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Desde a década de 60, período no qual se constatou alguns dos mais notáveis

eventos que marcaram a trajectória da demografia mundial, as preocupações sobre


população e sustentabilidade do planeta começaram a se intensificar como tema central
de discussão entre especialistas, instituições e até entre governos.

Quanto a esses eventos, refiro-me ao “pico da taxa de crescimento da população


mundial, transição demográfica dos países desenvolvidos e a explosão demográfica dos
países em desenvolvimento, bem como a significativa transição da população das zonas
rurais para centros urbanos”.

A população mundial, em quase quarenta anos dobrou o seu quantitativo de 3


bilhões, em 1959, para 6 bilhões em 1999. A sua taxa de crescimento médio anual
atingiu o seu nível mais elevado nos finais da década de 60. Neste período a taxa de
crescimento esteve numa ordem de 2%, actualmente essa taxa decresceu para 1,1% ao
ano e estima-se que continuará a decrescer para 0,5 até 2050 (MARCIAL, 2015;
UNFPA, 2019; ONU, 2019).

Entrentanto, embora possa ocorrer uma redução da taxa de crescimento da


população, facto que é explicado pelo processo de transição demográfica não só dos
países desenvolvidos como de alguns países emergentes, devido a forte intensão das
políticas populacionais voltado ao controlo da natalidade, ainda assim a população
mundial continuará a crescer contando com uma previsão de aproximadamente 9.7
bilhões até 2050 (ONU, 2019).

Para alguns especialistas, instituições e governos, o crescimento da população


não é visto como um reflexo do progresso humano, mas como uma ameaça à
humanidade e um problema que exigia uma solução urgente.

O planeta terra está passar por uma fase de grande pressão antropogênica. Esse
fenómeno antropogêncico é determinado por uma multiplicidade de factores, das quais a
“pressão demográfica” (resultado da superpopulação mundial), constitui-se como um
dos principais factores agravante.
Entretanto, a primeira reflexão com uma abordagem futurista sobre essas
preocupações, surgiu no meio de pesquisadores conhecido como “Clube de Roma”, que
alertaram sobre o que a pressão demográfica causado pelo rápido crescimento da
população poderia significar para as sociedades e para o próprio meio ambiente.

As preocupações apresentadas pelo Clube de Roma atingiu o seu auge na década


de 70, após a apresentação do seu estudo sobre “Limite do Crescimento”. Esse estudo,
apresentava um modelo de hipóteses, que se baseava na continuação das tendências
históricas, levando em conta a “extrapolação e colapso”, decorrentes do esgotamento
dos recursos, e da crise ambiental futura, que eventualmente poderão ser causados pela
pressão demográfica, caso não haja uma emergência de controlo e/ou orientação
(UNFPA, 2019).

Com a abertura do Clube de Roma quanto a essas preocupações, os interesses da


comunidade internacional a cerca das tendências demográficas sobre o meio ambiente
começaram a tomar novos rumos, tal é que, acabou por culminar com o primeiro
encontro ecodiplomático, isto é, conferência internacional sobre “meio ambiente
humano”. Esta conferência realizou-se 1972 e popularmente ficou conhecido como
conferência de Estocolmo.

A partir desta conferência criou-se um marco de discussão sobre as tendências


demográficas e o meio ambiente ecológico, e serviu de ponto de partida para múltiplas
discussões ambientais, bem como do surgimento dos ecomalthusianistas (defensores da
demografia ambiental).

Na conferência de Estocolmo a expressão pressão “antropogênica” constituía-se


como a base central de todas discussões. Pois, ela é um fenómeno que vem causando
inúmeras transformações no planeta e com grandes possibilidades de causar colapsos no
futuro da humanidade.

Volte meia, o meio ambiente é uma das componentes do planeta que mais é
ameaçado por essa pressão. O facto é que, os recursos que inicialmente eram aplicados
para a previsão das ameaças sobre o meio ambiente não permitiam obter nem ampliar
uma visão clara sobre as consequências das mesmas.

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Nesse contexto, havendo necessidade de se ampliar essas visões em menos
tempo, a Comissão Mundial sobre o meio ambiente e Desenvolvimento das Nações
Unidas, aparece com grande destaque em 1987, ao produzir um relatório intitulado “o
Nosso Futuro Comum”, que ficou conhecido como Relatório de Brundtland1. Esse
relatório trazia uma grande perspectiva para humanidade, apresentando um novo
conceito que substituía o de ecodesenvolvimento, que até então é um dos grandes
propósitos da humanidade.

A partir deste, institui-se o conceito de Desenvolvimento Sustentável que no


entender de muitos especialistas, veio ampliar os propósitos da humanidade e mudou
completamente as perspectivas de se alcançar um futuro de igualdade ecológica
mundial.

O desenvolvimento sustentável mais do que outra forma de ser encarada, as


repercussões da sua não efectivação recai sobre ameaças das gerações futuras.
Entretanto, a compreensão da sua magnitude depende em grande parte do contexto e de
como as demais ciências junto dos seus especialistas procuram explicar as variáveis que
por ela são apuradas.

Nessa senda, buscando suprir as demandas de novas abordagens que atendem e


reavaliam os limites da generalidade da relação população e o meio ambiente, regra
geral dos desafios do desenvolvimento sustentável, pretendemos com esse estudo
analisar cuidadosamente como as componentes demográficas influenciam nos
desequilíbrios ambientais. Ou seja, compreender quais as implicações das tendências
demográficas no meio ambiente e como elas se articulam.

Entretanto, não o bastante, para articulação da nossa pesquisa, tomamos como


objecto de estudo a Província de Luanda, e um período análise de seis anos isto é 2014 a
2020. A escolha desta província como objecto de estudo da nossa pesquisa foi pelo
facto dela apresentar características que atende as preocupações formuladas pelo
problema em estudo.

Hoje por hoje, as preocupações não menos importante das instituições


internacionais e de inúmeros especialistas quanto as situações demográficas, está em
boa parte com o tamanho e o crescimento da população dos países em desenvolvimento.
1
As mudanças ambientais nesses países são um dos maiores desafios no
momento, pelo que, estes são particularmente os mais vulneráveis aos seus impactos.
Grosso modo, por serem ainda altamente dependente dos recursos naturais e por terem
uma capacidade limitada para reagirem ao seus implicações.

Neste contexto, sendo a Província de Luanda parte de um território (Angola) que


apresenta particularidades de países em desenvolvimento, com uma taxa de crescimento
quase acima do normal das expectativas mundial, também esta sujeito a essas
implicações.

O fenómeno pressão demográfica nesta província é bastante evidente, e as suas


repercussões ambientais estão se intensificar a cada instante. Num período de quase 50
anos, a sua população duplicou de 4.94 milhões em 1970, para 8.52 milhões em 2020
(INE, 2018).

Entretanto, a toda uma necessidade de se tomar medidas sobre essas tendências


demográficas, pelo que, as estimativas continuam a apontar para crescimento de 11.33
milhões em 2030 e 16.8 milhões para 2050 (INE, 2016).

O rápido crescimento da população nesta província é um problema que exige a


emergência de políticas demográficas sólidas para o seu controlo. Mas um dos maiores
dilemas que tem passado despercebido sobre o impacto desse crescimento, é a sua
posição geográfica que lhe torna cada vez mais vulnerável a mudanças ambientais, que
com ajuda da própria pressão demográfica tem se intensificado cada vez mais.

Sendo assim, a emergência do nosso estudo é de apurar as causas da pressão


demográfica e o seu efeito nas mudanças ambientais decorrente na província de Luanda.
Sendo que, a sua localização litoral torna-o vulnerável as mudanças climáticas e a sua
biodiversidade terrestre encontra-se em ameaças eminentes (PLANO DE
ADAPTAÇÃO À ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS DA ZONA COSTEIRA DE
ANGOLA, 2019).
Contextualização do problema

No início do século XXI, pela primeira vez na história da humanidade, mais


pessoas passaram a viver em centros urbanos do que em zonas rurais. Segundo
MAGALHÃES (2015, p. 8) a nível global, aproximadamente 125 mil pessoas migram
para as cidades todos os dias. Como reflexo dessa circunstância, o autor sublinha que,
em 2030 existirão a nível mundial aproximadamente 40 megacidade com população
superior a 10 milhões de habitante.

Volte e meios, ainda de acordo MAGALHÃES (2015), todas metrópoles onde o


crescimento será mais acelerado, estão localizados no continente africano e no
continente asiático. Entretanto, salienta-se que as cidades africanas apresentam um
ritmo de crescimento bastante acelerado e poderão conhecer para os próximos anos uma
ordem superior a 10 milhões de habitante (FERNANDES, 2018).

Dentre essas cidades, Luanda destaca-se como uma das cidades com taxa de
crescimento populacional mais elevada 3,3%, que verá a sua população próxima de
duplicar neste período de 6,94 milhões em 2014 para 11,33 milhões de habitante em
2030 (INE, 2016, p. 17; 33; 61).

Essa tendência de crescimento deve-se em particular ao fluxo migratório interno,


resultado dos movimentos urbanos-urbanos e pelo êxodo-rural, atraído pelo sortilégio
da suposta expansão das atividades socioeconómicas e urbana de Luanda (AMARAL,
1983).

Porém, embora esse facto pudesse ser favorecido por tal disponibilidade de mão-
de-obra abundante e barata para produção de bens de subsistência, de modo algum
podem ser compensados pelos investimentos equivalente a infra-estruturas, dado
desequilíbrio significativo entre as políticas públicas e as tendências demográficas do
país.

Luanda é um território com uma posição geográfica estratégica, pelo facto dela
estar localizado na zona litoral do país. Congrega um potencial em termos de
biodiversidade terrestre, facto que lhe torna especial para além de ser a capital do país.
Entretanto, embora tendo essa posição estratégica, ainda assim a mesma lhe torna
vulneráveis as mudanças ambientais, principalmente em termos de alterações
climáticas.

Os impactos dessas mudanças foram agravados a cada instante pelas tendências


demográficas dos últimos anos e com grande probabilidade de continuar para os
próximos anos. Com o aumento da população a emissão de gases com efeito de estufa
também aumentaram e de igual modo a poluição intensificaram-se envolta da província,
facto que pode explicar a presença das instabilidades climáticas nos últimos tempos.

Por outro lado, as tendências demográficas de Luanda nesses últimos anos,


marcaram e ao mesmo tempo aceleraram o seu relacionamento com o meio ambiente
local, modificando insólito e banalmente a sua aparência física por meio de
adensamento da população desordenada, mudanças na constituição da composição dos
domicílios, bem como na forma de uso e ocupação do solo.

Uma das componentes ambientais que muito tem sido afectado pela pressão
demográfica é a vegetação, que a cada instante o seu potencial tem sofrido perdas
significativas. Entretanto, do potencial vegetal que a província agrega, cerca de 16.97
mil hectares foram desmatado em 2014, pelo que, 2018 à área cresceu para 20.51 mil
hectares e já em 2020 a área de desmatamento cresceu significativamente para 38.48 mil
hectares2.

O desmatamento na província é bastante visível, dada a intensificação do uso e


ocupação do solo resultado de um crescimento urbano espontâneo nos últimos anos.
Caso não haja uma forte intervenção das políticas populacional para controlar essa
pressão, a probabilidade da grande reserva natural que a província agrega na sua parte
sul de ser a afectada é maior para os próximos anos.

Todavia, não podemos perder de vista a série de transformação demográfica em


curso na província de Luanda, cuja repercussão recai sobre mudanças ambientais que
tendem a ter rebatimentos na capacidade de dar resposta sobre os impactos na vida da
população presentes e futuras. Portanto, diante dessas preocupações, levanta-se a
seguinte pergunta de partida: Quais são as implicações ambientais da pressão
demográfica sobre a província de Luanda no período de 2014 a 2020?
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Os dados por orá apresentados é resultado de uma sobreposição das camadas de imagens de satelite sobre as zonas
urbanas e o potencial vegetal da provincia. Pelo que, os maires detalhes sobre esses valores serão dados pelo autor no
terceiro capitulo deste trabalho.

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