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Capítulo 8 - COMUNICAÇÃO COMO INSTRUMENTO DO PLANEJAMENTO

AMBIENTAL E DA GESTÃO AMBIENTAL

Todas as propostas de planejamento visando o desenvolvimento sustentável, sobretudo a


Agenda 21, ressaltam a importância da participação da comunidade, vista como todos os
grupos sociais envolvidos no processo de tomada de decisões e, sobretudo, na
implementação de estratégias.

O pressuposto é que o conhecimento e a construção do conhecimento baseados na ação-


reflexão-ação das populações locais podem contribuir para a eficácia do planejamento
ambiental.

Dessa forma, os mecanismos de melhoria da eficiência dessa participação estão


diretamente relacionados às estratégias de comunicação empregadas no processo.

O sujeito ou grupo que adquire o conhecimento da realidade, e a partir dela tenta


encontrar as soluções adequadas, analisando as causas/conseqüências da dinâmica da
sociedade sobre o meio ambiente onde vive, está, em teoria, mais capacitado a promover
um desenvolvimento social e econômico menos agressivo ao meio ambiente, e portanto,
que garanta sua sustentabilidade ou durabilidade.

Recentemente, tem havido um despertar de interesse, por parte do poder público e de


entidades privadas, para a comunicação como um instrumento de gestão ambiental.

Esta comunicação pode estar ligada ao desejo de informar a população em geral sobre
riscos, sobre a saúde e o ambiente, associados a algumas atividades humanas, bem
como de envolvê-la em atividades que proporcionem melhoria do ambiente e da
segurança.

Segundo os especialistas, esse interesse tem os seguintes motivos:


• a comunicação ser um requisito da informação;
• o desejo dos responsáveis do governo e de empresas de diminuir a oposição a
suas decisões;
• o desejo de compartilhar poder entre governo e a comunidade;
• o desejo de desenvolver alternativas mais efetivas do que a imposição e o controle.

A comunicação aplicada a políticas de meio ambiente e desenvolvimento deve ser um


instrumento que permita aos tomadores de decisão e às populações:
• analisar e compreender as situações insatisfatórias com que se defrontam;
• discuti-las;
• buscar melhorias e soluções para as mesmas, através de negociações e ações
diretas;
• promover a formação de pessoas necessárias a tal empreitada, através de um
programa de capacitação.

Um exemplo de como a comunicação pode se tornar um instrumento de planejamento e


gestão do desenvolvimento é o caso da comunicação de riscos.

Neste caso, o objetivo é aumentar o nível de entendimento, de questões e ações


relevantes relativas a riscos ambientais, de pessoas envolvidas, de modo que elas sejam
informadas adequadamente, dentro dos limites do conhecimento existente sobre aquela
problemática.
No Brasil, o direito à informação consta do artigo 63 da Lei N° 6938/81, que institui a
Política Nacional de Meio Ambiente, e o dever do Poder Público de informar à sociedade
civil consta do seu artigo 10.

A comunicação ambiental visa, sobretudo, o envolvimento e a participação dos indivíduos


e grupos na tomada de decisões sobre as questões ambientais relevantes, em todas as
etapas do processo.

Recentemente, os envolvidos mais diretamente com as questões ambientais (os governos


locais, os movimentos comunitários e muitas empresas), passaram a adotar abordagens
que propõem promover mudanças de atitude e de comportamento, e, para isso, exigem o
envolvimento de pessoas, grupos e instituições.

Assim, em planejamento e gestão ambiental participativos, a comunicação, passou a ser


um dos novos e mais importantes instrumentos de gestão.

8.1 - Programas de Educação Ambiental - PEA

A educação ambiental ganhou grande espaço no Brasil. É fabulosa a quantidade de


programas e projetos desenvolvidos nessa área, sobretudo a partir de meados da década
de 80.

Os PEA podem ser desenvolvidos para inúmeras finalidades.

Podem estar associados a uma ou mais comunidades, como podem ser instrumentos
internos de uma organização produtiva.

Independentemente disso, sua realização demanda, basicamente, as seguintes


atividades:
1. definição dos problemas ou questões a serem tratados pelo programa;
2. identificação e caracterização qualitativa e quantitativa de sua clientela direta e
indireta;
3. identificação dos atores envolvidos, direta e indiretamente, na realização do
programa;
4. estabelecimento do partido do programa e de suas diretrizes globais;
5. concepção, desenvolvimento e programação do Programa de Educação Ambiental
- PEA;
6. seleção das mídias a serem utilizadas pelo programa e programação de seus
resultados intermediários e finais esperados;
7. produção do material educacional demandado pelo PEA;
8. treinamento de multiplicadores, que constituem os elementos, preferencialmente
das próprias comunidades a serem contempladas, a quem caberá a disseminação
dos produtos e ensinamentos do programa;
9. implantação e avaliação sistemática dos resultados esperados.

É importante ter uma visão geral dos diversos tipos de estudos ambientais que podem e
devem ser realizados em organizações produtivas, de modo a que não sofram efeitos
adversos do ambiente e da lei.

Hoje, milhões de pessoas em todo o mundo, com as mais variadas formações


educacionais, têm como atividade profissional o desenvolvimento de estudos, projetos e
serviços ambientais, bem como as suas tarefas de implantação, gestão, manutenção e
aprimoramento.

Esses trabalhos, normalmente baseados em dispositivos legais, têm as seguintes


finalidades básicas:
1. determinar as diretrizes adequadas ao uso e ocupação do solo promovido por
qualquer atividade transformadora humana;
2. identificar os efeitos (ou impactos) ambientais ocorrentes e passíveis de ocorrência
a partir de qualquer processo de uso e ocupação do solo;
3. otimizar os efeitos ambientais, benéficos e adversos, ocorrentes e previstos, em
qualquer processo de uso e ocupação do solo;
4. aferir sistematicamente como estão se manifestando os efeitos ambientais em um
dado processo de uso e ocupação do solo;
5. propor, planificar e programar ações, medidas e projetos para otimização do
desempenho ambiental de processos de uso e ocupação do solo;
6. reabilitar segmentos territoriais prejudicados pela realização não controlada de
processos de uso e ocupação do solo;
7. criar e implementar mecanismos para a avaliação permanente do desempenho
ambiental de processos de uso e ocupação do solo;
8. treinar e capacitar recursos humanos, provenientes das mais diferenciadas áreas
do conhecimento, para realizar essas finalidades, através do desenvolvimento de
estudos, projetos e serviços ambientais específicos;
9. modelar organizações produtivas para que incorporem a gestão ambiental como
função básica de seu desenvolvimento e da melhoria de seus resultados;
10. desenvolver ferramentas e instrumentos, com o uso de tecnologias apropriadas
(informática, por exemplo), para a realização das finalidades acima apresentadas;
11. desenvolver e aprimorar metodologias, métodos, técnicas, normas e
procedimentos para fazer face a todas as finalidades acima apresentadas.
Sem considerar as variações de terminologia, que podem mudar de país para país, de
estado para estado e até de município para município, os principais instrumentos do setor
ambiental, mais ou menos formalizados, são os seguintes:
Estudos de impacto ambiental
Auditorias ambientais
Sistemas de gestão ambiental
Zoneamentos ambientais
Planos de manejo
Levantamentos de passivos ambientais
Programas de recuperação de áreas degradadas
Programas de educação ambiental
Em complemento a esses instrumentos, novas atividades de gestão do ambiente vêem
sendo requeridas, notadamente abordando:
Projetos de desenvolvimento sustentável
Avaliação do desempenho ambiental
Planos de otimização do desempenho ambiental
Análises ambientais de alternativas de empreendimentos
Programas de gestão ambiental de obras
Sistemas de informação para a gestão ambiental
Manualização da função de gestão ambiental
UNIDADE II - DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Desenvolvimento Sustentável = satisfazer as necessecidades atuais, sem comprometer


a capacidade das futuras gerações de atender suas necessidades.

Em síntese, o desenvolvimento sustentável é uma questão de puro bom senso. Porém,


sua aplicação no dia-a-dia exigirá mudanças na produção e no consumo, em nossa forma
de pensar e de viver.

A evidência do declínio ambiental não deixa dúvidas de que temos de mudar nossos
modos de ser e viver para garantir que o progresso seja sustentável, e que ele atenda ao
principio do desenvolvimento sustentável.

Projetos de Desenvolvimento Sustentável

Qualquer projeto pode ser tratado para ser desenvolvido e ser operado em padrões
sustentáveis ou auto-sustentáveis.
Desde um projeto de cunho puramente ecológico, até um projeto industrial ou de extração
mineral, por exemplo, onde a apropriação e a transformação de recursos ambientais está
presente.

Quando se fala em Desenvolvimento Sustentável, o termo Desenvolvimento sempre está


associado a todas as fases da vida do empreendimento, ou seja:
concepção,
viabilidade,
projeto,
implantação,
operação,
produção,
avaliação de resultados,
ampliação,
manutenção,
aprimoramento e eventual desmobilização.

Significa dizer que os processos de gestão ambiental precisam estar presentes e ativos
durante toda a sua vida, desde a fase de concepção do empreendimento até o seu
encerramento, se for o caso.

Além da economia, da busca de minimização de dispêndios, a proposta de auto-


sustentabilidade está associada a uma permanente preocupação com o vizinho,
considerado tanto no espaço, quanto no tempo.

Para constituir um processo auto-sustentado, o empreendimento deve sofrer dois


tratamentos gerenciais específicos.
1. O primeiro, visando a sua conformidade legal e o atendimento a padrões de
desempenho aceitáveis do ponto de vista ambiental.
2. O segundo, referindo-se à introdução da competência ambiental na pauta dos
atributos empresariais básicos de sucesso da organização.

Conformidade Legal e Padrões de Desempenho


O tratamento relativo à conformidade legal e ao atendimento a padrões de desempenho
estabelecidos, sejam padrões legais vigentes ou padrões auto-impostos, está hoje
totalmente formalizado, através de instrumentos anteriormente apresentados, quais
sejam:
1. Estudos de Impacto Ambiental, para as fases de concepção, viabilidade, projeto,
implantação e ampliação;
2. Sistema de Gestão Ambiental, para as fases de implantação, operação, produção,
avaliação de resultados, ampliação, manutenção e aprimoramento;
3. Auditorias Ambientais, para as fases de implantação, operação, produção,
avaliação de resultados, ampliação, manutenção, aprimoramento e eventual
desmobilização.

Adicionalmente, outros instrumentos podem ser utilizados, dependendo das condições


ambientais da área de inserção do empreendimento:
projeto para recuperação de uma área degradada,
levantamento do passivo ambiental existente na região,
elaboração do zoneamento ambiental dessa região
implementação de um plano de gestão ambiental para garantir a
estabilidade do território zoneado (ordenado).

Os processos da gestão ambiental precisam estar presentes e ativos durante toda a vida
da organização. E o que isso significa?

Para responder a essa questão de uma forma mais ou menos objetiva, é possível
apresentar algumas diretrizes empresariais que cobrem e orientam todas as ações e
processos da nova função, fornecendo alguns elementos essenciais de sustentação do
desenvolvimento organizacional:
1. na concepção do empreendimento a organização avaliará todas as alternativas
tecnológicas consideradas limpas, visando economia de recursos ambientais de
que se utilizará e minimização de efluentes e resíduos sólidos que produzirá;
2. na concepção do empreendimento a organização avaliará todas as alternativas
tecnológicas disponíveis visando a reciclagem de material inservível e o reuso de
matérias primas;
3. no processo de microlocalização do empreendimento, além das variáveis
tradicionalmente utilizadas, a organização contemplará, com o mesmo nível de
restrição, variáveis ambientais relativas a:
4. características do relevo e suas eventuais vulnerabilidades quanto ao uso e à
ocupação;
5. fragilidades do solo, sobretudo as relacionadas a erosão, vossorocamentos,
desbarrancamentos, desmoronamentos, recalques diferenciais e assoreamento;
6. disponibilidade de água, superficial e subterrânea, e seus usos concorrentes;
7. cobertura vegetal existente;
8. ocorrências da fauna em seus mais diversos segmentos;
9. interferências com o patrimônio regional (sítios arqueológicos, bens tombados pelo
patrimônio histórico, áreas com grande valor cênico e áreas de interesse científico);
10. interferências com áreas indígenas e unidades de conservação ambiental;
11. interferências com outros empreendimentos;
12. interferências com sistemas e equipamentos de infra-estrutura (energia,
comunicação, rodovia, ferrovia, aeroporto, porto, sistema de abastecimento de
água, sistema de tratamento de esgotos sanitários etc.);
13. interferências com equipamento de serviços sociais básicos (escolas, hospitais,
creches etc.);
14. interferências com a economia local e regional;
15. interferências com a cultura local e regional, bem como com a estrutura existente,
espontânea ou não, relativa à organização social.
16. nas fases de viabilidade e de projeto, a organização contemplará variável
ambiental através de estudo específico de viabilização ambiental do
empreendimento;
17. na fase de implantação a organização desenvolverá e implementará um programa
específico para a gestão ambiental das obras do empreendimento, o qual,
obrigatoriamente, contemplará projetos de recuperação de todas as áreas
degradadas (alteradas) por força das obras;
18. para atender às fases de operação, produção, avaliação de resultados, ampliação,
manutenção, aprimoramento e eventual desmobilização será desenvolvido e
implementado o sistema de gestão ambiental da organização, ao qual serão
integrados pelo menos os seguintes sistemas auxiliares operacionais:
19. sistema de monitoração permanente de efeitos ambientais previstos e realizados;
20. sistema de monitoração e controle da qualidade de efluentes e resíduos;
21. sistema de reciclagem e reuso de materiais;
22. sistema de controle de deseconomias e desperdícios;
23. sistema de monitoração de riscos e acidentes ambientais;
24. sistema de informações ambientais da organização;
25. sistema de comunicação sócio-ambiental, para suporte sistemático e permanente
ao relacionamento da organização com as pessoas (vizinhos, funcionários,
clientes, instituições públicas, órgãos ambientais, fornecedores e acionistas).

O termo sustentável é relativamente novo no dicionário mundial, tendo sido inicialmente


lançado e explorado a partir da ECO-92.

Curiosamente, seu uso e aplicação alastrou-se rapidamente pelo País, e vem sendo
muitas vezes utilizado indevidamente.
O desenvolvimento de projetos auto-sustentados requer, sem dúvida, equipes
multidisciplinares, realizando ações integradas que devem convergir para a otimização do
desempenho ambiental das organizações.
AS CINCO DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE
Ao planejar o desenvolvimento, devemos considerar simultaneamente cinco dimensões
de sustentabilidade:

SUSTENTABILIDADE SOCIAL
Entendida como a consolidação de um processo de desenvolvimento baseado em outro
tipo de crescimento e orientado por outra visão do que é a boa sociedade.
O objetivo é construir uma civilização do "ser", em que exista maior eqüidade na
distribuição do "ter" e da renda, de modo a melhorar substancialmente os direitos e as
condições de amplas massas de população e a reduzir a distância entre os padrões de
vida de abastados e não-abastados.

SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA
Possibilitada por uma alocação e gestão mais eficientes dos recursos e por um fluxo
regular do investimento público e privado.

Uma condição fundamental para isso é superar as atuais condições externas, decorrentes
de uma combinação de fatores negativos já mencionados: o ônus do serviço da dívida e
do fluxo líquido de recursos financeiros do Sul para o Norte, as relações adversas de
troca, as barreiras protecionistas ainda existentes nos países industrializados e,
finalmente, as limitações do acesso à ciência e à tecnologia.

SUSTENTABILIDADE ECOLÓGICA (AMBIENTAL)


Que pode ser incrementada pelo uso das seguintes alavancas:
1. Aumento da capacidade de carga da Espaçonave Terra por meio da
engenhosidade ou, em outras palavras, intensificação do uso dos recursos
potenciais dos vários ecossistemas – com um mínimo de dano aos sistemas de
sustentação da vida - para propósitos socialmente válidos;
2. Limitação do consumo de combustíveis fósseis e de outros recursos e produtos
facilmente esgotáveis ou ambientalmente prejudiciais, substituindo-os por recursos
ou produtos renováveis e/ou abundantes e ambientalmente inofensivos;
3. Redução do volume de resíduos e de poluição, por meio da conservação e
reciclagem de energia e recursos;
4. Auto-limitação do consumo material pelos países ricos e pelas camadas sociais
privilegiadas em todo o mundo;
5. Intensificação da pesquisa de tecnologias limpas e que utilizem, de modo mais
eficiente, os recursos para a promoção do desenvolvimento urbano, rural e
industrial;
6. Definição das regras para uma adequada proteção ambiental, concepção da
máquina institucional, bem como a escolha do conjunto de instrumentos
econômicos, legais e administrativos necessários para assegurar o cumprimento
das regras.

SUSTENTABILIDADE ESPACIAL
Voltada a uma configuração rural-urbana mais equilibrada e a uma melhor distribuição
territorial de assentamentos humanos e atividades econômicas, com ênfase nas seguintes
questões:
1. Concentração excessiva nas áreas metropolitanas;
2. Destruição de ecossistemas frágeis, mas vitalmente importantes, por processos de
colonização descontrolados;
3. Promoção de projetos modernos de agricultura regenerativa e agroflorestamento,
operados por pequenos produtores, proporcionando para isso o acesso a pacotes
técnicos adequados, ao crédito e aos mercados;
4. Ênfase no potencial para industrialização descentralizada, associada a tecnologias
de nova geração (especialização flexível), com especial atenção às indústrias de
transformação de biomassa e ao seu papel na criação de empregos rurais não
agrícolas;
5. Estabelecimento de uma rede de reservas naturais e de biosfera para proteger a
biodiversidade.

SUSTENTABILIDADE CULTURAL
Em busca das raízes endógenas dos modelos de modernização e dos sistemas rurais
integrados de produção, privilegiando processos de mudança no seio da continuidade
cultural e traduzindo o conceito normativo de ecodesenvolvimento em uma pluralidade de
soluções particulares, que respeitem as especificidades de cada ecossistema, de cada
cultura e de cada local.

Os Treze Princípios de uma Comunidade Sustentável


1. Não desperdiça recursos e produz pouco lixo
2. Limita a poluição de forma que possa ser absorvida pelos sistemas naturais
3. Valoriza e protege a natureza
4. Atende as necessidades locais localmente, sempre que possível
5. Provê casa, comida e água limpa para todos
6. Dá oportunidades para que todos tenham um trabalho do qual gostem.
7. Valoriza o trabalho doméstico
8. Protege a saúde de seus habitantes, enfatizando a higiene e a prevenção
9. Provê meios de transporte acessíveis para todos
10. Dá segurança para que todos vivam sem medo de crimes ou perseguições
11. Dá a todos acesso igual às oportunidades
12. Permite que todos tenham acesso ao processo de decisão
13. Dá a todos oportunidades de cultura, lazer e recreação
CIDADES SUSTENTÁVEIS

1. Desenvolvimento Sustentável

A formulação do desenvolvimento sustentável, conforme consagrada pelo Relatório


Brundtland (CNUMAD 1991), é:
“aquele que satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade
das gerações futuras em satisfazerem as suas próprias necessidades”.
Apesar de tratar-se de um conceito ainda em construção, impreciso e cheio de
ambigüidades e de ser alvo de análises e críticas diversas, ele apresenta um grau de
adesão relativamente alto e tem sido incorporado, em diferentes níveis e formas, nos
esforços de planejamento e gestão em várias partes do planeta.
De maneira mais operacional, o desenvolvimento sustentável pode ser conceituado
como:
“o processo de mudança social e elevação das oportunidades da sociedade,
compatibilizando, no tempo e no espaço, o crescimento e a eficiência econômicos, a
conservação ambiental, a qualidade de vida e a eqüidade social” (Buarque 1994).
Ainda com o autor, o conceito encerraria três grandes conjuntos interligados, embora
com características, funções e papéis distintos no processo de desenvolvimento:
os objetivos centrais do desenvolvimento sustentável são a elevação da
qualidade de vida e a eqüidade social, seja no curto, médio ou longo prazos.
Os pré-requisitos são: a eficiência econômica e o crescimento econômico, pois
sem eles não há possibilidade de se elevar a qualidade de vida ou promover a
eqüidade. São, portanto, condições necessárias, mas não suficientes para a
implementação desse modelo de desenvolvimento.
O condicionante decisivo para o desenvolvimento sustentável é a conservação
ambiental, que permitirá a manutenção dos níveis de qualidade de vida
conquistados, inclusive para as gerações futuras e a eqüidade social contínua no
tempo e no espaço.
O desenvolvimento sustentável se caracteriza não como um estado fixo de harmonia,
mas sim como um processo de mudança, no qual a exploração de recursos, o
gerenciamento dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e as
mudanças institucionais são compatíveis com o futuro, bem como com as
necessidades do presente.
Trata-se, portanto, de um processo de compatibilização de interesses, ações e
sistemas, com alto grau de complexidade, e que terá as mais diferentes formas
concretas, pois será sempre fruto dos condicionantes históricos e realidade objetiva
específicos.
2. A Noção de Sustentabilidade
Há uma estabelecida discussão teórico-conceitual sobre o desenvolvimento
sustentável como via de acesso à própria sustentabilidade do homem no planeta.
Apesar das críticas e disputas teóricas, muitas bem fundamentadas, em vários países,
agendas nacionais e locais, estão em processo de elaboração ou implementação.
Todas elas baseadas no conceito de desenvolvimento sustentável e buscando criar as
condições e estabelecer os processos sociais no quais os atores vão pactuando,
progressivamente, consensos e construindo os instrumentos de mudanças no sentido
da sustentabilidade do desenvolvimento.
A contribuição brasileira para a discussão sobre a sustentabilidade tem sido
significativa.
Nos esforços surgidos após a Rio 92, observa-se que duas noções-chave de
sustentabilidade foram-se formando, fruto da necessidade de se atender à chamada
Agenda Social e à questão da democracia e dos direitos humanos: a sustentabilidade
ampliada e a sustentabilidade progressiva.
A noção de sustentabilidade ampliada explicita a indissolubilidade entre os
fatores sociais e os ambientais.
Decorre daí a necessidade de se enfrentarem conjuntamente a pobreza e a
degradação ambiental.
Essa noção possibilitou a superação dos conflitos de interesses entre o hemisfério
Norte, rico e desenvolvimento e o Sul, pobre e pouco desenvolvido.
A noção de sustentabilidade progressiva, por sua vez, representa o entendimento
de que a sustentabilidade não é um estado, mas um processo.
Essa progressividade não significa que decisões importantes possam ser adiadas,
mas busca substituir um círculo vicioso de produção, destruição e exclusão por
um círculo virtuoso de produção, conservação e inclusão.
Além dessas duas noções, a discussão brasileira sobre a sustentabilidade buscou
relativizar o absolutismo econômico que prevaleceu nas discussões sobre o
desenvolvimento sustentável, no âmbito internacional.
São identificadas várias outras dimensões da sustentabilidade, além da econômica.
Roberto Guimarães (1997), por exemplo, concebe sete dimensões principais e
complementares:
A dimensão ecológica, que se refere à base física do processo de
desenvolvimento.
Seu objetivo, portanto, é a conservação e o uso racional dos recursos naturais nos
processos produtivos.
A dimensão ambiental relaciona-se com a capacidade de carregação dos
ecossistemas associados.
Também contempla a recuperação de áreas e ecossistemas degradados pela ação
antrópica. Isso significa limitar as emissões de resíduos à capacidade de
regeneração dessas áreas e ecossistemas.
A dimensão demográfica aponta para a necessidade de se determinarem limites e
restrições ou estímulos às taxas demográficas, a partir da capacidade de
carregação da base de recursos de determinados territórios.
A dimensão cultural revela a necessidade de se manter a diversidade de culturas,
valores e práticas sociais em um determinado território e que constituem suas
identidades.
A dimensão social busca a melhoria da qualidade de vida das populações e
promover a inclusão social das porções marginalizadas.
A dimensão política está relacionada com o exercício da cidadania plena e com o
fortalecimento da democracia.
Em outras palavras, associa-se à questão da governabilidade em todas as escalas e
objetiva a elaboração de política públicas democráticas e democratizantes.
A dimensão institucional da sustentabilidade, finalmente, refere-se à necessidade
de desenhar instituições que permitam a incorporação do conceito e critérios de
sustentabilidade nas suas atividade e produtos.
Apesar desses esforços, a dimensão econômica da sustentabilidade continua a ser
foco da maior parte dos estudos e discussões, além de ser a que apresenta a maior
quantidade de formas inovadoras de atuação.
Talvez seja esse um dos motivos pelos quais, em 1997, cinco anos depois da Rio 92,
a ONU decidiu elaborar uma avaliação crítica dos resultados daquela Conferência e
da aplicação prática do desenvolvimento sustentável.
A avaliação da ONU reconheceu um conjunto de aspectos positivos, tais como:
• o maior consenso internacional,
• a expansão da consciência ecológica,
• o fortalecimento das instituições,
• o desenvolvimento jurídico,
• a maior participação pública
• e menores taxas de fertilidade e de crescimento populacional em todo o mundo.

Porém, também são vários e generalizados os aspectos negativos observados.


• A superação dos interesses estabelecidos tem sido um grande obstáculo para a
operacionalização do desenvolvimento sustentável.
• A pobreza e os padrões de consumo dos ricos continuam insutentavelmente
altos.
• As desigualdades de renda se ampliaram dentro e entre as nações.
• A concentração de renda no mundo também se ampliou.
• As três pessoas mais ricas do planeta, juntas, detêm ativos superiores ao
produto bruto dos 48 países mais pobres, onde vivem 600 milhões de pessoas.
• Pouco mais de 200 pessoas, que possuem mais de 1 bilhão de dólares têm,
juntas, mais que a renda anual de 45% dos habitantes do planeta, cerca de 2,7
bilhões de pessoas.
• Esses bilionários aumentaram seus ativos em 150% no espaço de apenas quatro
anos.
Por outro lado, a degradação ambiental se ampliou, com:
• o aumento da desentificação,
• a destruição de ozônio,
• a poluição dos oceanos,
• os desequilíbrios climáticos,
• os desmatamentos
• e a poluição dos recursos hídricos.
Esses dados dão uma mostra de que a discrepância entre os avanços teóricos e
conceituais e a efetiva implementação de ações que conduzam a um desenvolvimento
sustentável ainda é muito grande.
A questão da sustentabilidade ainda terá que superar desafios imensos, para lograr
reverter as tendências dos modelos atuais de desenvolvimento.

3. Sustentabilidade Urbana
A cidade se constitui, nesse início de milênio, como a forma que os seres humanos
escolheram para viver em sociedade e de prover as suas necessidades.
A discussão ambiental global passa necessariamente pela sustentabilidade urbana.
Os dados estatísticos demonstram que no presente momento estamos vivendo o salto
da urbanização global, que ultrapassa o percentual de 50% e que deverá atingir os
60% já no ano 2025.
No Brasil, a percentual já é maior do que 75% e deve atingir os 85% nos próximos 20
anos.
Isto significa que, para a maioria dos habitantes do planeta, o meio ambiente natural
foi substituído por espaços urbanos.
Neles, as relações entre a comunidade humana e seu meio físico foi alterada pela
própria ação do homem. Assim, a idéia de sustentabilidade deverá provar a sua
operacionalidade em um mundo urbanizado, no cenário das cidades.
Se os centros urbanos estão crescendo, também crescem com eles os grandes
problemas sociais e os desequilíbrios ambientais, apontando para um futuro com
queda acentuada na qualidade de vida, de degradação ambiental acelerada e de riscos
de governabilidade.
Mas, é necessário que se abandone a idéia de cidades como espaços caóticos e se
passe a buscar formas de administrá-las e de administrar os processos sociais que as
produzem e modificam.
Urge que se construam políticas urbanas alinhadas com os princípios da
sustentabilidade, mas que se concretizem em estratégias, procedimentos e ações que
compreendam a especificidade desses espaços, suas relações com seus espaços de
entorno e a dinâmica social que neles ocorrem.
A cidade se constitui em um fenômeno altamente complexo, na verdade é, no dizer
de Gabriel Quadri
“a forma mais complexa e acabada da organização humana. Nela podemos conviver
milhões de seres vivos (incluídas fauna e flora urbanas), realizar simultaneamente
um sem-número de atividades cotidianas, interagir, comunicar-nos, produzir e
consumir bens e serviços”.
A cidade é algo real, complexo e multidimensional. Um fenômeno altamente
heterogêneo. É o local onde permanentemente estão ocorrendo trocas, internas e
externas, das mais diversas naturezas: como as físicas, econômicas, políticas,
culturais, sociais e energéticas. E, por conseguinte, o espaço de grandes conflitos, já
que, na maioria dos casos, essas trocas são desiguais.
Parte do grande desafio da sustentabilidade urbana reside, portanto, na capacidade de
se tratar as cidades em sua especificidade e em toda a sua complexidade, com uma
abordagem que dê conta de suas várias dimensões e as oriente para um
desenvolvimento que permita a superação dos desequilíbrios resultantes dessas trocas
desiguais, sejam elas internas ou externas.
Outra parte do desafio da busca por cidades sustentáveis repousa na diversidade de
formas em que o fenômeno urbano se concretiza.
Desde as megalópoles até os pequenos centros urbanos, passa-se por uma gama de
situações extremamente diversificadas, em que cada assentamento tem sua
concretude determinada pelo meio físico em que se assenta e pelos processos sociais
que o produzem.
A existência de cada cidade tem uma lógica e uma fundamentação histórico-cultural
própria que, a despeito de inexoravelmente articulada com as demais, seja
internamente no nível específico de análise considerado – local, regional, nacional –
seja no nível global, subsistem sob a forma de seu patrimônio (cultural, físico-
natural, social, econômico e político), subvertendo tentativas hegemônicas da
imposição de um roteiro de qualidade universal.

4. Cidades Sustentáveis no Brasil


Infelizmente, no Brasil, pode-se afirmar que o cidadão urbano, em geral, vive em más
condições ambientais e com baixa qualidade de vida, em cidades carentes em infra-
estrutura elementar e com graves problemas sociais.
A expansão industrial e do consumo expulsou a população do meio rural,
impulsionando a metropolização, tornando essas regiões espaços onde proliferam
miséria social e desequilíbrios ecológicos, numa interação perversa entre esses
fenômenos, em que os mais pobres mais sofrem com as poluições, as carências infra-
estruturais e a insegurança.
As regiões metropolitanas sofrem as crises mais profundas, mas também as cidades
de porte médio já as conhecem, embora nelas ainda seja possível manter condições de
sustentabilidade com custos mais baixos do que nas grandes cidades e metrópoles.
Nos centros menores, as condições ambientais são melhores, mas os problemas de
sustentabilidade persistem, embora com formas diferentes, como as questões de
carência de infra-estrutura para o desenvolvimento e problemas ambientais ligados à
suas bases físicas.
Temos, assim, cidades grandes que apresentam grandes disparidades entre si e no seu
interior.
Disparidades socioeconômicas que se cristalizam em disparidades nas condições
ambientais.
Para enfrentar o desafio de levar as nossas cidades a estágios progressivos de
sustentabilidade urbana, destacaremos aqui apenas alguns aspectos da gestão urbana,
que embora centrais, certamente não cobrem todo a gama de aspectos relativos ao
tema:
É preciso promover a produtividade e fortalecer as vantagens comparativas
das cidades, que são moldadas pelos fatores locais e pela diversidade.
Assim, deve-se assegurar o dinamismo econômico das cidades, evitando a
obsolescência de sua infra-estrutura e o abandono de seus espaços públicos.
Estaremos, assim, evitando as chamadas deseconomias urbanas, que, na medida
que diminuem a produtividade da economia urbana, aumentam a pobreza e a
queda da qualidade de vida da população.
• A gestão urbana sustentável não deve ignorar a crescente dependência dos
processos urbanos das condições macroeconômicas gerais, do país e do
mundo.
Mesmo que as primeiras análises dos efeitos da globalização dos mercados
nacionais sobre as cidades brasileiras sejam desestimulantes, não se pode deixar
de reconhecer a irreversibilidade de alguns dos seus aspectos e a sua importância
para o desenvolvimento urbano.
A gestão deverá garantir a integração de cada cidade à rede urbana da qual faz
parte, compreendendo e explorando a sua articulação com as cadeias produtivas
existentes, sejam elas regionais, nacionais ou internacionais.
A questão tecnológica também deve ser parte importante da gestão urbana
sustentável.
A inovação tecnológica é fundamental porque as condições de sustentabilidade
estão definidas pela população, pela tecnologia, pelo processos sociais e pelos
padrões de consumo.
Isso não significa que ela seja suficiente.
Algumas tecnologias utilizadas para resolver problemas ambientais urbanos estão
mostrando sinais de esgotamento, deixando mais difícil e caro baixar os volumes
adicionais de contaminação e mitigar outros impactos ambientais.
Para resolver esses problemas, conjuntamente com a questão tecnológica, será
necessário atuar na organização espacial da cidade e cuidar da interação setorial
das políticas públicas.
A introdução Explícita de conceitos ambientais à gestão da cidade é outro
fator central para a sustentabilidade urbana.
Com o modelo de cidade ocidental atual, produziu-se o paradoxo de que a
concentração da população, longe de economizar solos e recursos, induz
globalmente a um maior desperdício dos mesmos.
É necessário, por exemplo, que se passe a tratar as cidades como ecossistemas
artificiais incompletos que são (Odum 1988).
Reconhecendo que elas dependem de grandes áreas externas para a obtenção de
energia, alimentos, fibras, água e outros materiais.
Que seu metabolismo, muito intenso, exige um enorme influxo de energia
concentrada e de materiais para alimentar os processos urbanos e que também
enorme é sua saída de resíduos, substâncias venenosas, muitas das quais de
origem química sintética, mais tóxicas do que seus precursores naturais.
Portanto, é fundamental produzir informações que permita às gestões das cidades
conhecer, quantificar e buscar controlar esses influxos e essa emissões de
resíduos.
• Promover um ambiente de co-responsabilidade entre os vários setores da
sociedade e entre os vários níveis e setores das administrações públicas.
Só uma gestão integradora e que se utilize de processos transparentes e
participativos logrará obter a convergência de energias e a provisão de recursos
financeiros necessárias para alcançar os objetivos da sustentabilidade urbana.
• Garantir ao planejamento uma abordagem territorial, onde as especificidades
de cada cidade sejam apreendidas, consideradas e trabalhadas em relação aos
aspectos que constituem oportunidades singulares e peculiares para o seu
desenvolvimento sustentável ou apresentam-se como obstáculos a serem
superados.
Explorar as interfaces da gestão urbana com outras questões prioritárias a
serem enfrentadas, mesmo que muitas delas extrapolem os limites da
administração local.
No caso das cidades brasileiras, é impossível discutir a sustentabilidade urbana
sem focalizar questões como:
a redução dos níveis de pobreza;
criação de postos de trabalho;
universalização da infra-estrutura básica de saneamento, educação e saúde:
regularização do uso ilegal do solo urbano;
controle das poluições;
recuperação ambiental;
recuperação de área degradadas;
busca por alternativas energéticas;
redução da violência urbana;
proteção do patrimônio e ambiental, entre outras.
5. Conservação e Reabilitação do Patrimônio Histórico e Cultural
Uma dessas questões que ultrapassam o limite do poder local, mas que deve ser
objeto da gestão urbana que visa à sustentabilidade é a conservação e reabilitação do
patrimônio histórico e cultural das cidades.
Esse aspecto não é suficientemente destacado no âmbito da discussão da
sustentabilidade urbana no Brasil, mas desde o início da década do 90, em outros
países desenvolvidos ou em desenvolvimento, o tema da proteção das áreas históricas
- principalmente se estiverem degradadas - e do patrimônio cultural são tratados
como elemento fundamental para o desenvolvimento sustentável.
O desafio que se impõe a uma gestão urbana sustentável, nesse caso, é estabelecer as
formas de proporcionar o retorno de atividades ao patrimônio histórico construído e
degradado, através de uma política de conservação integrada que priorize seus
valores estéticos, históricos, culturais, sociais e econômicos, possibilitando uma
intervenção de reabilitação desse patrimônio.
Essa estratégia se constitui em mais um esforço de proteção do capital ambiental que
se busca proteger ou regenerar para fruição dos nossos contemporâneos ou das
gerações futuras.

6. Conclusão
A Cidade Sustentável, esse fenômeno em construção, pressupõe um conjunto de
mudanças, algumas subjetivas e individuais e outras objetivas e que devem ser
alcançadas de forma coletiva.
De uma forma ampla a sustentabilidade das cidades brasileiras vai depender de nossa
capacidade de reorganizar os nossos espaços, gerir novas economias externas,
eliminar as deseconomias de aglomeração, melhorar a qualidade de vida das nossas
populações e superar as desigualdades socioeconômicas como condição para o
crescimento econômico, e não como sua conseqüência.

A Cidade Sustentável é uma construção coletiva de cada população urbana.

Mobilizando-se o imaginário coletivo, deverão ser criados novos paradigmas,


definindo o que se deseja que permaneça, o que se deseja transformar, os limites e as
modalidades da transformação, baseado-nos, sempre, no desejo humano de viver na
plenitude do ser.
O QUE É A AGENDA 21?
A Agenda 21 é um abrangente plano de ação a ser implementado pelos governos,
agências de desenvolvimento, organizações das Nações Unidas e grupos setoriais
independentes em cada área onde a atividade humana afeta o meio ambiente.

A execução deste programa deverá levar em conta as diferentes situações e condições


dos países e regiões e a plena observância de todos os princípios contidos na Declaração
do Rio Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Trata-se de uma pauta de ações a longo prazo, estabelecendo os temas, projetos,


objetivos, metas, planos e mecanismos de execução para diferentes temas da
Convenção. Esse programa contém 4 seções, 40 capítulos, 115 programas, e
aproximadamente 2.500 ações a serem implementadas.

As quatro seções subdividem em capítulos temáticos que contêm um conjunto de áreas e


programas. Essas quatro seções abrangem os seguintes temas:
1. Dimensões Econômicas e Sociais: trata das relações entre meio ambiente e
pobreza, saúde, comércio, dívida externa, consumo e população;

2. Conservação e Administração de Recursos: trata das maneiras de gerenciar


recursos físicos para garantir o desenvolvimento sustentável;

3. Fortalecimento dos Grupos Sociais: trata das formas de apoio a grupos sociais
organizados e minoritários que colaboram para a sustentabilidade;

4. Meios de Implementação: trata dos financiamentos e papel das atividades


governamentais e não governamentais. A Agenda 21 constitui um termo de
compromisso da sociedade com o desenvolvimento sustentável, apresentando um
elenco de estratégias e proposições para sua consolidação, buscando soluções
para os problemas atuais e a preparação do mundo para enfrentar os desafios do
século XXI.

Através do planejamento de ações futuras, define um roteiro, com metas, recursos e


responsabilidades, servindo como referência para a priorização de investimentos e
orientação na aplicação de recursos e energias no rumo do desenvolvimento sustentável,
que inclui melhor qualidade de vida e maior justiça social.
A Agenda 21 foi proposta e referendada na Rio 92, como um plano de intervenção no
planeta Terra, a favor do desenvolvimento sustentável e no qual as autoridades ou
governos locais têm papel relevante.
Agenda 21 é um projeto de interesse comum para nosso futuro comum.

COMO SURGIU A AGENDA 21?


A Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, foi a primeira reunião das Nações
Unidas a tratar das questões de Meio Ambiente e a definir os direitos da humanidade a
um meio ambiente sadio e produtivo.
Após a Conferência de Estocolmo, outras reuniões promovidas pela ONU discutiram os
direitos das pessoas à alimentação suficiente, à habitação decente, à água potável e aos
meios de escolha da dimensão de sua família.
Em 1983, a ONU criou uma comissão especial e independente para propor estratégias de
longo prazo em matéria de meio ambiente, visando assegurar o desenvolvimento
sustentável. Os trabalhos dessa comissão resultaram no relatório “Nosso Futuro Comum”,
publicado em 1987, conhecido como Relatório Brundtland .
Em 1992 foi realizada no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, também chamada Conferência do Rio ou Eco 92. Esta
reunião resultou na adoção de várias convenções e protocolos: a Declaração do Rio, a
Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas, o Convênio sobre a Diversidade
Biológica, a Convenção sobre as Mudanças Climáticas e a Agenda 21 .
Considerada o mais importante protocolo da Rio 92, adotada por 178 países, a Agenda 21
tem por finalidade reorientar o desenvolvimento em direção à sustentabilidade,
constituindo-se num plano de ação de médio e longo prazos.
Os temas da Agenda 21 estão agrupados em 40 capítulos e em quatro seções que tratam
de:
• Aspectos sociais e econômicos: as relações entre Meio Ambiente e pobreza, saúde,
dívida externa, consumo e população.
• Conservação e administração de recursos: as maneiras de gerenciar recursos físicos
como terra, mares, energia e lixo, para garantir o desenvolvimento sustentável.
• Fortalecimento dos grupos sociais: as formas de apoio a grupos sociais organizados e
minoritários que colaboram para a sustentabilidade.
Meios de implementação: financiamento e papel das organizações governamentais e não
governamentais.
Em junho de 1997, o Conselho de Desenvolvimento Sustentável da ONU avaliou os 5
anos da Conferência do Rio e reforçou a importância de se levarem, à ação prática, as
recomendações e propostas da Agenda 21.

PARA QUE SERVE A AGENDA 21 LOCAL?


A Agenda 21 local permite que o Município defina, através de um processo contínuo de
compromissos e responsabilidades compartilhadas, as ações necessárias para:
• melhorar a qualidade de vida da população, respeitando a cidadania e o Meio
Ambiente;
implantar melhorias na administração das cidades, garantindo um futuro melhor para as
novas gerações;
• orientar a elaboração dos orçamentos locais para finalidades e aplicações estratégicas,
usando melhor e desperdiçando menos os recursos orçamentários e as receitas
municipais;
• ampliar as possibilidades de participação da sociedade na definição das políticas
municipais;
• orientar o uso adequado dos recursos naturais e as ações locais na busca do
desenvolvimento sustentável;
• melhorar a distribuição de renda no município.

QUEM FAZ A AGENDA 21?


Governo e Sociedade fazem a Agenda 21.
A Agenda 21 deve resultar do esforço integrado de todos os setores e grupos, sejam
instituições públicas e privadas ou a sociedade civil organizada, através de iniciativas e
projetos voltados para a melhoria da qualidade de vida, para a promoção do
desenvolvimento sustentável e para o fortalecimento da cidadania.
Como a sociedade é formada por grupos que apresentam, algumas vezes, interesses
divergentes, os projetos devem contemplar as expectativas destes vários segmentos,
buscando, ao mesmo tempo, atender às demandas da comunidade como um todo.
O papel do Poder Público é fundamental como promotor dos processos de discussão,
organização, implementação e monitoramento da Agenda 21, em parceria com todos os
segmentos da sociedade civil, buscando atender às demandas de toda a comunidade.
Uma sociedade conscientizada sobre a Agenda 21 pode atuar cobrando ações do
Governo.

QUANDO COMEÇA E TERMINA A AGENDA 21 LOCAL?


A Agenda 21 local começa quando os grupos, comunidades e governo local passam a
acreditar nas mudanças positivas que as ações discutidas e priorizadas podem trazer
para sua qualidade de vida, fortalecendo a participação da comunidade na definição dos
caminhos para o desenvolvimento municipal.
A Agenda 21 local não tem data para terminar, pois é um processo no qual a sociedade
vai realizando metas, passo a passo, e, ao mesmo tempo, propondo outras. Por ser um
planejamento a longo prazo, ela pode e deve ser revista durante seu processo de
implementação.
O importante não é definir quando a Agenda 21 local começa ou termina, mas que ela
resulte de um processo participativo.

O QUE É QUALIDADE DE VIDA?


Em 1995, a Organização Mundial de Saúde - OMS e a Organização Panamericana de
Saúde - OPAS definiram requisitos básicos para que uma comunidade alcance uma boa
qualidade de vida. São eles:
ambiente físico limpo e seguro; ecossistema estável e sustentável; alto suporte social,
sem exploração; alto grau de participação social; satisfação das necessidades básicas;
acesso a experiências, recursos, contatos e interações; economia local diversificada e
inovadora; respeito pela herança biológica e cultural.
Qualidade de vida é o direito do cidadão a um Meio Ambiente ecologicamente equilibrado
e às condições básicas para sua sobrevivência e exercício da cidadania.
Como as responsabilidades podem ser compartilhadas:
NÍVEL DE RESPONSABILIDADES
INTERVENÇÃO
NACIONAL • Produzir e priorizar as políticas e linhas de ação para a
administração e gestão daCampanha;
• Capacitar o nível estadual para que efetue a coordenação entre o
nível nacioanl e o municipal;
• Monitorar o desempenho do nível estadual para verificar os avanços
dos processos municipais;
• Receber, organizar e processar as informações do nível estadual
para atualizar a base nacional de dados ambientais;
• Realizar a divulgação nacional da Agenda 21;
• Produzir, com a participação dos estados, a Agenda 21 Nacional.
ESTADUAL • Ser a ligação entre o nível nacional e o municipal;
• Identificar, priorizar, liderar e executar programas e projetos para o
manejo dos recursos a nível estadual;
• Adaptar as orientações nacionais às realidades regionais;
• Capaciatr o nível local quanto aos conceitos, necessiadades e
importância de um processo de planejamento participativo,
democrático, e pluralista que propicie o desenvolvimento
sustentável;
• Capacitar o nível municipal quanto à metodologia, objetivos, metas e
resultados esperados do processo;
• Prestar assitência técnica, assessoria e acompanhamento aos
municípios para garantir a qualidade dos aspectos técnicos e de
gestão;
• Monitorar os processos municipais de construção e implementação
da Agenda 21 Local;
• Receber, organizar e processar as informações enviadas pelos
municípios para atualizar a base de dados ambientais estadual;
• Produzir, junto com os municípuios, a Agenda 21 Estadual.
MUNICIPAL • Executar os projetos locais;
• Adaptar à realidade local as orientações e a metodologia;
• Organizar, implantar e facilitar o processo de Agenda 21 local;
• Promover a divulgaçãoe continuidade do processo entre os seus
habitantes;
• Levar em consideração todos os setores da sociedade na
elaboração da Agenda 21 local;
• Gerar e divulgar informações pertinentes, informando seus cidadãos,
atualizando sua base de dados ambientais e a estadual.
ONGs/ • Participar do processo de construção e implementação da Agenda
COMUNIDADE 21 Local em todos os níveis;
ORGANIZADA • Participar do processo de construção das bases metodológicas da
Campanha Nacional da Agenda 21;
• Participar da capacitação de multiplicadores e na formulação de
material de informação e apoio;
• Prover apoio técnico e assessoria a todos os níveis;
• Trazer conhecimentos específicos para o processo.
A base da Agenda 21 Local é a criação de sistemas de gerenciamento que levem o futuro
em consideração.
Esse gerenciamento deverá:
• Integrar planejamento e políticas;
• Envolver todos os setores da comunidade;
• Focalizar resultados a longo prazo.
É um processo contínuo e não um único acontecimento, documento ou atividade.

Não existe uma “lista”de coisas a serem feitas, mas uma metodologia dinâmica que
envolve uma série de atividades, ferramentas e abordagens que podem ser escolhidas
pelas autoridades locais e seus parceiros, de acordo com as circunstâncias e prioridades
locais.

No processo de desenvolvimento de uma Agenda 21 Local, a comunidade aprende sobre


suas deficiências e identifica inovações, forças e recursos próprios ao fazer as escolhas
que levarão a se tornar uma comunidade sustentável.

ESSÊNCIA:
• Reduzir o consumo de recursos naturais através de maior eficiência, resuso e
reciclagem;
• Conservação de ecossistemas frágeis;
• Igualdade social;
• Qualidade de vida;
• Respeito por culturas tradicionais.

PROCESSOS:
• Planejamento e gerenciamento ativos;
• Consultas, participação;
• “Empoderamento”;
• Decisões a nível local;
• Parcerias e colaboração.

FERRAMENTAS
• Educação, informação, conscientização;
• Capaciatação, confiança, experiência;
• Leis e seu cumprimento
• Mercado - impostos, taxas, subsídios;
• Investimentos públicos

Apesar de não haver uma “receita pronta”, existem alguns ingredientes que são comuns a
todas as experiências bem sucedidas:
Envolver a comunidade para alcançar a participação e o “empoderamento”.
Executar projetos-piloto que possam ser postos em prática rapidamente e tornerem-se
exemplos;
Usar estratégias diferentes para lidar com as questões de comunidades diferentes;
Usar exemplos práticos de integração que tenham apelo a todos;
Identificar e apoiar as organizações e pessoas “chave” da comunidade;
Designar um Coordenador do processo que també funcione como um contato com a
comunidade.

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