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Abstract:This article aims at analyzing the distinction between the concepts of economic
growth, economic development, sustainable development and environmental justice; and as
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well the interaction between environmental law and economics in the paradigm of
environmental justice (and the purpose of such interaction). To carry on this research, the
method of approach to be followed will be the empirical-dialectic, taking as a reference
system a combination of Complexity Theory of Edgar Morin and Law and Economics of
Richard A. Posner. In conclusion, we point out the need of a new model of development,
which, based on transdisciplinarity, must seek a socio-environmental balance for the present
and future generations, as a way of overcoming the current state of environmental chaos, as
well as all its economic, political, cultural, social and environmental impacts.
Introdução
A natureza fornece matéria prima e energia essenciais aos mais variados processos
produtivos econômicos. Dessa forma é inegável a estreita relação existente entre meio
ambiente e economia.
Com a crise ambiental, instalada a partir da Revolução Industrial e identificada na
década de 1970, houve a constatação de que os recursos naturais eram finitos e, portanto, seria
necessário modificar as tendências de crescimento e formar uma condição de estabilidade
ecológica e econômica apta a manter-se até um futuro remoto, com o intuito de evitar seu
esgotamento. Com isso surgiu a preocupação com necessidade da criação de princípios e
normas voltadas a regular as relações econômicas, sociais e ambientais.
Nesse contexto, surgiu o Direito Ambiental, que evoluiu com o passar do tempo, de
forma a constituir-se em um conjunto de princípios e normas jurídicas voltadas à proteção
jurídica do meio ambiente, visando garantir seu equilíbrio, por meio do desenvolvimento
econômico, social e ambiental, com a finalidade de garantir a existência de vida digna para
aspresentes e futuras gerações.
Nesse aspecto, dada a complexidade que envolve as questões humanas, entre elas as
atinentes ao desenvolvimento, o Direito Ambiental, visando à consecução de sua finalidade,
interage com diversas áreas do saber, mediante a aplicação de seus preceitos, buscando
valorar, com seus princípios, as ações desenvolvidas pela coletividade.
Dentre as áreas com que o Direito Ambiental interage está a Economia, que se
constitui no conjunto de atividades desenvolvidas pelos seres humanos, voltadas à produção,
distribuição e ao consumo de bens e serviços necessários à sobrevivência e à qualidade de
vida.
Essa interação ocorre para informar um modelo de desenvolvimento apto a equilibrar
o desenvolvimento socioeconômico à proteção ambiental.
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médios visando permitir a geração de lucros. Seus estudos e conclusões, acerca da formação
da riqueza de uma nação, foram expostos por meio da publicação da obra “A Riqueza das
Nações”, em 1776, oportunidade em que Smith concluiu que os lucros gerados aumentariam
as possibilidades de emprego da mão-de-obra economicamente ativa, o que aumentaria a
renda da população e, no longo prazo, levaria a uma redistribuição de renda entre o capital e o
trabalho (HUNT, 2005, p.40).
Adam Smith foi “[...] o primeiro a elaborar um modelo abstrato completo e
relativamente coerente da natureza, da estrutura e do funcionamento do sistema capitalista”
(HUNT, 2005, p.37).
Com relação ao bem-estar humano, Adam Smith preocupou-se em identificar as forças
sociais e econômicas que mais o promoviam, com o intuito de orientar políticas que mais
promovessem a felicidade humana. Ele acreditava que a liberdade natural, representada na
livre concorrência e no livre jogo da oferta e da demanda, era uma força para esse bem-estar
econômico. O Estado devia esforçar-se para finalidades adaptadas ao interesse da sociedade,
deixando os homens livres para buscar seus próprios interesses e concorrer com seu esforço e
capital, ou seja, o livre jogo de mercado (HUNT, 2005, p.54).
A proposição mais famosa de sua tese era a de que, em um mercado livre, “[...] todos
os atos egoístas, aquisitivos e voltados para o lucro [...]” eram dirigidos, como que por uma
“mão invisível”, para um “sistema óbvio e simples”, voltado à maximização do bem-estar
econômico (HUNT, 2005, p.57).
Com relação às intervenções do governo, Smith defendia que o governo somente
deveria atuar para proteger a sociedade contra violência e invasão de outra sociedade; oferecer
uma perfeita administração da justiça; fazer e conservar certas obras públicas; e criar e manter
certas instituições públicas (HUNT, 2005, p.57). Para Smith, a intervenção do governo, além
dessas funções, tendia à má alocação do capital e à diminuição de sua contribuição para o
bem-estar econômico. Assim, o crescimento econômico era considerado o próprio
desenvolvimento.
A tentativa de distinção entre os conceitos de crescimento econômico e
desenvolvimento iniciou-se no início do século XX com Schumpeter, para o qual, segundo
Nali de Jesus Souza, o desenvolvimento somente ocorreria “[...] na presença de inovações
tecnológicas, por obra de empresários inovadores, financiados pelo crédito bancário” e com
um processo produtivo não rotineiro, que “[...] passa a exigir lucro extraordinário” (SOUZA,
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1999, p.16). Em outro giro, segundo Nali de Jesus Souza, Schumpeter atribuía ao crescimento
econômico uma característica meramente expansiva (SOUZA, 1999, p.16).
Verifica-se que, embora tenha realizado uma distinção entre os conceitos de
crescimento e desenvolvimento econômico, Schumpeter ainda analisou o desenvolvimento
apenas sob o aspecto econômico.
Em tal época, o desnível de renda entre os países ricos e pobres impulsionou o início
da discussão econômica acerca da distribuição, principalmente a partir da década de 1930,
com a utilização da Contabilidade Nacional, inspirada pelas teorias keynesianas (ARAÚJO,
1995, p.111) em que a classificação das nações passou a ser realizada conforme sua renda per
capita.
A separação do conceito de desenvolvimento do conceito de puro crescimento
econômico deu-se no período pós-guerra, período em que grande parte da Europa encontrava-
se em um cenário composto por uma
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But surely the values we need are starting us in the face, if we go back, appropriately in 1969, to the questions
raised by Gandhi’s thought and life. We must ask ourselves: what are the necessary conditions for universally
acceptable aim, the realisation of the potencial of human personality? If we ask what is an absolute necessity for
this, one answer is obvious – enough food. […] If anyone has any doubt on the primacy of food, they should
reflect on the implications of recent research showing that nutritional shortages among children can cause lasting
impairment not morely of the body, but also of the mind. […] Another basic necessity, in the sense of something
without which personality cannot develop, is a job. This does not just mean employment: it can include studying,
working on a family farm or keeping house. […] Equality should however be considered an objective in its own
right, the third element in development (SEERS, 1969, p.3-5). Mas, certamente, os valores que precisamos estão
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na nossa face, se retornarmos, adequadamente em 1969, às questões levantadas pelo pensamento e a vida de
Ghandhi. Devemos perguntar-nos: quais são as condições necessárias para um objetivo universalmente aceitável,
a realização do potencial da personalidade humana? Se perguntarmos o que é uma necessidade absoluta para
isso, uma resposta é óbvia - comida suficiente. [...] Se alguém tiver qualquer dúvida sobre a primazia de
alimentos, devem refletir sobre as implicações da pesquisa recente mostrando que carências nutricionais em
crianças podem causar comprometimento duradouro não só do corpo, mas também da mente. [...] Outra
necessidade básica, no sentido de algo sem o qual a personalidade não pode se desenvolver, é um trabalho. Isso
não significa apenas emprego: pode incluir estudar, trabalhar em uma fazenda familiar ou manter casa. [...] A
igualdade deve, no entanto, ser considerada um objetivo por direito próprio, o terceiro elemento em
desenvolvimento. (tradução nossa)
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Tal desarrollo se concentra y sustenta en la satisfacción de las necesidades humanas fundamentales, en la
generación de niveles crecientes de auto dependencia y en la articulación orgánica de los seres humanos con la
naturaleza y la tecnología, de los procesos globales con los comportamientos locales, de lo personal con lo
social, de la planificación con la autonomía y de la sociedad civil con El Estado (MAX-NEEF; ELIZALDE;
HOPENHAYN, 1994, p.30).
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1) Peace as the foundation. Traditional approach to development presuppose that it takes place under
conditions of peace. Development cannot proceed easily in societies where military concerns are at or near the
centre of life. 2) The economy as the engine of progress. Economic growth is the engine of development […]
Accelerating the rate of economic growth is a condition for expanding the resource base and hence for economic,
technological and social transformation […] It is not sufficient, however, to pursue economic growth for its own
sake. 3) The environment as a basis for sustentability. Development and environment are not separate concepts,
nor can one be succesfully address without reference to the other. 4) Justice as a pillar of society. Development
does not takes place in a vacuum, nor its is built upon an abstract foundation. Development takes place within a
specific societal context and in response to specific social conditions. […] People are a country´s principal asset.
Their well-being defines development. 5) Democracy as good governance. The link between development and
democracy is intuitive, yet its remains difficult to elucidate […] In the context of development, improve
governance has several meanings. In particular however, its means the design and pursuit of a comprehensive
national strategy for development. Its means ensuring the capacity, reliability and integrity of the core
institutions of the modern State (BOUTROS-GHALI, 1994, p.5-25).
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Com bases postulares que contrariaram os postulados até então defendidos pela
ciência clássica, a teoria do caos foi desenvolvida nas décadas de 1970 e 1980.
Partindo da premissa de que sempre seria possível reduzir as explicações das
propriedades de um sistema, a ciência clássica primava por uma conexão reducionista, assim,
possuía como objetivo a descoberta de leis necessárias e universais da natureza.
Porém, a partir do século XIX surgiram novas descobertas, indicando que sistemas
estruturalmente idênticos podem manifestar comportamentos distintos sob condições diversas,
ou seja, podem manifestar comportamentos não lineares sob condições diversas.
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O princípio dialógico visa “[…] unir as noções antagônicas para pensar os processos
organizadores, produtivos e criadores no mundo complexo da vida e da história humana.”
(MORIN; LE MOIGNE, 2000, p. 199-204).
O princípio da recursão organizacional trata das noções de autoprodução e auto-
organização, entendendo-as como um processo dinâmico no qual os produtos e os efeitos são
eles próprios produtores e causadores daquilo que os produz. Assim, os seres humanos são
produtores de um sistema de reprodução resultante de muitas eras, o qual somente pode
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Com o pensamento complexo, Edgar Morin tem por objetivo um conhecimento que
ultrapasse definitivamente a separação e o isolamento entre os vários campos disciplinares por
meio de uma perspectiva transdisciplinar, voltada a elaborar uma ciência que reflita
sistematicamente sobre os seus próprios limites, o que equivale a integrar Ciência e
Consciência. Nesse sentido Edgar Morin e Jean-Louis Le Moigne afirmam que “[…] após um
quarto de século, desenvolveram-se ‘ciências sistêmicas’, que reúnem aquilo que é separado
pelas disciplinas tradicionais e cujo objeto é constituído pelas interações entre elementos, e
não mais pela sua separação” (MORIN; LE MOIGNE, 2000, p. 199-200).
Nesse aspecto, o autor vê com preocupação a separação ente Ciência e Ética, levada
a efeito pela ciência clássica (MORIN, 2001, p. 14).
A pós-modernidade, fortemente marcada pela exploração desregrada dos recursos
naturais não renováveis, pelo descarte inadequado de resíduos sólidos, pela emissão
desenfreada de efluentes líquidos sem tratamento e pela alta emissão de gases de efeito estufa,
é caracterizada pelo desequilíbrio ambiental, ou seja, pelo caos ambiental.
O estado de caos ambiental, vivenciado na pós-modernidade, clama pela discussão
da relação entre Ciência e Consciência. Nesse sentido, Edgar Morin propõe que Ciência e
Ética e cientificidade e humanismo devem ser repensados mais do que nunca na sua relação
complexa (MORIN, 2001, p. 14).
O pensamento complexo propõe uma abordagem transdisciplinar capaz de provocar
uma transformação do entendimento humano, visando viabilizar a integração de uma cultura
humanística à tradicional cultura científica.
Assim, em relação à discussão acerca domodelo de desenvolvimento mais adequado,
impulsionada pelo caos ambiental instalado, houve a migração do pensamento clássico para o
pensamento complexo, oportunidade em que o isolamento disciplinar foi substituído pela
transdisciplinaridade, visando à formação de um conhecimento sistemático integrando a
Ciência à Consciência socioeconômica-ambiental.
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pré-requisito de consumo e de mercado (BECK, 2011, p. 9). Nesse sentido, Carla Amado
Gomes afirma que “o consumo é o combustível da sociedade capitalista, típica dos Estados
desenvolvidos, e gera, desde a revolução industrial a esta parte, a depredação voraz dos
recursos do planeta” (GOMES, 2015, p.3).
Visando suprir rapidamente a demanda crescente por alimentos, água pura, madeira,
fibras e combustível (REID; MOONEY;et. al., 2005, p. 16) com a finalidade precípua de
produção de riquezas – acumulação de capital – os seres humanos deram início à Revolução
Industrial, a qual foi potencializada pelo desenvolvimento tecnológico (LEITE, 2012, p. 14-
15), culminando com a instalação de um estado de caos ambiental, caracterizado pela rápida e
extensiva modificação dos ecossistemas causada pelo ser humano.
Ao longo do tempo a humanidade aprendeu, por meio do acúmulo do conhecimento,
a defender-se das ameaças da natureza externa; no entanto, ficou praticamente indefesa das
ameaças da natureza interna, a qual, absorvida pelo sistema industrial, gerou perigos
proporcionalmente ao consumo cotidiano (BECK, 2011, p. 9).
Tais perigos – riscos –, experimentados pela sociedade industrial – de risco (BECK,
2011, p. 9-10) – são caracterizados por não respeitarem fronteiras ou divisas, pois viajam
escondidos no que há de mais indispensável à vida, como o ar, a água e o alimento, de
maneira a romperem as principais e mais desenvolvidas formas de proteção da modernidade
(BECK, 2011, p. 9).
Em relação aos novos riscos experimentados pela sociedade pós-moderna, Mariana
Ribeiro Santiago e Livia Gaigher Bósio Campello afirmam que muitos deles “[…] não se
restringem a um único país ou a uma determinada classe social, mas iguala todos os seres
humanos, o que, inegavelmente, se dá em face dos avanços tecnológicos e do fenômeno da
globalização” (SANTIAGO; CAMPELLO, 2015, p. 172).
Os riscos “[…] designam ameaças que transformam o individualismo moderno, já
levado por sua vez ao limite em seu mais extremo contrário”. (BECK, 2011, p. 8) Assim,
representam a “[…] falência da modernidade, emergindo de um período pós-moderno, à
medida que as ameaças produzidas ao longo da sociedade industrial começam a tomar forma”
(LEITE, 2012, p. 14-15).
Não há que se negar que a ideia acerca do crescimento ou do desenvolvimento
econômico, pautado na acumulação de capitais, senão exclusivamente nele, gerou processos
irreversíveis de degradação ambiental, pois os seres humanos, por muito tempo, exploraram e
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ambiental – caos ambiental –, que exigiu uma revisão profunda no modo de produção e de
consumo.
Diante dessa realidade, as Nações, motivadas pelo caos ambiental instalado devido às
reiteradas degradações ambientais ocorridas pelo mundo a partir do desenvolvimento
industrial, tecnológico e econômico desenfreado, uniram forças na busca de soluções com
aptidão para resolver tal estado de caos.
Tendo como base o contido no Relatório The limits to growth11, em 1972 foi
realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, na cidade de
Estocolmo, na Suécia, a qual resultou na elaboração da Declaração de Estocolmo, composta
por 7 postulados e 26 princípios voltados a guiar os povos do mundo na preservação e na
melhoria do meio ambiente (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1972).
Dentre esses princípios merece relevo o 1º12, que reconhece o direito ao meio
ambiente de qualidade como um direito fundamental do ser humano, imprescindível à
existência de vida digna para as gerações presentes e futuras.
A partir da Conferência de Estocolmo surgiu a ideia da necessidade de uma nova
forma de desenvolvimento e, com isso, a indicação da necessidade de uma mudança de
consciência, migrando-se, gradativamente, da ideia do período industrial de crescimento ou
desenvolvimento puramente econômico, ou seja, de desenvolvimento a qualquer custo para a
ideia de desenvolvimento sustentável com a previsão de adoção de ações voltadas a atender às
necessidades das gerações atuais sem comprometer a possibilidade de atendimento das
necessidades das gerações futuras.
Tal ideia foi aprofundada em 1987 por ocasião da publicação do relatório
Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,
oportunidade em que foi apresentada uma nova forma de entendimento sobre
desenvolvimento, a partir do conceito de desenvolvimento sustentável, como sendo este o
processo que “[…] atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as
11
Com a publicação do Relatório The Limits to Growth, houve a constatação de que os recursos naturais eram
finitos e, portanto, seria necessário modificar as tendências de crescimento e formar uma condição de
estabilidade ecológica e econômica apta a manter-se até um futuro remoto11, visando evitar seu esgotamento.
Com isso surgiu a preocupação com a necessidade da criação de princípios e normas voltadas a regular as
relações econômicas, sociais e ambientais com o objetivo de harmonizar o desenvolvimento sustentável.
(MEADOWSet. al., 1973, p.20)
12
O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas em
um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, tendo a solene
obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras. A esse respeito, as
políticas que promovem ou perpetuam o apartheid, a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e
outras formas de opressão e de dominação estrangeira são condenadas e devem ser eliminadas.
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1972)
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Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental constituirá parte integrante do processo de
desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente desse. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS,
1992)
14
As autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de
instrumentos econômicos tendo em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio, arcar com o
custo da poluição, com a devida atenção ao interesse público e sem provocar distorções no comércio e nos
investimentos internacionais. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1992)
15
Segundo Dália Maimon “[…] as externalidades manifestam-se quando os preços de mercado não incorporam
completamente os custos e benefícios dos agentes econômicos, sendo, portanto, manifestação da falha do
mercado, uma vez que o sistema de preços deixa de organizar a economia de uma forma socialmente ótima,ou
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das mais variadas atividades econômicas, devem ser internalizados nos custos dos negócios
econômicos” (MESSIAS; SOUZA, 2015, p.70), pois tal modelo de desenvolvimento tem suas
bases na Teoria do Triple Bottom Line, a qualprevê que a obtenção do desenvolvimento
econômico, externalizado na forma de lucro – Profit –, deve ocorrer associada à geração de
desenvolvimento social – People –, e à proteção ambiental – Planet (ELKINGTON, 2012,
p.111-124).
Com isso, visa-se evitar a socialização de tais externalidades negativas, que deverão
ser internalizadas pelos agentes econômicos juntamente com as externalidades positivas
decorrentes das atividades econômicas desenvolvidas.
seja, os custos privados são distintos dos custos sociais. A maximização do bem-estar no regime de mercado
competitivo não incorpora a deterioração ambiental e o esgotamento dos recursos, pois estes são de propriedade
coletiva. Assim, a otimização econômica convencional implica na maximização dos lucros privados e na
socialização dos problemas ecológicos e sociais (MAIMON, 1992, p. 26-27).
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desenvolvimento social e ambiental, onde há a contínua internalização dos lucros pelos ricos,
seguida, da também contínua, socialização dos riscos ambientais e sociais.
As diversas Conferências realizadas para discussão dos efeitos das mudanças
climáticas, ainda não chegaram a um resultado prático satisfatório, visto que seu maior
resultado, o Protocolo de Quioto, mostrou-se insuficiente para o cumprimento da meta de
redução de emissões de gases de efeito estufa, pois, segundo o relatório elaborado pelo
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a estimativa de emissões globais de
gases de efeito estufa em 2010 foi aproximadamente 14% maior do que o que deveríamos
registrar em 2020 (UNEP, 2012, p.1).
Com relação à questão da escassez de água potável de fácil acesso, importante
salientar que o planeta Terra possui cerca de 1,6 bilhões de km 3 de água, dos quais
aproximadamente 1,35 bilhões de km3 é de água salgada, 29 milhões de km3são de água doce
congelada nas geleiras e calotas, 8,6 milhões de km3são de água doce nos continentes e sob
eles, e 13 mil km3 estão na forma de vapor de água na atmosfera. Assim, 75% da superfície da
terra é coberta por água. No entanto, 97,5% da água existente na terra é salgada; 2,5% se
encontram nas calotas polares, as quais são consideradas as reservas mais puras do planeta,
porém sua exploração não é viável; 0,7% encontram-se nos lençóis subterrâneos; e apenas
0,007% da água existente no planeta estão nos rios e lagos (ALMEIDA JÚNIOR;
HERNANDEZ, 2001, p.3).
Com as alterações no clima a provocar um grande desequilíbrio na distribuição das
chuvas, a capacidade dos ecossistemas em recompor suas reservas tem sido prejudicada, de
forma a refletir um distanciamento do equilíbrio ambiental, revelando um estado de caos
ambiental. Com isso, cresce o risco de aumentar a desertificação no mundo, enquanto em
regiões tradicionalmente ricas para a agricultura, como o Brasil, não conseguem mais manter
uma produção estável.
No Brasil, a divisão da água ainda é desigual em relação aos usos e às
responsabilidades de cada setor. A agricultura fica com cerca de 70% da água captada em
aquíferos, córregos e lagos (FAO, 2011, p.3), usada muitas vezes sem o devido cuidado em
relação às técnicas de irrigação, além de deixar escorrer novamente para os cursos d'água uma
grande quantidade de produtos utilizados como fertilizantes e defensivos agrícolas. Na
verdade, venenos que precisarão ser retirados, em seu próximo uso, em estações de tratamento
que vão enviar água encanada às residências e indústrias.
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Neste aspecto, ao analisar o impacto da crise econômica de 2007 sobre o modelo de desenvolvimento
sustentável, Jordi Jaria I Manzano, afirma que “o pretendido equilíbrio implícito na noção de desenvolvimento
sustentável é mais aparente que real” (MANZANO, 2017, p.6).
17
Ao tratar da solidariedade, enquanto Direitos Humanos de terceira geração, Ana Paula de Moraes Pissaldo e
Samyra Haydée Naspolini Sanches, dissertam que “o desafio, mais que aplicar os conceitos de desenvolvimento
sustentável, é a tentativa primeira de que os seres humanos não sejam mais considerados estranhos e que haja de
fato a efetivação da terceira geração dos Direitos Humanos, a Solidariedade, uma vez que a pós-modernidade
tem transformado os indivíduos em estranhos, em “outros”” (PISSALDO; SANCHES, 2016, p.110).
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5.A interação entre o direito ambiental e a economia para garantia da justiça ambiental
18
Meio ambiente entendido na sua concepção lato sensu, de forma a englobar o meio ambiente natural, o meio
ambiente artificial, o meio ambiente cultural e o meio ambiente laboral.
19
Aqui considerado o conceito pós-moderno de desenvolvimento, o qual incorpora a dimensão econômica e,
além dela, as dimensões política, social e ambiental, tendo, por esteio, variáveis como justiça, qualidade de vida,
bem-estar, liberdade, entre outras aptas a garantirem a concretização e a eficácia social dos princípios da
igualdade, da solidariedade e da dignidade da pessoa humana. Tal conceito pode ser qualificado por um conjunto
de posturas que Eduardo Gudynas denomina de desenvolvimento sustentável superforte, o qual “engloba las
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posturas que defienden una valoración múltiple del ambiente, y por lo tanto no se restringen al valor económico
o ecológico. Reconoce las limitaciones de la ciencia y la tecnología, defiende la importancia del principio
precautorio, y desembocan de esa manera en transformaciones más radicales y sustanciales frente al desarrollo
convencional” (GUDYNAS, 2011, p.6).
20
O termo eficiência possui diversas concepções, como a eficiência de Pareto (COOTER; ULEN, 2016, p.14) e a
eficiência de Kaldor-Hicks (COOTER; ULEN, 2016, p.42-43); no entanto, por motivo de corte metodológico,
neste artigo adotar-se-á a concepção de que a eficiência relaciona-se com a maximização de ganhos e de
externalidades positivas e com a minimização de prejuízos e de externalidades negativas. Assim, haverá
maximização da eficiência se houver possibilidade de aumentar e internalizar a lucratividade, gerar
desenvolvimento social e propiciar a proteção do equilíbrio ambiental – externalidades positivas – e, ao mesmo
tempo, evitar prejuízos, retrações sociais e danos ambientais – externalidades negativas, sendo que, caso
ocorram, estes também deverão ser internalizados, pelos empreendimentos econômicos, nos custos de produção.
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Conclusão
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