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Desenvolvimento 4
Arlindo Philippi Jr.
Engenheiro Civil e Sanitarista, Faculdade de Saúde Pública da USP
Figura 4.1 - Aspectos que dificultam a gestão dos espaços naturais e antrópicos.
_ _Descrição
mento sustentável.
.
1 É necessário primeiramente ter uma visão clara de desenvolvimento sustentável e as
metas que a definem.
2 Proceder a revisão do sistema atual como um todo e em partes; considerar o bem-estar
dos subsistemas social, ecológico e económico, os seus estados, a direção e a taxa de
mudança em relação a estes estados e suas inter-relações; considerar as consequências
positivas e negativas das atividades humanas, de maneira que reflita os custos e benefícios
para os seres humanos e sistemas ecológicos, em termos monetários e não-monetários.
3 Considerar as questões de igualdade e disparidade entre a população atual e entre as
gerações presentes e futuras, avaliando o uso dos recursos, consumo e pobreza, direitos
humanos, e acessos aos serviços básicos; considerar as condições ecológicas das quais a
vida depende; considerar o desenvolvimento económico e outras atividades fora do mer-
cado, que contribuem para o bem-estar humano e social.
4 Adotar horizonte de planejamento longo o suficiente para abranger as escalas de tempo
humano e dos ecossistemas naturais, respondendo assim às necessidades das futuras
gerações, como também às que precisam de decisões de curto prazo; definir o escopo
de trabalho abrangente o suficiente para que inclua os impactos locais e regionais/glo-
bais na população e ecossistemas; basear-se nas condições históricas e atuais para ante-
cipar condições futuras - onde se quer chegar, aonde se pode ir.
5 Utilizar uma estrutura organizacional que conecte a visão e os objetivos a indicadores e cri-
térios de avaliação; utilizar um número limitado de aspectos para análise; um número limi-
tado de indicadores ou combinação de indicadores para conseguir uma sinalização mais
clara do progresso; padronizar medidas, quando possível, de modo a permitir compara-
ções; comparar valores dos indicadores a metas, valores de referência, ou valores limites.
6 Os métodos e dados utilizados devem ser acessíveis a todos; todos os julgamentos, valo-
res assumidos e incertezas nos dados e interpretações devem ser explicitados.
7 Ser projetado para atender às necessidades da comunidade e dos usuários; utilizar indi-
cadores e outras ferramentas que podem estimular e trazer a atenção dos governantes;
buscar utilizar simplicidade na estrutura e linguagem acessível.
8 Obter representação efetiva da comunidade, profissionais em geral, grupos sociais e téc-
nicos, de modo a garantir diversidade e reconhecimento dos valores utilizados.
9 Desenvolver capacidade de monitoramento para obtenção das tendências; ser interativo e
adaptativo, e que possa responder às mudanças e incertezas, considerando a complexida-
de e possibilidade de mudança dos sistemas; ajustar os objetivos, a estrutura e os indica-
dores conforme novos conhecimentos e ideias forem chegando; promover conscientização
da sociedade e que possa suprir aqueles que tomam decisão.
10 Indicar responsabilidades e obter prioridade no processo de gestão e decisão; prover
capacidade institucional para coleta, manutenção e documentação dos dados; garantir e
prover capacidade de avaliação local.
m
j i ; EDUCAÇÃO AMBiEOTAL E SUSTENTABILIDADE
'Urn ecossistema urbano pode ser definido como aquele onde as alte-
tações ocorridas em função das inten-enções antrópicas foram mais signi-
ficativas, i m p i i m i n d o cai-acíerísticas bastante alteradas em relação aos
jiimbientes anteriores. As principais características do ambiente urbano
são: a i u densidade demográfica; relação ambiente construído e ambiente
natural desproporcionai; importação de energia para manter o sistema em
funcionamento; elevado VOJUIÍ;^ de resíduos; alteração significativa UQ
diversidade biológica nativa, com retirada das tloic:;í3s, importação de
espécies vegetais e aniiTiòis; desbalanceamento dos principais ciclos bio-
geoquímicos, como o ciclo da água, do carbono, do nitrogénio e do fósfo-
ro; impermeabilização do solo e alteração de cursos d'água.
Estudos realizados mo'';ram diferenças impoftautes encontradas
entre u m ambiente natural e urbano, por exPínpio no que se refere à poiui-
ção atmosférica e às características niicroclimáticas, e que têm relação com
u m maior riscc de agravo à saúde e qualidade de vida (Ehrlich et ai. 1977;
,Ca|l«WlÍ988;Forattini 1992). ;=« ,/> y,^ M/.;*.
As altas concentrações de material particulado que, por exemplo, ocor-
rem com maior frequência nas áreas urbanas têm diversas causas: fontes
industriais que emitem material particulado; atividades de construção civil
sem controle de poeira; ressuspensão de poeira por veículos, entre outras.
A impermeabilização excessiva do solo, como consequência da i m -
plantasão de vias de circulação com asfalto, utilização de piso impermeável
nos quintais das residências e indústrias, baixo índice de áreas verdes urba-
nas e a construção de casas nas várzeas dos cursos d'água, aumenta a ocor-
rência de pontos de enchente e de alagamento, com reflexos negativos nas
atividades urbanas e em problemas de saúde pública.
Os ambientes primevo, rural e antrópico encerram, portanto, caracte-
rísticas físicas, biológicas e sociais bastante distintas, cuja consideração se
torna importante no processo de gestão ambiental. O planejamento desses
espaços deve ser feito com enfoque integrado, pois o desbalanceamento
dos fluxos de energia, de troca de recursos naturais entre esses ambientes
e o alto fluxo de mobilidade social são fatores potenciais de causa e
aumento da poluição.
Assim, o entendimento dessas diferenças é também importante no
processo educacional, formal e não formal, para que a sociedade com-
preenda o impacto de suas ações no meio ambiente, e, portanto, o resulta-
do dessas modificações no aumento do risco de agravo à saúde pública e à
qualidade de vida.
SAÚDE AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO 65
7000
6000
5000
4000 . população
3000
2000
1000
^
O
•10000 -8000 -6000 -4000 -2000 O 2000
DEGRADAÇÃO M
(, RECURSOS
SISTEMA "^^m
NATURAIS
i FÍSICO K ^ ^ H
SISTEMA
SOCIAL BIOLÓGICO
DETERMINANTES
FÍSICO-QUÍMICO, BIOLÓGICO E SOCIAL
1
saneamento, moradia e saúde, expondo esse segmento a condições a m -
bientais críticas.
Dessa forma, é preciso que a questão demográfica, no contexto
limbiental, considere adequadamente a dinâmica do crescimento demo-
gráfico, o que inclui garantir enfoque integrado para padrões de migração,
crescimento vegetativo e forma de ocupação dos espaços.
Proteção Ambiental
Por esse enfoque, o conjunto de ações de proteção ambiental deve ter
como objetivo manter, controlar e recuperar os padrões de qualidade dos
ecossistemas, de modo a promover saúde pública, qualidade de vida e
ambiental.
O enfoque ecossistêmico é proposto na estratégia das ações de prote-
ção ambiental, ou seja, manutenção do balanço ecológico das relações entre
os componentes bióticos e abióticos, e do fluxo de energia entre eles.
A incorporação do princípio desse modelo nos processos de educação
ambiental representa efetivamente a possibilidade de mudar padrões de
consumo e de produção, de forma a alcançar taxas de consumo de recur-
sos naturais e produção de resíduos compatíveis com a capacidade de
absorção e recuperação dos ecossistemas.
O sistema de áreas verdes deve priorizar manutenção de espécies florís-
ticas que servem de alimento e habitat para a fauna, o que também repre-
senta aumento das áreas permeáveis no solo urbano e maior capacidade de
recarga de lençol freático. Isso significa melhor funcionamento do sistema
de drenagem natural, contribuição na redução do efeito estufa, conforto tér-
mico urbano, além dos benefícios paisagísticos e de espaço de lazer.
No planejamento do sistema de limpeza pública, a priorização de pro-
cessos de tratamento por compostagem dos resíduos orgânicos possibilita
o retorno dessa matéria orgânica e de nutrientes para as áreas de produ-
ção de alimentos, nos cinturões verdes das cidades ou nas áreas rurais; os
processos de reúso e reciclagem dos resíduos urbanos industriais dimi-
nuem a pressão do consumo de recursos naturais virgens.
Nesse enfoque sistémico, as ações para gestão da proteção ambiental,
conforme ilustrado na Figura 4.4, devem incluir planejamento para o uso
adequado dos espaços antrópicos e naturais; investimentos em programas
de capacitação profissional para preparo de recursos humanos no desenvol-
vimento interdisciplinar de atividades e projetos; integração de enfoque nas
ações institucionais para proteção e sustentabilidade ambiental; prioriza-
ção em pesquisa para desenvolvimento de tecnologias apropriadas e para
melhor compreensão do funcionamento dos ecossistemas e do impacto
potencial das atividades antrópicas; esforços deverão ser empreendidos
junto aos órgãos de gestão ambiental para sua melhor estruturação institu-
cional; estabelecimento de políticas públicas que garantam espaços efetivos
de participação da comunidade no processo de planejamento e implanta-
SAÚDE AMBIENTAL E DESENVOLVIMEhflO 77
Ihiptanta^çâo de programas de
capa&a(,áú profesionai Ptao^annetito territorial
pesquisa para
\ Sistemas de
Controle
dewnvolvimento saneamento do
|de lecnologias ambiental meio
apropríada&
íganização e capacitação
ln»*itucional dos órgãos de Políticas púWkas de participação
gestão ambientai e de educação ambiental,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A abordagem deste capítulo, voltada para o entendimento da impor-
tância do saneamento ambiental para a promoção, proteção e recuperação
das condições de saúde pública e ambiental das comunidades, evidencia as
interrelações e interações entre saneamento, saúde e ambiente e demons-
tra a necessidade dos seus conhecimentos e saberes como fundamentos
para u m desenvolvimento sustentável.
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