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Extensão de Cabo Delgado

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DEPRTAMENTO DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

FICHA DE CONTEUDO. 4 2º ANO LPIV JANEIRO/FEV. 2021

CAPITULO II: TEXTO DESCRITIVO

Introdução
Após um período de interação sobre a narrativa nos diferentes aspectos a ela
revestida, damos continuidade da nossa planificação para tratar assuntos inerentes ao
segundo capítulo – Textos Descritivos- aonde destacaremos alguns aspectos, tais
como: conceitos operatórios, caracterização, finalidades da situação comunicativa,
componentes desta tipologia textual; competências descritivas, tipos de textos com
superestrutura descritiva diversa Tema –Expansão -Lista de predicados (funcionais e
qualificadores)

1. Teoria
“Uma descrição é boa quando é viva; ela é viva quando é real, visível e material.”
(A.Albalar apud Reis,1995:100).

Descrever é pintar com palavras, é mostrar através delas, e fazer ver ao leitor ou
ouvinte, mentalmente, aquilo que temos diante dos olhos ou no espirito. O seu
objectivo é transmitir por meio de palavras, como é uma pessoa, uma coisa, um
ambiente, inclusivamente um sentimento ou uma sensação. (Reis, 1995:99-100).

A descrição deve ser viva, isto é, deve dar a alusão da vida. Esta obtém-se pela
construção da imagem da realidade a transmitir como se trata-se de uma pessoa, um
quadro, uma paisagem ou, por vezes, de uma vista panorâmica. (0p.cit:100)
Para Amaro (2006:237), descrição consiste na apresentação dos personagens, dos
objetos, espaços, ambientes, etc, constituindo um momento de pausa no
desenvolvimento da ação, para dar lugar a contemplação e ou a reflexão.

Segundo Garcia (1990), descrição é uma representação verbal de um objeto sensível


através da indicação dos seus aspectos mais característicos, cuja finalidade é a
impressão que a coisa vista ou imaginada desperta em nossa mente através dos
sentidos.

O autor também aborda a importância do ponto de vista do descritor, que consiste não
apenas na sua posição física, mas também na sua atitude e na predisposição afetiva
em relação ao objeto descrito. A selecção, o agrupamento e a análise dos detalhes são
de extrema importância para que se obtenha a imagem do objeto descrito ou a
descrever.

Carneiro (2001) apresenta a descrição como uma suspensão de curto tempo,


responsável por dar elementos a um determinado referente – ser animado ou
inanimado, local, cena ou processo.

O autor apresenta os elementos fundamentais da descrição como constituintes de um


tema-núcleo, com objectivos e critérios de limitação do observador e do referente.

De acordo com Othon M. Garcia (1973), “descrição é a representação verbal de um


objeto sensível (ser, coisa, paisagem), através da indicação dos seus aspectos mais
característicos, dos pormenores que o individualizam, que o distingue”.

A descrição apresenta atributos de um tamanho, jeito, comportamento, cor, fisionomia,


gesto porque, os nomes são capazes de desenhar pessoas, lugares e fazer uma
imagem.

É um momento de pausa incluso na narrativa, é um espaço para o narrador criar um


efeito do real.
É a representação verbal de um objeto sensível através da indicação dos seus
aspectos mais característicos, e a suspensão do curso do tempo, não há cronologia,
não progressão e não progressão de estado.

Descrever não e enumerar o maior número possível de detalhes, mas assinalar os


traços mais singulares, mais salientes; e fazer ressaltar do conjunto uma um pressão
dominante e singular, dependendo da intenção do autor, varia o grau de exatidão e
minucia na descrição.

Para Matos (2010), o texto descritivo desempenha o seu papel. Este protótipo textual
tem por objectivo apresentar as características que configuram uma pessoa, um lugar,
um objeto ou mesmo um fenómeno atmosférico).

Em cada texto, podem combinar-se diferentes recursos (descritivos, dissertivos,


narrativos) em função do tipo de interacção que se estabelece entre interlocutores.

Assim, o texto descritivo caracteriza-se por ter a descrição como estratégia


predominante.

2. Critérios param definição da descrição


Morfológico: a partir deste critério os adjetivos caracterizam a descrição e os verbos a
narração da acção.

Referencial: este critério refere que no texto descritivo só se descrevem coisas/


objetos e o no texto narrativo só se descrevem acções.

Porém, Hamon critica este critério usado para estabelecer a diferença entre a narrativa
e a descrição, dado que os dicionários, gramáticas, listas telefónicas, guias turísticos,
os anúncios, as enciclopédias tem superestrutura descritiva. Descrevem-se objetos
reais, fictícios, linguagem de tempo, personagem, conceitos,etc.

Bearzotti (1991) define e analisa o texto descritivo abordando suas funções, os


traços do objectivo descritivo, caracterizados pelo uso de substantivos e adjetivos e
propõe sugestões para a elaboração de textos descritivos. Segundo o autor, as funções
gerais são responsáveis pelo “fazer ver” e “fazer sentir” do texto.

Marquesi (1996) aborda a superestrutura da descrição, considerando e analisando a


inserção dos textos descritivos como instrumento para a prática pedagógica, sugerindo
que a proposta seja uma tarefa para a linguística do texto.

3. Funções da descrição na narrativa


É verdade que o centro das configurações e intuitivo, porém é importante perceber o
sistema demarcativo do texto (onde começa e onde termina a descrição); identificar e
estudar a sua organização não só no âmbito das manifestações linguísticas como
também na estruturação profunda a que se obedeceu; interrogar-se sobre a sua função
no texto (narrativo).

Hamon propõe as seguintes funções:

-dilatória: retarda a história.

-demarcativa: sublinha as articulações da narrativa (introdução, desenvolvimento e


conclusão).

-decorativa: dá o efeito do real, verosimilhança.

-focalizadora: contribui para o antropocentrismo das personagens (personagem


principal).

Aguiar e Silva propõem as seguintes funções:

- indicial e informativa: manifesta-se quer no retrato das personagens, a prosopopeia,


e na terminologia da antiga retórica, quer na caracterização do espaço social
indissociável de temporalidade (história) quer no espaço telúrico e geográfico, a
topografia.
-decorativa: descrição minuciosa e minudente de uma personagem, de um objeto, de
uma paisagem, exibindo a ocorrência do léxico, o virtuosíssimo retórico estilístico,
feluria de observação, comparações e metáforas atinentes a pintura, realizando na
sintagmática textual características formais semânticas do texto pitoresco. Nota-se
neste tipo a capacidade para expansão e progressão.

-dilatória (momento de pausa): a virtualidade expressiva e degressiva ao narrador


retardar na sintagmática textual a ocorrência de eventos.

4. Tipos de descrição segundo Hamon

-cronografia: tratado de datas históricas e sucesso de acontecimentos.

-topografia: descrição minuciosa de um lugar; técnica e arte de representar num


desenho a configuração de um terreno.

-prosografia: descrição de caracteres fisionómicos; esboço de uma figura.

-epopeia: série de grandes acontecimentos.

-retrato: descrição exata de uma personagem.

-hipotipose: figura de retórica que pinta os factos e os objetos com imagens tão viva se
apresenta a nossa vista o que se quer significar.

-retórica: classificação retórica da descrição

Descrição de pessoas: retrato moral ou etopeia;

retrato físico ou prosografia;

retrato de um tipo ou carácter.

Descrição de coisas: descrição de lugares ou topografia

descrição de tempo ou cronografia


descrição de animais

descrição de plantas.

5.Descricao de acordo com a objetividade

–Objetiva (não literária): há maior preocupação com a exatidão dos detalhes e a


exatidão vocabular. Por ser objetiva há predominância da denotação (aparelho, seu
funcionamento, pecas, experiencias, processos, etc).
Ausência de juízos de valor, não há comparação de carácter subjetivo.
Descrição de imagem concreta e precisa, bastante próxima da realidade, destacando-
se os detalhes do cenário presentes em descrições técnicas ou científicas.

-Subjetiva (literária): com enfâse no conjunto de associações conotativas que podem


ser exploradas a partir de descrições de pessoas, cenários, paisagens, espaços,
ambientes, situações e coisas, podendo ser em prosa ou em verso. Há emissão de
juízos de valor, impressão que o narrador tem da personagem, o narrador a partir de
um ponto de vista pessoal.

Para Gouvêa existem dois aspectos fundamentais na maneira de ver o mundo, o


objectivo e o subjetivo. Estes aspectos são abordados conforme a sensibilidade do
descritor e pela finalidade da descrição.
A descrição objetiva é reprodução fiel do objeto. É a visão das características do
objeto (tamanho, cor, forma, espessura, consistência, volume, dimensões, etc.),
segundo a perceção comum a todos, de acordo com a realidade. Predomina a
linguagem denotativa, a exatidão de detalhes, e a precisão vocabular.

A descrição Subjetiva é a apreensão da realidade interior. O objeto descrito de


acordo com a sensibilidade do observador que privilegia a linguagem conotativa,
representada por figuras de linguagem. O objeto é transfigurado pela sensibilidade do
observador que o reproduz como ele é visto e sentido. Não há preocupação com
exatidão dos detalhes, mas sim com a transmissão da impressão que o objeto causa
ao observador.
6. Características linguísticas da descrição
-atemporal
-predominância verbos de estado
-ocorrência indicadores de propriedades, atitudes, qualidades, usados principalmente
no presente e no imperfeito do indicativo (ser, estar, haver, situar-se, existir, ficar);
-enfâse na adjetivação
-emprego de figuras de estilo
-uso de advérbios de localização espacial (advérbio de lugar), elementos essenciais
para a coesão e a coerência do texto de base descritiva;
-ocorrência de sensações (visuais, auditivas, tácteis, gustativas, olfativas);
-presente no comentário
-pretérito imperfeito do indicativo no relato.

Gouvêa defende que para produzir um texto descritivo, o descritor necessita utilizar
elementos linguísticos importantes, que são:
a) Frases nominais, em que predominam os substantivos e adjetivos;
b) Orações em que predominam verbos de estado ou condição nas descrições
estáticas, e verbos que expressam movimento nas descrições dinâmicas.
c) Orações adjetivas’
d) Frases enumerativas que compõem os traços mais marcantes da descrição.

A caracterização de um ser ou objeto em linguagem subjetiva implica o uso de


determinados recursos expressivos que favorecem o delineamento dos elementos
retratados. As figuras de linguagem mais usadas na descrição são a metáfora, a
comparação, a antítese, a onomatopeia, a prosopopeia (também chamado por
personificação ou antropomorfismo) e a sinestesia.

7. Caracterização pragmática
Para que a descrição se opere em qualquer manifestação textual, uma premissa e
essencial: a competência descritiva.

-competência lexical: que o descritor e o destinatário possuam um conhecimento lexical


sólido, que conheçam as palavras a empregar e a ler, respetivamente. É importante
dominar os instrumentos linguísticos e operatórios que permitam fazê-lo com sucesso.

-competência enciclopédica: pressupõe a existência de conhecimento por parte do


emissor e do recetor: primeiro, para que saiba o que esta a descrever; o segundo para
que conheça a realidade para a qual as palavras remetem (são a condição sine qua
non, para qual uma descrição cumpra os seus propósitos).

8. Caracterização discursiva

Componentes do texto descritivo


(Hamon,1981:104-105) defende que um sistema descritivo é um jogo de equivalências
hierarquizadas: equivalência entre uma denominação (uma palavra) e uma expansão
(um stock de palavras justapostas em lista ou coordenadas e subordinadas num texto.
A denominação que pode ser simplesmente implícita, não atualizada na manifestação
textual, assegura a permanência e a continuidade do conjunto.

Tema e expansão – tema/titulo cuja expansão predicativa se concretiza pela ativação


de um paradigma lexical relativamente estereotipado, consagrado pela memoria do
sistema literário (op. Cit)
Quanto a sua estrutura tradicional, esta consiste numa relação de equivalência entre
uma denominação, o que de descreve (X-tema), e uma expansão, as suas
características (y), pelo que “X=Y”. O esquema de descrição e regido por um tema –
titulo, ou seja, a denominação daquilo que e descrito. O tema – título pode ser referido
no início ou no fim do texto.
Uma descrição põe sempre em equivalência semântica ca uma expansão predicativa e
condensação denominativa. Ou seja, há sempre um termo sincrético que rege como
centro de uma constelação formada por um conjunto de unidades lexicais e de
predicados semanticamente equivalentes.

SD
(sistema descritivo) →implícito ou implícito a entidade
ou objeto da descrição

Uma denominação (D) uma expansão


Hamon: Equivale a uma palavra predicativa (E) (stock de

Pode de implícita palavras justaposta

Adam: tema/titulo( aquilo que é descrito)

Um lista Um grupo de predicados


(associados a cada tema /subtema

Uma nomenclatura predicados

(subtemas, lista previsível

dos elementos do objeto descritivo)

N Funcionais qualificativos

Pred. Eventos pred. estados

Processo/ação ser,estar,ter

Verbos que indicam aprox./afastamento

Relativa/ao que e descrito, Indicam ação/fazer

Possui agente controlador da acão não possui agente da ação

Cada uma destas unidades (denominação, a nomenclatura, os predicados) é


facultativa, podendo ser reduzida a uma nomenclatura, ou a uma relação Denominação
(D) –Nomenclatura (N).
Ex: listas ou inventários técnicos, não para leitura, mas para consultar: listas de nomes
próprios (filmes), introdução de receitas de cozinha (lista de ingredientes antes do
desenvolvimento do programa propriamente dito), anuários.

Vagner, parafraseando Hamon, afirma que toda a descrição comporta:

a) Um tema-indicador- que anuncia a sequência descrita;


b) Uma serie de subtemas- nomenclatura;
c) Expansões predicativas quer sejam qualificativas quer funcionais associadas a
cada sub tema.
Isto significa que em qualquer sistema descritivo está implícito ou explicito a entidade
ou objecto de descrição, que é a Denominação (nome) e a Expansão que pode
obedecer a dois princípios.

1. Lista (nomenclatura) – componente da denominação.


2. Grupo de predicados
2.1 Qualificadores- quando predica estados (ser, estar, ter)
2.2 Funcionais- quando predica eventos, processos, ação (fazer).
Vigner complementa que toda a descrição apresenta-se como um conjunto lexical
metonímico, cuja extensão se liga ao vocabulário disponível no autor, não ao grau de
complexidade da realidade em si.

Adam (1992:109) advoga que os textos descritivos poem em jogo uma denominação e
uma expansão desta sob forma de uma nomenclatura. Do ponto de vista
macroestrutural, a denominação serve como tema dentro de uma discussão ou
conversação e como título de um livro ou de um artigo. Adam prefere utilizar o termo
tema-título contrariamente ao Hamon que prefere utilizar o termo palavra que pode ser
implícita ou explícita.

Uma descrição é sempre uma coleção de elementos agrupados à volta de um centro


temático (tema-título), palavra, denominação. O tema /título permite um horizonte de
espera. Nos textos descritivos (literários, publicitários, jornalísticos, enciclopédias) o
tema – titulo, explícito no início ou no fim do texto ou de uma sequência, orienta a
interpretação e fixa a legibilidade do enunciado.
9. Operações descritivas de base ou características discursivas

ADAM (199:85) aponta algumas operações descritivas de base verificadas na


construção textual:

a) Operação de ancoragem é aquela que põe em evidência o objeto de descrição


como um todo, o tema-título. Também se considera operação de localização ou
de referenciação.
Quando o titulo e referido no inicio, origina-se um procedimento de “ancoragem”,
criando expectativas no leitor, quando o titulo e apenas enunciado no fim, o texto sofre
um mecanismo de afetação, sendo encarado como enigma, cuja solução e desvendada
depois de todas as características terem sido enumeradas (Matos: 2010-310).

b) Operação de aspectualização- é respon sável pela composição do todo em


partes. Por outras palavras observa-se uma fragmentação do todo em partes. É
necessário acrescentar a esta decomposição o destaque de qualidades ou
propriedades de todo ou de partes consideradas.
c) Operações de relacionação: consistem na localização temporal (situação de
todo num tempo histórico ou individual); localização espacial (relações de
contiguidade entre o todo e os outros indivíduos suscetíveis de se tornarem por
sua vez objeto de um processo descritivo ou entre as diferentes partes);
assimilação comparativa ou metafórica que permita descrever o todo ou as suas
partes, estabelecendo uma relação analógica com outros objetos/indivíduos
(outros seres).
Nesta comparação ocorre o uso das figuras de estilo de “pensamento” comparação,
metáfora, fraca previsibilidade, compreensão mais complicada.

d) Operação de reformulação – o todo ou as partes podem ser reformuladas no


decurso ou no fim da descrição.
As descrições são livres de aplicar ou não uma destas operações e podem proceder
segundo a ordem que mais lhe agradar.

Do ponto de vista linguístico, a operação de destaque de qualidade ou de todos ou de


partes consideradas e a que se realiza pela estrutura do grupo nominal. (Nome
adjetivos) e pelo recurso ao nome predicativo do sujeito pedido pelo verbo ser que é a
operação de relacionação.

Ex. a casa é grande.

A metáfora domina a operação assimilação comparativa ou metáfora que permite


descrever o todo ou as suas partes estabelecendo uma relação analógica com outros
objetos.

A metonímia reside na operação de relacionação 8metonimia de contiguidade no


tempo e no espaço).

A operação de aspectualização concretiza-se, sobretudo, pela relação predicativa do


tipo ter. Ex: Guilherme tem a cabeça…

Figueiredo e Bizarro (2004:184-185) ressaltam o facto de existirem textos descritivos


como a definição, a lista, a enumeração, a receita de cozinha, etc, que se caracterizam
pela acumulação de orações de modo a darem uma ideia global do objeto descrito.

Na definição, na lista, na enumeração, a ordem sequencial das orações pode não ser
importante.

10. Planos de descrição ou sistema ou programa de descrição

Muitos estudiosos chamam a atenção, a necessidade de analisar o texto tendo em


conta a estrutura profunda, isto é, é preciso descobrir o programa a que se obedeceu.
Segundo Vigner, a descrição é uma forma aparentemente livre, responde a um
programa que se resume em:

-sistema topológico: representação espacial dos elementos: de cima para baixo. A


frente, atras, no interior, no exterior, do geral ao particular ou vice-versa.

-sistema de apreciação sensorial: gosto, odor, tacto, vista, audição.

-esquematização própria do objeto descrito: quando existe um protocolo descritivo


próprio. Poe exemplo descrever uma planta para um botânico e diferente para um
geólogo.

JEAN – Michel Adam no seu artigo “textualite e sequenciate” partilha a ideia de que
toda a descrição obedece a um plano. Para ele os planos descritivos correspondem a 4
dimensões:

Primeira dimensão: perspetiva vertical: distribuição clássica dos elementos:

Ex: em cima, em baixo.

Segunda dimensão: perspetiva lateral: corresponde a uma distribuição horizontal.

Ex: a esquerda, a direita.

Terceira dimensão: uma perspetiva que funciona com base em oposições.

Ex: perto/longe, distante, em frente/atrás.

Quarta dimensão: perspetiva que corresponde a utilização de tempo.

Ex: dias, estações do ano, horas, semanas, mês, etc

11. Estratégias de integração de unidades descritivas no co-texto.

Algumas marcas introdutórias das descrições.


De acordo com Hamon (1981:143), a escrita realiza certos procedimentos
estereotipados, a saber:

-os meios transparentes: janelas, portas abertas, iluminação suficiente, sol, ar


transparente, panoramas vastos etc.

-as personagens tipo como: turistas, espião, neófito, intruso, técnico, informador,
explorador de um lugar.

-cenas típicas como: a chegada adiantada a um encontro, a surpresa de um segredo,


a visita de um apartamento, o passeio, a pausa, a subida a local elevado.

-as motivações psicológicas como: a curiosidade, o interesse, o prazer, a


fascinação, a descoberta.

Todos estes temas servem, portanto, como puros signos demarcativos, de marcas
introdutórias das descrições e constituem uma temática.

Há descrições saturadas de predicados funcionais, regra geral, denominadas


descrições de ação.

Adam (1989:152) afirma que introduzir a noção de predicado funcional na análise da


descrição pode parecer paradoxal.

Na sua visão, a destinação tradicional entre o texto narrativo do descritivo é


comumente deduzida na oposição entre “ação” fazer e o “estado” ser.

São apontadas como características da descrição de objetos: substantivos e adjetivos.

Para a descrição de ações, o verbo é apontado como sinal particularmente deste tipo.

Mas, os predicados funcionais não são únicos elementos caracterizadores deste tipo
de texto. Os predicados qualificadores podem inserir-se na narrativa, sob a forma de
micro proposições descritivas. Da mesma forma, os predicados funcionais podem
aparecer nas sequências descritivas.
REIS indica as seguintes estratégias:

-camuflagem: o narrador faz menção de conduzir o leitor, assim propiciando um


fragmento descritivo: “abramos a porta da antecâmara onde estão, fechados por
dentro, o monge e sua irmã, e desçamos por esta estreita escada que fica a nossa
direita etc”.

-justificação: para “naturalizar” a descrição, isto e, para de algum modo motivar a sua
introdução no espaço textual, o narrador recorre frequentemente a um conjunto de
artifícios usuais que justificam a valorização descritiva de seres e espaços:

-mudança de luminosidade;

-aproximação de uma janela;

-o retrato pode surgir pela autocontemplação da personagem num espalho;

-deambulação de um personagem, pode ser pretexto verosímil para a descrição.

12. Organizações do texto descritivo

-um objecto /uma situação/uma acção

-os elementos constitutivos do objecto

-as características das partes constituintes

-a situação no espaço

-a situação no tempo

-a situação relativa a outros objetivos

-o relacionamento com outros objetos (através de comparações, metáforas).

13.Técnicas de controlo de informação: esquema super e macro


estrutural

Tipos textuais com superestrutura descritiva


A notícia é um texto super-descritivo, visto que ele faz parte dos textos descritivos mais
diversos (literários, jornalísticos, publicitários) onde o tema-título é quase sempre
explícito no inicio como modelo canónico, podendo porem aparecer no fim ou por vezes
ficando implícito, mas fazendo sempre pensar a sua ausência (enigma) orienta a
interpretação e fixa em parte a legibilidade do enunciado.

Toda a anotação do mutismo momentâneo de uma personagem pode muitas vezes ser
o anúncio de uma descrição, apagando-se a palavra atrás do olhar. Mas um motivo
dessa temática demarcativa pode ser unifuncional: anotação do mutismo pode ser
igualmente servir de signo conclusivo (um silencio após uma explicação do objeto a
descrever).

Garcia (1990) na sua simplista análise, conclui que a descrição é mais do que a
fotografia, porque é interpretação, também, em que o observador tem possibilidades
diversas de expor toda a sua subjetividade com os recursos linguísticos e estilísticos
que o texto descritivo permite.

13. Sugestão de textos para aplicação prática

Texto A. Uma Floresta Na Dinamarca

A Dinamarca fica no Norte da Europa. Ali os invernos são longos e rigorosos com
noites muito compridas e dias curtos, pálidos e gelados. A neve cobre a terra e os
telhados, os rios gelam, os pássaros emigram para os países do sul a procura de sol,
as arvores perdem as suas folhas.

Só os pinheiros continuam verdes no meio de florestas geladas e despidas. Só eles


com os seus ramos cobertos por finas duras e brilhantes, parecem vivos no meio do
grande silêncio imóvel e branco.

Há muitos anos, há dezenas e centenas de anos, havia em certo lugar da Dinamarca,


no extremo norte do país, perto do mar, uma grande floresta de pinheiros, tílias,
abertos e carvalhos. Nessa floresta morava com a sua família um cavaleiro, viviam
numa casa construída numa clareira rodeada de bétulas. E em frente da porta da casa
havia um grande pinheiro que era a árvore mais alta da floresta.

Na primavera as bétulas cobriam-se de jovens folhas, leves e claras, que estremeciam


a menos aragem. Então a neve desaparecia e o degelo soltava as águas do rio que
corria ali perto e cuja corrente recomeçava a cantar noite e dia entre ervas, musgos e
pedras. Depois da floresta enchia-se de cogumelos e morangos selvagens. Então os
pássaros voltavam do sul, o chão cobria-se de flores e os esquilos saltavam de árvore
em árvore. O ar povoava-se de vezes e de abelhas e a brisa sussurrava nas ramagens.

Nas manhas de verão verdes e doirados, as crianças saiam muito cedo, com um cesto
de vime enfiado no braço esquerdo e iam colher flores, morangos, amoras, cogumelos.
Teciam grinaldas que poisavam nos cabelos ou que punham a flutuar no rio. E
dançavam e cantavam nas relas finas sob a sombra luminosa e tremula dos carvalhos
e das tílias. Passado o verão o vento de outubro despia os arvoredos, voltava o
inverno, e de novo a floresta ficava imóvel e muda presa em seus vestidos de neve e
gelo.

No entanto, a maior festa do ano, a maior alegria, era no inverno, no centro do inverno,
na noite comprida e fria do natal.
Sophia de Mello Breyner Andresen. “O Cavaleiro da Dinamarca”

13.1 Leitura, análise e aplicação prática de conteúdo descritivo do texto A

1. Análise da superstrutura

O texto é descritivo dado que descreve um determinado espaço, ambiente: uma


floresta na Dinamarca, os invernos, primavera e o verão → descrição de uma
paisagem.

2. Critérios usados para a definição da descrição feita.

-morfológico: uso de adjetivos: invernos longos, rigorosos; noites compridas; dias


curtos, pálidos, gelados, etc.

-referencial: descritivo: descrevem-se coisas, objetos.

3. Função utilitária do texto


-explicar, ensinar

4. Tipos de descrição

-topográfica: descrição minuciosa de um lugar.

5. Descrição de acordo com a objetividade

Subjetiva: com ênfase a um conjunto de associações conotativas que podem ser


exploradas a partir de descrições de cenários, paisagens, espaços, ambientes. (outras
formas de justificar – uso demasiado de recursos estilísticos)

Ex: noites muito compridas; Dias pálidos e gelados; Florestas despidas, silêncio
imóvel

6. Características linguísticas presentes

-ocorrência de verbos de estado, ou seja presença de predicados qualitativos:1

Os invernos são longos

Os pinheiros continuam

Dinamarca fica…

-ocorrência de verbos no presente:

Exemplos anteriores

-ocorrência do imperfeito:

Havia, morava, viviam, cobriam, desaparecia, saiam, ficavam.

-ênfase na adjetivação:

Invernos longos, rigorosos; florestas gelados, despidas; jovens folhas leves e claras.

-emprego de figuras:

Dias pálidos: personificação


1
VER A ÁRVORE DO SISTEMA DESCRITIVO (SD) NA FICHA.
Florestas despidas: personificação

…Parecem vivos… comparação.

-uso de advérbios de localização:

Ali, em frente

-ocorrência de sensação:

Visuais: pinheiros continuam verdes, brilhantes, despidas etc.

-auditivas: silêncio imóvel, recomeçava a cantar, o ar povoa-se de vezes, a brisa


sussurrava nas margens.

-tácteis: dias gelados, folhas finas e duras, relvas finas, etc.

7. Caracterização pragmática

É importante que cada estudante tenha competências descritivas, ao nível do léxico e


enciclopédico. Há vários exemplos e questões que se podem, aqui, levantar: O
estudante conhece Dinamarca? Que é? Continente? Pais? Região? Entre outros
questionamentos.

O conhecimento disso implica conhecimento enciclopédico de quem escreve e para


quem escreve. Por exemplo o vocabulário que Sophia de Mello Breyner Andresen utiliza no
texto não é do conhecimento do estudante como: Antumane Jatila, Gulamo Anlaue;
Roques Máquina, Donaldo Silvério entre outros.

8. Caracterização discursiva

8.1 Preenchimento do sistema descritivo


SD
(sistema descritivo)

Uma denominação (D) uma expansão


FLORESTA

( Apresentada desde o início)

Um lista Um grupo de predicados


(subtema)

Uma nomenclatura predicados

N Funcionais qualificativos

Inverno cobrem são

Morava continua

Primavera viviam parecem

(bétula, chão, ar) estremeciam

Verão

(crianças)

Outono

(arvoredos) depois volta ao inverno

9 . Operações descritivas de base/características discursivas

- Ancoragem: o título é referenciado no início.


-Aspectualização: fragmentos de todo em partes: estações do ano.

- Assimilação comparativa: compreensão mais complicada. Ex: parecem vivos.

10. Planos da descrição (vigner)

- Topológico: do geral ao particular

- Apreciação sensorial: tacto, vista, audição.

E, se for na Perspectivas de Adam

- Com base em oposições: perto/distante, em frente/ atras. Ex: ali, em frente da porta.

- Utilização do tempo: estações do ano: inverno, primavera, verão

Bom proveito!

Texto B

Era uma vez uma casa branca nas dunas, voltada para o mar. Tinha uma porta, sete
janelas e uma varanda de madeira pintada de verde.

Em roda da casa havia um jardim de areia onde cresciam lírios brancos e uma planta
que dava flores brancas, amarelas e roxas.

Nessa casa morava um rapazito que passava os dias a brincar na praia.

Era uma praia muito grande e quase deserta onde havia rochedos maravilhosos. Mas
durante a mare alta os rochedos estavam cobertos de água. Só se viam as ondas que
vinham crescendo de longe ate quebrarem na areia com um barulho de palmas. Mas
na mare vazia as rochas apareciam cobertas de irmos, de anémonas, de lapas, de
algas e de ouriços. Havia poças de água, rios, caminhos, grutas, arcos, cascatas.
Havia pedras de todas as cores e feitios, pequeninas e macias, polidas pelas ondas. E
a água do mar era transparente e fria. As vezes passavam um peixe, mas tao rápido
que mal se via. Dizia-se ‟vai ali um peixe” e já não se via nada. Mas as vinagreiras
passavam devagar, majestosamente, abrindo e fechando o seu manto roxo. E os
caranguejos corriam por todos os lados com uma furiosa e um ar muito apressado.

O rapazinho da casa branca adorava as rochas. Adorava o verde das algas, o cheiro
da maresia, a frescura transparente das águas. E por isso tinha imensa pena de não
ser um peixe para poder ir ate ao fundo do mar sem se afogar. E tinha inveja das algas
que baloiçavam ao saber das correntes com um ar tão leve e feliz.

Sophia de Mello Breyner Andresen. “ A menina do Mar”

Chamo atenção para leitura aos vários níveis do


texto B.
14. Bibliografia

1. ADAM. Jean-Michel e REVAZ, Française. A análise da Narrativa, colecção


MEMO,2005
2. AMARO. Alice. O essencial do Português, 3ª Edição, ASA Editores,
3. BEARZOTTI, Paulo. A Descrição: Teoria e prática. São Paulo: Ática.1991
Março, Lisboa.2006.
FIGUEIREDO, O. Maria e BIZARRO, R. Patrícia. Da Palavra ao Texto. 1ª edição,
Edições Asa, Lisboa. 2004.
4. GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em Prosa Moderna. Rio de Janeiro:
fundação Getúlio Vargas, 1990.
5. Reis, C. e Lopes A.C. M. (1986). Dicionário de Narratologia, 6ª Edição, Coimbra:
Livraria Almedina.
6. Reis J. Curso de Redacção I, A frase, Porto Editora, Lisboa.
Luís Carlos Pires, Docente da Cadeira

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