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RESUMO
O presente artigo tem como objetivo caracterizar as práticas metodológicas utilizadas pelos docentes
para significar a história local no ensino de História na modalidade da Educação de Jovens e Adultos,
nas escolas públicas da Região do Cabula, em Salvador/Ba. Como pressupostos teóricos, subsidiaram a
pesquisa autores que trabalham com a temática do ensino de história e história local, Bittencourt
(2018) e Fonseca (2006); estudiosos da Educação de Jovens e Adultos como Freire (1986) e Arroyo
(2017); e pesquisadores que têm como tema de estudos essa localidade, Martins (2017) e Nicolin
(2007), entre outros. Ao que se refere à metodologia, desenvolvemos um questionário online com
perguntas abertas e fechadas para uma análise quantitativa e qualitativa. Participaram da pesquisa 6
professores que atuam em escolas públicas no ensino de história na modalidade EJA nos diferentes
bairros pertencentes à área histórica do Cabula. Os resultados confirmam a importância da inserção da
história local para uma aprendizagem significativa, visto que, proporciona aos alunos o
reconhecimento de que são sujeitos históricos e a valorização de suas identidades .
Introdução
itinerários, do trabalho para o retorno aos bancos escolares, e cabe aos docentes pensar em
estratégias de ensino para transformar a história em um componente curricular significativo
para esses alunos trabalhadores.
Ao que se refere ao Antigo Quilombo do Cabula, Nicolin (2007, p.57) descreve como
“um lugar de resguardo de africanos guerreiros e destemidos que mostravam que, em
momento algum, sentiam-se escravizados,e por isso criaram o palco de guerra pela liberdade e
alteridade africana.” Os quilombos no Brasil foram um dos mais importantes cenários de
guerra contra o sistema escravista, tendo como uma das maiores comunidades de resistência
negra o Quilombo dos Palmares instalado na Serra da Barriga (AL) permanecendo por quase
um século.
matriz, perante o Padroado Régio que expressava uma relação intrínseca entre os poderes da
esfera civil e religiosa.
Estudos realizados pela historiadora Maria Baqueiro (2011) apontam que antes do
Antigo Quilombo do Cabula ser formado, final do século XVIII, havia nessa localidade a
presença de Tupinambás, há uma hipótese de que esses povos tenham fornecido mão de obra
para a construção de Salvador. É importante ressaltar que, ao nos referirmos à localidade do
Antigo Quilombo do Cabula, extrapolamos o atual bairro abrangendo também as adjacências
conhecida como a Região do Cabula, composta por outras dezesseis localidades:
O Antigo Quilombo do Cabula, segundo Reis (1986) foi desarticulado em 1807 com o
ataque repressivo do capitão de assalto Severino da Silva Lessa e cabos de polícia, homens
XI Encontro de Turismo de Base Comunitária e Economia Solidária – XI ETBCES
estes que se encontravam a mando do governador da Bahia, João Saldanha da Gama, o Conde
da Ponte. As mulheres capturadas seguiram para a prisão e os homens foram forçados a
trabalhar nos depósitos militares.
Mesmo com a desarticulação do quilombo do Cabula, a ocupação local por povos de
matriz africana continuou e, ao longo da história, as marcas e registros culturais desses povos
foram sendo significadas e salvaguardadas pelas tradicionais comunidades de terreiros. O
Cabula ainda se manteve com aspectos rurais por muitos anos, com chácaras produtoras de
laranja de umbigo, que teve seu declínio na década de 1950, período em que a Região Cabula,
conhecida também como Miolo da Cidade de Salvador, teve seu início de modernização.
Bem como, nos projetos que buscam valorizar a cosmovisão de povos africanos que
constituíram esse território e mediá-la com crianças nas escolas da região. A exemplo do
Museu Virtual de Contos Africanos e Itan ( MUCAI) desenvolvido na Escola Municipal
Maria da Conceição Santiago Imbassahy, Tancredo Neves/Beiru e o projeto Irê Ayó Incluso
na Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos anexada ao Ilê Axé Opô Afonjá ( localizado no
bairro São Gonçalo do Retiro), o que nos impele a procurar práticas semelhantes no ensino de
História na modalidade de Educação de Jovens e Adultos em escolas públicas dessa
localidade, discussão que faremos na sessão seguinte.
Desse modo, acreditamos que para subverter a hierarquia dos conteúdos presente nos
currículos de ensino de história na EJA é necessário priorizar a História Local, posto que, essa
abordagem historiográfica possibilita uma aprendizagem significativa para jovens e adultos
desenvolvendo a criticidade nos alunos trabalhadores, suscitando o sentimento de
pertencimento e valorização da sua identidade.
XI Encontro de Turismo de Base Comunitária e Economia Solidária – XI ETBCES
Abordar a história local em sala de aula não significa limitar os estudos a um determinado
espaço. Como aponta Fonseca (2006) se trata de assumir uma postura dialética, analisando as
contradições das sociedades, evidenciando as especificidades sem negligenciar a
universalidade. A história local não se dissocia de memória, elemento fundamental nesta
disputa de narrativas dos currículos, visto que, está em xeque a representação social. Por isso,
houve um empenho da classe dominante para fixar a memória oficial com o intuito de
promover um esquecimento em relação às culturas de lugares tradicionais, como a Região do
Cabula.
Para concretizar essa conexão entre Ensino de História e História local na EJA há diversas
estratégias metodológicas e também desafios que os professores precisam enfrentar, como
pode ser visto na seção seguinte, onde faremos uma análise a partir das contribuições dos
docentes que atuam nessa modalidade da educação básica na Região do Cabula.
Quadro 1: Tabela das instituições de ensino e seus respectivos bairros onde atuam os docentes
que participaram da pesquisa.
02
02
01
01
Os participantes possuem uma idade que varia entre 43 e 63 anos; todos com titulação
de especialização.02 docentes são formados em Pedagogia (e ministram aula na EJA do
ensino fundamental I) e 04 graduados em História. Quanto ao tempo de exercício da profissão
no ensino de História varia entre 15 a 21 anos; com relação ao ensino de História na
modalidade EJA o tempo varia entre 10 a 18 anos, o que demonstra que são bastante
experientes no seu ofício.
XI Encontro de Turismo de Base Comunitária e Economia Solidária – XI ETBCES
Conclusão
Referências
FONSECA, Selva Guimarães. História Local e fontes orais: uma reflexão sobre saberes e
práticas de ensino de história. História Oral, vol.9, n1, p.125-141, jan-jun,2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Editora: Paz e Terra. Rio de Janeiro. 17 edição,
1987.
MATTA, Alfredo E. Rodrigues; REIS, Larissa de Souza; SILVA, Francisca de Paula Santos
da. Áfric(A)qui: diáspora África-Cabula e suas contribuições ao processo educativo
acerca da ancestralidade afro-brasileira. VI Encontro de Turismo de Base Comunitária e
Economia Solidária. Salvador-Ba, VI ETBCES, 2016.
NICOLIN, Janice de Sena. Artebagaço Odeart ecos que entoam a mata africano-
brasileira do Cabula. Dissertação (mestrado) Universidade Estadual da Bahia.
Faculdade de Educação. Salvador-Ba, 2007.
REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835.
Editora Brasiliense. São Paulo, SP, 1986.
SOUZA, Edna Rodrigues de. A juvenilização da EJA: Quais saberes? Quais práticas?
Qual currículo? Dissertação ( Mestrado Profissional )Universidade do Estado da Bahia.
Departamento de Educação. Programa de Pós-graduação em Educação de Jovens e
Adultos-MPEJA, Câmpus I, 2019.
XI Encontro de Turismo de Base Comunitária e Economia Solidária –XI ETBCES
RESUMO
O artigo tem como objetivo construir conhecimento sobre as possibilidades e desafios para a
organização do Turismo de Base Comunitária (TBC) na Fonte do Doutor, o estudo foi realizado em
um ambiente ecológico denominado Fonte do Doutor que se encontra localizado em área urbana no
município de Cruz das Almas, Bahia. Não há citação bibliográfica e nem observação in loco de
atividades específicas realizadas neste ambiente. Trata-se de um estudo qualitativo com base na
pesquisa aplicada de metodologia Design-Basedresearch (DBR). Os resultados mostraram que o
espaço encontra-se em estado de abandono e degradação, o que vem dificultando o contato harmônico
da comunidade com a natureza. A Fonte do Doutor apresenta cobertura arbórea bastante alterada pelas
ações antrópicas, mas ainda apresenta grande relevância em função de favorecer a manutenção de
nascentes hídricas, do microclima da região e a preservação da fauna. Concluiu-se que a Fonte do
Doutor tem uma grande importância, como potencial científico e turístico do município, sendo
possível a organização do Turismo de Base Comunitária nesse espaço valorizando assim o patrimônio
cultural e histórico.
1 INTRODUÇÃO
A área da Fonte do Doutor está localizada na cidade de Cruz das Almas, Bahia. O
município de Cruz das Almas foi criado através da Lei nº 119 de 29 de julho de 1897,
desmembrando-se de São Félix, a sua população é de 63.923 habitantes (IBGE, 2021). Está
localizada a 142 km da capital da Bahia, Salvador, seu Território de Identidade é o Recôncavo
Baiano (BAHIA, 2016), e na divisão das Zonas Turísticas fica localizada Caminhos do
Jiquiriçá - Circuito Recôncavo Sul (BAHIA, 2011).
A Fonte do Doutor originalmente apresenta vegetação nativa de Mata Atlântica do
domínio da floresta Estacional Semi-decidual bastante alterada. Conforme o art. 213 da Lei
Orgânica do município e observando-se o Art. 215 da Constituição Estadual, é uma área de
preservação permanente. De acordo com a adequação do Plano Diretor do Município, Lei nº
10.257, de 2001, esta Fonte é considerada Zona de Proteção Integral (ZPI) por ser uma área
de importância ambiental e paisagística da cidade que necessita de ações de preservação e
recuperação (Cruz das Almas, 2001). O espaço é dotado de valor ambiental, histórico,
científico, estético, cultural, político e social para a população local e as circunvizinhas.
3 METODOLOGIA
Como já salientamos acima que esse estudo faz parte de uma pesquisa de doutorado
em andamento, como lócus de pesquisa teremos a Fonte do Doutor, localizada no município
de Cruz das Almas. Nesse estudo utilizaremos a pesquisa aplicada de metodologia Design-
Basedresearch (DBR), ao qual Matta et al (2014, p.23) defendem como melhor termo em
português Pesquisa de Desenvolvimento. NOBRE et al (2017, p. 131) define-a como
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CRUZ DAS ALMAS. Lei nº 10.257, de 2001. Adequação do Plano Diretor do Município de
Cruz das Almas – Bahia.
MATTA, Alfredo Eurico Rodrigues; SILVA, Francisca de Paula Santos da; BOAVENTURA,
Edivaldo Machado. Design-basedresearch ou pesquisa de desenvolvimento: metodologia para
pesquisa aplicada de inovação em educação do século XXI. Revista da FAEEBA –
Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 42, p. 23-36, jul./dez. 2014.
NOBRE, Ana Maria Ferreira; mallmann, Elena Maria; FERNANDES, Isabelle Martin;
MAZZARDO, Mara Denize. Princípios teórico - metodológicos do design-basedresearch
(DBR) na pesquisa educacional tematizada por recursos educacionais abertos (REA). Revista
San Gregorio, nº 16, edição especial, junho p.128-141, jun. 2017.
SILVA, Francisca de Paula da. Educação Superior Sustentável: Uma análise de curso de
turismo. 2005. 337 f. Tese (Doutorado). Setor de Educação da Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2005.
SILVA, Francisca de Paula Santos da, et al. Cartilha (in) formativa sobre Turismo de Base
Comunitária “O ABC do TBC”. Salvador: EDUNEB, 2012.
SILVA, Francisca de Paula, Santos da; MATTA, Alfredo Eurico Rodrigues; SÁ, Natália Silva
Coimbra de, Turismo de base comunitária no antigo Quilombo Cabula. 2016. Disponível
em: <http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/1149>. Acesso em:
29 de nov. de 2021.
1
Alaide Santos de Santana
2
Josenita de Oliveira Evangelista de Souza
3
Lívia Villas Bôas
4
Eudes Mata Vidal
RESUMO
Este artigo relata a experiência de práticas pedagógicas em turmas da Educação de Jovens e Adultos
em escolas municipais do território do antigo quilombo Cabula. Iniciamos com um breve histórico da
EJA no Brasil e particularmente na cidade de Salvador no estado da Bahia, depois trazemos a
concepção curricular pensada que posteriormente será colocada em prática com os alunos.
1 - INTRODUÇÃO
1
Pedagoga. Especialista em Alfabetização e EJA pelo ISEAC (2013), Coordenadora pedagógica e
professora na Rede Municipal de Educação de Salvador.e-mail: lainegra@gmail.com
2
Pedagoga. Coordenadora pedagógica e professora na Rede Municipal de Educação de Salvador.e-
mail: nicejoevangelista@gmail.com
3
Pedagoga. Especialista em Novas Tecnologias e Educação pela UFBA, professora e coordenadora
pedagógica na Rede Municipal de Educação de Salvador.e-mail: lovboas@hotmail.com
4
Pedagogo. Pedagogo (UNEB), atualmente é professor do Ensino Fundamental (SMED), Doutor em
Difusão do Conhecimento pelo Programa de Pós-Graduação em Difusão do Conhecimento (UFBA),
Mestre em Educação e Contemporaneidade (PPGEduc/UNEB) e especialista em Metodologias de
Ensino para o Educação Básica (FCE).e-mail: eudesmata@gmail.com
A proposta deste artigo é socializar as experiências exitosas com alunos das turmas da
Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede municipal de educação da cidade de Salvador.
Para iniciar trouxemos um breve histórico da EJA para contextualizar no tempo e espaço as
condições político pedagógicas desta modalidade.
Após a contextualização da EJA e suas particularidades foi necessário trazer no nosso texto a
concepção de currículo pensada e de relevância dela para nortear o trabalho do professor em
sala de aula. Diante da análise da concepção do currículo para a EJA apresentamos a
proposta curricular pensada, elaborada e executada em turmas desta modalidade. Nesta
proposta podemos exemplificar as atividades, e conteúdos significativos para este público,
trazendo à tona seus saberes e experiências vividas conforme preconizava o mestre Paulo
Freire.
Ao discutir sobre os aspectos didáticos, mas também sociais e políticos que engendram a
modalidade de Educação EJA, fazemos um paralelismo com outro conceito importante, no
campo da ação social, que é o Turismo de Base Comunitária (TBC). Este conceito está ligado
a uma modalidade de turismo, no qual o protagonismo das ações está estreitamente vinculado
às formas comunitárias de organização social (VIDAL, 2021).
Sendo assim, por ter características multidisciplinares em sua estrutura e aplicação, o TBC,
além de propor e construir concretamente outro modelo de ação turística, ligada ao
desenvolvimento socioeconômico e cultural de uma determinada comunidade popular que o
adote e aplique, também manifesta uma forte promoção para processos de educação
comprometidos com uma proposta revolucionária e libertária.
Neste sentido, situa-se o projeto TBC Cabula e Entorno, criado no ano de 2010, com atuação
em 17 bairros que compõem o antigo quilombo do Cabula, atualmente grande território do
Cabula. Este projeto teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia
(Fapesb), tendo seu funcionamento na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) até os dias
vigentes, instituição localizada no Cabula (VIDAL , 2021).
O Cabula, por sua vez, território localizado como “miolo” de Salvador, atualmente foi
demarcado pela gestão pública da cidade composto por 22 bairros, embora o saber popular
local reconheça somente 17 deles. Em sua formação histórica, foi um espaço delimitado por
disputas em torno das relações de poder e das contradições sociais produzidas durante o
período de escravização dos africanos e seus descendentes no Brasil. Com forte
ancestralidade africana, foi palco para a criação do antigo quilombo Cabula, que resistiu até a
sua destruição em 1807.
Igualmente, nesta mesma região, estudos (MARTINS, 2018; COSTA, 2018) mostram que
suas antigas matas fechadas, serviu de abrigo para grupos tupinambás que coexistiam nas
proximidades de seu território, durante o período da colonização do Brasil.
Essa região possui o bairro mais negro da cidade: o bairro de Pernambués, que no censo de
2010 do total de 64.983 moradores, 53.580 se auto declaram pretos e pardos, um Campus da
Universidade do Estado da Bahia - UNEB, o terreiro mais antigo Congo-Angola do Brasil, o
Tumbeci e as histórias de resistências do povo preto que agora vão sendo recuperadas:o negro
Beiru, a Mata Escura, a Engomadeira e a Sussuarana, Quilombo do Cabula.
Por fim, na conclusão deste artigo, trouxemos relatos de experiências com possíveis práticas
interacionistas e totalmente contextualizadas com a realidade vivenciada pelos alunos que
fazem parte das classes da EJA.
A prática educativa dos professores da EJA começa com a análise e reflexão sobre: o que
ensinar? Quais conteúdos trabalhar? Qual método e dinâmicas em sala são mais eficazes?
Como posso viabilizar o desenvolvimento das habilidades necessárias para cada etapa de
ensino desta modalidade?
Todas as perguntas acima podem ser respondidas se antes de qualquer análise de proposta
curricular os professores considerem o que Freire já indicava em sua prática:
Por isso mesmo pensar certo coloca no professor, ou mais amplamente, à escola, o
dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes
populares, chegam a ela- saberes socialmente construídos na prática comunitária-
mas, também discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em
relação com o ensino dos conteúdos.(2021, p.31)
Considerar que o aluno não aprende apenas no ambiente escolar e que traz consigo, na sua
história saberes e aprendizagens na troca com outros fora da escola, na sua vida cotidiana. é
de relevância pedagógica o professor considerar estas histórias de vida, com desejos e anseios
diversos.
Inicio este relato contextualizando sobre quem sou eu no cenário da EJA, sou Lívia Oliveira
Villas Bôas, filha de professora, nascida no Recôncavo da Bahia, formada pela UNEB em
Pedagogia e assumi a carga horária de 40 horas na rede municipal de Educação em 2005,
sendo 20 horas pela tarde e 20 horas no turno noturno. Nunca tinha trabalhado com adultos
até assumir a primeira turma de EJA na Escola Municipal Professora Maria José Fonseca,
que fica no bairro de Sussuarana, no território do antigo quilombo do Cabula.
Na primeira unidade usamos o tema: Como eu me vejo! A partir deste tema os professores
exploraram a identidade pessoal e a construção da cidadania para construir as suas estratégias
pedagógicas. Baseado neste tema gerador pudemos trabalhar com as seguintes abordagens
didáticas: identidade do estudante; construção da árvore genealógica; documentos pessoais
importantes e suas siglas; construção da linha de vida de cada um; ouvir anseios para o futuro
e o percurso; debate sobre noções de cidadania e identidade; bairro e a relação da pessoa com
a comunidade em que vive e com o meio em que está inserido.
Na segunda unidade decidimos pelo tema: Minha interação com o mundo do trabalho! Com
base nesta temática pudemos pensar no trabalho como instrumento de inserção na sociedade
e construção da cidadania. As abordagens didáticas tinham como norte :a importância do
trabalho como instrumento de inserção na sociedade e construção da cidadania; tipos de
trabalho (status social, diferenças, semelhanças); direitos do trabalhador; história do salário
mínimo; análise e estudos de custos de vida (contas de água, luz, transporte,alimentação);
estudo e análise dos custos da cesta básica.
Na terceira unidade o tema orientador planejado foi: Como me vejo no mundo? Falando
sobre a interação e relação de interdependência da pessoa humana com o meio em que vive,
trazendo possibilidades do aluno da EJA perceber-se como construtor e produto da história
do local onde ele está inserido abordando:noção de democracia e cidadania;deveres e direitos
(saúde, educação, transporte, segurança, moradia, lazer); concepções acerca do idoso, da
criança, do adolescente; eleições e a história do direito do voto.
E para finalizar o ano letivo trouxemos como tema gerador a pergunta : Como o mundo me
vê? Possibilitando o estudo sobre a influência africana na construção do povo brasileiro,
baiano e na sociedade soteropolitana;os tipos de preconceitos (racismo, sexismo, homofobia)
e a importância dos movimentos de resistência (quilombos, insurgências, irmandades).
Utilizamos várias estratégias didáticas para que fosse possível sensibilizar e mobilizar o
envolvimento do maior número possível de alunos da EJA. Fizemos: rodas de conversa com
escuta sensível para as falas destes alunos; palestras com profissionais relacionados aos temas
trabalhados durante as unidades; oficina de cordel; aula lá fora ( quando saímos no bairro
para fazer pesquisa de preços nos supermercados); oficinas de ensinagem (quando os alunos
da EJA ensinavam para os seus pares o que sabiam : culinária, costura de bolsa; hidráulica);
participação na caminhada em celebração ao Dia da Consciência Negra; Sarau Cultural.
Percebemos que esta forma de trabalhar aproximava e motivava a participação e interação
dos alunos. Era notável a melhoria significativa na auto-estima destes alunos que no início do
ano chegavam desmotivados. A experiência de uma proposta didática inclusiva, colaborativa e
dialógica trouxe a evidência para nós, professores da EJA, que a aprendizagem pode e deve ser
significativa para todos ( WALLON, 2008).
Essa proposta apresentada acima contemplava todos os professores que atuavam nas turmas
do EJA 1.
O relato que apresento é uma das vivências que tive como professora em turma de educação
de jovens e adultos e que considero bela pela simplicidade, significativa por ter oportunizado
aprendizagens em todas as pessoas envolvidas (independente do lugar que se encontrava
naquele momento, estudante, gestão, coordenação) e transformadora, por ter provocado em
mim e em muitos dos estudantes mudança na sua forma de estar, ver e interagir na
comunidade.
O ano foi de 2016, assumi a regência de uma turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA
I) na Escola Municipal Governador Roberto Santos, pertencente à Regional Cabula. Escola
viva, efervescente, aconteciam ações coletivas que envolviam toda comunidade escolar
regularmente. Fazíamos encontros de planejamento, e partilhávamos questões pontuais,
elaborávamos estratégias no sentido de superá-las.. Portanto, já conhecia parte dos estudantes
da turma, apesar de não ter sido professora de nenhum deles, tínhamos uma relação de
proximidade. Sabia ser uma turma heterogênea, conhecia as limitações (encontravam-se em
momentos diferentes em seu processo de aprendizagem); reconhecia a baixa estima que
envolvia profundamente alguns, e das questões sociais que os distanciavam, provocando
irregularidade na frequência.
Inspiradas em Paulo Freire que em seu livro Pedagogia da Autonomia, 1996 afirma que
“Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos” e nos provoca a estar abertos ao risco da
mudança, assumindo postura crítica dos nossos fazeres junto com eles e a comunidade,
propus a escrita da biografia de cada educando. Tarefa difícil, exigia esforço, desnudar-se de
preconceitos, aquisição de habilidades e construção de estratégias.
Como esperado, as questões de gênero, raça, religião, violência se apresentaram. Com força.
As dores, medos, dissabores, também fizeram questão de se apresentar. Pequenos e grandes
sonhos e desejos se insinuaram. Peguei! Tanto os queria… Chegaram, não deixei escapar. É
interessante sinalizar que os pequenos desejos para alguns eram utopia para outros.
Além da história de cada um, é possível observar que os sujeitos da educação de jovens e
adultos, trazem consigo conhecimentos literários já consolidados. Cantigas de roda, Cantigas
de trabalho, histórias de susto ou de ninar, versos, provérbios, ditos populares, adivinhas,
lendas, parlendas, fazem parte de seu contexto em alguma medida. Organizamos então os
pontos de partida para escrita, reescrita, escrita a partir de escriba.
Proposições:
Algumas ações contaram com a parceria do professor de educação física da EJA 2, utilizando
o espaço externo da unidade escolar.
Foi um ano letivo intenso. Cheio de aprendizagens. As evidências produzidas pouco ficaram,
já se perderam com o inadequado guardar. As marcas impressas na alma de vez em quando
descolam e se ressignificam. Antes do fim do ano letivo, uma das estudantes que sonhava em
ler e escrever, leu o bilhete da patroa solicitando comprasse ingredientes para a receita do
almoço daquele dia. Chegou na escola chorando e gritando comigo como se estivesse
passando mal. Um estudante, que estava desempregado, trabalhando com biscates, aprendeu
preparar cuscuz de tapioca, fez um carro e passou a vender na vizinhança. Levou para escola.
Uma delícia! No ano seguinte a estudante que queria saber mexer na máquina do banco, me
contou que não precisava mais pedir a ninguém. Aprendeu a ver e entender os números.
Pequenos sonhos, grandes realizações. Nós professores somos os que semeiam e sonham com
a colheita farta da sociedade.
Sou Alaide Santana, mulher preta, conhecedora de parte da trajetória familiar no processo de
escravização desde o primeiro africano da minha família que foi trazido para este país.
Soteropolitana, sou única filha de professora leiga, mais tarde comerciária, que me criou
sozinha, sou mãe de dois meninos pretos, moradora de ocupação urbana (invasão) da e na
Sussuarana, criada no seio das Comunidades Eclesiais de Base, as CEBs e formada no seio da
Pastoral da Juventude do Meio Popular - PJMP, professora leiga de escola comunitária,
estudei como bolsista no primário/ginásio, concluindo a educação básica em escola pública,
entrei na faculdade de pedagogia da UNEB (1997) em uma época em que apenas 2%
acessava uma universidade pública.
Prestei concurso público em 2003 para professora e no ano seguinte para coordenadora
pedagógica na rede municipal de educação da cidade de Salvador. Optei por escolas dentro
da Sussuarana para atuar, durante 10 anos fui coordenadora pedagógica da Escola Municipal
Professora Maria José Fonseca, em diálogos, visitas e participação em atividades das escolas
na região do Cabula, fui conhecendo a realidade educacional da EJA nesta região,
anteriormente um quilombo: o Quilombo do Cabula, com muitas histórias de resistências,
mas com esvaziamento da construção de sentimento de pertença nos espaços escolares, no
que tangia a EJA. Havia algumas tentativas, mas não havia ação em conjunto.
Ao iniciar a conversa, eu não o apresentava como padre, apenas dizia o nome e falava de qual
país era. Era visível que as pessoas presentes se interessavam pois iriam dialogar com alguém
de fora, um estrangeiro. Ele iniciava perguntando se alguém desejava ir morar com ele na
África e todos recusavam de imediato e os motivos eram os mesmos: lugar ruim, de muitas
guerras e pobreza, as pessoas morrem de fome.
3 METODOLOGIA
Estamos utilizando os relatos de experiência das nossas vivências nas turmas de Educação de
Jovens e Adultos em escolas que pertencem ao antigo território do quilombo do Cabula, nos
bairros de Sussuarana e São Gonçalo.
O Relato de Experiência é uma espécie de narrativa, pela qual o conhecimento científico se
atrela, enquanto aporte para subsidiar a experiência a ser comunicada. Dentro da perspectiva
metodológica, o Relato de Experiência é uma técnica pela qual a escrita permite a
comunicação das experiências subjetivas e objetivas.
Sendo assim, é importante que seja dito que o Relato de Experiência não é uma crônica, mas
sobretudo uma experiência ancorada em marcos teóricos, pelos quais a interpretação do relato
se organiza. A interpretação do relato apresentado neste trabalho, também está ancorada na
experiência comunitária e profissional das professoras que escrevem este artigo, a partir de
uma descrição de suas memórias vividas em suas práticas sociais, profissionais e
comunitárias no território do Antigo Quilombo do Cabula.
Por sua vez, a discussão de forma narrativa, traz a interpretação a partir de uma organização
estruturada pelas próprias autoras, que apontam para as práticas docentes identificadas em
cada relato de experiência apresentado.
4 CONCLUSÃO
A modalidade EJA configura como espaço de saberes populares que se entremeiam com os
conhecimentos selecionados pelo sistema educacional, o sujeito presente na EJA transgride,
sempre que há possibilidades, o currículo formal, ampliando a sua compreensão de mundo e
sua atuação no mundo, produzindo novas culturas. Como diz Milton Santos: Gente junta cria
cultura e, paralelamente, cria uma economia territorializada, uma cultura territorializada, um
discurso territorializado, uma política territorializada.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 77 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2021.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 67 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2021.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 42 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2021.
CRISTALDO, Heloísa. Censo Escolar 2020 aponta redução de matrículas no ensino básico:
Foram registradas 579 mil matrículas a menos do que em 2019. Agência Brasil, 2021.
Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2021-01/censo-escolar-
2020-aponta-reducao-de-matriculas-no-ensino-basico> Acesso em 10 nov 2021.
NASCIMENTO, Luiz Marine José do e COSTA, Telma Costa (orgs.). Projeto Político
Pedagógico da Educação de Jovens e Adultos: Rede Municipal de Ensino de Salvador -
São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2012.
Salete Vieira11
salete.vieira@gmail.com
RESUMO
Atualmente, o turismo tem estado presente nas comunidades indígenas não só como fonte de
renda complementar, mas também como mecanismo de revitalização cultural e integração
ao cenário nacional. O presente artigo tem como objetivo refletir a respeito da relação da
memória e identidade de grupos indígenas, especialmente das comunidades Pataxó
localizadas no Extremo Sul da Bahia, dentro da atividade turística. Para o alcance do
objetivo da pesquisa, a metodologia empregada tem caráter exploratória e contou com
revisão bibliográfica através de artigos, documentos oficiais ecom dados disponibilizados
através de visitase lives realizadas por membros da comunidade indígena que trabalha com
turismo, além de material publicado nos canais oficiais das iniciativas de turismo indígena.
Verificou-se que o turismo constitui-se como uma estratégia de resistência identitária para
os Pataxó do Extremo Sul da Bahia, bem como de adaptação na sua relação com a
comunidade envolvidadentro da dinâmica de um mundo globalizado. O turismo se torna,
além de uma oportunidade de desenvolvimento local, uma forma de (re)afirmação de suas
tradições. No entanto, ressalta-se algumas lacunas nesse processo como a ausência de
instituições públicas, civis ou privadas que apoiem a atividade indígena, uma vez ser esta a
principal fonte de renda desse povo.
1
Doutoranda no Programa de Pós Graduação Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento (PPGDC). Mestre
em Cultura e Turismo (UESC). Bacharel em Turismo- Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Professora
Assistente do Curso de Turismo e Hotelaria da Universidade do Estado da Bahia (Campus I/Salvador).
Participante do Grupo Multidisciplinar de Estudo e Pesquisa: Sociedade Solidária, Espaço, Educação e
Turismo – SSEETU.
2
Doutora em Artes Cênicas (UFBA). Mestre em Educação (UFBA). Professora Titular da Universidade do
Estado da Bahia (Campus I/Salvador). Participante do Estudo sobre Formação em Exercício de Professores –
FEP/UFBA.
XI ETBCES – Inovação e Solidariedade em Territórios de Resistência: iniciativas em tempos adversos –
De 6 a 12 de dezembro de 2021. Anais publicados sob número de ISSN 2447-0600.
XI Encontro de Turismo de Base Comunitária e Economia Solidária – XI ETBCES
Introdução
Desse modo, a opção pelo desenvolvimento de turismo ligado aos aspectos culturais
de um determinado povo deve conciliar-se aos objetivos de manutenção do patrimônio, do
uso cotidiano dos bens culturais e da valorização das identidades culturais locais.
O turismo que ocorre em terras indígenas proporciona aos turistas a oportunidade de
ouvir as histórias e lendas regionais, tomar parte de rituais tradicionais, experimentar os pratos
típicos da culinária, tomar banhos de rios, fazer pinturas corporais, visitar suas moradias, ter
contato com os esportes tradicionais e aprender na prática as técnicas do artesanato.
Os traços culturais presentes vinculados na mídia aliados aos costumes característicos
do dia-a-dia, são transformados em atrações que encantam visitantes. São tradições
identificáveis da cultura indígena (muitas vezes com o rótulo de folclore), tanto no espaço
regional como através do tempo (MONTEIRO, 1999).
Sugiro um parágrafo falando de uma maneira geral das diversas etnias indígenas, para
depois adentrar nas comunidades indígenas Pataxó
As comunidades indígenas Pataxó, localizadas no extremo sul da Bahia, desenvolvem
o turismo em suas aldeias e reservas, onde apresentam ao turista aspectos característicos de
Referencial Teórico
A relação entre turismo e cultura
Segundo Batista (2005), a memória tem um caráter primordial para elevação de uma
nação de um grupo étnico, pois aporta elementos para sua transformação, e essa memória
proporciona ao indivíduo a lembrar da própria lembrança e não deixa que se apaguem os
acontecimentos adquiridos por todos envolvidos com aquele episódio.
De acordo com Le Goff
Já Pozenato (1990, p.10) indica que a identidade não é buscada “no plano das
manifestações externas, mas no uso que existe por trás das manifestações”, ou seja, vai além
dos aspectos externos e das celebrações. Deste modo, as manifestações verdadeiras da cultura
não estão na “exposição” como acontece no turismo indígena, mas no cotidiano dos
indivíduos na comunidade.
Materiais e métodos
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Para o alcance do objetivo da pesquisa, a metodologia empregada teve caráter
exploratória e contou com revisão bibliográfica através de artigos, documentos oficiais, dados
disponibilizados através de visitas para a caracterização das aldeias durante a apresentação
dos roteiros de visitação pré-pandemia, contextualizando e apontando os protocolos e ações
realizadas para garantir a segurança da comunidade e dos turistas na visitação durante o
período pandêmicoparticipação da apresentação dos , entrevistas e lives realizadas por
membros da comunidade indígena que trabalham com turismo, além de material publicado
nos canais oficiais das iniciativas de turismo indígena.
Foram analisadas de maneira qualitativa a vivência que ocorreu durante a visitação e
procurado aprofundar o conhecimento indígena Pataxó como multiplicadores das sabedorias
tradicionais.
Para desenvolvimento o procedimento metodológico utilizado foi o qualitativo, quanto
às técnicas de pesquisa foi empregado levantamento bibliográfico e documental que
fundamentaram teoricamente os conceitos abordados no decorrer do trabalho por meio de
leituras e fichamentos de literatura específica, em livros e periódicos, sites e artigos.
REFERÊNCIAS
CASTRO, Maria Soledad Maroca de. A reserva Pataxó da Jaqueira: o passado e o presente
das tradições. Brasília: Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, 2008.
GOMES, Mércio Pereira. Os índios eo Brasil: passado, presente e futuro. Editora Contexto,
2012.
GRUNEWALD, Rodrigo de Azeredo. Os índios do descobrimento: tradição e turismo. Rio
de Janeiro: Contra capa livraria, 2001.
JESUS, Djanires Lageano Neto. Turismo Indígena como alternativa de valorização cultural.
Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.7, n.2, maio/jul 2014, pp.223-239.
LEAL, Rosana Eduardo da Silva. O turismo em terras indígenas sob o ponto de vista
antropológico. Caderno Virtual de Turismo. Volume 07, nº 3, 2007.
MONTEIRO, Jonh. Armas e armadilhas: história e resistência dos índios. In: NOVAES,
Adauto (org.). A outra margem do ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento e silêncio. In. Estudos Históricos. 1989/3. São
Paulo. Cpdoc/FGV.
RESUMO
Este artigo é fruto da tese intitulada “Educação, saúde e memória: narrativas e saberes das parteiras
tradicionais no território do Cabula”, e tem como objetivo apresentar o panorama da saúde, mais
especificamente os dados relativos à assistência obstétrica, das mulheres em idade reprodutiva
residentes no território do Cabula, a partir de dados epidemiológicos, narrativas coletadas nos espaços
de vivências em rodas de conversas enquanto ações dialógicas, criativas e afetivas. Estas rodas de
conversa integram as ações educativas dos projetos de extensão desenvolvidos pelo Departamento de
Ciências da Vida, da UNEB, em parceria com as Unidades Básicas de Saúde da Secretaria Municipal
de Saúde de Salvador, no DSCB. Os resultados obtidos nessa pesquisa apontam para baixa cobertura
da atenção básica, agravamento das desigualdades sociais durante a pandemia COVID-19, associadas
ao racismo estrutural, baixa qualidade da assistência pré-natal, desencadeando aumento da morbidade
e mortalidade materna e perinatal. Conclui-se, portanto, que o panorama de saúde da população
domiciliada no Cabula apresenta fragilidades decorrentes do aumento das desigualdades sociais,
acentuando a vulnerabilidade social desta população, comprometendo os dados epidemiológicos de
saúde.
1
Enfermeira Obstetra, Doutora em Educação e Contemporaneidade, Docente da Universidade do Estado da
Bahia (UNEB).
2
Enfermeira pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
3
Professora Adjunta da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Centro de Ciências da Saúde, Campus
Santo Antônio de Jesus. Socióloga, mestre e doutora em sociologia pela Universidade de Brasília.
4
Pós-doutora e doutora em Educação,. professora e pesquisadora do Curso de Turismo e Hotelaria e programas
de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade (PPGEduC) e DoutoradoMultidisciplinar
eMultiinstitucional em Difusão do Conhecimento (DMMDC) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
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1 INTRODUÇÃO
(CAPS)
1 CAPS AD/
CAPS II- pop. > 421.246hab.
70mil hab. *** =
6 unidades
= 6 unidades
CAPS AD III-
pop. > 150 mil
hab. *** = 3
unidades (2,8)
6 unidades
(UPA)
Hospital 01 Cabula
Geral
Hospital 01 Narandiba
Psiquiátrico
Fonte: Elaborada pela autora, com base nas informações referenciadas no corpo do texto.
*Parâmetros apresentados na Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2017)
** Estimativa populacional calculada e apresentada no PMS (SALVADOR, 2017b)
*** Parâmetros apresentados no documento do Ministério da Saúde: Critérios e Parâmetros para o Planejamento
e Programação de Ações e Serviços de Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2015).
****Parâmetros apresentados na Portaria nº 1020, de 13 de maio de 2009(BRASIL, 2009).
***** Não foi encontrado o parâmetro.
O PMS (2017) utiliza alguns indicadores de atenção à saúde para analisar a situação
da população do território, indicando que o DSCB dispõe de uma Cobertura de Atenção
Básica, em 35,8%; de Estratégia de Saúde da Família, em 24,6%; de Cobertura de Saúde
Bucal,em27,9%; e de Saúde Bucal na ESF,em21,97%.Considerando que o DSCB não dispõe
da cobertura preconizada pelo MS, é possível inferir que essa população não recebe a Atenção
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Básica recomendada, sendo que as UBS são a entrada de todo o sistema e potencialmente
deveriam ser responsáveis pela resolubilidade de 80% de toda demanda por serviços de saúde
(BRASIL, 2017).
Ao analisar esse Quadro, observa-seque parte destas inadequações tem como causa a
baixa cobertura da atenção básica neste território. De acordo com Cardoso e Vieira (2012), a
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baixa cobertura expressa uma associação do crescimento insuficiente da oferta de serviços
acrescido do aumento da população e consequentemente da demanda assistencial. A
ampliação da cobertura das ações da atenção básica oferecidas pelo SUS constitui um dos
principais desafios para a atenção à saúde no Distrito e no município de Salvador.
Crescimento entre o
Incidência Incidência
Agravos selecionados período considerado
anterior em 2015 (%)
e 2015 (%)
Considerando que o objeto deste artigo é traçar o panorama de saúde do distrito, faz-se
necessário também relatar os agravos de saúde decorrentes ao cenário da pandemia do
COVID-19.
Os estudos indicam que no Brasil, a população negra é a mais impactada pela pandemia
e pelos seus desfechos negativos, em razão da maior prevalência das doenças crônicas e da
maior vulnerabilidade social e econômica. Goes; Ramos e Ferreira (2020), afirmam que o
panorama da pandemia nesta população está associado às condições desiguais decorrentes do
racismo estrutural e institucional, que dificulta o acesso aos serviços de saúde e é
significativamente maior pela ausência do Estado em seus territórios. A pandemia pelo Covid-
19 desnudou as desigualdades sociais no Brasil, principalmente, em todas as regiões
consideradas periféricas pelas vulnerabilidades, refletindo a alta incidência desse vírus e suas
consequências diretas (alta letalidade, agravo de co-morbidades associadas, necessidade de
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acompanhamento posterior e efeitos ainda desconhecidos) e indiretas (precarização das
relações de emprego e renda, desigualdades de gênero, entre outras) (GOES; RAMOS;
FERREIRA, 2020).
As morbidades de caráter étnico que mais afetam a população negra são: doenças
falciformes, deficiência de 6-glicose-fosfato desidrogenase, hipertensão arterial, doença
hipertensiva específica da gestação e diabetes mellitus, incluindo outras decorrentes das
condições de vulnerabilidade a qual essa população está exposta, tais como a desnutrição,
doenças do trabalho, mortes violentas, mortalidade infantil, sofrimento psíquico, transtornos
mentais decorrentes do uso abusivo do álcool e das drogas, doenças infecciosas e parasitárias,
bem como as intercorrências da gestação, parto e pós-parto (BRASIL,2007). O II Diagnóstico
de Saúde da População Negra do Município de Salvador, publicado em novembro de 2015,
acrescentou como problemas que afetam especialmente esta população: deficiência do sistema
de informação em saúde em reconhecer a cor como sendo uma variável importante;
insuficiência na formação de pessoal; organização inadequada dos serviços; dificuldade de
acessibilidade aos serviços.
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Esses problemas constituem iniquidades que historicamente demandam ações eficazes,
porque tem uma forte relação com o racismo e suas práticas discriminatórias que embora não
reconhecidas, afetam diretamente a saúde dessa população expressando o preconceito e
a intolerância praticada contra profissionais e usuários negros (BATISTA; WERNECK;
LOPES, 2012).
Alguns estudos indicam indícios de risco aumentado para contagio pelo COVID-19,
para as gestantes em razão das alterações anatômicas e fisiológicas na gestação, bem como
dos sistemas cardiovascular, respiratório, imunológico e de coagulação, tornando a gestante
mais vulnerável para as infecções virais, observando-se ainda um risco duas vezes maior para
mortalidade em mulheres pretas.Diante disto, a preocupação com os cuidados às gestantes e
puérperas é imprescindível, principalmente pelas dificuldades de acesso ao pré-natal de
qualidade, o que pirou nesse período de pandemia. Não só pré-natal, mas toda assistência à
saúde da mulher foi afetada pela pandemia, seja pelo receio de algumas gestantesde procurar
o serviço de saúde devido às incertezas e ao medo de sair de casa, ou por falhas graves e
muito frequentes da assistência à mulher nos municípios, priorizando a assistência ao
tratamento da COVID-19. Em vários lugares do país foram suspensas as consultas pré-natais
e o sistema foi reorganizado em torno da COVID-19, sendo previsível que os problemas já
existentes da assistência se agravem e possam acontecer mais casos de morte materna por
causas não-COVID-19, o que infelizmente só se comprovará nas estatísticas vitais publicadas
nos próximos anos (AMORIM, 2020).
Fonte: TABNET.
Fonte: TABNET
Um dado importante que merece destaque são os partos que ocorreram fora de
estabelecimentos de saúde e no domicílio da gestante, um total de 48, no período de 2018-
2020, de acordo com a Tabela 3. Infere-se, portanto, que ainda há Parteiras Tradicionais
atuando no território.
Fonte: TABNET
3 METODOLOGIA
O percurso metodológico foi desenvolvido tomando como referência as vivências
compartilhadas com as mulheres do território do Cabula, nos espaços de trocas de
experiências, em ações dialógicas, criativas e afetivas, que nos fundamentou para acolher suas
singularidades na assistência direta a saúde desde a atenção básica, até a hospitalar.
Para elaboração do panorama de saúde de mulheres em idade reprodutiva no
Cabula, utilizou-se dados epidemiológicos secundários extraídos dos documentos: II
Diagnóstico de Saúde da População Negra de Salvador (2015), do Plano Municipal de Saúde
2018-2021, da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, e de informações das narrativas de
mulheres idosas, guardiãs de saberes de parteiras tradicionais, bem como narrativas de
mulheres em idade reprodutiva que participaram das ações educativas por meio de rodas de
conversas, promovidas pelos projetos de extensão.As rodas de conversa são consideradas
como intervenções com metodologia essencialmente participativa e flexível. Ao se considerar
a pesquisadora proponente como parte do processo, ela mesma passa a ser sujeito de
aprendizagem, sempre realizada na perspectiva de troca. Portanto, sempre haverá uma
dimensão educacional e pedagógica na proposição de rodas de conversa (MELO et al, 2013).
4 CONCLUSÃO
A partir dos estudos sobre o Cabula foi possível descrever a situação de saúde dessa
população. Diante dos dados epidemiológicos expostos, e das narrativas das mulheres
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residentes nesse território, identificamos que houve uma piora no quadro de saúde geral desse
distrito. O estudo identificou que a complexidade da situação de saúde do Distrito Sanitário é
multifatorial. Contudo, os determinantes sociais daquela população e a baixa cobertura da
atenção básica,constituem os principais problemas enfrentados por aquela comunidade,
umavez que o crescimento das morbidades, comprometem severamente o quadro de saúde
naquele Distrito. A pesquisa sobre os indicadores epidemiológicos da população do
Cabulaaponta para necessidade de mudanças estruturais importantes na sua atenção básica.
REFERÊNCIAS
D'ORSI, E.; et al. Desigualdades sociais e satisfação das mulheres com o atendimento ao
parto no Brasil: estudo nacional de base hospitalar. Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro
, v. 30, supl. 1, p. S154-S168, 2014.
“Entoarei meu canto aos solitários e aos que se retiraram para solidão aos pares. E a quem
ainda tiver ouvidos para as coisas inauditas quero entorpecer-lhes o coração com minha
ventura”
(Do livro “Assim falava Zaratustra”, Nietzsche)
RESUMO
Esse artigo objetiva interpretar o Turismo de Base Comunitária (TBC) no Brasil à luz do pensamento
decolonial e transmoderno, num contexto de uma modernidade em crise. Assim, por meio de uma
pesquisa bibliográfica e documental, apresentamos reflexões que demostram que a insurgência do
TBC no Brasil é realizada basicamente por comunidades tradicionais localizadas nos mais diversos
ecossistemas. Estas comunidades, historicamente, foram e ainda são oprimidas pela
modernidade/colonialidade. Entretanto, elas desenvolvem diversas estratégias de resistência para
valorizar as suas tradições e territórios, uma delas é o Turismo de Base Comunitária. Portanto,
conclui-se que TBC é uma práxis decolonial e transmoderna, pois os processos educativos que o
constituem, além de serem distintos e antagônicos em relação à hegemonia da matriz colonial, posto
que estão baseados numa cosmogonia ancestral afro e indígena, ao possibilitarem a interação crítica e
ética entre culturas diferentes (do turista e da comunidade receptora), favorece o diálogo intercultural
crítico fundamental para a construção de uma visão transmoderna da contemporaneidade, capaz de
ofertar criativas reflexões/soluções para os velhos e novos problemas de uma modernidade em crise.
1
Doutorando em Educação e Contemporaneidade pelo Programa de Pós-Graduação em Educação e
Contemporaneidade (Ppjeduc) da Universidade do Estado da Bahia; Membro do Grupo Interdisciplinar de
Pesquisa em Representações, Educação e Sustentabilidade ( Gipres- UNEB)
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1 INTRODUÇÃO
Com objetivo de apresentar uma noção conceitual do TBC, o MTur (BRASIL, 2010),
apresenta um conjunto de princípios e fundamentos, a saber: i) a autogestão; ii) o
associativismo e cooperativismo; iii) a democratização de oportunidades e benefícios; iv)
cooperação solidária; v) a valorização da cultura local e do patrimônio natural.
2
“Estimativas recentes da OMT (UNWTO, 2020), baseadas em projeções globais apoiadas nadinâmica de
fechamento de fronteiras e nos inúmeros riscos associados às dinâmicas das viagens, em função da pandemia,
indicam, globalmente, a perda de mais de 100 milhões de empregos e 1 trilhão de dólares em termos de impacto
econômico, uma vez que, segundo esse documento, 1 bilhão de turistas deixarão de circular pelo mundo. E, com
as inúmeras incertezas que permeiam esse novo cotidiano e considerando ainda o agravamento provável da crise
sanitária nos próximos meses, essas estimativas podem ser ainda superiores àquelas anteriormente previstas.
Reconhecendo uma redução de 80% na dinâmica de viagens, com relação ao período anterior à pandemia, a sua
recuperação dependerá, certamente, de uma série de acordos internacionais e protocolos a serem estabelecidos
por governos nacionais e subnacionais”(IRVING; COELHO; ARRUDA, 2020, p.89).
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periféricos como o Brasil, estas transformações acima mencionadas poderão ser ainda mais
avivadas diante desse novo cenário pandêmico de múltiplas incertezas onde
A pandemia trouxe múltiplos desafios para o TBC no Brasil, talvez, uma quantidade
considerável de iniciativas, sobretudo aquelas que não conseguiram consolidar os processos
de autogestão social e planejamento estratégico, tenham dificuldades de retomar suas
atividades no processo de reabertura da atividade turística. Desse modo, num contexto de uma
sociedade atravessada por múltiplas crises – política, econômica, social e sanitária –, faz-se
necessário do ponto de vista acadêmico e social avançar no conhecimento dessas experiências
e das comunidades que as protagonizam.
Para avançar nessa reflexão, faz-se necessário apresentar uma noção conceitual de
modernidade. Entende-se o paradigma moderno como uma visão de mundo construída pela
Europa a partir do renascimento no qual os europeus se autoproclamaram como detentores de
uma cultura superior em relação a outros povos. Ou seja, trata-se de uma autonarrativa
europeia
A utilização dessa racionalidade, como o único meio confiável para interpretar a vida,
a natureza e as relações, levou o “ser moderno” a se colocar como o centro do mundo. Esse
antropocentrismo, radicalizado a partir do ideário renascentista e iluminista, evidencia um
projeto de modernidade no qual o progresso seria indubitavelmente alcançado por meio da
ciência e do estado liberal nascente, ambos orientados pelos valores racionais da objetividade,
produtividade, técnica e eficácia. Assim, toda cosmovisão de mundo ou conhecimento que
estivesse fora desse horizonte de sentidos, seria interpretado como algo de menor ou nenhum
valor.
3
Com uma crítica à hegemonia da cultura europeia, o pensamento decolonial pode ser compreendido como uma
construção epistemológica e teórica, basicamente defendida por intelectuais latino americanos (Aníbal Quijano,
Edgardo Lander, Ramón Grosfoguel, Agustín Lao-Montes; Enrique Dussel, Santiago Castro-Gómez, María
Lugones, Nelson Maldonado-Torres; Walter Mignolo; Catherine Walsh; Arturo Escobar,Fernando Coronil,
Eduardo Restrepo) que objetiva romper com uma produção do conhecimento alicerçado no eurocentrismo,
defendendo, desta forma, uma pluralidade de conhecimentos, práticas e saberes que foram e são silenciados ou
ocultados.
Pode-se, assim, considerar que a transmodernidade é uma afirmação cultural que nasce
do diálogo fecundo, crítico e ético entre as múltiplas culturas marginalizadas pela tradição
moderna europeia-norte americana, mas que, ao mesmo tempo, considere os avanços
positivos da modernidade. Ou seja, “Essa Transmodernidade deveria assumir o melhor da
revolução tecnológica moderna – descartando o antiecológico – para colocá-la a serviço de
6
Utiliza-se nesse documento a expressão núcleo ético-mítico no sentido que Dussel (2016) atribui ao termo no
seu livro: “Paulo de Tarso na filosofia política atual e outros ensaios” quando resgata as ideias de Paul Ricoeur:
“as culturas, no dizer de Paul Ricoeur, têm, por sua vez, um núcleo ético-mítico, ou seja, uma visão de mundo
que interpreta os momentos significativos da existência humana e que os guia eticamente”. (DUSSEL, 2016,
p.176).
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diálogo intercultural, que deverá ter claramente em conta as assimetrias
existentes” (DUSSEL, 2016b, p. 60)
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
RESUMO
O artigo tem por objetivo construir conhecimento sobre como o processo de organização do Ecomuseu
da História e Cultura Altense contribui para a implementação do Turismo de Base Comunitária no
Povoado Alto. Trata-se de um estudo qualitativo resultante da pesquisa de mestrado em Educação e
Contemporaneidade de uma das autoras, intitulada de Educação para o Turismo de Base Comunitária:
construindo caminhos para o desenvolvimento local do Povoado Alto, Tucano, Bahia. Para um melhor
entendimento sobre o tema, buscou-se apresentar algumas definições acerca do Ecomuseu, bem como
1
Doutoranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade – PPGEDUC
da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Mestra em Educação pela Universidade do Estado da Bahia –
UNEB. Licenciada em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Membro dos Grupos de
pesquisa Sociedade Solidária, Espaço, Educação e Turismo – SSEETU e Sociedade em Rede.
2
Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia - UFBA, Professora Plena da Universidade do
Estado da Bahia - UNEB, filiada ao Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade -
PPGEDUC, Mestrado Profissional em Educação de Jovens e Adultos – MPEJA e ao Doutorado
Multiinstitucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento – DMMDC. Líder do grupo Multidisciplinar
de Estudo e Pesquisa Sociedade Solidária, Espaço, Educação e Turismo – SSEETU.
3
Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia – UFBA, Professor Titular da Universidade do Estado
da Bahia – UNEB, filiado ao Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade – PPGEDUC,
Mestrado Profissional em Educação de Jovens e Adultos – MPEJA e ao Doutorado Multiinstitucional e
Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento – DMMDC. Líder do grupo de pesquisa Sociedade em Rede.
4
Doutoranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade – PPGEDUC
da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Mestra em Educação pela Universidade do Estado da Bahia –
UNEB. Licenciada em Pedagogia pela Faculdade Adventista de Educação do Nordeste – FAENE. Membro dos
Grupos de pesquisa Sociedade Solidária, Espaço, Educação e Turismo – SSEETU e Sociedade em Rede.
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o processo de organização do mesmo no Povoado Alto. Fez-se uma breve exposição dos conceitos e
pressupostos do Turismo de Base Comunitária por meio das contribuições de autores como Silva et al.
(2012), Irving (2009), Maldonado (2009) e Martins (2020). Por fim, compreendeu-se que o processo
de criação e organização do Ecomuseu da História e Cultura Altense, reforça a potencialidade da
mobilização da referida comunidade para a implementação do Turismo de Base Comunitária no
Povoado Alto.
1 INTRODUÇÃO
Em 2014, durante uma conversa sobre a história e cultura local, a pergunta de uma
jovem altense “E o Alto tem história?”causou espanto e serviu como fonte de inspiração para
a criação do blog Alto, o Meu Lugar no Sertão, para contar e difundir a história e cultura do
povoado a partir dos relatos dos próprios habitantes (CARMO, 2016). Visto que, a pergunta
da jovem revelou que o Alto era considerado, por grande parte de seus habitantes, como um
lugar sem história. Por isso, faz-se necessário compreendermos os principais aspectos que
demarcam a história e cultura altense.
O Alto é um povoado com 269 habitantes, situado às margens do rio Itapicuru Mirim,
na zona rural do município de Tucano, conforme a imagem 01, localizado a 280 quilômetros
de Salvador, no território do Sisal, Sertão da Bahia.Com aproximadamente 221 anos de
existência, a história do surgimento da comunidade está diretamente relacionada com o
desbravamento do sertão nordestino, o domínio e avanço da Fazenda Casa da Torre, fundada
por Garcia D’ávila, no século XVI (ROCHA, 1987).
Imagem 01 - Foto via satélite do Povoado Alto com nomes das ruas
Fonte: Google Earth (2018), adaptado pelos autores e João Santana (2019).
Nesse sentido,o TBC caracteriza-se por ser um modelo em que a comunidade local é a
autogestora das ações. Logo, pode ser entendido como um modelo alternativo ao turismo
convencional, com um potencial muito além dos benefícios econômicos que as populações
locais poderão usufruir com o fluxo de visitações.
A forma de organizar o Turismo de Base Comunitária, assim como o Ecomuseu,
pressupõe que as comunidades valorizam sua identidade cultural, a manutenção de suas
tradições culturais e religiosas, a conservação do meio ambiente e o seu empoderamento,
através da criação de redes de solidariedade e colaboração, favorecendo a troca de saberes e
experiências com os visitantes, que são acolhidos conforme as tradições, modo de vida e
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cultura local. Dito de outro modo, o TBC configura-se como uma proposta de
desenvolvimento local, pressupondo a valorização da cultura e identidades, respeitando as
especificidades e os aspectos sociais, políticos e humanos de cada comunidade(IRVING,
2009).
De acordo com Maldonado (2009), as primeiras práticas de TBC surgirampor volta de
1980 em comunidades rurais e isoladas da América Latina, utilizando a cultura local como
forma de resistência aos modelos e padrões do mercado turístico convencional. E, é
exatamente nesta perspectiva que se deu início ao processo de implementação do Turismo de
Base Comunitária no Povoado Alto visando, dentre outras coisas, contribuir com o resgate e
valorização da história e da cultura local.
Dito isto, acreditamos que a criação do Ecomuseu da História e Cultura Altense
contribui positivamente com o processo de implementação do Turismo de Base Comunitária
na localidade, na medida em que reúne um acervo que permite aos habitantes e visitantes
manter viva a história do lugar. Sem contar que, durante as visitações, membros da
comunidade e visitantes trocam saberes e experiências ao compartilharem suas histórias e
memórias através do contato com o acervo. Por fim, acreditamos que o Ecomuseu e o
Turismo de Base Comunitária potencializam o desenvolvimento local e, consequentemente, a
valorização de todos os fluxos que permeiam a comunidade.
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
GOOGLE EARTH. Imagem de Satélite do Povoado Alto. Tucano, 2018. Disponível em:
https://www.google.com/maps/place/Tucano+-+BA,+48790-000/@-11.0595145,-
38.91993,674m/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0x7123b53108bf63b:0x166d9cd9ef8c1312!8m2
!3d-10.9620159!4d-38.791497. Acesso em: 10 out. de 2021.
MATTOS, Yara. Ecomuseu, Desenvolvimento Social e Turismo. Ouro Preto, p. 6-7, 01 jul.
2006. Disponível
em:http://morrodaqueimada.fiocruz.br/pdf/15_Ecomuseu%20Desenvolvimento%20Social%2
0e% 20Turismo.pdf. Acesso em: 11 nov.2021.
ROCHA, Rubens. História de Tucano. Feira de Santana: Impressão Oficinas da Bahia Artes
Gráficas, 1987.
ROCHA, Rubens. A História do Integralismo em Tucano (Partidos políticos, eleições e
outras notícias), Tucano-Ba. Impressão Gráfica Tibiriça: Gráfica e Editora, 2007.
ROCHA, Rubens. Tucano de ontem. Tucano: Gráfica Tibiriça, 2016.
SILVA, Francisca de Paula Santos da, et al. Cartilha (in) formativa sobre Turismo de Base
Comunitária “O ABC do TBC”. Salvador: EDUNEB, 2012.
TUCUM. Rede Cearense de Turismo Comunitário. Presentationheldatthe II
InternationalSeminaronSustainableTourism. Fortaleza, 2008. Disponível em:
https://viajarverde.com.br/rede-tucum-colaboracao-e-resistencia/ Acesso em: 10 ago. 2020.
1
Pedagoga pela UNEB, Especialista em Libras e Educação Especial Inclusiva pela UNIASSELVI. Mestranda pelo
GESTEC/UNEB. Integrante do grupo de pesquisa TIPEMSE/GP-AMEI.
2
Pedagoga, mestre e doutora em Educação e Contemporaneidade pela UNEB, Profa Assistente na
UNEB/DCHTXVI, Líder dos Grupos de Pesquisa TIPEMSE e GP-AMEI. Membro das Redes de Pesquisa- Ação
(REPAP-BR) e Múltiplas Sementes.
3
Estudante do Ensino médio do SESI, membro do Grupo de Pesquisa GP-AMEI
4
Estudante do Ensino médio do SESI, membro do Grupo de Pesquisa GP-AMEI
5
Estudante de Pedagogia da FBB, membro do GP-AMEI/UNEB
6
5 Pedagoga pela UNEB, Psicopedagoga e estudante da Pós-Graduação em Educação Digital UNEB e membro
do grupo de pesquisa TIPEMSE/GP-AMEI
7
5 Pedagoga pela UNEB, Psicopedagoga e estudante da Pós-Graduação em Educação Digital UNEB e membro
do grupo de pesquisa TIPEMSE/GP-AMEI
8
Engenheira, integrante dos grupos de pesquisa TIPEMSE/GP-AMEI.
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De 6 a 12 de dezembro de 2021. Anais publicados sob número de ISSN 2447-0600.
XI Encontro de Turismo de Base Comunitária e Economia Solidária – XI ETBCES
RESUMO
REFERÊNCIAS
Brasil, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Lei Nº. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe
sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e dá outras
providências.
Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2011.
SILVA, M. O. S. Refletindo a pesquisa participante. 2 ed. rev. ampl. São Paulo: Cortez, 1991.
RESUMO
RESUMO
Apresentação: As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são um conjunto
de abordagens terapêuticas inseridas nas práticas de cuidado não convencionais e que buscam
estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde, utilizando
diversos recursos terapêuticos alternativos. A partir da Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares (PNPIC), e a Portaria GM/MS nº 971 em 2006, as PICS foram
integradas ao Sistema Único de Saúde, com o objetivo de ampliar a visão a respeito da saúde e
a autonomia das pessoas no cuidado, podendo ser consideradas tecnologias sociais. Esses
saberes e práticas integrativas emergem da interação de elementos complexos, sejam eles
sociais, históricos, culturais, científicos (ou não) na comunidade, em particular da relação entre
usuários, trabalhadores da saúde e outros atores sociais que buscam soluções efetivas de
transformação dos processos de saúde-doença-cuidado. Nesse sentido, as PICS, situadas como
tecnologias sociais de saúde são fundamentais à promoção da saúde e do autocuidado nos
territórios, pois demonstram ser eficazes, seguras e de baixo custo econômico. Centrada nas
bases da integralidade em saúde, do atendimento holístico e da construção terapêutica
partilhada de saberes, elas carregam seu potencial na simplicidade de suas ações e na natureza
prática na produção do (auto)cuidado. Objetivo: Identificar a oferta das PICS nas unidades de
saúde do Distrito Sanitário Cabula/Beirú (DSCB). Problematização: O Distrito Sanitário
Cabula/Beirú (DSCB) compreende uma área territorial delimitada, com população adscrita de
421.246 hab. (SALVADOR, 2018) e um sistema municipal com 23 unidades de saúde da rede
própria para a oferta de serviços. Qual é a oferta de PICS nas unidades de saúde do DSCB?
Materiais e Métodos: Trata-se de um estudo observacional, transversal, com coleta de dados
realizada por meio de questionário estruturado em formulário eletrônico, contendo variáveis
gerais do uso das PICS no DSCB e dos trabalhadores envolvidos com as práticas. O critério de
inclusão do estudo foi ser gestor das unidades de saúde no DSCB. Esse trabalho foi realizado
em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de Salvador. Resultados: No DSCB foi
identificado 4 (17,39 %) unidades básicas de saúde que ofertam das PICS no serviço. Dessas,
03 são Unidades Básicas de Saúde e 01 unidade especializada, o Centro de Atenção
Psicossocial. As PICS ofertadas são: Cromoterapia, Aromaterapia, Meditação, Heiki,
Auriculoterapia; Práticas corporais; Teatro; Músicoterapia; Constelações Familiares, Terapia
Comunitária, Aromaterapia. Estas práticas são realizadas por Assistente Social, Psicológa,
Fisioterapeuta, Terapêuta Ocupacional, Médico e Enfermeira. Conclusões: As PICS na rede de
Atenção Primária à Saúde podem ser configuradas como tecnologias sociais e o Distrito
Sanitário Cabula/Beirú é um terrritório que oferta as PICS à população. Considera-se que a
1
Informações complementares: titulação e instituição, grupo de trabalho, etc.
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implementação de mais PICS nos serviços poderá se desenvolver a partir da adoção de medidas
como: a elaboração de políticas públicas de saúde; capacitação dos trabalhadores; inclusão no
programa institucional; inserção das PICS na formação dos curso de saúde e a difusão do
conhecimento das práticas na sociedade. Tais ações engendradas com a comunidade possuem
o poder de potencializar as mudanças necessárias e atender as demandas que emergem da
comunidade.
RESUMO
propõe a criação de um museu audiovisual, tendo como suporte um site onde ficarão
organizados os vídeos de diversas brincadeiras, construindo assim uma memória digital do ato
de brincar, explorando o potencial de registro, divulgação e preservação de memória das
tecnologias digitais para visibilização desse patrimônio cultural. Portanto, utilizaremos,
justamente, os dispositivos tecnológicos digitais, que estão sendo usados para substituir o
tradicional brincar, para favorecer o seu resgate. Esta elaboração faz parte da proposta de
pesquisa-ação desenvolvida juntamente com os grupos de pesquisa da UNEB: TIPEMSE,
GP/AMEI e UMANITA, tendo como participantes do processo de pesquisa, adolescentes e
crianças de 2 a 12 anos que, brincando de entrevistadoras percorreram a sua comunidade, sendo
esta o locus da pesquisa, participando do levantamento das brincadeiras a serem registradas,
tendo como resultado deste levantamento 108 propostas de registros de brincadeiras conhecidas
naquele local. Também, brincando, as crianças se organizam para gravar as brincadeiras
escolhidas, utilizando celular, criando vídeos de um a dois minutos, a serem guardados no canal
do YouTube, e, posteriormente organizados no Site do Museu, onde serão apresentadas as
brincadeiras, sua história, origem, narrativa dos procedimentos e materiais para sua realização.
Esta pesquisa encontra-se em desenvolvimento, tendo como resultados iniciais o envolvimento
implicado das crianças em busca da oportunidade do brincar, a exploração de um espaço de voz
e protagonismo infantil que apresenta suas ideias e organizam de forma autônoma a proposta
do dia para o brincar. E, a partir deste trabalho, tem sido construído relacionamentos com
membros da comunidade com vistas a um processo de participação para contribuir na
organização do espaço de brincar, designado como: A Casa das Crianças, indo além do museu
audiovisual.
Não precisa ser especialista no tema para afirmar que o ciclismo é um grande fenômeno
da contemporaneidade, basta transitar pelas ruas da primeira capital do Brasil, Salvador, ou na
primeira cidade da Costa dos Coqueiros, Lauro de Freitas, sobretudo nos primeiros horários dos
dias, para observar a quantidade de grupos de ciclismo dando vida, cor e movimento a paisagem
urbana. Se já era uma febre antes da pandemia, agora virou um fenômeno sem precedentes. Pela
sua própria gênese e dinâmica, o ciclismo é, ao mesmo tempo, esporte, lazer e cultura.
Focado nesta vertente, está sendo gestado em Lauro de Freitas, região metropolitana de
Salvador (Bahia-Brasil), no cenário educativo e esportivo, o projeto “Ciclo Turismo de Base
Comunitária: interfaces entre a tradição e a inovação”, o CTBC.
O projeto é derivado da minha tese de doutorado, cujo título é “En(cantos) e
(re)existências Quilombolas: diálogos decoloniais e transmodernos entre educação quilombola
e turismo de base comunitária”, construída no contexto do Programa de Pós-graduação em
Educação e Contemporaneidade, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e financiada
pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). A partir dos meus estudos
no campo do turismo de base comunitária e da minha expertise como ciclista, busquei fazer
uma modelagem conceitual no qual floresceu o conceito de Ciclo Turismo de Base Comunitária
(CTBC).
Cabe colocar em relevo que entendo o TBC como uma prática social complexa que
favorece a coesão do tecido comunitário, bem como a valorização da cultural local e uma maior
preservação da natureza, ocasionando, desta forma, uma melhoria na qualidade de vida da
comunidade receptora (IRVING, 2019). Já o Cicloturismo é uma modalidade de uso da bicicleta
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que une o lazer e a mobilidade. Seja em uma viagem curta de um dia ou em uma aventura de
longa duração, a bicicleta é uma companheira de viagem que permite uma interação ímpar entre
o viajante, a paisagem e a cultura do lugar (ASSOCIAÇÃO DE CICLOTURISMO, 2020).
Sendo assim, o CTBC é um turismo fomentado pelo ciclismo cujo objetivo é promover uma
sustentabilidade ancorada na tríade comunitária, a saber: autogestão social, valorização do
patrimônio civilizatório local e preservação dos recursos naturais.
Rota da Emancipação
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Referências
1
Estudante do 1° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
2
Doutoranda em Educação e Contemporaneidade e coordenadora do Grupo Filhos do Sertão.
3
Ensino médio completo e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
4
Estudante do 3° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
5
Estudante do 1° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
6
Estudante do 1° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
7
Estudante do 1° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
8
Estudante do 3 ° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
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Jesus, ambos falecidos, protagonistas do início dos trabalhos sobre a história do Povoado Alto,
até então visto por muitos como um lugar sem história. A referida comunidade possui cerca de
260 habitantes e está localizada na zona rural de Tucano, há aproximadamente 269 quilômetros
de Salvador-BA.
Ao discutirmos sobre as dificuldades e possibilidades do lugar onde vivemos,
concluímos que promover o incentivo à leitura seria um primeiro e importante passo. Para além
de espaço de leitura, a biblioteca se configurou como um espaço cultural, de encontros, sonhos,
resistência e esperança. E, assim começamos a sonhar com nossa biblioteca, sem recursos
financeiros, mas com um sonho e a certeza de que daria certo.
A proposta de criação da biblioteca foi bem aceita na comunidade e em janeiro de 2019,
lançamos a companha para arrecadação de livros em grupos do WhatsApp, Facebook e sites da
região. O primeiro livro recebido tratava sobre a guerra de Canudos, nossa referência de
resistência, fé, luta por igualdade e união, o que nos motivou a permanecermos esperançosos
de que iríamos conseguir. Aos poucos, muitos outros livros foram chegando de diversos
povoados, cidades e estados. A escolha do local para sediar a biblioteca se deu em conjunto,
optamos pela casa de José Francisco e Guilhermina, como forma de honrar a memória deles e
de algum modo dar continuidade ao legado de fé, esperança e amor ao próximo. Na mesma
residência, além dos espaços de leitura, funciona também o Ecomuseu da História e Cultura
Altense.
A biblioteca foi inaugurada no dia 08 de dezembro de 2019 e desde então recebe
crianças, adolescentes, jovens, a adultos e idosos da comunidade e de localidades vizinhas O
funcionamento aberto ao público foi interrompido em março de 2020 por conta da pandemia
do coronavírus, mas com todos os cuidados e uso de equipamentos de proteção individual, o
grupo continuou cuidando do espaço da biblioteca. Em setembro de 2021 com o avanço da
vacinação e queda no número de infectados, demos início a reabertura gradual com a realização
de um concurso literário que foi encerrado com uma gincana para comemorar o dia das crianças.
A seguir, gostaríamos de apresentar algumas fotos e o cordel, que para nós representa bem
nosso sentimento de gratidão pela nossa Biblioteca.
Lá no interior do sertão
Um lugar chamando Alto
Que trouxe inovação
Na formação de uma biblioteca
Pra esse povoado
Querido e amado
Por orgulho
Digo logo que:
"A literatura resolveu prevalecer".
Com a junção de ideias
Uma biblioteca nasceu
Levando histórias a crianças
E até pra quem nunca nem leu
A partir de um grupo
Que se mobilizou
Com assistência e apoio de altenses
A biblioteca se instalou
Com doações e ajuda regionais
Havia livros pra não acabar mais!
A escolha do nome
Foi de igual por igual
Não é nosso, é de todos
"Biblioteca Comunitária do Povoado Alto"
Ganhou espaço nos sites de notícias regionais
A inauguração:
08 de dezembro de 2019
Ah!! Que importância há
Em propagar
A literatura em um lugar
Onde pouco se tinha acesso a
Livros para ler e estudar.
Por fim, salientamos que para nós, jovens altenses, a Biblioteca Comunitária do Povoado Alto
é sinônimo de esperança, força do coletivo e resistência. Dito de outro modo, é a prova de que
a comunidade trabalhando junto em prol do bem estar coletivo é capaz de promover mudanças
efetivas e positivas no modo de viver local.
1
Estudante do 3 ° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
2
Doutoranda em Educação e Contemporaneidade e coordenadora do Grupo Filhos do Sertão.
3
Ensino médio completo e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
4
Estudante do 2° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
5
Estudante do 2° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
6
Estudante do 1° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
7
Estudante do 1° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
8
Estudante do 3° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
9
Estudante do 1° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
10
Estudante do 1° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
XI ETBCES – Inovação e Solidariedade em Territórios de Resistência: iniciativas em tempos adversos –
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A ideia de nomear as ruas do Povoado Alto surgiu durante uma reunião do grupo Filhos
do Sertão, na qual discutíamos aspectos da história do Povoado e ao questionarmos como cada
rua se formou, pensamos que seria interessante investigar isto e propor a nomeação de cada
uma delas. Logo, cada membro do grupo ficou responsável por investigar, em diálogo com
moradores mais velhos, a origem da rua onde morava e algum aspecto marcante como: primeiro
morador, proximidade a algo interessante, planta ou algum acontecimento marcante.
Aproximadamente um mês depois, nos reunimos novamente para apresentarmos o
levantamento dos possíveis nomes para cada rua. Diante de uma infinidade de possibilidades
para nomear as ruas, percebemos o quanto nosso lugar e as pessoas que ajudaram a construí-lo
eram ricos em histórias, memórias, lendas e mitos. Deste modo, para escolher o nome para cada
rua, realizamos uma enquete, a fim de ouvir todos os moradores do Povoado a respeito dos
nomes propostos, o que resultou na aprovação de alguns nomes, trocas e novas sugestões. Feito
isto, finalmente chegamos aos nomes apresentados no mapa abaixo e descritos individualmente.
Rua Flamboiã
A escolha do nome Flamboyant, uma planta popularmente conhecida como Flamboiã, se deu
pelo fato de que existia uma antiga árvore na referida rua. A ideia é demonstrar que para além
da importância da preservação da memória daqueles que viveram antes de nós, a preservação
da natureza é muito importante, e devemos incentivar o plantio e não a derrubada de árvores.
Rua do Campo
O nome rua do Campo é uma referência já utilizada por alguns moradores, por ser um dos
caminhos utilizados para chegar ao campo de futebol que fica na mesma direção em que a rua
está situada. A escolha do nome é também uma forma de relembrar que o antigo espaço do
campo era situado próximo a essa rua. Além disto, próximo ao campo de futebol moram
algumas famílias que o utilizam como ponto de referência para a o endereço.
Antigamente este local tinha vários pés de pereira, mas atualmente tem apenas
dois, que resistem ao tempo e às ações humanas, por isto a escolha do nome
é para chamar atenção da necessidade de preservação destas lindas árvores.
Diante disso, concluímos que a nomeação das ruas e praças foi algo positivo para toda
a comunidade, pois a falta de um nome pode gerar dificuldades em explicar corretamente onde
mora. Para além disto, com a nomeação das ruas do Povoado Alto, passamos a conhecer melhor
a história dessas pessoas que deixaram seu legado na construção da comunidade. Assim sendo,
essa foi uma forma de homenagear esses altenses, bem como, manter viva a memória e história
desses moradores para as futuras gerações. Por fim, salientamos que todo processo de escolha
dos nomes foi democrático e cada habitante votou e opinou acerca da escolha do nome. Sem
contar que as investigações e diálogos para escolha dos nomes revelaram o quanto cada rua ou
lugar, independente do tamanho, guardam grandes histórias, que precisam ser vistas e
compartilhadas.
Esse texto tem por objetivo explicitar a experiência ocorrida na Escola Estadual Visconde de
Itaparica (EEVI) na ocasião da abertura à comunidade do Cabula e entorno ao seu acesso,
enquanto espaço educativo plural, ao receber o evento Encontro de Turismo de Base
Comunitária e Economia Solidária (ETBCES), que ocorreu entre 8 e 12 de novembro de 2017,
cujo tema central foi “Comunidades de Prática, Inovação e Tecnologias Sociais”. Verificou-se
que o referido encontro articulou as instâncias - universidade, escola e comunidade local - em
prol do bem comum, a saber, enriquecimento e troca de experiências, exposições de ações
sociais e culturais que envolveram manifestações artísticas, saúde, segurança, educação e
empreendedorismo. Evidenciou-se que a extensão entre a universidade, enquanto função
prerrogativa, a abertura da escola para a comunidade externa e interação com a comunidade
interna promoveu o êxito previsto por parte dos envolvidos na ação comum.
Eventos como este são facilitadores na integração entre as comunidades escolar e local,
por meio de atividades artísticas como dança, teatro, feira de artesanato, oficinas, entre outras.
As expressões artísticas, enquanto elementos de manifestações culturais exercem influência na
aproximação entre os sujeitos e nas interações culturais. Para os adolescentes significam pontes
de relação com o mundo e com os tempos, além de fatores significativos na construção da
identidade de gerações.
Considerações finais
Gratidão é a palavra chave que a Escola Estadual Visconde de Itaparica utiliza para se
referir ao evento de ilustre valor e compromisso representados nos cuidados de servir a
Referências
CASTELLS, M. O poder da identidade. Trad. Klauss Brandini Gerhardt. São Paulo: Paz e
Terra, 2008.
CASTRO, Yeda Pessoa. A língua mina-jeje no Brasil: um falar africano em Ouro Preto do
século XVIII. Belo HORIZONTE: Fundação João Pinheiro/ Secretaria da Cultura do Estado
de Minas Gerais. 2002, 240 p.
Vivemos numa comunidade rural chamada Alto com cerca de 260 habitantes, localizada
no município de Tucano, há aproximadamente 269 quilômetros de Salvador - BA. E, assim
como todas as partes do mundo, sentimos os efeitos devastadores da pandemia do coronavírus
que causa a COVID-19. Inicialmente, muitos acreditavam que o vírus não nos atingiria e,
infelizmente, este pensamento acabou desencadeando muitas negligências e negacionismos, por
parte dos habitantes locais.
Diante disso, nós do grupo Filhos do Sertão, formado em 2018 e composto por 23 jovens
e adolescentes altenses que lutam por melhorias para a sua comunidade, apesar do medo,
1
Estudante do 1° ano do ensino médio, altense e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
2
Estudante do 1° ano do ensino médio, altense e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
3
Doutoranda em Educação e Contemporaneidade e coordenadora do Grupo Filhos do Sertão.
4
Estudante do 1° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
5
Estudante do 9° ano do ensino fundamental e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
6
Estudante do 1° ano do ensino médio e integrante do Grupo Filhos do Sertão.
XI ETBCES – Inovação e Solidariedade em Territórios de Resistência: iniciativas em tempos adversos –
De 6 a 12 de dezembro de 2021. Anais publicados sob número de ISSN 2447-0600.
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ansiedade e apreensão, decidimos agir em prol da conscientização dos habitantes do povoado.
A primeira ação do grupo foi a distribuição de máscaras de proteção, doadas por uma costureira
sensibilizada pelo avanço da pandemia, para moradores mais velhos ou com algum tipo de
comorbidade, principalmente para aqueles que precisavam se deslocar com frequência para a
sede do município, onde havia maior fluxo de pessoas. Mas, isto não foi suficiente diante das
fake news veiculadas diariamente na televisão e redes sociais.
Certos de que precisavamos reagir, tivemos a ideia de fazer gravações de vídeos alertando
as pessoas da comunidade sobre os riscos da doença e a maneira correta de preveni-la. O
objetivo era estebelecermos uma comunicação direta através dos vídeos com uma linguagem
de fácil compreensão e com dados reais da doença do País, Estado, Município até o nosso
Povoado. O vídeo iniciava com a declamação de uma poesia sobre conscientização, seguido da
apresentação dos dados sobre a doença, formas de identificação dos sintomas, medidas de
prevenção como: uso correto das máscaras, higiene pessoal e dos alimentos, importância do
isolamento social, da solidariedade e do cuidado consigo e com o próximo.
Como estavámos numa fase de muitas restrições, cada membro do grupo gravou um
trecho do vídeo em sua casa e depois reunimos as gravações, a fim de que todos participassem
de forma segura. No dia que lançamos o vídeo, fomos surpreendidos com a confirmação dos
primeiros dois casos da doença em nossa comunidade. Mas, o vídeo repercutiu muito bem e foi
bem explicativo, tanto que o áudio foi veiculado na Rádio Tucano FM, num programa de
alcançe em outros municípios.
Mas, infelizmente em maio de 2021, a comunidade abalou-se profundamente, perdemos
nossa querida Josete Oliveira para esse vírus terrível. Peré, como era conhecida, mulher forte e
destemida, sorridente e alegre, sempre apoiou nossas ações e nos servia como referência de
amor pela comunidade, de busca por melhorias e luta pela valorização da história e cultura
local. Ainda hoje é dificil acreditarmos que ela se foi, mas, temos certeza de que a melhor
homenagem à sua memória é seguirmos em frente. E cá estamos, nos fortalecendo uns com os
outros, afinal, somos uma comunidade e, precisamos seguir sempre unidos. O poema
apresentado abaixo, descreve bem nosso sentimento de esperança em dias melhores para todos
as pessoas em todos os lugares.
E eu sei
A ansiedade constante para isso acabar
O medo grande de que um de nós se vá
E o pesar, da ausência de muitos
Que hoje então em um bom lugar.
Por fim, salientamos que nós, membros do Grupo Filhos do Sertão, seguimos atuantes
e esperançosos, transformando a dor do luto em ações de combate a expansão da COVID-19
em nossa comunidade. Agindo, principalmente, no incentivo as medidadas de proteção
individual e vacinação, confiantes de que nossa comunidade em breve poderá promover ações
de calorosos abraços.