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RESUMO
O ritmo da competição global e das mudanças tecnológicas serve de estímulo para que
as empresas busquem estratégias para ampliar suas vantagens competitivas. Este novo
panorama trouxe novos desafios para as empresas. Além das vantagens trazidas pela internet,
para uma empresa manter sua competitividade no mercado ela necessita de um alinhamento
de sua cultura, do seu modelo de negócio e de recursos adequados para gerar capacitações
inovadoras. As capacitações na integração de recursos para execução de tarefas são essenciais
para a criação de vantagens competitivas, pois partem da transmissão e troca de
conhecimentos e informações, aperfeiçoando as tarefas e a expertise funcional. O desafio das
empresas é construir um ambiente onde as pessoas possam utilizar seus conhecimentos e
transferi-los para suas unidades de negócios, gerando o aprendizado organizacional e
desenvolvendo as competências essenciais (HITT et al, 2008).
Nos estudos sobre a competitividade organizacional, a teoria da visão baseada em
recursos (Resource-Based View - RBV) tem sido usada para explicar como algumas empresas
superam seus concorrentes, através do uso de seus recursos organizacionais. Segundo Grant
(1996a), uma das correntes derivadas da RBV, que trata do conhecimento como recurso-
chave da organização e o vê como o responsável por melhorar a performance organizacional,
é a visão baseada no conhecimento (Knowledge-Based View - KBV). Para Hoskisson et al
(1999, p. 441), “as organizações são entidades heterogêneas carregadas de conhecimento”.
O estudo do conhecimento tem ganhado força desde meados dos anos 90, na medida em que a
sociedade baseada em serviços agregou a sociedade da informação (GRANT, 1996;
CASTELLS, 2005) e fatores como produção, aquisição, movimentação, retenção e
disseminação do conhecimento tornaram-se importantes (SPENDER, 1996).
Como o conhecimento é um assunto amplo, Hult et al (2007, p. 1039) propõe a
restrição do escopo, direcionando os estudos para dois construtos: desenvolvimento do
conhecimento e cultura da competitividade, pois estes construtos, de forma isolada, não são
suficientes para maximizar o desempenho organizacional, havendo a necessidade de uma
associação entre eles, complementando e reforçando o efeito multiplicador. Com base nesta
visão (KBV), este estudo busca explicar a interação entre o desenvolvimento do
conhecimento e da cultura de competitividade, e seus efeitos sobre a vantagem competitiva
organizacional em diferentes setores de atividades empresariais.
Estudos sobre a KBV descrevem a vantagem competitiva de um ponto de vista
comportamental (Kogut e Zander, 1996), com relações entre a ampliação do conhecimento
tácito com o explícito por meio da socialização (Nonaka, 1994) e a transferência e uso do
conhecimento (Hult, et al, 2007). Este trabalho busca contribuir com análise empírica para as
teorias sobre gestão do conhecimento, expandindo o trabalho de Macau (2010), com os
resultados sobre as práticas da gestão do conhecimento no resultado organizacional. Com
base nessas informações o problema de pesquisa pode ser expresso pela seguinte pergunta: A
associação do Desenvolvimento do Conhecimento (DC) e da Cultura de Competitividade
(CC) traz desempenho superior para as empresas?
Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar os efeitos da aplicação de práticas de
Desenvolvimento do Conhecimento e Cultura de Competitividade nos resultados sobre o
desempenho de 78 empresas. Para isso será utilizada a metodologia quantitativa a partir de
uma base de dados secundária, levantada em 2010, e dos resultados do crescimento sobre as
vendas líquidas dos anos de 2011 a 2014.
BASE TEÓRICA
Segundo Grant (1996), a RBV percebe a empresa como um conjunto único de recursos
e capacidades existentes, tendo como principal tarefa, a maximização de valor através do
emprego ideal dos mesmos. Uma decorrência da RBV é a KBV (Knowledge-Based View) que
busca explicar porque algumas empresas são capazes de obter posições de vantagem
competitiva de forma sustentável, utilizando como recurso o conhecimento. A KBV conceitua
as empresas como entidades heterogêneas de suporte de conhecimento (HOSKISSON et al
(1999, p. 441), apresentando o conhecimento como responsável por melhorar a performance
organizacional.
Os estudos sobre conhecimento organizacional ganharam força internacionalmente a
partir da década de 1990, por causa da evolução como prática gerencial e conceito acadêmico
(EARL, 2001). O sucesso de uma empresa está na capacidade de ser eficaz no processo de
transformação do conhecimento existente no plano das ideias para o conhecimento aplicado
no plano das ações (KOGUT e ZANDER, 1993). Segundo Davenport e Prusak (1998), uma
das forças motivadoras para o interesse foi a “percepção e realidade de um novo mundo
competitivo globalizado”, com rápidas mudanças mercadológicas e a elevação do nível de
exigência dos clientes e esta é uma das razões pelas quais o conhecimento é valioso, sendo
esta ação mais importante do que dados e informações.
Para Nonaka e Takeuchi (1997, p. 65), “o conhecimento só é criado por indivíduos”, e
“uma organização não pode criar conhecimento sem indivíduos”. O conhecimento é
desenvolvido através da interação entre as pessoas e o ambiente e está relacionado às crenças,
atitudes e ações em níveis individuais e coletivos. Durante a interação entre as pessoas num
determinado ambiente, há a troca de experiências individuais, que se funde em novos
conhecimentos. Através desta interação, o conhecimento novo se forma partindo de
conhecimentos implícitos e silenciosos, chamados de tácitos e conhecimentos declarativos,
chamados de explícitos (POLANY,1966; NONAKA e TAKEUCHI,1997).
O conhecimento explícito é objetivo, racional, teórico, declarativo e transmissível em
linguagem formal e sistemática (NONAKA e TAKEUCHI, 1997), podendo ser codificado,
comunicado e armazenado (NAHAPIET e GHOSHAL, 1998). O conhecimento tácito,
expressa um conhecimento inconsciente, que não pode ser dito ou escrito e é adquirido pela
experiência pessoal do indivíduo, sendo de difícil articulação, identificação e mensuração,
tendo utilidade prática, sem instrução direta, sendo cognitivo (relacionados aos modelos
mentais, como crenças, percepções e emoções), ou técnico (know-how) decorrente das
experiências (POLANY, 1966). Segundo Nonaka e Takeuchi (1997), a valorização do
conhecimento tácito impulsiona a competitividade das empresas, sendo que os conhecimentos
tácitos e explícitos são indissociáveis, ou seja, para que haja criação e transferência do mesmo
é necessário haver interação entre as duas formas de conhecimento, o indivíduo e o ambiente.
Para transformar o conhecimento tácito (pessoal e informal) em conhecimento
explícito (formal e sistemático) são utilizadas metodologias, tecnologias e a estrutura
organizacional para captar, atualizar, transferir, armazenar e disponibilizar o conhecimento
para uso (AVELAR, VIEIRA e SANTOS, 2011). Dessa maneira, o conhecimento
organizacional implica em criar condições para que as pessoas criem e ampliem seu
conhecimento ao conectá-lo com os sistemas em uso pela organização. O conhecimento não
se move de forma definida e estruturada, ele necessita das pessoas e suas experiências. Esta
interação das pessoas e experiências dentro da empresa pode ser entendida como
conhecimento organizacional e envolve experiência física, tentativa e erro, ideais e ideias. A
empresa procura fazer a gestão deste conhecimento organizacional gerenciando e
organizando, para melhorar e tornar mais eficiente o processo de interação, criação e
disseminação do conhecimento, incorporando a produtos, serviços e sistemas, com papel
fundamental nos processos de inovação organizacional. Segundo essa visão, uma organização
não apenas processa informação do ambiente externo para se adaptar a novas circunstâncias,
ela cria novos conhecimentos de dentro para fora, redefinindo os problemas e as soluções,
recriando seu meio (NONAKA e TAKEUCHI, 1997)
A conceituação de gestão do conhecimento, em termos de processos, é entendida
como “atividades de planejamento, implementação e monitoramento de todas as atividades
relacionadas ao conhecimento” (TEIXEIRA e OLIVEIRA, 2012, p.114). Segundo Kamara et
al (2002), a gestão do conhecimento refere-se ao conjunto de estratégias que transformam o
conhecimento explícito e tácito em ações, por processos que permitam às pessoas contribuir
ao conhecimento coletivo da firma. Desta forma, as pessoas se desenvolvem transformando o
conhecimento coletivo e aperfeiçoando as operações organizacionais (MOURA, 2001). Para
Shin et al. (2001, p.338), “a tarefa da gestão do conhecimento é a de identificar e facilitar a
utilização do valioso conhecimento tácito que é potencialmente útil quando se torna
explícito”, ou seja, a interação entre conhecimento tácito e explícito gera novos
conhecimentos que potencializam a vantagem competitiva (SOUTO, 2013).
A gestão do conhecimento busca identificar e mapear na prática os ativos de
conhecimento da organização. Com isso, ela gera novos conhecimentos e compartilha as
melhores práticas que impulsionam a vantagem competitiva (SERRANO e FIALHO, 2003).
O modelo de Huber (1991) traz especial contribuição para a compreensão de como a
organização aprende e trabalha com o conhecimento, abordando dimensões como a habilidade
de processamento das informações para ampliação das possibilidades organizacionais. A
Tabela 1 traz uma construção feita a partir de trabalhos de autores de destaque nesse tema.
Essas dimensões sugerem a forma como a organização coleta, cria, transforma, armazena e
usa o conhecimento, partindo do pressuposto de que o conhecimento organizacional é fator de
vantagem competitiva, entender estes mecanismos e aplicá-los com sucesso pode representar
a superioridade da empresa frente aos concorrentes. Hult et al (2004) examinou as relações
destas dimensões e as denominou como Desenvolvimento do Conhecimento (DC).
RESULTADOS
Macau (2010) apresentou os resultados listados a seguir que serviram como base
comparativa. O nome das empresas constava voluntariamente no corpo do formulário dos
3000 questionários aplicados foram posteriormente separados e submetidos à análise
estatística. Desta extração, apareceram 96 empresas, e após um filtro sobre processos de
fusões e aquisições e informações completas dos anos de 2011 e 2014, restaram 78 empresas
com 164 questionários que serviram de análise comparativa com modelo de Hult et al. (2007)
que propõe a maximização do desempenho organizacional, mesmo em mercados turbulentos,
através da associação de uma Cultura de Competitividade(CC) e do Desenvolvimento do
Conhecimento (DC). Fez-se então um comparativo do crescimento por setor no ano de 2014,
através do percentual de variação das vendas líquidas de 2013 em relação a 2014, e obteve-se
o resultado do crescimento por setor conforme Tabela 3, ordenada por resultado crescente de
aumento de vendas. Das 78 empresas analisadas 25 obtiveram resultado superior de
crescimento das vendas sobre o crescimento das vendas do setor, portanto o 32%, delas
tiveram crescimento das vendas superior ao setor, 36% obtiveram média 4 e 5 nos construtos
(CC e DC), ou seja, são empresas que nos critérios de seleção para serem consideradas
praticantes de CC e DC e 64% não foram classificadas como empresas praticantes de CC e
DC. Das empresas que obtiveram crescimento das vendas inferior ao crescimento do setor,
23% eram praticantes de CC e DC, e 77% não eram praticantes de CC e DC.
Tabela 3: Crescimento do Setor x DC e CC
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS