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2 O artigo 225 da CF
9.2.1 Introdução:
1
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7ª ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 52.
2
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7ª ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 52.
9.2.2 Caput do artigo 225 da CF de 1988
3
BENJAMIN, Antonio Herman. Direito constitucional ambiental brasileiro. In: CANOTILHO, José
Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito constitucional ambiental brasileiro. 2. ed.
São Paulo: Saraiva, 2008, p. 110-111.
4
BENJAMIN, Antonio Herman. Direito constitucional ambiental brasileiro. In: CANOTILHO, José
Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito constitucional Ambiental brasileiro. 2. ed.
São Paulo: Saraiva, 2008, p. 141.
5
GIOVANETTI, Gilberto; LACERDA, Madalena, apud MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito
ambiental brasileiro. 17. ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 130.
- O equilíbrio ecológico não significa uma permanente inalterabilidade das condições
naturais. Contudo, a harmonia ou a proporção e a sanidade entre os vários elementos
que compõem a ecologia – populações, comunidades, ecossistemas e a biosfera – hão de
ser buscadas intensamente pelo Poder Público, pela coletividade e por todas as pessoas.6
- CONCLUSÃO: O homem não deve ser privado do direito de exploração dos recursos
naturais, pois esta atividade também contribui para a melhoria da qualidade de vida
humana. Entretanto, nesta atividade não poderá desqualificar o meio ambiente de seus
elementos essenciais, uma vez que estaria contribuindo para seu desequilíbrio e
esgotamento. O que a Constituição Federal de 1988 pretende é combater um meio
ambiente que, embora equilibrado, não tenha qualificação ecológica.8
- A CF em seu artigo 225 deu nova dimensão ao conceito de meio ambiente como bem
de uso comum do povo (vide conceituação do bem ambiental). Não elimina o conceito
antigo, mas o amplia. Insere a função social e a função ambiental da propriedade
(artigos 5°, XXIII e 170, III e VI), como bases da gestão do meio ambiente,
ultrapassando o conceito de propriedade privada e pública.
- O poder público passa a figurar não como proprietário de bens ambientais (das águas e
da fauna, conforme Leis 9433/1997, art° 1°, I e 5197/1967, art° 1°), mas como um
gestor ou gerente, que administra bens que não são dele e, por isso, deve explicar
convincentemente sua gestão. O Estado deverá prestar contas sobre a utilização dos
6
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 17. ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p.
130.
7
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 17. ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p.
134.
8
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7ª ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 88.
bens ambientais de uso comum do povo, concretizando um “Estado Democrático e
Ecológico de Direito” (artigos 1°, 170 e 225 da CF).9
18
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7ª ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 53.
19
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7ª ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 89.
20
BRASIL. Constituição (1988). Lex: Vade mecum de legislação. 7.ed., São Paulo: Ridell, 2008, p. 86.
21
FERREIRA, Heline Sivini. Política ambiental constitucional. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes;
LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito constitucional Ambiental brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva,
2008, p. 234-235.
especial à diversidade genética (inciso II do §1° do artigo 225 da Constituição Federal
de 1988).
Portanto, a primeira parte do inciso I determina ao Poder Público a ação de
“preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais”, o que significa regenerar e
proteger os solos, o ar atmosférico, as águas, as florestas, dentro dos limites adequados
22
ao processo vital dos animais e vegetais. Estas ações constituem ações conjugadas e
não excludentes, que deverão concretizar-se onde e quando for necessário, promovendo
o tratamento do meio ambiente de forma preventiva ou corretiva. 23
Para Luís Paulo Sirvinskas24, “preservar” é manter intacta a característica do
meio ambiente natural e “restaurar” consiste na recomposição criteriosa dos recursos
naturais degradados. Ensina que ambas as ações devem considerar a dinâmica de
relacionamento existente entre o conjunto de elementos bióticos (recursos naturais) e
abióticos (seres vivos), exemplificando que a ação que visa proteger um manancial deve
também buscar a proteção do solo, do ar atmosférico, da flora, da fauna e todos os
demais recursos existentes na bacia hidrográfica onde o mesmo estiver inserido.
Comentando a segunda parte do inciso I, José Afonso da Silva25 afirma que na
expressão “manejo ecológico das espécies e ecossistemas” constata-se o
reconhecimento da estreita relação existente entre os seres vivos e o local onde vivem,
posto que não há espécies vegetais ou animais fora dos ecossistemas. Assim, o sentido
de manejo das espécies coincide com a gestão de elementos do ecossistema que venha a
favorecer a biodiversidade, conceito totalmente diferente da utilização sustentada dos
recursos de um ecossistema, esse contemplado no §4º do artigo 225 da Constituição
Federal (vide abaixo).
Como mencionado, o inciso II preconiza especificamente que cabe ao poder
público “preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético” 26.
A diversidade biológica está ligada à sustentabilidade de todos os seres vivos
encontrados no meio ambiente. A totalidade das espécies vegetais ou animais ainda não
é conhecida e aquelas que se encontram catalogadas não ultrapassam dez por cento do
universo existente, sendo encontradas em sua maior parte na Floresta Amazônica e na
Mata Atlântica. O que se procura proteger é a diversidade biológica e o patrimônio
22
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7ª ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 91.
23
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 6. ed., São Paulo:RT, 2009, p. 158.
24
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 7.ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 77.
25
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7ª ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 93.
26
BRASIL. Constituição (1988). Lex: Vade mecum de legislação. 7.ed., São Paulo: Ridell, 2008, p. 86.
genético existente em determinados espaços, utilizando-se também para este fim o
disposto na Lei que instituiu o Sistema Nacional das Unidades de Conservação (Lei n°
9.985/2000). A Lei n° 11.105/2005 (Lei de Biossegurança) estabeleceu normas de
segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos
geneticamente modificados, dispondo sobre a Política Nacional de Biossegurança. 27
Este dispositivo vem sendo considerado como o mais avançado de todo o
capítulo do meio ambiente, pois a produção futura de novos alimentos e de novos
farmacológicos depende da preservação da diversidade e da integridade do patrimônio
genético.28
Vale novamente destacar como Édis Milaré sintetiza a importância da
conservação do patrimônio genético:
31
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 17.ed., São Paulo: Malheiros, 2009,
p.147.
32
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 6. ed., São Paulo:RT, 2009, p. 166.
33
FERREIRA, Heline Sivini. Política ambiental constitucional. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes;
LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito constitucional Ambiental brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva,
2008, p. 244-247.
Finalmente, encerrando o rol de incisos destacados do §1° do artigo 225 da
Constituição Federal, apresenta-se o inciso VII, determinando ao Estado “proteger a
fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais à crueldade.” 34
Luís Paulo Sirvinskas35 preceitua que a proteção legal da fauna é ampla,
estendendo-se às espécies da fauna silvestre ou aquática, domésticas ou domesticadas,
nativas ou exóticas, como também àquelas espécies em rota migratória no território
nacional. No entanto, a proteção legal não é absoluta, pois a lei permite a caça ou a
pesca de determinadas espécies mediante autorização da autoridade competente.
Explica que a flora, por sua vez, é entendida como o conjunto de plantas de
determinada região geográfica ou política, mas não vive isoladamente, dependendo da
interação constante entre outros seres vivos. Este estado de equilíbrio entre flora e fauna
se denomina ecossistema sustentado. Portanto, flora e fauna são indissociáveis e de seu
intercâmbio depende a biodiversidade, bem como a manutenção de um sistema
ecologicamente equilibrado.
Assim, ao aludir expressamente à função ecológica da fauna e da flora, a
Constituição Federal admitiu o relevante papel que os animais e as plantas
desempenham na manutenção dos ecossistemas, bem como que qualquer interferência
desautorizada pode ocasionar um transtorno irreversível no meio ambiente
ecologicamente equilibrado.
Neste sentido, legislou-se tanto em prol da proteção da fauna quanto da flora. No
primeiro caso temos como exemplos a proteção dispensada aos animais silvestres pela
Lei n° 5.197/67, recepcionada pela Constituição Federal de 1988; a proteção penal dos
crimes contra a fauna (Lei n° 9.605/98, Seção I, Capítulo V) e a lei que disciplina os
procedimentos para o uso científico dos animais (Lei n° 11.794/2008).
No caso da proteção da flora, podem ser citadas a já comentada Lei n°
9.985/2000 que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza –
SNUC, as áreas especificadas como Áreas de Preservação Permanente (APP) e de
Reserva Legal Florestal, conforme discriminadas no Código Florestal (Lei n° 4.771/65)
e, finalmente, os ecossistemas especialmente protegidos, conforme elencados no §4° do
artigo 225 da Constituição Federal e 1988.
34
BRASIL. Constituição (1988). Lex: Vade mecum de legislação. 7.ed., São Paulo: Ridell, 2008, p. 87.
35
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 7.ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 87-90.
No que toca à proteção da extinção da fauna e da flora este comando deve ser
lido em conjunto com os demais incisos do parágrafo ao qual pertence, principalmente
quanto se considera as proibições da introdução de animais alienígenas no país ou,
ainda, de organismos geneticamente modificados sem o necessário estudo de impacto
ambiental em ambos os casos.
O legislador constitucional também achou por bem coibir as práticas que
submetam os animais à crueldade. O exemplo mais flagrante são as brigas de galo,
muito populares em diversos Estados da Federação, como também a “farra do boi” no
Estado de Santa Catarina, ambos já proibidos pelo poder judiciário por submeter os
animais a um mal totalmente desnecessário.36
Paulo Affonso Leme Machado37 aponta que a Corte Constitucional Brasileira
contemplou a auto-aplicabilidade da norma constitucional e deferiu a proteção aos
animais vítimas de maus tratos, mesmo frente a expressão “na forma da lei” existente no
texto do inciso em comento. Acrescenta ainda que a expressão “crueldade” traduz
perversidade, representada pelo prazer em derramar sangue ou de causar dor, práticas
que muitas vezes se tornam hábitos aos quais se atribui a denominação errônea de
manifestação cultural.
Heline Sivini Ferreira38 pondera que o termo crueldade deve ser
interpretado com cautela, uma vez que a proibição de atos cruéis contra os exemplares
da fauna excetua aquelas condutas que se façam imprescindíveis à obtenção e à
manutenção dos direitos fundamentais da pessoa humana. Justifica este posicionamento
na visão do antropocentrismo alargado, prevalente na Constituição Federal e que centra
a preservação do bem ambiental na garantia da dignidade do ser humano.
36
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 6. ed., São Paulo:RT, 2009, p. 177.
37
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 17.ed., São Paulo: Malheiros, 2009,
p.143.
38
FERREIRA, Heline Sivini. Política ambiental constitucional. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes;
LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito constitucional Ambiental brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva,
2008, p. 263.
preservar sua biodiversidade. Tais áreas podem conservar o regime da propriedade
privada ou serem incorporadas ao patrimônio público. A caracterização de tais áreas e o
seu regime de apropriação foi estabelecido pela Lei n° 9.985/2000 que instituiu o
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC.
Quando o poder público cria uma unidade de conservação de proteção integral,
estabelece uma área de preservação permanente strictu sensu. Esta denominação
decorre diretamente do artigo 7°, I e §1° e do artigo 8° da Lei n° 9.985/2000, que
instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, bem
como regulamentou os incisos I, II, III e VII do artigo 225 da Constituição Federal de
1988.
Na hipótese da criação das unidades de conservação integral, a propriedade
particular é transferida ao patrimônio do Estado pelo ato declaratório que cria a referida
unidade ambiental. Ato contínuo, o Estado assume a posse da área pelo ato de criação
das unidades de conservação integral e deverá providenciar sua desapropriação nos
termos do Decreto Lei n° 3.365/41, conforme expressa disposição legal inserida no §1°
do art° 11 da Lei n° 9.985/2000.
Cumpre esclarecer que o artigo 7° da Lei n° 9.985/2000 tipifica duas espécies de
unidade de conservação: as unidades de conservação integral e as unidades de
conservação de uso sustentável. A diferença básica entre ambas está na supressão ou
não da propriedade privada, que ocorre na primeira modalidade, mas não na segunda.
Assim, na criação das unidades de conservação de uso sustentável não há que se
falar em indenização, pois inexiste a supressão da propriedade privada, mas tão somente
uma limitação de seu exercício pelo particular, que poderá ainda utilizar parcialmente os
recursos naturais ali existentes (inciso II e §2° do artigo 7° da Lei n° 9.985/2000).
Ao revés, nos termos do art° 7°, §1° da Lei n° 9.985/2000, as unidades de
conservação de proteção integral, têm por objetivo primacial preservar a natureza, sendo
terminantemente vedados o aproveitamento e a exploração direta dos recursos naturais
ali inseridos.
Destarte, quando da criação das unidades de conservação integral, fica vedada a
extração de madeira, a utilização das pastagens naturais existentes ou qualquer outra
atividade econômica em seu perímetro, já que tais atividades não estão previstas na Lei
do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC (Lei n°
9.985/2000).
Portanto, a criação de uma unidade de conservação de proteção integral implica
na perda da potencialidade e no total esvaziamento do conteúdo econômico do direito
de propriedade. Saliente-se que é em razão deste fato é que decorre o direito de ser
indenizado pela implantação da unidade de conservação, pois o Estado suprime em
definitivo a propriedade privada ao estabelecer o total impedimento de sua exploração.
A característica marcante que diferencia os institutos da unidade de conservação
e de reserva legal florestal (Lei n° 4.771/1965) está no fato de que nas primeiras há uma
delimitação geográfica específica, com objetivos igualmente específicos, voltadas à
proteção e perpetuação dos recursos ambientais ali existentes sob administração,
geralmente, do poder público. A reserva legal, ainda que também tenha objetivos de
conservação, tem caráter difuso, ou seja, está dispersa geograficamente nas
propriedades particulares, têm o seu uso permitido por meio de manejo sustentado e, por
fim, são administradas pelo seu proprietário, que deverá promover sua
sustentabilidade.39
44
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 4.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 287-288.
45
MILARÉ, Édis. Direito do meio ambiente. 6.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 717.
O Imposto sobre a Circulação de Mercadorias (artigo 155, II da Constituição
Federal de 1988) é um exemplo de tributo que tem sido usado de forma eficiente para a
preservação do meio ambiente. Embora seja um imposto de competência dos Estados
federados e do Distrito Federal, 25% do produto de sua receita cabe aos municípios
localizados em seus territórios (artigo 158, IV da Constituição Federal de 1988), que
poderão dar a destinação que entenderem à quarta parte desse valor (6,25%), mediante
lei estadual (artigo 158, parágrafo único, II da Constituição Federal de 1988).
De acordo com tal direcionamento constitucional, vários Estados (Paraná –
1991; Mato Grosso e Mato Grosso do Sul – 1991; São Paulo – 1993; Minas Gerais –
1995; Rondônia – 1996; Amapá – 1996; Rio Grande do Sul – 1997; Pernambuco –
2001; Tocantins – 2002; Rio de Janeiro – 2007) instauraram um critério ambiental de
redistribuição da referida parcela do imposto, criando o “ICMS ecológico” e gerando
uma elevada conscientização municipal pela necessidade de uma conservação
ambiental. Evoluindo de uma condição inicial de compensação pelos recursos
despendidos na conservação dos mananciais e das unidades de conservação, as
legislações estaduais atualmente repassam aos municípios um benefício fiscal vinculado
direta e indiretamente à preservação das áreas verdes situadas nos limites geográficos da
municipalidade, bem como no gerenciamento dos recursos hídricos e no tratamento do
lixo, dentre outros critérios.46
A constituição de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural é precedida de
solicitação do proprietário para que o órgão ambiental reconheça formalmente a
importância da área para a proteção da biodiversidade, dos valores da paisagem e de
outras características ambientais que demandem a proteção ou a restauração de
ecossistemas frágeis ou, ainda, estejam ameaçados. Este reconhecimento resultará em
termo de compromisso que deverá ser averbado à margem da matrícula do imóvel no
competente Cartório do Registro Imobiliário (artigo 2° do Decreto Federal n° 1.922/96 e
artigo 21, §1° da Lei n° 9.985/2000).47
Desta situação legal resulta a mesma proteção dispensada às florestas de
preservação permanente e às áreas cuja conservação seja de interesse público, sem
prejuízo do direito de propriedade, que deverá ser exercido pelo seu titular em defesa da
reserva, sob orientação e com o apoio do órgão ambiental. Ao proprietário caberá
46
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco; FERREIRA, Renata Marques. Direito tributário ambiental. 2.ed.
São Paulo: Saraiva, 2009, p. 116-120.
47
SILVA, Américo Luís Martins da. Direito do meio ambiente e dos recursos naturais. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2005, v.2, p. 250-251.
divulgar regionalmente a condição de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN)
do seu imóvel.48
Por sua vez, as áreas de interesse ecológico passíveis de ser constituídas somente
em terras públicas se encontram especificadas nos incisos I a III do artigo 8° e nos
incisos III a VI do artigo 14, ambos da Lei n° 9.985/2000:
48
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7. ed. São Paulo: Malheiros , p. 245.
49
BRASIL. Lei n. 9.985 de 18 de julho de 2000. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 09
mar. 2010.
de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de
turismo ecológico. Portanto, a visitação pública não é proibida, mas sujeitas as normas e
restrições estabelecidas no plano de manejo, no regulamento do parque e pelo órgão
responsável por sua administração (ICMBio – Instituto Chico Mendes).
A Floresta Nacional é uma área assim delimitada pelo Governo Federal,
submetidas à condição de inalienabilidade e indisponibilidade, em parte ou no todo,
constituído-se bem da União, administradas pelo IBAMA (hoje ICMBio). A exemplo de
todas as demais unidades de conservação proteção integral, sua posse e domínio
pertencem ao poder público. É permitida a permanência das populações tradicionais que
as habitarem quando de sua criação, bem como a visitação e as atividades de pesquisa,
condicionada às normas estabelecidas para o seu manejo.
A Reserva Extrativista deve ser criada em áreas consideradas de interesse
ecológico e social, ou seja, que possuam características naturais ou exemplares da biota
que possibilitem a exploração autossustentável desses recursos, sem prejuízo da
conservação ambiental, por populações extrativistas tradicionais. As atividades dessas
populações serão o extrativismo, a agricultura de subsistência e criação de animais de
pequeno porte. Permite-se a visitação pública e a pesquisa científica.
A Reserva de Fauna é uma área natural com populações animais de espécies
nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos
técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos da fauna. A lei
proíbe a caça em seu interior. È possível a visitação pública e a pesquisa.
Por fim, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável tem como objetivo
preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios necessários
para a reprodução e a melhoria dos modos e da qualidade de vida e exploração dos
recursos naturais pelas populações tradicionais. É muito semelhante às Reservas
Extrativistas.
Para a completa especificação das Unidades de Conservação submetidas ao
domínio público vide material de leitura indicado (GRANZIERA, Maria Luiza
Machado. Direito ambiental. São Paulo: Atlas. 2008, p. 398 a 410).
50
MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 17.ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p.
755.
51
MILARÉ, Édis. 2001, p. 121 apud FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Op. cit., p. 102.
52
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n° 453875/PR. Recorrente: Ministério Público
do Paraná. Recorrido: Paulo Montanher. Interessado: Associação de Defesa e Educação Ambiental de
Maringá - ADEAM. Relator Ministro Herman Benjamin. Segunda Turma. Data do julgamento
18.10.2004. DJe 11.11.2009. Disponível em: <www.stj.jus.br>. Acesso em: 22 jun. 2010.
53
AYALA, Patryck de Araújo. Deveres ecológicos e regulamentação da atividade econômica na
Constituição brasileira. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.).
Direito constitucional Ambiental brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva. 2008. p. 274-276.
necessariamente a propriedade do bem, compreendendo outras formas de uso e acesso
aos recursos naturais e aos espaços onde se localizam.
Torna claro que a propriedade privada gera direitos, mas de acordo com a ordem
constitucional brasileira, uma relação de apropriação “deve permitir o cumprimento de
duas funções distintas: uma individual (dimensão econômica da propriedade) e uma
coletiva (dimensão sócio-ambiental da propriedade).”54
Dessa forma, conclui que o princípio da função social da propriedade superpõe-
se à autonomia privada que norteia as relações econômicas, protegendo os interesses da
coletividade em torno de um direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
No entanto, no Recurso Extraordinário nº 134297-8/SP o Supremo Tribunal
Federal afastou a possibilidade de se estabelecer uma relação de identidade entre a
função social da propriedade e a imposição de ônus ambientais arbitrários ao
proprietário cujo bem se situe em ecossistemas protegidos expressamente pela
Constituição. O julgado também entendeu não ser possível atribuir unicamente ao
proprietário rural a responsabilidade pela conservação e proteção do meio ambiente
inserto em seu imóvel, pois a o dever de proteção do meio ambiente também é da
coletividade.55
O atual Código Florestal (Lei n° 4.771/65) substituiu o antigo Código Florestal
(Decreto Federal n° 23.793/34) e foi recepcionado pela Constituição de 1988. Tal
diploma, objeto de substanciais alterações em 1989 e 2001, estabelece os critérios
básicos de identificação das áreas de preservação permanentes urbanas e rurais, como
também contempla as diversas regras que possibilitam ao proprietário rural cumprir a
obrigação legal de constituição das áreas de reserva legal florestal.
A área de reserva legal, exclusiva dos imóveis rurais, caracteriza-se como uma
área da propriedade necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e
reabilitação dos processos ecológicos e à conservação da biodiversidade (artigo 1°, §2°,
III Lei n° 4.771/65), devendo observar os percentuais de cobertura florestal
especificados no artigo 16, I a IV da Lei n° 4.771/65, que variam conforme a região
geográfica onde esteja situado o imóvel rural.
54
AYALA, Patryck de Araújo. Deveres ecológicos e regulamentação da atividade econômica na
Constituição brasileira. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.).
Direito constitucional Ambiental brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva. 2008. p. 275.
55
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 134297-8/SP. Estado de São Paulo
versus Paulo Ferreira Ramos e cônjuge. Relator: Ministro Celso de Mello. Acórdão publicado no Diário
de Justiça da União em 22 set. 1995, apud AYALA, Patryck de Araújo. O novo paradigma constitucional
e a jurisprudência ambiental do Brasil. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens
Morato (org.). Direito constitucional Ambiental brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva. 2008. p. 383.
A reserva legal constitui uma limitação administrativa ao direito de propriedade
dos detentores do domínio ou da posse de imóveis rurais, consistente na obrigação de
não destruir a vegetação nativa ali existente e está baseada no princípio da função social
da propriedade (artigo 170, III da Constituição Federal de 1988). A finalidade histórica
do instituto foi a preservação da vegetação, tendo em vista o processo de desmatamento
gerado pelo avanço das fronteiras agrícolas do país nos diferentes momentos de sua
história.56
As áreas de preservação permanente constituem um instrumento de conservação,
enquanto que a reserva legal possui um caráter preservacionista. A distinção é relevante
para entender porque as áreas protegidas pelo regime de preservação permanente só
podem sofrer intervenção em hipóteses especiais, enquanto que as áreas sob o regime da
conservação (reserva legal) pressupõem uma utilização econômica racional, ou seja,
manejo florestal sustentável dos recursos florestais (artigo 16, §2° da Lei n° 4.771/65),
vedado o corte raso das espécies vegetais, que poderão ser exploradas mediante prévia
licença.57
Regra geral, a área de preservação permanente será excluída do cômputo da área
de reserva legal do imóvel. No entanto, conforme indica o § 6° do artigo 16 da Lei n°
4.771/65, será possível o computo das áreas de vegetação nativa situadas no interior das
áreas de preservação permanente para compor a reserva florestal, quando aquelas
ultrapassarem 80% da área do imóvel situado na Amazônia Legal ou, nas demais
regiões do país, representem 50% da área total da propriedade rural. No caso da
pequena propriedade o percentual exigido será de apenas 25%.
Na hipótese descrita no parágrafo anterior (artigo 16, §6° da Lei n° 4.771/65)
não será permitido o manejo sustentado da reserva legal constituída no interior da área
de preservação permanente, tampouco será autorizada a conversão de novas áreas do
imóvel para uso alternativo do solo.
Além da possibilidade do proprietário constituir a reserva legal de seu imóvel
averbando uma área de matas com tal destinação, poderá também cumprir a obrigação
legal a partir do reflorestamento de uma área ou, ainda, promover a regeneração natural
de uma determinada vegetação e destiná-la para este fim (artigo 44, I e II da Lei n°
4.771/65).
56
NUSDEO, Ana Maria de Oliveira. Compensação de reserva legal. Revista de Direito Ambiental. São
Paulo: Revista dos Tribunais, n. 48, p. 31, 33 e 41, out.- dez 2007.
57
COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. Proteção jurídica do meio ambiente. Belo Horizonte: Del
Rey, 2003, p. 202-203.
Também é possível compensar a obrigação adquirindo outra área para,
individualmente ou em regime de condomínio, constituir a reserva legal do imóvel rural.
A exigência é que tal área esteja situada no mesmo ecossistema e na mesma microbacia
hidrográfica (artigo 44, III e §4° da Lei n° 4.771/65). A servidão florestal, a aquisição
de Cota de Reserva Florestal (CRF) e a doação de áreas situadas em unidades de
conservação (Lei n° 9.985/2000) também constituem alternativas de compensação de
reserva legal (artigo 44, III, §5°, 44-A e 44-B da Lei n° 4.771/65).
As áreas de reserva legal, após serem devidamente aprovadas pelo órgão
ambiental estadual por meio de vistoria e formalização de termo de compromisso,
deverão ser averbadas junto à matrícula do imóvel no Cartório de Registro de Imóveis
competente, a fim de que seja individualizada, dada publicidade e perenidade à sua
existência, bem como para impedir que lhe seja dada qualquer outra destinação.
Édis Milaré58 ensina que as áreas de preservação permanente e de reserva legal
constituem unidades de conservação atípicas, classificando-as como espaços territoriais
especialmente protegidos em sentido amplo ou latu sensu. As Unidades de Conservação
propriamente ditas (strictu sensu) seriam aquelas arroladas nos artigos 8° e 14 da lei do
Sistema Nacional das Unidades de Conservação (Lei n° 9.985/2000). Pondera, no
entanto, que em razão da relevância para a preservação do meio ambiente e, em especial
dos recursos hídricos, parte da doutrina considera que as áreas de preservação
permanente também se inserem na previsão constitucional do inciso III do § 1° do
artigo 225 da Constituição Federal de 1988.
Ao comentar o Código Florestal de 1934 Osny Duarte Pereira 59 já observava que
as áreas de preservação permanente têm função natural e constituem uma interdição
natural do solo, ressaltando a impossibilidade de indenização do proprietário, pois o
imóvel sempre existiu e foi adquirido com aquelas restrições. Reitera o entendimento de
que exigir a reparação civil pela restrição legal de uso de tais espaços seria o mesmo que
pedir ao poder público uma recompensa pelas áreas agrícolas perdidas com montes
inaproveitáveis, lagoas e banhados, areais, pedreiras, etc.
Este mesmo autor assinala que o artigo 22, incisos “b” e “h” do Código Florestal
de 1934 reforçava a imposição legal de conservação das “florestas protetoras” – antiga
definição legal das áreas de preservação permanente –, uma vez que as mesmas já
58
MILARÉ, Édis. Direito do meio ambiente. 6.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 738-739.
59
PEREIRA, Osny Duarte. 1950, p. 212 apud SILVA, José Afonso. Direito ambiental constitucional. 7.
ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 174-175.
haviam sido especialmente nomeadas e caracterizadas no artigo 4°, incisos “a” a “g” do
código antigo:
60
PEREIRA, Osny Duarte. Direito florestal brasileiro. Rio de Janeiro: Borsoi, 1950, p. 190.
61
BRASIL, Lei n. 4.771 de 15 de setembro de 1965. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em:
09 mar. 2010.
para auxiliar a defesa do território nacional), ambientais (promover o bem estar público,
proteger a fauna e a flora e os sítios de excepcional valor) e, finalmente, manter o
ambiente necessário à vida das populações silvícolas. Vale dizer ainda que as florestas
que integram o patrimônio indígena estão declaradas como de preservação permanente,
por força do § 2° deste mesmo artigo da Lei n° 4.771/65.
Na redação original do Código Florestal, as áreas de preservação descritas no
artigo 2° e no §2° do artigo 3° da Lei n° 4.771/65 dispensavam a edição de qualquer ato
administrativo regulamentador, representando, à semelhança do já destacado artigo 22,
incisos “b” e “h” do antigo Código Florestal 1934, uma lei que conferia proteção
incondicional (ex vi legis) e concreta às áreas de preservação permanente. As demais
áreas de preservação permanente (artigo 3° da Lei n° 4.771/65) continuam a depender
necessariamente da prévia declaração do poder público neste sentido.62
A competência legislativa concorrente em matéria de meio ambiente está
prevista no artigo 24 da Constituição Federal de 1988, permitindo à União, aos Estados
e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre as matérias ligadas diretamente ao
meio ambiente natural, florestas, caça, pesca, fauna, poluição, patrimônio paisagístico,
dano ao meio ambiente, conforme relacionadas nos incisos VI, VII e VIII do referido
artigo.
Paulo Affonso Leme Machado63 adverte que a ação de adicionar, completar e
aprimorar a norma geral Federal faz parte de um federalismo participativo e
cooperativo. Advogar em contrário é praticar um federalismo consentido, em que as
autonomias estaduais não são desejadas, mas tão somente toleradas, acrescentando que
a diversidade é inerente ao federalismo e que admitir o contrário é retroceder ao regime
unitário imperial.
O Código Florestal (Lei n° 4.771/65) é exemplo de norma geral ambiental
federal obrigatória, mas que não exclui a competência dos Estados e o Distrito Federal
legislarem sobre as mesmas matérias desde que não contrariem ou reduzam o nível de
proteção das regras genéricas ali consignadas.
No entanto, a proteção legal do meio ambiente legislada pelos Estados deve
observar o princípio da proibição do retrocesso ecológico, cujo significado prático é a
62
COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. Proteção jurídica do meio ambiente. Belo Horizonte: Del
Rey, 2003, p. 205-205.
63
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Federalismo, amianto e meio ambiente: julgado sobre competência.
In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito constitucional
ambiental brasileiro. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 231.
impossibilidade da legislação editada pelos entes federativos venha a dispensar níveis
de proteção inferiores aos anteriormente consagrados pela legislação federal.64
Foi o que observou, por exemplo, o Estado de Minas Gerais em relação ao
aumento da faixa de proteção da área de preservação permanente do ecossistema
denominado “vereda” (Resolução CONAMA n° 303/2002, artigo 2°, III), uma
ocorrência hidrogeológica característica da geomorfologia do cerrado e de outros
ecossistemas vizinhos. As Leis Estaduais mineiras n° 9.375/1986, 9.682/1988 65,
estabeleceram restrições de forma complementar ao Código Florestal (artigo 2° da Lei
n° 4.771/65), que não só ampliaram como melhor caracterizam morfologicamente os
limites da faixa de mata ciliar a ser preservada ao redor dessa típica área de preservação
permanente.
Por outro lado, as mudanças introduzidas pelo Código Florestal do Estado de
Santa Catarina (Lei Estadual n° 14.675/200966) são flagrantemente inconstitucionais em
relação ao estabelecido na Lei Federal n° 4.771/65 (Código Florestal).
Dentre as inconstitucionalidades do código florestal catarinense observa-se a
redução pela lei estadual da extensão das áreas de preservação permanente existentes
nas propriedades rurais do referido Estado, estabelecidas em trinta metros pelo artigo 2°
da Lei Federal n° 4.771/65, diminuindo-as para cinco metros (artigos 114 a 119 da Lei
Estadual n° 14.675/2009).
Outra irregularidade sancionada pelo código em comento é o critério
incondicional de aproveitamento de 60% das áreas de preservação permanente do
imóvel rural no computo da Reserva Legal florestal das propriedades com área superior
a cinqüenta hectares (artigos 120 a 130 da Lei Estadual n° 14.675/2009). Não bastasse,
a previsão das hipóteses de intervenção nas áreas de preservação permanente é ampliada
para além do disposto na Lei Federal n° 4.771/65, regulamentadas na resolução n°
369/2006 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).
O regime de servidão florestal ou ambiental é instituto que também é
regulamentado pelo Código Florestal brasileiro (artigo 44-A da Lei n° 4.771/65) e pela
Lei n° 6.938/81 (artigo 9°, XIII e 9-A).
64
ARAGÃO, Alexandra. Direito constitucional do ambiente da união européia. In: CANOTILHO, José
Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito constitucional ambiental brasileiro. 2. ed.
São Paulo: Saraiva, 2008. Pág. 37.
65
MINAS GERAIS (Estado). Lei n° 9.375/1986 e Lei n° 9.682/1988. Disponível em:
<www.almg.gov.br>. Acesso em: 26 jan. 2010.
66
SANTA CATARINA (Estado). Lei n. 14.675, de abril de 2009. Disponível em:
<www.sc.gov.br/downloads/Lei_14675.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2010.
A servidão florestal permite que o proprietário de um imóvel que não atenda às
exigências de reserva legal possa adquirir área excedente de outro imóvel que passará a
cumprir o papel de imóvel serviente em favor daquele que será o imóvel dominante. O
instituto é uma oportunidade econômica concedida ao proprietário que preservou área
excedente de vegetação além de sua reserva legal, atendendo a exigência de outro
imóvel. O que justifica tal dispositivo é o fato de que se deve buscar um balanço
florestal mais amplo, no âmbito da bacia hidrográfica de situação da propriedade rural
(artigo 44, III da Lei n° 4.771/65), e não especificamente em cada imóvel.67
José Afonso da Silva68 esclarece que o instituto da servidão ambiental não é uma
servidão típica do direito civil, porque não há uma relação de prédio serviente e prédio
dominante, nem mesmo um vínculo entre uma coisa serviente (o imóvel particular) e
um bem de domínio público (servidão pública). O que se verifica é uma aparência de
servidão, representada entre o bem serviente (a floresta) e o interesse ambiental, que
também ocorre no caso da reserva legal. No entanto, o que se denomina servidão
ambiental é na realidade uma servidão voluntária de floresta, que depende da anuência
do órgão ambiental estadual para concretizar-se.
O mais importante questionamento relacionado à servidão ambiental do Código
Florestal tem a ver com a contradição existente entre a característica perenidade dos
institutos da servidão e da reserva legal quando confrontada com a flexibilidade típica
dos regimes contratuais. Em outras palavras, a questão é a existência de um prazo para a
compensação. Ainda que a servidão florestal seja instituída em caráter permanente, a
relação contratual de arrendamento entre o proprietário da área sob regime de servidão e
o proprietário que dela usufrui não o é, pois a relação contratual será por prazo
determinado ou, se indeterminado, poderá ser denunciado a qualquer tempo pelas partes
contratantes.69
Paulo Roberto Pereira de Souza70 pondera que embora a servidão ambiental
tenha sido usada mais freqüentemente para compensação de reserva legal florestal, pode
67
SOUZA, Paulo Roberto Pereira de. Servidão ambiental. Revista jurídica Cesumar. Maringá: Cesumar.
Ano I, n° 1, p. 139, 2001. Disponível em: <www.cesumar.br>. Acesso em: 24 abr. 2010.
68
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 190.
69
NUSDEO, Ana Maria de Oliveira. Compensação de reserva legal. Revista de Direito Ambiental. São
Paulo: Revista dos Tribunais, n. 48, p. 38, out.- dez 2007.
70
SOUZA, Paulo Roberto Pereira de. A regularidade ambiental do imóvel rural. In: BRAGA FILHO,
Edson de Oliveira; AHMED, Flávio; ACETI JR., Luiz Carlos; MURAD, Samir Jorge; GRAU NETO,
Werner (Coord.). Advocacia ambiental: segurança jurídica para empreender. Rio de Janeiro: Lúmen Júris,
2009, p. 138-139.
ser instituída por qualquer proprietário e também pode ter por objeto qualquer iniciativa
de proteção da natureza.
Art. 8. [...]
I - estabelecer mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para
o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a
ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA.
II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das
alternativas e das possíveis conseqüências ambientais de projetos
públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e
municipais, bem assim a entidades privadas, as informações
indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e
respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa
degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas
patrimônio nacional.
[...]
VII - estabelecer, privativamente, normas critérios e padrões relativos
ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas
ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos.
O Código Florestal (artigo 1º, §2º, inc. IV, alínea “c” e inciso V, alínea “c”)
também atribuiu ao CONAMA ampla liberdade e competência exclusiva para atribuir às
“demais obras, planos, atividades ou projetos”, a classificação de interesse social e
utilidade pública, desde que previstos em resolução.
No entanto, por ocasião da edição da Resolução 369/2006 do CONAMA, que
regulamentou o Código Florestal no tocante aos casos excepcionais de utilidade pública,
interesse social ou baixo impacto ambiental que possibilitam a intervenção ou supressão
de vegetação em APP, diversos Estados federados entenderam que sua competência
concorrente para legislar sobre matéria ambiental teria sido ilegalmente usurpada.
Ainda, segundo tal entendimento71, o dispositivo hábil para regulamentar uma lei
é um decreto regulamentar e não uma resolução do CONAMA, pois o CONAMA teria
apenas uma competência deliberativa, limitada a complementar técnica e
procedimentalmente a lei ou decreto, mas nunca para inovar criando norma mais rígida
ou sanção.
De fato, somente a lei, em sentido formal e também material, pode prever
infrações e estabelecer as correspondentes sanções.
Porém, o que estava por trás de tais interesses, principalmente no Estado de São
Paulo, era a obrigatoriedade de prévia averbação de reserva legal para a concessão da
licença de intervenção de baixo impacto nas APP’s (Resolução 369/2006 do CONAMA
– art° 3° III). O problema das reservas legais no referido Estado permanece insolúvel até
hoje, onde 200 mil das 230 mil propriedades do Estado ou não possuem ou têm reserva
legal abaixo do mínimo legal72.
Também é óbvio que os Estados não estavam dispostos a observar a legislação
ambiental federal para promover o novo mercado das lucrativas intervenções nas APP’s,
razão pela qual o entendimento disseminou-se por todo o país.
Dessa forma, vários Estados preferiram regulamentar a matéria editando leis
estaduais cujo texto seguia rigorosamente a estrutura legal do Código Florestal e da
própria da resolução CONAMA n° 369/2006, adaptando-os aos seus interesses sem,
contudo, caracterizarem-se como mais benéficas. Com a edição da legislação estadual
também se objetivou assegurar aos órgãos ambientais estaduais as prerrogativas da
fiscalização e do licenciamento ambiental de tais áreas de proteção.
No caso de São Paulo, a regulamentação do artigo 4º, § 3° do Código se deu
através do Decreto estadual n° 49.566/2005, legislando sobre o que é considerado como
atividade de baixo impacto ambiental em seu território, além de esclarecer sobre o
procedimento administrativo para intervenção nas APP’s. Como mencionado, a
71
SILVESTRE, Mariel. Intervenções em área de preservação. http://www.celuloseonline.com.br.
Disponível na internet. Acesso 24.03.2009.
72
Informação disponível no site oficial do Governo do Estado de São Paulo:
http://www.saopaulo.sp.gov.br. Acesso em 24.03.2008.
característica mais marcante do Decreto estadual é supressão da exigência de prévia
averbação de reserva legal no imóvel para a concessão da licença de intervenção.
Seguiram a mesma orientação o Estado de Minas Gerais (Lei estadual n°
14.309/2002, Decreto n° 43.710/2004, portaria n° 01/2001 do IEF/MG), o Estado do
Rio Grande do Sul (alteração na Lei estadual n° 9.519/92 – Código Florestal do Estado),
o Estado de Sergipe (Lei estadual n° 4.749/2003, Decreto 13.462/2005) e o Estado de
Tocantins (Lei estadual n° 1.939/2008), dentre vários outros.
O caso do Estado de Tocantins também é emblemático, pois no artigo 3°, inciso
III, “l” da Lei estadual n° 1.939/2008, o legislador protege e estimula a instalação de
ranchos pesqueiros no Estado, autorizando a supressão ou intervenção de baixo impacto
ambiental em APP’s, com o intuito de erguer “pequenas construções, com área máxima
de 190 metros quadrados, utilizadas exclusivamente para lazer e que não contenham
fossas sépticas ou outras fontes poluidoras.”
O município de Belo Horizonte também seguiu o mesmo entendimento ao
legislar por meio do Conselho Municipal do Meio Ambiente – COMAM, com base no
art° 225 da CF e nas competências que lhe conferiram a Lei municipal n° 4.253/85,
editando a Deliberação Normativa n° 57/2007 que “dispõe sobre caso excepcional de
baixo impacto ambiental que autoriza a intervenção ou supressão de vegetação em
APP’s urbanas.”
É inegável que esta iniciativa dos Estados e Municípios busca apenas manter a
exclusividade na autorização das licenças de intervenção nas áreas de preservação
permanente, sem a observância de uma maior consciência ambiental. Teria sido melhor
o legislador não ter liberado a intervenção.
73
SILVA, José Afonso da Silva. Op. cit., pág. 193.
74
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen juris. 4º ed. 2000, pág. 272.
Constituição de 1988, entendimento que também é esposado por Nicolao Dino de
Castro Costa Neto75.
No entanto, há quem entenda que a Constituição Federal não prevê a aplicação
do Código Florestal nas zonas urbanas, pois, consoante o artigo 182 da CF, a tutela do
meio ambiente urbano seria de competência do município. Assim, de acordo com a
norma constitucional, o instrumento legal existente para promover a tutela das APP’s na
zona urbana seria o plano diretor, concebido para organizar o desenvolvimento das
cidades e o bem-estar das populações urbanas76.
Tal entendimento esta embasado nos artigos 1° (§ único) e 2° (inc. XII) do
Estatuto da Cidade (Lei n° 10.257/2001), que estabelecem que o plano diretor
promoverá o equilíbrio ambiental e se encarregará da proteção, recuperação e promoção
do meio ambiente nas zonas urbanas. Dessa forma, a aplicação do Código Florestal em
tais espaços seria subsidiária e estaria restrita àquilo em que houvesse compatibilidade
com o Estatuto.
Não parece ser este o melhor entendimento, pois se o legislador constituinte
desejasse outorgar ao município qualquer competência concorrente para legislar em
matéria ambiental teria consignado expressamente no artigo 24 da CF.
No entanto, reitere-se que frente à existência de um conflito entre normas
regulamentadoras federais, estaduais ou municipais, aplicar-se-á o princípio da
predominância do interesse (veja o item 9.3.5 infra), ressaltando-se novamente que a
legislação ambiental editada pelo município não poderá ser menos restritiva ou menos
protetora em relação às normas estaduais e federais.
A melhor conclusão é que a política ambiental da cidade deve conceber o
elemento ambiental urbanístico como uma necessidade higiênica, de recreação, de
defesa e recuperação do meio ambiente em face da degradação de agentes poluidores,
buscando o bem estar de seus habitantes. A proteção ambiental a que se refere o
Estatuto das Cidades teria como objetivo ordenar a coroa florestal em torno das
aglomerações urbanas, manter os espaços verdes existentes, preservar as áreas verdes
inseridas em meio às habitações, enfim, contribuir para a manutenção de um meio
ambiente saudável onde mais vive e trabalha intensamente o homem77.
75
COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro. Op. cit., pág., 201-202.
76
MORAES, Hélio Mattos de. As áreas de preservação permanente nas zonas urbanas.
http://www.jurisway.org.br. Disponível na internet. Acesso 22.03.2009.
77
SILVA, José Afonso da Silva. Op. cit., pág. 193.
a.2.3) Áreas de preservação permanente litorâneas
b) Inciso IV
78
MOREIRA, Walmor Alves. Decreto federal coloca limites à privatização das praias.
http://www.conjur.com.br. Disponível na internet. Acesso 25.03.2009.
79
GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. São Paulo: Atlas. 2008, p. 327.
80
GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Op. cit., p. 327.
também pedagógicos e encerram um caráter social, posto que exigem a participação da
comunidade para sua aprovação.81
O outro princípio que também está presente neste inciso é o princípio da
integração, pois promove a integração do meio ambiente e as estratégias de ação dos
poderes públicos e da iniciativa privada. 82
A imposição de dar publicidade ao Estudo Prévio de Impacto Ambiental
representa mais do que simplesmente possibilitar a leitura do Estudo ao público, pois
passa o dever do Poder Público de levar o teor de qualquer Estudo ao público.83
O Decreto n° 99.274/90 manteve a competência delegada pelo Decreto n°
88.351/83 ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) para definir o
conceito legal de atividade potencialmente poluidora e para fixar os critérios básicos e
estabelecer as situações em que serão exigidos os estudos de impacto ambiental para
fins de licenciamento de atividades, o que foi disciplinado pela resolução CONAMA n°
001 de 23.01.1986, com as alterações introduzidas pelas resoluções CONAMA n° 011
de 1986 e n° 005 de 1987. 84
O Ministro Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence, em exame de
dispositivo da Constituição do Estado de Santa Catarina, que previa a dispensa do
Estudo Prévio de Impacto Ambiental na hipótese implantação de áreas de florestamento
e reflorestamento de áreas empresariais assim se pronunciou:
c) Inciso V
81
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 6. ed., São Paulo:RT, 2009, p. 167-168.
82
PRIEUR, Michel. 2005, p. 206, apud SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 7.ed.,
São Paulo: Saraiva, 2009, p. 84.
83
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 17.ed., São Paulo: Malheiros, 2009,
p.146.
84
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7ª ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 289-
292.
85
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Ação Declaratória de Inconstitucionalidade n. 1.086-7/SC. Rel.
Min. Ilmar Galvão, j. 7.6.2001, v.u. DJU 10.8.2001, apud MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito
ambiental brasileiro. 17.ed., São Paulo: Malheiros, 2009, p.145.
O inciso V também atribui ao Poder Público o “dever de controlar a produção, a
comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que possam representar
risco à vida, à qualidade de vida e ao meio ambiente”. 86 Este inciso tem estreita relação
com o anterior, na medida em que é necessária a avaliação dos impactos das tecnologias
sobre o meio ambiente.
O dispositivo permite a intervenção do Poder Público nas atividades econômicas
quando estiverem causando degradação do meio ambiente ou importando em risco para
a saúde humana, controlando e incentivando a implantação de novas tecnologias para
reduzir a poluição lançada no meio ambiente. É também a base legal para o
monitoramento, inspeção e auditorias dos métodos e técnicas empregados nos processos
produtivos, como também na comercialização dos produtos. Incluem-se no âmbito da
fiscalização as indústrias de matérias primas até o consumo final, os produtos perigosos
manipulados e os rejeitos sólidos e líquidos dispensados no meio ambiente incluindo,
portanto, quaisquer outros fatores de risco para a saúde humana. 87
A respeito do risco que representam as atividades econômicas, Heline Sivini
Ferreira assinala a novidade do conceito e que a necessidade de seu controle pelo Estado
coincide com a modernidade e com o nascimento da sociedade industrial. Ao priorizar o
desenvolvimento e o crescimento econômico, consolidou-se o surgimento da sociedade
de risco, conceituada como “um espaço no qual se relacionam, de forma instável e
perigosa, os grandes sistemas tecnológicos, a universalização da tecnologia e a
88
globalização da economia e da cultura.”
Portanto, na medida em que a origem do risco decorre diretamente da atividade
humana, justifica-se a escolha de uma alternativa dentre várias possíveis, associando a
gestão dos riscos necessariamente à avaliação das atividades potencialmente causadoras
de degradação ambiental.89
Celso Antonio Pacheco Fiorillo90 entende que este inciso do texto constitucional
se refere notadamente aos agrotóxicos, em face de sua utilização para a manutenção de
padrões de produtividade na agricultura, apesar de comprometerem a saúde humana de
86
BRASIL. Constituição (1988). Lex: Vade mecum de legislação. 7.ed., São Paulo: Ridell, 2008, p. 87.
87
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 7.ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 85-86.
88
FERREIRA, Heline Sivini. Política ambiental constitucional. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes;
LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito constitucional Ambiental brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva,
2008, p. 253.
89
FERREIRA, Heline Sivini. Política ambiental constitucional. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes;
LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito constitucional Ambiental brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva,
2008, p. 253-254.
90
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 10. ed., São Paulo: Saraiva,
2009, p. 278.
forma direta. Acrescenta ainda que os pesticidas alteram de forma indireta a
biodiversidade do solo e das águas.
Em que pese ser a Lei de Agrotóxicos (Lei n° 7.802/89, regulamentada pelo
Decreto n° 4.074/2002), juntamente com a Lei de Biosegurança (Lei n° 11.105/2005),
representarem um avanço no sentido da regulamentação da norma constitucional em
comento, essa deve ser entendida de forma mais ampla, incluindo toda e qualquer
atividade potencialmente comprometedora da integridade do meio ambiente
ecologicamente equilibrado. As atividades de risco devem ser devidamente avaliadas
pelo Poder Público para que possam ser minorados ou afastados os riscos que possam
vir a ter. Como a Constituição não especificou qual a modalidade de riscos que deveria
ser controlada, cabe afirmar que este controle poderá se dar de todas as formas,
inclusive mediante a avaliação prévia das atividades potencialmente poluidoras. 91
Édis Milaré92 confirma o entendimento de que não só as substâncias nocivas
foram proscritas pela norma, mas também todas as técnicas e métodos que provoquem
danos à qualidade de vida e ao meio ambiente, indicando que tecnologias e processos
produtivos obsoletos, inadequados ou impróprios à saúde humana e do meio ambiente
não devem ser produzidos, comercializados ou utilizados.
d) Inciso VI
91
FERREIRA, Heline Sivini. Política ambiental constitucional. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes;
LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito constitucional Ambiental brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva,
2008, p. 252-254.
92
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 6. ed., São Paulo:RT, 2009, p. 169.
93
BRASIL. Constituição (1988). Lex: Vade mecum de legislação. 7.ed., São Paulo: Ridell, 2008, p. 87.
atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso
comum do povo, essencial à qualidade de vida e sua sustentabilidade.” 94
Celso Antonio Pacheco Fiorillo atribui à tarefa de educar ambientalmente cinco
significados primordiais, entre outros:
94
BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, apud FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de
direito ambiental brasileiro. 10. ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 59.
95
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 10. ed., São Paulo: Saraiva,
2009, p. 58.
96
FERREIRA, Heline Sivini. Política ambiental constitucional. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes;
LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito constitucional Ambiental brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva,
2008, p. 260.
97
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 6. ed., São Paulo:RT, 2009, p. 173.
98
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 6. ed., São Paulo:RT, 2009, p. 522-526.
O aspecto formal da educação ambiental se refere à programação do ensino nas
escolas, em todos os graus, seja no ensino privado como no oficial, de forma
interdisciplinar. Mesmo que cada estabelecimento tenha liberdade para propor e aplicar
seu currículo consoante sua realidade específica (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – Lei n° 9.394/96), os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) apresentam
o meio ambiente como um tema que deve permear o conteúdo de todas as disciplinas.
Em seu aspecto não-formal, a educação ambiental se volta para os processos e as
ações de educação fora do ambiente escolar, denominada de “educação permanente”.
Neste contexto, a educação ambiental adquire importância para aperfeiçoar o debate da
população em torno da problemática ambiental, como também para a busca de soluções
práticas para os problemas ambientais de cada comunidade.
99
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 6. ed., São Paulo:RT, 2009, p. 181.
§3° As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.
Por sua vez, o conteúdo do §4° do artigo 225 da Constituição Federal estabelece
que:
100
BRASIL. Constituição (1988). Lex: Vade mecum de legislação. 7.ed., São Paulo: Ridell, 2008, p. 87.
101
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 17.ed., São Paulo: Malheiros, 2009,
p.150.
102
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7ª ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 234.
103
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 7.ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 94.
Assim, o sentido que se vislumbra na expressão patrimônio nacional conforme
grafada no parágrafo em destaque não é o de propriedade federal sobre tais bens, mas de
riqueza nacional que deve ser conservada pelas presentes gerações em favor das futuras,
sem que tal estipulação represente um óbice a sua utilização econômica.105
Terras devolutas são aquelas que não estão destinadas a qualquer uso público
nem está legitimamente integrada ao patrimônio particular. No atual quadro
constitucional as terras devolutas foram mantidas como bens públicos da União (artigo
20, II da CF) e dos Estados (artigo 26, IV da CF) , em razão da origem de seu domínio,
qual seja, sucessivamente a coroa portuguesa, o Império e a República brasileiras.
As terras devolutas, ainda não arrecadadas pela União ou pelos Estados, são
indisponíveis. A indisponibilidade não pressupõe a arrecadação, com julgamento final
da ação de discriminação. Assim as terras devolutas que concorrem para a proteção de
determinado ecossistema serão sempre indisponíveis, por força do mandamento
constitucional, mesmo que ainda não incorporadas ao patrimônio da União em virtude
de ação discriminatória.106
104
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento 677.647-2 –
Amapá. Relator Ministro Eros Grau. Agravante: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis – IBAMA. Agravada: Jarí Celulose S/A. j. 20.05.2008. DJE 06.06.2008. Lex:
Jurisprudência geral civil – STF. Revista dos tribunais. São Paulo: RT, v. 875, p. 94, set. 2008.
105
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 6. ed., São Paulo:RT, 2009, p. 183.
106
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 6. ed., São Paulo:RT, 2009, p. 185-186.
§6° As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua
localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser
instaladas.
107
FREITAS, Vladimir Passos de. A Constituição Federal e a efetividade das normas ambientais. 3.ed.,
São Paulo: RT, 2005, p. 52-55.
de normas gerais e às demais personalidades jurídicas a especificação de condutas
relacionadas com a realidade local.
José Afonso da Silva108 ensina que a repartição de competências entre as
entidades da Federação brasileira é bastante complexa e que a Constituição de 1988
busca realizar o equilíbrio federativo por meio de uma repartição de competências que
primeiro enumera os poderes da União (artigos 21 e 22 da Constituição Federal), depois
os poderes remanescentes aos Estados (artigo 25, §1° da Constituição Federal) e, por
fim, os poderes indicativos aos municípios (artigos 29 e 30 da Constituição Federal).
No entanto, acrescenta que o sistema constitucional combina a reserva de
campos específicos com áreas comuns de competência, em que se prevêem atuações
paralelas de todos os entes da Federação (artigo 23 da Constituição Federal). Há
também as competências concorrentes entre a União e os Estados, em que a
competência para estabelecer as políticas, diretrizes e normas gerais é da União,
deferindo as Estados e aos Municípios a competência suplementar (artigos 24 e 30 da
Constituição Federal).
A repartição de competências legislativas da Constituição Federal de 1988 teve o
claro intuito de descentralizar a proteção ambiental, implicando em um sistema
legislativo complexo, que nem sempre funciona de modo integrado. Eventuais
superposições legislativas fazem com que se fixem padrões ambientais divergentes,
como também que se adotem procedimentos administrativos não uniformes no âmbito
dos órgãos ambientais estaduais.109
Tais dificuldades, à semelhança do caso brasileiro, também são observadas no
modelo norte-americano e têm origem na constatação que os problemas ambientais não
se detêm nas linhas geográficas que separam os Estados da Federação, atravessando
suas fronteiras e causando prejuízos nos Estados vizinhos. Ademais, alguns Estados
federados são nitidamente mais eficientes que outros na proteção do meio ambiente ao
impor maiores restrições que seus congêneres e, dessa forma, favorecem
negligentemente a migração da atividade poluente.110
Cristiane Derani111 aponta que a diversidade do aparelhamento legislativo reflete
não só atividade de política ambiental, mas também o seu conceitual desamparo.
108
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7ª ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 72.
109
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 4.ed., Rio de Janeiro: Lúmen Juris. 2000, p. 60.
110
FINDLEY, Roger W.; FARBER, Daniel A. 1988, p. 199, apud SILVA, José Afonso da. Direito
ambiental constitucional. 7ª ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 72-73.
111
MICHELSEN, Jörg, 1992, p. 26, apud DERANI, Cristiane, Direito Ambiental econômico. 3ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2008, p. 69.
Segundo a autora, protegem-se os bens ambientais evidentemente ameaçados – ar, água,
paisagem – por meio de leis especiais, sem que a legislação considere a relação entre
tais bens e os valores ecológicos e econômicos envolvidos.
Cita o exemplo dos danos que as inúmeras autorizações isoladas de liberação de
dejetos na atmosfera causam às florestas, pois ao fixar os padrões gerais de emissão o
poder público não leva em conta o fator sinergético de todas as autorizações individuais
sobre o meio ambiente, quando consideradas em seu conjunto.
Da mesma forma, esta autora entende que as permissões para o uso de
pesticidas e adubos químicos acabam por patrocinar a ruína das terras cultiváveis e a
contaminação do lençol freático. Explica que as prescrições legais recaem apenas sobre
a composição dos agrotóxicos, sem interferir na possibilidade de seu uso ilimitado,
favorecendo assim o seu acúmulo no meio ambiente. Portanto, demonstra que as normas
ambientais são inócuas quando não procuram uma coordenação para atingir a finalidade
a que se destinam.
114
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7ª ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 76.
115
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 17.ed., São Paulo: Malheiros. 2009,
p. 387.
116
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7ª ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 79.
Assim, o Município não pode legislar sobre água, mas deve aplicar a legislação
federal de águas no ordenamento do território municipal.117
No tocante ao meio ambiente natural, encontramos a competência comum de
todos os entes federados para sua proteção e para o combate à poluição em qualquer de
suas formas (inciso VI), como também para preservar as florestas, fauna e a flora (inciso
VII). Essa competência está voltada para a execução das diretrizes, políticas e preceitos
relativos à proteção ambiental, conforme delineadas na lei da Política Nacional do Meio
Ambiente (Lei n° 6.938/81).
A competência administrativa de natureza comum é uma imposição
constitucional para que os diversos integrantes da Federação atuem em cooperação
administrativa recíproca, visando a proteção do bem ambiental. 118 Esta cooperação
administrativa tem em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar, em âmbito
nacional, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.119
A edição de normas materiais de cooperação por meio de lei complementar foi
expressamente prevista no parágrafo único do artigo 23 da Constituição Federal de
1988, mas nunca foi concretizada. Em face da inexistência de lei complementar, a
doutrina considera que o artigo em comento tem eficácia plena e que a atuação conjunta
dos entes federativos é possível em qualquer hipótese, desde que respeitados seus
limites territoriais. A norma regulamentadora viria somente para indicar a maneira pela
qual se daria a cooperação entre os entes da federação.120
Na ausência de tais normas, eventual conflito na atuação administrativa dos
Municípios, do Distrito Federal, dos Estados ou da União tem sido resolvido pela
aplicação do artigo 76 na Lei n° 9.605/98, que trata das sanções penais e administrativas
consideradas lesivas ao meio ambiente. Conforme se depreende da leitura do citado
artigo, o pagamento de multa imposta pelos demais entes federativos substitui a multa
federal na mesma hipótese de incidência.121
Na interpretação do artigo 23 da Constituição Federal de 1988 prevaleceu
durante certo tempo o entendimento de que cada ente federativo só teria legitimidade
117
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 17.ed., São Paulo: Malheiros. 2009,
p. 392.
118
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 4.ed., Rio de Janeiro: Lúmen Juris. 2000, p. 62.
119
CRETELLA Jr., José. 1991, p. 1740-1741, apud ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 4.ed.,
Rio de Janeiro: Lúmen Juris. 2000, p. 62.
120
VITTA, Heraldo Garcia. 1998, p. 93-101, apud FERREIRA, Heline Sivini. Competências ambientais.
In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito constitucional
Ambiental brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 217.
121
SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de direito ambiental. 7.ed., São Paulo: Saraiva. 2009, p. 125.
para aplicar as normas ambientais por ele editadas, não podendo aplicar normas de
outros entes federativos.122
Contudo, há casos específicos em que a competência administrativa comum dá
ensejo a aplicação de legislação por uma pessoa política distinta daquela que editou a
norma, conforme se destaca nos exemplos abaixo:
125
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Federalismo, amianto e meio ambiente: julgado sobre
competência. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito
constitucional Ambiental brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 227.
126
SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de direito ambiental. 7.ed., São Paulo: Saraiva. 2009, p. 120-122.
sobre normas gerais (artigo 24, §1°) e os Estados e o Distrito Federal sobre normas
específicas, de forma suplementar (artigo 24, §2°).
No entanto, também observa o autor que o excessivo detalhamento das normas
federais deixa pouco ou nenhum espaço para que os demais entes autorizados possam
legislar. Acrescenta que somente no caso de ausência de norma federal poderão os
Estados e o Distrito Federal legislar plenamente, até que a União venha a fazê-lo (artigo
24, §3° e §4°).
No caso do §4° do artigo 24 da Constituição Federal de 1988, a lei federal
superveniente não revoga nem derroga a lei estadual, que fica com sua eficácia suspensa
até que a lei federal venha a ser revogada.127
Um eventual conflito de normas será resolvido pelo critério de maior hierarquia
do órgão legislador. A invasão de competências da União pelos Estados ou pelo Distrito
Federal, ou vice-versa, enseja o controle de constitucionalidade difuso ou concentrado.
Caso seja identificado um conflito entre legislações federais e estaduais, mesmo
observando seus respectivos campos de atuação, deverá predominar aquela norma mais
restritiva (in dúbio pro natura), uma vez que se busca a satisfação da proteção de um
interesse público, ou seja, o direito fundamental ao meio ambiente sadio e
equilibrado.128
Vale a pena ilustrar a interpretação desse artigo pela análise do caso concreto
envolvendo a legislação do amianto no Brasil.
O amianto é o nome comercial de um silicato natural, que devido conter
propriedades comprovadamente cancerígenas teve sua substituição recomendada pela
Convenção n° 162 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 04.06.1986,
devidamente ratificada pelo Brasil (Decreto n° 126/1991). Posteriormente, a Lei Federal
n° 9.055/95 proibiu totalmente alguns tipos de amianto no território nacional e tratou
dos diversos aspectos relacionados ao amianto do tipo crisotila, única espécie
encontrada no Brasil. Esta lei federal disciplinou a lavra do amianto crisotila desde sua
extração até sua industrialização, mas não eliminou completamente sua utilização e
comercialização no Brasil. Alguns anos mais tarde o Estado do Mato Grosso do Sul
editou a Lei Estadual n° 2.210/2001, que vedou a utilização e estabeleceu a proibição de
127
SILVA, José Afonso. 1995, p. 477, apud GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. São
Paulo: Atlas. 2008, p. 83.
128
FERREIRA, Heline Sivini. Competências ambientais. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes;
LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito constitucional Ambiental brasileiro. 2ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2008, p. 216.
qualquer atividade relacionada ao amianto – inclusive do tipo crisotila – em seu
território. 129
O Governo do Estado de Goiás, onde se encontra instalada uma grande indústria
mineradora do silicato (Minuaçu/GO), propôs Ação Direta de Insconstitucionalidade da
lei mato-grossense, resultando no seguinte entendimento geral do Supremo Tribunal
Federal, cuja ementa é abaixo transcrita:
129
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Federalismo, amianto e meio ambiente: julgado sobre
competência. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito
constitucional Ambiental brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 220-222.
cautelar. 8. Medida liminar parcialmente deferida para suspender a
eficácia do artigo 1°, §§ 1°, 2° e 3°, do art.° 2°, do art.° 3°, §§1º e 2° e
do parágrafo único do art. 5°, todos da Lei n° 2.210/01, do estado do
Mato Grosso do Sul, até o julgamento final da presente ação
declaratória de inconstitucionalidade.130
130
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Medida Cautelar na Ação Declaratória de Inconstitucionalidade
n. 2396 MC/MS, Tribunal Pleno, julgamento 26.09.2001, rel. Min. Ellen Gracie, DJ 14.12.2001.
Requerente: Governador do Estado de Goiás; Requerido: Governador do Estado do Mato Grosso do Sul.
Disponível em http://www.stf.jus.br. Acesso em 26 jan. 2010.
131
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Federalismo, amianto e meio ambiente: julgado sobre
competência. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito
constitucional Ambiental brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 228-231.
132
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2656/SP, Tribunal Pleno,
julgamento 08.05.2003, rel. Min. Maurício Corrêa. DJ 01.08.2003. Requerente: Governador do Estado de
Goiás; Requerido: Governador do Estado de São Paulo. Disponível em http://www.stf.jus.br. Acesso em
26 jan. 2010.
É importante lembrar que a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n°
6.938/81) pressupõe o exercício da competência ambiental dos Estados ao mencioná-la
expressamente no §1° do artigo 6°. Este dispositivo estatui que os Estados, no âmbito de
sua jurisdição, elaborarão normas na esfera de suas competências supletivas e
complementares e dos padrões relacionados com o meio ambiente, observados aqueles
que forem estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente. A Lei n° 6.902/81
(Estações ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental) e a Lei n° 7.661/88 (Plano
Nacional de Gerenciamento Costeiro) também não excluem a competência estadual na
matéria.133
As agências ambientais estaduais e municipais foram constituídas, bem como
regulamentam sua atuação com base no artigo 6° da Lei n° 6.938/81 (Lei da Política
Nacional do Meio Ambiente).
Contudo, a proteção legal do meio ambiente legislada pelos Estados deve
observar o princípio da proibição do retrocesso ecológico, cujo significado prático é a
impossibilidade da legislação editada pelos entes federativos venha a dispensar níveis
de proteção inferiores aos anteriormente consagrados pela legislação federal. 134
Foi o que observou, por exemplo, o Estado de Minas Gerais em relação ao
aumento da faixa de proteção da área de preservação permanente do ecossistema
denominado “vereda”, ocorrência hidrogeológica característica da geomorfologia do
cerrado e de outros ecossistemas vizinhos. As Leis Estaduais mineiras n° 9.375/1986,
9.682/1988135, estabeleceram restrições de forma complementar ao Código Florestal
(artigo 2° da Lei n° 4.771/65), que não só ampliaram como melhor caracterizam
morfologicamente os limites da faixa de mata ciliar a ser preservada ao redor dessa
típica área de preservação permanente.
No entanto, as mudanças introduzidas pelo Código Florestal Estado de Santa
Catarina (Lei Estadual n° 14.675/2009136) são flagrantemente inconstitucionais em
relação ao estabelecido na Lei Federal n° 4.771/65 (Código Florestal).
Dentre as inconstitucionalidades do código florestal catarinense observa-se a
redução pela lei estadual da extensão das áreas de preservação permanente existentes
133
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7ª ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 78-79.
134
ARAGÃO, Alexandra. Direito constitucional do ambiente da União Européia. In: CANOTILHO, José
Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito constitucional Ambiental brasileiro. 2ª ed.
São Paulo: Saraiva. 2008. Pág. 37.
135
MINAS GERAIS (Estado). Lei n° 9.375/1986 e Lei n° 9.682/1988. Disponíveis em www.almg.gov.br.
Acesso em 26 jan. 2010.
136
SANTA CATARINA (Estado). Lei n. 14.675, de abril de 2009. Disponível em
www.sc.gov.br/downloads/Lei_14675.pdf. Acesso em 26 jan. 2010.
nas propriedades rurais do referido Estado, estabelecidas em trinta metros pelo artigo 2°
da Lei Federal n° 4.771/65, diminuindo-as para cinco metros (artigos 114 a 119 da Lei
Estadual n° 14.675/2009).
Outra irregularidade é o critério geral de aproveitamento de 60% das áreas de
preservação permanente no computo da Reserva Legal florestal das propriedades com
área superior a cinqüenta hectares (artigos 120 a 130 da Lei Estadual n° 14.675/2009).
Não bastasse, a previsão das hipóteses de intervenção nas áreas de preservação
permanente é ampliada para além do disposto na Lei Federal n° 4.771/65,
regulamentadas na resolução n° 369/2006 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA).
Portanto, os Estados e o Distrito Federal possuem apenas a competência
comum e a competência concorrente, estabelecidas respectivamente nos artigos 23 e 24
da Constituição Federal de 1988.