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INTRODUÇÃO À

GESTÃO AMBIENTAL

Juliana Saccol
I61 Introdução à gestão ambiental [recurso eletrônico] /
Organizadoras, Vanessa de Souza Machado, Juliana
Saccol. – Porto Alegre : SAGAH, 2016.

Editado como livro impresso em 2016.


ISBN 978-85-69726-89-0

1. Gestão ambiental. 2. Gestor ambiental - Atuação. 3.


Ética profissional. I. Machado, Vanessa de Souza. II. Saccol,
Juliana.

CDU 658:504

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094


Noções gerais da profissão –
definição e histórico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deverá apresentar os seguintes aprendiza-
dos:
 Reconhecer a cronologia dos principais eventos da evolução
histórica da preocupação ambiental que impulsionaram o surgi-
mento da gestão ambiental.
 Identificar conceitos e práticas de sustentabilidade.
 Relacionar o contexto econômico e meio ambiente diante da pro-
fissão de gestor ambiental.

Introdução
As demandas desenfreadas que surgiram por conta do crescimento
da população e do desenvolvimento industrial desordenado geraram
grandes impactos ambientais. Em função disso, a preocupação am-
biental foi alavancada nas três últimas décadas do século XX, sen-
do direcionada para um estudo mais amplo no século XXI. Nessa
perspectiva, nasceu a necessidade da criação dos cursos de Gestão
Ambiental, que formam profissionais detentores de competências
e habilidades a serviço da promoção de um desenvolvimento mais
sustentável.
Neste texto, você vai estudar a linha cronológica dos acontecimen-
tos que modificaram os paradigmas ambientais e vai se familiarizar
com os conceitos essenciais de gestão ambiental.

A linha do tempo e a preocupação ambiental


Neste texto, você aprenderá sobre alguns eventos que modificaram de forma
significativa o modo de pensar e agir sobre as questões ambientais.
A preocupação com as questões ambientais iniciou a partir da década de
60. Anteriormente a este período, tivemos, de forma isolada, em 1947, a fun-

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dação da UICN – União Internacional para a Conservação da Natureza, na


Suíça, organização fundada com o objetivo de influenciar ideias de conser-
vação da natureza.
Década de 1960 – A década de 1960 ficou conhecida pelo conflito entre
preservacionistas e desenvolvimentistas.
O debate iniciou-se com a publicação do livro Primavera Silenciosa, de
Rachel Carson, em 1962, que trouxe um alerta sobre a utilização de pesticidas
na agricultura. Este fato levou a preocupações ambientais inéditas para uma
parcela da opinião pública americana, que visualizou o impacto das ativi-
dades antrópicas sobre o meio ambiente. O livro impulsionou uma inversão
na política nacional sobre os pesticidas, levando a uma proibição nacional
do DDT (e de outros pesticidas). Os movimentos ambientalistas levaram à
criação da Environmental Protection Agency – EPA, Agência Americana de
Proteção Ambiental.

O DDT (sigla de diclorodifeniltricloroetano) é um inseticida barato e altamente eficiente


a curto prazo, mas, a longo prazo, tem efeitos prejudiciais à saúde humana, podendo
ocasionar câncer em seres humanos e interferir na vida animal, causando o aumento
de mortalidade entre os pássaros.

Também em 1968, surgiu o Clube de Roma, no qual um grupo de pessoas


formado por empresários, diplomatas, cientistas, educadores, humanistas,
economistas e altos funcionários governamentais de dez países diversos se
reuniu para tratar de assuntos relacionados ao uso indiscriminado dos re-
cursos naturais do meio ambiente em termos mundiais.
Década de 1970 – Em 1972, um grupo de cientistas do Massachusetts
Institute of Technology – MIT, que assessorava o Clube de Roma, alertou
sobre os riscos do crescimento econômico contínuo baseado na exploração
de recursos naturais não renováveis. Utilizando modelos matemáticos, o MIT
chegou à conclusão de que o planeta Terra não suportaria o crescimento po-
pulacional devido às pressões geradas sobre os recursos naturais e energéticos
e ao aumento da poluição, mesmo tendo em conta o avanço tecnológico. As
projeções afirmavam o esgotamento desses recursos em poucas décadas, e o
relatório afirmava que somente o crescimento zero e a gestão dos recursos
finitos poderiam salvar o planeta. Muitas das previsões do relatório não se

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concretizaram, e outras permanecem como um cenário possível, para o qual a


humanidade ainda não encontrou soluções. No entanto, o documento foi im-
portante para chamar a atenção sobre o impacto da exploração dos recursos e
degradação do meio ambiente, despertando a consciência ecológica mundial.
A I Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, organizada pela Organi-
zação das Nações Unidas – ONU, em 1972, foi um reflexo disso (NASCI-
MENTO; LEMOS; MELLO, 2008).

A I Conferência Mundial sobre Meio Ambiente ficou conhecida como a Conferência de


Estocolmo, por ter sido realizada na capital da Suécia.
A ONU – Organização das Nações Unidas – é uma organização internacional for-
mada por países que se reuniram voluntariamente para trabalhar pela paz e pelo de-
senvolvimento mundial.

No final da década de 70, pode-se dizer que iniciou a fase da regulamen-


tação e do controle ambiental, e poluir passou a ser considerado crime em
diversos países. Juntamente com isso surgiu o primeiro selo ambiental, o selo
Blue Angel, lançado na Alemanha com o objetivo de rotular produtos ambien-
talmente corretos. Este selo é utilizado até hoje para certificar a sustentabili-
dade dos produtos (ver Fig. 1).

Figura 1. Selo para certificação de sustentabilidade de produtos.


Fonte: SustentArqui (2014).

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Década de 1980 – No início da década de 1980, a ONU retomou o debate


sobre as questões ambientais, e foi criada a Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento com o intuito de reavaliar as questões críticas
relativas ao meio ambiente e reformular propostas no sentido de fazer as mu-
danças necessárias para garantir um desenvolvimento sustentável. A partir
desta comissão, foi criada a declaração universal sobre a proteção ambiental
e o desenvolvimento sustentável – o Relatório Brundtland, publicado com o
título “Nosso Futuro Comum”.
Essa nova percepção de desenvolvimento e limites necessários ao uso dos
bens esgotáveis deixou claro a necessidade de equilíbrio, com limites para o
bem-estar da sociedade, assim como para utilização dos recursos naturais.
Na década de 80, iniciou o controle ambiental através das legislações e
fiscalizações, as quais tinham por objetivo controlar a instalação de novas in-
dústrias e estabelecer condicionantes para seu funcionamento. Nesta década,
o enfoque foi para o controle da poluição, o que muitos chamavam controle
de “final de tubo” por focar no tratamento dos poluentes gerados através de
processos e equipamentos que minimizassem os poluentes gerados a um nível
aceitável.
Um importante marco ambiental na história foi em 1985, quando um con-
junto de países se reuniu manifestando preocupação quanto aos impactos ge-
rados pela redução da camada de ozônio. Desta convenção, surgiu o Protocolo
de Montreal, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 1989.

Fique por dentro dos assuntos sobre proteção da camada de ozônio acessando: http://
www.protocolodemontreal.org.br/eficiente/sites/protocolodemontreal.org.br/pt-br/
home.php

Década de 1990 – Na década de 1990, já havia uma consciência comum


sobre a necessidade de preservação ambiental e constância na equação de
desenvolvimento versus sustentabilidade do planeta.
Em 1992, líderes mundiais de 108 países reuniram-se no Rio de Janeiro
e realizaram a conferência mundial conhecida como Cúpula da Terra ou
Rio-92. Os fundamentos deste evento foram baseados em cinco documentos:
Convenção da Diversidade Biológica, Convenção sobre as Mudanças Climá-
ticas, Princípios sobre Florestas, Declaração do Rio e Agenda 21.

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Outro marco importante na década de 90 foi a Conferência das Nações


Unidas sobre Mudanças Climáticas, na qual, em 1997, foi anunciado o Proto-
colo de Quioto, que estabelecia metas para a redução das emissões dos gases
do efeito estufa.
Na década de 1990, também entraram em vigor as normas britânicas
BS 7750- Specification for Environment Management Systems, que serviram
de base para a elaboração de um sistema de normas ambientais em nível
mundial, a série ISO 14000. A integração entre a série ISO 14000 e a série
ISO 9000, de gestão da qualidade, representou um avanço em relação à con-
servação ambiental e ao desenvolvimento sob bases sustentáveis.

ISO 14001: A ABNT NBR ISO 14000 é uma norma certificadora que especifica os requi-
sitos de um Sistema de Gestão Ambiental e permite a uma organização desenvolver
e praticar políticas e metas ambientalmente sustentáveis. A norma leva em conta as-
pectos ambientais influenciados pela organização e outros passíveis de serem contro-
lados por ela.

Como você pode perceber, a introdução da gestão ambiental e a adoção


de códigos de conduta modificaram a postura reativa das empresas – a preo-
cupação empresarial que buscava meios de evitar multas e autos de infração
dos órgãos fiscalizadores –, que passaram a se preocupar com sua imagem da
empresa perante as questões ambientais.
Surge a preocupação com a preservação do meio ambiente, tendo em vista
a otimização de processos produtivos e a redução dos impactos ambientais
gerados.
Século XXI – Após 10 anos da Rio-92, em 2002, foi realizada pela ONU,
em Johanesburgo, na África do Sul, a Cúpula Mundial sobre o Desenvol-
vimento Sustentável, também conhecida como Rio+10. Nesta conferência,
trataram-se, além de aspectos ambientais, de aspectos sociais. Foram de-
batidas questões sobre fornecimento de água, saneamento básico, energia,
saúde, agricultura e biodiversidade e teve início a busca por medidas para
reduzir o número de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza (com
aproximadamente 1 dólar por dia) até 2015. Os países participantes acor-
daram em reduzir em 50% o número de pessoas que não possuía acesso à
água potável e a saneamento básico. Além deste acordo, houve a busca por

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colocar em prática a Agenda 21 e cobrar posições sobre os compromissos


firmados na ECO-92.
Em 2012, ocorre, no Rio de Janeiro, a Rio+20, Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, com a participação de 193 países
que fazem parte da ONU. Considera-se que esta foi a segunda etapa da Cú-
pula da Terra (ECO-92), cujos temas principais foram dois: a economia verde
no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e a
estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.
Houve vários desfechos para a Rio+20; um documento final de 53 pá-
ginas, acordado por 188 países, dita o caminho para a cooperação interna-
cional sobre desenvolvimento sustentável. Além disso, governos, empresários
e outros parceiros da sociedade civil registraram mais de 700 compromissos
com ações concretas que proporcionem resultados para responder a necessi-
dades específicas, como energia sustentável e transporte. Os compromissos
assumidos no Rio incluem 50 bilhões de dólares que ajudarão um bilhão de
pessoas a ter acesso à energia sustentável.
O setor empresarial, que há 20 anos esteve praticamente ausente na
Rio-92, durante a Rio+20 liderou a realização de compromissos voluntários,
reconhecendo o valor do capital natural e se comprometendo a usar os re-
cursos naturais de forma responsável.

De acordo com a declaração do coordenador do programa de mudanças climáticas e


energia do WWF Brasil, o resultado da conferência foi “fraquíssimo”.
“O cenário após a COP 18 é muito incerto para uma grande parte da população mun-
dial, para a economia global e para a biodiversidade e os ecossistemas. O tempo é o re-
curso mais precioso agora e está cada vez mais escasso. As respostas e decisões daqui
para frente terão de ser muito mais fortes e incisivas, e as ações, mais rápidas”, afirmou.

Em 2014, ocorreu em Lima, no Peru, a 20ª Conferência das Partes da Con-


venção – Quadro da ONU sobre Mudanças do Clima (COP 20). O objetivo
da conferência foi analisar e propor diversas ações para conter o aumento da
temperatura global e, consequentemente, mitigar os impactos da mudança do

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clima. O evento iniciou com avanços significativos, como o anúncio do com-


promisso de redução de Estados Unidos, China e União Europeia, que, juntos,
respondem por mais de 50% das emissões mundiais de GEE.

GEE: Gases integrantes da atmosfera, de origem natural ou antrópica (quando pro-


duzidos pelo homem), que absorvem e reemitem radiação infravermelha para a su-
perfície da Terra e para a atmosfera, causando o efeito estufa. O vapor d’água (H2O), o
dióxido de carbono ou gás carbônico (CO2), o óxido nitroso (N2O), o metano (CH4) e o
ozônio (O3) são os principais GEEs na atmosfera. Existem também na atmosfera GEEs to-
talmente produzidos por atividades humanas, como os halocarbonetos e outras subs-
tâncias com cloro e bromo, objeto do Protocolo de Montreal. O Protocolo de Quioto
também aborda o hexafluoreto de enxofre (SF6), além de duas famílias de gases: os
hidrofluorocarbonetos (HFC) e os perfluorocarbonetos (PFC). Entre os gases do efeito
estufa que estão aumentando de concentração, o dióxido de carbono, o metano e o
óxido nitroso são os mais importantes.

Em 2015, a busca por ações efetivas para a redução dos efeitos climáticos
e para a contenção do aumento da temperatura do planeta continuou com a
COP 21, na França, em Paris. A conferência resultou no documento chamado
Acordo de Paris, no qual os países representantes reiteraram compromissos
que visam manter o aquecimento global “muito abaixo de 2º C”, buscando
ainda “esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5° C acima dos
níveis pré-industriais¨.
Por todos os fatos estudados, você pode observar que, do início do século
XX até 1972, predominavam ações do tipo reativas com o meio ambiente,
sem considerar qualquer conceito de prevenção, o que inicia “timidamente” a
partir da Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente em
Estocolmo, em 1972, e se estende até meados de 1990.
A partir deste período, a preocupação ambiental ganha um novo conceito
com a Rio-92: passa-se a considerar meio ambiente como tudo aquilo que
está inserido no contexto da vida, o que amplia o escopo de conservação dos
recursos naturais para questões socioambientais. Com isso, entra-se em uma
fase proativa que se estabelece a partir do século XXI.

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A partir da mudança de paradigmas, a qual se visa à preservação ambiental e não so-


mente à correção de processos e de agentes poluidores, surgem diversos selos verdes
ou rotulagem ambiental. Eles fornecem referência sobre produtos, processos e serviços
que apresentam menor impacto sobre o meio ambiente. Para saber sobre eles, acesse:
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/conteudo_298573.
shtml ou leia: Arquivo Selos Verdes.

Desenvolvimento sustentável
Neste texto, será apresentado a você o conceito de desenvolvimento susten-
tável, que está inserido em uma série de fundamentos indispensáveis ao seu
conhecimento de gestor ambiental.
É importante compreender a totalidade e a complexidade da expressão
“desenvolvimento sustentável”. Para isso, serão abordados, inicialmente, al-
guns conceitos individuais:

 Desenvolvimento: significa um estágio econômico, social ou político


de determinada comunidade, o qual é caracterizado por altos índices
de rendimento dos fatores de produtos, ou seja, dos recursos naturais,
do capital e do trabalho (FERREIRA, 1986).
 Crescimento: relaciona-se à expansão da escala das dimensões físicas
do sistema econômico (GOODLAND apud BELLA, 1996).
 Sustentável: possui dois significados: o primeiro, estático, que é
“impedir que caia, suportar, apoiar, conservar, manter e proteger”; o
segundo significado é dinâmico e positivo: “favorecer, auxiliar, esti-
mular, incitar e instigar” (BELLA, 1996).

Além dos conceitos evidenciados anteriormente, existem percepções asso-


ciadas ao que realmente se possa considerar um desenvolvimento sustentável.
Uma delas estabelece que, no desenvolvimento sustentável, as relações entre
ambiente e desenvolvimento estão integradas e que deve existir um cuidado
entre as políticas de desenvolvimento e as atividades setoriais, que devem
levar em consideração os limites existentes para renovação dos recursos natu-

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rais. Isso faria com que os padrões ambientais fossem estabelecidos em bases
ecológicas a partir da noção da capacidade de suporte dos ecossistemas, con-
forme definido por Ivan Carlos Maglio.
É possível observar que o desenvolvimento sustentável passou a repre-
sentar o progresso econômico associado à utilização adequada dos recursos
naturais, promovendo a melhoria na qualidade de vida da população.
Na busca por esse progresso sustentado, surge a necessidade de se avaliar
o sistema socioeconômico atual de maneira a verificar se realmente evolui
em direção à sustentabilidade em todos os seus âmbitos. Essa ideia foi ampla-
mente apoiada a partir da criação da Agenda 21 Global, na Rio 92.

Para ampliar seu conhecimento sobre a Agenda 21, acesse: http://www.mma.gov.br/


responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda-21-global

Relações do sistema econômico com o meio ambiente

O sistema econômico, considerado como um organismo vivo e complexo,


não atua independentemente do sistema natural que o sustenta (MUELLER,
2007). Ao contrário, o sistema econômico interage com o meio ambiente ex-
traindo recursos naturais (componentes estruturais dos ecossistemas) e devol-
vendo resíduos. Em razão do enfoque dado pelas diferentes vertentes teóricas
de tratamento das questões ambientais, privilegia-se apenas a dinâmica do
sistema econômico ou as interfaces entre este e o meio ambiente. O fato é
que um esquema analítico focado somente nas relações existentes dentro da
“caixa” que representa o sistema econômico será fatalmente reducionista e
limitado, dado que o meio ambiente interage com a economia como forne-
cedor de insumos e receptor de dejetos/resíduos resultantes dos processos de
produção e consumo (ver Fig. 2).
Além disso, o sistema econômico atua em um determinado espaço, alte-
rando-o consideravelmente devido a sua expansão. Assim, pode-se dizer que
a economia apresenta impactos sobre o meio ambiente, os quais se devem à
escala (tamanho, dimensão) do sistema econômico e ao estilo dominante de
crescimento econômico (modo como o sistema econômico se expande).

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Figura 2. Um esboço das relações do sistema econômico com o meio ambiente.


Fonte: Mueller (2007, p. 465).

Diante de toda preocupação ambiental, o desenvolvimento sustentável


tornou-se a principal alternativa de desenvolvimento socioeconômico da so-
ciedade atual.
O desenvolvimento sustentável procura satisfazer as necessidades da ge-
ração atual sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfa-
zerem as suas próprias necessidades.

Por meio do Relatório Brundtland, que foi publicado com o título “Nosso Futuro
Comum”, definiu-se o conceito de desenvolvimento sustentável como “aquele
que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gera-
ções futuras atenderem às suas necessidades”.

Fique por dentro de modelos de consumo sustentáveis assistindo ao vídeo https://


www.youtube.com/watch?v=_eUUTYCDGvc

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Noções gerais da profissão – definição e histórico 11

Atualmente, são utilizadas ferramentas para mensurar o desenvolvimento econômico


e social de uma atividade, as quais são chamadas de Indicadores de Sustentabilidade.
Para saber mais, acesse: http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/recursosnaturais/
ids/default_2015.shtm

Conservação e preservação ambiental


Dentro dos conceitos ambientais, é importante deixar clara a diferença entre
conservação e preservação ambiental.
O preservacionismo e o conservacionismo são correntes ideológicas que
surgiram no fim do século XIX, nos Estados Unidos. Com posicionamento
contra o desenvolvimentismo – uma concepção que defende o crescimento
econômico a qualquer custo, desconsiderando os impactos ao ambiente na-
tural e o esgotamento de recursos naturais –, estas duas correntes se contra-
põem no que diz respeito à relação entre o meio ambiente e a nossa espécie.
O preservacionismo aborda a proteção da natureza independentemente de
seu valor econômico e/ou utilitário, apontando o homem como o causador
da quebra desse “equilíbrio”. De caráter explicitamente protetor, propõe
a criação de santuários intocáveis, sem sofrer interferências relativas aos
avanços do progresso e sua consequente degradação. De posição considerada
mais radical, este movimento foi responsável pela criação de parques nacio-
nais, como o Parque Nacional de Yellowstone, em 1872, nos Estados Unidos.
(LIMA, 2008).
O conservacionismo contempla o amor à natureza aliado a seu uso racional
e manejo criterioso pela nossa espécie, a qual executa um papel de gestão e
parte integrante do processo. Podendo ser identificado como o meio-termo
entre o preservacionismo e o desenvolvimentismo, o pensamento conserva-
cionista caracteriza a maioria dos movimentos ambientalistas e é alicerce de
políticas de desenvolvimento sustentável, que são aquelas que buscam um
modelo de desenvolvimento que garanta a qualidade de vida hoje que não
destrua os recursos necessários às gerações futuras. Redução do uso de maté-
rias-primas, o uso de energias renováveis, a redução do crescimento popula-

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cional, combate à fome, mudanças nos padrões de consumo, equidade social,


respeito à biodiversidade e inclusão de políticas ambientais no processo de
tomada de decisões econômicas são alguns de seus princípios. Esta corrente
propõe, inclusive, que se destinem áreas de preservação, por exemplo, em
ecossistemas frágeis, com um grande número de espécies endêmicas e/ou em
extinção. (LIMA, 2008)
A imagem abaixo deixa mais clara a diferença entre estes conceitos (Fig. 3).

Figura 3. Representação da diferença entre atos prelecionistas e conservacionistas.


Fonte: Ecolmeia (2016).

Associadas aos conceitos de preservação e conservação, pode-se men-


cionar ecoeficiência e sustentabilidade. Ecoeficiência é uma das grandes ati-
tudes que pode levar à sustentabilidade. Entende-se como ecoeficiência as
atividades que uma organização desenvolve e a dedicação para otimizar os
processos com a redução na fonte da utilização dos recursos naturais, tendo
como finalidade restringir o impacto ambiental e resultando em benefícios
ecológicos e também econômicos (ALMEIDA, 1998).

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Noções gerais da profissão – definição e histórico 13

1. Na linha cronológica do desenvolvi- 4. Dentro do conceito de desenvol-


mento e da preocupação ambiental, vimento sustentável, existe um
pode-se afirmar que a década consi- sistema dependente do sistema
derada de conflito entre preservacio- que o sustenta. Pode-se afirmar
nistas e desenvolvimentistas foi: que é o:
a) 1970 a) Sistema econômico.
b) 1950 b) Sistema de geração de resíduos.
c) 1992 c) Sistema de crescimento.
d) 1960 d) Sistema de desenvolvimento.
e) 1980 e) Sistema de reciclagem.
2. O fato que impulsionou a criação da 5. Dentre os conceitos de meio am-
EPA – Agência Americana de Pro- biente, é importante deixar claro
teção Ambiental – foi: o conceito de conservacionismo.
a) Protocolo de Quioto. O mesmo pode ser entendido
b) Livro “ Primavera Silenciosa”, da como:
bióloga Raquel Carson. a) Ato ou efeito de impedir a modifi-
c) Protocolo de Montreal. cação de qualquer forma do meio
d) Desenvolvimento industrial na ambiente.
década de 50. b) Equilíbrio entre o preservacio-
e) Agenda 21. nismo e o desenvolvimentismo,
3. Diante de todos os fatos citados na caracteriza-se por movimentos
linha do tempo do meio ambiente, ambientalistas baseados em
pode-se considerar um marco na políticas de desenvolvimento
história do meio ambiente o acordo sustentável.
que trata da proteção da camada de c) Equilíbrio entre o preservacio-
ozônio que tinha como meta eliminar nismo e o desenvolvimentismo,
o uso do CFC (cloro – flúor – car- não está baseado em ambienta-
bono). Este é o tratado de: listas.
a) Tratado de Cúpula da Terra d) Conceito reativo que visa corrigir
b) Convenção da Biodiversidade danos ocasionados ao meio
c) Protocolo de Montreal ambiente por medidas de con-
d) Relatório Brundtland, conhecido servação.
como “Nosso Futuro Comum” e) Ato ou efeito de proteger o meio
e) Normas britânicas BS 7750 ambiente das ações do homem.

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14 Introdução à gestão ambiental

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