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CONSTITUIÇÃO E

PRINCÍPIOS DE
DIREITO DO
AMBIENTE
Lei de Bases do Ambiente - Lei n.º
19/2014, de 14 de Abril
(LBA)

Carlos Abreu Amorim 2022 - 2023 1


 Portugal:

 Na versão original o Ambiente já estava


consagrado como bem jurídico mas só com a
revisão de 1982 se dá dimensão ao art. 66.º
inserindo a “protecção ambiental” como tarefa
fundamental do Estado no art. 9.º (Princípios
Fundamentais), alíneas d) e e):
“Artigo 9.º
Direito
(Tarefas fundamentais do Estado) Constitucional
d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a do Ambiente
igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação
dos direitos económicos e ambientais, mediante a
transformação e modernização das estruturas económicas e
sociais;

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Direito Constitucional do Ambiente
Em 1986, Portugal adere às (então)
Comunidades Europeias (hoje UE) num
momento em que o Ambiente se
começa a destacar enquanto
e) Proteger e valorizar o património preocupação social primordial
cultural do povo português,
defender
a natureza e o ambiente, preservar
os recursos naturais
e assegurar um
correcto ordenamento do território
;”.
Em 1987surge aprimeira Lei de
Bases do Ambiente
(LBA) – Lei 11/87,
de 7 de Abril

Momentos referenciais:

Em 2014surge asegunda LBA – Lei n.º


19/2014, de 14 de abril (hoje em
vigor)

Em 2021(último dia) surgeLei


a de
Bases do Clima
– Lei n.º 98/21, de
31/12

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Direito Constitucional do Ambiente
O art. 66.º, precursor a nível europeu, foi revisto em 1989 e em 2003 – nunca
o foi de modo satisfatório…
 Hoje, o art. 66.º está na PARTE I - Direitos e deveres fundamentais,
TÍTULO III - Direitos e deveres económicos, sociais e culturais,
CAPÍTULO II - Direitos e deveres sociais:
“Artigo 66.º
(Ambiente e qualidade de vida)
1. Todos têm direito a um, sadio eambiente de vida humano
ecologicamente equilibrado e o dever de o defender.
2. Para assegurar o direito ao ambiente, no quadro de um desenvolvimento
sustentável, incumbe ao Estado, por meio de organismos próprios e com o
envolvimento e a participação dos cidadãos:

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Direito Constitucional do Ambiente
(cont.)

 “a) Prevenir e controlar a poluição e os seus efeitos e as formas prejudiciais


de erosão;
 b) Ordenar e promover o,ordenamento do território tendo em vista uma
correcta localização das actividades, um equilibrado desenvolvimento sócio-
económico e a valorização da paisagem;
 c) Criar e desenvolver reservas e parques naturais e de recreio, bem como
classificar e proteger paisagens e sítios, de modo a garantir a conservação da
natureza e a preservação de valores culturais de interesse histórico ou
artístico;
 d) Promover o aproveitamento racional dos recursos naturais, salvaguardando
a sua capacidade de renovação e a estabilidade ecológica, com respeito pelo
princípio da solidariedade entre gerações;”
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Direito Constitucional do Ambiente
(cont.)

“e) Promover, em colaboração com as autarquias locais, a


qualidade ambiental das povoações e da vida urbana,
designadamente no plano arquitectónico e da protecção
das zonas históricas; f) Promover a integração de
objectivos ambientais nas várias políticas de âmbito
sectorial;
g) Promover a educação ambiental e o respeito pelos
valores do ambiente;

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h) Assegurar que a política fiscal compatibilize
desenvolvimento com protecção do ambiente e
qualidade de vida.”
Direito Constitucional do Ambiente

O nº 1 do art. 66.º da CRP está imerso numa “errância conceptual” (CARLA


AMADO GOMES “Constituição e
Ambiente: errância e simbolismo”, 2008)

Trata-se de uma noção antropocêntrica: ambiente seria sempre uma


noção conexionada com o bem-estar das pessoas.

A tendência actual é uma vertente impositiva: cada cidadão tem deveres (diferenciados
por actividade) em razão do seu impacto no ambiente – lógica da Charte Constitutionelle de
l’Environnement (2005).
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Visão antropocêntrica e ecocêntrica

GOMES CANOTILHO considera que o texto constitucional ainda padece


de uma pré-compreensão antropocêntrica do ambiente, na qual se deve
proteger a Natureza por esta constituir um bem instrumental para o
Homem poder dela usufruir

Urge superar essa visão para se passar a uma pré-compreensão ecocêntrica


em que o ambiente é um fim em si mesmo e cujo pressuposto e
fundamento seja a “consideração valorativa do
Homem enquanto parte integrante da Natureza”

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Direito Constitucional do Ambiente

Art. 66.º é uma “retórica simbólica, politicamente correcta” (CARLA


AMADO GOMES, 2008) sem grandes efeitos práticos e que gera

confusões. (atualista) resulta da


interpretação
sistemática com:
Tratados e Convenções internacionais ambientais de que Portugal faz parte;
A boa interpretação do Bloco de legalidade do direito europeu em matéria ambiental (neste
momento, sobretudo com a Lei Climática Europeia e o Pacto Ecológico
preceito constitucional Europeu de onde esta brotou);

LBA de 2014.

Mas seria bom o aperfeiçoamento e actualização das regras


constitucionais.

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1. Em 1986, Portugal adere às (então)
Comunidades Europeias (hoje UE)
num momento em que o Ambiente se
começa a destacar enquanto Momentos
preocupação social referenciais do
primordial Direito do
2. Em 1987 surge a primeira Lei de Ambiente
Bases do Ambiente (LBA) – Lei português:
11/87, de 7 de Abril

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3. Em 2014 surge a segunda LBA – Lei n.º
19/2014, de 14 de abril (hoje em vigor)
4. Em 2021 (último dia) surge a Lei de Bases do Clima – Lei
n.º 98/21, de 31/12
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UMA CONSTITUIÇÃO QUE FICOU PARA
TRÁS…
A Constituição ambiental portuguesa (art. 66.º), apesar de precursora em 1976,
cedo se viu desatualizada face à evolução das lógicas e perceções do direito
internacional e europeu do ambiente.

Bem como perante acrescente consciencialização dos cidadãos


em
matérias de proteção do ambiente.

Tentou-se colmatar essa divergência com em 1987, logo depois da adesão de


Portugal às então Comunidades Europeias (1986), com a primeira Lei de Bases
do Ambiente – Lei 11/87, de 7 de Abril.
DESARTICULAÇÃO ENTRE A CRP E A NOVA
ÁREA DO DIREITO EMERGENTE
A ideia primordial era a de alcançar uma revisão constitucional capaz e coerente – contudo, nunca se
conseguiu o consenso político suficiente, nem na revisão de 1989 nem na de 1997.

A legislação portuguesa de ambiente foi-se construindo sob o guarda-chuva da LBA e, sobretudo, à custa
dos contributos do direito europeu e dos Tratados, Convenções e Declarações internacionais que Portugal
subscreveu ou foi parte.

Outros países, europeus ou não, tiveram o mesmo problema: desarticulação entre as bases constitucionais e
uma nova área do direito, transversal e disruptiva, que se ia construindo a uma velocidade vertiginosa.

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A primeira Lei de Bases do Ambiente, Lei n.º 11/87,
de 7 de Abril, foi um esforço nesse sentido mas
também ela cedo careceu de atualizações que
tornassem a ordem jurídica ambiental coerente e
eficaz.

Até 2014 o direito português conheceu três


compreensões logicamente distintas e divergentes do
direito do ambiente: a constitucional, a legislação LBA DE 1987 - A
ordinária e a internacional e europeia.
PRINCIPIOLOGIA
Claro que as leis e regulamentos nacionais, quanto ao ATUALIZADA
seu conteúdo material, foram decisivamente
influenciados pelos direito internacional e, sobretudo
pelo direito europeu originário e derivado.
A LBA DE 2014 - Lei n.º 19/2014

É com esses propósitos que surgiu em


a 2014
segunda LBA, Lei n.º 19/2014, de 14 de Abril

Está estruturada da seguinte forma:


Princípios das
Princípios Direitos e Instrumentos
Objetivos (art. políticas Âmbito (arts. Conciliação
materiais (art. deveres (arts. (arts. 14.º
-
2.º) públicas (art. 9.º - 12.º
) (art. 13.º
)
3.º) 5.º - 8.º
) 22.º).
4.º)

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“Art. 2.º Objetivos da política de ambiente

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(bases e prismas interpretativos de todos os princípios)

1 - A política de ambiente visa a efetivação dos direitos


ambientais através da, promoção do desenvolvimento sustentável
suportada na gestão adequada do ambiente, em particular dos ecossistemas e
dos recursos naturais, contribuindo para o desenvolvimento de uma
sociedade de baixo carbono e uma «economia verde», racional e eficiente na
utilização dos recursos naturais, que assegure o bem-estar e a melhoria
progressiva da qualidade de vida dos cidadãos.
2 - Compete ao Estado a realização da política de ambiente,
tanto através da ação direta dos seus órgãos e agentes nos
diversos níveis de decisão local, regional, nacional, europeia e
internacional, como através da mobilização e da coordenação
de todos os cidadãos e forças sociais, num processo
participado e assente no pleno exercício da cidadania
ambiental.
 Tarefa fundamental do Estado cfr. CRP art.
9.º, alíneas d) / e). “Art. 2.º
O Estado mobiliza e coordena a cidadania ambiental –
eventual paradoxo.
Objetivos da
 A defesa e a proteção do ambiente constitui um dever de política de
todos nas suas ações pessoais, profissionais, privadas ou
públicas, e em todos os âmbitos de atuação de qualquer
ambiente
um.

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O art. 3.º faz um elenco dos princípios materiais do
ambiente fundamentais:  P. do Desenvolvimento
Sustentável;
 P. da Responsabilidade intra e intergeracional;
 P. da Prevenção e da Precaução;
 P. do Poluidor-Pagador; Artigo 3.º
 P. do Utilizador-Pagador;
Princípios
 P. da Responsabilidade;
materiais de
 P. da Recuperação
ambiente
Artigo 3.º
Princípios materiais de ambiente

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A atuação pública em matéria de ambiente está subordinada, nomeadamente, aos
seguintes princípios:
a) Do desenvolvimento sustentável, que obriga à satisfação das necessidades do
presente sem comprometer as das gerações futuras, para o que concorrem: a
preservação de recursos naturais e herança cultural, a capacidade de produção dos
ecossistemas a longo prazo, o ordenamento racional e equilibrado do território com
vista ao combate às assimetrias regionais, a promoção da coesão territorial, a produção
e o consumo sustentáveis de energia, a salvaguarda da biodiversidade, do equilíbrio
biológico, do clima e da estabilidade geológica, harmonizando a vida humana e o
ambiente;

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Artigo 3.º Princípios materiais de ambiente
Princ. do desenvolvimento sustentável
É um dever ambiental imputado aos Visa a conciliação/harmonização do
(Decl. de Estocolmo de 1972; Carta da
Natureza de Estados no desenvolvimento de todas desenvolvimento económico com a
1982, Rio 1992, CRP art. 66.º/2); as suas políticas públicas. preservação do ambiente

Na LBA surge com a base e prisma


interpretativo de todos os princípios
seguintes, Obriga à fundamentação ecológica das
particularmente o da decisões económicas – serão
“responsabilidade intergeracional” inconstitucionais as decisões muito
(com o qual gravosas para o ambiente.
quase confunde na interpretação
literal da norma)
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Artigo 3.º
Princípios materiais de ambiente
(críticas)
 Carla Amado Gomes (Introdução ao direito do ambiente, 4.ª ed.,
Lisboa 2018) faz uma crítica severa a esta seleção:
1. Porque o princípio primordial deveria ser o da Prevenção;
2. Porque o P. do Desenvolvimento Sustentável é difuso e seria
uma mera “equação de ponderação circunstanciada e
conjuntural do interesse de preservação ambiental (…)
destituída de condições de operacionalização real”;
3. Porque o momento presente exige um novo princípio, o da
Sustentabilidade (ambiental e dos recursos, dividido em
sustentabilidade ecológica e social), uma evolução daquele;
4. Porque o P. da Responsabilidade intra e intergeracional está a
ser posto em causa - “impossibilidade conceptual”.
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Artigo 3.º de ambiente Responsabilidade intra e


Princípios intergeracional
materiais
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 Tudo o que fazemos, as nossas ações que
b) Da afetam o ambiente, a nossa pegada
responsabilidade
intra e repercute-se na qualidade ambiental
intergeracional, das gerações futuras;
que obriga à  Assim, as nossas ações individuais, bem
utilização e ao como as políticas públicas, deverão ser
aproveitamento sempre pautadas pela ideia do menor
dos recursos
naturais e dano futuro possível;
humanos de uma  Implica a não assunção de projetos
forma racional e benéficos a curto/médio prazo mas
equilibrada, a potencialmente perigosos no futuro (ex.
fim de garantir a nuclear).
sua preservação
para a presente e 21
futuras gerações;

(cont.) Responsabilidade intra e intergeracional


“Deveres formulados num juízo comparativo entre a qualidade ambiental de que beneficia
a geração atual e aquela que está obrigada a manter para a geração futura”:

Manutenção da possibilidade de Garantia do acesso futuro não-


Conservação da qualidade dos
escolha da geração futura quanto discriminatório a esses recursos
recursos naturais
à utilização dos recursos naturais naturais.

(Heloísa Oliveira,
Tratado
… coord. Carla Amado Gomes)

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Artigo 3.º
Princípios materiais de ambiente
Prevenção / Precaução
c) Da prevenção e da precaução, que obrigam à adoção de
medidas antecipatórias com o objetivo de obviar ou minorar,
prioritariamente na fonte, os impactes adversos no ambiente,
com origem natural ou humana, tanto em face de perigos
imediatos e concretos como em face de riscos futuros e
incertos, da mesma maneira como podem estabelecer, em caso
de incerteza científica, que o ónus da prova recaia sobre a parte
que alegue a ausência de

perigos ou riscos Carlos Abreu Amorim 2022 - 2023 ; (explicar)


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antecipação de situações
Artigo 3.º potencialmente perigosas, naturais ou
Princípios humanas, que ponham em risco o
ambiente. Visa a adoção dos meios
materiais de antecipatórios adequados para afastar
a verificação do perigo (torna
ambiente insuficiente a mera reação).
Prevenção visa o acontecimento
Prevenção / incerto na eclosão e nas
consequências.
Precaução  sentido restrito: evitar perigos imediatos e
concretos;

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 sentido amplo: afastar riscos futuros.
 P. da  Obriga o Estado a uma antecipação
Prevenção proativa – “prioritariamente na fonte”
– (art. 191.º/2 TFUE), exige um juízo de
capacidade prognose administrativa
de (discricionariedade, teoria da folga), i.e.
24
um juízo
probabilístico

Artigo 3.º
Prevenção / Precaução
‘Prevention’ e ‘precaution’ têm significados distintos em inglês mas não tanto assim nas línguas latinas.

A Prevenção diz respeito a perigos imediatos


A Precaução relaciona-se com riscos futuros e e com
um grau de probabilidade muito não determinados acentuado

«O pressuposto básico para a aplicação do princípio da prevenção é o da criação de um perigo


ambiental (…) o risco ambiental pressupõe uma probabilidade de criação de um dano
ambiental, que é, em si mesmo, um conceito complexo (…) porque um julgamento sobre
criação de risco pressupõe um juízo probabilístico quanto a sua verificação, e esse juízo poderá ser
mais ou menos exigente» (HELOÍSA OLIVEIRA, Tratado de Direito do Ambiente, Vol. I, 2021, pp.
111-112)
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Distinção Prevenção vs. Precaução


objetivo de evitar a
verificação de um dano
ambiental, o princípio da
precaução pode considerar-se
uma alteração de paradigma,
na medida em que habilitaria a
ação dos poderes públicos,
restritiva de direitos
Maioritariamente, hoje, defende-se que a fundamentais, sem que esteja
Precaução é a Prevenção amplificada: demonstrada, sequer, a
permite a atuação dos poderes públicos e a probabilidade de verificação
restrição de direitos dos cidadãos sem que a de dano ambiental. A distinção
é, em regra, feita com base na
verificação do dano ambiental esteja distinção entre a lógica
revelada com um elevado grau de certeza - preventiva, que lida com
sempre com critérios científicos de perigos imediatos e concretos,
razoabilidade e de bom senso. e a lógica precaucionaria, que
«Embora ambos assentem teria em vista acautelar riscos
numa lógica antecipatória e no futuros e incertos».
(HELOÍSA OLIVEIRA, Tratado… , p. 112)
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«O princípio da prevenção tanto poderá ser invocado
pelos poderes públicos como fundamento para não
permitir a realização de certo projeto, como apenas
para limitar emissões, impor medidas de minimização
ou compensação, ou criar deveres de
monitorização e de informação. Tendo em conta os
deveres estatais de proteção ambiental, a ponderação
em que se baseia a opção por soluções mais ou menos
restritivas ou protetoras tem de assentar em fatores
relevantes, como a proteção de direitos fundamentais Princípio da
ou a prossecução de interesses públicos, como o Prevenção
desenvolvimento económico, o emprego e a inovação
tecnológica».
(HELOÍSA OLIVEIRA, Tratado…, p. 111)
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Artigo 3.º
Prevenção / Precaução

P. da Precaução- (construção alemã anos 80) alguma doutrina entende-o como o sentido
restrito do P. da Prevenção mas permite e prevê instrumentos muito fortes - ver art.
191.º, nº 2, TL (ex-art. 174.º, nº)2, TUE

P. da Precaução
na lei portuguesa é visto como
análise
uma e gestão de risco,
apriorística mas dinâmica
com recurso às melhores tecnologias possíveis (MDT). Efeitos
práticos:
Obriga à atuação dos entes públicos Apesar da nossa LBA não ter
A lei não define graus de risco nem
(sobretudo) e privados, ou seja, não enveredado por uma separação
análise de custo-benefício nas
permite sobrestar ou não decidir conceitual as duas lógicas dos
medidas preventivas
(problema da decisão tácita da
) DIA princípios são distintas

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d) Do poluidor-pagador, que obriga o responsável pela
poluição a assumir os custos tanto da
atividade poluente como da introdução de medidas
internas de prevenção e controle necessárias para
combater as ameaças e agressões ao ambiente;

Artigo 3.º P. do Poluidor-Pagador – (ver art. 191.º, nº 2, TL


Poluidor-[ex-art. 174.º nº 2, TUE], CRP: art. 66.º 2/h)

Pagador deve ser responsável pelos prejuízos ambientais porQuem


beneficia de uma atividade eco-poluente
reconstrução natural ou por via fiscal;
 Eventual paradoxo – quem paga pode poluir…
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Artigo 3.º
Utilizador-
Pagador

 Quem usufrui dos recursos (não estará


necessariamente a poluir) deve custear a
sua utilização;
O objetivo é racionalizar o uso dos
e) Do utilizador-pagador que obriga o utente

de serviços públicos a suportar os custos da

utilização dos recursos, assim como da


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recuperação proporcional dos custos

associados à sua disponibilização, visando a

respetiva utilização racional; recursos pelos

cidadãos;

 Permite ao Estado a cobrança de taxas e


a ação fiscal pela utilização de recursos
(CRP, art. 66.º, n.º 2, alínea h)).
Artigo 3.º P. da
responsabilidade
f) Da responsabilidade, que obriga à responsabilização de todos os que direta
ou indiretamente, com dolo ou negligência, provoquem ameaças ou danos ao
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ambiente, cabendo ao Estado a aplicação das sanções devidas, não estando
excluída a possibilidade de indemnização nos termos da lei;
 Implica toda e qualquer forma de responsabilidade: penal, civil,
administrativa, disciplinar;
 Não requer a efetivação da ameaça (dano ambiental) mas apenas a sua
constatação;
 O Estado é o sancionador – mas o que fazer quando o responsável é o
próprio Estado?

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Artigo 3.º P. da
recuperação
g) Da recuperação, que obriga o causador do dano ambiental à
restauração do estado do ambiente tal como se encontrava
anteriormente à ocorrência do facto danoso.
 Um dos princípios base da responsabilidade civil é o da
“restauração natural” – agente deverá recolocar a situação no
preciso status em que esta se encontrava antes da verificação do
dano – este princípio é de muito rara e difícil aplicação em direito
do ambiente;
 A “restauração” será a possível, a mais amiga do ambiente e pode
cumular-se com a restituição por equivalente (pagamento de
indemnização).
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Artigo 4.º
Princípios das políticas públicas ambientais
A separação dos princípios materiais do ambiente (art. 3.º) dos princípios das políticas públicas
ambientais (art. 4.º) é muito criticada que no que respeita à sua ratio quer no elenco dos princípios
que compõem cada uma das vertentes (por todos, Carla Amado Gomes) – ao contrário, entendo que
a ordem dos fatores não é arbitrária mas também não será fundamental;

Os primeiros regerão toda a atuação pública e privada no ambiente – os segundos


subordinarão as lógicas de atuação do Estado e dos demais poderes públicos na
condução da sua atuação;

Em bom rigor, a sua área de incidência pode confundir-se porque ambos vinculam o
Estado que tem o poder de conformar os privados às suas preocupações essenciais.

Artigo 4.º
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Princípios das políticas públicas ambientais Elenco:

Da transversalidade e da integração;

Da cooperação internacional;

Do conhecimento e da ciência;

Da educação ambiental;

Da informação e da participação.


Artigo 4.º
Princípios das políticas públicas ambientais

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Transversalidade e integração
“As políticas públicas de ambiente estão ainda subordinadas,
nomeadamente, aos seguintes princípios:
a) Da transversalidade e da integração, que obrigam à integração das
exigências de proteção do ambiente na definição e execução das demais
políticas globais e sectoriais, de modo a promover o desenvolvimento
sustentável;”
 Constituem um filtro e um prisma inafastável de qualquer política
pública, independentemente da área ou da conexão mais remota com o
ambiente – i.e. sem exceção;
 Relação direta com o P. do desenvolvimento sustentável.
Artigo 4.º Princípios das políticas públicas ambientais

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Cooperação internacional
“b) Da cooperação internacional, que obriga à procura de soluções
concertadas com outros países e organizações internacionais no sentido da
promoção do ambiente e do
desenvolvimento sustentável;”
 Os Tratados internacionais impõem um dever de concertação de soluções
comuns para problemas globais;
 Implica o consenso de soluções com os Estados mas também com
organizações supranacionais e, ainda, abre a porta à cooperação com as
ONG;
 Uma vez mais, o fito está no P. do Desenvolvimento
Sustentável.
Artigo 4.º Princípios das políticas públicas ambientais
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Conhecimento e ciência
“c) Do conhecimento e da ciência, que obrigam a que o diagnóstico e as
soluções dos problemas ambientais devam resultar da convergência dos
saberes sociais com os conhecimentos científicos e tecnológicos, tendo
por base dados rigorosos, emanados de fontes fidedignas e isentas;”
 Princípio base das políticas públicas que não se podem pautar por
emoções, sensações ou conveniências políticas – atual vírus do direito
do ambiente;
 Os dados dos problemas e a elaboração de soluções terão de ser
enquadrados em dados científicos credíveis acima dos interesses e dos
propósitos laterais.

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Artigo 4.º
Princípios das políticas públicas ambientais

Educação ambiental
“d) Da educação ambiental, que obriga a políticas pedagógicas viradas para a
tomada de consciência ambiental, apostando na educação para o
desenvolvimento sustentável e dotando os cidadãos de competências ambientais
num processo contínuo, que promove a cidadania participativa e apela à
responsabilização, designadamente através do voluntariado e do mecenato
ambiental, tendo em vista a proteção e a melhoria do ambiente em toda a sua
dimensão humana;”
 Princípio que decorre da Dec. de Estocolmo, bem como da CRP art. 66.º, n.º 2,
alínea g)
 Provavelmente, aquele que melhor foi implementado nas últimas décadas e que
está na raiz da prioridade do ambiente na consciência coletiva.

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Artigo 4.º
Princípios das políticas públicas ambientais

Informação e participação
“e) Da, queinformação e da participação obrigam ao
envolvimento dos cidadãos nas políticas ambientais, privilegiando a
divulgação e a partilha de dados e estudos, a adoção de ações de
monitorização das políticas, o fomento de uma cultura de transparência e de
responsabilidade, na busca de um elevado grau de respeito dos valores
ambientais pela comunidade, ao mesmo tempo que assegura aos cidadãos o
direito pleno de intervir na elaboração e no acompanhamento da aplicação
das políticas ambientais”
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Artigo 4.º
Princípios das políticas públicas ambientais

Informação e Participação são elementos integradores e sine


qua non do conceito de Cidadania ambiental ;
Informação e participação

 Decorre do direito geral à informação dos interessados (CPA) mas implica


um mais elevado grau de informação administrativa dado que o
“interessado” pode ser qualquer cidadão (LBA);
 A LADA impõe uma densificação muito ampliada do direito à informação
através da CADA;
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Artigo 4.º
Princípios das políticas públicas ambientais

 Corolário do “direito de defesa” – LBA art. 7.º;


 Traduz-se num direito procedimental – CPA, LBA,; RAIA;
 Possibilita também a intervenção dos tribunais (ex. ação popular) –
“tutela plena e efetiva dos seus direitos e interesses legalmente
protegidos”, LBA art. 7/1;
Informação e participação
É especialmente densificado pelo art. 6.º/2/a):
“2 - Em especial, os referidos direitos procedimentais incluem,
nomeadamente:
a) O direito de participação dos cidadãos, das associações
nãogovernamentais e dos demais agentes interessados, em matéria de
ambiente, na adoção das decisões relativas a procedimentos de autorização
Carlos Abreu Amorim 2022 - 2023 44
Artigo 4.º
Princípios das políticas públicas ambientais

ou referentes a atividades que possam ter impactes ambientais


significativos, bem como na preparação de planos e programas ambientais;”
 A informação é um elemento prévio e indispensável da participação – a
segunda não é possível sem a primeira;
 Mantêm-se muitas dificuldades nesta matéria – resistência ativa e passiva da
Administração em cumprir o direito à informação. (dar exemplos)

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Artigo 7.º
Direitos processuais em matéria de ambiente
“1 - A todos é reconhecido o direito à tutela plena e efetiva dos seus direitos e
interesses legalmente protegidos em matéria de ambiente.
2 - Em especial, os referidos direitos processuais incluem, nomeadamente:
a) O direito de ação para defesa de direitos subjetivos e interesses
legalmente protegidos, assim como para o exercício do direito de ação pública
e de ação popular;
b) O direito a promover a prevenção, a cessação e a reparação de violações
de bens e valores ambientais da forma mais célere possível;
c) O direito a pedir a cessação imediata da atividade causadora de ameaça
ou dano ao ambiente, bem como a reposição da situação anterior e o
pagamento da respetiva indemnização, nos termos da lei.”
Artigo 8.º
Deveres ambientais
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“1 - O direito ao ambiente está indissociavelmente ligado ao
dever de o proteger, de o preservar e de o respeitar, de forma a
assegurar o desenvolvimento sustentável a longo prazo,
nomeadamente para as gerações futuras.
2 - A cidadania ambiental consiste no dever de contribuir para
a criação de um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado
e, na ótica do uso eficiente dos recursos e tendo em vista a
progressiva melhoria da qualidade vida, para a sua proteção e
preservação.”
CIDADANIA AMBIENTAL
 8 .º/1 – Os deveres ambientais (proteger + preservar +
respeitar) estão (novamente) associados ao princípio do
Desenvolvimento Sustentável, o prisma pelo qual devemos
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interpretar todos os demais princípios, direitos e deveres
descritos na LBA;
 Estes deveres devem ser vistor como um prius do conceito de
Cidadania Ambiental que vem no número seguinte (8.º/2);
 8 .º/2 - A Cidadania Ambiental acentua o contributo de
cada um na defesa do ambiente na perspetiva do cumprimento
dos seus deveres (proteger + preservar + respeitar);
 CRÍTICA – Predominância da ação do Estado, menorização
do papel do cidadão, seria desejável maior equilíbrio…

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