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PROTEÇÃO DO

MEIO AMBIENTE

Autoria: Ana Carla Fernandes Gasques

2ª Edição
Indaial - 2022
UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Jairo Martins
Marcio Kisner
Marcelo Bucci

Revisão Gramatical: Desenvolvimento de Conteúdos EdTech

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech


UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2022

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
Meio Ambiente e Sustentabilidade................................................ 7

CAPÍTULO 2
Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental.................... 47

CAPÍTULO 3
Gestão Ambiental.......................................................................... 85
APRESENTAÇÃO
Prezado acadêmico, bem-vindo! Sabemos que nossos hábitos diários in-
fluenciam o ambiente em que vivemos, não é mesmo? A degradação do meio
ambiente pelo homem vem ocorrendo há anos e em função de diferentes causas,
tais como ocupação desordenada, lançamento de efluentes nos corpos hídricos,
lançamento de gases na atmosfera, dentre outras ações.

Entretanto, esta situação vem se agravando em função do crescimento po-


pulacional e da forma com a qual vivemos, a qual intensifica as alterações nos
ambientes, provocando mudanças nos ecossistemas e dificultando a manutenção
do equilíbrio natural. Em função disso, torna-se necessário estudar este contexto
e as formas de minimizar os impactos das ações humanas a fim de promover a
sustentabilidade.

Neste contexto, estamos iniciando nossos estudos sobre Proteção do Meio


ambiente, fundamental para garantia da sustentabilidade do planeta. Para que
seja possível compreender a gravidade e a complexidade envolvendo a proteção
do meio ambiente é importante ter uma visão sistêmica sobre essa temática e, em
função disso, esse livro está dividido em três capítulos, sendo eles: Meio Ambien-
te e Sustentabilidade; Licenciamento e Avaliação de Impacto Ambiental e; por fim,
Gestão ambiental.

Ao longo de sua evolução, o homem enxergou os recursos naturais de dife-


rentes formas, entretanto, a partir da Revolução Industrial, o ritmo do desenvol-
vimento interferiu gravemente na qualidade ambiental, porém, apenas em 1960,
a preocupação com o meio ambiente começou a ser ponto de debate. Assim, no
primeiro capítulo, denominado Meio Ambiente e Sustentabilidade, abordaremos
a evolução histórica do contexto da preocupação ambiental, conceitos básicos
e aspectos legais e institucionais a fim de relacionar o homem, o meio ambiente
e a sustentabilidade, bem como conhecer as legislações ambientais e os órgãos
relacionados.

O capítulo seguinte, intitulado Licenciamento e Avaliação de Impacto Am-


biental, busca abranger o processo de licenciamento ambiental de atividades po-
luidoras e definir as principais metodologias de avaliação de impacto, bem como
apresentar medidas de prevenção, mitigação, potencialização e compensação de
impactos.

A Avaliação de Impacto ambiental (AIA) é o conjunto de etapas desenvolvi-


das para analisar os impactos, negativos e positivos, que atividades ou empreen-
dimentos provocarão no meio ambiente. No Brasil, a AIA está vinculada ao Licen-
ciamento ambiental, que por sua vez é o conjunto de licenças necessárias para
que uma atividade ou empreendimento possa operar de forma ambientalmente
adequada.

Ademais, é importante que os impactos ambientais sejam identificados a par-


tir de metodologias já estabelecidas ou da combinação destas, e, ainda, sejam
analisados e classificados segundo atributos. A partir desta análise é possível pro-
por medidas de prevenção, atenuação, potencialização e/ou mitigação para os
impactos.

Por fim, o terceiro capítulo, Gestão ambiental, busca apresentar os diferentes


tipos de poluição e seus respectivos tratamentos, os Programas de Avaliação e os
aspectos envolvendo Auditoria ambiental. A partir destes temas, você terá com-
preensão acerca dos principais processos e mecanismos de alteração no meio
decorrentes das atividades antrópicas e conhecerá um pouco sobre sistemas de
gestão ambiental.

A poluição ambiental consiste na alteração da qualidade de determinado


componente ambiental (água, ar, solo) pela liberação de substâncias em quanti-
dade superior ao estabelecido. Para evitar que isso aconteça, diferentes mecanis-
mos podem ser adotados, denominados de sistemas de tratamento, que buscam
reduzir a quantidade e/ou concentração dos poluentes antes do seu lançamento
no componente ambiental afetado.

Apesar da preocupação com o meio ambiente nas organizações ter começa-


do tardiamente, hoje, muitas empresas possuem um caráter reativo com relação
a esta temática e buscam, no decorrer de seus processos, identificar formas para
prevenir os impactos ambientais. Um dos motivadores para este processo foi o
sistema de gestão ambiental, instituído pela norma ISO 14000, que abordaremos
neste capítulo.

Chegando ao final da disciplina é possível constatar que, evidenciamos aqui,


a importância de orientar o desenvolvimento considerando os aspectos ambien-
tais na tomada de decisão. A ideia, então, foi fazer com que você consiga com-
preender a importância da proteção do meio ambiente e os principais aspectos
relacionados a esta temática, tornando-o um profissional com visão sistêmica, in-
tegrada e sustentável.

Bons estudos!

Professora Me. Ana Carla Fernandes Gasques


C APÍTULO 1
Meio Ambiente e
Sustentabilidade

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� identificar a relação entre meio ambiente e sustentabilidade e enunciar as legis-


lações ambientais e órgãos relacionados;

� interpretar a importância da proteção do meio ambiente e diferenciar meio am-


biente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável.
Proteção do Meio Ambiente

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Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A qualidade de vida no planeta pode ser entendida como um equilíbrio en-
tre população, recursos naturais e poluição. Contudo, o crescimento populacio-
nal, aliado aos hábitos de vida, do desenvolvimento industrial e tecnológico e do
consumo desenfreado resultam em insuficiência de recursos, levando a graves
impactos ambientais em função das demandas desenfreadas, da exploração de
recursos naturais e do consumo de combustíveis fósseis. O homem, ao longo
de sua evolução, tem se relacionado de diferentes formas com o ambiente onde
vive, entretanto, a partir da Revolução Industrial vem intensificando a degradação,
a poluição, o consumo de recursos naturais de forma indisciplinada, lançando
efluentes, resíduos e outros componentes sem tratamento prévio, sem considerar
a conservação dos recursos.

Neste cenário, a preocupação com o meio ambiente teve início em 1960 de


forma lenta, e apenas em 1987, o termo desenvolvimento sustentável passou a
ser alvo de estudos, debates e conferências. Além disso, a criação de agências
regulamentadoras buscou auxiliar na definição de critérios, estabelecimento de
legislações e padrões de controle para que seja possível fiscalizar e atuar para
reduzir os impactos das atividades humanas no ambiente visando ao desenvolvi-
mento sustentável.

Assim, caro acadêmico, neste capítulo, vamos desenvolver nossos conheci-


mentos acerca da proteção do meio ambiente, iniciando com o contexto do início
da preocupação ambiental, seguido pelos conceitos básicos envolvidos e, por fim,
teremos noção acerca das legislações pertinentes. Esse embasamento inicial é
essencial para que seja possível compreendermos a razão da necessidade de
proteção ambiental, bem como determinar o porquê da criação de determinados
instrumentos e/ou princípios visando a esta proteção.

Conhecer o contexto histórico e conceitos nos permite ter condições de de-


bater acerca da importância da avaliação de impacto para que o meio ambiente
seja conservado, bem como entender os diferentes contextos envolvidos, regu-
lamentações e a evolução da relação homem e recursos naturais. Esse conjunto
de saberes permite que o conhecimento adquirido seja aplicado de forma correta
para manutenção da qualidade do meio ambiente, promoção do desenvolvimento
sustentável, necessários para a existência da vida no planeta.

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Proteção do Meio Ambiente

2 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO
CONTEXTO AMBIENTAL
Vivemos em um contexto de degradação ambiental agravada, na qual os re-
cursos naturais são limitados. Esta crise impulsiona problemas ambientais, de saú-
de e de planejamento urbano, onde cada vez mais tornam-se necessárias medidas
e ações que reduzam os impactos das atividades humanas no meio ambiente.

Diferentes visões abordam a relação homem x ambiente: a abordagem do


limite ao crescimento sugere que os dois estão em conflito, forçando uma busca
pelo equilíbrio entre o crescimento econômico e a mitigação das mudanças climá-
ticas. A abordagem neoclássica vê a relação ambiente-crescimento como uma re-
lação de complementaridade fraca: preservar o capital natural é necessário para
evitar declínios futuros no crescimento econômico. Uma terceira visão sugere que
a política climática pode impulsionar o crescimento econômico, propondo uma re-
lação de forte complementaridade (MECKLING; ALLAN, 2020).

A preocupação com a proteção ambiental teve início na década de 1960 e


vem sendo cada vez mais integrada à agenda política internacional, em função,
principalmente, da disponibilidade de recursos, ou a falta destes. Você deve estar
pensando: Mas por que sofremos com a falta de recursos hoje? Para entender-
mos este questionamento é necessário conhecer um pouco a história da humani-
dade e sua evolução.

Ao abordar a natureza, da forma com a qual a concebemos ou a forma com a


qual cada sociedade entende o ambiente natural, é possível constituir uma apro-
ximação com a natureza, seja entendendo-nos como parte característica e intrín-
seca a ela, ou, ainda, almejando dominá-la para nossos objetivos, a partir de uma
abordagem de exterioridade (CALIJURI; CUNHA, 2013).

Com o passar dos anos, o desenvolvimento do trabalho passou a exigir mais


do homem, aumentou-se a atividade extrativista e as atividades de caça e pesca
foram reduzidas. O homem, até então, nômade, passa a ser sedentário, fixando-
-se em um local e alterando aquele ecossistema a fim de aumentar a produção e,
neste período, foram formadas as primeiras sociedades organizadas. O desen-
volvimento das práticas de trabalho influenciou o homem de forma geral ao longo
dos períodos e a sua relação com a natureza.

A história da humanidade pode ser associada às variadas formas de pro-


dução de riqueza e sua distribuição ao longo dos anos, tendo em vista que o
homem, para desenvolver seus modos de produção, passou a alterar o ambiente
natural. Inicialmente, a relação entre homem e meio ambiente era considerada

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Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

harmoniosa, pois o homem extraía os recursos necessários única e exclusiva-


mente visando a sua sobrevivência.

O crescimento populacional, aliado ao desenvolvimento econômico baseado na


acumulação de riquezas fez com que os recursos naturais fossem consumidos não
apenas para necessidade básica, e sim como fonte de riqueza e ostentação. Ou seja,
os recursos naturais tornaram-se objetos de domínio do homem e isso ainda se agra-
va após a Revolução Industrial, marco histórico da degradação ambiental.

Pott e Estrela (2017, p. 271-272) destacam que “a transição da manufatura


para a indústria mecânica gerou o aumento da produção e a ascensão de novas
tecnologias, alterou o modo de vida no planeta”.

No período correspondente à Revolução Industrial, a relação homem x meio


ambiente sofreu drásticas mudanças e os recursos naturais passaram a ser ex-
plorados visando à produção de bens de consumo de forma desenfreada. Do
mesmo modo, as melhorias da tecnologia, medicina e na produção de alimentos
permitiram uma ampliação do consumo, estava instaurada a era do capitalismo
industrial.

Fábricas começaram a ser construídas nas cidades para viabilizar e concen-


trar recursos efetivando a urbanização dos espaços, ocorreu um intenso êxodo
rural, concentração de mão de obra do campo nas cidades, consequentemente,
a geração de resíduos foi intensificada e cuidar do meio ambiente não era uma
preocupação. Esse cenário continuou por um longo período, e pode-se dizer que
o período entre as duas guerras mundiais ainda foi agravado, pois a capacidade
industrial continuou a ser aumentada, com novas máquinas, processos produtivos
cada vez mais automatizados e com tecnologias que buscavam o aumento da
produção.

Todo esse cenário exacerbou os conflitos sociais e agravou a pressão sobre


os recursos naturais, a exploração desenfreada extrapolou a capacidade de re-
cuperação da natureza, colocando em risco a continuidade do desenvolvimento
econômico e social, além da própria vida na Terra na forma como a conhecemos
(MARTINE; ALVES, 2015). O período pós-guerra caracteriza-se pela procura im-
paciente do lucro na economia capitalista, pelo petróleo barato e pelo desenvol-
vimento tecnológico. Apesar dos impactos ao meio ambiente, essa extensão da
produção de bens e serviços colaborou para um progresso expressivo na qualida-
de de vida de bilhões de pessoas (MARTINE; ALVES, 2015).

Até este período, poucos episódios indicavam a relação entre crescimento


populacional desordenado e seus impactos na população, saúde e meio ambien-
te. A degradação ambiental era vista como um “mal necessário”.

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Proteção do Meio Ambiente

A preocupação com a questão ambiental só teve início após al-


gumas tragédias, tal como as bombas de Hiroshima e Nagasaki, em
1945, e a doença de Minamata, em 1954. Além dessas tragédias,
outras foram sendo noticiadas ao longo dos anos. Para saber mais,
leia a notícia Principais desastres ambientais no Brasil e no mundo,
publicada em 2017 no Jornal da Unicamp, disponível no link: https://
www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desas-
tres-ambientais-no-brasil-e-no-mundo.

A questão ambiental só começou a ser alçada apenas no fim da década de


1960 e início da década de 1970. Alguns eventos marcam esta preocupação ao
longo das décadas seguintes até atualmente, conforme exemplificado na Figura 1.

FIGURA 1 – PRINCIPAIS EVENTOS ENVOLVENDO


PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL DESDE 1960

FONTE: Adaptado de Brasil (2004) e Souza e Saccol (2016)

A Figura 1 apresenta alguns eventos de destaque no que tange à preo-


cupação com o meio ambiente ao longo das décadas. A década de 1960 tem
como principais marcos: i) a publicação do livro Primavera silenciosa, de Ra-

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Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

chel Carson em 1962, o qual dá um alerta sobre o uso intensivo de produtos


químicos e seus danos à saúde. Além do livro, esta década destaca-se pela
criação do Clube de Roma, onde um grupo de pessoas de diferentes classes,
profissões e países se reuniu para debater assuntos sobre o consumo exces-
sivo de recursos naturais.

Além destes, a Lei Federal nº 4.771 de 1965 alterou o Código Florestal brasi-
leiro existente desde 1934, tornando-a uma das primeiras legislações sobre meio
ambiente no mundo, visando preservar os diferentes biomas (POTT; ESTRELA,
2017). Nos Estados Unidos, em 1969, foi formalizada a Lei da Política Ambiental
(do inglês, National Environmental Policy Act – NEPA) que trouxe inovação para
esta temática com o estabelecimento da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), a
qual incorporou a análise ambiental na tomada de decisões envolvendo planos,
programas e projetos de intervenção (POTT; ESTRELA, 2017).

A partir disso, tanto os Estados Unidos quanto outros países passaram a in-
corporar a avaliação de impactos como ferramenta na preservação destes bem,
visando, de certo modo, garantir a proteção do meio ambiente. No Brasil, a AIA
teve início a partir de requisições de órgãos financiadores internacionais. A primei-
ra AIA, então, foi em 1972 para financiamento da Usina Hidrelétrica de Sobradi-
nho como exigência do Banco Mundial (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018).

Uma parte importante da prática de conservação é a avaliação dos impactos


decorrentes das ações humanas. Os programas de conservação bem-sucedidos
ou fracassados são de fundamental importância para a formulação de iniciativas
com boa relação custo-benefício e para melhorar a subsistência dos usuários dos
recursos naturais.

A década de 1970 é caracterizada pela invenção de distintas organizações


internacionais com a finalidade de tratar problemas ambientais em esfera mundial,
bem como foram organizados os primeiros movimentos ambientalistas, tal como
o Greenpeace (BEZERRA et al., 2009). A partir do Clube de Roma, em 1972, um
grupo de cientistas assessores, utilizando-se de modelagem matemática, consta-
tou que o planeta não aguentaria caso tivesse continuidade o crescimento eco-
nômico baseado na exploração de recursos não renováveis. Em função dessa
constatação, emitiram um alerta sobre o esgotamento de recursos denominado
“Os Limites do Crescimento” (MEADOWS et al., 1973). No mesmo ano ocorreu
a I Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, realizada em Estocol-
mo, que incorporou de forma definitiva os debates sobre degradação ambiental.

No Brasil, uma das repercussões desta Conferência foi a criação da Secre-


taria Especial do Meio Ambiente (SEMA), em 30 de outubro de 1973. Em países
desenvolvidos, nesta década, algumas legislações foram instituídas a fim de ga-

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Proteção do Meio Ambiente

rantir que o meio ambiente fosse considerado na tomada de decisão de novos


empreendimentos, conforme apresentado no Quadro 1.

QUADRO 1 – LEGISLAÇÕES SOBRE MEIO AMBIENTE NA


DÉCADA DE 1970 EM PAÍSES DESENVOLVIDOS

Ano País Instrumento legal relacionado


Canadá Estabelecimento de avaliação e exame ambiental
1973
Nova Zelândia Procedimento de proteção e melhoria ambiental
1974 Austrália Lei de proteção ambiental sobre o impacto de propostas
1976 França Lei de proteção da natureza
FONTE: Adaptado de Sanchez (2013)

Em 1975, a Conferência de Belgrado, na Iugoslávia, originou, ao final do en-


contro, a “Carta de Belgrado”, indicando a melhoria dos métodos educacionais
para a preparação da nova ética do desenvolvimento e da ordem econômica
mundial (POTT; ESTRELA, 2017). Em consonância, em 1977, a Unesco, em co-
operação com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma),
promoveu em Tbilisi, cidade na antiga União Soviética, a Conferência Intergover-
namental sobre Educação Ambiental, “responsável pela elaboração de princípios,
estratégias e ações orientadoras para educação ambiental no mundo, afirmando
que a Educação Ambiental deve ter um enfoque interdisciplinar e estar presente
como um processo contínuo em todas as fases do ensino formal e não formal”
(POTT; ESTRELA, 2017, p. 217).

No Brasil, em 1978, foi criado um comitê focado em gestão de bacias hidro-


gráficas, denominado Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidro-
gráficas (CEEIBH), cujo objetivo consistia na promoção de estudos integrados e
acompanhamento do uso dos recursos hídricos nas bacias hidrográficas. Assim, a
fase entre as décadas de 1970 e 1980 é marcada pela regulamentação e controle
de aspectos relacionados ao meio ambiente, tendo em vista que poluir passou a
ser crime em diversos países. O Quadro 2 apresenta um resumo das principais
legislações nos países desenvolvidos na década de 1980.

QUADRO 2 – LEGISLAÇÕES SOBRE MEIO AMBIENTE NA


DÉCADA DE 1980 EM PAÍSES DESENVOLVIDOS

Ano País Instrumento legal relacionado


União Europeia Avaliação dos efeitos ambientais de certos projetos públicos e privado
1985
Rússia (Ex-União Soviética) Realização de perícias ecológicas em novos projetos
1986 Espanha Lei de avaliação de impacto ambiental de projetos
Holanda Estabelecimento da Avaliação de Impacto Ambiental
1987
Portugal Lei de bases do ambiente
FONTE: Adaptado de Sanchez (2013)
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Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

Assim, a década de 1980 foi marcada pelo surgimento de leis regulamentan-


do a atividade industrial em grande parte dos países no que se refere à poluição,
e só então, na década de 1990, ocorre um grande impulso com relação à consci-
ência ambiental na maioria dos países (BEZERRA et al., 2009). Neste momento
da história foi criada uma Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento, em 1983 e, a partir desta, foi escrito o Relatório Brundtland, publicado com
o título “Nosso Futuro Comum”, tendo por enfoque proteção ambiental e desen-
volvimento sustentável (SOUZA; SACCOL, 2015).

O conceito de desenvolvimento sustentável insurgiu como “um ideal de de-


senvolvimento econômico ecologicamente viável e socialmente justo, submetido
a valores e metas de qualidade de vida, para as gerações presentes e futuras”
(ABNT, 2004, p. 8). No Brasil, como reflexo desse cenário, esta década é mar-
cada por uma das mais importantes legislações relacionadas ao meio ambiente:
a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), promulgada em 31 de agosto de
1981. No mesmo ano, o governo promulgou a Lei Federal nº 6.902, de 27 de abril,
dispondo sobre a criação de Áreas de Proteção Ambiental e Estações Ecológicas.

A PNMA tem por objetivo regulamentar a “preservação, melhoria e recupe-


ração da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condi-
ções ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional
e à proteção da dignidade da vida humana” (BRASIL, 1981, p. 1).

Corroborando com o citado anteriormente, outro marco desta década é a car-


ta da Terra, em 1987, a qual abrange todas as interfaces da relação do homem
com a natureza e servindo como um código ético em nível mundial, tal como a
declaração Universal dos Direitos Humanos. Esse documento visa à promoção de
um diálogo acerca dos valores comuns em prol de uma aliança global em respeito
à Terra e à vida.

Além disso, no Brasil, em 1988 foi alterada a Constituição Federal, que esta-
belece em seu Art. 170 a proteção do meio ambiente como um dos princípios de
ordem econômica. Já no Art. 225 define que “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qua-
lidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-
-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988, p. 8).

A década de 1990, após a mudança da Constituição, é caracterizada por


uma consciência comum sobre a urgência da preservação ambiental e o equilíbrio
entre desenvolvimento e sustentabilidade. Em 1992, foi realizada a maior reunião
ambiental da história: a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente,
realizada no Rio de Janeiro, e popularmente conhecida como Rio-92.

15
Proteção do Meio Ambiente

Nesta Conferência foram feitos pactos visando à qualidade de vida e o futuro


do planeta e, em decorrência dela, foram aprovados diversos documentos sobre
meio ambiente, desenvolvimento e mudanças climáticas, tal como a declaração
de princípios sobre florestas e a Agenda 21 (BEZERRA et al., 2009). A Agenda
21 é uma agenda de trabalho para o século XXI, em que foram identificados os
principais problemas ambientais, os recursos e meios mandatórios para solucio-
ná-los, bem como as metas a serem alcançadas nas décadas seguintes.

Outra conferência de destaque ocorreu na década de 1990, porém no ano de


1997: a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em que foi
instituído o Protocolo de Quioto (ou Kyoto), cuja principal medida é a definição de
metas para redução da emissão de gases do efeito estufa. Como vimos, da mes-
ma forma como ocorreu nas décadas de 1970 e 1980, a década de 1990 também
foi marcada pelo estabelecimento de legislações envolvendo a avaliação de ativi-
dades poluidoras, tal como apresentado no Quadro 3.

QUADRO 3 – LEGISLAÇÕES SOBRE AVALIAÇÃO DE IMPACTO EM ATIVIDADES


POLUIDORAS DA DÉCADA DE 1990 EM PAÍSES DESENVOLVIDOS

Ano País Instrumento legal relacionado


1990 Alemanha
Lei de avaliação de impacto ambiental
1992 República Tcheca
1993 Hungria Regulação de avaliação de impacto para atividades previamente definidas
1997 Hong Kong
Lei de avaliação de impacto ambiental
1999 Japão
FONTE: Adaptado de Sanchez (2013)

Esta década é marcada também por avanços no Brasil: a Resolução CONA-


MA 237, publicada em 1997, instituiu o licenciamento ambiental como ferramenta
obrigatória para regularizar diversas atividades, e em 1998, foi instituída a Lei de
Crimes Ambientais (Lei 9.605).

Em 1996 foi editada a norma internacional ISO 14001:96, que estabeleceu


requisitos para a implantação de um sistema de gestão ambiental (SGA). A série
ISO 14.000, segundo Derisio (2012, p. 204), “surgiu por ocasião da Conferên-
cia das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (UNCED),
realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992. A primeira norma sobre gestão
ambiental foi emitida pela BS-7750, que se constitui na base da série ISO 14.000”.

A preocupação com o meio ambiente muda de perspectiva e passa a relacio-


nar, também, a melhoria dos processos produtivos a fim de minimizar os impactos
ambientais. Entretanto, apesar disso, o século XXI teve início com uma queda no

16
Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

ritmo no que se refere ao enfrentamento de assuntos ambientais (POTT; ESTRE-


LA, 2017).

Os principais marcos do século iniciam-se em 2002, com a Cúpula Mundial


sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Johannesburgo, na África do
Sul, também conhecida por Rio +10. O objetivo foi continuar a discussão iniciada
10 anos antes, na Eco-92, e dissertar sobre ações direcionadas à erradicação da
pobreza, à globalização e questões energéticas, bem como retomar a problemáti-
ca envolvendo mudanças climáticas.

No Brasil, destaca-se, em 2010: a Lei 12.305 a qual instituiu a Política Nacio-


nal de Resíduos Sólidos (PNRS), após 20 anos de debates envolvendo esta te-
mática. A PNRS busca estabelecer os critérios necessários para a gestão integra-
da e o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos. Segundo
Pott e Estrela (2017), a PNRS é um dos maiores avanços na legislação ambiental
brasileira desde a Resolução Conama nº 237 de 1997 e a Lei dos Crimes Ambien-
tais de 1998.

Outro evento importante é a Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre


Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2012 no Rio de Janeiro com a partici-
pação de 193 países. Os temas principais desta conferência foram: economia ver-
de, erradicação da pobreza e estruturação institucional voltada ao desenvolvimen-
to sustentável. Um ponto de grande destaque foi a participação das empresas em
compromissos voluntários reconhecendo o capital natural e se comprometendo a
consumir recursos de forma consciente.

O Acordo de Paris é um documento resultante da COP 21 em 2015, realiza-


da, como o nome do acordo sugere, em Paris na França. A partir deste acordo, os
países assinantes reiteraram compromissos para “manter o aquecimento global
abaixo de 2 oC e limitando o aumento da temperatura a 1,5 oC acima dos níveis
pré-industriais” (SOUZA; SACCOL, 2016, p. 7).

É possível constatar, a partir dos marcos apresentados, que a preocupação


com o meio ambiente foi ganhando destaque com o passar dos anos em decor-
rência dos impactos resultantes das atividades humanas, ou seja, mudou-se o
foco da visão do meio ambiente, que até então era visto como algo à parte do
desenvolvimento humano e passou a ser visto como algo mais global. Apesar da
evolução na preocupação com as questões ambientais, o crescimento econômico
ainda tem se fundamentado no:

[...] uso não sustentável de recursos não renováveis, na redu-


ção da biodiversidade, na concentração de dióxido de carbono
na atmosfera e na acidificação dos oceanos, além de ter gera-
do fossos cada vez maiores entre ricos e pobres. Com o apro-

17
Proteção do Meio Ambiente

fundamento do processo de globalização, avistam-se graves


crises ambientais e sociais, enquanto a trajetória da própria
economia também apresenta sinais de exaustão do modelo
hegemônico (MARTINE; ALVES, 2015, p. 21).

Neste contexto, Braga et al. (2005) alegam que a qualidade de vida no plane-
ta depende do equilíbrio entre população, recursos naturais e poluição. No que diz
respeito à população, quanto maior a população, maior é a demanda por recur-
sos naturais e, consequentemente, a degradação ambiental. A população mundial
apresentou um crescimento de 1,13% ao ano no período de 1950 a 2002, confor-
me curva de crescimento exponencial apresentada na Figura 2.

FIGURA 2 – CURVA DE CRESCIMENTO EXPONENCIAL


DA POPULAÇÃO DE 1950 A 2002

FONTE: Adaptada de Braga et al. (2005)

A taxa de crescimento populacional nos faz refletir: até quando os recursos


naturais serão suficientes para sustentar o padrão de consumo humano? Bom,
esta pergunta já vem sendo respondida nos últimos anos, não somente em fun-
ção dos desastres naturais observados, mas principalmente devido à escassez de
recursos em algumas regiões do mundo.

18
Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

Os recursos naturais, por sua vez, são os elementos necessários para ma-
nutenção da existência de diferentes espécies. Segundo Venturi (2006, p. 15),
é definido como “qualquer elemento ou aspecto da natureza que esteja em de-
manda, seja passível de uso ou esteja sendo usado direta ou indiretamente pelo
Homem como forma de satisfação de suas necessidades físicas e culturais, em
determinado tempo e espaço”. A fim de exemplificar o consumo de recursos na-
turais, pode-se citar as necessidades energéticas da sociedade ao longo de sua
evolução (Figura 3).

FIGURA 3 – EVOLUÇÃO DO CONSUMO HUMANO


DE ENERGIA AO LONGO DA HISTÓRIA

FONTE: Goldemberg e Lucon (2008)

A partir da Figura 3 entende-se que, inicialmente, o homem primitivo tinha um


consumo energético de 2000 kcal por dia e restrito às necessidades alimentares.
Esse valor passou para 230000 kcal por dia a partir do desenvolvimento técnico,
aumento do sedentarismo e dos avanços tecnológicos.

Por fim, no que tange à poluição, esta pode ser entendida como o resultado
da utilização dos recursos naturais pela população. Veremos sua definição no pró-
ximo tópico deste capítulo. Os efeitos da poluição podem ter caráter localizado,

19
Proteção do Meio Ambiente

regional ou global, sendo que os mais perceptíveis são aqueles observados local-
mente, resultantes, normalmente, de grande densidade populacional e/ou indus-
trial (BRAGA et al., 2005).

1) A relação homem e meio ambiente sofreu variações ao longo da


evolução, o homem deixou de utilizar os recursos naturais apenas
para sua sobrevivência e passou a consumi-los de forma desenfre-
ada, extraindo e poluindo por enxergá-los como elemento de pos-
se, mecanismo de acúmulo de riquezas. A partir desta contextuali-
zação, como pode ser vista a qualidade de vida no planeta?

Neste contexto, com o surgimento de novos desafios, cada vez mais com-
plexos, abrangendo uma ampla gama de questões globais, a Organização das
Nações Unidas (ONU) adotou a “Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentá-
vel” em 2015, que consiste em uma declaração formal aceita pelos membros da
ONU para enfrentar os desafios sustentáveis. A Agenda possui 169 metas e indi-
cadores e é orientada por 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) que
abrangem as dimensões econômica, ambiental e social. Na Figura 4 são apresen-
tados os ODS.

FIGURA 4 – OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA ONU

FONTE: AECIC (2017, s.p.)

20
Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

A partir da Figura 4 é possível constatar que são 17 ODS, além disso, tem-se
169 metas e 244 indicadores relacionados a estes, as quais abordam os desafios
globais de mudança climática, desigualdade social e degradação ambiental. Os
ODS representam uma evolução sobre como a sustentabilidade pode ser aborda-
da globalmente entre 2015-2030. Busca evidenciar a necessidade de ponderar as
pessoas, o planeta, a prosperidade, a paz e a parceria como alicerce para que o
desenvolvimento sustentável global seja alcançado.

Frente ao apresentado, apesar do processo evolutivo do homem e da sua


relação com o meio ambiente ser abusiva, ao abordar a qualidade de vida no
planeta, é imprescindível a urgência de mudança de paradigmas sobre a visão
de meio ambiente pela sociedade como um todo, principalmente, tendo por enfo-
que que a sustentabilidade dos recursos naturais não é possível se as demandas
continuarem impulsionadas. Assim, chegamos ao fim do primeiro subtópico deste
capítulo inicial e, no subtópico seguinte, estudaremos alguns conceitos vistos aqui
e outros conceitos-base para a compreensão dos aspectos relacionados à prote-
ção do meio ambiente.

3 CONCEITOS BÁSICOS
No subtópico anterior, vimos que o aumento da população humana interage
com os ambientes locais e globais e tende a esgotar a biodiversidade e os recur-
sos dos quais os humanos dependem, desafiando os valores sociais centrados no
crescimento e na confiança e na tecnologia para mitigar o estresse ambiental. O
homem se relaciona diretamente com o meio ambiente desde os primórdios dos
tempos e, além disso, esta relação varia tanto ao longo do período histórico quan-
to de acordo com diferentes sociedades e culturas.

Vimos no subtópico anterior, a evolução da preocupação com o meio am-


biente, mas você deve estar se perguntando: O que é meio ambiente? Qual a
diferença entre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável? Antes de saber-
mos a definição destes e de outros termos fundamentais para nossa compreen-
são é importante ressaltar que não existe consonância acerca da definição desse
termo e, por isso, aqui veremos algumas definições por diferentes autores e/ou
legislações.

Sob a perspectiva jurídica, segundo a PNMA (BRASIL, 1981, p. 1), meio am-
biente é o “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
Além desta legislação, apenas a ISO 14.001 (ABNT, 2004) abordou o termo meio
ambiente com a circunvizinhança da gestão ambiental e define meio ambiente

21
Proteção do Meio Ambiente

como a circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo ar, água, solo,
recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações.

Com relação a autores, Linhares e Gewandsznajder (1998, p. 435) definem


meio ambiente como “meio físico, formado pelo ar, pela luz, pela temperatura,
pela umidade, pelo tipo de solo, pela água e pelos sais minerais, chamados de fa-
tores abióticos ou biótipo; sendo que a interação da comunidade com o ambiente
físico forma um sistema ecológico ou ecossistema”.

Para Migliari Junior (2001, p. 40), o meio ambiente é a:

[...] integração e a interação do conjunto de elementos natu-


rais, artificiais, culturais e do trabalho que propiciem o desen-
volvimento equilibrado de todas as formas, sem exceções.
Logo, não haverá um ambiente sadio quando não se elevar, ao
mais alto grau de excelência, a qualidade da integração e da
interação desse conjunto.

Há quem confunda meio ambiente com ecologia, sendo assim, vamos con-
ceituar ecologia também, mesmo não tendo abordado este tema ainda, ele vol-
tará a ser comentando nos próximos capítulos do nosso livro didático. Ecologia
é a ciência que estuda as interações entre organismos e seu ambiente (CAIN;
BOWMAN; HACKER, 2018) e, a partir deste conhecimento, pode-se entender
como o planeta está estruturado, visando, assim, compreender como a ação hu-
mana interfere e prejudica os demais seres vivos.

Como curiosidade, a fim de diferenciar natureza de ambiente e meio


ambiente, Dulley (2004) elaborou uma figura, apresentada a seguir:

A partir dela, o autor reforça que a natureza 100% natural é tida


como um ideal, tendo em vista que o homem sempre a modifica para
sua sobrevivência. É possível, ainda, afirmar que ambiente signifi-
caria, logo, a natureza versada sob a perspectiva do social humano
(formado pelo meio ambiente humano e o meio ambiente das demais
espécies conhecidas).

22
Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

Frente ao apresentado, é possível perceber que o conceito de meio ambiente


passou por variações ao longo dos anos, mudando entre condições físicas, quími-
cas e biológicas ao contexto envolvendo as organizações e suas relações com o
meio. Tais modificações estão, além de relacionadas com avanços no uso de ma-
teriais e energia, intimamente atreladas aos avanços do conhecimento científico
sobre o ambiente e os recursos ambientais.

Tendo isso colocado, outra questão muito debatida sobre meio ambiente é
seu caráter enquanto fornecedora de recursos: a discussão permeia o pensamen-
to, predominante até meados do século XX, de que o meio ambiente era algo à
parte da sociedade humana, ou seja, a sociedade não fazia parte deste e este
era um fornecedor dos recursos necessários para seu desenvolvimento. Em con-
trapartida, em 1972 nasce o pensamento de ambiente integral ou global, no qual
todos os elementos interagem entre si e estão dependentes uns dos outros, inclu-
sive o homem, sendo, diante disso, uma conexão entre meios naturais e urbanos,
qualificado como o meio de vida, e, então, tudo que o afetar, atingirá igualmente
seus componentes, incluindo os seres humanos.

Nesse contexto, a noção de “recursos naturais” se torna mais ampla passan-


do a ser chamada de recursos ambientais, que inclui a conotação de suporte à
vida (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). Segundo a PNMA (BRASIL, 1981), recursos
ambientais são: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os
estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e
a flora.

Desde a criação da máquina a vapor no período da Revolução Industrial,


fundamentos envolvendo as ciências básicas vêm sendo aplicados para transfor-
mar o meio ambiente a partir de tecnologias que beneficiem a sociedade. Para tal,
“são adotados princípios científicos e leis básicas de funcionamento do universo e
tendo, como ponto comum, o uso dos recursos naturais e os processos de trans-
formação da matéria e de conversão de energia” (CALIJURI; CUNHA, 2013, p. 8).

Os sistemas naturais são moldados pelas interações dos organismos entre


si e o ambiente físico, desta forma, é essencial que a ecologia (ciência que busca
estudar as interações entre organismos e seu ambiente, conforme vimos anterior-
mente) seja estudada. De forma complementar, Braga et al. (2003, p. 4) definem
recurso natural como “qualquer insumo de que os organismos, as populações e
os ecossistemas necessitam para sua manutenção”.

Esses recursos são comumente classificados em dois grandes grupos: em


renováveis e não renováveis, sendo que os renováveis são aqueles cuja disponi-
bilidade é retornável mesmo após seu uso devido a seus ciclos naturais tal como
ar, água, solo. Os recursos não renováveis, como o nome propõe, são aqueles

23
Proteção do Meio Ambiente

que, uma vez consumidos, não podem ser reaproveitáveis, como, por exemplo,
combustíveis fósseis, petróleo, gás natural e carvão.

Para Calijuri e Cunha (2013), a área de engenharia é uma das principais


responsáveis por melhorar as práticas, processos e transformações para que os
recursos naturais não renováveis sejam substituídos pelos renováveis. Apesar
da motivação dar-se principalmente por fatores econômicos, estas melhorias são
fundamentais para proteção ambiental.

Dulley (2004), em seu artigo intitulado Noção de natureza, am-


biente, meio ambiente, recursos ambientais e recursos naturais, si-
tua, a partir de outros autores, as principais diferenças entre os con-
ceitos de natureza, ambiente, meio ambiente, recursos naturais e
recursos ambientais. Esta leitura é recomendada, pois pode auxiliá-
-lo(a), aluno(a), a compreender melhor cada termo e suas diferentes
aplicações de forma adequada. Acesse o artigo no link http://www.
iea.sp.gov.br/out/publicacoes/pdf/asp-2-04-2.pdf.

Outro termo bastante comentado no subtópico anterior e que será foco de


estudo em um subtópico específico é o termo poluição, cuja definição é uma alte-
ração não desejada nas características físicas, químicas ou biológicas do ambien-
te, que causa ou possa vir a causar danos à saúde, sobrevivência ou atividades
de diferentes espécies (BRAGA et al., 2003). Segundo a Política Nacional de Meio
Ambiente (BRASIL, 1981, p. 2):

Poluição consiste na degradação da qualidade ambiental resul-


tante de atividades que direta ou indiretamente: prejudiquem a
saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem con-
dições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem
desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou
sanitárias do meio ambiente; e, lancem matérias ou energia em
desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.

Para a Lei Federal no 6.938/81 em seu Art. 3o, inciso III, poluição é:

A degradação da qualidade ambiental resultante de ativida-


des que direta ou indiretamente: a) Prejudiquem a saúde, a
segurança e o bem-estar da população; b) Criem condições
adversas às atividades sociais e econômicas; c) Afetem des-

24
Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

favoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou


sanitárias do meio ambiente; e) Lancem matérias ou energia
em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.

Diante disso, entende-se que poluição possui apenas conotação negativa e é


aceitável limitá-la a valores específicos, pois pode sofrer medição e monitoramen-
to. Quando limitamos índices para avaliar determinado parâmetro, chamamo-los
de padrões de qualidade ambiental.

Além de poluição, é possível identificar outras palavras que se relacionam à


problemática deste livro, tal como o termo degradação ambiental. Diferentemente
de meio ambiente, ambiente e poluição, este termo tem seu entendimento facili-
tado, pois independentemente do contexto, ele representa de forma clara e não
técnica algum dano ao meio ambiente, ou seja, tem caráter negativo e relaciona-
-se às atividades humanas (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). Dessa forma, podemos
caracterizar a degradação ambiental como a perda da qualidade ambiental resul-
tante das consequências das ações humanas.

Qualidade ambiental também é outro conceito com divergência de defini-


ções. Johnson et al. (1997 apud BRAGA et al.,2005) consideram que qualidade
ambiental é uma avaliação do estado do ambiente referente aos pré-requisitos de
uma ou mais espécies e/ou de qualquer demanda e/ou finalidade humana. Esse
conceito pode ser melhor analisado do ponto de vista de indicadores para que
seja possível analisá-la do ponto de vista de diferentes contextos.

A degradação ambiental está fortemente associada à vulnerabilidade do am-


biente, sendo que ambientes vulneráveis tendem a sofrer degradações maiores.
Acerca disso, Rincão e Trigueiro (2018, p. 21) apontam que um exemplo desse
tipo de ambiente são:

[...] as regiões cársticas (regiões que apresentam alta disso-


lução química de rochas carbonáticas pela água); tais áreas
apresentam grandes riscos para engenharia, pois o terreno é
mais frágil e cede com frequência. Além disso, nessas regiões,
há alta incidência de cavernas que são protegidas por lei (pa-
trimônio espeleológico); portanto, são facilmente degradadas
pelas ações humanas.

A PNMA, em seu art. 3º, define a degradação ambiental como “alteração ad-
versa das características do meio ambiente” (BRASIL, 1981, p. 2).

Ainda neste contexto de degradação ambiental, é importante diferenciarmos


impacto e aspecto ambiental. Impacto ambiental é caracterizado pela Resolução
001/86 do CONAMA em seu art. 1o como (BRASIL, 1986, p. 922):

25
Proteção do Meio Ambiente

[...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e


biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de
matéria ou energia resultante das atividades humanas que, di-
reta ou indiretamente, afetam:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V - A qualidade dos recursos ambientais.

Entretanto, essa definição pode causar confusão, pois impacto ambiental


abrange também conotação positiva, ou seja, ao analisar impactos decorrentes
de determinada atividade é importante considerar consequências negativas e po-
sitivas (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). A fim de exemplificar, quando uma constru-
tora vai implantar um novo empreendimento em um bairro, tem-se como impacto
negativo a poluição sonora decorrente das obras, e como impacto positivo pode-
-se citar a geração de empregos.

No que tange ao aspecto ambiental, este é uma característica fundamental


na hora de avaliar as ações humanas, pois é a ação que causa o impacto. Ou
seja, aspectos ambientais são os elementos das atividades, produtos ou serviços
de uma organização que podem ter interação com o meio ambiente. O quadro a
seguir auxilia na exemplificação de situações e seus respectivos aspectos e im-
pactos ambientais.

QUADRO 4 – EXEMPLOS DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS

Atividade antrópica Aspecto ambiental Impacto ambiental


Redução da disponibilidade do
Indústria de papel Consumo de madeira
recurso natural
Restaurante Geração de resíduos sólidos Alteração na qualidade do solo
Mineração Erosão e movimentação de terra Destruição da vegetação nativa
Fabricação de peça em usinagem Descarte de graxa contaminada Contaminação do solo e da água
Lançamento de componentes Contaminação do corpo hídrico
Indústria de tingimento de tecido
químicos receptor
Hospital Geração de resíduos perigosos Alteração da qualidade do solo
Armazenamento de combustível em Potencial para derramamento ou Contaminação de águas
posto de gasolina vazamento subterrâneas
Geração de empregos (Impacto
Construção de um shopping center Demanda de mão de obra
positivo)
Lavagem de ruas Consumo de água Utilização de recursos naturais
Circulação de veículos Emissão de gases Poluição do ar
FONTE: A autora

26
Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

1) Alguns conceitos são fundamentais ao pensarmos sobre prote-


ção do meio ambiente e que as ações do homem possuem con-
sequências no ambiente. Sendo assim, com base no visto até
aqui, diferencie impacto de aspecto ambiental e cite um exemplo.

Os temas supracitados vêm sendo bastante debatidos desde a Conferência


de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano em 1972. Esta Conferência, ainda,
se tornou um grande despertar e união de diferentes países sobre as questões
ambientais mais importantes. O desenvolvimento sustentável surgiu como um
modelo de desenvolvimento a ser alcançado para manutenção da relação equi-
librada das necessidades socioeconômicas com a capacidade regenerativa do
planeta Terra quando o sistema de suporte à vida de nosso planeta está em risco.

A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED), no


relatório “Nosso Futuro Comum”, definiu o desenvolvimento sustentável como a
busca por “atender às necessidades da geração atual sem comprometer a capaci-
dade das gerações futuras de atender às suas próprias necessidades”.

Complementando, Derisio (2012, p. 206) descreve desenvolvimento susten-


tável como: “processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a
direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e as mu-
danças institucionais se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a
fim de atender às necessidades e aspirações humanas”.

Interligando com o que vimos no subtópico anterior sobre os ODS, o desen-


volvimento sustentável é considerado uma abordagem multissetorial para que es-
tes objetivos sejam alcançados, envolvendo preocupações locais, regionais, na-
cionais e globais, bem como integrando eficiência econômica, equidade social e
resiliência ambiental.

Os objetivos abordam desafios globais cruciais para a sobrevivência da hu-


manidade; definem limites ambientais e limites críticos para o uso de recursos
naturais; e reconhecer que a erradicação da pobreza deve ser acompanhada de
estratégias que promovam o desenvolvimento econômico. Em decorrência disso,
o conceito de desenvolvimento sustentável é frequentemente associado ao con-
ceito de sustentabilidade e, portanto, ambos os termos são usados como sinôni-
mos, mesmo no meio acadêmico e científico, conforme observado na literatura.
Entretanto, estão imersos em debates sobre seu significado e suas possibilidades
de aplicação em sistemas reais.
27
Proteção do Meio Ambiente

O conceito de sustentabilidade assenta-se em três pilares: pessoas, planeta


e lucro. Algumas das definições mais citadas abrangem que sustentabilidade pode
ser uma situação em que a atividade humana é conduzida de uma forma que con-
serva as funções dos ecossistemas da Terra. É possível visualizar o conceito de
sustentabilidade a partir de um tripé, no qual constam os aspectos econômicos,
ambientais e sociais, que devem interagir, de forma holística, para satisfazer ao
conceito. Sem estes três pilares, a sustentabilidade não se efetiva. Ainda são dis-
cutidos novos pilares, como a questão cultural e tecnológica, para complementar
a sustentação da questão como um todo (LASSU USP, 2021).

Precisamos, ainda, diferenciar preservação de conservação, você não acha?


Vamos lá. Preservar é garantir que a natureza não seja tocada, mantendo suas
características. Já conservar envolve o uso sustentável, ou seja, um sistema flexí-
vel em que se alia desenvolvimento e proteção ambiental.

FIGURA 5 – DIFERENÇA ENTRE PRESERVAR E CONSERVAR

FONTE: Souza e Saccol (2016, p. 12)

A partir da Figura 5 é possível concordar que o olhar sob a perspectiva do


preservacionismo trata a proteção da natureza sem considerar seu valor econô-
mico e sua utilidade, delimitando o homem como responsável pelo desequilíbrio

28
Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

enquanto o conservacionismo abrange o uso racional e o manejo criterioso da na-


tureza pelo homem, considerando-o parte do processo (SOUZA; SACCOL, 2016).

Quer compreender mais as dimensões do desenvolvimento sus-


tentável? Recomendamos que assista ao vídeo https://www.youtube.
com/watch?v=pZ2RsinirlA&ab_channel=ONUBrasil.

Conhecer a definição dos principais termos e conceitos é fundamental para


que sejamos capazes de compreender a proteção do meio ambiente de uma for-
ma mais integrada, determinando de forma clara as variações ao longo dos as-
suntos abordados e entendendo a relação entre poluição e degradação ambien-
tal (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). Ultrapassando as definições aqui propostas e
considerando que a população humana enfrenta dificuldades em interações com
ambientes locais e globais, as falhas na disponibilidade de recursos básicos le-
vantam questões sobre os valores sociais essenciais resultantes das consequên-
cias das ações humanas.

Compreender esses valores e como estes se relacionam a partir de suas res-


pectivas conceituações é imprescindível para que sejamos capazes de entender a
proteção do meio ambiente, a fim de mitigar o estresse ambiental, o esgotamento
dos recursos naturais e a perda de biodiversidade. Diante disso, esse subtópico
foi bastante intenso, não é mesmo? Mas fique calmo (a), ao longo dos demais
capítulos alguns desses conceitos serão retomados para auxiliar no processo de
aprendizagem.

4 ASPECTOS LEGAIS E
INSTITUCIONAIS
A relação do homem com o meio ambiente acontece desde os primórdios dos
tempos, conforme vimos até aqui. A legislação referente às questões ambientais
foi criada com o objetivo de disciplinar essas relações, os chamados “produtos da
natureza”: a água, o solo, as florestas, o ar e os animais. A constatação foi per-
cebida quando a produção em larga escala passou a interferir na disponibilidade
destes recursos (em quantidade e qualidade).

29
Proteção do Meio Ambiente

O controle das atividades humanas é fundamental para a conservação da


natureza, das espécies às escalas dos ecossistemas. Para tal, inúmeros regula-
mentos são definidos para a conservação da natureza; no entanto, o descumpri-
mento costuma ser a regra, e não a exceção.

Considerando como base o contexto apresentado no Subtópico 1 deste capí-


tulo, aqui focaremos na evolução da legislação ambiental no Brasil, seus aspectos
legais e institucionais. A partir do momento em que o conceito de ambiente foi
paulatinamente assimilado à ideia de meio de vida (e, portanto, de qualidade de
vida), e não mais somente como recurso natural, os problemas então denomina-
dos ambientais foram assimilados à noção de poluição (SANCHEZ, 2013).

A magnitude de conceito e a importância do assunto, contudo, propuseram


um conjunto muito amplo de normas conexas ao meio ambiente (BRASIL, 2010).
A legislação ambiental compreende leis, decretos, resoluções, portarias e normas
que são aplicadas às organizações de qualquer natureza e ao cidadão comum. A
evolução da legislação brasileira ocorreu lentamente e, inicialmente, vinculava-se
ao estabelecido por Portugal, que tinha o Brasil como fonte de riquezas e explora-
ção, conforme apresentado na Figura 6.

FIGURA 6 – HISTÓRICO DAS PRIMEIRAS LEGISLAÇÕES BRASILEIRAS

FONTE: Adaptado de Finkler et al. (2018)

Conforme observa-se na Figura 6, à medida que a exploração dos recursos


naturais era aumentada, aumentava a escassez de espécies e em função disso
foi necessário limitar ações de corte, exploração e outras ações prejudiciais (tal
como incêndio). A partir de 1890 até 1981, a legislação ambiental brasileira sofreu
mudanças significativas, porém, neste período, o Brasil não evidenciava grande
inquietação com os recursos. A legislação, então, era liberal e garantia de autono-
mia aos proprietários rurais e poder ilimitado sobre a propriedade.

30
Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

Esse contexto só sofreu mudanças com o avanço do desmatamento resul-


tante da agricultura e, então, em 1934 foi criado o primeiro Código Florestal que
regulamentava o uso das florestas e que, em 1965 foi substituído pelo 2º Código
Florestal, que se tornou um instrumento disciplinador fundamental. Ainda nesta
década, em 1937 foi criado o Código das Águas e o Parque de Itatiaia, primeiro
parque do Brasil. De 1938 a 1965 foram criados 14 Parques Nacionais e uma
Reserva Florestal na Região Amazônica (BORGES; REZENDE; PEREIRA, 2009).

Nesta etapa, a política ambiental já estava sendo direcionada para um as-


pecto que tendia à conservação envolvendo a delimitação de áreas de preserva-
ção e a criação de unidades de conservação (FERREIRA; SALLES, 2016).

É importante ressaltar que boa parte dos estudos desenvolvidos sobre polí-
tica ambiental no Brasil define como ponto inicial a década de 1970, pela criação
da Secretaria Especial do Meio Ambiente.

Em janeiro de 1967 foi instituída a Lei no 5.197 que dispunha sobre proteção
à fauna e em seu Art. 1º define animais silvestres como “animais de quaisquer es-
pécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora
do cativeiro”. Tanto a fauna silvestre quanto ninhos, abrigos e criadouros naturais
“são propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, des-
truição, caça ou apanha” (BRASIL, 1967, p. 1).

No início dos anos 1970, alguns recursos naturais, antes abundantes, torna-
ram-se escassos em várias regiões do mundo, inclusive no Brasil. Um exemplo
é a bacia do alto Tamanduateí, na região do ABC paulista, onde se concentram
ainda hoje inúmeras indústrias. Nessa região, a água estava tão poluída que era
imprópria para abastecimento industrial. Já se notavam também problemas de
poluição do ar em grandes cidades. Por outro lado, havia nessa época todo um
contexto internacional que trouxe pela primeira vez a questão ambiental para o
rol das principais preocupações da sociedade (SANCHEZ, 2013) e, apesar de
ser considerada uma década de destaque na política ambiental brasileira, esta
foi específica para determinados setores industriais, não compreendeu as regiões
menos povoadas e, ainda, não levou em consideração os impactos ambientais
em longo prazo (FERREIRA; SALLES, 2016), tal como veremos a seguir:

• 1971 – I Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), duração de 1972


a 1974 – tinha por desígnio alocar o Brasil entre os países mais desen-
volvidos no intervalo de tempo de uma geração, entretanto, no que diz
respeito à parte ambiental, é considerado um desastre, pois incentivou o
desmatamento da Amazônia.
• 1973 – Criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA) em de-
corrência da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente em
Estocolmo.
31
Proteção do Meio Ambiente

• 1974 – II PND, para o período de 1975 a 1979, trouxe medidas ambien-


tais de caráter conservacionista e, ao abordar a expansão da produção
agrícola, propunha que se evitasse uso indiscriminado do fogo e, ao
mesmo tempo, buscava a promoção da rotação de culturas para manter
a produtividade.
• 1979 – III PND, duração de 1980 a 1985, significou um elo entre as fases
de evolução e de consolidação do Direito Ambiental do Brasil.

É importante enfatizar que até 1973, quando foi criada a SEMA, não havia
um órgão voltado exclusivamente à questão ambiental no Brasil. Entretanto, “sob
o ponto de vista institucional, a criação do órgão não representou de imediato
uma mudança na estrutura da tomada de decisão sobre as questões ambientais
mais relevantes, em especial, a localização industrial ou tecnologias utilizadas na
produção” (FERREIRA; SALLES, 2016, p. 4). Em função do seu papel secundário
no que tange ao controle das ações impactantes, medidas de controle foram mais
delimitadas no II PND.

Outras legislações, decretos e medidas provisórias foram criados na década de


1970 envolvendo aspectos do meio ambiente, conforme apresentado no Quadro 5:

QUADRO 5 – LEGISLAÇÕES, DECRETOS E MEDIDAS


PROVISÓRIAS DA DÉCADA DE 1970

Ano Decreto Objetivo


Dispõe sobre discriminação, pelo Ministério da Agricultura, de regiões para
Lei no 6.225 execução obrigatória de planos de proteção ao solo e de combate à erosão
e dá outras providências
1975 Decreto-Lei no Dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente provocada por
1.413 atividades industriais
Decreto no
Dispõe sobre as medidas de prevenção e controle da poluição industrial
76.389
Regulamenta a Lei nº 6.225, de 14 de julho de 1975, que dispõe sobre
Decreto no discriminação, pelo Ministério da Agricultura, de regiões para execução
1976
77.775 obrigatória de planos de proteção ao solo e de combate à erosão, e dá
outras providências
Decreto no
1979 Aprova o Regulamento dos Parques Nacionais Brasileiros
84.017
FONTE: Adaptado de Brasil (2010)

Entre as décadas de 1970 e 1980, período militar, houve diversas restrições


à democracia, entretanto, o movimento ambientalista foi aos poucos se estabele-
cendo e validando sua fala. Os impactos sociais e ambientais de grandes projetos

32
Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

estatais ou privados tornaram-se alvos do julgamento ao modelo de desenvolvi-


mento seguido, visto como mecanismo de exclusão social e de destruição eco-
lógica (SANCHEZ, 2013). Para alguns autores, segundo Moreira et al. (2021), o
Brasil passa a se preocupar com o Meio Ambiente de forma preventiva, global e
integrada a partir da década de 1980, tendo em vista que as leis possuem maior
consistência e celeridade.

Acerca disso, Borges, Rezende e Ferreira (2009) apontam que nos anos 1980
observam-se alguns dispositivos legais com abrangência nacional que utilizam,
pelo menos formalmente, a estratégia do “planejamento territorial” inaugurada nos
anos 1970. As ações do governo federal visando empregar o planejamento territo-
rial como instrumento para prevenir a degradação do meio ambiente inclui a Lei nº
6.766, de 19 de dezembro de 1979, versada como Lei Lehman, que aborda o par-
celamento do solo urbano e a Lei nº 6.803, de 2 de julho de1980, que institui diretri-
zes para o zoneamento industrial em áreas críticas de poluição (SANCHEZ, 2013).

Corroborando com o citado, passados os importantes debates que funda-


mentaram a transformação de conscientização ambiental no mundo no decorrer
da década de 1970, teve início uma nova fase da política ambiental no Brasil a
partir de 1981 (FERREIRA; SALES, 2016). Tais constatações são feitas a partir da
promulgação da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), disposta na Lei n°
6.938 em 1981 (BRASIL, 1989). A PNMA tem por instrumentos:

I - Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;


II - Zoneamento ambiental;
III - Avaliação de impactos ambientais;
IV - Licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencial-
mente poluidoras;
V - Incentivos à produção e instalação de equipamentos e a
criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da
qualidade ambiental;
VI - Criação de espaços territoriais especialmente protegidos
pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áre-
as de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e
reservas extrativistas;
VII - Sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
VIII - Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de
Defesa Ambiental;
IX - Penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cum-
primento das medidas necessárias à preservação ou correção
da degradação ambiental.
X - Instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a
ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Am-
biente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA;
XI - Garantia da prestação de informações relativas ao Meio
Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando
inexistentes;
XII - Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente po-
luidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais.
XIII - Instrumentos econômicos, como concessão florestal, servi-
dão ambiental, seguro ambiental e outros (BRASIL, 1981, p. 5).

33
Proteção do Meio Ambiente

A PNMA trouxe diversas inovações para a legislação ambiental brasileira,


como a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e do Sistema
Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) (Figura 7). O SISNAMA é órgão respon-
sável para a gestão ambiental brasileira e tem como atribuição coordenar e emitir
normas gerais para a aplicação da legislação ambiental em todo o país, sendo
formado pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios responsáveis pela proteção, melhoria e recuperação da qualidade
ambiental no Brasil (MMA, 2017).

FIGURA 7 – ORGANOGRAMA DO SISNAMA

FONTE: Adaptado de Brasil (1981)

A partir da Figura 7, entende-se que o SISNAMA envolve diferentes órgãos,


como órgão Superior, Consultivo e Deliberativo, Central, Executores, Seccionais

34
Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

e Locais. O CONAMA, por sua vez, é um dos órgãos que faz parte do SISNAMA,
responsável pela sua esfera consultiva. Dentre os órgãos, tem-se o CONAMA. O
CONAMA, por sua vez, tem por finalidade assessorar, estudar e propor ao Conse-
lho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os
recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e pa-
drões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à
sadia qualidade de vida, competindo a este órgão:

I - Estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e crité-


rios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencial-
mente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e supervisio-
nado pelo IBAMA;
II - Determinar, quando julgar necessário, a realização de es-
tudos das alternativas e das possíveis consequências ambien-
tais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos
federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades priva-
das, as informações indispensáveis para apreciação dos es-
tudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso
de obras ou atividades de significativa degradação ambiental,
especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional;
V - Determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou
restrição de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público,
em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de
participação em linhas de financiamento em estabelecimentos
oficiais de crédito;
VI - Estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais
de controle da poluição por veículos automotores, aeronaves e
embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes;
VII - Estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao con-
trole e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vis-
tas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os
hídricos (BRASIL, 1981, p. 7).

Ficou curioso para saber mais sobre a Política Nacional do Meio


Ambiente – PNMA? Acesse-a na íntegra http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l6938.htm.

Outro instrumento fundamental da PNMA é o Sistema Nacional de Infor-


mação sobre Meio Ambiente (SINIMA). O SINIMA é uma plataforma conceitual
fundamentada na conexão e compartilhamento de dados entre os múltiplos com-
ponentes do SISNAMA. Dessa forma, o SINIMA é responsável por gerenciar a
informação e compartilhá-la com as diferentes esferas (governo, sociedade e ór-
gãos ambientais).
35
Proteção do Meio Ambiente

Segundo Giacomelli e Eltz (2018), pode-se definir a partir da PNMA a terceira


fase das legislações ambientais no Brasil, pois o meio ambiente passa a ser visto
de forma ampla e sua proteção passa a ser organizada como um sistema ecológi-
co integrado. Outra inovação é observada ao:

[...] inaugurar uma nova etapa no modo de utilização e apro-


priação dos recursos naturais para atividade produtiva, pre-
vendo a utilização de instrumentos de gestão ambiental (Art.
9º da PNMA) de alcance nacional. Dentre eles, destacam-se:
o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental, o zo-
neamento ambiental, a avaliação de impactos ambientais, e o
licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluido-
ras (FERREIRA; SALLES, 2016, p. 8).

1) Uma das inovações trazidas pela PNMA envolvendo os aspectos


ambientais foi a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) e do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). A
partir disso, qual a diferença básica entre SISNAMA e CONAMA?

Sanchez (2013) indica outra legislação que é importante neste período em


função das melhorias para a proteção ambiental: a Lei no 7.347 de 1985, conheci-
da como Lei dos Interesses Difusos. A partir desta, o conceito de dano ambiental
(que vimos no Subtópico 2 deste capítulo) foi ampliado através da conceituação
de interesses difusos, ou seja, interesses comuns a um grupo de pessoas (como
moradores de uma região, por exemplo).

Três anos depois, a Constituição Federal de 1988 foi um grande marco na


evolução do direito brasileiro e da questão ambiental no país ao consagrar um
capítulo exclusivo para a matéria do meio ambiente. Ademais, em seu Art. 225 es-
tipula que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Po-
der Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações” (BRASIL, 1988, p. 5).

Apesar de que, em um primeiro momento, não tenha sido observada mudan-


ça expressiva na elaboração de políticas públicas, essa cautela constitucional tem
como atributo a possibilidade de dirigir a adoção de instrumentos de gestão com
maior competência para transigir o desenvolvimento econômico e a disponibilida-
de dos recursos em longo prazo (GIACOMELLI; ELTZ, 2018).

36
Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

Ainda visando ao fortalecimento das relações exteriores foi criado o “Progra-


ma Nossa Natureza”, em 1988, cujo objetivo consistiu em garantir preservação
ecológica, proporcionando mudanças expressivas no cenário ambiental. Vale des-
tacar também o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, criado em 1989, e
outras legislações que tornam danos ao meio ambiente, crimes, como: penalizou
o uso do agrotóxico, tornou a poluição crime ambiental e tornou delito garimpagem
sem autorização, todas em 1989. Neste mesmo ano, ainda, foi criado o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) com o
objetivo de preservar, conservar, promover o uso racional, fiscalizar, controlar e fo-
mentar os recursos naturais (FERREIRA; SALLES, 2016; MOREIRA et al., 2021).

A partir desse momento, a gestão dos recursos ambientais passa a ser inte-
grada, pois até então, as questões ambientais eram cuidadas por diferentes se-
tores/ministérios e com visões contraditórias, muitas vezes. A criação do IBAMA
atinge um fim muito mais amplo que o alcançado pela SEMA, uma vez que assu-
miu as pertinências de diferentes órgãos que antes eram responsáveis pelo cum-
primento da política ambiental de forma fragmentada (FERREIRA; SALLES, 2016;
MOREIRA et al., 2021).

Durante a década de 1980, o atraso na prática de alguns instrumentos ante-


vistos na PNMA foi devido à crise econômica afrontada naquele momento, fazen-
do com que as organizações não tivessem foco nas questões ambientais. Já no
início da década de 1990, o principal vilão da economia brasileira foi a inflação,
entretanto, a partir da Eco-92 (conforme já vimos no primeiro tópico deste capí-
tulo), muitos avanços ocorreram no que tange ao Direito Ambiental no Brasil. Du-
rante esta década foram instituídas legislações a fim de integralizar a base teórica
para a elaboração das ações políticas atuais, tais como as citadas a seguir:

• 1993 – Redução de emissão de poluentes por veículos automotores e dá


outras providências.
• 1997 – Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos.
• 1998 - Lei de Crimes ambientais.

A Lei de Crimes ambientais é uma das leis mais avançadas do mundo, na


qual comportamentos e atividades acatadas prejudiciais ao meio ambiente co-
meçam a sofrer punição civil (ressarcimento pecuniário, prestação de serviço e
execução judicial), administrativa (multas) e penal (dolo ou de culpa do agente
causador)). É sob esta ótica integradora que passa a combinar os aspectos eco-
nômicos e sociais com os ambientais, em busca da preservação do meio ambien-
te (MOREIRA et al., 2021).

Passada a década de1990, as empresas do século XXI passaram a conside-


rar em suas ações a melhoria da sociedade, busca-se a criação de parcerias sus-

37
Proteção do Meio Ambiente

tentáveis e que tenham valoração ambiental. Com respeito aos aspectos legais e
institucionais, pode-se citar:

• 2000: criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação


(SNUC).
• 2004: instituiu-se a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH).
• 2006: Lei da Mata Atlântica.
• 2007: criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversi-
dade (ICMBio) e da Política Nacional de Saneamento Básico (PNSB).
• 2010: institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS); estabele-
cimento do Sistema Nacional de Informações em Saneamento (SINISA).
• 2012: Novo Código Florestal.

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), cria-


do em 2000, é o instrumento responsável por assegurar que a diversidade biológi-
ca seja protegida e que o desenvolvimento sustentável seja alcançado a partir dos
recursos naturais, bem como garantir que comunidades tradicionais, seus conhe-
cimentos e cultura sejam protegidos. É composto pelas unidades de conservação
das três esferas (federal, estadual e municipal) e objetiva:

I - Contribuir para a manutenção da diversidade biológica e


dos recursos genéticos no território nacional e nas águas ju-
risdicionais;
II - Proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito
regional e nacional;
III - contribuir para a preservação e a restauração da diversida-
de de ecossistemas naturais;
IV - Promover o desenvolvimento sustentável a partir dos re-
cursos naturais;
V - Promover a utilização dos princípios e práticas de conser-
vação da natureza no processo de desenvolvimento;
VI - Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável
beleza cênica;
VII - proteger as características relevantes de natureza geoló-
gica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontoló-
gica e cultural;
VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
IX - Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
X - Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesqui-
sa científica, estudos e monitoramento ambiental;
XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
XII - favorecer condições e promover a educação e interpre-
tação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o
turismo ecológico;
XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência
de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu co-
nhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economi-
camente (BRASIL, 2000, p. 1).

38
Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

Importante ressaltar que a legislação florestal brasileira teve, inicialmente,


como foco, a conservação de recursos naturais, como madeiras nobres, nutrien-
tes do solo e água. E, segundo Rajão et al. (2021, p. 8):

[...] gradualmente, a legislação florestal brasileira ganhou con-


tornos ambientalistas, passando a considerar a vegetação na-
tiva como “bem de interesse comum”, cujos uso e proteção
deveriam servir para garantir o bem-estar da população, indo
além do fornecimento de recursos naturais. Por outro lado, os
efeitos dessa legislação florestal foram limitados devido à sua
concorrência com projetos de desenvolvimento regional.

Em 2006, surge uma legislação específica sobre a Mata Atlântica com en-
foque no uso e na proteção da vegetação nativa deste bioma. Este enfoque visa
promover o desenvolvimento sustentável e a preservação da “biodiversidade, da
saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime hídrico
e da estabilidade social” (BRASIL, 2006, p. 3).

Em 2007, como destaque tem-se o Instituto Chico Mendes de Conservação


da Biodiversidade (ICMBio), que é uma autarquia federal com autonomia (admi-
nistrativa e financeira) e foi criado a partir da Lei 11.516. Segundo esta legislação,
tem por objetivos:

I - Executar ações da política nacional de unidades de conser-


vação da natureza, referentes às atribuições federais relativas
à proposição, implantação, gestão, proteção, fiscalização e
monitoramento das unidades de conservação instituídas pela
União;
II - Executar as políticas relativas ao uso sustentável dos re-
cursos naturais renováveis e ao apoio ao extrativismo e às
populações tradicionais nas unidades de conservação de uso
sustentável instituídas pela União;
III - fomentar e executar programas de pesquisa, proteção,
preservação e conservação da biodiversidade e de educação
ambiental;
IV - Exercer o poder de polícia ambiental para a proteção das
unidades de conservação instituídas pela União; e
V - Promover e executar, em articulação com os demais órgãos
e entidades envolvidos, programas recreacionais, de uso públi-
co e de ecoturismo nas unidades de conservação, onde estas
atividades sejam permitidas (BRASIL, 2007, p. 1).

Entende-se, a partir dos objetivos, que o ICMBIO é um órgão essencial para


a proteção do meio ambiente, pois estrutura e promove a implementação de polí-
ticas públicas tanto para conservação das questões ambientais quanto visando ao
desenvolvimento social, ambiental e econômico de forma integrada.

A forma com a qual a gestão ambiental está organizada no Brasil de forma


institucional transcorre de variadas políticas públicas, anunciadas convencional-

39
Proteção do Meio Ambiente

mente pelas leis. Políticas e legislações definem instrumentos de influência para


controle do Estado, que são os mecanismos, procedimentos e métodos adotados
para que objetivos expressos sejam alcançados.

O padrão atual de aptidões para ordenar sobre Meio Ambiente no Brasil é


partilhado entre a União, Estados e Municípios sobre recursos naturais. Os Es-
tados podem legislar conjuntamente sobre: florestas, caça, pesca, fauna, con-
servação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do Meio
ambiente, controle da poluição e responsabilidade por danos ao meio ambiente.
Ainda conforme a constituição, “os estados e municípios devem zelar pela prote-
ção ao meio ambiente e combater a poluição” (BRASIL, 1981, p. 1). A legislação
estadual e municipal não deve entrar em confronto com interesse nacional (MO-
REIRA et al., 2021).

Embora a necessidade de enfrentar a crise ambiental, central para a ciência


da conservação, tenha gerado versões mais verdes do paradigma do crescimen-
to, ainda são necessárias mudanças fundamentais nos valores que garantam a
transição de uma sociedade centrada no crescimento para uma que reconheça os
limites biofísicos e centrada no bem-estar humano e conservação dos recursos.
Dessa forma, entende-se que a legislação ambiental, mais do que a significação
de um direito ambiental presente, é um Direito do futuro e da antecipação, com
relevante aspecto social de uma relação equilibrada e harmoniosa entre o homem
e a natureza (GAVA; SOUZA, 2011).

5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
O modelo de economia baseada no acúmulo de riquezas, no aumento da
produtividade e no crescimento desenfreado resultou em impactos ao ambiente,
suas condições ecológicas e sociais, interferindo na capacidade deste. O homem,
com o passar dos anos, percebeu que para continuar se desenvolvendo precisa
enxergar-se como parte do ambiente e não como um elemento externo e, dessa
forma, passou a buscar formas de preservar o ambiente.

Em 1972 é que o cenário ambiental mundial de fato tomou novos rumos a


partir do documento intitulado “Os limites do crescimento”, o qual alertava sobre
os riscos da continuidade do modelo de desenvolvimento baseado em acúmulo de
riquezas e consumo desenfreado de recursos naturais. Dentro desse contexto, o
desenvolvimento sustentável passa a ser visto como um processo de mudança em
que a exploração de recursos, a direção do investimento, a orientação técnica e a
mudança institucional são consistentes com as necessidades futuras e presentes.

40
Capítulo 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade

Vimos, também, conceitos básicos para compreender a proteção do meio


ambiente, tal como a própria definição de meio ambiente, de impacto ambiental,
degradação, poluição, dentre outros termos fundamentais. A definição clara de
termos envolvidos na temática de proteção do meio ambiente é fundamental para
o profissional ambiental, tendo em vista que permite a comunicação eficaz.

Com relação aos aspectos legais e institucionais no Brasil, as primeiras leis


que explicitamente tinham por objetivo a proteção ambiental (ou de uma parcela
deste) abordavam principalmente problemas relativos à poluição. No instante em
que a produção industrial em grande escala começou a interferir na qualidade am-
biental, questões relacionadas a sua proteção passaram a ser observadas com
atenção, tanto em função da quantidade de efluentes lançados bem como pelos
acidentes ambientais ocorridos.

Assim, a proteção dos recursos ambientais no Brasil associa-se à definição de


mecanismos que possibilitem o controle da preservação deste, tendo sua origem
relacionada à necessidade do controle das ações do homem sobre o emprego dos
recursos naturais, designando hábitos para promover o desenvolvimento de forma
equalitária entre sociedade e meio ambiente. Os problemas ambientais ao longo
dos anos nos levam a pensar sobre como o nosso modo de vida é equivocado, e
que se nada for feito, nos encaminhará para a beira de um abismo onde o colapso é
iminente. É neste momento de nossa história que surge a preocupação da popula-
ção com a maneira como estamos usando o ambiente ao nosso redor.

Em função disso, as décadas pós-Relatório Brundtland fizeram com que o


debate sobre a temática do desenvolvimento sustentável fosse incorporado em
nível mundial e muitos desdobramentos de implementação de suas premissas a
partir da Agenda 21. No entanto, a crise ambiental e a deterioração descontrola-
da dos recursos naturais ainda persistem, visto que as maneiras de conduzir o
processo, por vezes contraditórias, têm resultados diversos em relação ao seu
alcance e aplicabilidade.

Neste capítulo, então, a partir da contextualização da evolução histórica,


você foi capaz de interpretar a importância da proteção do meio ambiente, bem
como a partir daqui é possível diferenciar conceitos importantes, tal como meio
ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. Além disso, ao apre-
sentar as principais legislações relacionadas, embasa-se o entendimento desta
temática sob o aspecto jurídico e legal. Frente ao conteúdo apresentado, espera-
mos que você, ainda, se sinta motivado a ter ousadia, inovação tanto para aplicar
o que foi aprendido até aqui quanto para buscar novos conhecimentos e se apro-
fundar na temática de meio ambiente e sustentabilidade.

41
Proteção do Meio Ambiente

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45
Proteção do Meio Ambiente

46
C APÍTULO 2
Licenciamento e Avaliação De
Impacto Ambiental
A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes
objetivos de aprendizagem:

� compreender o processo de licenciamento ambiental de atividades poluidoras e


apresentar as principais metodologias de avaliação de impacto;

� aplicar ferramentas da avaliação de impacto e correlacionar medidas preventi-


vas, atenuantes, potencializadoras e mitigadoras dos impactos.
Proteção do Meio Ambiente

48
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
No capítulo anterior, vimos que durante muitos anos, o desenvolvimento eco-
nômico decorrente da Revolução Industrial impediu que os problemas ambientais
fossem considerados na tomada de decisão. Do mesmo modo, a poluição e os
impactos ambientais decorrentes deste período eram vistos como algo necessário
para o desenvolvimento. Foi apenas a partir da década de 1970 que passou a se
pensar em um desenvolvimento mais equilibrado social, econômica e ambiental-
mente, denominado desenvolvimento sustentável.

O licenciamento de atividades poluidoras ou com potencial de provocar im-


pactos ambientais pode ser feito em nível federal, estadual ou municipal e, como
principal atividade deste processo, tem-se a avaliação de impacto ambiental
(AIA), que consiste em uma análise para identificação de impactos ambientais
exigida para atividades poluidoras ou potencialmente poluidoras. É necessário,
então, desenvolver estudos ambientais para obter um documento, definido como
licença ambiental e, em função de seu caráter preventivo, é um dos instrumentos
mais importantes da Política Nacional de Meio Ambiente.

Dessa forma, busca-se, a partir de metodologias previamente estabelecidas,


identificar, analisar e propor medidas para os prováveis impactos de atividades
e/ou empreendimentos. Dessa forma, o licenciamento ambiental e a AIA são os
meios mais importantes de controle no que diz respeito à proteção do meio am-
biente, pois permitem que sejam definidas condições e limites ao desenvolvimen-
to de determinada atividade ou empreendimento.

Conhecer o processo envolvendo o licenciamento ambiental e as metodo-


logias para identificação e avaliação de impactos ambienteis nos permite aplicar
as ferramentas de AIA e correlacionar medidas que visem prevenir, potencializar
ou mitigar os impactos. Este arcabouço de conhecimento possibilita que se tenha
um olhar mais crítico para atividades com potencial de degradação ambiental, vi-
sando garantir a proteção do meio ambiente em consonância ao desenvolvimento
econômico e social.

2 FUNDAMENTOS E ETAPAS DO
LICENCIAMENTO AMBIENTAL
No capítulo anterior, vimos que a preocupação com as questões ambientais
teve início após a década de 1960 em decorrência dos impactos ambientais, con-
sequentes das ações humanas e da forma de desenvolvimento. O meio ambiente

49
Proteção do Meio Ambiente

interfere de forma direta na sociedade e não é possível separá-los. Entretanto, as


necessidades de mercado nem sempre alcançam o ponto de equilíbrio imagina-
do para atender às demandas de todos os aspectos envolvidos. Nesse instante,
compete ao Estado definir limites visando conservar o bem comum.

Em 1970, quando assurgiu avaliação e priorização de projetos, estes eram


muito restritos a um julgamento econômico, sem mecanismos para identificação
e incorporação das consequências ou implicações ambientais de um determinado
projeto, plano ou programa (PPP) que causassem degradações ao bem-estar so-
cial e ao seu entorno (MMA, 2009). No Brasil, as primeiras tentativas de aplicação
de metodologias para avaliação de impactos ambientais foram decorrentes de
exigências de órgãos financeiros internacionais para aprovação de empréstimos a
projetos governamentais. Com a crescente conscientização da sociedade, tornou-
-se cada vez mais necessária a adoção de práticas adequadas de gerenciamento
ambiental em quaisquer atividades modificadoras do meio ambiente (MMA, 2009).

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu como direito fundamental do


povo tanto o meio ambiente equilibrado como o desenvolvimento econômico e
social. Esses três componentes, juntos, formam o tripé denominado desenvolvi-
mento sustentável (BRASIL, 2007). Nesse contexto, o licenciamento ambiental
cumpre papel decisivo na busca pelo equilíbrio entre proteção ambiental e desen-
volvimento econômico e social, podendo ser definido como:

O procedimento administrativo destinado a permitir atividades


ou quaisquer empreendimentos utilizadores de recursos am-
bientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob
qualquer forma, de causar a degradação ambiental. Trata-se,
portanto, de um instrumento essencial para conciliar o meio
ambiente e o desenvolvimento econômico e social – por meio
do qual o órgão competente verifica a adequação de um pro-
jeto ou atividade ao meio ambiente, licenciando, em diferentes
etapas, a sua implantação (MOTTA; PÊGO, 2013, p. 12).

O licenciamento ambiental brasileiro começou a ser adotado de forma isola-


da em alguns estados em 1970, porém só foi instituído em nível nacional a partir
da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) em 1981. O poder de limitar o
direito individual em benefício da coletividade é uma das manifestações do poder
de polícia do Estado, ou seja, a autorização implica um julgamento de valor por
parte do agente público na análise do projeto e aplica-se aos casos em que não
existe um direito preexistente por parte do administrado para o exercício daquela
atividade (SANCHEZ, 2013).

O resultado do processo de licenciamento é a licença ambiental. A licença


ambiental é a autorização emitida pelo órgão público competente e concedida ao
empreendedor para que exerça seu direito à livre iniciativa, desde que “atendidas

50
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

as precauções requeridas, a fim de resguardar o direito coletivo ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado” (BRASIL, 2007, p. 10). A licença é, portanto, o ato
administrativo unilateral e vinculado (à legislação e aos regulamentos) pelo qual
a Administração faculta àquele que preencha os requisitos legais o exercício de
uma atividade (SANCHEZ, 2013).

O Brasil possui, atualmente, extensos mecanismos para gestão ambiental, a


qual é administrada por amplo aparato legal, conforme vimos no capítulo anterior.
O conjunto de legislações vigentes foi criado em contextos diferentes ao longo
dos anos, sendo influenciada por aspectos econômicos, sociais e políticos dife-
rentes e, por isso, há divergência entre elas. Os principais instrumentos legais que
regem o licenciamento ambiental no Brasil são:

• Lei Federal nº 6.938/1981 – institui a Política Nacional do Meio Ambiente


(PNMA).
• Resolução Conama nº 1/1986 – regulamenta o licenciamento ambiental.
• Resolução Conama nº 237/1997 – define atribuições para o licenciamen-
to ambiental.
• Lei Complementar Federal nº 140/2011 – institui instrumentos de coope-
ração entre entes federativos para licenciamento ambiental.

A Lei Federal nº 6.938/1981 estabelece o licenciamento e a revisão de ativi-


dades efetiva ou potencialmente poluidoras como um dos seus princípios. Em seu
Art. 9º define como seus instrumentos:

I - O estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;


II - O zoneamento ambiental;
III - A avaliação de impactos ambientais;
IV - O licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou poten-
cialmente poluidoras;
V - Os incentivos à produção e instalação de equipamentos e
a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria
da qualidade ambiental;
VI - A criação de espaços territoriais especialmente protegidos
pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como
áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico
e reservas extrativistas;
VII - O sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
VIII - O Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos
de Defesa Ambiental;
IX - As penalidades disciplinares ou compensatórias ao não
cumprimento das medidas necessárias à preservação ou cor-
reção da degradação ambiental;
X - A instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente,
a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA;
XI - A garantia da prestação de informações relativas ao Meio
Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando
inexistentes;

51
Proteção do Meio Ambiente

XII - O Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente


poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais;
XIII - Instrumentos econômicos, como concessão florestal, ser-
vidão ambiental, seguro ambiental e outros.

Em função da PNMA, a Resolução Conama nº 1 de 1986 estabelece defi-


nições, responsabilidades, critérios básicos e diretrizes gerais para uso e imple-
mentação da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) como um dos instrumentos da
PNMA e estabelece uma lista de atividades modificadoras do meio ambiente. Em
seu Art. 4º aponta que:

Os órgãos ambientais competentes e os órgãos setoriais do


SISNAMA deverão compatibilizar os processos de licencia-
mento com as etapas de planejamento e implantação das ati-
vidades modificadoras do meio Ambiente, respeitados os crité-
rios e diretrizes estabelecidos por esta Resolução e tendo por
base a natureza o porte e as peculiaridades de cada atividade
(BRASIL, 1986, p. 2).

A Resolução Conama nº 237/1997 complementa a 01 de 1981 a fim de revisar


procedimentos, critérios e definições acerca do licenciamento ambiental bem como
as etapas a serem desenvolvidas (Figura 1). Aponta, ainda, o licenciamento como
passível de ser disciplinado pelos três níveis de governo e buscou demarcar as com-
petências, inclusive dos municípios, que também concedem licenças ambientais.

FIGURA 1 – ETAPAS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL

FONTE: Adaptado de Brasil (1997)

52
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

Para obtenção do licenciamento de empreendimento ou atividade potencial-


mente poluidores, o interessado deverá dirigir sua solicitação ao órgão ambiental
competente para emitir a licença, podendo este ser Ibama, os órgãos de meio am-
biente dos estados e do Distrito Federal ou os órgãos municipais de meio ambien-
te. Nesse contexto, a Resolução Conama nº 237/1997 ao analisar as competên-
cias comuns em matéria ambiental previstas na Constituição Federal, instituiu um
sistema de licenciamento ambiental em que estas são atribuídas aos diferentes
entes federativos em razão da localização do empreendimento, da abrangência
dos impactos diretos.

A partir do Quadro 1, a seguir, entende-se que a competência legal para li-


cenciar, quando definida em função da abrangência dos impactos diretos que a
atividade pode gerar, pode ser: “(i) do município - se os impactos diretos forem
locais; (ii) do estado - se os impactos diretos atingirem dois ou mais municípios; e
(iii) do IBAMA - se os impactos diretos se derem em dois ou mais estados” (MMA,
2009, p. 23).

QUADRO 1 – ABRANGÊNCIA X COMPETÊNCIA PARA LICENCIAR

Abrangência dos impactos Competência para licenciar


Dois ou mais estados Ibama
Dois ou mais municípios Órgão Estadual
Local Órgão municipal
FONTE: Adaptado de Brasil (1997)

É importante citar, aqui, que nem todos os municípios podem licenciar. Além
disso, a competência pode ser definida em razão da localização do empreendi-
mento. Algumas atividades, por terem uma importância estratégica, são licencia-
das obrigatoriamente pelo IBAMA, são elas:

(i) aquelas cujos impactos diretos ultrapassem os limites do


País;
(ii) as localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e
em país limítrofe;
(iii) no mar territorial;
(iv) na plataforma continental;
(v) na zona econômica exclusiva;
(vi) em terras indígenas;
(vii) em unidades de conservação de domínio da União;
(viii) as atividades envolvendo material radioativo; e
(ix) os empreendimentos militares (MMA, 2009, p. 23).

53
Proteção do Meio Ambiente

Reforçando, então: antes de seguir as etapas citadas na Figura 1


é importante que o responsável pelo empreendimento a ser licenciado
identifique o órgão competente, conforme apresentado no Quadro 1.

Outra legislação relacionada ao licenciamento ambiental é a Lei Complemen-


tar Federal nº 140/2011, que procurou dar mais clareza à repartição das com-
petências e estabeleceu instrumentos de cooperação institucional entre os entes
federativos, delimitando atividades específicas de licenciamento junto ao Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O licenciamento trata não somente de atividades que possam causar polui-


ção ambiental, mas qualquer forma de degradação, denotando uma evolução no
entendimento das causas da deterioração da qualidade ambiental, que não mais
são somente atribuídas à poluição, mas a outras causas oriundas das atividades
humanas (SANCHEZ, 2013).

Atualmente, não se tem conhecimento de um documento que reúna informa-


ções sobre os procedimentos de licenciamento ambiental no Brasil, que permita
identificar e avaliar a metodologia utilizada pelos diferentes órgãos licenciadores
(SANCHEZ, 2013). É possível constatar que, apesar de termos instrumentos le-
gais norteadores do processo de licenciamento ambiental no país, os órgãos am-
bientais licenciadores têm autonomia para deliberar acerca dos procedimentos e
critérios a serem adotados durante o processo, o que leva à concepção de um
panorama heterogêneo no que diz respeito ao licenciamento ambiental brasileiro.

O licenciamento ambiental possui particularidades em cada es-


tado e município, assim, é indicado que as informações sobre es-
tados/cidades específicas sejam consultadas em seus respectivos
órgãos ambientais (estaduais e/ou municipais, quando houver). O
quadro a seguir exibe os sites dos órgãos ambientais de cada estado
para que, caso seja necessário, você consiga buscar informações.

QUADRO – ÓRGÃO AMBIENTAL RESPONSÁVEL PELO


LICENCIAMENTO DE CADA ESTADO

Estado Órgão ambiental Site


Acre IMAC – Instituto de Meio Ambiente do Acre http://www.imac.ac.gov.br/
Alagoas IMA – Instituto de Meio Ambiente https://www.ima.al.gov.br/
54
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

Amapá SEMA – Secretaria de Estado de Meio Ambiente https://sema.portal.ap.gov.br/


IPAAM – Instituto de Proteção Ambiental do
Amazonas http://www.ipaam.am.gov.br/
Amazonas
INEMA – Instituto do Meio Ambiente e Recursos
Bahia http://www.inema.ba.gov.br/
Hídricos
Ceará SEMACE – Secretaria do Meio Ambiente https://www.semace.ce.gov.br/
Distrito Federal IBRAM – Brasília ambiental https://www.ibram.df.gov.br/
IEMA – Instituto de Meio Ambiente e Recursos
Espírito Santo https://iema.es.gov.br/
Hídricos
SEMAD – Secretaria de Estado de Meio
Goiás https://www.meioambiente.go.gov.br/
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
SEMA – Secretaria de Estado de Meio Ambiente
Maranhão https://sigla.sema.ma.gov.br/
e Recursos Naturais
SEMA – Secretaria de Estado de Meio Ambiente https://monitoramento.sema.mt.gov.br/
Mato Grosso
e Recursos Naturais simlam/
Mato Grosso IMASUL – Instituto de Meio Ambiente do Mato
https://www.imasul.ms.gov.br/
do Sul Grosso do Sul
SEMAD – Secretaria de Estado de Meio
Minas Gerais http://www.meioambiente.mg.gov.br/
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
SEMAS – Secretaria de Estado de Meio
Pará https://www.semas.pa.gov.br/
Ambiente e Sustentabilidade
SUDEMA – Superintendência de Administração
Paraíba http://sudema.pb.gov.br/
do Meio Ambiente
Paraná IAT – Instituto Água e Terra http://www.iat.pr.gov.br/
Pernambuco CPRH – Agência Estadual de Meio Ambiente http://www2.cprh.pe.gov.br/
SEMAR – Secretaria de Estado do Meio
Piauí http://www.semar.pi.gov.br/
Ambiente e Recursos Hídricos
Rio de Janeiro INEA – Instituto Estadual do Ambiente http://www.inea.rj.gov.br/
Rio Grande do FEPAM – Fundação Estadual de Proteção
http://www.fepam.rs.gov.br/
Sul Ambiental
Rio Grande do IDEMA – Instituto de Desenvolvimento
http://www.idema.rn.gov.br/
Norte Sustentável e Meio Ambiente
COLMAN – Coordenadoria de Licenciamento e
Rondônia http://colmam.sedam.ro.gov.br/
Monitoramento Ambiental
FEMARHH – Fundação Estadual do Meio
Roraima http://www.femarh.rr.gov.br/
Ambiente e Recursos Hídricos de Roraima
Santa Catarina IMA – Instituto de Meio Ambiente https://www.ima.sc.gov.br/
CETESB – Companhia ambiental do Estado de https://cetesb.sp.gov.br/
São Paulo
São Paulo licenciamentoambiental/
SEDURBS – Secretaria de Estado do
Sergipe https://sedurbs.se.gov.br/
Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade
Tocantins Naturatins – Instituto Natureza do Tocantins https://www.to.gov.br/naturatins/

FONTE: A autora

A decisão dos órgãos competentes sobre a possibilidade ou não de licen-


ciamento ambiental de quaisquer atividades que demandam estudo de impacto

55
Proteção do Meio Ambiente

ambiental (conforme estabelecido pela Resolução Conama no 237 de 1997) vai


depender das condições deste estudo e de sua respectiva análise (BRAGA et al.,
2005). Frente ao apresentado, conhecer aspectos sobre licenciamento ambien-
tal é de grande importância para o progresso desse instrumento de regulação
ambiental no país. Embora se trate de um instrumento bastante inovador, a AIA
foi inserida em um contexto legal e institucional que a precedeu, de forma que
convém conhecer suas principais características para apreciar todo seu alcance
(SANCHEZ, 2013).

1) A preocupação com aspectos ambientais resultou na definição de


parâmetros e critérios envolvendo atividades poluidoras a partir
da Resolução Conama nº 237/1997. Dentre as medidas adota-
das, estabeleceu-se que estas atividades precisam ser subme-
tidas ao licenciamento ambiental para serem desenvolvidas. As-
sim, considerando o que foi apresentado, diferencie licença de
licenciamento ambiental.

2.1 TIPOS DE LICENÇA AMBIENTAL


A licença ambiental é exigida para os empreendimentos passíveis de degra-
dar o meio ambiente. O tipo de licença necessária é definida a partir das caracte-
rísticas do empreendimento, do potencial poluidor e do porte e, ainda, depende do
local onde será instalado o empreendimento tendo em vista que o licenciamento
varia de acordo com estado/município. Aqui, vamos apresentar os principais tipos
de licenças ambientais. Segundo o Art. 19 da PNMA, o Poder Público, no exercí-
cio de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças:

I – Licença Prévia (LP): na fase preliminar do planejamento


da atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos
nas fases de localização, instalação e operação, observados
os planos estaduais ou federais de uso do solo.
II – Licença de Instalação (LI): autorizando o início da implan-
tação, de acordo com as especificações constantes do Projeto
executivo aprovado; e
III – Licença de Operação (LO): autorizando, após as verifi-
cações necessárias, o início da atividade licenciada e o fun-
cionamento de seus equipamentos de controle de poluição,
de acordo com o previsto nas Licenças Prévia e de Instalação
(BRASIL, 1990, p. 3).

56
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

Empreendimentos novos, antes de darem andamento ao projeto, precisam


aprová-lo junto ao órgão ambiental para obter a Licença Prévia (LP), que definirá
as condições para as demais etapas. Assim, a LP define os requisitos necessários
para viabilizar o empreendimento do ponto de vista ambiental. São analisados
os impactos ambientais que potencialmente serão gerados, aspectos locacionais,
medidas propostas para mitigação e/ou compensação e os referidos programas
para redução, prevenção ou mitigação dos efeitos dos impactos.

Nesta etapa do licenciamento, caso o órgão competente veja necessidade,


serão solicitados estudos ambientais, tal como Relatório Ambiental Simplifica-
do (RAS), Relatório de Controle Ambiental (RCA), Plano de Controle Ambiental
(PCA), Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) (BRASL, 2016).

O RAS pode ser determinado no licenciamento ambiental de empreendimen-


tos de impacto ambiental de pequeno porte, e normalmente caracteriza o empre-
endimento, diagnostica a análise ambiental da região de instalação, os impactos
ambientais e respectivas medidas de controle. O RCA, por sua vez, é requerido
para empreendimentos ou atividades que não provocam impactos ambientais sig-
nificativos, sendo seu conteúdo definido individualmente a cada caso.

O PCA abrange todos os projetos executivos, citados no licenciamento pré-


vio do empreendimento ou atividade, propostos para mitigação dos impactos am-
bientais. Já o PRAD é o conjunto de ações para reestabelecimento do equilíbrio
de uma área degradada, sendo requerido pelos órgãos ambientais como parte
complementar do processo de licenciamento de atividades poluidoras ou com po-
tencial poluidor.

O EIA e o RIMA são comuns a todos os estados e regulamentado pela Resolu-


ção CONAMA 001/1986, são estabelecidos como obrigatórios no licenciamento am-
biental de empreendimentos e atividades que possam causar significativos impac-
tos ambientais. No EIA constam aspectos técnicos imprescindíveis à avaliação dos
impactos ambientais resultantes do empreendimento. O RIMA, por sua vez, deve
ser desenvolvido de forma prática e apropriada seu entendimento, a fim de propiciar
maior entendimento e clareza para população quanto às características do empre-
endimento, os impactos ambientais provocados, as sugestões de mitigação, entre
outros pontos da implantação e operação do empreendimento (BRASIL, 1986).

A definição do tipo de estudo ambiental necessário está relacionada ao tipo


de atividade poluidora e do empreendimento a passar pelo processo de licencia-
mento, bem como de acordo com requisitos estabelecidos pelo órgão ambiental
em questão.

57
Proteção do Meio Ambiente

A Licença de Instalação (LI) será emitida ao empreendimento que, após cum-


pridos os requisitos da LP, solicitar licença para implantação. Nesta fase, o so-
licitante deve comprovar o cumprimento dos requisitos definidos na LP, indicar
planos, programas e projetos (PPP) e seus respectivos cronogramas, bem como
o projeto de implantação do empreendimento, com suas fases delimitadas e deta-
lhadas (BRASIL, 2007). Após análise destes três itens, o órgão ambiental analisa-
rá e, então, emitirá parecer favorável (ou não) à LI. Enquanto a LI estiver vigente,
o solicitante deve atender às condicionantes e a obra só poderá ser iniciada após
a emissão da LI.

A Licença de Operação (LO), por sua vez, como o nome sugere, é a licença
necessária para que empreendimentos operem. Esta será concedida após com-
provação de atendimento dos requisitos, condicionantes e medidas, bem como do
estabelecimento dos planos e programas solicitados durante o processo de obten-
ção das licenças anteriores. Além disso, o empreendedor deve implantar todos os
PPP exigidos durante a vigência da LI e executar o cronograma físico-financeiro
do projeto de compensação ambiental requerido. Após obtida a LO, o empreendi-
mento deve atender às medidas de controle e demais condicionadas, caso contrá-
rio, a LO poderá ser cancelada ou suspensa pelo órgão emissor (BRASIL, 2007).

Cada licença ambiental possui um prazo de validade específico (Quadro 2), o


que torna possível que, ao ser solicitada renovação desta, sejam conferidas se as
condições estabelecidas estão sendo cumpridas e são promovidas atualizações
conforme as legislações atuais (BRASIL, 2016; RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018).

QUADRO 2 – VALIDADES DE CADA TIPO DE LICENÇA AMBIENTAL

Licença Validade É passível de renovação?


Prévia Máx. 5 anos Sim, se não ultrapassar o prazo máximo de validade.
Instalação Máx. 6 anos Sim, se não ultrapassar o prazo máximo de validade.
Min. 4 anos Sim. É necessário dar entrada ao processo de renovação de licenças ambientais
Operação
Máx. 10 anos com antecedência mínima de 120 dias antes do prazo de validade ser encerrado.
FONTE: Adaptado de Brasil (1997)

Nos casos da LP e LI, caso necessário, a renovação poderá ser solicitada


desde que o prazo global desde a emissão da original não exceda o máximo da
validade citada. Se o cumprimento das condicionantes solicitadas não acontecer
antes do prazo mencionado, o processo de licenciamento ambiental será arquiva-
do e deve ser iniciado um novo processo.

Na renovação da LO, o órgão ambiental competente pode, a partir de análi-


se justificada, “aumentar ou diminuir o seu prazo de validade, após avaliação do

58
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

desempenho ambiental da atividade ou empreendimento no período de vigência


anterior” (BRASIL, 1997, p. 5).

A legislação referente ao licenciamento ambiental foi criada há mais de 20


anos, entretanto, diversos empreendimentos não passaram pelo processo de li-
cenciamento e isto é considerado crime ambiental conforme prevê o Art. 60 da
Lei nº 9.605 de 1998. Nos casos em que é necessária a regularização do licencia-
mento de empreendimentos em nível federal (Ibama) é possível que seja feito um
Termo de Compromisso, conforme Art. 79-A, da Lei de crimes ambientais.

Os responsáveis pelas atividades não regularizadas devem identificar o órgão


ambiental responsável pelo seu perfil (local, estadual ou nacional) e realizar as etapas
necessárias para obtenção das licenças ambientais. Em grande parte dos casos é
necessário solicitar diretamente a LO tendo em vista que LP e LI já não se aplicam
em função da atividade já estar em operação (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018).

Entretanto, em alguns casos podem ser definidas pelos órgãos ambientais


licenciadores, definidas por legislações estaduais as seguintes licenças: “Licen-
ça de Instalação Corretiva (LIC), Licença de Operação Corretiva (LOC), Licencia-
mento Simplificado (LS), Licença Prévia simultânea à Licença de Instalação (LP +
LI) e Licença de Instalação e Operação (LIO)” (BRASIL, 2016, p. 49).

A LIC é emitida quando a licença do empreendimento ou atividade é reque-


rida na fase de instalação e tem por validade, no mínimo, o estabelecido no cro-
nograma do empreendimento e no máximo 6 anos. A LOC é emitida quando a
licença do empreendimento ou atividade é requerida na fase de operação, sua
duração é de 4 a 10 anos (BRASIL, 2016).

A LP+LI é emitida para empreendimentos enquadrados na classe 3 ou 4, que


podem requerer concomitantemente a LP e a LI, com validade até 6 anos. A LIO
é concedida para empreendimentos cuja instalação e operação ocorram simul-
taneamente e sua duração é de no mínimo 1 ano e máximo 10 anos, quando as
características da obra ou atividade licenciada indicarem a necessidade de sua
renovação periódica (BRASIL, 2016).

A licença ambiental não é a única autorização necessária para regularização


de empreendimentos. Em alguns casos são necessários outros tipos de licenças
quando recursos ambientais são utilizados, a fim de exemplificar, tem-se Licencia-
mento Ambiental Simplificado (LAS) e Autorização Ambiental (AA).

O LAS é indicado em casos quando o empreendimento ou atividade tiver bai-


xo potencial impactante, o empreendedor pode solicitar LAS, composto por uma
única etapa e que resulta em um único ato autorizativo. A Autorização Ambiental

59
Proteção do Meio Ambiente

(AA) aprova a instalação e operação de empreendimentos de caráter temporário


ou de obras que não se enquadrem no processo de licenciamento ambiental con-
vencional.

Nos casos de empreendimentos que possam causar impactos em terras


indígenas, regiões quilombola, bens acautelados de interesse cultural e áreas
endêmicas para malária, pode haver participação no processo de licenciamento
ambiental da Fundação Nacional do Índio (Funai), Fundação Cultural Palmares
(FCA), Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Iphan) e Ministério da Saúde,
denominados órgãos intervenientes, conforme a Portaria Interministerial nº 419,
de 26 de outubro de 2011 (BRASIL, 2016).

Em alguns casos, como financiamentos, licitações e créditos bancários, ape-


sar do empreendimento não demandar licenciamento ambiental, o empreendedor
precisa que esta dispensa seja formalmente notificada. Para tanto, o empreen-
dedor procura o respectivo órgão ambiental para solicitar este documento, que
é comumente chamado de Dispensa de Licenciamento Ambiental (DLAE). Essa
nomenclatura pode sofrer variações nos diferentes estados do país.

Por fim, é importante ressaltar que durante o planejamento de empreendi-


mentos, o licenciamento ambiental é etapa indispensável necessária para regula-
rização e redução de seus respectivos impactos ao meio ambiente. Prever possí-
veis problemas durante o processo auxilia a identificação de medidas apropriadas
para reduzir atrasos e empecilhos no decorrer do processo.

3 MÉTODOS QUALIQUANTITATIVOS
DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL
Iniciaremos este subtópico abordando o contexto geral e as etapas da ava-
liação de impacto ambiental (AIA) para, então, adentrarmos no universo dos mé-
todos de avaliação. A AIA tem por objetivo levar em consideração os impactos
ambientais prévios à tomada de decisão sobre o processo de licenciamento de
empreendimento que potencialmente resulte em significativa degradação ambien-
tal. No Capítulo 1 vimos que a degradação ambiental é a perda da qualidade am-
biental resultante das consequências das ações humanas, lembra-se? E o concei-
to de impacto ambiental, ainda está claro? Segundo a Resolução CONAMA 001
de 1986, impacto ambiental é:

[...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e


biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de
matéria ou energia resultante das atividades humanas que, di-

60
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

reta ou indiretamente, afetam: a saúde, a segurança e o bem-


-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a
biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e,
a qualidade dos recursos ambientais (BRASIL, 1986, p. 922).

Vimos, também, que os impactos nem sempre são negativos e é importante


que os impactos positivos também sejam considerados no processo de avaliação.
No decorrer dos anos, a AIA vem sendo tida como um instrumento apropriado
para advertir os tomadores de decisão de forma proativa sobre o que pode acon-
tecer, caso uma ação proposta seja operacionalizada (IAIA, 2012).

A AIA foi iniciada em 1969 a partir da Lei de Política Ambiental (NEPA) dos
Estados Unidos e abrange o processo de identificação, prevenção, avaliação e
mitigação dos impactos ambientais antes que decisões importantes sejam toma-
das (IAIA, 2012). Essa legislação foi implementada como resposta política a fato-
res como a mudança de escala e natureza do desenvolvimento industrial pós-Se-
gunda Guerra Mundial, à crescente inquietação pública sobre as consequências
ambientais do desenvolvimento econômico e o fracasso das ferramentas de deci-
são existentes para abordar adequadamente tais preocupações.

A legislação envolvendo AIA foi adotada por mais de 100 países e por diver-
sas agências bilaterais e multilaterais de financiamento. A rápida internacionaliza-
ção e institucionalização tornou a NEPA uma das principais inovações políticas do
século XX e como a legislação americana que causou maior impacto internacional
(CASHMORE, 2004).

No Brasil, a PNMA define a AIA e o licenciamento ambiental como dois de


seus instrumentos. A AIA, então, é vinculada ao processo de licenciamento am-
biental, sendo o mecanismo responsável por dar subsídio à tomada de decisão
do órgão licenciador no que diz respeito à viabilidade ambiental da atividade ou
empreendimento.

A Figura 2 sistematiza um processo de licenciamento ambiental e permite


observar a posição da AIA neste. Este sequenciamento de atividades pode variar
em função do órgão ambiental e do local de aplicação (assim como ocorre com
o licenciamento ambiental). Observe que os componentes básicos são formados
pelas etapas a serem desenvolvidas.

61
Proteção do Meio Ambiente

FIGURA 2 – ETAPAS DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL

FONTE: Adaptada de Sanchez (2013)

A partir da Figura 2 é possível constatar que, ao analisar uma proposta, a


AIA tem início na fase preliminar, pois licenciam-se atividades com potencial de
provocar impactos ambientais. Então, é necessária uma avaliação preliminar dos
impactos, adotada a fim de direcionar o processo de licenciamento ambiental de

62
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

empreendimentos que possam causar impactos significativo, mas que não estão
definidos na legislação.

Além disso, outro ponto de destaque é a elaboração EIA/RIMA, necessário


para empreendimentos específicos e estabelecidos em legislação. Por fim, ao fi-
nal do processo, tem-se a etapa pós-aprovação, em que constam o monitoramen-
to e gestão ambiental e seu consequente acompanhamento.

O processo de AIA pode ser entendido como um conjunto de procedimentos


conectados de maneira lógica, com a finalidade de analisar a viabilidade ambien-
tal de projetos e fundamentar uma decisão a respeito (SANCHEZ, 2013).

Entretanto, para que a AIA seja capaz de garantir seu papel de auxiliar a toma-
da de decisão de forma ambientalmente adequada, é estruturada por um conjunto
de etapas sequenciais, encadeadas logicamente sob a forma de um sistema. Um
sistema de AIA é o “mecanismo legal e institucional que torna operacional o proces-
so de AIA em uma determinada jurisdição (um país, um território, um Estado, um
município ou qualquer outra entidade territorial administrativa)” (SANCHEZ, 2013,
p. 29). Enquanto o processo de AIA é entendido como as etapas necessárias para
uma análise ambiental preventiva suficiente e útil (SANCHEZ, 2013).

A AIA pode ser estabelecida sob duas perspectivas metodológicas: como um


instrumento técnico ou como procedimento legal e institucional, ambos relacio-
nados ao contexto de análise dos efeitos de determinada atividade. Segundo a
Associação Internacional de Avaliação de Impacto, a AIA tem por objetivos:

• Assegurar que o ambiente seja explicitamente considerado


e incorporado no processo de decisão sobre propostas de
desenvolvimento;
• Antecipar e evitar, minimizar ou compensar os efeitos ad-
versos significativos - biofísicos, sociais e outros relevantes
- de propostas de desenvolvimento;
• Proteger a produtividade e a capacidade dos sistemas na-
turais e dos processos ecológicos que mantêm as suas fun-
ções; e,
• Promover um desenvolvimento que seja sustentável e que
otimize o uso dos recursos e as oportunidades de gestão
(IAIA, 2012, p. 1).

Para atingir seus objetivos, a AIA se baseia em avaliações científicas rigo-


rosas de todos os caminhos causais potenciais pelos quais os desenvolvimentos
em grande escala podem impactar os ativos avaliados em uma região. Apesar
de sua importância para a tomada de decisão informada, muitas avaliações são
prejudicadas por uma análise incompleta das vias causais, avaliação espacial li-
mitada e falta de transparência sobre como os riscos foram avaliados em toda a
região (PEETERS et al., 2022).

63
Proteção do Meio Ambiente

Podem ser determinados dois tipos de princípios para a AIA: Básicos e Ope-
racionais. Os princípios básicos são os que caracterizam a AIA, tidos como uma
lista única aplicável a todas as avaliações e interdependentes.

FIGURA 3 – PRINCÍPIOS BÁSICOS DA AIA

FONTE: Adaptada de IAIA (2009)

Os Princípios Operacionais, por sua vez, fazem referência à aplicação dos


Princípios Básicos nas diferentes etapas do processo de AIA, assim, apontam que
o processo de AIA deve ser aplicado, tais como a seleção das ações, a definição
do âmbito, a identificação de impactos ou a avaliação de alternativas.

FIGURA 4 – PRINCÍPIOS OPERACIONAIS DA AIA

Segundo os quais, a AIA deve:

FONTE: Adaptada de IAIA (2009)


64
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

A partir das figuras 3 e 4 é possível constatar que os princípios básicos e


operacionais direcionam para que a AIA cumpra seu papel e seja desenvolvida de
forma efetiva. Apesar dos princípios constituírem características essenciais dos
procedimentos de AIA, a qualidade das avaliações varia tanto em nível internacio-
nal quanto em nível nacional.

Os problemas que interferem na qualidade da AIA são comuns, tais como:


regulamentações muito específicas em nível nacional ou regional, baixa qualidade
dos relatórios, equipamento insuficiente e pessoal mal treinado, quadro institu-
cional dos órgãos ambientais inadequado, falta de participação pública e baixos
níveis de cooperação entre os formuladores de políticas, pesquisadores e partes
interessadas (NITA; FINERAN; ROZYLOWICZ, 2022).

3.1 MÉTODOS E FERRAMENTAS


PARA AIA
A AIA é formada por diversas ferramentas que ajudam na assimilação dos im-
pactos e, consequentemente, para que a decisão mais ambientalmente adequada
seja tomada. Os métodos existentes, em grande parte, são resultantes de adapta-
ções e melhorias de outros comumente adotados anteriormente em outras áreas. En-
tretanto, todos os métodos possuem um ponto em comum: direcionam os debates e
mecanismos a fim de identificar agentes determinantes e as mudanças relativas do
conjunto de ações, da atividade ou do empreendimento (BRAGA et al., 2005).

A aplicação de métodos possibilita que seja feita uma análise mais detalhada
dos impactos, porém, não existe um método que seja aplicável a qualquer estudo,
tendo em vista que nenhum atende a todas suas etapas. Dessa forma, é válido
considerar que cada método apresenta limitações e potenciais e a escolha do mé-
todo depende das condições para elaboração do estudo (pessoas disponíveis e
seus conhecimentos, recursos e tempo para desenvolvimento, dados disponíveis
e características da atividade ou empreendimento) (STEIN et al., 2018).

Dentre os métodos disponíveis, os mais comuns são: método Ad hoc, che-


cklist, matrizes de interação, redes de interação, métodos de simulação e a com-
binação de mais de um método, conforme veremos a seguir.

3.1.1 Método Ad hoc


O método Ad hoc, também conhecido por método espontâneo, adota o co-
nhecimento empírico a partir da realização de reuniões com a participação de

65
Proteção do Meio Ambiente

técnicos e cientistas especialistas nas áreas e características relacionadas ao


empreendimento em análise. Nessas reuniões deve obter informações quanto
aos impactos prováveis e classificação de alternativas. Para isso, pode-se utilizar
questionários respondidos tanto por pessoas com interesse nos problemas como
pelos especialistas, ou estes podem realizar brainstormings, que significa fazer
uma avaliação por tempestade de ideias (BRAGA et al., 2005; STEIN et al., 2018).

Recomenda-se utilizar este método quando há pouca informação sobre o


meio de estudo e quando se deseja rapidez na identificação dos impactos mais
prováveis. Por esse motivo, é necessária a formação de uma equipe multidisci-
plinar de profissionais muito experientes. As equipes ficam responsáveis por atri-
buir valores aos impactos, classificar e apontar as medidas mitigatórias (RINCÃO;
TRIGUEIRO, 2018; STEIN et al., 2018).

A principal vantagem da ferramenta consiste em estimar os impactos am-


bientais e apresentar os resultados de maneira rápida, organizada e de fácil in-
terpretação (FEDRA; WINKELBAUER; PANTULU 1991). Já a principal desvanta-
gem do método está relacionada à subjetividade, pois pode variar na escolha dos
participantes e pode ser aplicada em situações em que há pouco conhecimento
disponível. Para minimizar essa situação, deve investir na formação e escolha da
equipe responsável pela avaliação (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018).

De maneira simplificada, o Ad hoc se baseia no bate-papo entre os técnicos


que com sua experiência conseguem estimar subjetivamente os impactos am-
bientais de maneira rápida. Dessa forma, pode-se considerar que o método se
aproxima muito de uma pré-avaliação dos impactos ambientais, porém com um
certo grau de eficácia para depois aplicar as outras etapas da avaliação (STEIN
et al., 2018).

3.1.2 Checklist
Os checklists, também chamados como listas de verificação ou listagens de
controle, são considerados instrumentos práticos e fáceis de utilizar na avaliação
de impacto ambiental. As listas são consideradas uma evolução do método Ad
hoc (BRAGA et al., 2005; SANCHEZ, 2013). Considera-se uma forma preliminar
de avaliar os impactos gerados no meio em análise. O ideal é aplicar o checklist
em cada etapa do projeto, nas fases de implantação, operação e desativação.

66
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

FIGURA 5 – MODELO DE CHECKLIST PARA AVALIAÇÃO DE


IMPACTO EM EMPREENDIMENTO RODOVIÁRIO

FONTE: Adaptada de Sanchez (2013)

O método consiste em listar dados de acordo com a identificação dos impac-


tos, classificação dos meios físicos, bióticos e socioeconômico. A principal vanta-
gem do checklist é a objetividade. É possível utilizar listas específicas para cada
fator ambiental, segmento ou etapa avaliada e, ainda, se preferir juntar os três
critérios. Além disso, suas matrizes são preparadas com antecedência de acordo
com as necessidades, minimizando o risco de esquecer alguma variável (RIN-
CÃO; TRIGUEIRO, 2018, STEIN et al., 2018).

A principal desvantagem é a apresentação dos resultados, pois é possível


identificar o impacto, mas não é possível deduzir sua origem ou magnitude. Acaba

67
Proteção do Meio Ambiente

limitando algumas situações, pois não estabelece as relações de causa e efeito


entre as ações e os impactos dos projetos (SILVA, 2011; RINCÃO; TRIGUEIRO,
2018; STEIN et al., 2018).

Existem diversos tipos de listas de controle, variando de relações simples até


complexas, podendo ser divididas em: simples, descritivas, escalares e escalares
ponderadas (STEIN et al., 2018). As listas classificadas como simples enumeram
os fatores ambientais e seus respectivos indicadores (SILVA, 2011). As listas des-
critivas podem ser utilizadas como guias de orientação das avaliações de impacto
ambiental, relacionando ações, componentes ambientais e características varia-
das, porém não quantificam os impactos (BRAGA et al., 2005). Nesta classifica-
ção, as perguntas procuram relacionar os fatores ambientais afetados com a iden-
tificação e descrição dos impactos diretos e indiretos (SILVA, 2011).

As listas escalares são consideradas mais quantitativas, pois conseguem


descrever os fatores e impactos ambientais por meio de uma escala (STEIN et
al., 2018). Geralmente, são listas específicas para o ambiente em estudo e podem
ser aplicadas a algumas situações consideradas padrão, apenas. Já as listas es-
calares ponderadas conseguem graduar os dados de interesse por uma escala de
valores considerada mais qualitativa.

3.1.3 Matrizes de interação


As matrizes de interação são capazes de relacionar diversas ações do proje-
to aos fatores ambientais, por esse motivo são muito utilizadas na etapa de iden-
tificação dos impactos. De maneira simplificada, uma matriz é composta de duas
listas e relaciona os aspectos e os impactos ambientais por meio de uma listagem
de controle bidimensional, e pela interseção das linhas e colunas tem-se o impac-
to de cada ação (SILVA, 2011; CREMONEZ et al., 2014).

Uma das primeiras ferramentas no formato de matrizes propostas é de Leo-


pold et al. (1971), que consiste em uma lista de 100 ações humanas causadoras
de impactos que se relacionam a 88 componentes ambientais que podem ser afe-
tados por ações humanas. Então, são identificadas todas as interações possíveis
entre as ações e os componentes relacionados (SANCHEZ, 2013).

68
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

FIGURA 6 – MODELO DE MATRIZ DE LEOPOLD

FONTE: Adaptada de Sanchez (2013)

A partir da Figura 6 observam-se números no cruzamento de ações e aspec-


tos, estes representam uma pontuação de 1 a 10, conforme a magnitude (can-
to superior esquerdo) e importância (canto inferior direito) atribuída ao impacto
(SANCHEZ, 2013). A matriz Leopold é uma das metodologias matriciais mais uti-
lizadas para avaliar qualitativamente o impacto de um projeto no meio ambiente
(OTT; MOHAUPT; ZIEGLER, 2012).

De um modo geral, considera-se que as matrizes fornecem uma análise glo-


bal e consegue avaliar a causa, o efeito e a cadeia de reações consequentes à
ação, avaliar o nível de interatividade entre os fatores, quantificar a ação impac-
tante e avaliar a importância dos impactos, ou seja, é possível também medir a
sua gravidade. Apesar de ser considerada uma ferramenta de fácil compreensão,
os resultados são considerados subjetivos em função da ponderação ser feita pe-
los responsáveis por sua realização (BRAGA et al., 2005).

69
Proteção do Meio Ambiente

3.1.4 Redes de interação


As redes de interação são consideradas um método que permite visualizar
a interação entre os impactos ambientais. Essa metodologia permite estabelecer
relações de causa-condições-efeito e associar indicadores de intensidade, impor-
tância e risco de ocorrência e visualizar as ações diretas e indiretas que podem
desencadear o impacto inicial (MORATO, 2008).

FIGURA 7 – MODELO DE APLICAÇÃO DE REDES DE INTERAÇÃO

FONTE: Sanchez (2013)

A figura permite observar que as redes de interação objetivam estabelecer


relações entre as atividades e seus respectivos impactos. As redes são elabora-
das por especialistas de acordo com cada caso em questão. Dessa forma, o mé-
todo, além de permitir a avaliação dos impactos e das interações entre os fatores
ambientais, auxilia também nas proposições de medidas para o gerenciamento
dos impactos identificados. Com as redes é possível ter uma base para criar pro-
gramas de manejo, monitoramento e controle ambiental (SILVA, 2011).

70
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

3.1.5 Métodos de simulação


Os métodos de simulação têm como característica a valoração quantitativa e
qualitativa dos dados. Nessa ferramenta, os critérios de avaliação são baseados
em modelos matemáticos. Dessa forma, é necessário representar todas as infor-
mações para entender os riscos dos impactos (STEIN et al., 2018). Para tanto, são
utilizados modelos matemáticos para simular o comportamento dos parâmetros am-
bientais e das relações entre as causas e os efeitos das ações. A realização das
simulações demanda profissionais especializados, bem como programas e equipa-
mentos específicos para análise (OLIVEIRA; MOURA, 2009; FINUCCI, 2010).

Com as simulações é possível conhecer o estado ambiental inicial e após


a implementação de alternativas através de variáveis. Apesar de aproximar a si-
tuação da realidade, pode ser considerado um método complexo, devido a al-
gumas situações, tais como: dificuldade de encontrar dados para calibração do
sistema, limitações computacionais, dificuldade de incorporar todos as variáveis e
fatores envolvidos e possibilidade de induzir um processo de decisão (BRAGA et
al., 2005).

3.1.6 Combinação de métodos


A combinação de métodos é bastante recomendada para AIA e é necessário
se atentar para as vantagens e desvantagens de cada método e combinar aque-
les que são complementares em pontos falhos. A escolha do(s) método(s) que
melhor se aplica(m) dependerá de uma análise dos seguintes fatores:

- Tipo e tamanho do projeto;


- Objetivo da avaliação;
- Alternativas;
- Natureza dos impactos prováveis;
- Conveniência do método de identificação do impacto;
- Experiência da equipe de AIA;
- Recursos disponíveis;
- Tipo de método de identificação do impacto escolhido;
- Experiência do empreendedor com o tipo e tamanho de pro-
jeto (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018, p. 79).

Por fim, é importante lembrar que a seleção do método mais apropriado de-
pende, acima de tudo, da comparação com outros estudos e consequente iden-
tificação dos mais comumente utilizados. Logo, não há o mais perfeito método
ou aquele aplicável a todos os casos. Ao considerar as individualidades de cada
estudo será possível identificar o método mais adaptável ao contexto em questão.

71
Proteção do Meio Ambiente

1) Vimos que a AIA é formada por diversas ferramentas que ajudam


na identificação dos impactos e, consequentemente, para que a
decisão mais ambientalmente adequada seja tomada. Os méto-
dos existentes, em grande parte, são resultantes de adaptações e
melhorias de outros comumente adotados anteriormente em ou-
tras áreas. Sendo assim, considerando os métodos de AIA dispo-
níveis, cite os mais comuns.

4 PREVENÇÃO, ATENUAÇÃO,
POTENCIALIZAÇÃO E MITIGAÇÃO
DE IMPACTOS
Partindo do pressuposto de que a AIA é formada por um conjunto de fer-
ramentas que ajudam na identificação dos impactos e, consequentemente, para
que a decisão mais ambientalmente adequada seja tomada, vamos estudar, nes-
te subtópico, medidas para prevenir, atenuar, potencializar ou mitigar impactos
ambientais. Vimos que no Brasil, a AIA é uma das etapas necessárias para o li-
cenciamento ambiental. Ao olhar para o impacto ambiental sob a perspectiva do
licenciamento, podemos relacioná-lo com a situação do ambiente sem e com o
projeto, conforme apresentado na figura a seguir.

FIGURA 8 – EXEMPLIFICAÇÃO DA DEFINIÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL

FONTE: Adaptada de Sanchez (2013)

72
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

As setas na figura indicam a possibilidade de avaliar um impacto ambiental a


partir do uso de indicadores. Entretanto, esta avaliação é bastante complexa, ten-
do em vista que alguns impactos significativos não permitem sua descrição atra-
vés de indicadores ou ainda a coleta de dados para mensuração pode ser cara ou
demorada (SANCHEZ, 2013).

No cotidiano da prática da AIA, nem sempre é possível observar o impacto tal


como é apresentado na figura, pois algumas alterações no ambiente são difíceis
de serem previstas. Essa dificuldade é bastante comum e, em função disso, nos
projetos envolvendo licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos
compara-se “a provável situação futura de um indicador ambiental (com o projeto
proposto) e sua situação presente” (SANCHEZ, 2013, p. 38).

Além disso, no decorrer das etapas do processo de AIA, conforme vimos no


subtópico anterior, é necessário que a proposta seja apresentada ao órgão licen-
ciador e, inicialmente, deve-se apresentar os estudos ambientais que envolvem a
apresentação da proposta em questão. Após a etapa inicial, durante o processo
de licenciamento ambiental, alguns estudos podem ser solicitados pelo órgão li-
cenciador, tal como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto
ambiental (RIMA) para algumas atividades com maior potencial poluidor, confor-
me estabelecido pela Resolução CONAMA 001 de 1985.

O Art. 2º da CONAMA 001 de 195 estabelece quais atividades


demandam de EIA/RIMA para serem licenciadas, sendo elas:

QUADRO – ATIVIDADES QUE DEMANDAM DE EIA/RIMA PARA SEREM LICENCIADAS

I. Estradas de rodagem com duas IX. Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no
ou mais faixas de rolamento; Código de Mineração;
X. Aterros sanitários, processamento e destino final de
resíduos tóxicos ou perigosos;
II. Ferrovias;
Xl. Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a
fonte de energia primária, acima de 10 MW;
XII. Complexo e unidades industriais e agroindustriais
III. Portos e terminais de minério,
(petroquímicos, siderúrgicos, cloro-químicos, destilarias de
petróleo e produtos químicos;
álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos);
IV. Aeroportos; XIII. Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;
XIV. Exploração econômica de madeira ou de lenha,
V. Oleodutos, gasodutos,
em áreas acima de 100 hectares ou menores, quando atingir
minerodutos, troncos coletores e
áreas significativas em termos percentuais ou de importância
emissários de esgotos sanitários;
do ponto de vista ambiental;
73
Proteção do Meio Ambiente

XV. Projetos urbanísticos, acima de 100 ha. ou em áreas


VI. Linhas de transmissão de
consideradas de relevante interesse ambiental a critério da
energia elétrica, acima de 230 KV;
SEMA e dos órgãos municipais e estaduais competentes;
VII. Obras hidráulicas para explo-
ração de recursos hídricos, tais
como: barragem para fins hidrelé-
tricos, acima de 10 MW, de sane-
amento ou de irrigação, abertura XVI. Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em
de canais para navegação, dre- quantidade superior a dez toneladas por dia.
nagem e irrigação, retificação de
cursos d'água, abertura de barras
e embocaduras, transposição de
bacias, diques;
VIII. Extração de combustível
fóssil (petróleo, xisto, carvão);
FONTE: Adaptado de Brasil (1986)

O Art. 6° da referida resolução estabelece que o EIA deve apresentar, no mí-


nimo, os seguintes componentes: diagnóstico ambiental, análise dos impactos am-
bientais, estabelecimento de medidas mitigadoras e programa de acompanhamento
e monitoramento. Os subcomponentes são apresentados na figura a seguir.

FIGURA 9 – COMPONENTES MÍNIMOS NECESSÁRIOS PARA O EIA

FONTE: Adaptada de Brasil (1986)

74
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

Conforme é possível observar na Figura 9, é no EIA que constarão os meca-


nismos adotados para prevenção, atenuação, potencialização ou mitigação dos
impactos. Mas, antes de passarmos para este item, você deve estar se pergun-
tando: e o RIMA?

Bom, como já vimos anteriormente, o EIA consiste em um documento que


apresenta a caracterização da atividade ou empreendimento a ser licenciado e
busca descrevê-lo e também analisar seus impactos ambientais, estabelecendo
as medidas e os programas de acompanhamento e monitoramento. É um docu-
mento denso, elaborado por uma equipe multidisciplinar e escrito de forma técni-
ca, pois será analisado por especialistas dos órgãos licenciadores. O RIMA reflete
o resumo do EIA, é um documento que fica disponibilizado para qualquer pessoa
interessada e em função disso deve ser escrito de forma clara e objetiva para ser
compreendido por qualquer cidadão. Deve conter:

I. Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compa-


tibilidade com as políticas setoriais, planos e programas gover-
namentais;
II. A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e lo-
cacionais (...);
III. A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos am-
biental da área de influência do projeto;
IV. A descrição dos prováveis impactos ambientais da implan-
tação e operação da atividade (...);
V. A caracterização da qualidade ambiental futura da área de
influência, comparando as diferentes situações da adoção do
projeto e suas alternativas, bem como com a hipótese de sua
não realização;
VI. A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras
previstas em relação aos impactos negativos, mencionando
aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de alteração
esperado;
VII. O programa de acompanhamento e monitoramento dos
impactos;
VIII. Recomendação quanto à alternativa mais favorável (BRA-
SIL, 1986, p. 10).

O conteúdo do EIA deve ser apresentado de forma ilustrativa no RIMA e para


isso podem ser elaborados mapas, cartas, gráficos e outros mecanismos de co-
municação visual, para que sejam evidenciados os pontos positivos e negativos
daquilo que está sendo licenciado e suas respectivas consequências ambientais
(SANCHEZ, 2013).

75
Proteção do Meio Ambiente

1) Uma das etapas do processo de licenciamento ambiental de ativi-


dades estabelecidas na Conama 001 de 1986 é a elaboração de
dois documentos: EIA e RIMA. Diferencie estes dois documentos.

Os métodos de AIA apresentados anteriormente (tais como método Ad hoc,


checklist, matrizes de interação, redes de interação, métodos de simulação e a
combinação de mais de um método) são fundamentais para a identificação dos
impactos das atividades. Mas, além de identificar os impactos é importante que
eles sejam analisados e, analisar segundo seus atributos admite classificar se-
gundo a importância. O quadro a seguir apresenta exemplos de atributos subdivi-
didos em três categorias: magnitude, relevância e complementares.

QUADRO 3 – ATRIBUTOS PARA ANÁLISE E


CLASSIFICAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS

• Reversível
Reversibilidade • Reversível a médio/longo prazo
• Irreversível
• Temporário
Duração
Atributos de magnitude • Permanente
• Direta
Incidência
• Indireta
• Curto
Prazo para ocorrência
• Médio a longo
• Cumulativo
Cumulatividade
• Não cumulativo
• Simples
Sinergia
• Indutor
Atributos de relevância • Muito pequena
• Pequena
Importância • Média
• Grande
• Muito grande
• Pontual
Abrangência • Local
• Regional
• Contínua
Atributos complementares Formas de
• Descontínua
manifestação
• Cíclica
• Real
Ocorrência
• Potencial
FONTE: Adaptado de Brasil (1986), Sanchez (2013) e Rincão e Trigueiro (2018)

76
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

A análise e classificação dos impactos é fundamental para que a AIA possa


cumprir seu papel de forma efetiva e para que sejam definidas as medidas ade-
quadas para os impactos negativos, podendo ser, em ordem de prioridade: pre-
venção, mitigação e recuperação. Os impactos que requerem mitigação podem
ser identificados ao longo de todo o processo. Entende-se, então, que o resultado
do EIA de um projeto é geralmente sugestões para medidas de prevenção (con-
trole) e atenuação ou mitigação, ao invés de mudanças em decisões fundamen-
tais tal como os tipos de ações consideradas ou o tamanho ou localização de um
projeto proposto.

Ao olhar para a proposição de medidas na prática, observa-se que não é


apenas adotar medidas para atenuar impactos adversos, mas sim estabelecer um
conjunto de medidas que compreende alterar o projeto objetivando impedir im-
pactos, atuações para diminuir estes e ações para compensar aqueles que não
puderem ser evitados ou suficientemente reduzidos, nessa ordem de preferência,
conhecida como hierarquia de mitigação (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018).

As medidas de prevenção também podem ser chamadas de medidas de con-


trole e são as primeiras a serem adotadas, a fim de evitar que os impactos am-
bientais ocorram. Impedir impactos negativos deve ser a finalidade inicial do time
responsável pelo projeto. Se houver cooperação eficaz entre projetistas e a equi-
pe ambiental, um conjunto de impactos pode ser prevenido ou ter sua magnitude
reduzida. Do ponto de vista do direito ambiental, “o princípio de prevenção deve
levar à criação e à prática de política pública ambiental, através de planos obriga-
tórios” (MACHADO, 2012, p. 123).

O aproveitamento do princípio da prevenção busca precaver e guiar para que


não aconteça evento nocivo de forma a originar implicações não desejadas ao
meio ambiente e, consecutivamente, sua complexa recuperação (CIELO et al.,
2012). O dever jurídico de impedir a “consumação de danos ao meio ambiente”
vem sendo amplamente discutido e ressaltado em “convenções, declarações e
sentenças de tribunais internacionais” bem como em legislações nacionais e inter-
nacionais (MACHADO, 2012, p. 119).

Neste direcionamento, a importância de medidas de prevenção está relacio-


nada ao fato de que, caso o impacto ambiental negativo ocorra, o ambiente pode
não ser reconstituído. Entretanto, em alguns casos, é impossível estabelecer me-
didas de prevenção e, então, nos casos onde o impacto ocorrerá são adotadas
medidas que busquem reduzir as consequências deste.

Medidas de atenuação são aquelas que visam reduzir o efeito do impacto


no ambiente. Com o passar do tempo, essas medidas passaram a ser chamadas
como medidas mitigadoras pelos especialistas da área, visando englobar todas as

77
Proteção do Meio Ambiente

medidas que buscam atenuar os efeitos negativos de uma atividade ou empreen-


dimento (SANCHEZ, 2013). A proposição de medidas atenuadoras ou mitigadores
é desenvolvida com base em adaptação do ambiente, assim, dentre seus princí-
pios, tem-se:

- Manter a maior parte das zonas degradadas em estado pró-


ximo ao natural;
- Condicionar explorações agrícola e pecuária;
- Impedir a ocupação habitacional em áreas de proteção;
- Condicionar instalações industriais;
- Desviar vias e transferir construções em zonas de risco;
- Limitar construção de estradas marginais e intensidade de
tráfego;
- Controlar ocupação territorial e as extrações;
- Investir em tecnologias para reuso de água (STEIN et al.,
2018, p. 24).

Determinadas medidas mitigadoras acabam por estar inclusas no próprio


projeto entregue ao órgão ambiental e, quando isso acontece, é de competência
da equipe responsável analisar a eficácia destas nas futuras condições de opera-
ção do empreendimento, podendo-se sugerir controles acessórios. Como exem-
plos de medidas comumente aplicadas, tem-se:

Sistemas de redução da emissão de poluentes, como o tra-


tamento de efluentes líquidos, a instalação de barreiras antir-
ruído e o abatimento das emissões atmosféricas por meio da
instalação de filtros, [...] instalação de bacias de decantação de
águas pluviais para reter partículas sólidas e evitar seu trans-
porte para os cursos d’água durante a etapa de construção, até
o emprego de técnicas sofisticadas de redução de emissões
atmosféricas (SANCHEZ, 2013, p. 511).

É raro que as condições de planejamento incluam todos os aspectos da con-


cepção e implementação do projeto que mitigariam os impactos ambientais. As
autoridades ambientais licenciadoras e órgãos de planejamento frequentemente
priorizam as medidas tidas como mais necessárias para a entrega de um desen-
volvimento aceitável. Entretanto, estabelecer formas de implementação de medi-
das de mitigação são vitais para que a AIA cumpra seu potencial como instrumen-
to de proteção do meio ambiente e de incentivo ao desenvolvimento sustentável
(TINKER et al., 2005).

Entretanto, se após a adoção de medidas de prevenção e mitigadoras o im-


pacto ainda permanecer significativo, é possível definir medidas compensatórias.
As medidas compensatórias buscam contrabalançar a perda de componentes
fundamentais “do ecossistema, do ambiente construído, do patrimônio cultural ou
ainda de relações sociais”, sendo que:

[...] um caso típico de compensação ocorre quando uma por-


ção de vegetação nativa tem de ser eliminada; nesta situação

78
Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

a compensação poderia ser feita mediante a proteção de uma


área equivalente ou maior que aquela que será perdida, ou
mediante a recuperação de uma área degradada, ou ambas
(SANCHEZ, 2013, p. 250).

Por fim, as medidas de potencialização ou também chamadas de medidas de


valorização, apesar de pouco comentadas na literatura, são aquelas que buscam
reforçar a magnitude ou a importância dos impactos benéficos. Os impactos posi-
tivos de projetos, na maior parte das vezes, estão relacionados a aspectos sociais
e econômicos, tal como criação de empregos e desenvolvimento da economia. Na
formulação de medidas de valorização em um EIA é interessante observar a hie-
rarquia de valorização proposta por João et al. (2011 apud Sanchez (2013, p. 548):

(1) de projeto: valorizar os impactos benéficos por meio de


ações inovadoras desde a fase de elaboração de projeto e
análise de alternativas;
(2) local: buscar oportunidades de melhoria das condições so-
cioambientais por meio de ações como melhoria de infraestru-
tura, compras locais e recuperação de ambientes degradados;
(3) regional: procurar acumular impactos positivos, como a
criação de corredores biológicos.

As medidas de potencialização ou valorização são imprescindíveis para que


estes se consolidem em benfeitoria do local onde a ação será executada. Como
exemplo: alguns projetos demandam mão de obra especializada, que algumas ve-
zes não estão disponíveis em nível local, fazendo com que colaboradores de outras
regiões mudem para este local. Dessa forma, a criação de empregos não se rela-
ciona à região de localização do empreendimento e, então, promover cursos para
capacitar trabalhadores e prestadores de serviço em nível local pode colaborar para
que os impactos positivos do empreendimento sejam para o local em questão.

As condições e recomendações precisam ser monitoradas e aplicadas para


garantir implementação e, portanto, mitigação eficaz. Dessa forma, o conheci-
mento acerca dos tipos de medidas é fundamental, pois, após a tomada de de-
cisão positiva para emissão de licença de atividade ou empreendimento poluidor,
deve-se fazer o acompanhamento da implementação de todas estas medidas pro-
postas, sejam elas visando à redução ou compensação dos impactos negativos
ou à valorização dos impactos positivos.

5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao fim do Capítulo 2 do nosso livro didático, somos capazes, a
partir de agora, de ter a compreensão do processo de licenciamento ambiental
e da apresentação das principais metodologias de avaliação de impacto, aplicar

79
Proteção do Meio Ambiente

ferramentas da avaliação de impacto e correlacionar medidas preventivas, atenu-


antes, potencializadoras e mitigadoras.

O licenciamento ambiental é um procedimento regulamentado por lei que


visa auxiliar a proteção ambiental a partir da regularização de atividades poten-
cialmente poluidoras. Tem por motivação a garantia de que as atividades ou em-
preendimentos estejam em conformidade com os aspectos ambientais garantindo
o desenvolvimento social, econômico e ambiental.

No Brasil, vinculado ao licenciamento, temos a avaliação de impacto ambien-


tal (AIA), que busca identificar e analisar os impactos ambientais de atividades
que possuam potencial de degradar o ambiente. Vimos que tanto o processo de
licenciamento quanto de AIA são organizados em etapas e, estas, visam sequen-
ciar as atividades a serem desenvolvidas para que os objetivos de cada um sejam
alcançados.

Além da identificação dos impactos é importante que estes sejam classifica-


dos, e para isso, podemos utilizar atributos. Tanto a identificação quanto a análise
são importantes para que medidas sejam adotadas. No que tange aos impactos
negativos, as medidas a serem tomadas ou propostas são, em ordem de priori-
dade, prevenção (ou controle), atenuação e mitigação. Com relação aos impactos
positivos, as medidas podem ser potencializadoras.

Assim, a partir do apresentado neste capítulo é possível concluir que a iden-


tificação e avaliação de impacto ambiental e os estudos necessários para o licen-
ciamento servem, principalmente, para informar às partes interessadas sobre os
prováveis impactos de uma atividade ou projeto propostos e suas alternativas.
Reforçam as questões ambientais a serem consideradas na tomada de decisões
visando à proteção do meio ambiente.

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Capítulo 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental

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1997. Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=95982. Acesso
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critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental.
Publicado no D.O.U. de 17 fevereiro 1986. Disponível em: https://www.ibama.gov.
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BRASIL. Lei complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011. Fixa normas,


nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art.
23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes
do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens
naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em
qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora;
e altera a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981. 1981. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp140.htm. Acesso em: 6 nov. 2021.

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83
Proteção do Meio Ambiente

84
C APÍTULO 3
Gestão Ambiental
A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes
objetivos de aprendizagem:

� definir sistemas de gestão ambiental;

� conhecer certificações e compreender os principais processos e mecanismos


de alteração no meio decorrentes das atividades antrópicas;

� diferenciar os diversos Programas de Avaliação Ambiental e relacionar poluição


ambiental com seus mais apropriados sistemas de tratamento.
Proteção do Meio Ambiente

86
Capítulo 3 Gestão Ambiental

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
No capítulo anterior, vimos que as atividades poluidoras ou com potencial de
gerar impactos negativos ao ambiente precisam passar pelo processo de licencia-
mento ambiental para operar, o que pode ser feito em nível federal, estadual ou
municipal. Como principal atividade deste processo, tem-se a avaliação de impac-
to ambiental (AIA), demandada para atividades previamente definidas pela legis-
lação (Resolução Conama 237). Durante este processo são realizados estudos
ambientais para atingir ao solicitado pelo órgão ambiental responsável e obter a
licença ambiental, que consiste em um documento de caráter preventivo que au-
toriza o funcionamento e/ou operação de atividade ou empreendimento.

Conforme vimos até aqui, os impactos ambientais são resultantes das ações
do homem ao alterar o ambiente interferindo na qualidade ambiental. As altera-
ções resultantes dos processos produtivos, novos empreendimentos e desenvol-
vimento urbano de forma geral, interferem nos sistemas ambientais e resultam
em poluição destes sistemas, podendo acontecer na água, no solo ou no ar. A
problemática da questão ambiental inicia-se a partir dos usos conflitantes provo-
cados tanto pelas diferentes demandas da sociedade referente a algum recurso
ou sistema ambiental quanto pelas próprias mudanças das condições ambientais
resultantes das atividades humanas.

O desafio está, então, em considerar as questões ambientais na tomada de


decisão acerca de novos empreendimentos, bem como em gerenciar as medidas
propostas ao longo do processo. Nessa perspectiva, torna-se fundamental que
as ações da gestão ambiental sejam direcionadas para atuar nas necessidades
sociais prioritárias, bem como na forma e nas alternativas de desenvolver as ativi-
dades humanas.

Nesse sentido, a delimitação de valores quantitativos para estabelecer pa-


drões de qualidade ambiental proporciona dados sólidos para definir o coeficiente
de eficiência a ser adquirido pelos mecanismos de controle. Estabelecer medidas
de controle e monitoramento dos poluentes é fundamental para garantir a prote-
ção do meio ambiente.

2 POLUIÇÃO AMBIENTAL E
SISTEMAS DE TRATAMENTO
Já está claro pelo que aprendemos até aqui que para atender as suas neces-
sidades básicas, o homem intervém no ambiente, alterando suas condições, in-

87
Proteção do Meio Ambiente

terferindo na disponibilidade e qualidade dos recursos ambientais. Entender esta


problemática ambiental inicia-se pela identificação das causas geradoras dessas
alterações ambientais, a partir da avaliação de impacto ambiental. Entretanto, só
identificar e analisar os impactos não é suficiente, precisamos compreender como
a poluição ocorre e as formas disponíveis para seu tratamento. Mas, antes de ini-
ciarmos, você se lembra do conceito de poluição que vimos no Capítulo 1?

A poluição é definida como o resultado da utilização dos recursos naturais


pela população. Veremos sua definição e aprofundar mais este tema no decorrer
deste tópico. Os efeitos da poluição podem ter caráter localizado, regional ou glo-
bal, sendo que os mais perceptíveis são aqueles observados localmente, resul-
tantes, normalmente, de grande densidade populacional e/ou industrial (BRAGA
et al., 2005). Mas, também, vimos sua definição segundo a Política Nacional do
Meio Ambiente (PNMA), que em seu Art. 3o, inciso III, define poluição como:

[...] a degradação da qualidade ambiental resultante de ativida-


des que direta ou indiretamente:
a) Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da popu-
lação;
b) Criem condições adversas às atividades sociais e econô-
micas;
c) Afetem desfavoravelmente a biota;
d) Afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio am-
biente;
e) Lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões
ambientais estabelecidos (BRASIL, 1981, p. 5).

A poluição ambiental ocorre em função da:

[...] presença, lançamento ou liberação nas águas, no ar ou no


solo de toda e qualquer forma de matéria ou energia, com in-
tensidade, quantidade, concentração ou caraterísticas em de-
sacordo com os padrões de qualidade ambiental estabelecidos
por legislação, ocasionando, assim, interferência prejudicial
aos usos preponderantes das águas, do ar e do solo (DERI-
SIO, 2012, p. 11).

Relembrando o conceito, então, vamos continuar nosso aprendizado. Para


facilitar o entendimento, visto que este tópico é bastante denso, vamos dividi-lo
conforme os componentes ambientais mais afetados pelos impactos decorrentes
das ações do homem, que são a água, o solo e o ar.

2.1 ÁGUA
A água é tida como o principal componente ambiental, sendo em maior abun-
dância na biosfera. Entretanto, sua distribuição é em diferentes estados (sólido,

88
Capítulo 3 Gestão Ambiental

líquido ou gasoso), sendo que 97,2% do total encontra-se nos oceanos. A distri-
buição do total de água doce disponível é bastante heterogênea no espaço e tem-
po, sendo que a maior parte se encontra em geleiras (68,7%), seguido por água
subterrânea (31,01) e, por fim, água superficial (0,29%) (DERISIO, 2012).

O Brasil ocupa localização privilegiada, possuindo aproximadamente 13% do


total de água doce do mundo e 53% do continente sul americano. Mas, essa dis-
tribuição é uniforme em todas as regiões? Já vimos no parágrafo anterior que não,
e no Brasil isso não é diferente: a região amazônica possui aproximadamente
75% do total de água disponível, sendo que esta região corresponde a 4,5% da
população (DERISIO, 2012).

Sabemos que a água está presente na nossa vida e é elemento essencial


para praticamente todas as atividades humanas. Pode-se classificar os principais
usos da água em:

• Abastecimento doméstico: considerado o uso mais nobre da água e en-


volve não só a água utilizada para beber e para atividades residenciais
(cozinhar, lavar utensílios, higiene pessoal), mas também para combater
incêndios e limpar ruas.
• Abastecimento industrial: o uso da água nas indústrias exige diferentes
padrões de qualidade em função do seu uso, que pode ser: no processo
de fabricação de produto (como refrigeração ou caldeira), na integração
junto ao produto fabricado (tal como produto alimentício ou bebidas), ter
contato com produto final e demandar alta pureza ou ser utilizada em
atividades complementares ao processo industrial (tal como higiene dos
operários, limpeza de equipamentos).
• Irrigação e/ou dessedentação de animais: como o nome sugere, é a utili-
zação da água em atividades agropastoris.
• Recreação e lazer: atividades de caráter social e econômico, podendo
ser divididas em três tipos: contato primário (natação), contato secundá-
rio (uso de barco) e de composição (fins paisagísticos).
• Diluição de efluentes líquidos: apesar de não ser um uso nobre, é co-
mum para que os efluentes líquidos sejam dispostos ao ambiente em
menor concentração.
• Geração de energia elétrica: tal como em hidrelétricas, para que a água
seja possível de gerar energia elétrica é necessário que seja feito repre-
samento e sejam controlados fatores como presença de sais minerais e
matéria orgânica para evitar eutrofização.
• Navegação ou transporte: 90% das cargas do mundo são transportadas
pelo oceano e é considerada uma das formas de logística mais baratas.

Dos usos supracitados no Brasil, a predominância é da agricultura (principal-


mente irrigação, mas também inclui a dessedentação de animais), consumindo

89
Proteção do Meio Ambiente

70% do volume de água, seguido por usos industriais (20%) enquanto o domésti-
co é 7%. Além disso, 3% do consumo é referente a perdas (DERISIO, 2012).

Além dessa classificação por usos, a Resolução CONAMA 357 de 2005 clas-
sifica as águas em função da sua salinidade, sendo: “I - águas doces: águas com
salinidade igual ou inferior a 0,5 %; II - águas salobras: águas com salinidade
superior a 0,5 % e inferior a 30 %; III - águas salinas: águas com salinidade igual
ou superior a 30%” (BRASIL, 2005, p. 1). Ainda, as águas doces, salobras e sa-
linas são caracterizadas, de acordo com a qualidade solicitada para seus usos
principais, mas as águas de classe especial devem ter sua condição natural, não
sendo aceito o lançamento de efluentes, mesmo que tratados. As águas de classe
especial são destinadas a “uso nobres” por serem destinadas ao abastecimento
humano, preservação de comunidades aquáticas e preservação destes ambien-
tes em unidades de proteção.

FIGURA 1 – DESTINAÇÃO DA ÁGUA DOCE SEGUNDO


SUA DISTRIBUIÇÃO EM CLASSES

90
Capítulo 3 Gestão Ambiental

FONTE: Adaptada de Brasil (2005)

Para as demais classes, são admitidos níveis crescentes de poluição, sendo


a classe 1 com os menores níveis e as classes 4 (águas doces) e 3 (águas salo-
bras e salinas) as que aceitam maiores níveis de poluição em função do seu uso.
Os níveis de poluição determinam as possibilidades de uso para as águas, ou
seja, quanto maior a classe de enquadramento, menos qualidade d’água e, con-
sequentemente, menos exigente será seu uso.

FIGURA 2 – ESQUEMA DAS CLASSES DE ENQUADRAMENTO


E NÍVEIS DE POLUIÇÃO ACEITOS

FONTE: Adaptada de Brasil (2005)

Quer saber mais sobre a classificação das águas? Leia a Reso-


lução CONAMA 357 na íntegra, ela está disponível no link https://bit.
ly/3wQQlTd.

A qualidade de uma água natural é definida pelo conjunto de suas caracterís-


ticas físicas, biológicas, químicas e radiológicas. É representada por diversos parâ-

91
Proteção do Meio Ambiente

metros que indicam suas características e que são determinados em campo ou por
meio de ensaios laboratoriais, sendo os principais descritos no quadro a seguir:

QUADRO 1 – PARÂMETROS FÍSICOS, QUÍMICOS E BIOLÓGICOS

Parâmetros Parâmetros Parâmetros


Definição Definição Definição
físicos químicos biológicos
Grupo de
bactérias que
Representa o equilíbrio
indicam a
entre íons H+ e íons
potencialidade
OH-; varia de 7 a 14;
Analisa a Potencial de transmissão
indica se uma água é Coliformes
Temperatura intensidade de Hidrogeniônico de doenças por
ácida (pH inferior a 7), termotolerantes
calor (pH) organismos de
neutra (pH igual a 7)
contaminação
ou alcalina (pH maior
fecal, como
do que 7)
Escherichia coli
(E. coli)
É análise da
Indica a Protozoários
capacidade de reagir Giardia spp. e
presença patogênicos de
Cor Alcalinidade quantitativamente com Cryptosporidium
substâncias transmissão fecal/
um ácido forte até um spp.
dissolvidas oral
valor definido de pH
A água deve ser
inodora e sem
sabor. Pode
haver mudanças
por fatores
Odor e Indica a presença de
naturais (algas, Dureza Algas -
sabor carbonato de cálcio
bactérias etc.)
ou artificiais
(efluentes
químicos ou
esgotos etc.))
Medida
fotométrica,
analisa a matéria
Representa a
em suspensão e Oxigênio
Turbidez concentração de -
sua capacidade dissolvido (OD)
oxigênio
de interferir no
fluxo de energia
luminosa.
Indicam os
Relação da quantidade
resíduos
de oxigênio disponível
presentes na
na água que seria
água, podem ser
necessária para oxidar
classificados em Demanda
a matéria orgânica,
Sólidos sedimentáveis Bioquímica de
para uma forma
(sedimentam Oxigênio (DBO)
inorgânica estável, ou
após um período
de forma simplificada,
de tempo da
estimativa indireta de
amostra em
consumo de oxigênio
repouso), não

92
Capítulo 3 Gestão Ambiental

Representa a
quantidade de
Demanda
oxigênio necessária
Química de
para decompor
Oxigênio (DQO)
quimicamente a
matéria orgânica
Série de
nitrogênio
Indicam a quantidade
(nitrogênio
do componente
orgânico,
químico
amônia, nitrito e
nitrato)
Fósforo
Cloretos
Ferro
Manganês
Metais
Presença de
hidrocarbonetos,
gorduras, ésteres,
entre outros que
- Óleos e graxas
indicam presença de
despejo, esgotos,
resíduos industriais
etc.
Caracterizam
presença de efluentes
industriais, colas e
adesivos, resinas
Fenóis
impregnantes,
componentes elétricos
(plásticos) e as
siderúrgicas etc.
Analisa a presença
de substâncias
Surfactantes tensoativas que
reagem com Azul de
Metileno

FONTE: Adaptado de Derisio (2012) e Calijuri e Cunha (2013)

Os parâmetros físicos e químicos são determinados pelas ca-


racterísticas particulares da bacia hidrográfica – geologia, re-
levo e solos associados, condições climáticas e aspectos de
uso e cobertura vegetal, e, representados pelos sólidos, maté-
ria orgânica e inorgânica, presentes na água. Em relação aos
parâmetros biológicos, têm-se destaque aos microrganismos,
[...] que são indicadores de contaminação fecal (grupo dos co-
liformes) e podem estar associados a doenças de veiculação
hídrica (BONIFÁCIO; NÓBREGA, 2021, p. 222-227).

93
Proteção do Meio Ambiente

A qualidade da água é tão importante quanto sua disponibilidade. Os pa-


drões de qualidade precisam ser revisados constantemente nos diferentes está-
gios de desenvolvimento da sociedade, tendo em vista que as demandas de saú-
de pública têm caráter prioritário e possuem menor flexibilidade quanto aos limites
definidos. Nesse contexto, a alteração expressiva dessas características físicas,
químicas e biológicas da água podem tornar seu uso não apto para distintos fins,
resultar em danos aos ecossistemas aquáticos e transmitir doenças às popula-
ções (CALIJURI; CUNHA, 213).

1) A água é o principal componente ambiental em função da sua


importância e abundância. A análise da qualidade da água é fei-
ta a partir de parâmetros, distribuídos em três categorias: físicos,
químicos e biológicos. Cite os principais parâmetros físicos.

As fontes de poluição das águas podem ser divididas em duas categorias: i)


pontual, a partir de lançamentos individuais como esgoto ou efluente industrial; e
ii) difusa, afeta diferentes locais, tal como chorume de resíduos ou agrotóxicos de
plantações. A poluição difusa é mais difícil de identificar e controlar, tendo em vista
sua abrangência.

Outra forma de classificar a poluição hídrica é por sua origem e efeitos, po-
dendo ser classificada em:

• Térmica: provocada por empresas de siderurgia e refinaria, centrais elé-


tricas, resultante do lançamento de efluentes em altas temperaturas, de
águas residuárias ou águas de refrigeração.
• Biológica: resultante do lançamento de esgotos domésticos sem trata-
mento prévio e caracterizada pela presença de microrganismos patogê-
nicos, principalmente bactérias, vírus e protozoários.
• Sedimentar: é decorrente do carreamento de partículas, provenientes de
erosão do solo, remoção da cobertura vegetal, extração de minérios e
disposição irregular de resíduos.
• Química: destinação irregular de compostos derivados do petróleo, es-
goto doméstico, efluentes industriais, despejos de origem agrícola com
agrotóxicos e nutrientes (e a drenagem ácida de minas).

94
Capítulo 3 Gestão Ambiental

Como exemplo de impacto resultante da poluição térmica tem-se redução da


solubilidade e disponibilidade de oxigênio na água e, consequentemente, morte
de plantas e animais aquáticos. A poluição biológica pode provocar doenças nos
seres humanos e outros animais. A poluição sedimentar, por sua vez, provoca
assoreamento dos rios prejudicando a vida nos rios e oceanos. Por fim, a poluição
química tem por impacto ambiental, por exemplo, contaminar outros organismos
ou componentes e, ainda, tornar a área contaminada imprópria para vida.

Se liga: Nem toda água poluída está contaminada, mas toda


água contaminada está poluída. Por quê? Água poluída é aquela cujas
características físicas e químicas estão modificadas e água contami-
nada é aquela que contém organismos causadores de doenças.

2.1.1 Tratamento de água


As medidas preventivas para proteção das águas são de fundamental impor-
tância e estas devem ser associadas a medidas de controle da poluição de forma
geral, estabelecendo critérios de qualidade. As medidas visam à redução dos po-
luentes presentes no lançamento de efluentes. O grau de tratamento para lança-
mento em corpo receptor deve considerar os padrões de emissão e de qualidade,
os quais são especificados pela Resolução CONAMA nº 357/2005 (MELLER et
al., 2017).

No que diz respeito a medidas de controle de águas contaminadas, é impor-


tante analisar e identificar quais os parâmetros e seus limites, conforme a classe
de uso da água em questão. As medidas incluem implantação de sistemas que
busquem automatizar o processo de monitoramento do lançamento de efluente
e podem ser divididas em internas e externas ao agente poluidor. Geralmente,
tais medidas têm aplicação mais concreta com relação aos despejos líquidos de
origem industrial.

As medidas internas, relativas ao controle dos efluentes líqui-


dos, são tomadas no processamento industrial, [...] podendo
ser: modificação de produtos, modificação de processos e tipos
de matéria-prima e eliminação de produtos desnecessários.
As medidas externas, por sua vez, compreendem a implanta-
ção de unidades de tratamento através das quais os efluentes
líquidos passam, ocasião em que são removidos os poluentes

95
Proteção do Meio Ambiente

[...], envolvendo a combinação de processos de separação físi-


ca, química e biológica (DERISIO, 2012, p. 95).

Apesar de existirem medidas, o tratamento das águas é fundamental, princi-


palmente tratando-se de água para abastecimento humano. A definição dos pro-
cessos necessários para tratamento de uma água (de manancial superficial ou
subterrâneo) é feita a partir dos parâmetros de qualidade da água bruta que vimos
anteriormente. Está lembrado? São os físicos, químicos e biológicos. A partir de-
les são definidas quais etapas serão necessárias, mas de maneira geral, o trata-
mento de água é composto das etapas apresentadas na Figura 3.

FIGURA 3 – EXEMPLO DE UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA

FONTE: <https://blog.brkambiental.com.br/wp-content/uploads/2019/02/
tratamento-de-agua.jpg>. Acesso em: 23 abr. 2022.

Inicialmente, (1) a água é captada do rio ou manancial por adutoras e enca-


minhadas para as estações de tratamento de água (ETA). Ao chegar na ETA (2),
a água passa por um processo de separação, denominado barreira física, a partir
de gradeamento onde são retirados galhos, resíduos sólidos e outros materiais
que possam estar no corpo hídrico. Em alguns casos, é adicionada uma etapa
de desarenação para retirada de areia, a fim de evitar danos aos equipamentos
presentes na ETA.

A etapa seguinte (3) é a coagulação, em que se adicionam produtos químicos


para que compostos em solução precipitem e suspensões coloidais sejam deses-

96
Capítulo 3 Gestão Ambiental

tabilizadas. Após a coagulação, os compostos são direcionados para a floculação


(4), onde serão adicionados componentes químicos que promoverão o contato e
agregação dos compostos coagulados e a partir disso serão formados flocos. A
formação de flocos é necessária para que estes compostos tenham tamanho e
massa específica favorável para sua remoção na etapa seguinte.

Os flocos formados, então, são direcionados para a decantação (5). A decan-


tação consiste em grandes tanques projetados para separar os flocos da água e,
como o nome sugere, os flocos decantam e ficam no fundo do tanque formando
um lodo, que será removido e descartado em aterros sanitários.

Após estes processos é realizada uma nova filtragem (6), estruturada em:
areia grossa, areia fina, cascalho, pedregulho e carvão, a fim de retirar flocos ou
partículas sólidas menores que ainda possam ter ficado na água. A água agora
está livre de sólidos e pode seguir para as próximas etapas. Então, a água é dire-
cionada para adição de componentes químicos (7) para pós-alcalinização, desin-
fecção e fluoretação, que tem por objetivos corrigir o pH da água, remover vírus,
bactérias e microrganismos e, por fim, aplicar flúor para auxiliar a prevenir cáries
na população.

Por fim, a água é armazenada em reservatório (8) para, então, ser direciona-
da para a rede de distribuição. Estas unidades de tratamento podem ser agrupa-
das em quatro categorias:

• Tratamento preliminar: presente em todos os sistemas de tratamento,


visa à remoção de sólidos grosseiros em suspensão e areia (gradeamen-
to e caixa de areia).
• Tratamento primário: separação e remoção de sólidos sedimentáveis
(decantadores e flotadores).
• Tratamento secundário: remoção da matéria orgânica particulada e dis-
solvida (reatores ou sistemas biológicos).
• Tratamento terciário: não citado na Figura 3, pois não é comum em todas as
ETAs, porém busca à remoção de macronutrientes (nitrogênio e fósforo).

Todos os sistemas de tratamento de água para consumo huma-


no devem incorporar o princípio de múltiplas barreiras, de forma a
diminuir o máximo possível a probabilidade de fornecer água com
algum tipo de contaminante para consumo humano (CALIJURI;
CUNHA, 2013, p. 413).

97
Proteção do Meio Ambiente

Independentemente do sistema de controle adotado, quando tratamos de po-


luição hídrica, o foco é sempre manter níveis adequados dos parâmetros relacio-
nados à qualidade de água nos corpos receptores do efluente.

2.2 SOLO
Os solos se formam a partir da combinação de cinco fatores, sendo eles: cli-
ma, natureza dos organismos, material de origem, relevo e idade. Clima, natureza
dos organismos, material de origem e relevo definem características que permi-
tem identificar estágios de sucessão por meio “de sua profundidade, composição
e propriedades e do que se denomina horizontes do solo” (BRAGA et al., 2005, p.
128). No que tange à formação do solo ao longo dos anos, é possível identificar
estágios neste processo.

FIGURA 4 – ESTÁGIOS DE FORMAÇÃO DO SOLO

FONTE: <https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/2020/07/
formacao-dos-solos.jpg>. Acesso em: 23 abr. 2022.

A origem do solo está ligada à desagregação de rochas e à decomposição


de restos vegetais e animais. Pode-se definir a composição do solo na seguinte
proporção: 45% de elementos minerais, 25% de ar, 25% de água e 5% de matéria
orgânica (BRAGA et al., 2005). Sua porção mineral pode ser resultante da ação

98
Capítulo 3 Gestão Ambiental

vulcânica ou da desintegração de rochas sólidas por ações físicas, químicas ou


biológicas, reunidas sob a denominação genérica de intemperismo. O solo é um
material de composição heterogênea, dependente da rocha matriz, clima, relevo,
vegetação e, por isso, é um sistema dinâmico, multifásico e em constante trans-
formação (OLIVEIRA, 2012; MELLER et al., 2017).

A contaminação do solo ocorre quando efluentes ou resíduos sólidos são


lançados sem o devido tratamento. Além do risco da utilização dessa área conta-
minada, tem-se a possibilidade de contaminação de lençol freático (águas subter-
râneas) por lixiviação dos componentes poluentes. A principal causa da contami-
nação do solo é o uso excessivo de componentes químicos na agricultura, falhas
nas técnicas de conservação do solo, desmatamento e disposição irregular de
resíduos (CALIJURI; CUNHA, 2013; MELLER et al., 2017).

Os contaminantes podem ser qualificados como orgânicos, inorgânicos e pa-


togênicos, podendo estar no estado gasoso, na fase líquida livre, em solução na
água subterrânea e nas formas sólida ou semissólida (CALIJURI; CUNHA, 2013). A
contaminação pode ocorrer de forma localizada (ou pontual) ou difusa, assim como
vimos na poluição da água. A poluição localizada (pontual) ocorre mais frequente-
mente em áreas industriais das cidades e, normalmente, é altamente concentrada.
Já a poluição difusa ocorre em função das atividades agrícolas e pode atingir gran-
des áreas, porém a concentração do poluente é mais baixa comparada à localizada.

Ao identificar empreendimentos ou atividades com potencial poluidor do solo


é necessário que seja proposto, junto ao seu processo de licenciamento ambien-
tal, programa de monitoramento da qualidade do solo e da área de influência
(quando necessário), apresentação de um relatório técnico conclusivo sobre a
qualidade do solo e das águas subterrâneas em cada licença solicitada, inclusive
para quando as atividades forem ser encerradas. São definidos critérios de priori-
zação com relação às ações a serem desenvolvidas, sendo eles, em ordem cres-
cente: população potencialmente exposta, proteção da água, áreas de interesse
ambiental (BRASIL, 2009).

Solos que já sofreram alterações em sua composição em função de atividades


poluidoras são denominados áreas contaminadas. Para gerenciar estas áreas, no
Brasil, foi instituída a Resolução no 420 de 2009, atualizada pela Resolução no 460
de 30 de dezembro 2013. Esta legislação define critérios e valores direcionadores
de qualidade do solo e define as diretrizes para gerenciamento destas áreas.

Segundo a referida norma, deve-se buscar à prevenção da proteção do solo,


garantindo, assim, que suas funções sejam mantidas ou, então, buscar a corre-
ção, para que seja possível sua recuperação de forma ajustada aos usos previs-
tos. Com relação aos usos, estabelece como função do solo:

99
Proteção do Meio Ambiente

I - servir como meio básico para a sustentação da vida e de ha-


bitat para pessoas, animais, plantas e outros organismos vivos;
II - manter o ciclo da água e dos nutrientes;
III - servir como meio para a produção de alimentos e outros
bens primários de consumo;
IV - agir como filtro natural, tampão e meio de adsorção, degra-
dação e transformação de substâncias químicas e organismos;
V - proteger as águas superficiais e subterrâneas;
VI - servir como fonte de informação quanto ao patrimônio na-
tural, histórico e cultural;
VII - constituir fonte de recursos minerais; e
VIII - servir como meio básico para a ocupação territorial, prá-
ticas recreacionais e propiciar outros usos públicos e econômi-
cos (BRASIL, 2009, p. 1).

Além disso, em seu Art. 23, a resolução estabelece que ao abordar áreas
contaminadas, devem ser definidas atividades que busquem investigar e geren-
ciar as causas da contaminação, contemplando as seguintes etapas: identifica-
ção, diagnóstico e intervenção. Na etapa de identificação é feita uma avaliação
preliminar para detectar contaminações suspeitas, e onde forem constatados indí-
cios de contaminação, é necessária uma investigação de confirmação.

A etapa de diagnóstico envolve o detalhamento da análise de risco a fim de


fornecer as informações necessárias para a etapa seguinte, de intervenção. A úl-
tima etapa, de intervenção, consiste no desenvolvimento de ações que busquem
ao controle para que o perigo deixe de existir ou para que este seja reduzido em
níveis toleráveis e também é definida a forma para monitorar a eficácia das ações
desenvolvidas considerando o uso atual e futuro.

O solo não é apenas uma parte importante do ecossistema, mas também o


recurso básico da produção agrícola e a base material para a sobrevivência hu-
mana, podendo ser usado como filtro de poluentes, mas uma vez que a quantida-
de de poluentes exceda a capacidade de absorção, os poluentes podem entrar no
meio ambiente e na cadeia alimentar. Frente ao apresentado, a melhor forma de
evitar a poluição dos solos é definir previamente o planejamento da ocupação de
forma racional, monitorar e controlar os usos agrícolas e o lançamento de efluen-
tes visando ao equilíbrio ambiental.

2.2.1 Tratamento
O tratamento de solos contaminados tem sido motivo de preocupação para
a área ambiental, tanto pela complexidade dos tipos de solo e suas estruturas
quanto pela dinâmica dos poluentes nestes locais. A técnica a ser adotada para
tratamento da área depende de fatores como: tipo e organização do solo, tipo e
concentração do contaminante, tempo de poluição.
100
Capítulo 3 Gestão Ambiental

Existem diferentes técnicas de remediação de áreas contaminadas, tendo


por objetivo tratar, descontaminar, conter ou isolar a contaminação a fim de redu-
zir seus riscos toxicológicos. Estas técnicas podem ser feitas sem a necessidade
de escavação, ou seja, feitas localmente (in situ) ou com escavação (ex situ).

Outra classificação das formas de recuperação/tratamento é com relação ao


tipo: físico (tal como sistemas de separação física, contenção e aquecimento),
químico (aplicação de produtos para oxidação, neutralização ou remoção dos
contaminantes) ou biológico (utilização de microrganismos decompositores).

FIGURA 5 – SISTEMAS IN SITU E EX SITU PARA


TRATAMENTO DE SOLOS CONTAMINADOS

FONTE: Santos, Costa e Peralta-Zamora (2017, p. 1)

Tratamentos ex situ costumam resultar em remediações mais eficientes e


uniformes em tempos mais curtos. Em contrapartida, tratamentos in situ costu-
mam ter custos mais reduzidos. Com relação aos aspectos negativos, a neces-
sidade de transportar solo contaminado em aplicações ex situ encarecem o pro-
cesso e, no caso in situ, duração do tratamento e baixa uniformidade na eficiência
são as desvantagens.

Você deve estar curioso: qual método é mais adequado? Bom,


isso depende, por isso é preciso que seja feita uma análise do solo e
101
Proteção do Meio Ambiente

de suas características, identificação do poluente e sua caracteriza-


ção (tipos, concentração, efeitos).

Várias técnicas ex-situ têm sido propostas para a remediação


de solos contaminados por poluentes orgânicos, recorrendo-se
a processos biológicos, físicos e químicos. Dentre os proces-
sos biológicos se destacam sistemas de biopilhas e landfar-
ming, enquanto que dentre os processos físicos se destacam
processos de dessorção térmica. Os processos químicos ofe-
recem uma grande gama de alternativas, envolvendo proces-
sos simples, como extração dos contaminantes por lavagem,
ou de maior complexidade, como sistemas de oxidação quími-
ca mediada por agentes como peróxido de hidrogênio, ozônio
e permanganato.
Alternativas para tratamento in-situ são usualmente fundamen-
tadas em processos físicos que objetivam a remoção de es-
pécies voláteis, como extração de vapor e injeção de ar (soil
venting ou air sparging), ou em processos biológicos funda-
mentados em atenuação natural, com ou sem estimulação.
Processos químicos costumam envolver sistemas de extração
por lavagem, usualmente utilizando surfactantes, e processos
de oxidação fundamentados no uso de agentes como persulfa-
to (SANTOS; COSTA; PERALTA-ZAMORA, 2017, p.328).

Uma das tecnologias que vem sendo adotada é o Processo Oxidativo Ati-
vado (POA), adotado em poluentes tóxicos e recalcitrantes. Apesar de eficiente,
resulta em impactos ambientais como solubilização de metais, destruição da ma-
téria orgânica, redução do pH, morte de microrganismos, redução de nutrientes e
aumento da toxicidade (MATIAS; SOBRINHO, 2020).

2.3 AR
A atmosfera é uma camada gasosa que envolve a Terra e é formada por di-
ferentes gases. Além dos usos metabólicos naturais do ar pelo homem, pelos ani-
mais e pela vegetação, e dos benefícios dos fenômenos naturais meteorológicos,
outros usos importantes devem ser adicionados: comunicação, transporte, com-
bustão, processos industriais e, principalmente, o emprego do ar como receptor e
transportador de resíduos da atividade humana (DERISIO, 2012).

A atmosfera tem na sua composição natural principalmente nitrogênio (78%),


oxigênio (21%), argônio, vapor de água e outros gases com menores concentra-
ções. Dentre esses gases, temos “os que estão associados com a manutenção
da temperatura de equilíbrio da Terra, os chamados gases de efeito estufa (GEE),

102
Capítulo 3 Gestão Ambiental

como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), ozônio (O3), vapor de água e ou-
tros” (WRI BRASIL, 2021, p. 5).

O Brasil possui diversas legislações e normativas para definir a gestão da


qualidade do ar e o controle da poluição, tal como a Resolução CONAMA no 03 de
1990 e a Resolução CONAMA no 491 de 2018, e, também, um Programa Nacional
de Controle de Qualidade do Ar (Pronar). Acerca disso, a Resolução Conama 005
de 1985 tem por objetivo instituir o PRONAR como:

[...] um dos instrumentos básicos da gestão ambiental para


proteção da saúde e bem-estar das populações e melhoria da
qualidade de vida com o objetivo de permitir o desenvolvimento
econômico e social do país de forma ambientalmente segura,
pela limitação dos níveis de emissão de poluentes por fontes
de poluição atmosférica com vistas a: a) uma melhoria na qua-
lidade do ar; b) o atendimento aos padrões estabelecidos; c) o
não comprometimento da qualidade do ar em áreas considera-
das não degradadas.

Os padrões de qualidade do ar, previstos no PRONAR, estão contidos na


Resolução CONAMA 01 de 1990. A classificação das áreas de qualidade do ar
consiste em: Classe I: áreas de preservação, lazer e turismo onde deverá ser
mantida a qualidade do ar em nível o mais próximo possível do verificado sem
a intervenção antropogênica, por exemplo, Parques Nacionais e Estaduais, Re-
servas e Estações Ecológicas, Estâncias Hidrominerais e Hidrotermais; Classe II:
áreas onde o nível de deterioração da qualidade do ar seja limitado pelo padrão
secundário de qualidade; e Classe III: áreas de desenvolvimento onde o nível de
deterioração da qualidade do ar seja limitado pelo padrão primário de qualidade,
como, por exemplo, áreas industriais (BRASIL, 1985).

A poluição do ar é uma das principais causas de doenças e mortes prema-


turas e é a maior ameaça à saúde ambiental em todo o mundo. Além de colocar
em risco a saúde e diminuir a expectativa de vida, a poluição do ar afeta negati-
vamente os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS), principalmente o 13
(ação contra a mudança global do clima), e os ODS 3 (saúde e bem-estar) e 11
(cidades e comunidades sustentáveis).

A preocupação com a poluição do ar não é recente, há 2 mil anos surgiram


as primeiras reclamações sobre deterioração da qualidade do ar na Roma Antiga
em função da queima de madeira. Porém, o evento mais crítico foi em 1952, em
Londres, onde 12 mil pessoas morreram e 100 mil ficaram doentes em decorrên-
cia de um fenômeno chamado Big smoke, um nevoeiro de poluição causado pela
queima de carvão para aquecimento.

103
Proteção do Meio Ambiente

A poluição do ar ocorre com a emissão na atmosfera de gases, partículas


sólidas em suspensão e material biológico oriundo principalmente da queima do
carvão ou até mesmo do petróleo pelo setor industrial. Um conjunto amplo de
substâncias pode poluir o ar, mas as mais críticas para proposição de medidas de
controle são o “monóxido de carbono, dióxido de enxofre, substâncias orgânicas
tóxicas, materiais particulados, óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos volá-
teis” (SPIRO; STIGLIANI, 2009, p. 153).

Segundo definição na Resolução Conama 03 de 1990, poluente atmosférico é:

[...] toda e qualquer forma de matéria ou energia com intensi-


dade e em quantidade, concentração, tempo ou características
em desacordo com os níveis estabelecidos em legislação, e
que tornem ou possam tornar o ar impróprio, nocivo ou ofen-
sivo à saúde, inconveniente ao bem-estar público, danoso aos
materiais, à fauna e à flora ou prejudicial à segurança, ao uso
e gozo da propriedade e às atividades normais da comunidade
(BRASIL, 1990, p. 1).

As emissões de poluentes podem classificar-se em: a) antrópicas (provoca-


das pela ação do homem: indústria transporte, geração de energia) e b) naturais
(causadas por processos naturais: emissões vulcânicas, óxidos de nitrogênio, sul-
feto de hidrogênio).

As emissões antrópicas ocorrem de forma concentrada nos núcleos popu-


lacionais, porém, em alguns casos, são menores que as ocasionadas por fenô-
menos naturais, tal como vulcões. A geração de energia e a metalurgia são as
atividades que lançam maior quantidade de poluentes gasosos.

Outra classificação é com relação ao estado físico, podendo ser fumo, poei-
ra, fumaça, névoa, vapores e gases. Fumos são resultantes de condensação ou
sublimação de gases de metais fundidos. As poeiras são resultantes da desinte-
gração mecânica de corpos sólidos. Fumaças originam-se a partir da combustão
incompleta de materiais orgânicos.

Névoas são gotículas líquidas em suspensão, produzidas pela condensação


de gases ou pela passagem de um líquido a estado de dispersão. Vapor é a forma
gasosa de substâncias, pode ser condensado para um líquido ou para um sólido
pelo aumento de pressão. Gases, então, são fluidos amorfos que ocupam o espa-
ço que contêm, é um conjunto de partículas com movimentos aleatórios. A seguir,
apresentamos um quadro-resumo da classificação dos poluentes atmosféricos.

104
Capítulo 3 Gestão Ambiental

QUADRO 2 – RESUMO DA CLASSIFICAÇÃO DOS POLUENTES ATMOSFÉRICOS

FONTE: Adaptado de Meller et al. (2017)

Os poluentes gasosos são os mais impactantes em decorrência de seu volu-


me gerado, e podem ser classificados em: a) primários (aqueles lançados direta-
mente na atmosfera como resultado de processos industriais, gases de exaustão
de motores de combustão interna; como por exemplo, óxidos de enxofre, óxidos
de nitrogênio e particulados) e b) secundários (produto de reações fotoquímicas
que ocorrem na atmosfera entre os poluentes primários; por exemplo, formação
de ozônio estratosférico e de peroxiacetil nitrato como reação dos óxidos de nitro-
gênios com hidrocarbonetos na atmosfera).

Os poluentes são gerados principalmente pela queima de combustíveis fós-


seis, usinas elétricas a carvão e automóveis movidos à gasolina e diesel, bem
como combustão incompleta, fábrica de alumínio, chumbo e produção de fertili-
zantes. Dentre os poluentes comumente encontrados no ar tem-se monóxido e di-
óxido de carbono, clorofluorcarbonetos, óxidos de enxofre e nitrogênio, composto
orgânicos voláteis e amônia (MELLER et al., 2017).

105
Proteção do Meio Ambiente

Os principais efeitos da poluição do ar são: danos à saúde de seres huma-


nos e animais; danos à vegetação, causados pelos fitotóxicos que penetram nas
plantas através da respiração normal, provocando a destruição de clorofila e a
interrupção da fotossíntese. Os efeitos dos poluentes nas plantas manifestam-se
na superfície das folhas com a mudança da coloração, por exemplo, causam da-
nos ao solo. Além dos impactos aos componentes ambientais, podem provocar
corrosão, deterioração e perda de resistência de materiais, dano na coloração de
tintas, fissuras ou trincas em paredes, degradação de couro e papel. Também é
possível constatar alterações no clima, como exemplo, em regiões urbanas com
alta poluição atmosférica é comum verificar redução de visibilidade, formação de
névoa e precipitação, redução da intensidade da radiação solar, alteração da dis-
tribuição das temperaturas e do vento.

Os principais poluentes que afetam a saúde humana e suas consequências são:

• Monóxido de carbono (CO): mais abundante na atmosfera, possui uma


taxa de emissão de 100 kg por pessoa por ano. Resultante da combus-
tão incompleta de combustíveis que contêm carbono, tal como veículos
automotores. Este composto prejudica o transporte de oxigênio no corpo
tendo como consequências dores de cabeça, cansaço, asfixia, redução
da capacidade respiratória, tontura, depressão, malformação fetal, cân-
cer.
• Óxidos de nitrogênio (NOx): resultante da combustão de combustíveis
fósseis, produzido naturalmente por vulcões. Tem como fonte as queima-
das, queima de combustíveis fósseis. As consequências da exposição a
este composto englobam: problemas respiratórios, tosse, catarro, edema
pulmonar, irritação das mucosas, taquicardia, envelhecimento precoce,
baixa resistência às infecções.
• Hidrocarbonetos: produto da evaporação e queima de combustíveis
fósseis em veículos automotores e na indústria. Podem provocar graves
complicações respiratórias em indivíduos expostos.
• Óxidos de enxofre (SOx): produzidos naturalmente pelos vulcões; quei-
ma de combustíveis fósseis com aproximadamente 1% de enxofre e pro-
cessos industriais. Podem ser um problema para asmáticos e crianças,
provocar queimaduras nos olhos e pele, sufocação, irritação das muco-
sas, tosse e rinite. Além disso, inibe crescimento vegetal quando SO2
atinge nível de 50 mg/m³.
• Material Particulado (MP10): substâncias orgânicas e inorgânicas divi-
didas em dois grupos: grosso (terra, poeira) e materiais finos (aerossóis,
fuligem etc.); produzido pela combustão incompleta de combustíveis, in-
dústrias, mineração, veículos, queimadas, construção civil. MP10 refere-se
à fração dos aerossóis com diâmetro inferior a 10 µm que podem causar
efeitos adversos à saúde humana, pela penetração nos bronquíolos.

106
Capítulo 3 Gestão Ambiental

• Chumbo (Pb): utilizado como aditivo em combustíveis, encontrado tam-


bém em tintas e baterias; ambientes com grande intensidade de tráfego
têm concentrações de chumbo de 0,5 a 3 mg/m³, o padrão é 2 mg/m³;
afeta o sistema imunológico, rins e fígado.

O monitoramento da qualidade do ar é atribuição dos estados e do governo


federal. Entretanto, ações preventivas podem auxiliar a redução da concentração
de poluentes, tais como: utilizar combustíveis menos poluidores, controlar a emis-
são de poluentes por veículos automotores, instalar catalisadores, manter veícu-
los com a manutenção adequada, propor rodízio de veículos, estabelecer altura
adequada das chaminés de indústrias em função das condições de dispersão de
poluentes, adotar matérias-primas e combustíveis que resultem em resíduos me-
nos poluidores, melhorar o processo de combustão e tratar resíduos químicos.
Entende-se, assim, que a gestão da qualidade do ar tem como objetivo garantir
que o desenvolvimento socioeconômico ocorra de forma sustentável e ambiental-
mente segura.

2.3.1 Tratamento de ar
Os equipamentos de tratamento e controle da poluição do ar podem ser or-
ganizados em dois grandes grupos, conforme o conteúdo a ser retirado da atmos-
fera: i) material particulado em suspensão nas correntes gasosas; ii) poluentes
gasosos das correntes gasosas. Os equipamentos de controle para material par-
ticulado que veremos são: câmara gravitacional, ciclone, filtro de mangas, precipi-
tador eletrostático e lavador Venturi. Para o controle de poluentes gasosos, vere-
mos: condensador, absorvedor, adsorvedor, incinerador, separador de membrana
e biofiltro (CALIJURI; CUNHA, 2013):

• Câmara gravitacional: consiste, fundamentalmente, em uma câmara de


expansão, onde tem-se a diminuição da velocidade do gás até um ponto
em que as partículas em suspensão são apanhadas pela ação da gravi-
dade (sedimentação). Com a redução da velocidade do gás, o efeito da
força viscosa do gás sobre a partícula é diminuído e as partículas come-
çam a cair pela ação da força gravitacional.
• Ciclone: ou separadores centrífugos, é a força gravitacional que atua
sobre a partícula e devido à sua configuração, existe uma colaboração
adicional da força centrífuga que ajuda na remoção das partículas da
corrente gasosa.
• Filtro de mangas: a corrente gasosa é passada por um material poroso
(com estrutura de formato tubular, semelhante a uma manga de camisa)
que retém o material particulado em suspensão.

107
Proteção do Meio Ambiente

• Precipitador eletrostático: é um aparelho com paredes de carga posi-


tiva que geram carga elétrica negativa e a emite a partículas poluentes.
As partículas poluentes ficam carregadas negativamente e são atraídas
pelas paredes do aparelho, em função da atração de cargas opostas.
• Absorvedor: remove poluentes gasosos por dissolução em líquido, ten-
do por condição a solubilidade dos poluentes, quanto maior a superfície
de contato entre os gases e o líquido, mais favorável é a condição para a
absorção.
• Adsorvedor: moléculas do fluido interagem e se concentram na superfí-
cie de um sólido (material adsorvente, como carvão ativado).
• Incinerador: utilizado principalmente para compostos orgânicos, consis-
te na combinação de oxigênio com compostos químicos, gerando calor.
• Separador de membrana: mais frequentemente utilizado para o controle
de emissões de compostos orgânicos, a mistura gasosa é passada por uma
membrana permeável que faz a separação seletiva dos componentes.
• Biofiltro: o ar contaminado atravessa um meio poroso contendo micror-
ganismos. Os contaminantes são primeiramente absorvidos do ar para a
fase de água/biofilme e transformados pelos microrganismos em dióxido
de carbono, água, produtos inorgânicos e biomassa.

3 PROGRAMAS DE AVALIAÇÃO
AMBIENTAL
Vimos que durante muito tempo, a avaliação de impacto ambiental (AIA) era
utilizada para reduzir as consequências negativas dos empreendimentos públicos
e privados. A Conferência Rio 92 estimulou governos nacionais, organizações in-
ternacionais e o setor empresarial a reconhecer o papel da avaliação de impacto
na busca pelo desenvolvimento sustentável. Hoje, o objetivo e a função da avalia-
ção são muito mais amplos, pois permitem uma análise, sob inúmeras variáveis,
para a recuperação da qualidade ambiental, para o desenvolvimento social e eco-
nômico de uma região. Com base na avaliação de impacto ambiental, deve-se
iniciar a construção das medidas de mitigação, de compensação ambiental e da
definição dos programas ambientais (GARCIA, 2014; SANCHEZ, 2013).

Os programas ambientais, de maneira geral, têm como propósito estabelecer


procedimentos e ações para reduzir a interferência sobre o meio ambiente em to-
das as fases de um empreendimento, como implantação, operação e manutenção
(GARCIA, 2014). Quando estes programas enquadram suas atividades como es-
tando a serviço do bem-estar humano, as variáveis sociais precisam ser integra-
das às estruturas de monitoramento e avaliação. Um Plano de Gestão Ambiental

108
Capítulo 3 Gestão Ambiental

(PGA), por exemplo, é solicitado durante o licenciamento ambiental que faz parte
da etapa de acompanhamento da AIA de atividades ou de empreendimentos, e
consiste em um documento técnico (IBAMA, 2020).

O plano resultante da AIA é fundamental para transformar as ações poten-


ciais em ações efetivas para um desenvolvimento sustentável. O projeto, quando
elaborado de maneira eficaz e por uma equipe especialista, pode mudar um pro-
jeto tradicional para um inovador, destacando os impactos positivos (SANCHEZ,
2013). Para criar um plano com tais ações são necessárias algumas condições. A
primeira consiste em preparar antecipadamente o plano, de tal maneira a identifi-
car todos os pontos que devem ser considerados, para reduzir as incertezas que
podem surgir (SANCHEZ, 2013).

A segunda é o envolvimento de todas as partes envolvidas, como toda a po-


pulação diretamente afetada pelo empreendimento. Devem participar, também,
parceiros institucionais, financeiros e organizacionais, como órgãos de governos e
organizações. Dessa forma, será possível realmente analisar o empreendimento
dentro do contexto local (GARCIA, 2014; SANCHEZ, 2013).

A terceira condição é adequar a implementação do plano de gestão ambien-


tal com prazos compatíveis com o cronograma do empreendimento. De maneira
simplificada, as medidas podem ser de controle, mitigadoras e compensatórias,
que variam de acordo com a natureza, local e impactos associados ao empreen-
dimento em estudo.

As últimas décadas foram marcadas por uma crescente sensibilização de


que os problemas ambientais estão intimamente ligados ao bem-estar humano e
que as medidas para minimizar os impactos devem ser abordadas em conjunto.
Assim, o processo de escolha das medidas deve levar em consideração alguns
pontos, tais como: o componente ambiental afetado, a fase do empreendimento,
o caráter preventivo ou corretivo da sua eficácia e o agente executor (GARCIA,
2014; BRASIL, 2005). Podemos, então, considerar três tipos de medidas como
alternativas, de controle, mitigadoras e compensatórias:

• As medidas de controle podem ser entendidas como aquelas que têm


como objetivo evitar a ocorrência, seja parcial ou total, dos impactos so-
cioambientais, podendo ser em um projeto ou empreendimento (BRASIL,
2002; BRASIL, 2005).
• As medidas mitigadoras podem ser definidas como as ações que tendem
a reduzir os efeitos negativos dos empreendimentos (BRASIL, 2002;
BRASIL, 2005). As medidas mitigadoras são consideradas como medi-
das para evitar ou diminuir a ocorrência de impactos e são preferíveis às
medidas compensatórias (SANCHEZ, 2013). Pode-se citar, como exem-

109
Proteção do Meio Ambiente

plo, o impacto na saúde gerado na população local pela construção de


uma indústria de produtos químicos, assim a medida mitigadora seria a
implementação de um programa de saúde (GARCIA, 2014).
• As medidas compensatórias são utilizadas quando os impactos do proje-
to causam perdas de elementos importantes do ecossistema, do ambien-
te construído ou de relações sociais (BRASIL, 2002; BRASIL, 2005).

Sanchez (2013) exemplifica algumas medidas mitigadoras e compensatórias


que poderiam ser adotadas em projetos rodoviários em diversas áreas ambien-
tais, conforme apresentado resumidamente no quadro a seguir.

QUADRO 3 – EXEMPLO DE MEDIDAS MITIGADORAS E


COMPENSATÓRIAS EM PROJETO RODOVIÁRIO

Aspecto ou impacto ambiental Medida mitigadora ou compensatória


Regulagem e manutenção de máquinas
Alteração da qualidade do ar
Aumentar distância entre pista e áreas de ocupação
Barreiras físicas/vegetais
Alteração do ambiente sonoro
Aumentar distância entre pista e área de ocupação
Risco de poluição da água e do solo com Planos de ação de emergência
substâncias químicas Criação de áreas de estacionamento de cargas
Redução da área de intervenção
Redução das áreas de desmatamento
Impacto visual
Obras de arte, desvios e traçados alternativos
Barreiras vegetais
Deslocamento de pessoas e atividades Redução da área de intervenção
econômicas Reassentamento
FONTE: Adaptado de Sanchez (2013)

3.1 PLANOS E PROGRAMAS


Existem diferentes empreendimentos e projetos que podem causar altera-
ções no meio ambiente em diversos graus. As alterações podem ser causadas
devido ao tipo de atividade, ao porte, ao uso de recursos naturais, à geração de
resíduos, entre outras ações. Por esse motivo, existem inúmeros planos e progra-
mas ambientais com objetivos e ações específicas (VAZ, 2020). De maneira geral,
os planos e programas são documentos estruturados e contêm alguns itens em
comum, tais como:

● Objetivos: informar o objetivo que se pretende alcançar com o plano ou


programa de acordo com o impacto e medidas ambientais;

110
Capítulo 3 Gestão Ambiental

● Justificativas: relacionar o escopo que será executado que justifique a


execução do plano ou programa;
● Público-alvo: indicar a área de abrangência ou o grupo que será impacta-
do pelo programa;
● Fase do empreendimento em que serão implementados em relação às
atividades previstas e à inter-relação com outros programas;
● Procedimento metodológico: detalhar as medidas previstas com os mé-
todos, técnicas e tecnologias que serão adotadas com suas justificativas
e limitações;
● Metas e atividades;
● Recursos necessários: especificar e detalhar todos os recursos que se-
rão necessários ao longo do projeto, tais como número de profissionais e
área de formação, materiais e equipamentos;
● Cronograma: detalhar o cronograma com todas as atividades de plane-
jamento, instalação, execução, operação e desativação do empreendi-
mento;
● Atendimento a requisitos legais e/outros requisitos: relacionar todas as
referências citadas e requisitos legais que serão atendidos;
● Acompanhamento e avaliação: indicar a periodicidade e a forma que se-
rão realizados os relatórios de acompanhamento e avaliação (GARCIA,
2014; IBAMA, 2020).

Os programas e planos ambientais, além de terem como objetivo reduzir


os impactos negativos decorrentes do empreendimento, também proporcionam
benefícios econômicos e estratégicos para a empresa e para o ambiente (VAZ,
2020). Cada programa ambiental pode se dividir em subprogramas e outros des-
dobramentos em projetos com temas específicos, conforme exemplificado por
Moura (2008) no Quadro 4.

QUADRO 4 – EXEMPLO DE PROGRAMA DIVIDIDO EM


SUBPROGRAMAS E ATIVIDADES DE UM PLANO AMBIENTAL

Programa Subprograma Projetos/Atividades


Avaliação de riscos associados aos Realização de uma análise de
resíduos riscos quantitativa
Controle de vazamentos Monitoramento dos locais

Gestão de resíduos Programa de redução na fonte


sólidos e produtos Programas de reuso
Minimização dos resíduos sólidos
perigosos Programas de recuperação
Programas de reciclagem
Disposição em aterros industriais
Disposição final
Incineração
FONTE: Adaptado de Moura (2008)

111
Proteção do Meio Ambiente

Os benefícios da instalação de um programa estão relacionados à redução


do consumo de água, energia e insumos, além de ser possível ter um acréscimo
na receita e ter um diferencial competitivo com a oferta de produtos verdes, que
são aqueles produtos produzidos a partir de recursos renováveis em toda sua
cadeia produtiva. Além da parte financeira, de maneira estratégica é possível im-
pulsionar a imagem institucional com os órgãos governamentais e comunidade
(KRAEMER et al., 2013).

Existem diferenças entre os conceitos de Plano de Gestão Ambiental e um


Sistema de Gestão Ambiental. O Sistema de Gestão Ambiental (SGA) será visto
no subtópico a seguir, mas de forma resumida, inicialmente, pode ser entendido
como um conjunto de elementos organizados e desenvolvidos para integrar as
questões ambientais à administração de uma organização (GRIJÓ; BRUGGER,
2011; SANCHEZ, 2013). Um SGA é baseado no ciclo de melhorias conhecido
como PDCA – planejar, executar, checar e agir. Com base no planejamento, im-
plementação e controle é possível promover melhorias gradativas no sistema com
base na experiência coletada (SANCHEZ, 2013).

Enquanto o PGA refere-se ao conjunto de medidas analisadas e propostas


para prevenir, atenuar ou compensar os impactos, buscando valorizar os impac-
tos positivos, o Plano de Gestão Ambiental:

[...] sintetiza as ações e atividades que constituem as medidas


de prevenção e tratamento dos impactos ambientais e de moni-
toramento ambiental, incluindo as diretrizes de adoção dessas
medidas e seu detalhamento executivo, podendo ser dividido
em programas de ação específicos. Além disso, a PGA tem por
finalidade informar a todos os atores envolvidos e quaisquer
interessados sobre o desempenho ambiental do projeto (IBA-
MA, 2020, p. 5).

Alguns dos programas exigidos pelos órgãos ambientais além do Plano de


Gestão Ambiental (PGA) são o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR),
Programa de Comunicação Social, Programa de Educação Ambiental (PEA), Pla-
no de Controle Ambiental (PCA), Plano Básico Ambiental (PBA), cujos objetivos
são apresentados no quadro a seguir.

QUADRO 5 – PROGRAMAS E SEUS RESPECTIVOS OBJETIVOS

Programa Objetivo
Programa de Gerenciamento Programa adotado pelas organizações com o intuito de gerenciar os riscos
de Riscos (PGR) existentes no local de suas atividades.
Programa de Comunicação Implementar as diretrizes para divulgação das atividades do empreendimento,
Social permitindo a participação e envolvimento das partes interessadas.

112
Capítulo 3 Gestão Ambiental

Programa de Educação Garantir a participação de todos os envolvidos e afetados direta ou


Ambiental (PEA) indiretamente pela atividade do licenciamento, em qualquer etapa.
Plano de Controle Ambiental Caracterizar o empreendimento ou projeto, apresentar o diagnóstico e as
(PCA) propostas de controle e mitigação dos impactos.
Plano Básico Ambiental Reunir todos os materiais detalhados como medidas de controle e programas
(PBA) ambientais exigidos para a licença prévia.
FONTE: A autora

O PGR é estabelecido pela Norma Regulamentadora no 1 (ABNT, 2019) e é


composto, de maneira simplificada, por um inventário de riscos e por um plano de
ação e deve ser elaborado sob responsabilidade da organização (SESI, 2021). O
principal objetivo do PGR é unificar as informações e identificar ações para preve-
nir, reduzir e controlar riscos, com foco em reduzir possíveis acidentes envolvendo
as pessoas e o meio ambiente. O inventário consiste na caracterização dos pro-
cessos, ambiente e atividades (ABNT, 2019).

O plano de ação pode ser dividido em duas partes: plano de ação para pre-
venção de riscos (PAPR) e plano de ação para emergências (PAE). No PAPR de-
vem ser indicadas quais as medidas que devem ser introduzidas, aprimoradas ou
mantidas para controle dos riscos (GARCIA, 2014; SESI, 2021). O PAE permite
dimensionar adequadamente as tipologias de acidentes, os recursos e as ações
necessárias para reduzir os impactos. Além disso, fornece um conjunto de infor-
mações e diretrizes para minimizar os impactos em emergências em nível local e
regional (CETESB, 2021).

O Programa de Comunicação Social tem como objetivo implementar as dire-


trizes para divulgação das atividades do empreendimento, permitindo a participa-
ção e envolvimento das partes interessadas. Para isso, utiliza-se de diversos ca-
nais de comunicação, tais como: jornais, rádio e televisão (GARCIA, 2014). Além
deste, o Programa de Educação Ambiental (PEA) corresponde ao:

Conjunto de projetos correspondente a diferentes linhas de


ação que se articulam a partir de um mesmo referencial teó-
rico-metodológico para a promoção de processos educativos
voltados à viabilização, fomento e qualificação da participação
nos processos de licenciamento, de modo a promover o de-
senvolvimento da gestão ambiental compartilhada, bem como
a superação de conflitos socioambientais (IBAMA, 2019, p. 3).

O PEA tem como objetivo garantir a participação de todos os envolvidos e


afetados direta ou indiretamente pela atividade do licenciamento, em qualquer
etapa. Além disso, é responsável por contribuir na aquisição de conhecimento e
habilidades para um desenvolvimento de atitudes da população na gestão do uso

113
Proteção do Meio Ambiente

sustentável e conservação dos recursos ambiente (GARCIA, 2014). Este progra-


ma deve ser produzido com base em alguns princípios, tais como: enfoque huma-
nista, holístico e participativo, concepção do meio em sua totalidade, pluralismo
de ideias e respeito à diversidade individual e cultural, avaliação crítica e garantia
da continuidade do processo educativo (BRASIL, 1999).

O Plano de Controle Ambiental (PCA) varia conforme a região geográfica


analisada. Basicamente, é composto pela identificação do empreendimento ou do
projeto, o diagnóstico ambiental realizado, a avaliação de impactos ambientais
finalizada e as propostas de controle e mitigação dos impactos (VAZ, 2020). O
documento denominado Projeto Básico Ambiental (PBA), por sua vez, reúne to-
dos os materiais detalhados, como medidas de controle e programas ambientais,
elaborados para obter a Licença Prévia. Os documentos do PCA e do PBB são
exigências específicas de projetos na área mineral e elétrica, porém, atualmente,
têm sido solicitados para outros tipos de licenciamento (GARCIA, 2014).

Conforme visto, existem diversos programas de gestão ambien-


tal, a fim de exemplificar, vamos conhecer agora alguns programas
que podem compor um Plano de Controle Ambiental de uma usina
hidrelétrica.

QUADRO – EXEMPLO DE PROGRAMAS DE GESTÃO


AMBIENTAL PARA UMA USINA HIDRELÉTRICA

Programas Projetos
Remanejo e compensação da população atingida
Reestruturação e revitalização das comunidades
Socioeconômico e cultura Resgate e preservação do patrimônio histórico-cultural, paisagístico
ou arqueológico
Educação ambiental
Observação das condições hidrológicas e climatológicas
Hidrologia, climatologia e
Monitoramento das condições físicas e químicas da água
qualidade da água
Ações integradas de conservação do solo e da água
Monitoramento sismológico, exploração dos recursos minerais e
Geotecnologia aquíferos
Monitoramento da estabilidade dos taludes marginais
Manejo e salvamento de flora e fauna
Meio Biológico
Reflorestamento
Limpeza da bacia de acumulação
Meio Físico
Gerenciamento e recomposição ambiental das áreas
114
Capítulo 3 Gestão Ambiental

Gestão do reservatório
Gerencial Monitoramento e avaliação da implantação do PBA
Comunicação Social
FONTE: Adaptado de GEAB (2001)

Existem outros programas que complementam os planos de gestão ambien-


tal, as medidas são agrupadas e são denominadas como Programas de Ação.
Cada programa pode receber denominações diferentes dependendo da localiza-
ção, tais como PBA, PCA e até mesmo de maneira simplificada como PGA. A
estrutura e o nível de detalhamento de cada plano também varia com cada jurisdi-
ção (SANCHEZ, 2013).

1) Existem diferentes tipos de Programas de Avaliação Ambiental, or-


ganizados em planos e programas, que variam de acordo com o
tipo de empreendimento, ação executada, impacto ambiental e o
que se deseja analisar. Entretanto, todos são direcionados a um
objetivo em comum. Qual é este objetivo?

Os programas ambientais são, portanto, complexos não apenas em seu nível


de detalhe (ou seja, no número de variáveis envolvidas), mas também em seu ní-
vel de dinamismo (ou seja, a maneira como essas variáveis interagem). Por isso,
é importante que estejam bem estruturados e com um bom esqueleto para moni-
toramento e acompanhamento das medidas propostas em cada caso.

4 AUDITORIA AMBIENTAL
Os países desenvolvidos começaram a conduzir auditorias de meio ambiente
de forma voluntária na década de 1970 em função da constatação dos impactos
negativos decorrentes das ações industriais. No final da referida década, mais
especificamente em outubro de 1979, a Agência de Proteção Ambiental (Environ-
mental Protection Agency – EPA) dos Estados Unidos da América instituiu uma
diretiva, autorizando a inspeção, amostragem e análise de organizações por “au-
ditores ambientais” e os resultados da auditoria deveriam ser comunicados ao
governo (SANTOS, 2017).

115
Proteção do Meio Ambiente

No Brasil, em 1986, a EPA emitiu uma declaração envolvendo os princípios


de auditoria ambiental definindo-a como obrigatória à concessão de licença am-
biental. A auditoria ambiental no contexto brasileiro só veio a ser abordada na
década de 1990, a partir da instituição de algumas legislações municipais e es-
taduais, como no município de Santos (SP) e nos estados do Rio de Janeiro,
Espírito Santo e Minas Gerais, no âmbito federal houve uma tentativa de regula-
mentação federal por meio do Projeto de Lei nº 3.160/92 e, posteriormente, do PL
n° 3.539/97, ambos arquivados em 1992 (VILLANI, 2010).

O conjunto de Normas Internacionais das Séries ISO 9000 (Sistemas de


Gestão da qualidade) e ISO 14000 (Sistemas de gestão ambiental) destacam a
seriedade das auditorias como instrumento de gestão empregadas para monitorar
e verificar a prática eficaz das políticas da qualidade e/ou ambientais de uma Or-
ganização.

A auditoria só foi normatizada em 1991 a partir da criação do Strategic Ad-


visory Group on Environment (SAGE) no domínio da Organização Internacional
para Padronização (do inglês, International Standardization for Organization –
ISO). Em 1994, o conceito passa a ganhar destaque a partir da publicação de um
conjunto de normas, agrupadas sob o código 14000, as quais abordam Sistemas
de Gestão Ambiental (SGA) (SILVA et al., 2009). De forma ampla e conceitual, a
auditoria é a:

[...] ferramenta usada pelas empresas para controlar, medir


e evitar a degradação ambiental mediante um processo que
avalia a natureza e extensão das questões ambientais em
qualquer área de atividade, partindo da premissa de que to-
dos, cada cidadão, cada empresa, cada segmento da atividade
governamental, são contribuintes de uma parcela da poluição,
em maior ou menor intensidade (RAMOS, 2019, p. 4).

A Resolução Conama 306 de 2002, que define as condições mínimas e o ter-


mo de referência para condução de auditorias ambientais, define-a como:

[...] processo sistemático e documentado de verificação, exe-


cutado para obter e avaliar, de forma objetiva, evidências que
determinem se as atividades, eventos, sistemas de gestão e
condições ambientais especificados ou as informações rela-
cionadas a estes estão em conformidade com os critérios de
auditoria estabelecidos nesta Resolução, e para comunicar os
resultados desse processo (BRASIL, 2002, p. 10).

Ao realizar uma auditoria, as empresas buscam ter uma garantia sobre as


exigências legais e processos internos de gerenciamento, avaliação dos passivos
ambientais, que são os danos causados ao meio ambiente por uma empresa, e
cumprimento das obrigatoriedades ambientais para comprovação junto às partes

116
Capítulo 3 Gestão Ambiental

interessadas (BRAGA et al., 2005). Pode-se dividir a auditoria ambiental em seis


fases, conforme apresentado na figura a seguir.

FIGURA 6 – ETAPAS DA AUDITORIA AMBIENTAL

FONTE: Adaptada de Brasil (2002)

Além das etapas apresentadas na Figura 6, ao final da auditoria é necessária a


elaboração de um Plano de ação, que deve conter, pelo menos, os seguintes itens:
i) ações corretivas e/ou preventivas para as não conformidades identificadas; ii) cro-
nograma para as ações; iii) definição dos responsáveis pelo cronograma proposto;
iv) cronograma do processo de monitoramento e avaliação para as ações.

A auditoria, pode ser interna (também chamada de primeira parte ou “nós em


nós”, feita pela própria organização) ou externa (chamada de auditoria de terceira
parte ou “eles em nós”, feita por um agente certificador), sendo que a interna nor-
malmente é programada para ser realizada antes da externa. Você deve estar se
perguntando: e a auditoria de segunda parte, então? As “auditorias de segunda
parte” ou também chamadas de “nós neles” são desenvolvidas por um cliente,
como requisito de contratação ou inspeção de processos produtivos. Também é
possível classificar a auditoria ambiental em quatro tipos, de acordo com seu ob-
jetivo, sendo:

117
Proteção do Meio Ambiente

• Auditoria de conformidade legal: analisa a conformidade da organização


com relação às legislações.
• Auditoria de SGA: analisa a conformidade do Sistema de Gestão Am-
biental (SGA) da organização com os requisitos específicos, tal como os
definidos pela ISO 14001.
• Auditoria de certificação ambiental: é desenvolvida por um agente certifi-
cador, ou seja, é externa à organização, tal como as destinadas a empre-
endimentos sustentáveis (como por exemplo, BREEAM e LEED).
• Auditoria de responsabilidade: proposta para avaliar os aspectos am-
bientais da organização e se há algo que interfira no processo de venda
ou compra da organização (RAMOS, 2019).

O desenvolvimento da auditoria ocorre a partir da análise documental e de


registros, entrevistas com gestores e responsáveis, verificações do empreendi-
mento, reuniões, avaliações e experimentos e é finalizada com a elaboração de
um relatório contendo o observado neste processo. A frequência de realização de-
pende da importância ambiental da área envolvida e dos resultados de auditorias
anteriores.

Nos casos de certificação voluntária, recomenda-se que a auditoria ambien-


tal seja trienal, embora seja comum alguns institutos certificadores aconselharem
semestralmente. As empresas podem definir seu programa de auditoria para um
ou mais anos e, ainda, definir data ou mês padrão para sua realização, ou seja,
programando-a parcial ou no decorrer do ano.

As auditorias ambientais obrigatórias são chamadas de auditoria ambiental


compulsória e consistem em uma ação de política ambiental de caráter público.
Esta deve ser realizada a cada dois anos e tem como característica primordial a
imposição da sua execução, independentemente da vontade da unidade auditada.

O artigo intitulado A importância da auditoria ambiental como


ferramenta de gestão ambiental busca auxiliar o entendimento do
conceito de auditoria ambiental dentro de seu contexto transversal e
de ferramenta de apoio à gestão ambiental. Para ler este artigo, con-
sulte o link, disponível em: http://repositorio.furg.br/xmlui/bitstream/
handle/1/5781/23-23-1-SM.pdf?sequence=177.

118
Capítulo 3 Gestão Ambiental

Frente aos conceitos apresentados, auditoria pode ser definida, então, como
a ferramenta que possibilita uma avaliação metódica, recorrente, documentada e
objetiva dos sistemas de gestão e performance de equipamentos de uma empre-
sa a fim de controlar as ações que impactem o meio ambiente.

4.1 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL


Um sistema de gestão ambiental é “parte do sistema de gestão global que
inclui estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades,
práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar,
atingir, analisar criticamente e manter a política ambiental da instalação” (BRASIL,
2002, p. 11).

Um SGA se constitui, na verdade, “em um conjunto de procedimentos sistema-


tizados que são desenvolvidos para que as questões ambientais sejam integradas à
administração global de um empreendimento” (BRAGA et al., 2005, p. 305).

A implementação do SGA a partir do estabelecido pela ISO permite que a


organização obtenha certificação, desde que passe por uma auditoria por órgão
certificador. A certificação não é obrigatória, e as empresas podem aproveitar as
vantagens resultantes da aplicação da norma sem passar por auditoria de certi-
ficação. Entretanto, para boa parte das organizações, a certificação demanda de
mercado, ou seja, é para ser bem vista no mercado competitivo tendo em vista
que comprova seu empenho com ações sustentáveis e padronização internacio-
nal de gestão ambiental. Além disso, permite a conexão com os outros sistemas
de gestão já praticados pela organização ou que se deseja praticar, como, por
exemplo, o sistema de gestão da qualidade (estabelecido pela ISO 9001) (FIESP/
CIESP, 2015).

Esse sistema permite, então, que uma organização monitore e mapeie seus
riscos, produzindo como resultado, medidas para mitigação de impactos. Além
disso, permite a inclusão de um olhar sistêmico para os aspectos ambientais.
SGA não é um ato e sim um processo, que deve ser dinâmico já que será avaliado
contínua e periodicamente, para conferência de objetivos e metas definidos, o
alcance e efetividade das medidas propostas.

O foco principal deve ter como resultado a melhoria sempre contínua do


desempenho da organização no que diz respeito aos aspectos ambientais. No
que tange ao foco de melhoria contínua, este sistema é definido pela Norma ISO
14001 e baseado no ciclo PDCA (do inglês Plan – Do – Check – Act) ou, em por-
tuguês, Planejar – Fazer – Checar – Agir.

119
Proteção do Meio Ambiente

Este ciclo tem um caráter bastante organizacional e administrativo, sendo


aplicado em diferentes contextos e a qualquer tipo de indústria e seu principal
enfoque está na ideia de continuidade e de estarmos sempre produzindo circulari-
dades (FORNO, 2018).

No ciclo PDCA, o planejamento refere-se à definição de objetivos e processos


para alcançar as metas propostas em anuência à política ambiental da empresa.

FIGURA 7 – ETAPAS DO PDCA E AÇÃO RESPECTIVA

FONTE: A autora

A fase de execução é correspondente à implementação de processos. Na


verificação, são feitos o monitoramento e a medição dos processos e desenvolvi-
mento do relato do processo. Por fim, na fase de ação, atua-se para que o desem-
penho da organização seja sucessivamente melhorado.

A primeira etapa para implantar um SGA é o comprometimento da alta admi-


nistração da organização a partir da formalização. Após esta etapa, o SGA pode
ser estruturado a partir de cinco requisitos rumo à melhoria contínua, tal como
apresentado na Figura 8.

120
Capítulo 3 Gestão Ambiental

FIGURA 8 – REQUISITOS DO SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL

FONTE: ISO 14001: (2004)

• Política ambiental: busca fixar as ações que direcionam aspectos ge-


renciais e por isso é o conjunto de intenções da alta direção sobre a
temática envolvida. Precisa estar escrita em linguagem clara e de fácil
entendimento.
• Planejamento: partindo do definido como política ambiental são anali-
sados os aspectos ambientais, identificados os requisitos legais e outros
pertinentes e definidos objetivos, metas e programas.
• Implementação e operação: a partir dos levantamentos feitos no pla-
nejamento, nesta fase definem-se recursos, funções, responsabilidades
e autoridades, estabelecem as ações para competência, treinamento
e conscientização, são delimitados os critérios de comunicação, docu-
mentação e controle de documento e gerencia-se o controle operacional.

121
Proteção do Meio Ambiente

Além disso, é importante estabelecer a preparação e resposta à emer-


gência, caso seja necessário.
• Verificação: tal como o nome sugere, analisam-se resultados alcançados
pelas fases anteriores a partir das seguintes fases: monitorar e controlar,
avaliar o atendimento aos requisitos legais e outros, analisar não conformi-
dades. No caso de não conformidades, deve-se propor ações corretivas e
preventivas, controlar os registros e, por fim, definir auditorias internas.
• Análise pela administração: este requisito tem por finalidade promover
a revisão dos resultados obtidos no SGA e também estabelecer o plane-
jamento do próximo ciclo visando à melhoria ambiental contínua.

É importante destacar, aqui, que estes princípios são norteadores do processo


de implantação do SGA e baseiam-se no ciclo PDCA, conforme falado anteriormen-
te. Além disso, outro destaque é que as normas ISO vêm passando por constantes
alterações, e a versão mais recente da ISO 14001 de 2015 complementa estes re-
quisitos, pois busca estabelecer a mesma estrutura para todos os sistemas de ges-
tão. Em relação à estrutura, o que mudou é a definição de um padrão desenvolvido
por dez tópicos, sendo eles: 1 – Escopo; 2 – Referências normativas; 3 – Termos
e definições; 4 – Contexto da organização; 5 – Liderança; 6 – Planejamento; 7 –
Apoio; 8 – Operação; 9 – Avaliação do desempenho; e 10 – Melhoria.

QUADRO 6 – TÓPICOS DA ESTRUTURA DE UM SGA

Tópico Conteúdo a ser englobado no tópico


1 – Escopo Conteúdo e tópicos a serem considerados.
2 – Referências Legislações e normas relacionadas e/ou adotadas como referência.
normativas
3 – Termos e Definições de palavras básicas necessárias para entendimento do SGA.
definições
4 – Contexto da Descrição da organização, contendo todos os itens necessários para sua completa
organização delimitação.
5 – Liderança A alta administração precisa estar definida e ser comprometida com o SGA.
6 – Planejamento São definidas as ações para os aspectos ambientais significativos, os requisitos
legais e outros requisitos, riscos e oportunidades.
7 – Apoio Estabelecimento, implementação e manutenção de processo para a comunicação,
definindo designadamente o que vão comunicar, quando, a quem e como.
8 – Operação Devem ser apresentados os requisitos explícitos para planejamento e controle
operacional dos processos necessários para atendimento aos requisitos do SGA.
9 – Avaliação do Envolve medidas para monitoramento, medição, auditoria interna e análise crítica.
desempenho
10 – Melhoria Enfatiza o fortalecimento do desempenho ambiental como um dos resultados
esperados com a implementação do SGA. Neste item é preciso comprovar, por
meio de critérios e indicadores apropriados, que alcançou melhorias em seu
desempenho ambiental.
FONTE: Adaptado de ISO 14001 (2015)

122
Capítulo 3 Gestão Ambiental

Conforme vimos, as normas ISO tornam possível o desenvolvimento da ges-


tão ambiental a partir da elaboração do SGA, visto neste subtópico, ou de se fazer
a partir apenas da avaliação do ciclo de vida (ACV), que consiste na avaliação de
produtos e processos e será visto no subtópico a seguir.

4.2 ANÁLISE DE CICLO DE VIDA (ACV)


Como vimos ao longo do capítulo, conforme aumenta a consciência ambien-
tal, as indústrias e empresas estão avaliando de que maneira suas atividades afe-
tam o ambiente. As primeiras preocupações com a poluição surgiram na década
de 1960, nos EUA, e começaram a se espalhar pelo mundo. No entanto, a velo-
cidade com que esse conceito se difunde, bem como a seriedade que recebe,
variam enormemente de país para país.

A análise de ciclo de vida trata-se de uma abordagem holística para verificar


as consequências ambientais resultantes de produtos e processos. É, ainda, uma
metodologia aplicada pelas organizações para avaliar os impactos ambientais de-
correntes de toda a cadeia produtiva de um produto ou serviço, no decorrer de
toda a sua vida – desde a extração da matéria-prima até o descarte final ou retor-
no ao processo produtivo (BRAGA et al., 2005; CALIJURI; CUNHA, 2015).

Ciclo de vida, segundo a ISO 14001:2015, consiste nos estágios consecuti-


vos e encadeados de um sistema de produto (ou serviço), desde a aquisição da
matéria-prima ou de sua geração, a partir de recursos naturais até a disposição
final (ABNT, 2015, p. 17).

A avaliação do ciclo de vida ambiental (ACV) desenvolveu-se rapidamente


nas últimas três décadas, mas começou a ser comentada no final da década de
1980, quando os inventários do ciclo de vida da energia e massa dos sistemas
de produtos começaram a ser realizados. Em 1990, a Sociedade de Toxicologia e
Química Ambiental realizou workshops de ACV e identificou as várias etapas de
sua estrutura.

Entretanto, foi só depois que a ISO desenvolveu uma série de padrões de


Gestão, a partir da estruturação de um comitê técnico encarregado de desenvol-
ver uma estrutura padrão para a ACV, que esta ficou mundialmente conhecida. O
ponto culminante desse esforço foi um padrão internacional voluntário que perma-
nece hoje como regra para a realização de uma ACV.

Hoje, é vista como um processo objetivo que visa estimar os aspectos am-
bientais relacionados a um produto, processo ou atividade, identificando e quan-

123
Proteção do Meio Ambiente

tificando os usos, liberações de energia e materiais para o meio ambiente, e tam-


bém visa avaliar e executar oportunidades de melhorias ambientais. É um método
consagrado no ambiente empresarial, destinado a avaliar os impactos ambientais
associados à toda a cadeia produtiva de um produto ou serviço.

Em função de suas propriedades, a ACV possui destaque para ser aplicada


em análises de escolhas tecnológicas, componente fundamental para viabilidade
ambiental de empreendimentos (CALIJURI; CUNHA, 2015). No que se refere à
abordagem metodológica, pode ser estruturada em quatro fases, conforme a figu-
ra a seguir.

FIGURA 9 – FASES DA ABORDAGEM METODOLÓGICA DA ACV

FONTE: Adaptada de Calijuri e Cunha (2015)

As fases apresentadas na Figura 9 buscam auxiliar a identificação da causa


de aspectos e impactos ambientais. A primeira fase define propósito, objetivos,
limites funcionais e do sistema. A segunda fase (Inventário) consiste na coleta de
todos os dados relativos a entradas, processos, emissões etc. de todo o ciclo de
vida. Na terceira fase (Avaliação de Impacto), os impactos ambientais e os recur-
sos de entrada são quantificados com base na análise de inventário. A última fase
(Interpretação) é interpretar os resultados calculados a partir da fase de Avalia-
ção de Impacto e recomendar medidas de melhoria conforme apropriado (CHAU;
LEUNG; NG, 2015). Assim, os principais pontos envolvendo estas fases são:

124
Capítulo 3 Gestão Ambiental

- O estudo pode envolver de maneira adequada e sistemática


os aspectos ambientais de um sistema de produção de um pro-
duto, desde a aquisição das matérias-primas até a disposição
final do mesmo;
- A profundidade de detalhes e o intervalo de tempo de um
estudo de análise do ciclo de vida podem variar de maneira
substancial, em função das definições dos objetivos traçados e
da definição de seu escopo;
- O escopo, os princípios, os parâmetros de qualidade dos dados,
as metodologias e as variáveis de saída de um estudo de análise
do ciclo de vida devem ter interpretação clara e apropriada;
- Podem ser feitas provisões, dependendo da intenção da apli-
cação do estudo, respeitando-se a confidencialidade e a pro-
priedade industrial;
- As metodologias de análise do ciclo de vida deverão ser res-
ponsáveis pela inclusão de novas descobertas científicas e
melhorias do estado da arte da metodologia (BRAGA et al.,
2005, p. 296).

De modo a extinguir ou tornar mínimo os aspectos e impactos ambientais


não somente na produção, mas em todas as fases do ciclo de vida de um produto,
desde a extração e beneficiamento da matéria-prima, o transporte, a produção,
a distribuição, o consumo, o pós-uso até a disposição final, a gestão ambiental
empresarial, principalmente a partir do final da década de 1990, ampliou sua visão
para o ciclo de vida do produto.

FIGURA 10 – CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO

FONTE: Adaptada de Calijuri e Cunha (2015)

Inicialmente, a solução era substituir a matéria-prima utilizada ou modificar a


forma de usar determinado produto, ou ainda, em retornar o produto ao processo
produtivo, sem considerar a fase de fabricação deste. Entretanto, a partir da abor-
dagem de ACV, entende-se que a problemática da poluição ambiental envolve
todo o ciclo de vida de um produto.

125
Proteção do Meio Ambiente

Mas você deve estar se perguntando: toda ACV engloba todas as fases do ciclo
de vida? Não! O limite do sistema é determinado com base no objetivo do estudo, ou
seja, se esse é o objetivo, quais etapas são necessárias? Bom, é preciso entender o
impacto ambiental das matérias-primas, processo, componentes ou o produto final.

1) A análise de ciclo de vida (ACV) é um processo objetivo que visa


estimar os aspectos ambientais relacionados a um produto, pro-
cesso ou atividade, identificando e quantificando os usos e libera-
ções de energia e materiais para o meio ambiente, e também visa
avaliar e executar oportunidades de melhorias ambientais. Partin-
do desse pressuposto, quantas e quais são as fases da aborda-
gem metodológica da ACV?

A ACV tem o potencial de fornecer um novo modelo de regulamentação, ba-


seado em uma visão holística dos impactos ambientais, em vez de focar na ges-
tão de riscos químicos. Frente ao apresentado, então, entende-se que a gestão
ambiental focada em ciclo de vida do produto, associada às demais, é tida como
a mais sistemática, visando a soluções ambientalmente adequadas. Além disso,
organizações que se antecipam na consideração destas novas exigências po-
dem obter inovações em seus processos, produtos e padrões de negócios, assim
como gerenciamento mais integrado entre fornecedores e clientes.

4.3 PRODUÇÃO + LIMPA (P+L)


O desempenho ambiental de produtos e processos se tornou uma questão
fundamental, razão pela qual algumas empresas estão investigando maneiras de
minimizar seus efeitos sobre o ambiente. A inclusão do compromisso com a pre-
venção na política ambiental é um pré-requisito da norma ISO 14001. Neste con-
texto, vimos que a ACV busca analisar todo o fluxo de um produto ou processo no
que tange aos impactos ambientais. Além da ACV, as organizações vêm procu-
rando programas complementares para não gerar impactos e, então, não precisar
lidar com eles.

Nesse contexto, temos um exemplo de gerenciamento ambiental que objetiva


dar prioridade a atividades que visem reduzir na fonte (CALIJURI; CUNHA, 2013).
A Produção Mais Limpa (P+L ou P mais L) tem-se definido de forma diferente ao
longo das últimas décadas, sobretudo devido aos avanços das tecnologias e ao
aprendizado com os erros do passado. A produção mais limpa é uma estratégia
para prevenir as emissões na fonte e iniciar uma melhoria preventiva contínua do
126
Capítulo 3 Gestão Ambiental

desempenho ambiental das organizações. O foco da gestão deve ser a prevenção


ao invés da cura para evitar problemas ambientais.

Uma forma de definir uma P+L é comum conjunto de regras com o desígnio
de proteger o meio ambiente e tornar mínimo o desperdício, que vai desde os
processos de fabricação a todo o ciclo de vida de um produto. Este conceito pode
até ser aplicado em um nível pessoal, abordando o estilo de vida e as escolhas
diárias de cada um (SILVA; GOUVEIA, 2020).

Os principais atores da produção mais limpa são as empresas, que contro-


lam os processos de produção. Eles são fortemente influenciados por seus clien-
tes (empresas privadas, públicas ou outras) e pela política (por leis, regulamentos,
impostos).

Ao considerar o desenvolvimento de um programa de P+L (Figura 11) em


uma organização é importante que seja feita a pré-sensibilização da alta adminis-
tração a partir de uma visita técnica feita pelos responsáveis pela implantação do
P+L denominados de ecotime. Nesta visita, serão apresentados casos de suces-
so, enfatizando as vantagens econômicas e ambientais da implantação.

FIGURA 11 – PASSOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE P+L

FONTE: CNTL (2003, p. 19)

127
Proteção do Meio Ambiente

Conforme apresentado na Figura 11, o foco principal é criar consciência para


a prevenção da poluição, para encontrar a fonte de resíduos e emissões, para de-
finir um programa para reduzir as emissões e aumentar a eficiência dos recursos
através da implementação e documentação de opções de produção mais limpa.
As ações podem ser organizadas em duas categorias e, estas, em níveis (Figura
12). A primeira categoria é a minimização de resíduos e emissões, subdividida em
dois níveis: nível 1 a partir de ações que busquem a redução na fonte e nível 2
que visa à reciclagem interna. A segunda categoria envolve o reuso de resíduos,
efluentes e emissões e representa o nível 3.

FIGURA 12 – FLUXOGRAMA DAS OPÇÕES NA P+L

FONTE: CNTL (2003, p. 27)

A produção mais limpa, então, é caracterizada por:

[...] ações que privilegiem o Nível 1 como prioritárias, segui-


das do Nível 2 e Nível 3, nesta ordem. Deve ser dada priori-
dade a medidas que busquem eliminar ou minimizar resíduos,
efluentes e emissões no processo produtivo onde são gerados.

128
Capítulo 3 Gestão Ambiental

A principal meta é encontrar medidas que evitem a geração


de resíduos na fonte (nível 1). Estas podem incluir modifica-
ções tanto no processo de produção quanto no próprio produto
(CNTL, 2003, p. 29).

Muitas são as barreiras que interferem na implementação de práticas e mo-


delos de negócios sustentáveis, retendo o potencial de inovação e melhoria
ambiental, e retardando-o ou até mesmo revertendo-o, tal como: questões eco-
nômicas, motivacionais, tecnológicas, educacionais, entre outros. Opondo-se a
essas barreiras estão os fatores que estão começando a ganhar impulso e es-
tão se tornando impossíveis de ignorar. Fatores como políticas governamentais,
tendências e demandas de consumo, oportunidades em mercados estrangeiros,
melhoria das imagens do mercado local e global, possibilidades de trabalhar
com empresas maiores e bem estabelecidas, dentre outros, são motivadores
(SILVA; GOUVEIA, 2020).

P+L é um conceito dinâmico no qual novos procedimentos e tec-


nologias surgem constantemente, introduzindo métodos e práticas
para prevenir danos ao meio ambiente.

Apesar dos fatores limitantes, aspectos tidos como motivadores estão impul-
sionando as empresas e até mesmo indústrias a mudarem seus atuais métodos,
melhorando sua pegada ecológica geral, ao mesmo tempo em que, em muitos ca-
sos, promovendo simultaneamente economia de custos devido à otimização glo-
bal de toda a cadeia de processo, garantindo a proteção ambiental dos processos
de forma geral.

5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao fim do nosso terceiro capítulo e, consequentemente, do Livro
Didático da disciplina de Proteção do meio ambiente. Somos capazes, a partir do
conteúdo visto neste capítulo, de diferenciar os Programas de Avaliação Ambien-
tal (tal como Plano de Gestão Ambiental, Sistema de Gestão Ambiental, Progra-
ma de Gerenciamento de Riscos, Programa de Educação Ambiental, Plano de
Controle Ambiental, Plano Básico Ambiental, entre outros) e relacionar poluição
ambiental e uma apresentação dos sistemas de tratamento.

129
Proteção do Meio Ambiente

A poluição da água, do solo e do ar provoca impactos negativos tanto de


caráter ambiental quanto relacionados à saúde. A água é um dos componentes
ambientais mais afetados pelas ações humanas, pois a poluição dos demais com-
ponentes ambientais muitas vezes atinge a água também, em diferentes prazos e
intensidades. Em razão disso, tanto para utilização dos recursos naturais quanto o
processo de uso e ocupação do solo precisam ser planejados de forma integrada
e considerando as diferentes legislações relacionadas.

Vimos também os principais programas de avaliação ambiental que têm


como objetivo definir as ações necessárias para minimizar as consequências da
interferência humana sobre o meio ambiente em todas as fases de um empreen-
dimento. Os programas e planos ambientais, ainda, além de reduzir os impactos
negativos, beneficiam a empresa econômica e estrategicamente, bem como auxi-
liam a proteção ambiental.

Além disso, as práticas ambientais das organizações, em função da consci-


ência sobre seus impactos ao meio ambiente, vêm evoluindo com o passar dos
anos e deixou de ter caráter passivo e passou a ser um caráter reativo. Em função
disso, as organizações têm buscado estabelecer seu Sistema de Gestão ambien-
tal, que permite a definição e implementação de estratégias para caminhar rumo
à melhoria contínua englobando os aspectos ambientais. Durante esse processo,
são realizadas auditorias para análise de conformidades, buscando prevenir a po-
luição ao invés de dispersá-la, e para isso, vêm sendo implantados programas, tal
como P+L e ACV.

Por fim, a partir do apresentado neste capítulo, e no decorrer do nosso livro


didático, é possível concluir que a proteção do meio ambiente ultrapassa o concei-
to de preservação total dos sistemas ambientais, mas é importante que tenhamos
um olhar crítico, entendendo que a intervenção do homem para o atendimento de
suas necessidades de desenvolvimento deve sempre priorizar os princípios da
sustentabilidade, ou seja, garantir que tanto sua geração atual quanto as futuras
tenham um ambiente saudável e equilibrado.

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