibulares do primeiro
molar inferior são erguidos em seguida,
ocluindo nas suas respectivas fossas. Fig. 70 - Desenho esquemático dos cones
Durante a protrusão e latero-protrusão, vestibulares inferiores ocluídos.
deverá haver espaço adequado em relação
aos antagonistas. Na lateralidade, a ponta
da cúspide mesio-vestibular do primeiro
molar superior deve passar eqüidistante
dos cones mesio-vestibular e vestíbulo-
mediano do primeiro molar inferior. Da
mesma forma, a ponta da cúspide disto-
vestibular do primeiro molar superior
deve passar entre os cones vestíbulo-
mediano e disto-vestibular do primeiro
molar inferior. Fig. 71 - Cones vestibulares inferiores ocluídos.
Os cones vestibulares do segundo
molar inferior seguem as mesmas Observa-se que todos os cones
diretrizes observadas para o primeiro estão colocados ligeiramente para distal,
molar. para permitir a relação dente a dente e o
Os cones correspondentes às contato cúspide-fossa.
cúspides disto-vestibulares dos molares Ao final do levantamento dos cones
inferiores geralmente têm uma inclinação correspondentes às cúspides funcionais
para distal mais acentuada que as demais, dos dentes inferiores, estes deverão estar
a fim de que se consiga estabelecer direcionados para as suas respectivas
satisfatoriamente a relação cúspide-fossa fossas antagonistas, de acordo com o
desejada. quadro 2:
A figura 69 mostra a posição dos CÚSPIDE FOSSA
cones que formarão as cúspides Vestibular do 2º pré- Mesial do 2º pré-molar
funcionais inferiores. molar inferior superior
Mesio-vestibular do Mesial do 1º molar
1º molar inferior superior
Vestibulo-mediana Central do 1º molar
do 1º molar inferior superior
Disto-vestibular do 1º Distal do 1º molar
Fig. 69 - Desenho esquemático dos cones molar inferior superior
vestibulares inferiores. Mesio-vestibular do Mesial do 2º molar
2º molar inferior superior
Estes mesmos cones são mostrados Vestibulo-mediana Central do 2º molar
nas figuras 70 e 71, em relação aos do 2º molar inferior superior
antagonistas. Disto-vestibular do 2º Distal do 2º molar
molar inferior superior
Quadro 2 - Relacionamento cúspide-fossa dos
cones vestibulares.
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Sempre que possível, deve-se fazer movimentos de lateralidade direita e


com que as cúspides funcionais esquerda, protrusão e latero-protrusão,
(vestibulares inferiores e palatinas (fig. 72).
superiores) ocluam nas fossas dos dentes
antagonistas. Desta maneira, se
estabelece os contatos do tripoidismo
com os vértices das vertentes triturantes
repousando sobre os sulcos, sem tocá-los
o que evita a abrasão. As relações
cúspide-fossa permitem o direcionamento
das forças oclusais no sentido do longo
eixo dos dentes, evitando sobrecarga no
sentido lateral e permitindo ainda um
travamento vestíbulo-lingual e mésio- Fig. 72 - Verificação da desoclusão dos cones
distal que dará estabilidade à oclusão vestibulares durante os movimentos excursivos.
nessas direções.
Durante o movimento de laterali-
No enceramento de um caso clínico
dade, deve-se observar o trajeto em
ocorre freqüentemente a dificuldade de se
relação aos sulcos dos dentes
obter a relação ideal, cúspide ocluindo na
antagonistas. Neste movimento ocorre a
fossa. Nestas ocasiões, procura-se obter
desoclusão pelos caninos, sendo estes os
uma relação cúspide embrasura,
únicos dentes a tocarem, e as pontas dos
estabelecendo-se dois pontos de contato,
cones deverão estar a uma distância de
um em cada crista marginal (mesial e
0,5 mm a 1,0 mm dos antagonistas, e
distal), sempre que o elemento
devem sempre passar à mesial das pontas
antagonista for uma prótese fixa onde
das cúspides superiores.
esta união é soldada. Quando os
No movimento protrusivo a
antagonistas forem dentes naturais ou
desoclusão é efetuada pelos dentes
mesmo peças protéticas unitárias, o cone
anteriores, de tal forma que somente eles
deve ser desviado o suficiente para ocluir
se tocam, devendo os posteriores estar
em fossa, mesmo que isto seja obtido às
separados cerca de 0,5 mm a 1,0 mm,
custas de uma modificação na anatomia
onde é verificada a curva de Spee, (fig.
dentária, pois na mastigação de alimentos
73).
fibrosos a cúspide pode agir como cunha,
causando sua impacção no espaço
interproximal.
Outra situação que ocorre com
relativa freqüência, consiste na
dificuldade de colocação do cone
correspondente à cúspide disto-vestibular
dos molares, nos enceramentos de casos
clínicos. Isto ocorre geralmente pela falta Fig. 73 - Desenho esquemático dos cones
de espaço mesio-distal, sendo vestibulares acompanhando a curva de Spee
aconselhável a colocação de apenas duas
cúspides vestibulares.
Após o levantamento de todos os Cones linguais inferiores:
cones vestibulares, são feitos os
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 48

O passo seguinte consiste no cúspides linguais inferiores, dividindo a


levantamento dos cones correspondentes distância entre elas. A ponta da cúspide
às cúspides linguais inferiores, disto-palatina do 1º molar superior deve
utilizando-se os mesmos instrumentos. passar distalmente à ponta do cone
Inicia-se o levantamento dos cones correspondente à cúspide disto-lingual do
pelo 2º pré-molar que dependendo de sua 1º molar inferior.
forma, pode ter uma ou duas cúspides Os cones do 2º molar inferior são
linguais. Justifica-se a presença de duas colocados na mesma posição e nas
cúspides linguais quando elas forem mesmas relações que os do 1º molar
necessárias para a obtenção de uma inferior, (fig. 74).
contenção efetiva. As cúspides do 2º pré- Observa-se que os cones linguais
molar são mais altas do que as do 1º pré- inferiores sempre estão localizados à
molar e menores do que as dos molares. mesial das cúspides palatinas superiores.
O que se percebe é que as cúspides Este posicionamento garante a liberdade
vestibulares inferiores são mais altas que de movimentos laterais em trabalho e
as linguais nos pré-molares e que esta balanceio, sem que haja interferências
diferença vai diminuindo gradativamente oclusais.
à medida que se dirige para os molares, Após o levantamento de todos os
devido à menor inclinação para lingual cones, e mantidas as relações citadas,
que estes dentes apresentam no arco executa-se novamente os movimentos de
dentário, (fig. 74). lateralidade e protrusão observando a
passagem dos cones que devem estar
cerca de 1 mm de distância dos
antagonistas, (fig. 75).

Fig. 74 - Desenho esquemático dos cones linguais


e seu posicionamento em relação aos vestibulares.

Na verificação das relações


protrusiva e lateroprotrusiva deve haver
um bom espaçamento sob a ponta da
cúspide palatina do 2º pré-molar superior.
Durante a lateralidade, a ponta da cúspide
palatina do segundo pré-molar superior Fig. 75 - Desenho esquemático do relaciona-
deve passar sobre ou por distal das pontas mento dos cones durante os movimentos
das cúspides linguais do 2º pré-molar excursivos, A: lateralidade e B: protrusão.
inferior.
Os cones para as cúspides linguais Quando todos os cones estiverem
do 1º molar inferior são agora colocados, devidamente colocados, pode-se notar
de tal forma que haja espaço entre eles e que os cones linguais dos molares
as pontas de cúspides palatinas inferiores são ligeiramente mais curtos do
superiores, durante os movimentos que os vestibulares, caracterizando a
protrusivo e lateroprotrusivo. No curva lateral de Wilson, (fig. 76).
movimento lateral de trabalho, a ponta da
cúspide mesio-palatina do 1º molar
superior deve passar entre os cones das
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 49

molar inferior deverá estabelecer um


ponto de contato (1) com a crista
marginal mesial do 2º pré-molar superior.
Este e os demais pontos devem ser
Fig. 76 - Desenho esquemático da curva de mantidos em destaque em baixo relevo,
Wilson (desenho modificado de THOMAS, P.K.). para uma melhor visualização e
desenvolvimento do enceramento.
O estudo das posições dos cones, e Em seguida, partindo do cone cor-
conseqüentemente das cúspides, é respondente à cúspide lingual, faz-se a
importante na confecção de núcleos aresta longitudinal distal e a crista
intrarradiculares seja na clínica ou no marginal distal que deverá corresponder
laboratório, pelo conhecimento que posteriormente, à área de contato
propicia ao profissional no que diz proximal com o dente vizinho. Nesta
respeito ao direcionamento dos núcleos, fase, deve-se dar atenção quanto à
em função das fossas dos dentes existência ou não de duas cúspides
antagonistas. Planeja-se assim, a oclusão linguais. Em caso afirmativo, esculpir
ainda na fase de preparo dos retentores, distintamente as arestas longitudinais de
objetivando uma função efetiva. cada uma. A crista marginal distal do 2º
pré-molar inferior estabelece um ponto de
Perímetro oclusal
contato oclusal (2) com a aresta
A colocação das arestas longitudinal distal da cúspide palatina do
longitudinais que determinarão o 2º pré-molar superior. Ainda a aresta
perímetro oclusal, ou seja, a superfície longitudinal distal da cúspide vestibular
mastigatória de cada dente, é iniciada do 2º pré-molar inferior oclui (3) com a
pela ponta do cone correspondente à vertente triturante mesial da cúspide
cúspide vestibular do 2º pré-molar vestibular do 2º pré-molar superior.
inferior esquerdo, em direção mesial A figura 78 mostra a superposição
(sentido horário), reconstituindo a crista esquemática do dente superior e dente
marginal e o contato proximal com o 1º inferior, e as respectivas
pré-molar, seguindo até atingir o cone correspondências dos contatos obtidos.
correspondente à cúspide lingual do
mesmo dente. Isto é feito utilizando o Fig. 78 - super-
instrumento PKT 2 (gotejador), com cera posição do esque-
azul, (fig. 77). ma correspon-
dente ao dente
superior e dente
Fig. 77 - Desenho inferior, (desenho
esquemático do modificado de
posicionamento do THOMAS, P.K.)
gotejador para o
início do encera-
mento do perímetro
Deve ser dada atenção especial a
oclusal.
esta fase para que não ocorra
inadvertidamente o aumento, pela
deposição de cera, ou a diminuição, pelo
Nesta fase, a aresta longitudinal
aquecimento excessivo do instrumento,
mesial da cúspide vestibular do 2º pré-
da altura dos cones. A ponta do cone em
Enceramento progressivo Fernandes Neto, AJ & Silva, MR - Univ. Fed. Uberlândia - 2006 50

cera marfim ou amarela deverá estar No final desta fase, os dentes


sempre visível entre as arestas deverão estar individualizados e
longitudinais em cera azul. apresentar 17 pontos de contatos oclusais
É importante observar que os já estabelecidos, delimitando assim, a
pontos de contatos oclusais das arestas superfície triturante dos dentes
longitudinais, ocorrem geralmente a esculpidos, (fig.79).
pouca distância do vértice da cúspide
vestibular inferior (cúspide funcional),
enquanto o contato da crista marginal
ocorre geralmente na direção do sulco
principal mesio-distal.
Estas observações estabelecem de
início os pontos de contatos oclusais
Fig 89 - Desenho esquemático das arestas
necessários para se conseguir o longitudinais e cristas marginais delimitando o
tripoidismo ao final do trabalho de perímetro oclusal.
enceramento. Com isto, se consegue de
forma precisa, o perímetro oclusal dos 1- A aresta longitudinal mesial da
dentes, sem a necessidade de alterar cúspide vestibular do 2º pré-molar
posteriormente a morfologia oclusal, em inferior oclui com a crista marginal
busca dos contatos. É prática freqüente mesial do 2º pré-molar superior.
dos iniciantes em enceramento 2- A crista marginal distal do 2º
progressivo a tendência de diminuir o pré-molar inferior oclui com a aresta
perímetro oclusal, por não terem ainda longitudinal distal da cúspide palatina do
uma visão completa do trabalho 2º pré-molar superior.
concluído. 3- A aresta longitudinal distal da
Iniciando pela aresta longitudinal cúspide vestibular do 2º pré-molar
mesial da cúspide mesio-vestibular do 1º inferior oclui com a vertente triturante
molar inferior, repete-se o mesmo mesial da cúspide vestibular do 2º pré-
procedimento executado para o 2º pré- molar superior.
molar, obtendo-se para cada cúspide 4- A aresta longitudinal mesial da
funcional inferior (vestibular) dois pontos cúspide mésio-vestibular do 1º molar
de contato, um em cada aresta inferior oclui com a crista marginal
longitudinal, e um em cada crista mesial do 1º molar superior.
marginal distal. Deve-se numerá-los 5- A crista marginal distal do 1º
seguindo o mesmo critério anterior, a molar inferior oclui com a aresta
partir da cúspide mesio-vestibular. longitudinal distal da cúspide disto-
Repetir o mesmo procedimento palatina do 1º molar superior.
para o 2º molar. 6- A aresta longitudinal distal da
Os pontos de contatos oclusais das cúspide disto-vestibular do 1º molar
arestas longitudinais distais das cúspides inferior oclui com a crista marginal distal
disto-vestibulares dos 1º e 2º molares do 1º molar superior.
inferiores, são difíceis de serem obtidos 7- A aresta longitudinal mesial da
nesta fase, devendo ser conseguidos no cúspide disto-vestibular do 1º molar
final, quando as cúspides estiverem inferior oclui com a vertente triturante
compostas de todas as suas estruturas. distal da cúspide disto-vestibular do 1º
molar superior.
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8- A aresta longitudinal distal da das superfícies oclusais, são importantes


cúspide vestíbulo-mediana do 1º molar por serem as principais lâminas de corte
inferior oclui com a vertente triturante dos dentes.
mesial da cúspide disto-vestibular do 1º
molar superior. Vertentes lisas das cúspides
9- A aresta longitudinal mesial da
cúspide vestíbulo-mediana do 1º molar O passo seguinte consiste em
inferior oclui com a vertente triturante formar as vertentes lisas, vestibulares e
distal da cúspide mésio-vestibular do 1º linguais das cúspides. Começando pela
molar superior. vertente lisa vestibular do 2º pré-molar,
10- A aresta longitudinal distal da deposita-se cera vermelha sobre a
cúspide mésio-vestibular do 1º molar superfície vestibular do cone. Utiliza-se o
infe-rior oclui com a vertente triturante instrumento PKT 2 de tal forma que a
mesial da cúspide mésio-vestibular do 1º cera preencha aproximadamente 1/3 da
molar superior. dimensão mésio-distal do dente (Fig. 80).
11- 12- 13- 14- 15- 16- 17-
correspondem respectivamente a 4- 5- 6-
7- 8- 9- e 10 só que obtidos no 2º molar Fig. - 80 - Dese-
nho esquema-
inferior.
tico da formação
Deve-se confirmar a obtenção de da vertente lisa
todos estes pontos com o uso de estearato pela deposição
de zinco ou talco. Pincela-se de cera.
cuidadosamente o pó sobre as superfícies
oclusais fecha-se em seguida o
articulador suavemente até atingir a Utilizando o instrumento PKT 4,
dimensão vertical de oclusão pré- todo cuidado deve ser tomado, para não
estabelecida para este enceramento, pelo derreter o cone original à medida que a
contato entre o pino guia do articulador cera é esculpida uniformemente com a
com a mesa guia anterior do mesmo. superfície da cera, (Fig. 81).
Deve-se encontrar todos os pontos
desejados, visíveis pela remoção do pó
Fig. - 81 Dese-
utilizado na região do contato. Onde isto nho esquema-
não ocorrer, acrescentar uma pequena tico do acaba-
porção de cera até que se consiga o mento da ver-
contato. O contato em excesso tente lisa, (dese-
apresentará amassamento da área, nho modificado
de THOMAS,
devendo a mesma ser retocada, até a P.K.).
centralização do ponto pela remoção da
cera excedente.
Nesta fase, em todos os
movimentos excêntricos da mandíbula, o Segue-se esculpindo a vertente lisa
vértice de cada cúspide deverá passar lingual do 2º pré-molar, e a mesma
sem contatar as arestas longitudinais seqüência deve ser obedecida para os
antagonistas. molares.
As cristas marginais e arestas
longitudinais que delimitam o perímetro
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É interessante observar que as Convém lembrar que no encera-


vertentes lisas linguais são sempre mento progressivo as características
menores que as vestibulares, (fig. 82). anatômicas do 1º molar inferior são em
tudo semelhantes às do 2º molar inferior,
sempre valendo como referência os
dentes homônimos do lado oposto.

Cristas transversais oblíquas e vertentes


triturantes

São elevações que se estendem das


Fig .82 - Desenho esquemático das vertentes lisas pontas das cúspides aos sulcos principais
concluídas.
mésio-distais. Possuem forma triangular
Nesta fase, não há nenhum contato com o vértice na ponta da cúspide e a
a ser obtido, mas muito cuidado deve ser base no sulco projetado, tendo a forma
tomado para que os contatos já existentes arredondada ou convexa em todos os
sejam mantidos. Nas posições sentidos.
excêntricas, não deve haver nenhum São também conhecidas por cristas
contato. triangulares e compõem-se de duas
O contorno externo de cada dente vertentes uma mesial e outra distal.
deverá ser completado com cera verde, Utiliza-se o instrumento PKT 2 e
iniciando-se pela face vestibular do 2º cera vermelha para a sua formação.
pré-molar, seguida da face lingual do Inicia-se a escultura pela crista
mesmo dente e assim por diante, transversal correspondente à cúspide
utilizando para isso o instrumento PKT 2. vestibular do 2º pré-molar inferior, sendo
Neste momento é preciso dedicar especial que suas bordas mesial e distal
atenção ao espaço interproximal, onde as delimitarão, num passo posterior, os
ameias linguais devem ser mais amplas sulcos secundários. Esta vertente
do que as vestibulares. triturante vestibular deverá estabelecer
O contorno externo deve ser devi- um ponto de contato com a crista
damente regularizado com o instrumento secundária mesial da cúspide palatina do
PKT 4, seguindo as inclinações próprias 2º pré-molar superior.
de cada dente. Utiliza-se sempre como Segue-se, esculpindo a crista trans-
termo de comparação, os dentes versal da cúspide mesio-lingual, que não
semelhantes do lado oposto do arco. apresenta nenhum contato, e a cúspide
Notar que sempre existe um sulco de disto-lingual que irá estabelecer um ponto
direção vestibular ou lingual entre duas de contato com a aresta longitudinal
cúspides, que deve ser devidamente mesial da cúspide palatina do 2º pré-
esculpido. molar superior. Quando a cúspide disto-
Quando esta fase estiver terminada lingual não existe, a situação é transferida
sem nenhum toque nos movimentos para a cúspide lingual presente, tal como
excêntricos e com todos os pontos ocorre no 1º pré-molar.
anteriormente obtidos, têm-se a Devido ao pequeno tamanho da
denominada “boca de peixe”, ou seja, cúspide disto-lingual do 2º pré-molar, o
todo o contorno externo de cada dente. seu ponto de contato não tem uma
posição definida, podendo ser obtido às
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custas da vertente triturante mesial ou


distal dessa cúspide.
As bases destas vertentes triturantes
se encontram, deixando nitidamente
delimitado o sulco principal mésio-distal
na região.
A sistemática a ser desenvolvida Fig 83 - Desenho esquemático das cristas
para os molares é bastante semelhante transversais oblíquas e vertentes triturantes
àquela desenvolvida para os pré-molares. concluídas
Como orientação para o direcionamento Procede-se da mesma maneira para
dessas cristas, deve-se analisar as com o 2º molar.
estruturas nos dentes do lado oposto, Todos os contatos assinalados na
podendo inclusive delimitá-las com lápis figura 83 devem ser obtidos, embora não
de ponta fina para melhor visualização. necessariamente na mesma posição. O
Nos molares inicia-se a escultura pela que interessa realmente é que se obtenha
crista oblíqua da cúspide mesio- sempre o maior número possível de
vestibular seguida da mesio-lingual, da contatos, que fornecerão no final do
vestíbulo-mediana, da disto-lingual e da trabalho uma estabilidade definida da
disto-vestibular. R.C. com contatos trípodes e uma maior
As vertentes triturantes das eficiência mastigatória. Numera-se todos
cúspides mesio-vestibular, mesio-lingual os contatos na seqüência em que forem
e disto-vestibular terão cada uma apenas sendo obtidos.
um ponto de contato. A crista da cúspide No final desta fase o número de
vestíbulo-mediana deverá ter dois pontos contatos obtidos total de 35, deverá ser
de contato: um correspondendo ao devidamente verificado com a aplicação
terceiro ponto de contenção desta de estearato de zinco (talco). Será
cúspide, e o outro pertencente à cúspide possível observar que as cúspides
mesio-palatino superior. Estes dois vestibulares inferiores possuem três
pontos são obtidos através da contatos cada uma, o tripoidismo. Nota-
individualização de uma superfície de se também, que as cúspides vestíbulo-
contato. Em determinados casos os medianas dos molares possuem dois
pontos coincidem, tornando-se um ponto pontos de contatos nas suas cristas
comum para as duas cúspides, a superior transversais, o quais são difíceis de serem
e a inferior. estabelecidos e podem, para a facilidade
A vertente triturante da cúspide DV do profissional ou do técnico, serem
possui também dois pontos de contato: modificados para outras posições,
um para a cúspide MP e outro para a DP contanto que mantenham a estabilidade
do 1º molar superior. que se procura enfatizar durante todo o
O ponto existente na vertente desenvolvimento do trabalho.
triturante da cúspide DV é considerado Devem ser testados os movimentos
comum tanto para esta quanto para a DP excêntricos, que devem ocorrer sem
superior, em virtude do seu pequeno contatos, havendo uma desoclusão
tamanho que dificulta a obtenção de dois imediata pela guia canino. Como estes
pontos independentes, (fig. 83). testes são realizados constantemente, é
comum o desgaste da superfície palatina
dos caninos propiciando uma condição de
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maior aproximação e contato das estru- 22- a crista transversal da cúspide


turas que estão sendo enceradas.Caso isso vestíbulo-mediana do 1º molar inferior,
ocorra, deve-se restituir nos caninos sua oclui com a crista transversal da cúspide
forma original, utilizando a mesma cera mésio-palatina do 1º molar superior.
da escultura. Idealmente, este desgaste é 23- a crista transversal da cúspide
evitado pela confecção de uma guia disto-vestibular do 1º molar inferior,
anterior personalizada, (fig, 84). oclui com a crista transversal da cúspide
disto-palatina do 1º molar superior.
24- a vertente triturante mesial da
cúspide disto-lingual do 1º molar inferior,
oclui com a aresta longitudinal distal da
cúspide mésio-palatina do 1º molar
superior.
25- a vertente triturante distal da
cúspide disto-lingual do 1º molar inferior
oclui com a aresta longitudinal mesial da
Fig. 84 - Relação das vertentes triturantes postero cúspide disto-palatina do 1º molar
inferiores com as guias articular e canina. superior.
26- a vertente triturante mesial da
Para melhor entendimento e cúspide disto-vestibular do 1º molar
visuali-zação dos contatos já inferior oclui com a vertente triturante
estabelecidos, estudar o quadro que se distal da cúspide disto-palatina do 1º
segue, identi-ficando cada contato com a molar superior.
respectiva correspondência no modelo 27- 28- 29- 30- 31- 32- e 33 são
superior: iguais respectivamente aos contatos 20-
18- a vertente triturante distal (ou 21- 22- 23- 24- 25- e 26, a diferença é
crista oblíqua) da cúspide disto-lingual do que são no 2º molar.
2º pré-molar inferior, oclui com aresta
longitudinal mesial da cúspide palatina Preenchimento dos espaços oclusais
do 2º pré-molar superior.
19- a vertente triturante distal da Após o enceramento das cristas
cúspide mésio-vestibular do 1º molar transversais oblíquas inicia-se a fase do
inferior, oclui com a crista secundária preenchimento dos espaços oclusais pela
mesial da cúspide mésio-palatina do 1º adição de cera e o acabamento das fossas.
molar superior. Olhando as superfícies oclusais
20- a vertente triturante mesial da nesta etapa, notam-se espaços vazios
cúspide vestíbulo-mediana do 1º molar entre as cristas que devem ser cuidadosa-
inferior, oclui com a crista transversal da mente preenchidos, utilizando para isso
cúspide mésio-palatina do 1º molar cera verde e o instrumento PKT 2 para
superior. fazer a sua colocação, e a cada acréscimo
21- a vertente triturante distal da de cera, o articulador deve ser fechado
cúspide mésio-lingual do 1º molar para verificação dos contatos. Se houver
inferior, oclui com a aresta longitudinal algum excesso, deverá ser removido com
mesial da cúspide mésio-palatina do 1º um instrumento de escultura (PKT 4),
molar superior. sendo ao mesmo tempo esculpidas as
cristas secundárias e os sulcos, em cujo
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fundo as pontas de cúspides não devem cúspide vestibular do 2º pré-molar


tocar. inferior, oclui com a vertente triturante
O preenchimento oclusal é iniciado mesial da cúspide palatina do 2º pré-
a partir da fossa mesial do 2 º pré-molar, molar superior.
dando-lhe as características próprias e Nos molares o procedimento é o
tendo como parâmetro o dente do lado mesmo. Para se obter o tripoidismo para a
oposto. A seguir são esculpidas as cúspide disto-palatina do molar superior,
estruturas oclusais distais desse dente, que é de menor tamanho, pode haver
cuja fossa recebe a cúspide funcional pontos de contato comuns, isto é, pontos
superior. Esta cúspide já possui dois que são válidos para a estabilidade da
pontos de contato anteriormente cúspide funcional superior e inferior ou
estabelecidos, devendo receber agora o 3º pontos diferentes, obtidos às custas de
que lhe conferirá estabilidade, e está cristas secundárias. Por exemplo: o ponto
localizado na crista secundária distal da 26 e o 33 (vertentes triturantes das
cúspide vestibular. cúspides DV molares) são pontos comuns
Nesta fase o dente já deve ter sua às cúspides disto-vestibulares inferiores e
forma oclusal definida e regularizada, disto-palatinas superiores, que são
com os sulcos nitidamente delimitados. A cúspides de pequeno porte. Da mesma
figura 85 mostra a delimitação dos sulcos forma os pontos 22-23 e 29-30 podem
principais, tanto no sentido mésio-distal também ser pontos comuns. Quando isto
quanto vestíbulo-lingual, e apresenta não ocorre, pode-se ter o 3º ponto
também a direção dos sulcos secundários. localizado numa crista secundária.
A colocação e a direção dos sulcos Porém, vale salientar novamente que o
podem ser modificadas quando importante é a obtenção da estabilidade
necessário, para se obter os pontos de cêntrica através do tripoidismo.
contato. Deve-se verificar novamente todos
Os sulcos secundários na maioria os contatos utilizando estearato de zinco,
das vezes limitam as cristas transversas e reconstituir aqueles que por qualquer
oblíquas e secundárias, dando nitidez à motivo se perderam.
anatomia oclusal, que é traduzida em Ao término desta primeira etapa do
eficiência mastigatória. exercício consegue-se uma superfície
oclusal com cúspides e fossas
harmoniosamente relacionadas de acordo
com a dinâmica do sistema mastigatório,
figura 86 e 87, de tal forma que se obtém
desoclusão dos dentes posteriores durante
o movimento lateral, e movimento
protrusivo. Esta desoclusão mantém a
escultura protegida dos desgastes pelos
movimentos mandibulares, pois os dentes
posteriores não sofrem contato durante
esses movimentos.
Fig. 85 - Desenho esquemático da delimitação dos
sulcos A: principais e B: secundários.

O contato nº 34 em relação às estruturas


antagonistas, crista secundária distal da
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4. As cúspides linguais são


menores do que as vestibulares.
5. Os contatos cêntricos devem
estar em ambos os lados do arco dentário.
O enceramento não deve estar em supra-
oclusão, pois impedirá a oclusão do lado
oposto.
Fig. 86 - Enceramento concluído -esquemático. 6. Todas as estruturas posteriores
devem desocluir nos movimentos
excursivos da mandíbula.

Bibliografia Consultada

01- ASH, M. M., RAMFJORD, S. P.


Introdução à oclusão funcional.Traduzido
por José dos Santos Jr. Guarulhos S.P.:
Fig. 87 - Enceramento concluído Parma, 1987. 276 p.
02- GUICHET, N. F. Occlusion.
Agora as figuras devem ser Anaheim, California: Denar Corp., 1977.
convenientemente estudadas e todos os 117 p.
pontos de contato identificados com 03- JANSON, W. A. et al. Introdução ao
aqueles obtidos pelo aluno no exercício. estudo da oclusão, enceramento das
superfícies oclusais. Bauru - S.P.:
Características finais do enceramento Universidade de São Paulo, Faculdade de
progressivo Odontologia de Bauru, 1977. 78 p.
04- RAMFJORD, S. P. & ASH, M. M.
1. As pontas de cúspides são os
Oclusão. 3. edição, Trad. Dioracy
pontos mais altos, a partir de onde todas
Fonterrada Vieira. Rio de Janeiro:
as vertentes se inclinam para baixo.
Interamericana, 1984.
2. As pontas de cúspides funcionais
05- THOMAS. P. K.,TATENO, G.
são projetadas precisamente na fossa do
Gnathological Occlusion. Tokyo: Shorin,
antagonista.
1979. 235p.
3. As pontas de cúspide funcionais
não contactam no fundo da fossa (e sim
no perímetro adjacente).

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