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DIREITO DO AMBIENTE

Noções e origens. Direito


constitucional, europeu e
internacional

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Direito Constitucional do Ambiente
A Constituição de 1822 (art. 223.º/V) dizia para as
Câmaras Municipais procederem ao plantio de árvores
nos terrenos de sua pertença – mais incentivo rural do
que o embrião de preocupações ambientais.
A Carta (1826), os Atos Adicionais (1852) e a Constituição
de 1911 representaram a mesma lógica bucólica,
paisagística e agrícola
Quase um século depois, a Const. de 1933 (art. 52.º)
falava em “protecção dos monumentos naturais” – mais
interesses estéticos e culturais do que ambientais.
Só com a actual CRP de 1976, no art. 66.º, se
constitucionalizou o Ambiente pela primeira vez no seu
sentido próprio (aproximadamente).
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Direito internacional do Ambiente
Nos EUA – NEPA, National Environment Policy Act
(1969), adoptado por alguns Estados federados mas
não pela Constituição Federal
Na Alemanha a protecção ambiental vem da mesma
altura mas só foi constitucionalizada em 1994
No Brasil, a Lei 6.938, que foi exemplo para muitas
ordens jurídicas – constitucionalização em 1988 (art.
225.º)
A França seguiu um percurso distinto: lei de valor
reforçado (2004) com 10 princípios fundamentais
(Decálogo), Charte de l'environnement, que foi
constitucionalizada em 2005 3
Direito Constitucional do Ambiente
Portugal:
Na versão original o ambiente já estava consagrado como
bem jurídico mas só com a revisão de 1982 se dá dimensão
ao art. 66.º inserindo a “protecção ambiental” como tarefa
fundamental do Estado no art. 9.º (Princípios
Fundamentais), alíneas d) e e):
“Artigo 9.º
(Tarefas fundamentais do Estado)
d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a
igualdade real entre os portugueses, bem como a
efectivação dos direitos económicos e ambientais,
mediante a transformação e modernização das estruturas
económicas e sociais;

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Direito Constitucional do Ambiente
e) Proteger e valorizar o património cultural do povo
português, defender a natureza e o ambiente, preservar
os recursos naturais e assegurar um correcto
ordenamento do território;”.
Momentos referenciais:
Em 1986, Portugal adere às (então) Comunidades

Europeias (hoje UE) num momento em que o


Ambiente se começa a destacar enquanto
preocupação social primordial
Em 1987 surge a primeira Lei de Bases do Ambiente –

Lei 11/87, de 7 de Abril


Em 2014 surge a segunda LBA – Lei n.º 19/2014, de 14

de abril (hoje em vigor)


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Direito Constitucional do Ambiente
O art. 66.º, precursor a nível europeu, foi revisto em 1989 e
em 2003 – nunca o foi de modo satisfatório…
Hoje, o art. 66.º está na PARTE I - Direitos e deveres
fundamentais, TÍTULO III - Direitos e deveres económicos,
sociais e culturais, CAPÍTULO II - Direitos e deveres sociais:
“Artigo 66.º
(Ambiente e qualidade de vida)
1. Todos têm direito a um ambiente de vida humano,
sadio e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender.
2. Para assegurar o direito ao ambiente, no quadro
de um desenvolvimento sustentável, incumbe ao Estado,
por meio de organismos próprios e com o envolvimento e a
participação dos cidadãos:
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Direito Constitucional do Ambiente
(cont.)
“a) Prevenir e controlar a poluição e os seus efeitos e as formas
prejudiciais de erosão;
b) Ordenar e promover o ordenamento do território, tendo em
vista uma correcta localização das actividades, um equilibrado
desenvolvimento sócio-económico e a valorização da paisagem;
c) Criar e desenvolver reservas e parques naturais e de recreio,
bem como classificar e proteger paisagens e sítios, de modo a
garantir a conservação da natureza e a preservação de valores
culturais de interesse histórico ou artístico;
d) Promover o aproveitamento racional dos recursos naturais,
salvaguardando a sua capacidade de renovação e a
estabilidade ecológica, com respeito pelo princípio da
solidariedade entre gerações;”
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Direito Constitucional do Ambiente
(cont.)
“e) Promover, em colaboração com as autarquias locais,
a qualidade ambiental das povoações e da vida urbana,
designadamente no plano arquitectónico e da protecção
das zonas históricas;
f) Promover a integração de objectivos ambientais nas
várias políticas de âmbito sectorial;
g) Promover a educação ambiental e o respeito pelos
valores do ambiente;
h) Assegurar que a política fiscal compatibilize
desenvolvimento com protecção do ambiente e
qualidade de vida.”
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Direito Constitucional do Ambiente
Art. 66.º é uma “retórica simbólica, politicamente correcta”
(CARLA AMADO GOMES, 2008) sem grandes efeitos práticos e
que gera confusões.
A boa interpretação do preceito constitucional (atualista)
resulta da interpretação sistemática com:
1. Tratados e Convenções internacionais ambientais de
que Portugal faz parte;
2. Bloco de legalidade do direito europeu em matéria
ambiental (neste momento, sobretudo com a Lei
Climática Europeia e o PEC de onde esta brotou);
3. LBA de 2014.
Mas seria bom o aperfeiçoamento e actualização das regras
constitucionais.
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Direito Constitucional do Ambiente
O nº 1 do art. 66.º da CRP está imerso numa
“errância conceptual” (CARLA AMADO GOMES
“Constituição e Ambiente: errância e simbolismo”,
2008)
Trata-se de uma noção antropocêntrica: ambiente
seria sempre uma noção conexionada com o bem-
estar das pessoas.
A tendência actual é uma vertente impositiva:
cada cidadão tem deveres (diferenciados por
actividade) em razão do seu impacto no ambiente
– lógica da Charte Constitutionelle de
l’Environnement (2005).
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Direito Constitucional do Ambiente
O nº 2 é um conjunto de normas imprecisas,
amalgamadas, e que confunde a resposta aos
conceitos essenciais:
Indefinição do bem jurídico ‘Ambiente’;
GOMES CANOTILHO: “não é AMBIENTE é
AMBIANCE…”
VASCO PEREIRA DA SILVA, (Verde, Cor do
Direito, 2002), afirma que uma revisão
constitucional clarificadora destes conceitos
ambientais é urgente…

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Visão antropocêntrica e ecocêntrica
GOMES CANOTILHO considera que o texto
constitucional ainda padece de uma pré-
compreensão antropocêntrica do ambiente, na
qual se deve proteger a Natureza por esta
constituir um bem instrumental para o Homem
poder dela usufruir
Urge superar essa visão para se passar a uma
pré-compreensão ecocêntrica em que o
ambiente é um fim em si mesmo e cujo
pressuposto e fundamento seja a “consideração
valorativa do Homem enquanto parte integrante
da Natureza” 12
Artigo 191.º, TL
(ex-artigo 174.º TUE)
1. A política da União no domínio do ambiente contribuirá
para a prossecução dos seguintes objectivos:
– a preservação, a protecção e a melhoria da qualidade
do ambiente,
– a protecção da saúde das pessoas,
– a utilização prudente e racional dos recursos naturais,
– a promoção, no plano internacional, de medidas
destinadas a enfrentar os problemas regionais ou
mundiais do ambiente, e designadamente a combater as
alterações climáticas.
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TL - Artigo 192.º, nº 2
(ex-artigo 175.º, TUE)
2. Em derrogação do processo de decisão previsto no n.º 1 e sem prejuízo do
disposto no artigo 114.º, o Conselho, deliberando por unanimidade, de acordo
com um processo legislativo especial e após consulta ao Parlamento Europeu,
ao Comité Económico e Social e ao Comité das Regiões, adoptará:
a) Disposições de carácter fundamentalmente fiscal;
b) As medidas que afectem:
– o ordenamento do território,
– a gestão quantitativa dos recursos hídricos ou que digam respeito, directa ou
indirectamente, à disponibilidade desses recursos,
– a afectação dos solos, com excepção da gestão dos lixos;
c) As medidas que afectem consideravelmente a escolha de um Estado-Membro
entre diferentes fontes de energia e a estrutura geral do seu aprovisionamento
energético.

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Artigo 192.º, nº 3, TL
(ex-artigo 174.º TUE)
3. Na elaboração da sua política no domínio do ambiente, a
União terá em conta:
– os dados científicos e técnicos disponíveis,
– as condições do ambiente nas diversas regiões da
União,
– as vantagens e os encargos que podem resultar da
actuação ou da ausência de actuação,
– o desenvolvimento económico e social da União no seu
conjunto e o desenvolvimento equilibrado das suas
regiões.
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Artigo 193.º
(ex-artigo 176.º TUE)
As medidas de protecção adoptadas por
força do artigo 192.º não obstam a que
cada Estado-Membro mantenha ou
introduza medidas de protecção
reforçadas. Essas medidas devem ser
compatíveis com os Tratados e serão
notificadas à Comissão.

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