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FACULDADE ESTÁCIO DE CASTANHAL

CURSO DE LICENCIATURA EM HISTORIA

CAIO ZACARIAS LOPES DE LIMA


FELIPE ALVES DOS SANTOS

“O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO DISTRITO DE CARAPARU” -


(1830-1882).

CASTANHAL - PA
2019
CAIO ZACARIAS LOPES DE LIMA
FELIPE ALVES DOS SANTOS

“O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO DISTRITO DE CARAPARU” -


(1830-1882).

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


a Faculdade Estácio Castanhal como
requisito para obtenção do grau em
Licenciatura em História, sobre a orientação
do Prof. MSC Gerson Santos e Silva.

CASTANHAL-PARÁ
2019
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

L372p Lima, Caio Zacarias Lopes de.


O processo de ocupação do distrito de Caraparu (1830-1882) / Caio
Zacarias Lopes de Lima, Felipe Alves dos Santos ; orientador, Gerson Santos
e Silva. – 2019.
64 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade Estácio de


Castanhal, Curso de Licenciatura em História, Castanhal, 2019.

1. Ocupação territorial. 2. Caraparu - História. I. Santos, Felipe Alves dos.


II. Silva, Gerson Santos e, orient. II. Título.

CDD. – 22. ed. 355.498115

Elaborado por Fellipe Borges de Oliveira


CRB-11/1000
Dedicamos este trabalho a nossos avós
maternos e paternos. Zacarias Lima (in
memorian), Maria Galeno (in memorian),
Zuila Almeida, Paulo Lopes e Maria Celita
Alves dos Santos.
AGRADECIMENTOS (Caio Zacarias Lopes de Lima)

O Deus, que me iluminou nos momentos mais complicados durante a pesquisa.

Aos meus guerreiros. Edmilson Ribeiro de Lima e Suely Lopes de Lima, que desde minha
infância me deram suporte e atenção para garantir meus estudos. Obrigado por tudo, amo
demais vocês.

Aos meus irmãos Cássio Lima e Junior Lima, que além da amizade e companheirismo são
verdadeiros exemplos de pessoas, e levo isso com minha pessoa.

As minhas tias, amo todas sem igual. Obrigado por toda a preocupação com minha pessoa e
meus estudos. Os meus tios que sempre apoiam nos momentos bons e ruins.

Primos, obrigado pelos momentos de descontração e alegria.

Meus amigos que são inúmeros e incontáveis. Obrigado pelo apoio.

Ao meu amigo de TCC Felipe Alves.

Ao nosso ilustre orientador prof. Msc. Gerson Santos.

A todos os professores de minha graduação, muito obrigado! Em especial as professoras Msc.


Claudia Santos e Msc. Maria Patrícia que ajudaram na construção deste TCC nos momentos
de debate e análise.

À coordenação do curso de História da Estácio Castanhal representada pela prof. Msc. Érika
Melo.

Ao prof. Msc. Franciel Paz pela disponibilidade nos momentos de dificuldade de nossa
pesquisa.

Gratidão ao programa (FIES) ampliado pelo governo petista para garantir a formação
educacional dos cidadãos brasileiros, atingindo desta forma a mim, um jovem, negro e pobre
do interior do Pará. Muito obrigado.

Aos que deixei de mencionar, mas deram força na caminhada, muito obrigado.
AGRADECIMENTOS (Felipe Alves dos Santos)

A Deus, força superior pela Sabedoria, Fé e Perseverança para enfrentar as dificuldades


encontradas durante esse percurso.

À minha família, que mesmo distante, sempre apoiou essa jornada, sonhando comigo e
acreditando no poder da educação transformadora. Obrigado: Ana, Célia, Andreza, Adriana,
Luana e Lucivaldo,

Aos casais que tiveram comigo: Ana e Jurandir, Ângela e Carlos, Adriana e Orivaldo, Alan e
Neila, Luana e Heraldo, Lidiane e Amilton. O apoio de vocês foi fundamental para concluir
esse processo.

Aos meus queridos amigos professores pela parceria, acolhida, incentivos, puxões de orelha e
orientações. Gratidão imensa a vocês: Profª. Elaine Oliveira, Prof. Alan Valadares, Profª.
Erotilde Oliveira, Profª. Alga Vital, Prof. Luis Carlos Filho, Profª. Cristiane do Vale, Profª.
Silvana Santos.

Aos meus amigos de curso Amilton Gomes, Nelson Oliveira, Nycolle Sobrero e Ribamar
Costa Filho, muito obrigado pela parceria.

Aos professores do curso de História da FCAT/Estácio pela grande contribuição na minha


formação acadêmica: Prof. Msc. Alan Watrin Coelho, Prof. Msc. Renato Aloízio de Oliveira
Gimenes, Profª. Mscª Claudia Regina F. Santos, Prof. ,Msc. Mauro Jorge Queiroz Costa,
Prof. Msc. Jôsiel Santos Ferreira, Prof. Mário de Oliveira Gouvêa, Profª. Mscª Maria Patrícia
Corrêa Ferreira e Prof. Msc. Gerson Santos e Silva, pelo grande conhecimento repassado e
pela ajuda na construção deste TCC.

À querida e dedicada Professora Mscª Érika Cristiane Melo, que à frente da coordenação do
Curso de História da Estácio Castanhal, sempre esteve disposta a nos ajudar, orientar, atender
e encaminhar em todas as demandas do curso.

Ao meu amigo e parceiro de TCC, Caio Lima, grande professor com um futuro muito
promissor no campo da pesquisa e desenvolvimento da Região Amazônica. Muito Obrigado
meu parceiro.

Ao meu filho Arthur Felipe, força renovadora e transformadora para superação das
dificuldades e realização de sonhos e projetos futuros.
RESUMO

O princípio da ocupação do Caraparu está relacionado com o processo de colonização e


povoamento do rio Guamá, que se efetivou ao longo do século XVIII através da distribuição
de cartas de sesmarias. Foram encontradas cercas de 24 concessões de cartas que pertencem
às margens do rio Caraparu, que possibilitaram entender o processo de colonização e
exploração. Fez-se necessário relacionar o uso destas cartas, com o processo de escravidão
desenvolvido nas margens do rio Guamá ao longo dos séculos XVIII e XIX. Posteriormente
analisamos o processo de resistência dos escravos a prática exploratória, identificando os
levantes que aconteceram na referida região. Cabe salientar que efetivamente o povoado do
Caraparu vai se apresentar densamente a partir do século XIX. Observa-se que é neste período
que acontece a participação dos escravos que moravam nas margens do rio Caraparu no
movimento Cabano. Sendo necessário entender a participação dos escravos do Caraparu na
cabanagem, para relacionar com uma possível migração que gerou o povoamento da região.
Elucidamos a participação política dos moradores do Caraparu ao longo da década de 1870.
Ressaltamos a presença efetiva dos órgãos administrativos do poder provincial dentro do
Caraparu, fator este que demostra a importância da localidade para o contexto histórico da
época. Por fim, analisamos a continua prática escravista na localidade em evidencia, sendo
um território que até os fins do século XIX ainda desenvolveu a escravidão. Portanto, buscou-
se analisar a consolidação e constituição do povoado do Caraparu ao longo do período em
destaque.

Palavras-Chave; Caraparu. Santa Izabel. Ocupação. Amazônia.


ABSTRACT

The principle of occupation Caraparu ís related to the processo of colonization amd sttlemnt
or river Guamá, that is effected over a century XVIII thoygh the distribution of letter
sesmarias. Leave were found of 24 concessions of letters that bealong to the margins of the
rever Caraparu that emable us to understand the processo f colonization and exploration.
Does- if necessary to relate the use of these latters with the processo of the slavery developed
on the margins of the river Guamá over the centuries XVIII and XIX. Posteriorly analyze the
processo f resistance of slaves to exploratory pratice, indentifying the riot that occured in that
region. It is noteworthy that effectrely the village of Caraparu will present thick from the
century XIX. It should be noted that it is in this period that happens the participation of slaves
who lived on the margins of the river Caraparu in motion cabano. Being necessary to
umderstand the participation of slaves of Caraparu in Cabanagem to relate with the possible
migration wiche led to settement of the region. Elucidate the political participation of
residents of Caraparu throughout the decade of 1870. Emphasize the provincial power within
yhe Caraparu, facter thet demonstrates the importance of the locality to the historical contexto
of the season. Finally, analyze the continuing practice slarery in the locality in evidence, being
a territory that until the end of the century XIX has consolidation and cosntitution of the
vilagge of Caraparu over the period in focus.

Keywordes: Caraparu. Santa Izabel. Occupation. Amazon.


LISTA DE TABELAS.

Tabela 1 - Estimativa de africanos desembarcados........................................................26.


Tabela 2 - Índice de mortalidade por febre amarela em Belém (1850)..........................38.
Tabela 3 - Votantes do Caraparu no ano de 1878..........................................43, 44, 45,46.
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO .................................................................................................... 10

2 - CAPÍTULO I: O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA REGIÃO AMAZÔNICA AO


LONGO DO SÉCULO XVIII. .................................................................................... 15

2.1 - As sesmarias no contexto da ocupação................................................................15


2.2 – A utilização do rio Guamá para o processo de ocupação....................................19
2.3 - A intenção da coroa portuguesa e dos sesmeiros com o processo de ocupação da região
Amazônica. ................................................................................................................. 23

3- CAPÍTULO II - A ESCRAVIDÃO NO GRÃO-PARÁ, SÉCULO XIX. ................. 25

3.1-Escravidão na zona do rio Guamá..........................................................................25


3.2 Fuga e resistência escrava ao longo do rio Guamá século XIX.............................28
4 - CAPÍTULO III: CARAPARU- (1830 – 1882). ...................................................... 33

4.1. - A participação escrava do Caraparu na Cabanagem. (1830-1840).....................33


4.2 - Caraparu pós Cabanagem. (1840-1882)...............................................................38
4.3- Caraparu Distrito...................................................................................................41
CONSIDERAÇÕES FINAIS. ..................................................................................... 48

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 49

ANEXOS .................................................................................................................... 53
10

1 – INTRODUÇÃO

Este trabalho versa sobre o processo de ocupação do Distrito do Caraparu, que fica
localizado a 30 km da capital Belém, no município de Santa Izabel do Pará. Geograficamente,
este distrito possui uma ampla ligação fluvial com outras localidades, fator este de suma
importância para problematização deste trabalho. No artigo de Santos et al (2017) a autora
ressalta que;

O rio Caraparu deságua no rio Guamá, este servindo de limite natural com
município de Bujaru ao sul; outros rios menores, de curso paralelo ao Caraparu, são
o Guajará e o Jandiaí, respectivamente, limitando com os municípios de Benevides e
Inhangapi. (Santos et al, 2017.p.3)

É relevante destacar estas características, tendo em vista que ao longo do século XVIII
as margens do rio Guamá vão passar por processo de conquista e legitimação da posse da
terra, impulsionadas pelas concessões de sesmarias1. É notório que as margens do rio
Caraparu passaram por um processo de conquista e povoamento ao longo do século XVIII
legitimado por tal pratica citada acima. Porém, a população densa do Caraparu aparece nas
documentações encontradas ao longo do século XIX, fator este que possibilitou um recorte
temporal ligado a este período.

O interesse pelo tema está relacionado com as primeiras leituras da História do


município de Santa Izabel, tendo em vista que até então pouco se produziu academicamente
sobre o processo de ocupação do distrito de Caraparu. No livro intitulado História do
Município de santa Izabel do Pará, do pesquisador Nestor Herculano Ferreira (1994, p.106),
encontra-se alguns escritos sobre a comunidade do Caraparu. O autor cita que “pouco se sabe
sobre o Caraparu”. O autor conclui que há poucas pesquisas e fontes para se trabalhar a
história da referida comunidade. Atualmente, o distrito do Caraparu e seus povoados possuem
reconhecimento quanto a comunidades descendestes de Quilombolas 2. Será se houve
formação de Quilombos3 nas margens do rio Caraparu? Qual a relação dos Quilombos com o

1
A sesmaria se consolidou como método de distribuição de terras em solo Amazônico, garantindo através de um
documento jurídico a propriedade da terra. Sesmarias. Texto Marly Camargo Vidal e Maria Ataide Machear.
Pesquisa: GirolamoTreccani, José Heder Benatti, José Maria Hesketh Condurú Neto; Marly Camargo Vidal;
Maria Ataide Malcher. Revisão: Jane Aparecida Marques. Belém: ITERPA, 2009. Passim.
2
Moraes, Abraão José Coelho de Caminho da produção: relações econômicas e políticas na Comunidade
Quilombola de Macapazinho / orientadora, Carmem Izabel Rodrigues. - 2012. Dissertação (Mestrado) -
Universidade Federal do Pará. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais, Belém, 2012.p. 45-74.
3
Os grupos que hoje são considerados remanescentes de comunidades de quilombos se constituíram a partir de
uma grande diversidade de processos, que incluem as fugas com ocupação de terras livres e geralmente isoladas,
11

tipo de ocupação efetivado na localidade? Indagações estás feita que deixa dúvidas sobre
como se consolidou a ocupação e formação do Caraparu e suas comunidades, proposta essa
central do trabalho. A história de formação e ocupação do Caraparu está relacionada ao
contexto nacional e internacional da época. Questões territoriais, colonização, exploração
econômica, escravidão são temáticas complexas, que estão diretamente ligadas a historia de
formação do Caraparu, sendo necessário esclarecer tais relações ao longo do trabalho. Diante
ao exposto, deu-se início ao processo de pesquisa bibliográfica e documental para construir
este trabalho.

O recorte temporal da pesquisa está ligado a uma lógica de processo. Tendo em vista
que a povoação do Caraparu está relacionada ao contexto histórico do século XVIII e
consolidada através de analise documental do século XIX. Buscou-se fundamentar e
problematizar uma real ocupação do distrito de Caraparu durante os anos de 1830 e 1882,
sendo considerada a ocupação desta localidade um processo longo e contínuo que se
consolidou no período em evidencia, tendo como base documentação de época.

Traçamos como objetivo a investigação e análise do processo de ocupação do distrito


de Caraparu. Esclarecendo para a comunidade local e acadêmica o processo histórico a qual a
ocupação do Caraparu está inserida. No primeiro momento, buscamos relacionar o contexto
da ocupação do rio Guamá durante o século XVIII, com a localidade do Caraparu, tendo em
vista que rio pertencente a este distrito desagua no rio Guamá4. Elucidamos também a
importância das cartas de sesmarias neste contexto, fator este de suma relevância para a

mas também as heranças, doações, recebimento de terras como pagamento de serviços prestados ao Estado, a
simples permanência nas terras que ocupavam e cultivavam no interior das grandes propriedades, bem como a
compra de terras, tanto durante a vigência do sistema escravocrata quanto após a sua extinção. (Schimitt et al
2002. p. 3)
4
A bacia do rio Guamá tem uma área de drenagem de 87.389,5 km2 que corresponde a 7% da área do Estado do
Pará, e segue no sentido Leste-Oeste, servindo de divisor natural entre vários municípios. Este rio, que mais se
assemelha a um afluente do rio Capim, se localiza no setor que define o limite nordeste da Amazônia, na subárea
do alto rio Capim/região Bragantina do Pará (correspondente à célula espacial 20 na setorização proposta por
Ab’Saber (1994). Com um curso total de aproximadamente 380 km, nasce nas matas dos municípios de Ipixuna
e de Nova Esperança do Piriá, acima de Paragominas, seguindo por Capitão Poço e Garrafão do Norte, a
sudoeste, e finalmente dirigindo-se para norte-nordeste até o município de Ourém. Deste ponto em diante o rio
flete para oeste, divisando São Miguel do Guamá de outros três municípios. Junta-se então ao rio Capim na
altura da cidade de São Domingos do Capim e, engrossado a partir deste ponto, vem desaguar na baía do
Guajará, em Belém. Seus afluentes mais importantes pela margem esquerda são os rios Capim, Acará e Moju.
TORRES, Marcelo Ferreira. A Pesca Ornamental na Bacia do Rio Guamá: sustentabilidade e perspectivas ao
manejo / Marcelo Ferreira Torres; orientador David Gibbs McGrath. – 2007. Tese (Doutorado) – Universidade
Federal do Pará, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Sustentável do Trópico Úmido. Belém, 2007. p.27.
12

construção do trabalho, haja vista que a localidade do Caraparu durante o período em


evidencia recebeu cerca de 24 concessão de sesmarias.

Ainda no primeiro capítulo é discutido quem detinha o direito à propriedade designada


pela carta de sesmaria. Observa-se que, para se requerer certa terra a Coroa Portuguesa, o
sesmeiro tinha que possuir algumas virtudes e qualidades em seu modo de vida, problemática
está que será debatida ao longo do texto. Ao fim da primeira parte destacam-se quais as
intenções os sesmeiros detinham no momento de requerer uma concessão de terra.
Observamos qual a intenção a Coroa Portuguesa detinha com a destinação das cartas para os
colonos. Algumas analises construídas e debatidas neste momento, foram observadas através
do trabalho realizado pelo Instituto de Terras do Pará (INTERPA5).

No segundo capítulo, discute-se a prática escravista ao longo do rio Guamá. Fator este
que é de suma relevância destacar, pois, nas margens do Guamá foram construídos e
edificados engenhos e fazendas que se utilizaram da mão-de-obra escrava para garantir o
sucesso da produção. Posteriormente, serão debatidos os momentos de resistência dos
escravos ao processo de exploração. Dando destaque para as movimentações de fuga e
resistência que se constituíram ao longo do século XVIII nas margens dos rios Guamá e
Caraparu. Este capítulo será de fundamental importância para se entender posteriormente a
participação escrava do Caraparu na cabanagem.

No último capítulo, será discutida a constituição e formação do distrito de Caraparu ao


longo do século XIX. A princípio debateu-se a participação escrava dos negros do Caraparu
no movimento cabano. Revoltosos estes que segundo o coronel Andrea foram destruídos
completamente. O povoado do Caraparu sucumbiu após ser destruído pelas forças legalistas?
Posteriormente tivemos contatos com fontes e bibliografias que apontam o aparecimento de

5
O Instituto de Terras do Pará – ITERPA – é uma autarquia estadual, criada pela Lei n° 4.584, de 8 de outubro
de 1975. Sua criação foi um marco histórico para a execução da política fundiária no Estado. Orientado pela
missão de garantir o acesso à terra, prioritariamente aos diferentes segmentos da agricultura familiar, através da
Regularização Territorial, visa à promoção do desenvolvimento socioeconômico e ambiental do Estado. Órgão
da administração indireta do Governo, o ITERPA tem como meta principal a realização do Ordenamento
Territorial no Pará. Várias mudanças ocorreram na trajetória desse Instituto e, recentemente, em 2007, o
ITERPA se reestruturou para cumprir as metas definidas para execução do Ordenamento Territorial no Estado a
partir de novas dinâmicas. O órgão, desde então, ganha novo Regimento para atender às necessidades de um
planejamento inovador e arrojado que está sendo implantado. As mudanças no órgão incluem uma política de
divulgação e disseminação de informações a partir da publicitação das ações executadas. Por este motivo,
apresentamos esta publicação – SESMARIAS – que pretende oferecer informações sobre a primeira forma de
distribuição de terras no Brasil: o processo sesmarial. A presente obra se constitui, assim, como passo
antecedente à divulgação das atividades desenvolvidas no Projeto Sesmarias executado em parceria com a
Secretaria de Cultura – SECULT – por meio do Arquivo Público do Estado do Pará. INTERPA, 2009. p. 6.
13

epidemias no interior da província paraense, chegando a atingir o povoado que mora nas
margens do rio Caraparu.

Ainda no último momento, iremos trabalhar com a consolidação do Caraparu como


um distrito que pertence às delimitações municipais de Belém. Apresentamos a construção de
obras no Caraparu, que estão diretamente relacionadas à necessidade dos anseios
populacionais da época. Faz-se uma relação dos eleitores do Caraparu ao longo da década de
1870. E por fim, mostramos que a prática escravista nos fins do século XIX ainda se mantinha
nas margens do rio Caraparu.

Para a análise dos resultados obtidos, o método foi consolidado a partir de uma
perspectiva qualitativa, de caráter exploratório, tendo como característica a pesquisa básica.
Foi necessária uma ampla pesquisa e análise de bibliografias, que posteriormente foram
confrontadas e analisadas com as fontes primárias. É importante ressaltar o método colocado
por José D´Assunção de Barros, chamado de taxonomia das fontes, que foi de suma
importância para a consolidação e construção do trabalho.

Uma taxinomia é uma classificação, uma maneira de entender melhor este vasto e
complexo universo que constitui o conjunto de todas as fontes históricas possíveis.
O que rigorosamente coincide com toda a produção material e imaterial humana que
pode permitir aos historiadores interagirem com as várias sociedades localizadas no
tempo (2012. p. 132)

Destaca-se nesta citação acima, a importância de se classificar as fontes e


documentos que foram analisadas ao longo da pesquisa, pois existe uma ampla variedade de
fontes no universo historiográfico, podendo algumas serem essenciais e outras prejudiciais
para o desenvolvimento da pesquisa, por isso, a necessidade de se trabalhar com o método de
taxonômico. (BARROS, 2012).

Neste momento, faz-se necessário destacar quais fontes foram debatidas e


problematizadas ao longo da monografia. A princípio, tivemos contato com as cartas de
sesmarias, que estão disponíveis no arquivo publico do estado do Pará em versão digitalizada
e traduzida, trabalho este realizado pelo instituto de terras do Pará (INTERPA) no ano de
2009. Usamos cartas já debatidas por outros autores, destacam-se as cartas usadas pela
pesquisadora Minerva Soares (2012) em seu livro intitulado Caracterização sócio- histórica e
ambiental. Santa Izabel do Pará. Esta obra encontra-se disponível na biblioteca da Secretaria
Municipal de Educação de Santa Izabel do Pará. Posteriormente, problematizamos o
memorial da Cabanagem intitulado de Traços cabanos, escrito por Jorge Hurley, por volta do
14

ano de 1936 em homenagem ao centenário do movimento. Documento encontra-se disponível


no site da fundação cultural do estado do Pará. E por fim, trabalhamos com jornais 6 que datam
da segunda metade do século XIX, sendo estes disponíveis no site da Biblioteca nacional
digital, Hemeroteca.

A ocupação do distrito de Caraparu está diretamente ligada e relacionada ao


processo de povoamento das margens do rio Guamá ao longo do século XVIII. A prática
escravista em evidência, a resistência dos escravos contra a exploração, intensificaram a
ocupação do interior das matas amazônicas, tendo como suporte a prática da fuga. Destaca-se
que o povoamento das margens do Caraparu está diretamente relacionado com as fugas e
migrações dos escravos que participaram do embate cabano durante a década de 1830. Fatores
estes elucidados de suma importância para entender a ocupação e formação do Caraparu
durante o século XIX.

Portanto, ao se discutir a formação e constituição do Caraparu ao longo do século


XIX, faz-se necessário contextualizar historicamente o processo de ocupação ligado às
margens do rio Guamá, tendo em vista, que a história de formação de um povoado é
consolidada através de um longo processo. (JUNIOR ET AL, 2012)

6
Ver nas referências, p. 52.
15

2 - CAPÍTULO I: O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA REGIÃO AMAZÔNICA AO


LONGO DO SÉCULO XVIII.

2.1 - As sesmarias no contexto da ocupação.

O processo de ocupação da região Amazônica ao longo do século XVIII se constitui


com o real interesse da coroa Portuguesa em ocupar e povoar um vasto território fértil. É
importante destacar que a ocupação da região mencionada não se consolidou de forma
continua e homogênea ao longo do século XVIII, possuindo diversas formas de se apropriar
da terra. Uma das formas de ocupação da região amazônica ao longo do século dezoito ficou
conhecida como “Povoamento voluntario”7. Outra forma, a qual vamos nos debruçar ao longo
deste trabalho para entender o processo de ocupação do Caraparu são as sesmarias, que
tiveram seu apogeu como método de apropriação da terra dentro do território ao longo do
século dezoito. (CRUZ, 1973).

As cartas sesmarias têm sua impulsão como método de apropriação da terra a partir do
século XVIII em território Amazônico. Esta forma de apossamento da terra deu origem a
várias fazendas8 dentro do território, onde foram desenvolvidos práticas e métodos que
legitimaram a permanência dos colonos em terras amazônicas. Os principais pontos de
distribuição destas cartas estavam ligados aos rios9 próximos de Belém, propiciando a
ocupação da referida área (LIMA, 1973; CASTRO, 2012).

A sesmaria para alguns autores foi à primeira forma de se constituir uma noção de
poder privado sobre terras no Brasil, e a partir disto ter um modelo de apropriação da terra de
forma regulamentada e legal, com todos os seus deveres e obrigações a serem cumpridos
pelos sesmeiros. No entanto, apesar de ser uma carta de concessão de terras que tinha o
objetivo de ocupar e cultivar, a falta de uma regulamentação, fiscalização e organização fez
com que a excelência do projeto não acontecesse. (INTERPA, 2009)

7
Os povoadores voluntários eram chamados de caçadores de aventuras. Eram pessoas seduzidas pela coroa
Portuguesa para buscar novos rumos e caminhos em outro território. Destaca-se que a maior parte destes
“caçadores” eram vadios e degredados, titulados como criminosos, e que na maioria das vezes recebia pena
de morte por seus delitos. CRUZ, Ernesto. História do Pará. Belém, Governo do Estado do Pará,
1973. P.34/ LIMA, R.R. A conquista da Amazônia. Reflexos na segurança nacional. Belém, 1973.
Editora Falângola. P.9.
8
As fazendas principais foram a de Pernambuco, Uriboca, Utinga, Tucunduba, Pinheiro. Ibid., p.9.
9
Rio Capim, Guamá, Bujaru, Acará, Moju e na embocadura do Tocantins. CASTRO, Edna. Terras de Preto
entre rios e igarapés. In: Belém de Águas e Ilhas. Belém: CEJUP, 2006. p. 4
16

A ideia central do projeto de Sesmarias dentro do território Amazônico era excluir a


possibilidade de terras ociosas, e a partir disto impulsionar e dinamizar a produção de gêneros
alimentícios, acelerar o comércio e obter um controle fiscal da produção e cultivo em terras
Amazônicas. É importante salientar que o interesse da coroa não foi meramente econômico, é
algo que abrangeu o processo de ocupação, e colonização do território Amazônico.
Observando dentro desta perspectiva interessa analisar quais as intenções da Coroa
Portuguesa em legitimar a ocupação do território através do uso da terra. (INTERPA, 2009)

Rafael Chambouleyron (2011) destaca em seu trabalho que a sesmaria é um incentivo


a ocupação, e vem com a promessa e intuito de produtividade em um vasto território fértil,
que com o sucesso da produção, a legitimidade e posse da terra serão garantidas pelo
sesmeiro. O autor salienta também que a grande extensão de terra concedida aos sesmeiros
dificultava o controle regulamentado das extensões das propriedades adquiridas, gerando uma
grande concentração fundiária.

Para se conseguir uma concessão de terra, uma sesmaria ao longo do século XVIII,
segundo o trabalho apresentado pelo INTERPA, chamado de Projeto Sesmarias era
necessário se enquadrar dentro de alguns parâmetros, o principal era ser cristão, ser um
homem que tivesse os princípios da cristandade. Outra forma era a pessoa ser considera de
bem e de posses, principalmente aqueles tenham prestado serviços à Coroa Portuguesa,
levando sempre em consideração as qualidades pessoais de cada solicitante de terra.
(INTERPA, 2009)

A maior parte das concessões de sesmarias concedidas no início século XVIII na


capitania do Pará era destinada aos moradores de Belém, que se autodeclaravam cidadãos e
moradores da cidade. Busca-se ressaltar que as concessões não necessariamente ficavam
restritas a região próxima de Belém, mas, pelo contrário, estavam dispersas na grande
variedade de rios que compreendem a região Amazônica, tendo destaque os rios Acará, Moju,
Capim e Guamá. Portanto, observou-se uma grande relação do processo de ocupação da
região que compreende estes rios, com a capital Belém. (CHAMBOULEYRON, 2011).

Para se consolidar o processo de ocupação e garantir a posse da terra, era necessário


produzir e cultivá-la (Chambouleyron, 2011). Logo, é necessária juntamente com projeto de
ocupação e colonização, a utilização da mão-de-obra, haja vista que neste contexto histórico a
17

prática escravista está sendo desenvolvida desde o início da invasão de Belém10. As cartas de
sesmarias destacam a utilização deste método de exploração citado acima, dentro das lavouras
de café, cacau, cana–de-açúcar, e propriedades adquiridas pelos sesmeiros, mostrando
também que estes sesmeiros apesar de possuírem cativos, ainda eram um número reduzido,
haja vista que a condição financeira dos colonos que residiam na província do Grão-Pará era
insuficiente para comprar muitos escravos, sendo estes bem caros 11. (PAZ, 2012; SALLES,
1971)

José Maia Bezerra Neto (2012) destaca que após a regulamentação do tráfico negreiro
que aconteceu no ano de 1756, a demanda de cativos vindos para a região Amazônica nos fins
do século dezoito superou os 35 mil. No entanto, o então governador da província do Grão-
Pará Souza Coutinho em documento datado do ano de 1797 informa que a população escrava
da província estava abaixo dos 30 mil cativos. Mas, é importante ressaltar que o autor ao
pautar estes números com diferenças expressivas, propõe que elevado índice de mortalidade
destes escravos dificultava a conta exata, sendo sempre inconstante, mortalidade esta
proporcionada pelo não recebimento de tratamento e acompanhamento de suas complicações.
(BEZERRA NETO, 2012)

O rio Guamá foi de suma importância para o processo de ocupação da região


amazônica dentro deste contexto de concessão de sesmarias 12. A região que compreende o rio
era rico em fertilidade, algo propício para o sucesso da ocupação e colonização. A maior parte
das cartas concedidas ao longo do século XVIII para região amazônica foi designada para as
margens do rio Guamá, destarte, que esta área possuía destaque em sua vasta extensão, que
até então não vinha sendo ocupada e colonizada de forma regulamentada pela Coroa
Portuguesa13. (CRUZ, 1973).

10
A escravidão dos povos indígenas em Belém remonta ao princípio de sua invasão. SALLES, Vicente. O
Negro no Pará sob Regime de Escravidão. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas; Belém: UFPA,
1971. p. 13-27
11
Referência à compra de cativos Africanos. SALLES, 1971, Loc. Cit.
12
A importância está ligada a um amplo processo de conquista territorial objetivado pela coroa Portuguesa, que
através das cartas de sesmarias legitimou de forma jurídica a conquista e posse da terra. NASCIMENTO,
CLAUDIA HC. "ICONOGRAFIA DO RIO GUAMÁ: À MARGEM DE BELÉM."Belo Horizonte, fevereiro
2011. Passim. Sesmarias. Texto Marly Camargo Vidal e Maria Ataide Machear. Pesquisa: GirolamoTreccani,
José Heder Benatti, José Maria Hesketh Condurú Neto; Marly Camargo Vidal; Maria Ataide Malcher. Revisão:
Jane Aparecida Marques. Belém: ITERPA, 2009. Passim.
13
O Estado português olhava com desprezo a Amazônia devido à mesma ser pouco desenvolvida, muito
extensa e pouco povoada, contudo a criação do estado do Grão-Pará e Maranhão, e a liberação das cartas
de sesmarias proporciona a legitimidade da conquista territorial. CHAMBOULEYRON, R.Terras e poder
na Amazônia colonial (séculos XVII-XVIII).Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios
Ibéricos de Antigo Regime, Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011. Passim.
18

Segundo o trabalho realizado pelo INTERPA (2009), observa-se que as maiores partes
das propriedades de cultivo ficavam distante das zonas administrativas e comerciais da capital
Belém. É neste contexto que se insere a região do Guamá, que de certo modo, sua grande
extensão era distante da capital, mas a maior parte dos proprietários de terras do local se
diziam moradores de Belém. Podemos citar o exemplo de Leão Pereira de Barros que se dizia
morador da capital, mais tinha uma plantação de cerca de 5 mil pés de cacau às margens do
rio Guamá. (INTERPA, 2009).

Neste sentido, observa-se dentro dos pedidos e concessões de sesmarias ao longo do


século XVIII, que um dos rios que desaguam no Guamá, este chamado de Caraparu que fica
distante da capital Belém, recebeu entre os anos de 1721 e 1824 cerca de 24 concessões de
sesmarias. Ressalta-se que nos pedidos das cartas, os sesmeiros que compreendem a esta
região do Caraparu pretendem ocupa-las, dizem ter alguns escravos e condição de adquirir
mais cativos. Apresentam ter lavouras, ter cultivo, mas alegam a falta de terras na região para
a produção e ocupação. (PAZ, 2012).

Raimundo Franciel Paz (2012) destaca que apesar das sesmarias terem garantido a
posse da terra por mais de dois séculos, a forma e os mecanismos utilizados para se apropriar
e ocupar o território se efetivou de forma diversa, destacando o modelo de apossamento
primário14, que na maioria das vezes era realizado por pequenos e médios proprietários,
pequeno sesmeiros e até mesmo por quilombolas e índios que não estavam inseridos dentro de
sua etnia.

É importante destacar, que este processo de ocupação da região amazônica, durante o


século XVIII, colocado anteriormente, não ficou restrito às margens do rio Guamá e seus
afluentes. É possível observar a participação de diversos rios neste contexto de ocupação e
colonização, destaca-se o rio Acará, Moju, Capim. Temos como exemplo, o senhor Antônio
Paiva, que cultivava cacau nas margens do rio Acará. Genebra de Amorim era proprietário de
um engenho no rio Moju. E o último era o senhor Antônio da Costa Tavares, que recebeu
várias concessões de sesmarias tanto no rio Capim, quanto no Guamá (Cruz, 1973;
INTERPA, 2009).

14
Uma das formas de se garantir a posse da terra ao longo dos séculos XVI-XVII e XVIII, sendo estas na maior
das vezes efetivadas por índios destribalizados, médios e pequenos proprietários ou quilombolas. PAZ,
Raimundo Franciel. Nas correntezas e contra-correntezas do rio Caraparu: memória e história em
comunidades tradicionais na Amazônia oriental (1912-1950). 2012.p. 24.
19

É importante salientar, que a atividade açucareira desenvolvida durante o século XVIII


na região amazônica, principalmente as margens dos rios citados teve uma grande
contribuição para o processo de evolução da província, visto que neste momento fez-se
necessário a construção de engenhos e casas fortes para tais produções. Como mostram
Macedo (2009) e Cruz (1973), a produtividade do açúcar alinhado ao processo de concessão
de sesmarias, foi o fator principal para se consolidar a ocupação da região em destaque.

Ernesto Cruz em seu livro História do Pará, evidencia que houve uma evolução
populacional ao longo dos séculos XVII e XVIII devido à construção de novos engenhos;

O aumento da produção do açúcar na capitania paraense durante os séculos XVII e


XVIII, ou seja, antes e depois da expulsão dos holandeses, ingleses e franceses, era
consequência da construção de novos engenhos, levantadas à margem do rio, dando
ao litoral agitação peculiar aquelas propriedades, cheias de escravos e de índios
submissos, que os senhores dirigiam com os rigores e exigências da época. (Cruz,
p.84. 1973).

Portanto, é de suma relevância destacar o papel e a contribuição que o processo de


ocupação legitimado pelas sesmarias teve dentro do território amazônico ao longo do século
XVIII e evidenciar principalmente a área que compreende ao rio Guamá, que teve sua
demarcação e ocupação ao longo deste projeto de sesmarias, assunto este que vamos debater e
detalhar no próximo momento.

2.2 – A utilização do rio Guamá para o processo de ocupação

É relevante destacar que a região que compreende ao rio Guamá foi inserida dentro da
lógica de sesmarias pautada pela intenção da Coroa Portuguesa de ocupar e legitimar a posse
da terra, e com o intuito de produzir em vasto território fértil. A produção agrícola esteve
ligada a plantação de cana, cacau, mandioca, algodão e a criação de algumas cabeças de gado,
e pôr fim a manutenção de uma agricultura pautada na manutenção familiar. A
comercialização destes produtos esteve sempre ligada fortemente com Belém, gerando até um
processo de pendência do povoado de Belém, com os gêneros alimentícios produzidos ao
longo dos rios. (CRUZ, 1973; CASTRO, 2001)
20

Segundo Ernesto Cruz (1973), com a fundação da casa forte15 no Guamá no ano de
1727 as terras ligadas a está região que até então não tinham sua legitimidade para serem
ocupadas e cultivadas, passaram a ser requisitada com maior frequência. Muitas dessas terras
concedidas pelo processo de sesmarias tinham ampla extensão, fator este que fez com que o
governador reduzisse o número de léguas16 destinado para sesmeiros com objetivo de garantir
a excelência do projeto de ocupação.

No momento de requerer a terra, as pessoas que possuíam virtudes vinculadas à


cristandade, e uma boa relação de prestação de serviço tinham vantagens em adquiri-las
durante este processo de ocupação das margens do rio Guamá. Muitos destes proprietários de
terras não residiam na capital Belém, mas eram beneficiados com algumas léguas de terras.
Destaca-se também, que os moradores de Belém não ficaram à margem deste processo,
recebendo muitas léguas de terras durante este processo, fatores estes que vamos elucidar
neste momento. (CHAMBOULEYRON, 2011; INTERPA, 2009)

O primeiro caso é o do senhor Manoel Monteiro de Carvalho, citado no livro História


do Pará pelo pesquisador Ernesto Cruz (1973. p. 63). Monteiro, vindo do Maranhão para
Belém com sua família, pediu para o governador José da Serra uma concessão de três léguas
às margens do rio Guamá, tendo recebido apenas duas. Outro beneficiado com concessão foi
Antônio Pacheco, que em 16 de junho de 1734 recebeu sua terra, que fica localizada no
igarapé Pacuyassú, região que compreende ao rio Guamá.

Os moradores de Belém que recebem concessão de terra ao longo deste processo de


apossamento da terra, propiciado de forma legal pelas sesmarias é de extrema relevância para
compreender este processo. Chambouleyron (2011. p. 6) revela que um dos moradores que
recebeu concessão é o senhor Francisco Lameira Franca, datado do ano de 1700 a 1725, era
oficial da Câmara de Belém, e requeria a terra com intuito de erguer um molinete de
aguardente, fator este que foi visto com maus olhos pela Coroa Portuguesa, pois suspeitavam
que este molinete fosse prejudicar a produção açucareira na província. É importante frisar,
que esta terra pertencente ao senhor Francisco ficava localizado no rio Moju e Guamá.
(CHAMBOULEYRON, 2011).

15
Casa forte pertencia foi erguida pelo senhor Luís de Moura no ano de 1927, com objetivo de proteção e
legitimação da ocupação. CRUZ, 1973., p. 34.
16
Medida itinerária equivalente a 3.000 braças ou a 6.000 metros.
21

Outro morador de Belém que teve destaque no âmbito da ocupação e produção em


terras que compreende o Guamá foi o capitão Domingos Monteiro de Noronha. Este possuía
outros engenhos e plantios em áreas que compreendem o rio Moju, mas neste momento
buscamos a relação de Domingos com o Guamá, sendo que este possuía plantações de cacau e
cana, e dizia que estes engenhos e plantios eram para dar sustentação a seus servos.
(CHAMBOULEYRON, 2011. p. 7).

Segundo Cunha (2009), os engenhos construídos às margens do rio Guamá durante o


século XVIII, foram de grande relevância para se consolidar a ocupação da região, haja vista
que este processo se consolidava com o projeto de sesmarias, vigente neste momento. Na
metade do século XVIII, tem-se contabilizado cerca de 39 registros de propriedades ligadas
ao açúcar, propriedades estas localizadas as margens dos rios Guamá, Acará, Moju.

Cruz (1973. p. 95) mostra que o engenho real de Mocajuba localizado as margens do
rio Guamá foi adquirido pelo proprietário Feliciano José Gonçalves no ano de 1789. Este
custou mais de 900 réis, sobretudo o engenho seria adquirido, mais vinha com sua compra um
total de 39 escravos a ser utilizado pelo novo proprietário. Outros engenhos localizados a
margem do rio Guamá, foram conhecidos como Murutucu e o do Utinga.

Cruz, (1973), Castro, (2001), Paz, (2012) apontam que a produção ao longo do rio
Guamá não ficou restrita ao açúcar, os demais produtos tiveram sua importância no âmbito da
agricultura, como o cacau, algodão, mandioca. Com isso, as sesmarias que foram destinadas
às margens rio Caraparu que é pertencente à região do Guamá, consta a intenção dos colonos
de se realizar a agricultura baseada nestes produtos. Paz, (2012. p. 24) revela que a região do
Caraparu recebeu um total de 24 concessões de sesmarias, na qual vamos destacar algumas
posteriormente.

A carta de sesmaria pertencente ao senhor Manuel Gomes Rocha data do ano de 1728.
Consta na carta que o mesmo requereu com a intenção de se cultivar cacau, farinha e feijão.
Esta carta é referente às margens do rio Caraparu, sendo esta composta por duas léguas de
terras que compreende ao lado esquerdo do rio e vai até o centro, indo até margens das terras
do senhor Jozeph Alves. (Livro 05, folha 21, doc. 36, de 20/09/1728-INTERPA). Anexo (A)

Outra carta pertencente ao rio Caraparu data do ano de 1729, sendo está propriedade
do senhor Antônio de Souza Fernandes, que requereu com o intuito de cultivar cacau e mais
plantas. A carta de sesmaria adquirida no de 1729 pelo senhor João Paes da Silva, que
22

declarou ser casado e ter muitos filhos, fica localizado as margens do rio Caraparu. O teor do
pedido da carta ressalta a intenção do sesmeiro de se cultivar cacau e mais lavouras. (Souza,
2012). (Livro 05-Folha 90- doc- 131. INTERPA) Anexo (B) (2-livro 05- folha- 111-doc 176.
INTERPA), Anexo (C)

Em 1734, o morador Fran requer terras com o intuito de constituir e prosperar suas
lavouras. Ele conseguiu cerca de 2 léguas, suas delimitações ficavam próximas do igarapé
maguari, até os fundos da propriedade do senhor Manoel Gomes da Rocha, já citado
anteriormente17. O teor desta carta elucida que a área do Caraparu era prospera para o cultivo,
algo que neste período era de fundamental importância para deter o colono na terra, e
justificar tal apropriação. Já no ano de 1738, o senhor Pedro Correa de Souza consegue uma
carta de sesmaria no igarapé Jundiaí, que fica localizado na região do Caraparu. Pedro
requereu a terra com a intenção de cultivar produtos, este foi consolidado com uma légua de
terra.18

Essas cartas citadas acima revelam que o processo de ocupação e colonização da


região que compreende o rio Caraparu se inicia com o projeto de sesmarias, onde juntamente
com a ocupação, tem-se destacado no teor dos pedidos a utilização da agricultura e das
plantações para se apropriar da referida terra. Citamos algumas das vinte e quatro cartas
referentes à região do Caraparu, e consigo as mesmas sempre apresentaram as intenções
destacada anteriormente. (PAZ, 2012; SOUZA, 2012).

Em seu trabalho Ana Paula Macedo Cunha (2009) ressalta que as sesmarias foram um
instrumento utilizado pela Coroa Portuguesa para a fixação dos colonos na terra e
consequentemente a isto se ressalta o sucesso da ocupação e da exploração econômica. A
autora no argumento de Chambouleyron (2011), de que as sesmarias legitimaram a lógica da
ocupação e da exploração econômica, que foi colocada em prática na região amazônica ao
longo do século XVIII.

No mapa em anexo19, é perceptível a presença do rio Caraparu, porém esta figura não
é representada pela comissão do projeto de sesmarias, assunto este mencionado anteriomente.
Mas é uma construção da igreja, haja vista que o processo de catequização das comunidades
étincas nativas da região amazônica estava em atividade. E como a região guajarina faziam

17
Livro-06-Doc-341-Folha-170. Ano 1734 INTERPA. Anexo (D)
18
Livro-09-Doc-145-Folha-96. Ano 1738 INTERPA. Anexo (E)
19
Anexo (F)
23

parte de uma zona importante ao longo do processo de colonização, a presença da igreja


dentro desta lógica era de fundamental relevância . (NASCIMENTO, 2011)

Diante ao exposto, a ocupação que compreende ao rio Guamá é de extrema


importância para entender e compreender a relação do rio Caraparu, com o contexto de
ocupação legitimado pelo processo das sesmarias. Haja vista, que as cartas de sesmarias são
documentos oficiais da Coroa Portuguesa, e demonstram sua total intenção em ocupar e
cultivar a região Amazônia.

2.3 - A intenção da coroa portuguesa e dos sesmeiros com o processo de ocupação da


região Amazônica.

O sistema de sesmarias implantado no Brasil foi necessário para legitimar o processo


da ocupação e apropriação da terra “descoberta”. Logo, este método necessitava de alguns
parâmetros e princípios a serem cumpridos. O principal era ser colocado em prática, princípio
este de suma importância para se consolidar a ocupação. Posteriormente era necessário, e de
extrema importância para a Coroa, à demarcação e o cultivo desta terra, haja vista que o
sesmeiro, inserido na lógica portuguesa de ocupação da terra, seria indiretamente um agente
da Coroa em solo brasileiro. (INTERPA, 2009)

Na lei de sesmaria implementada pela Coroa Portuguesa, existem duas obrigações


fundamentais para se requerer uma propriedade, a primeira é a demarcação da terra que
necessita de sua efetivação em excelência, pois para os portugueses este princípio é de suma
relevância para o entendimento de propriedade, e de proteção a sua terra. Outra obrigação é
cultivo, que a falta de produtividade em uma propriedade era sinal de abandono e falta de
ocupação, sendo necessário não somente estar na terra, mas cultivá-la de modo que este
princípio lhe garanta a posse da mesma. (INTERPA, 2009)

Com isso, deixasse a entender que a ocupação das terras ociosas na região amazônica
se enquadra na lógica territorial de Portugal, haja vista que a coroa se utilizou do projeto de
sesmarias para consolidar sua determinação territorial, mostrando que seu interesse não era
meramente econômico, mas sim de ocupação, legitimação de algo que foi “conquistado”. No
entanto, de acordo com o trabalho do INTERPA (2009), é importante destacar que este
processo de ocupação não se consolidou em sua excelência, tendo em vista que a Coroa
24

necessitava fazer uma fiscalização nas propriedades, fator este que foi prejudicado pela
imensidão da região e pela caracterização do ambiente e do clima. (INTERPA, 2009)

O interesse da Coroa em saber o que vinha se constituindo nas propriedades era algo
que legitimava pela forma de fiscalização, destacando neste sentido que a Coroa decretava
prazos para a realização do cultivo. Pautava punições a sesmeiros que não cumprissem as tais
regulamentações. Uma das punições mais severas era a expropriação da terra não cultivada.
No entanto, esta prática de fiscalização e punição em solo amazônico e brasileiro, teve pouco
resultado devido à complexa dimensão territorial. (INTERPA, 2009).

Minervina de Lourdes Soares de Souza (2012) destaca algumas cartas de sesmarias


pertencentes ao século XVIII, que demonstram a intenção do sesmeiro em requerer sua terra;

O suplicante Manuel de Souza não tem terras próprias onde possa fazer suas lavoras.
Por cuja razão, é necessário carta de sesmaria no rio vajarâ, a partir do rio Piranema
até a boca do rio Jandiaí entre os marcos de Antônio de Souza Moura e dos
religiosos. (SOUZA, 2012. p.52)

Nesta citação, fica clara a intenção de se produzir em uma propriedade legitimada e


consolidada pela Coroa Portuguesa. Na maior parte do teor dos pedidos referentes a cartas de
sesmarias, as mesmas vêm sempre com o intuito de serem cultivadas lavouras, haja vista que
a agricultura alinhada com a fertilidade do território amazônico, foi um dos fatores que
contribuíram sumariamente para o sucesso da ocupação.

Cruz (1973) Souza (2012) revelam que agricultura não foi o único modelo de
manutenção das sesmarias, é importante destacar que a criação de gado foi relevante em
algumas propriedades localizadas na região do Guamá. A extração de couro foi outra
mercadoria de relevância no comércio.

Desse modo, conclui-se que de ambos os lados havia um interesse por trás, contudo os
objetivos são diversificados que convém a cada grupo. O ideário da coroa pautado na lógica
de demarcação, e controle. E os colonos com o olhar de garantir sua propriedade e sobrevier
através de sua produtividade.
25

3- CAPÍTULO II - A ESCRAVIDÃO NO GRÃO-PARÁ, SÉCULO XIX.

3.1-Escravidão na zona do rio Guamá.

A escravidão em solo Amazônico é algo que remonta ao princípio da colonização.


Durante o século XVIII, é possível observar dentro da população que habita Belém, uma
grande quantidade de escravos20. De acordo com Salles (1971), é importante mencionar que
neste contexto de exploração, a escravidão não estava restrita a comunidade negra africana,
abrangia também a comunidade indígena. (VICENTE SALLES, 1971)

O uso da mão-de-obra indígena no processo de colonização da região do Grão-Pará e


Maranhão durante o século XVII era constante e contundente. Muitas vezes, este processo de
escravidão dos indígenas foi legitimado pelos colonos lusitanos com o discurso de baixa
pobreza, haja vista que a condição financeira da região neste período estava ligada a produção
da pequena lavoura, impossibilitando os colonizadores de comprar escravos africanos, sendo
estes bem mais caros do que os nativos. (CORRÊA, 2013)

A partir da segunda metade do século XVIII, com o advento da regularização do


tráfico negreiro em território amazônico, proporcionado pela Companhia Geral de Comércio
do Grão Pará e Maranhão (1755-1778), a quantidade de cativos na província aumentou
significativamente. Após a regularização do tráfico que aconteceu no ano 1756, a demanda de
escravos que foi inserido na região amazônica entre os anos 1756 - 1800 ultrapassou os 35
mil21. A grandiosidade e expressividade deste número se consolidam, quando se faz
comparação com os números de cativos que entraram na Amazônia durante os anos de 1707 e
1743. Barbosa (2017) apresenta uma ampla discussão sobre o número de escravos que foram
inseridos na Amazônia na primeira metade do século XVIII, tendo como referência autores
renomados no assunto como Katia Mattoso e Daniel Domingues Silva22. A discussão tem
como base os dados do Banco do comércio transatlântico de escravos. Na tabela abaixo
organizada por Barbosa, está presente o número de cativos inseridos dentro da visão de cada
autor citado acima. (BEZERRA NETO, 2000; BEZERRA NETO, 2012; BARBOSA, 2017).

20
Cerca de 30 mil cativos ingressaram em navios rumo à província do Grão-Pará e Maranhão ao longo do
século XVIII. BEZERRA NETO, José Maia. Escravidão negra no Pará: séculos XVII-XIX. Belém, 2
edição. Paka-Tatu, 2012. p. 201-239.
21
NETO, loc. Cit.
22
Katia Mattoso. Livros: "Bahia no Século 19 - uma Província no Império" (Nova Fronteira, 1992), "Ser
Escravo no Brasil" (Brasiliense, 1982)
Daniel Domingues Barros Silva. Suas pesquisas encontra-se publicada em revistas acadêmicas de língua inglesa
e portuguesa, como Slavery and Abolition e a Revista Afro-Ásia.
26

Tabela I - Estimativa de africanos desembarcados.


Ano Mattoso BDCTE Silva Barbosa
1707 100 113
1708 200 87 100 87
1714 356 356 356
1715 85 85 85
1718 150 75
1721 150 75 150
1740 69 69 69
1741 7 7 7
1743 92 92 92
Total 500 696 959 959
Barbosa, C.C.B. TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS PARA A AMAZÔNIA COLONIAL (1707-1750).

Muitos destes escravos que desembarcaram em território amazônico, ficaram as


margens dos rios Acará, Moju, Capim e Guamá devido ao ideário de ocupação e colonização.
Os colonos no momento de requerer uma sesmaria ao longo destes rios legitimava sua
condição de produtividade com o número de cativos disponível para atingir tais objetivos,
fator este que mantem uma relação entre as sesmarias e o processo de escravidão. (INTERPA,
2009; BEZERRA NETO, 2012).

Cruz (1973.p.84-87) cita no relatório do senhor Antônio da Cruz Diniz Pinheiro,


escrito no ano de 1751 destaca que neste período existia cerca de 24 engenhos no Pará, e 77
engenhocas. Logo, 22 engenhos pertencem a moradores, e 2 aos religiosos do Carmo e da
Companhia de Jesus. O autor ressalta que os engenhos eram “cheios de grande número de
escravos”, estes cativos participavam ativamente da produção dentro dos engenhos. (CRUZ,
1973).

Segundo José Maia Bezerra Neto (2000, p.21) “nas bacias fluviais que compõem a
Zona Guajarina23, houve o estabelecimento de fazendas e engenhos caracterizados por uma
significativa mão-de-obra escrava de origem africana”. Este fator é perceptível quando se
analisa o processo de ocupação e colonização da região mencionada. Temos os exemplos de
alguns engenhos e fazendas que legitimam a ideia em destaque, um deles é o já citado
Engenho Murutucu, que tinha como proprietário o senhor João Antônio Rodrigues Martins,
iniciava suas extensões nas terras do igarapé Tucunduba e terminava nas delimitações do
Uriboca, teve em suas atividades a participação da mão-de-obra escrava, sendo este
representado por cerca de 40 a 50 escravos. O engenho Madre de Deus, que tinha como
proprietário o senhor Eduardo Angelim possuía cerca de 72 cativos envolvido em suas
23
Denominação pertencente às áreas ligadas ao rio Guamá. NETO, 2012. Passim.
27

atividades. O engenho São José, que ficava localizado nas margens do rio Capim tinha cerca
de 50 cativos, sendo estes de propriedade do senhor Calisto. Este último engenho
mencionado, focava na produção de cachaça, sendo este produto o que propiciava mais lucro
para o engenho. (NETO, 2009; NETO, 2012; CRUZ, 1973).

Neste momento, os engenhos e fazendas construídos e edificados ao longo do rio


Guamá, mantendo proximidade com a região do Caraparu durante o século XVIII, e destacar
a prática escravista que vigorava dentro da produção. A fazenda do senhor Sebastião de Souza
nas margens do rio Caraparu que teve como finalidade a plantação de cacau e lavouras que
produzem frutos. Souza (2012.p. 52-53) revela que Sebastião, no momento de requerer está
terra, utiliza o discurso de ter muitos servos, fator este que deixa a entender que houve um
processo de exploração, carta esta que data do ano de 1729. Francisco da Borja Correa de
Mendonça24 conseguiu uma légua de terra no rio Caraparu, cuja esta foi requerida com o
discurso do proprietário de ter escravos e não possuir terras próprias para o cultivo.

O estabelecimento do tráfico negreiro, atrelado à política de distribuição de sesmarias,


possibilitou o surgimento de grandes fazendas necessárias para o cultivo agrícola, tendo
vários gêneros alimentícios sendo cultivados, os demais destaques foram açúcar, café, arroz e
cacau. Segundo Neto (2012), uma das regiões em que mais se produziu e plantou cacau foi no
baixo Amazonas, tendo como base a localidade de Óbidos que possuiu um Cacoal de mais de
16 mil pés, sendo este cuidado por cerca de nove escravos. No entanto, ao analisar as cartas
de sesmarias pertencentes ao rio Caraparu que data do século XVIII, observa-se que o plantio
do cacau foi desenvolvido por colonos ligados a este rio. Na carta do senhor Manuel Gomes
Rocha, percebe-se que o mesmo ao requer a terra tinha o intuito de cultivar vários produtos,
dentre eles o cacau. (SOUZA, 2012; NETO, 2012).

Na Carta do senhor João Paes da Silva citado por Souza (2012), é perceptível a
intenção do mesmo em se cultivar cacau as margens do rio Caraparu, sendo está terra requerer
com o discurso de possuir uma ampla família, diz ter muitos filhos dispostos a trabalhar nas
lavouras. O cacau na Europa durante o século XVIII passou a dar lucro satisfatório para os
colonos amazônicos, sendo este produzido e exportado em grande escala. Segundo o livro da
alfândega do porto do Pará que data de 1730 a 1750, o cacau foi o produto mais lucrativo na
exportação, sendo vendido cerca de 852.973.71 arrobas25, sendo superior até mesmo a

24
SOUZA, 2012. Passim.
25
É a medida mais antiga de massa existente, 1 arroba equivale a cerca de 15 Kg.
28

exportação do açúcar. Segundo Neto (2012. p.168) “o estabelecimento do tráfico regular de


escravos africanos para Amazônia, fomentava-se o cultivo do cacau”, no entanto, vimos
anteriormente que o número de cativos inseridos em solos amazônicos na primeira metade do
século XVIII não era expressivo, logo, com a regularização do tráfico negreiro o problema da
mão-de-obra vai ser parcialmente resolvido, fomentando o cultivo dos demais produtos e do
cacau mencionado anteriormente. (BEZERRA NETO, 2012; SOUZA, 2012).

Assim, faz-se necessário relacionar o processo de escravidão ao longo do rio Guamá e


as margens do Caraparu, com o processo de concessão de terras legitimado pelas sesmarias,
fator este que proporcionou o povoamento da região em destaque. É relevante destacar a
análise da participação e quantificação dos escravos na produção agrícola dentro dos
engenhos e fazendas ligadas a esta região, com o objetivo de identificar o formato de
povoação das comunidades de compõem a localidade do Caraparu nos dias atuais. O Bujaru,
área muito próxima do Caraparu, teve seu processo de ocupação e colonização com o advento
legal das cartas de sesmarias, no entanto Castro (2006) coloca que através deste método de
exploração dos cativos, muitos se revoltavam e acabavam se refugiando dentro das matas,
propiciando a formação de quilombos ou comunidades, fatores estes que irá aparecer
frequentemente durante o século XIX.

É importante ressaltar que o número de escravos inseridos dentro do território


amazônico nos fins do século XVIII e início do XIX superou os 14 mil26, sendo este um
percentual bem elevado, tendo em consideração que desde o princípio do século XVIII o
desembarque de inúmeros cativos na Amazônia. (NETO, 2012).

Com o alto percentual de escravos inseridos no território amazônico ao longo do


século XVIII, o processo de fuga e resistência que corresponde aos maus tratos recebidos por
estes se intensifica durante o século XIX, posto que a participação escrava do Caraparu no
movimento cabano está inserida dentro desta lógica de resistência. Temática está que será
discutida a fundo nos próximos capítulos. (SALLES, 1971; NETO, 2000).

3.2 Fuga e resistência escrava ao longo do rio Guamá século XIX.

O relatório pertencente à estatística da população escrava no Grão-Pará que data do


ano de 1849 publicado pelo jornal o publicador paraense e citado na obra de Salles

26
NETO, loc. Cit.
29

(1971.p.72) mostra que a população da província é formada por mais de 34 mil escravos27. A
região do Guamá fica ligada as redondezas de Belém, e a quantidade de cativo presente nesta
região segundo o relatório ultrapassam os 19 mil, sendo este um número considerável quando
comparados a outras comarcas28.

Salles (1971) e Bezerra Neto (2012) destacam que no Pará o cotidiano do negro foi
marcado pela prática do trabalho forçado e violento. Vale ressaltar que os negros não
aceitaram pacificamente a escravidão, dando início a um processo de fuga e resistência que se
tornou frequente, e muitas vezes incontrolável. O repúdio ao processo de escravidão se
consolidou de diversas formas, dentre elas estão os suicídios, assassinatos, fugas para o
interior das matas, sendo está última um dos meios para a constituição e formação de
quilombos e comunidades independentes.

Para Vicente Salles (1971, p.203), “a fuga deve ter sido, no começo, solução bastante
difícil e arriscada”. O autor leva em consideração para pautar sua ideia a prática individual
destes escravos no momento da fuga, acarretando em uma dispersão sem um conjunto
coletivo para dar suporte ao seu método de resistência, dificultando sua sobrevivência no
meio das matas. Algumas vezes, os negros acabavam encontrando grupos étnicos nativos da
região amazônica, chegando a ter por vezes uma relação amistosa com os indígenas. Mas, o
negro começou a dar corpo e organização para seu processo de resistência, não fazendo fugas
de modo aventureiro. Muito desta organização se deve ao acoutador,29 que mantinha relação
com escravos de regiões diferentes, e na maioria das vezes conhecia bem o território,
indicando para os revoltosos qual o melhor quilombo e onde ficava localizado. (SALLES,
1971).

Segundo Bezerra Neto (2000), as fugas na primeira metade do século XIX estavam
diretamente relacionadas ao contexto político do período. Vale lembrar que no início do
século mencionado, o Brasil passa por um processo conturbado e complexo referente ao seu
processo de independência, contudo as movimentações e fugas ganham novos significados de
cunho político, ligando a ruptura com o processo colonial, com o objetivo de abolir a
escravidão. Neto (2000, p.74) “os cativos não foram meros espectadores do processo de
independência” tendo e vista que era necessário partir para um processo amplo de revolta e
27
SALLES, 1971., p. 72.
28
O relatório é dividido por comarcas, dentre elas está Belém, Cametá, Santarém, Macapá, Bragança e Rio
Negro. SALLES, 1971, loc.cit.
29
Pessoa que conhecia o território e mantinha ligação com escravos de outras regiões, dando suporte para onde ir
no momento da fuga. Ibid., 1971. p. 203.
30

resistência para conseguir sua libertação, os negros de forma individual e coletiva passaram a
impulsionar o movimento de fugas a partir do século XIX. É importante revelar que a
resistência escrava não se iniciou no século XIX, e sim desde o princípio da exploração
escrava no território amazônico 30, no entanto, vamos nos debruçar na resistência ocorrida
durante o século XIX, que será de fundamental importância para o embasamento do trabalho.
(NETO, 2000; SALLES, 1971).

Neste momento, faz-se necessário elucidar a contribuição dos rios que compõem a
região do Guamá, para que seja possível entender como que se consolidou este processo de
fuga e resistência. Muitos escravos se utilizavam das embarcações, algumas pequenas, outras
maiores para fugir do seu senhor. Neto (2000, p.129) afirma que “fugir em canoas constituía-
se em um fator bastante comum na região amazônica, na qual os rios supriam a existências de
precários caminhos”, sendo estes rios uma verdadeira “estrada” rumo ao processo de
libertação. No entanto, para se consolidar tal prática era necessário ter conhecimento e
habilidades para navegar nos rios, caso contrário os planos de fugas poderiam dar errados,
chegando-se a conclusão que navegar em busca da liberdade era algo sério, não dando chance
para os imprudentes e os inexperientes. Portanto, navegar em canoas muitas vezes requeria
organização, preparo e planos de efetivação. Logo abaixo vamos salientar algumas fugas
referentes à região do Guamá e Caraparu ao longo do século XIX. (NETO, 2000)

Na região do Guamá, no sitio Maguari, Bezerra Neto (2000.p.203-231) revela que foi
registrada uma fuga dos escravos Gaudêncio e Gualdino, que furtaram uma montaria31. Estes
escravos ficavam na fábrica de sabão, que tinha como proprietário Jozé Ó D´Almeida. Na
mesma região foi registrada a fuga de Manuel Ramos Doce, Antônio, Felícia e Luiza. Fuga
está que data do dia vinte e quatro de novembro de 1850, estes escravos pertenciam ao
engenho Santo Ignácio, e fugiram em uma montaria.

O senhor Henrique Antônio Strauss, proprietário do engenho Murutucu, que ficava


localizado nas margens do rio Guamá, reclamava nos jornais das fugas constantes de diversos
escravos. Ele relata que na data de 20 de novembro de 1844, os escravos Joaquim e Geraldo

30
Vicente Salles, monstra que durante o século XVIII o processo de fuga e resistência á havia se iniciado em
solos amazônicos. Ibid., 1971.p. 203-231.
31
As montarias eram pequenas canoas usadas pelos indígenas e caboclos ribeirinhos, geralmente feitas de um
tronco, escavada a fogo. Por volta do século XIX Aumentaram o tamanho passaram a ter um pequeno toldo na
proa a serem usadas para viagens mais longas. REIS, Arthur Cezar Ferreira. O seringal e o seringueiro. 1953.p.
193.
31

havia desparecidos. No dia 12 de março 1848, o mesmo proprietário cita a fuga da preta
Francisca. O oficial de pedreiro que residia no engenho Murutucu ou no Caraparu fugiu
declarando que estava sendo açoitado pelos seus próprios parentes. (NETO, 2000)

As fugas, tanto individuais quanto coletivas, eram oque propiciava a formação e


constituição dos quilombos que serviam como método de resistência ao processo de
escravidão. Um dos quilombos formados durante o século XVIII, que mantém uma
proximidade com a região do Caraparu, foi o quilombo do Maguari, que manteve relação
direta com as proximidades de Benfica. Localidades estas que através dos rios mantinham
contatos com outros engenhos que exploravam e abrigava uma ampla quantidade de cativos,
um desses engenhos é o já citado Murutucu, que ficava localizado as margens do rio Guamá.
(SALLES, 1971).

No mapa em anexo 32, é possível identificar a proximidade do Caraparu com as


localidades citadas acima, tendo em vista as conexões realizadas por rios, legitimando a ideia
pautada anteriormente, que os rios formavam pequenas “estradas” rumo à libertação e
resistência.

Através da observação deste mapa, conclui-se que a ideia pautada anteriormente, de


que os rios neste contexto histórico e social foram de fundamental importância para dar
suporte ao processo de resistência escrava. A região do Maguari, que ao longo do século
XVIII constituiu um importante quilombo fica ligada por rios as localidades de Benfica e
Caraparu, sendo esta região importante de ser mencionada no contexto trabalho, para que seja
possível entender a ocupação do Caraparu. (SALLES, 1971).

Salles (1971, p.210) afirma que “o destino natural do negro fugido era o mocambo”,
no entanto a manutenção destes núcleos de resistência era muito difícil, haja vista que
governo instituiu por um determinado período a destruição dos quilombos e a captura dos
escravos fugidos. No ano de 1841 foi criada uma corporação especial para tratar das capturas,
a lei n* 99, de 3 de junho do referido ano, criava a função do capitães-do-mato33 que tinha
como função capturar escravos fugidos de seus respectivos distritos. Ademais, foi instituído
dentro desta lei vários34 artigos com a intenção de desmobilizar as organizações escravas,

32
Anexo (G).
33
Função está que é referente ao artigo um. op. cit., p. 213.
34
Foram criados sete artigos que visavam desestruturar as organizações escravas. SALLES, loc. cit.
32

deixando a entender no teor destas, que o governo estava preocupado com as agitações e
revoltas surgidas na primeira metade do século XIX. (SALLES, 1973)

Vicente Salles ressalta que a evolução organizacional dos escravos durante o século
XIX, e estes imbuídos dentro de um período de conturbação política e social, acabou
consagrando algumas revoltas escravas e populares na província do Pará, e que tinha como
reais objetivos a conquista de direitos políticos, libertários e humanos. Fato este que será
evidente na luta cabana, luta de cunho popular, que teve como sujeito os revoltosos indígenas,
negros e cabanos, porém, tinham suas intenções políticas e libertarias. Salles (1973, p.266)
evidencia que “deram-se armas e munições aos negros, bem como instrução para utiliza-las.
Preparava-se o futuro cabano”. Esta temática será debatida no próximo capitulo, destacando a
participação escrava do Caraparu no embate cabano do século XIX.
33

4 - CAPÍTULO III: CARAPARU- (1830 – 1882).

4.1. - A participação escrava do Caraparu na Cabanagem. (1830-1840)

A cabanagem se constituiu como um movimento de luta e resistência contra as


estruturas de controle e opressão a sociedade paraense do século XIX. Os cabanos 35 foram os
sujeitos históricos que desestruturam o poder de dominação do período regencial em solo
amazônico, e constituíram o poder das massas. (GUEDES, 2011; BARRIGA, 2014).

A revolução cabana, que se efetivou no ano de 1835 na capital Belém, deixou mais de
30 mil mortos, sendo estes representados em sua maior parte por índios, negros e mestiços.
Ricci (2006, p.7) destaca que “indígenas, negros de origem africana e mestiços perceberam
lutas e problemas em comum”, passagem esta que esclarece a unificação entre os grupos
étnicos no momento de luta para conseguir seus direitos sociais. É importante ressaltar quais
os grupos faziam parte dos revolucionários, para não generalizar estes sujeitos apenas como
tapuios. Os indígenas foram sujeitos ativos no movimento cabano, tanto do lado
revolucionário quanto do lado legalista, cada comunidade indígena tinha suas intenções e
objetivos dentro do movimento. Henrique (2018. p.38) ressalta que “a participação dos índios
na cabanagem ainda está por ser estudada com mais profundidade”, visto que o estudo sobre a
temática aponta para a participação indígena de forma generalizante, tratando os indígenas
como meros tapuios.

Outro grupo de importante participação no movimento cabano são os negros, que


tiveram destaque e participação em vários levantes, tanto na capital, quanto no interior da
província. Salles aponta que (1971. p. 265) “a adesão e integração da massa escrava é um dos
dados mais importantes no estudo da cabanagem”, fator este que evidencia a grandeza do
movimento cabano, pois o número de escravos negros na sociedade paraense do século XIX
ultrapassa os 46%, e muitos destes estavam inseridos na luta para atingir seus objetivos e
conquistar seus direitos. Ressaltar a contribuição ativa do negro neste momento se faz
necessário para elucidar posteriormente o levante dos escravos na zona do rio Caraparu.

35
Cabanos era o termo utilizado como alcunha dos homens que viviam em casas simples, cobertas de palha. O
mesmo nome cabano também significa um tipo de chapéu de palha comum entre o povo mais humilde na
Amazônia. RICCI, Magda. Cabanagem, cidadania e identidade revolucionária: o problema do patriotismo
na Amazônia entre 1835 e 1840. Cf., 2006.
34

Segundo Vicente Salles (1971), o negro não entrou na luta cabana sem nenhuma
orientação, estes ampliaram seus ideários de luta a partir do momento que identificaram os
conceitos propagados pela ideia de liberdade 36 durante o século XIX. Para (Salles, 1971. p.
267) “os negros estavam sendo politizados”, haja vista que as ideias de liberdade estavam se
propagando na província, e no seio social dos escravos. No entanto, Ricci (2006) destaca que
muitos líderes cabanos não possuíam plena consciência de suas motivações e atos ao longo do
movimento, mas, nascia no movimento cabano, uma possível consciência pautada em uma
lógica de luta contra a exploração colonial. (SALLES, 1971; RICCI, 2006).

No memorial da Cabanagem, Vicente Salles (1992) revela que o conjunto de ideias


que surgiram ao longo do movimento cabano não se constituiu em uma unidade orgânica e
definida, entretanto, os revolucionários estavam pautados de ambições políticas e libertárias
em seu movimento, ideia está que fica clara abaixo;

A cabanagem se caracterizou tipicamente como movimento social, com alguma


expressão de autentica guerra de libertação. O conjunto de ideias que os cabanos
levantaram se não podem, a rigor, constituir um corpus orgânica, política e
ideologicamente definido, revelam contudo um elevado índice de politização.
(Salles, 1992. p.133)

É importante frisar que o movimento cabano não se constituiu apenas pela


participação das classes pobres, escravizadas. Teve a participação de pequenos setores da elite
comerciante de Belém. Estes estavam indignados e insatisfeitos com a situação econômica,
social e política vivenciada na província neste período, haja vista que o processo de
independência política de Portugal aconteceu durante o ano de 1822, mas as estruturas
colônias ainda estavam presentes no seio social e não garantiam direitos e condições para o
desenvolvimento econômico da pequena elite. Neste cenário, Barriga (2012, p. 18) destaca
que o movimento cabano se consolidou com o “desdobramento de fatores sociais, políticos e
econômicos que vinham se delineando no Grão-Pará e criavam uma atmosfera de
instabilidade política”. Fatores estes que atingiam diretamente a população da província, que a
partir disto propiciou o levante cabano. (SALLES, 1992; BARRIGA, 2014).

No dia 7 de janeiro de 1835, explodiu o movimento cabano na capital Belém, os


revolucionários que eram compostos por variados setores da província se armaram e mataram

36
Esses conceitos de liberdade estão diretamente ligados ao processo de emancipação proporcionado pela
revolução francesa do século XVIII. As ideias iluministas estavam sendo inseridas no seio social da Amazônia
do século XIX, muitas delas sendo propagadas por pessoas como Felipe Patroni, Batista Campos e Luiz Zagalo.
Op. cit., SALLES, 1971. p. 212. SALLES, Vicente. Memorial da Cabanagem: Esboço do pensamento
político-revolucionário no Grão-Pará. Belém : Centro Jurídico do Pará, 1992. Passim
35

as principais autoridades da província. O então presidente Bernardo Lobo de Souza e o


comandante das armas José Joaquim da Silva Santiago foram mortos com tiros disparados por
tapuios37. É importante elucidar que o movimento cabano não ficou restrito a região de
Belém, sendo este expandido por grande parte do território da província. (BARRIGA, 2014;
RICCI, 2006).

Segundo Ricci (2006, p. 06), “a revolução cabana avançou pelos rios amazônicos”,
passagem está que se consolida no momento de analisar os levantes cabanos que aconteceram
no interior da província, muitos deles sendo praticado pelo uso dos rios e igarapés. Muitos
levantes aconteceram nas margens dos rios ocupados ao longo do século XVIII, temática está
trabalhada no primeiro capítulo. As revoltas que surgiram no interior da província que tiveram
seus destaques serão mencionadas minuciosamente. Neste momento vamos destacar os
levantes que surgiram ao longo dos rios Acará e Guamá, embates estes que marcaram um
período de muito sangue derramado. O levante que aconteceu na fazenda Pernambuco, nas
margens do rio Guamá teve grande destaque, tendo vista que nesta fazenda existia uma grande
quantidade de escravos, e muitos destes foram mortos. (RICCI, 2006; SALLES, 1971).

Salles (1971, p.268) revela que no Acará, teve destaque à participação do preto Félix
na luta cabana, que consigo tinha cerca de 400 escravos para participar do movimento contra
o poder legalista do período regencial. A organização de resistência e luta destes escravos do
Acará foi significativa, tendo em vista que foi realizada mais de uma expedição para
conseguir derrota-los. Nas margens do rio Guamá, teve destaque os levantes ocorridos nas
margens do rio Caraparu e Benfica.

Vicente Salles (1992) ressalta que no Caraparu existia um engenho de pequeno porte,
e que seus proprietários possuía um considerável número escravos. Cativos estes que eram
liderados pelo preto Cristóvão, que posteriormente se uniram com os cabanos. Hurley (1936.
p. 26) evidencia que “em Benfica e em Caraparu há ajuntamentos de rebeldes em coordenação
de planos bélicos”, colocação está que mostra o tamanho da organização dos revolucionários,
obtendo até certa quantidade de armamentos bélicos. Está organização reuniu cerca de 150
revoltosos, sendo que alguns participantes desse grupo eram desertores das forças legalistas.

37
Esses tapuios eram pessoas que moravam nas cabanas. Os autores dos disparos eram Domingos, conhecido
como “onça”. E Felipe, conhecido como Mãe da Chuva. BARRIGA, Letícia Pereira. Entre leis e baionetas:
Independência e Cabanagem no Médio Amazonas (1808-1840). 2014. 209 f. Dissertação (Mestrado) -
Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Belém, 2014. Programa de Pós-
Graduação em História Social da Amazônia. p. 17.
36

Foram realizadas cerca de três expedições das foças legalistas para derrotar os
revoltosos que estavam localizados nas margens dos rios citados acima. A primeira expedição
enviada pelo general Andréa, não conseguiu se locomover e chegar às margens de Caraparu e
Benfica, devido o comandante, major Ferrara ter adoecido. A segunda teve o objetivo de
atacar o engenho de Benfica, onde se estimava que os revolucionários estivessem amotinados
nesta localidade, posteriormente a isto, a força legalista deveria seguir até o engenho do
Caraparu, no entanto os lideres legalistas “não souberam o caminho ou tiveram medo de o
saber”. (SALLES, 1971; HURLEY, 1936)

Vicente Salles (1971) evidencia que a terceira expedição foi o momento de destruição
dos revoltosos que se localizavam nas margens do Caraparu;

Andréa determinou a marcha da terceira expedição destinada a abater os cabanos


reunidos em Caraparu. Dela foi incumbido o capitão-tenente Osório, comandante
das força do Guamá, que ordenou ao segundo-tenente Fernando Lázaro de Lima e
execução da batida. Este, com cerca de duzentos homens, penetrou nas selvas do
Caraparu e após longas marchas deu com os rebeldes, que eram perto de 150.
Travou-se o combate e os cabanos foram destroçados completamente, ficando mais
de 20 mortos no campo além dos feridos. (Salles, 1971. p. 268)

Os rebeldes já esperavam o ataque das forças legalistas, com isso, dois dias antes do
ataque os cabanos começaram a migrar para o interior das matas, e Salles destaca (1971, p.
268) “até hoje não se sabe onde estes foram se estabelecer”. Andréa também afirma que os
cabanos que não foram capturados seguiram para meio da floresta, sendo está praticamente
impenetrável. Após três expedições o então engenho do Caraparu foi “vencido”. Sendo
importante elucidar a grandiosidade deste movimento, tendo em vista que eram centenas de
revoltosos localizadas nas margens do Caraparu, que participaram ativamente do movimento
cabano. (SALLES, 1971; HURLEY, 1936).

Hurley (1936, p. 24) ressalta a fala do general Andréa após vencer os escravos do
Caraparu “até hoje não sei onde foram se estabelecer”. Salles (1971, p. 268), “muitos
seguiram para o interior das matas”. Estas duas passagens são de fundamental importância
para se entender como se consolidou o povoamento da região que compreende o distrito do
Caraparu. A população do distrito em destaque está dividida em diversos povoados distante
uma dos outros. Após análise das falas, o teor das documentações deixasse a entender que
aconteceu uma migração dos sobreviventes para o interior das matas. Contudo, ao observar
estes fatores, analisamos como está distribuído atualmente o povoado que compõe o distrito
de Caraparu, sendo estes divididos em vários povoados, com certa distância entre si,
concluindo que a ideia de uma possível migração do centro Caraparu para as suas margens
37

pode ter acontecido. No mapa em anexo 38 é possível identificar os povoados que pertencem
ao Caraparu. São eles, Tacajós, Quitéria, Jundiaí, Campinense, Carmo, Macapazinho,
Conceição do Itá, Boa Vista do Itá, Pupunhateua e outros39. (HURLEY, 1936; SALLES,
1971; FERREIRA, 1984).

Com a migração destes cabanos para o interior das matas, coloca-se em xeque a
possibilidade da formação de um ou vários quilombos nas margens do rio Caraparu. Tendo
em vista que além do repúdio aos métodos de exploração, o ataque das forças legalistas
influenciou diretamente na fuga dos escravos para o interior das matas. Atualmente, o
povoado do Caraparu e suas comunidades possuem reconhecimento quanto a uma localidade
descendente de quilombolas, destaca-se a comunidade de Macapazinho 40, que é reconhecida
atualmente como terra de preto. Fator este que consolida a hipótese ressaltada acima, no
entanto, não foram encontradas documentações e bibliografias que legitimam tal formação de
um quilombo nas margens do Caraparu ao logo do século XIX. Contudo, tais vestígios
deixados com o teor do memorial cabano, possibilita entender à complexa e variada forma de
ocupação do Caraparu ao longo do século XIX. (HURLEY, 1936).

A derrota dos revolucionários cabanos acontece por volta do ano de 1840. Este
movimento matou mais de 30 mil pessoas, afetando diretamente a economia da província e de
sua região. Os levantes do interior da província no contexto da cabanagem são de extrema
importância para se entender a questão social da época. O pouco número de trabalhos
produzidos e a baixa disponibilidade de fontes foram dificuldades pertinentes no momento de
se discutir a participação dos escravos do interior na luta cabana. (SALLES, 1971;
BARRIGA, 2014; RICCI, 2006; RAYOL, 1970).

Hurley (1936) cita a frase dita por general Andréa após derrotar os escravos do
Caraparu, (1936, p. 24) “vencemos completamente”. Após está afirmação do general, deixa-se

38
Anexo (H)
39
Dados retirados da obra; FERREIRA, Nestor Herculano. História do Município de Santa Izabel do Pará.
Belém: Editora Falângola, 1984. p. 107.
40
Macapazinho é uma das comunidades do distrito de Caraparu que atualmente é considerada como terra de
preto, ou quilombo, já estando em tramitação o processo de indenização dos proprietários que adquiram terras ao
entorno. Como é uma comunidade que se localiza na PA 140, e seu biótipo é marcadamente negro, então entrou
no imaginário de que ali era um lugar habitado pelo povo da África. Antes do decreto que reconheceu o direito à
terra aos remanescentes da escravidão de Macapazinho, falar o assunto se constituía em uma ofensa, motivo até
de briga. Atualmente falam com orgulho que possuem uma ancestralidade escrava. Cf. PAZ, 2012. p. 40.
MORAES, 2012.p. 45- 74.
38

a entender que o povoado do Caraparu não existe mais, foi derrotado completamente pelas
forças legalistas. Esta temática será tratada a seguir.

4.2 - Caraparu pós Cabanagem. (1840-1882)

Após este processo de revoltas e embates, a população da província paraense se viu


atingida por uma onda de epidemias em seu território. Os surtos de febre amarela, cólera e
varíola pós década de 1850 se tornaram frequentes no seio social. Costa afirma que (2006, p.
19) “as incursões epidêmicas representavam um perigo real para toda a sociedade” tendo em
vista que altos índices de mortalidade eram grandes. O autor afirma um dos fatores que
contribuiu diretamente para a proliferação destas epidemias, está relacionada às péssimas
condições sanitárias da província.

As primeiras vítimas da febre amarela na capital da província paraense surgiram em


meados de janeiro de 1850. Destaca-se que o poder de proliferação desta se constituiu de
forma rápida e devastadora. Estima-se que durante os primeiros sete meses da década de
1850, cerca de 506 pessoas já haviam sido mortas pela febre, e outras 304 mortas por doenças
diversas, dados estes presentes no relatório do presidente da província José Jerônimo
Francisco Coelho:

Tabela II: Índice de mortalidade por febre amarela em Belém (1850)


Epidemia reinante Diferentes moléstias
Meses Total
Nas Igrejas

Nas Igrejas
Cemitérios

Cemitérios
Soma

Soma
Nos

Nos

Janeiro 2 - 2 11 38 49 51
Fevereiro 2 1 3 21 37 58 61
Março 41 - 41 18 35 53 94
Abril 268 1 269 8 - 8 277
Maio 102 - 102 30 1 31 133
Junho 68 - 68 40 - 40 108
Julho 21 - 21 65 - 65 86
Soma 504 2 506 193 111 304 810

Fonte: Relatório do Presidente da Província do Pará Conselheiro Jerônimo


Francisco Coelho, 1850, p. 10-11. (Costa, 2006. p. 24)

A grandiosidade destes números em poucos meses se constitui com a falta de


conhecimento dos médicos sobre tal epidemia. Costa afirma que (2006, p. 24) “a epidemia é
completamente desconhecida de todos, até dos médicos”. Faz-se imporatante destacar que
39

outras41 epidemias surgiram ao longo da década de cinquenta, doeças estás que assolaram a
população da província e provocaram mudanças que afetou diretamnete a vida economica e
social das pessoas. Durante o ano de 1855, pauta-se em território paraense um novo ciclo de
surto epdemico, agora este provado pela coléra. Esta se espalhou por grande parte da
população da provincia, e atingiu o interior da mesma. A Coléra teve sua proliferação de
forma rapida e avassaladora. Estima-se que até o final do mês de junho do ano de 1855, a
metade da população de Belém estava com coléra. (COSTA, 2006)

No jornal Treze de Maio42 encontram-se vários anúncios referentes há medidas para


solucionar a crise provocada pelas epidemias, e quais os locais precisavam de atenção para
solucionar tais problemas. No interior da província destaca-se o surto de epdemia na
localidade do Caraparu. No dia 12 de julho de 1855 é noticíado no jornal Treze de Maio a
seguinte informação;

Officio. Ao inspector da thesouraria de fasenda, mandando remeter ao cônego


Gaspar Siqueira e Queiroz (em Caraparú) uma porção de medicamnetos proprios
para combater a epidemia reinante naquele districto, afim de serem distribuidos
pelas pessoas que deles precisam. Officiou-se também a thesouro provincial para
remeter ao dito conego a quantia de 100$000 réis para as despesas com dietas aos
enfermos necessitados. (Jornal Treze de Maio. 1845-1861).

Esta notícia, presente no jornal, ressalta a temática central do trabalho que é a


ocupação do Caraparu, e, além disso, apresenta está localidade como um distrito que detém
certa população que necessita das atenções do poder público em meados do século XIX. As
informações sobre tal epidemia que atingiu a localidade do Caraparu se apresentam em outros
momentos do jornal. Em um relatório da tesouraria provincial que se encontra presente no
jornal treze de Maio, consta o número de medicamentos e dinheiros 43 que foram enviados
para muitos lugares pertencentes à província. Um desses locais é o Caraparu, que recebeu
cerca 310$600 durante o ano de 1855, para investir no tratamento dos necessitados.

No mesmo jornal, agora referente ao ano de 1856 são publicados os números da


Tesouraria provincial. A notícia diz que “reinou a epidemia denominada cholera-Morbus”,
após está passagem é colocado os números referentes à verba e medicamentos enviados para

41
As de maiores destaques são varíola e cólera. COSTA, Magda Nazaré Pereira da. Caridade e Saúde pública
em tempo de epidemias. Dissertação de mestrado. UFPA Belém. 2006, p. 24.
42
Jornal Treze de Maio 1845-1861. Acesso; 08-05-20019. Ocorrência 4. Disponível em;
http://memoria.bn.br/DocReader/docmulti.aspx?bib=%5Bcache%5Dcamargo_141040.1750953.DocLstX&pasta=ano%
0185&pesq=caraparu.
43
Jornal Treze de Maio 1845-1861. Acesso:12-05-19. Ocorrência: 5 Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=700002&pesq=caraparu&pasta=ano%20185
40

as localidades afetadas, sendo uma delas o Caraparu44. Desde a afetiva chegada dos
medicamentos no mês de julho, o tratamento dos doentes se consolidou até o mês de agosto.
No dia 25 de agosto é publicada no jornal treze de maio a seguinte informação;

Dito. Ao Conego Gaspar de Siqueira e Queiroz em Caraparú, disendo-lhe que logo


que não seja mais precisa sua presença naquelle lugar, se recolha ao seu emprego na
Sé, que desde então ficão sem vigor as faculdades que se tinhão concedido. (Jornal
treze de maio. 1845-1869)45

No teor da documentação, percebesse que o envio do Dr. Conego Gaspar Siqueira e


Queiroz foi passivo de tratar os doentes que residiam no distrito do Caraparu, e sua
permanência nesta localidade durou mais de dois meses, levando em consideração as
publicações referentes à temática. Após observar esta crise de cólera no referido distrito, os
jornais da época noticiavam a venda de muitos terrenos e sítios que estavam ligados ás
margens do rio Caraparu, fator este que pode estar relacionado com os prejuízos causados
pela epidemia. Além das mortes humanas, é possível identificar nas fontes que a agricultura
foi prejudicada pela falta de mão-de-obra, com isso a venda das terras era uma possível
alternativa.

Ao observar as publicações dos Jornais Treze de Maio, A Epocha: Folha política,


comercial e noticiosa, e a Gazeta Oficial durante os anos de 1856-1861, observa-se uma
grande movimentação de venda das terras pertencentes ao rio Caraparu, tendo como um dos
fatores para tal medida, o fracasso da agricultura após a crise provocada pela Cólera. No dia
26 de Março de 1856 é publicada uma carta do senhor Conego Gaspar Siqueira e Queiroz no
Jornal Treze de Maio, requerendo com urgência a guarda nacional para a localidade do
Caraparu, para que fosse possível salvar a agricultura dos prejuízos causados pela epidemia.46

No Jornal a “Epocha: Folha política”, comercial e noticiosa de 1859 consta-se a venda


de um sítio localizado no Cacoal, nas margens do rio Caraparu, terra está pertencente ao
senhor Cardozo e irmãos.47 No Jornal Gazeta Oficial do mesmo ano, noticia a venda de um
sítio que era pertencente ao senhor Cypriano José Ferreira Nobre. Neste sitio tinha uma casa,
com muitas árvores frutíferas, e quem se sentisse interessado deveria ir até a casa de número

44
Jornal Treze de Maio 1845-1861. Acesso:12-05-19. Ocorrência: 10 Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=700002&pesq=caraparu&pasta=ano%20185
45
Jornal Treze de Maio 1845-1861. Acesso:12-05-19. Ocorrência: 6 Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=700002&pesq=caraparu&pasta=ano%20185
46
Jornal Treze de Maio (1845-1861). Acesso:12-05-19. Ocorrência:11 Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=700002&pesq=caraparu&pasta=ano%20185
47
Jornal a Epocha: Folha política, comercial e noticiosa. Acesso;12-05-19. Ocorrência 1.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=720828&pesq=caraparu&pasta=ano%20185
41

58, na travessa da misericórdia para tratar dos detalhes. 48 Os efeitos da epidemia atingiram
fortemente a localidade do Caraparu, sendo este povoado mais uma vez resistente a um
processo de crises e perturbações social, política e econômica.

4.3- Caraparu Distrito.

No dia 26 de novembro de 1868 é publicada a seguinte informação no Jornal Diário de


Belém: Folha Política, noticiosa e comercial;

Fica decidido em dois districtos de Paz de Guajará-Assú. Pertencente a matriz da Sé


o novo Districto se denominará districto de Caraparú, e comprehenderá desde a boca
do igarapé Uribóca margem esquerda do Guajará, até os limites do Inhangapy, e de
Guajará-Assú á mesma extensão que tem na margem a direita do mesmo rio. (Jornal
Diário de Belém: Folha Política, noticiosa e comercial)49

A matriz da Sé fazia referência aos povoados próximos da capital Belém, que por sua
importância social conseguiam ser elevado ao status de distrito. O Caraparu que hoje pertence
ao Município de Santa Izabel do Pará, durante a segunda metade do século XIX tornou-se um
distrito da Sé50. Após atingir este status a localidade do Caraparu e seu povoado passam a
conquistar objetivos e espaço na sociedade paraense. Vários indícios documentais
possibilitam entender a importância social do Caraparu para o contexto histórico do período.
Nos Jornais da época foi possível observar a presença dos órgãos administrativos dentro do
ciclo de vida dos moradores e comerciantes do Caraparu. Foi possível identificar a criação de
escolas neste distrito durante a década de 1870, fator este que elucida a participação e
introdução do governo imperial no seio educacional. Ademais, tivemos contato com jornais
que noticiavam a participação política dos moradores do Caraparu durante a segunda metade
do século XIX. E por fim, uma variada e complexa documentação que traz consigo a prática
escravista vivenciada no Caraparu de fins do século XIX. Abaixo serão discutidas as
documentações encontradas referentes a cada contexto citado, sendo todos eles de suma
importância para se entender o processo de ocupação do Caraparu.

Em de 1870, os senhores Severino Euzebio Cordeiro e Valentim José Ferreira


conseguiram conquistar o direito de cobrar os impostos de vários distritos, sendo um deles o
Caraparu.51 No dia 20 de Janeiro de 1871 é publicado no jornal Diário de Belém: Folha

48
Jornal Gazeta oficial(PA) (1859-1860). Acesso:12-05-19. Ocorrência 1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=720836&pesq=caraparu&pasta=ano%20185
49
Jornal diário de Belém; Folha política, noticiosa e comercial. (1868-1889). Acesso; 13-05-19. Ocorrência 2. Disponível
em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=222402&PagFis=366&Pesq=caraparu
50
A Sé integrava várias localidades do interior do Pará. Umas delas é o distrito de Caraparu.
51
Jornal O Liberal do Pará 1869-1889. Acesso:13-05-19. Ocorrência 1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=704555&pesq=caraparu&pasta=ano%20187
42

Política, noticiosa e comercial que o senhor José Agostinho Alves Bandeira arrematou o
direito de arrecadar os impostos municipais dos distritos do interior. As localidades são
Maguari, Bahia do sol, Barcarena, Mosqueiro, Moju, Itapecuru, Ayacarú, Acará,
Miritipitanga, Boa vista, Guajará-Assú, Caraparu, Inhangapy, Bujaru, S. Domingos do
Capim. 52Em um curto período observa-se a mudança dos sujeitos que recolhiam os impostos,
trazendo à tona, que nestes distritos a movimentação econômica e comercial se constituía de
forma considerável. Havia a necessidade de que as pessoas que tinham casas de comercio e
canoas de regatão tirasse suas licenças para se manter dentro da legalidade, caso contrário
ficariam sujeito a multas.53

No que se refere a listagem dos moradores que tinham direito a voto no distrito de
Caraparu, cabe salientar a identificação que era feita pelos jornais a cada um deles54. Uma das
informações de suma relevância para legitimar o voto, era este cidadão votante possuir cultivo
e renda. Deixando a entender que os moradores do Caraparu produziam em suas terras, e
mantinham relações comerciais com outras localidades, muitas delas sendo facilitada pelo uso
dos regatões55. Portanto, economicamente, a localidade do Caraparu e seu povoado
mantinham relações comercias com outras áreas, e a presença dos órgãos administrativos
visando à coleta de impostos se fazia presente em meados da década de 1870.

Com a constituição de 1824, fica decidido e estabelecido o voto censitário, que exigia
do cidadão uma renda mínima de 100 mil réis para se tornar um votante. Os escravos eram
excluídos deste processo de participação política, haja vista que estes faziam parte da lógica
de propriedade e venda, não sendo considerado cidadão brasileiro da época. As mulheres
ficavam a margem deste processo, juntamente com os jovens abaixo de 25 anos de idade,
exceto se o mesmo já for casado. O voto era permitido para analfabetos, e militares oficiais
acima de 21 anos. A partir do contato com as fontes documentais 56, observa-se que os
eleitores do distrito de Caraparu se enquadram algumas destas Características. (SALGADO,
2003; FARIA, 2013)

52
Jornal diário de Belém; Folha política, noticiosa e comercial. 1868-1889. Acesso; 13-05-19. Ocorrência 9. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=222402&PagFis=366&Pesq=caraparu
53
Jornal O liberal do Pará. 1869-1889. Acesso; 13-05-19. Ocorrência 1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=704555&pesq=caraparu&pasta=ano%20187
54
Jornal O Liberal do Pará 1869-1889. Acesso:13-05-19. Ocorrência 23. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=704555&pesq=caraparu&pasta=ano%20187
55
Os regatões na Amazônia serviam para manter relações comercias com outras localidades e povoados. CARDOSO,
ANTONIO ALEXANDRE ISIDIO. Sobre escravos e regatões. Ano 2015. Simpósio nacional de História. P. 4
56
Jornais O liberal do Pará (1869-1889) e A constituição: Órgão do partido conservador. (1874-1886). Acesso 13-05-19.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docmulti.aspx?bib=%5Bcache%5Dcarvalho_53690.1889613.DocLstX&pasta=ano%20187
&pesq=caraparu
43

No dia 4 de maio de 1876, é divulgada no jornal A Constituição; Órgão do partido


conservador a lista dos aptos a votar no pleito eleitoral. Neste relatório, aparecem os eleitores
pertencentes ao distrito de Caraparu, sendo estes divulgados e dado a características de todos.
Um deles é o senhor Claudio Antônio de Oliveira, casado, lavrador, possui renda anual de
350$ Réis, e tem sua moradia no Caraparu. Francisco Antônio Carlos possuía renda de 800$
réis, era lavrador. Com esse valor, Francisco poderia concorrer às eleições para deputado,
fator este que mostra o quanto se movimentava de réis no distrito em evidência57. (FARIA,
2013)

Durante as pesquisas documentais, foi encontrado nos jornais58 da época três relatórios
que faziam referência aos eleitores que se autodeclaravam moradores do distrito de Caraparu,
e que possuíam lavouras, durante o ano de 1876 foi possível identificar cerca de 148 eleitores,
que se autodeclaravam morador do Caraparu. Já no ano de 1877, foi possível observar a
presença de 127 eleitores nos jornais que foram consultados. O número mais expressivo está
diretamente ligado ao ano de 1878. No jornal O liberal do Pará do dia 30 de outubro de 1878
é colocado uma lista de 340 pessoas aptas a votar, que se declaram moradores do Caraparu e
suas redondezas·. Na tabela abaixo é possível identificar alguns nomes presente no jornal;

Tabela III. Votantes do Caraparu no ano de 1878.

Nº NOME IDADE ESTADO ATIVIDADE LEITURA FILIAÇÃO REGIÃO RENDA


CIVIL

Districto de Caraparú
1º Quarteirão

01 José Ferreira 51 anos Casado Lavrador Não sabe ler José Eloy Ferreira Taiassuhy 201$
02 Valentin José Ferreira 51 anos Casado Lavrador Não sabe ler José Eloy Ferreira Taiassuhy 1.800$
03 Vicente da Cruz Noronha 55 anos Viúvo Lavrador Sabe ler João Bosco das Chagas Taiassuhy 600$
04 Venâncio Pedro dos Anjos 39 anos Casado Lavrador Não sabe ler Luiza M. Espirito Santo Taiassuhy 200$
05 Valério Jose d’Oliveira 52 anos Casado Lavrador Não sabe ler João Antônio da Silva Taiassuhy 300$

Districto de Caraparú
2º Quarteirão

06 Ambrózio Antônio de Souza 49 anos Viúvo Lavrador Sabe ler Maria da Conceição Jandiahy 200$
07 José Pereira 42 anos Casado Lavrador Não sabe ler Ignora-se Jandiahy 200$
08 José Lázaro de San’Anna 28 anos Casado Comerciante Sabe ler Anna da Silva Jandiahy 700$
09 Cláudio Antônio de Oliveira 41 anos Casado Lavrador Sabe ler Joaquim Maria Jandiahy 300$
10 Pedro Soares de Siqueira 59 anos Casado Lavrador Sabe ler Ignora-se Jandiahy 200$
11 Euzébio Figueiredo de Andrade 28 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Luciano Figueiredo Jandiahy 300$
12 Francisco Antônio Carlos 47 anos Casado Lavrador Sabe ler Ignora-se Jandiahy 200$
13 Felisberto Antônio de Oliveira 27 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Ignora-se Jandiahy 200$
14 Francisco Raphael da Roza 51 anos Casado Lavrador Sabe ler Manoel Raymundo da Jandiahy 400$
Roza

57
Informações retiradas do Jornal A constituição: Órgão do partido conservador (1874-1886). Acesso 13-05-19. Ocorrência
06. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=385573&pesq=caraparu&pasta=ano%20187
58
A constituição: Órgão do partido conservador. (1874-1886) e O liberal do Pará. (1869-1889). Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docmulti.aspx?bib=%5Bcache%5Dcarvalho_53690.1889613.DocLstX&pasta=ano%20187
&pesq=caraparu
44

15 Francisco Candido de Souza 71 anos Casado Lavrador Sabe ler Thereza Télia de Souza Jandiahy 200$
16 Fidelis Antônio das Neves 35 anos Solteiro Lavrador Sabe ler José Leonardo Pinto Jandiahy 200$
17 Francisco José Cardozo Bahia 37 anos Solteiro Lavrador Sabe ler Manoel José Cardozo Jandiahy 700$
Bahia
18 Faustino Antônio de Souza 42 anos Casado Lavrador Sabe ler Justino de Souza Jandiahy 300$
19 Herculano José Belmiro 42 anos Casado Lavrador Não sabe ler Maria da Conceição Jandiahy 300$
20 Honorato Fernandes de Souza 55 anos Solteiro Lavrador Sabe ler Maria Francisca Jandiahy 500$
21 Ignácio José Casimiro 36 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Maria da Conceição Jandiahy 300$
22 João de Paula Barbosa 61 anos Casado Lavrador Sabe ler Geralda Mª da Conceição Jandiahy 2.000$
23 João Baptista da Silva Junior 44 anos Solteiro Lavrador Sabe ler Ignora-se Caraparú 200$
24 João Maximino Corrêa 31 anos Casado Lavrador Sabe ler Anastácia Mª da Caraparú 200$
Conceição
25 João Possidônio Alves Faro 35 anos Casado Lavrador Sabe ler Júlio Alves de Faro Caraparú 200$
26 João José Rodrigues Pinheiro 43 anos Solteiro Lavrador Sabe ler Guilherme José Rodrigues Caraparú 200$
27 José Francisco Borges 36 anos Casado Lavrador Não sabe ler José Maria Borges Caraparú 200$
28 José Ferreira de Souza 57 anos Viúvo Emp. Público Sabe ler Sabino Ferreira de Souza Caraparú 1.000$
29 José Leonardo dos Passos 42 anos Solteiro Comerciante Sabe ler Lene Dias da Conceição Jandiahy 600$
30 José Pedro d’Alcântara 57 anos Solteiro Lavrador Sabe ler Mª Magdalena da Caraparú 300$
Conceição
31 José Manoel Fernandes 36 anos Casado Lavrador Sabe ler Constância Mª da Jandiahy 300$
Conceição
32 João Figueiredo de Andrade 29 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Luciano Fig. de Andrade Jandiahy 300$
33 Luiz Antônio da Silva Faro 49 anos Casado Lavrador Não sabe ler Fidelis Antônio da Silva Caraparú 300$
34 Luiz Antônio Bandeira 42 anos Casado Lavrador Não sabe ler Domingas Mª da Caraparú 300$
Conceição
35 Lizardo Ignácio de Faria 34 anos Casado Lavrador Não sabe ler Francisca de Souza Caraparú 300$
36 Luciano A. Figueiredo de 77 anos Viúvo Lavrador Não sabe ler Ignora-se Jandiahy 300$
Andrade
37 Manoel Lourenço do Espírito 36 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Maria Luiza Espírito Santo Caraparú 300$
Santo
38 Manoel Valeriano Gonçalves da 31 anos Solteiro Comerciante Sabe ler Eugenia Josepha Trindade Caraparú 300$
Cruz
39 Manoel Pedro Cyrinco Lopes 36 anos Solteiro Lavrador Sabe ler Nicolao Francisco Lopes Jandiahy 300$
40 Manuel Gomes Corrêa de 44 anos Casado Lavrador Não sabe ler Geralda Maria da Jandiahy 300$
Miranda Conceição
41 Mathias José Gomes 28 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler C. Maria Jandiahy 300$
42 Manuel José dos Santos 27 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Samuel Fernandes de Jandiahy 300$
Souza
43 Manuel Gonçalves da Cruz 42 anos Casado Lavrador Sabe ler Ignez Maria da Conceição Jandiahy 400$
44 Manuel José Cardozo Bahia 65 anos Casado Lavrador Sabe ler Francisco Cardoso Bahia Jandiahy 1000$
45 Manuel Miguel de Nazareth 62 anos Casado Lavrador Não sabe ler Raimundo Rota Jandiahy 300$
46 Manoel Volmário de Souza Gama 43 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Celestina Mª da Conceição Jandiahy 300$
47 Pedro Petronilho de Souza 30 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Nicola de Siqueira Lopes Jandiahy 300$
48 Pedro Vicente Cordovil 66 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Ignora-se Jandiahy 300$

Districto de Caraparú
3º Quarteirão

49 Antônio José Cancio 46 anos Viúvo Lavrador Não sabe ler João José Cancio Caraparú 200$
50 Antônio José Ferreira de Souza 37 anos Solteiro Lavrador Sabe ler José Ferreira de Souza Caraparú 400$
51 Antônio Sebastião Ramos 36 anos Casado Lavrador Sabe ler Eugênio Ramos Caraparú 200$
52 Antônio Sabas Gonçalves da 37 anos Solteiro Proprietário Sabe ler Antônio Cypriano Caraparú 2000$
Cruz Gonçalves
53 Aniceto José 81 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Ignora-se Caraparú 200$
54 Bernardino Xavier de Faro 27 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Clara Maria da Conceição Caraparú 300$
55 Balbino Honorato de Souza 29 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Maria de Jesus Caraparú 200$
56 Bernardino da Silva Cravo 62 anos Viúvo Lavrador Não sabe ler Maria das Dores Caraparú 300$
57 Bazílio José Ramos 28 anos Casado Lavrador Não sabe ler Cordolina Maria dos Caraparú 300$
Anjos
58 Carlos Antônio de Oliveira 27 anos Casado Lavrador Sabe ler Francisco Antonio Carlos Caraparú 300$
59 Cezário Francisco do Nascimento 35 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Manoel do Nascimento Caraparú 200$
60 Diogo Ferreira da Roza 28 anos Casado Lavrador Sabe ler Francisco Raphael Roza Caraparú 300$
61 Francisco Marcelino de Faria 29 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Julião Alves Faria Caraparú 200$
62 Firmino Antônio de Souza 28 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Thomázia da Conceição Caraparú 300$

Districto de Caraparú
5º Quarteirão

63 Manoel Zacarias 61 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Ignora-se Caraparú 300$
64 Nuno José de Lima 32 anos Casado Lavrador Sabe ler Nuno José de Lima Caraparú 200$
65 Odorico José Pinheiro das Chagas 40 anos Viúvo Lavrador Sabe ler Hortência Brígida Caraparú 200$
66 Pedro Antonio Cordeiro de Faria 27 anos Casado Lavrador Sabe Ler Manoel Vicente Faria Caraparú 200$
67 Silvestre Ignácio Corrêa 28 anos Solteiro Lavrador Sabe Ler Maria do Nascimento Caraparú 300$
45

68 VictórioAntonio Marques 39 anos Casado Lavrador Não sabe ler Ricardino de Tal Caraparú 200$

Districto de Caraparú
6º Quarteirão

69 Antonio Geraldo de Abreu 26 anos Solteiro Lavrador Manoel Joaquim Caraparú 200$
70 Apolinário dos Santos da Paixão 27 anos Solteiro Pentieiro Sabe ler Manoel João da Paixão Caraparú 200$
71 AngeloAntonio do Espirito Santo 36 anos Casado Lavrador Não sabe ler Luiza Maria Conceição Caraparú 200$
72 Augusto Rodrigues Maciel 30 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Roza Maciel Caraparú 200$
73 Caciano de Jesus e Souza 28 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Margarida Conceição Caraparú 300$
74 Dionizio José de Deus Coelho 29 anos Solteiro Alfaiate Sabe Ler Custódia Juliana Cruz Caraparú 200$
75 Domingos Antonio de Belém 26 anos Solteiro Marceneiro Não sabe ler Maria de Belém Caraparú 200$
76 Eugenio Cordeiro da Trindade 29 anos Casado Lavrador Não sabe ler Bernardo Cordeiro Caraparú 200$
77 Francisco Antonio de Sant’Ana 46 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler João Antonio carneiro Caraparú 200$
78 Geraldo Antonio Espirito Santo 26 anos Solteiro Lavrador Sabe ler Bonifácio Espirito Santo Caraparú 200$
79 Gregório Francisco da Piedade 28 anos Casado Marceneiro Não sabe ler Maria de Belém Caraparú 200$
80 IzidoroAntonio da Cruz Brazil 41 anos Solteiro Lavrador Sabe Ler Pedro Antonio da Cruz Caraparú 200$
81 José Bernardo Cordeiro 28 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Bernardo Cordeiro Caraparú 200$
82 João de Paula Lameira 26 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Francisco Lameira Caraparú 200$
83 João Silvério das Chagas 36 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler João Aleixo das Chagas Caraparú 200$
84 João Ferreira Segundo 36 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Antonio Ferreira Caraparú 300$
85 Joaquim Euzébio dos Santos 33 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Euzébio dos Santos Caraparú 300$
86 Lino Antonio Bandeira 30 anos Casado Lavrador Não sabe ler Domingas Trindade Caraparú 200$
87 Luiz Francisco de Souza 27 anos Casado Lavrador Não sabe ler Marcos Francisco Souza Caraparú 200$
88 Luiz Gonzaga de Deus Coelho 26 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Custódia Juliana Cruz Caraparú 300$
89 Manoel Lopes Mendes 33 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Eufrásia da Conceição Caraparú 200$
90 Mariano do Espirito Santo 28 anos Casado Lavrador Sabe ler Bonifácio Espirito Santo Caraparú 200$
91 Marcellino José de Deus Coelho 35 anos Casado Marceneiro Sabe Ler Manoel Joaquim Ramos Caraparú 300$
92 Macario José Alves 29 anos Solteiro Alfaiate Sabe ler Manoel Joaquim Ramos Caraparú 200$
93 Marcolino José Ferreira Lameira 28 anos Casado Lavrador Não sabe ler Marcos Franc. Lameira Caraparú 200$
94 Manoel Antonio da Silva 27 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler José Rufino de Deus Caraparú 300$
95 Manoel José da Piedade 27 anos Casado Carpina Sabe ler Manoel Joaquim Ramos Caraparú 200$
96 Manoel Honório de Farias 30 anos Casado Lavrador Não sabe ler Ignora-se Caraparú 200$
97 Manoel José Pinheiro de Farias 33 anos Casado Lavrador Não sabe ler Ignora-se Caraparú 300$
98 Marcelino Antonio das Chagas 46 anos Casado Lavrador Sabe ler João Aleixo das Chagas Caraparú 200$
99 Paulo dos Santos Vieira 28 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Celestino Cambraia Caraparú 200$
100 Pedro José Marques 61 anos Casado Lavrador Sabe ler Gregório José Marques Caraparú 200$
101 Porfírio José de Deus Coelho 31 anos Casado Lavrador Sabe ler Custódia Juliana Cruz Caraparú 200$
102 Querino José Cancio 33 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler João Antonio Cancio Caraparú 200$
103 Sebastião Antonio da Cruz 30 anos Casado Lavrador Não sabe ler Pedro Antonio da Cruz Caraparú 200$
104 SyraphronioAntonio da Paixão 26 anos Casado Lavrador Não sabe ler Manoel José Paixão Caraparú 200$
105 Sabino José Ferreira de Souza 26 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler José Ferreira de Souza Caraparú 200$
106 Silvério Francisco Ferreira 26 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Vicente Ferreira Costa Caraparú 200$
107 Victorino José da Conceição 40 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler Celestino Cambraia Caraparú 200$

Districto de Caraparú

7º Quarteirão

108 Antonio Pedro D’Almeida 28 anos Solteiro Negociante Sabe ler Ignora-se Caraparú 400$
109 Alexandre José Pinheiro 22 anos Casado Lavrador Sabe ler Luiz das Chagas Pinheiro Caraparú 600$
110 Alexandre Francisco Pinto 41 anos Casado Lavrador Não sabe ler João Pinto de Mesquita Caraparú 200$
111 Adriano Francisco de Carvalho 48 anos Casado Lavrador Não sabe ler Francisco Antônio Estr. 200$
Bragança
112 Antônio Frederico Corrêa 30 anos Casado Lavrador Não sabe ler Frederico Corrêa Estr. 200$
Bragança
113 Antônio Ferreira Chaves 29 anos Casado Lavrador Não sabe ler Manuel Ferreira Chaves Estr. 200$
Bragança
114 Antônio Ignácio de Souza 30 anos Casado Lavrador Não sabe ler Ignácio Francisco Braga Estr. 200$
Bragança
115 Antônio de Castro Moura 29 anos Solteiro Lavrador Não sabe ler José de Castro Moura Estr. 200$
Bragança
116 Augusto Corrêa Lima 28 anos Casado Lavrador Sabe ler Domingos Corrêa Lima Estr. 200$
Bragança
117 Antônio Rodrigues de Souza 31 anos Casado Lavrador Não sabe ler José Rodrigues de Souza Estr. 200$
Bragança
118 Antônio Gomes de Souza 27 anos Casado Lavrador Não sabe ler Pedro Gomes de Souza Estr. 200$
Bragança
119 Antônio Bezerra de Maia 29 anos Casado Lavrador Sabe Ler Theodoro Bezerra Estr. 200$
Bragança
120 Bartolomeu José d’Oliveira 29 anos Casado Lavrador Não sabe ler Mariano José d’Oliveira Estr. 200$
Bragança
121 Bento Corrêa Lima 59 anos Casado Lavrador Sabe ler Simão Correa Lima Estr. 200$
46

Bragança
FONTE: Jornal O liberal do Pará. 1869-1889. Anexo (I, J e L)

Após analisar os dados referentes na tabela acima, conclui-se que o povoado do


Caraparu participava ativamente do ambiente político e social do período em evidencia.
Possibilitando entender o processo de ocupação da localidade, se consolidou efetivamente
durante a segunda metade do século XIX. Além destas documentações referentes ao ambiente
político, têm-se alguns jornais noticiando a abertura de escolas na localidade do Caraparu,
fator este que vamos analisar abaixo.

No dia 31 de outubro de 1872 é noticiado no jornal do Pará: Órgão oficial, a criação de


escolas nos distritos de Itapicuru, Caraparu e Guajará-Assú. Os professores deveriam receber
cerca 600$ réis anualmente. O encarregado de ministrar as aulas no Caraparu foi senhor José
Ferreira de Souza59. Durante o ano de 1877, foi noticiado no jornal O liberal do Pará a criação
de duas escolas. “Nossa municipalidade em sessão do dia 22, criou duas escolas, uma em
Ayacarú e outra em Caraparu, distrito da Sé”. 60 No ano seguinte, mais uma vez é noticiada a
criação de outra escola na localidade do Caraparu.61 Após estás três notícias de abertura de
escola na região estudada, observa-se que nos fins do século XIX o Caraparu encontra-se
ocupado. Ademais, seu povoado participava das mobilizações de cunho político do período
acarretando na análise de que apenas os lavradores, donos de terras, comerciantes possuíam
tal diretos. No ambiente escolar, a prática excludente elitista se consolidava da mesma forma,
haja vista que para ter acesso ao ambiente educacional, os familiares deveriam ter condições
financeiras, sendo considera desta forma uma educação classista. Excluindo deste processo os
escravos, pobres, mulheres, indígenas. (FARIA, 2013; SILVA, MAZZUCO, 2005)

Observando este processo de exclusão social, tanto no ambiente político quando no


educacional, faz-se necessário elucidar a continuidade do processo de escravidão já
mencionado nos capítulos anteriores, na localidade do Caraparu. Novamente foi encontrado
registros do processo de escravidão na região em destaque, contudo este presente e ativo nos
fins do século XIX. Assunto este de grande relevância para se entender o complexo processo
de ocupação do distrito de Caraparu.

59
Jornal do Pará: Órgão Oficial (PA) 1867-1878. Ocorrência 47. Acesso; 13-05-19. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=219339&PagFis=3547&Pesq=caraparu
60
Jornal O liberal do Pará. 1869-1889. Acesso; 16-05-19. Ocorrência 24. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=704555&pesq=caraparu&pasta=ano%20187
61
Jornal O liberal do Pará. 1869-1889. Acesso; 16-05-19. Ocorrência 27. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=704555&pesq=caraparu&pasta=ano%20187
47

Em uma sexta-feira, precisamente no dia 20 de novembro de 1872 é noticiado no


jornal do Pará: Órgão Oficial a venda de uma escrava que tem cerca de 36 anos, e mora no
Caraparu. Consigo vai seu filho de 20 anos, escravo, que segundo o jornal é um excelente
cozinheiro e copeiro. A característica principal da escrava está relacionada às suas habilidades
de engomar e cozinhar. Na mesma noticia, está presente a seguinte informação “Aos referidos
escravos acompanhava uma mulatinha de cinco anos que é liberta”.62 A princípio se consolida
a ideia de que nos fins do século XIX a escravidão ainda estava vigente nas margens do
Caraparu. Outro fator está relacionado ao princípio do processo de abolição da escravidão,
tendo em vista que a documentação afirma a presença de uma mulata, liberta, muito
possivelmente este objetivo foi idealizado com a vigência da lei do ventre livre, que se
efetivou durante o ano de 1871.63 (NETO, 2012; KRIEGER, 2010).

Bezzera Neto (2012) mostra seu livro, que nos fins do século XIX ao longo da zona
urbana da capital paraense, o número de cativos estava diminuindo significativamente.
Segundo o Barão de Maracaju, existia cerca de 7.662 escravos no ano 1882 na zona do
município da capital, que estavam divididos nas seguintes localidades; Belém, Barcarena, Boa
Vista, Benfica, Inhangapy, Mosqueiro, Bujaru, Caraparu, Paisassuhy, S. Domingos da Boa
Vista, Guajará-Assú e Ilha das Onças. Cerca de 30.94% dos escravos da província residiam
nas localidades citadas acima. Contudo, observa-se a presença do Caraparu como um espaço
onde se desenvolveu a escravidão de fins do século XIX, sendo uma das localidades que mais
se tinha escravos. Esses dados se confirmam após análise das fontes anteriormente citadas.
Logo, entender o processo de escravidão na zona do Caraparu, faz-se necessário para
compreender seu processo de ocupação. (BEZZERA NETO, 2012).

62
Jornal do Pará: Órgão Oficial (PA) 1867-1878. Ocorrência 49. Acesso; 16-05-19. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=219339&PagFis=3547&Pesq=caraparu
63
A Lei do Ventre Livre, que declara de condição livre os filhos nascidos de mulher escrava.
KRIEGER, Ana Carolina. Lei do Ventre Livre, 1871: reflexos da aprovação da lei imperial de abolição
gradual da escravidão na Província de Santa Catarina. Revista Santa Catarina em História, v. 4, n. 1.
2010. Passim
48

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho de conclusão de curso pretendeu analisar o processo de ocupação do


distrito de Caraparu durante os anos de (1830-1882). O objetivo principal estava ligado em
propor para a comunidade acadêmica e local um melhor entendimento sobre o processo
histórico a qual a ocupação do Caraparu está inserida. No primeiro capítulo, destacamos que
gênese do povoamento deste distrito se consolida em meados do século XVIII, com a
distribuição das cartas de sesmarias, apresentado fontes fundamentais para construção do
trabalho.

No segundo capítulo apresentamos o processo de escravidão, fuga e resistência nas


margens do rio Guamá, fator este de suma relevância para a constituição da pesquisa, tendo
em vista que a comunidade do Caraparu fez parte deste processo. Posteriormente, elucidamos
a constituição do povoado do Caraparu ao longo dos anos de (1830-1882) através de fontes
que fundamentam está ideia, destacam-se os jornais que possibilitaram realizar as conclusões
possíveis no capítulo III; Jornal O liberal do Pará. (1869-1889), Jornal do Pará: Órgão Oficial
(PA) (1867-1878), A constituição: Órgão do partido conservador. (1874-1886), Jornal diário
de Belém; Folha política, noticiosa e comercial. (1868-1889), Jornal Gazeta oficial (PA).
(1859-1860), Jornal Treze de Maio (1845-1861), Jornal a Epocha: Folha política, comercial e
noticiosa.
O legado proposto por esta monografia se encaixa na valorização da história regional,
buscando de forma crítica e criteriosa observar os processos sociais, políticos e econômicos
que cercam a formação histórica de uma comunidade do interior do município de Santa Izabel
do Pará ao longo do século XIX. Desse modo, deixamos para comunidade do Caraparu uma
base científica sobre seu processo de ocupação e constituição.
Atualmente, o distrito de Caraparu é pertencente às delimitações municipais de Santa
Izabel do Pará. Possui consigo as diversas comunidades já citadas. Sendo muitas delas
consideradas descendentes de quilombolas. O desejo em construir este trabalho está
intimamente relacionado ao contexto de conhecer nossa história local e regional. Desejo este
realizado, haja vista que o distrito de Caraparu além de ser uma localidade que possui pessoas
amáveis, acolhedoras e carinhosas, detém consigo uma história rica, linda e apaixonante. Ser
morador do Caraparu é ser símbolo de luta e resistência.
49

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52

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FONTES

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4-Jornal do Pará: Órgão Oficial (PA) (1867-1878).

5-A constituição: Órgão do partido conservador. (1874-1886)

6-Jornal diário de Belém; Folha política, noticiosa e comercial. (1868-1889).

7-Jornal Gazeta oficial (PA). (1859-1860).

8-Jornal Treze de Maio (1845-1861).

9- Jornal a Epocha: Folha política, comercial e noticiosa.

SITES

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http://www.rosepepe.com.br/hotsite_acervo/sesmarias/conteudo/Livro_09/indice.htm. Acesso
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https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/. Acesso em; 08/05/19.

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http://177.74.60.161/acervodigital_obrasraras/livro/file/tracoscabanos/index.html#264.
Acesso em; 09/04/19.
53

ANEXOS
54

ANEXO A: Carta de sesmaria: Manuel Gomes Rocha data do ano de 1728 (Livro 05, folha 21, doc. 36, de
20/09/1728-INTERPA). Anexo: A. Tradução Disponível em: Acesso: 04/03/19.
http://www.rosepepe.com.br/hotsite_acervo/sesmarias/conteudo/Livro_05/indice.htm.
55

ANEXO B: Carta de sesmaria: Antônio de Souza Fernandes. Ano 1729. (Livro 05-Folha 90- doc-131.
INTERPA) Acesso 04-03-19. Tradução disponível em:
http://www.rosepepe.com.br/hotsite_acervo/sesmarias/conteudo/Livro_05/indice.htm.
56

ANEXO C: Carta de Sesmaria: senhor João Paes da Silva. Ano 1929. (Livro 05- folha -111-doc- 176.
INTERPA). Acesso: 04/03/19. Tradução disponível em:
http://www.rosepepe.com.br/hotsite_acervo/sesmarias/conteudo/Livro_05/indice.htm.
57

ANEXO D: Carta de sesmaria: senhor Fran. Ano 1734. (Livro-06-Doc-341-Folha-170. Ano 1734 INTERPA.)
Acesso; 04/03/19. Tradução disponível em:
http://www.rosepepe.com.br/hotsite_acervo/sesmarias/conteudo/Livro_06/indice.htm.
58

ANEXO E: Carta de sesmarias: Senhor Pedro Correa de Souza. Ano 1738. (Livro-09-Doc-145-Folha-96. Ano
1738 INTERPA.) Acesso 04/03/19. Tradução disponível em:
http://www.rosepepe.com.br/hotsite_acervo/sesmarias/conteudo/Livro_09/indice.htm.
59

ANEXO F: Mapa do Bispado do Pará (detalhe). Autor desconhecido, 1759. Acervo:


Biblioteca Nacional. Fonte: Biblioteca Digital Mundial
60

ANEXO G: FONTE: Morfometria das bacias hidrográficas dos rios Caraparu e Maguari-Açú, Região
Metropolitana de Belém, Pará, Brasil. (2017)
61

1: 275.000

ANEXO H: Mapa adaptado de Santa Izabel do Pará.

Fonte: Elaborado e executado pelo Laboratório de Sensoriamento Remoto LSR/ SECTAM.


62

ANEXO I: Primeira página do jornal de 1878 que consta os eleitores do Caraparu. Jornal O liberal do Pará. Ano
1878. Acesso: 13/05/19. Ocorrência 33. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=704555&pesq=caraparu&pasta=ano%20187.
63

ANEXO J: Segunda página do jornal de 1878 que consta os eleitores do Caraparau. Jornal O liberal do Pará.
Ano 1878. Acesso: 13/05/19. Ocorrência 34. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=704555&pesq=caraparu&pasta=ano%20187.
64

ANEXO L: Terceira página do jornal de 1878 que consta os eleitores do Caraparu. Jornal O liberal do Pará. Ano
1878. Acesso: 13/05/19. Ocorrência 35. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=704555&pesq=caraparu&pasta=ano%20187.

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