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Colégio Dom Bosco

Resenha da Obra
Pietra Moraes Correia Longo
Turma: 200M

Han, Byung- Chul. No Enxame: perspectivas do digital


Editora Vozes, Petrópolis, 2018

Byung-Chul Han (1959-), é um filósofo coreano situado na Alemanha, onde leciona


atualmente como professor de Filosofia e Estudos culturais na Universidade de Berlin.
Também realizou sua graduação e doutorado na Alemanha, sendo respectivamente em
Munique e Friburgo. O filósofo leva a influência de Michel Foucault e principalmente
de Martin Heidegger, objeto de estudo de seu doutorado, para suas obras, como:
Sociedade do Cansaço (2010), Agonia do Eros (2012) e Sociedade da Transparência
(2012). Na Obra “No Enxame”, o autor aborda a crise atual como uma resposta à
transição crítica da revolução digital, em que indivíduos singularizados compõem as
relações de poder. Entretanto, o grupo de pessoas que se forma no âmbito digital não
pode ser chamado de “massa”, uma vez que não se reside alma (Seele) nem espírito
(Geist) no conjunto desses indivíduos. Não se tem a unificação que decorre da presença
da alma e do espírito, portanto o autor os denomina de enxame digital.
No Prefácio (pg.07), Han discorre sobre a mudança social que cerca a mídia digital, ele
pontua que o despreparo e desconhecimento desse novo formato de mundo resulta numa
“embriaguez consciente”, em que a dição de uma transformação nas sensações,
pensamentos e decisões alteram o comportamento da vida em sociedade, implicando
uma “cegueira” e “estupidez” simultâneas. A ascensão repentina digital destacada pelo
autor pode ser relacionada com o comportamento de manada desenvolvido pela filosofia
de Friedrich Nietzsche, uma vez que as ações, o raciocínio e as decisões são tomadas
com base no que é ditado pela mídia digital, ou seja, as escolhas são conscientes, mas
não necessariamente racionais, além de não serem formadas pela individualidade
intelectual do indivíduo e sim pela influência midiática na sociedade.
No capítulo Sem Respeito (pg.08-10), o respeito é, em primeiro plano, descrito como
um olhar para trás (Zurückblicken), um olhar para a distância. Embora que hoje ele
tenha sido ressignificado, não se tem mais a distância, a consideração em controlar o
observar (Hinsehen) curioso pelo outro. A distância funciona com determinante na
diferença entre o respectare e o spectare, onde o respectare exprime a distância como
elemento de respeito, e o spectare a desconsidera por valorizar uma visão sem uma
consideração distanciada. Logo, o autor relaciona a crise social presente hoje à ausência
do respeito pela distância na sociedade. A digitalização dos meios de comunicação já
resulta na desconstrução da distância, tanto espacial quanto mental, e isto infere na
desconstrução do respeito, ou melhor, na construção do desrespeito. O respeito é
diretamente ligado ao funcionamento de uma sociedade, visto que sem ele, a sociedade
desmorona. As esferas de uma sociedade, a pública e a privada, requerem diferentes
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tipos de distância, mas a exposição provida pela comunicação digital quebra a barreira
que divide o público e o privado, causando um efeito de mistura que torna impossível
retornar a uma esfera privada. Refere-se também à questão da anonimidade como meio
de exclusão do respeito, uma vez que rompe a ponte pela ausência de nomes. Para o
autor, nome e respeito estão ligados, de modo que um é a base do outro, e que juntos
constroem a responsabilidade, a confiança e a promessa. A mídia impede a formação
desse relacionamento entre mensagem, mensageiro e remetente, tudo isso pela ausência
nominal. O autor fala também sobre um fenômeno chamado Shitstorm, que ressalva o
contraponto entre o desrespeito e a indiscrição e a instantaneidade do transporte de
afetos, que é maior que qualquer aparelho analógico. Essa simetria de posse das
informações refletem uma perda de poder hierárquico e ainda é mais notório em lugares
que são majoritariamente ocupados por poder e autoridade, e representam o começo da
desconstrução desse poder. O poder comunicacional reduz o ruído, o barulho. Ele marca
o silêncio para a desenvoltura das ações. O respeito comunicacional funciona de
maneira similar, onde a imitação corresponde a obediência e o shitstorm vem da
desintegração dos valores e desse respeito. Desse modo, exerce a soberania no mundo
pós-revolução digital quem dispõe do shitstorm dentro das redes.
No capítulo Sociedade da indignação (pg.11), Byung-Chul aponta a sociedade da
indignação como desobediente, histérica, rebelde, escandalosa. Exprime a comunicação
falha por meio da ausência de diálogo e discurso, estas apontam a fraqueza do elo com a
comunidade como característica de indignação, uma vez que os indivíduos são, em
maior escala, egocêntricos. A indignação pode levar também a um estado de fúria, que
exprime a capacidade de interromper e recomeçar estados afetivos. Em contrapartida,
falta à massa de indignação, a geração de um futuro.
No capítulo No Enxame, o autor reitera que o enxame digital não pode ser considerado
massa por conta da sua estrutura, os indivíduos que formam um enxame não são
unificados, eles não formam uma coletividade, um “nós”. Não possuem características
ou ações que os levem a união e não representam, de forma alguma, a coerência.
Mesmo na forma de externalização, não existe voz, existe o ruído, o barulho que deriva
do Shitstorm. O autor ainda compara o ser humano das massas com o habitante digital,
o homem das massas é um espectador que se torna um ninguém em um estádio global,
ele tem seu sujeito, sua identidade dissolvida e absorvida pelas massas e é isto que o
diferencia, o homem das massas não pode ser anônimo, e o digital, pode. O habitante da
rede não se reúne, não pertence, e tão tem uma unidade como o se humano de massa. É
a ausência de essência, alma e espírito, que garantem a singularidade dos habitantes
digitais. A efemeridade do enxame, é o que impede sua desenvoltura política de
acontecer, a formação fraca do meio digital permite uma rápida dissolução de seu
ambiente o que destaca ainda mais a individualidade de seus habitantes.
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