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Introdução
A urbanização é uma das dimensões mais importantes da mudança global
contemporânea. Atualmente, 54% da população mundial vive em áreas urbanas, e essa
proporção deverá aumentar para 66% até 2050 (ONU, 2014). À medida que as
populações urbanas crescem, as densidades populacionais urbanas estão diminuindo,
sugerindo a expansão do uso da terra de forma mais rápida que o crescimento da
população (SETO; GUNERALP; HUTYRA, 2012).
Esse fenômeno tem como consequência aumento da demanda por áreas urbanizdas
nas próximas décadas, exigindo desmatamento de grandes áreas, que por sua vez é a
segunda maior fonte antropogênica de emissões de dióxido de carbono (DEFRIES et
al., 2010; VAN DER WERF et al., 2009).
Objetivos
Ao final deste capítulo, esperamos que você tenha desenvolvido a capacidade de:
Contudo, você já parou para refletir sobre o surgimento das cidades e como a expansão
urbana está relacionada com a saúde da população? Para que você compreenda o
processo de crescimento da população, da expansão das cidades e da pressão que
eles exercem sobre o meio ambiente e a saúde, vamos voltar um pouco no tempo e
compreender a história do homem.
A história do homem é dividia em Pré-História e História. A Pré-história inicia-se com o
surgimento do homem até o desenvolvimento da escrita por volta de 4000 a.C. e, a partir
do desenvolvimento da escrita se inicia a História. Fazem parte da Pré-História os
períodos da Pedra Lascada (Paleolítico), da Pedra Polida (Neolítico) e a Idade dos
Metais.
No período Paleolítico (até 10 mil a.C.) o homem caçava animais para se alimentar, e
fazia da pele dos mesmos suas vestimentas e utilizava os ossos e restos dos animais
para fabricar suas armas e utensílios, conforme mostra a Figura 2. Vale ressaltar que
nessa época os resíduos sólidos gerados eram em sua totalidade, resíduos orgânicos,
ou seja, restos de alimentos e carcaça de animais.
Continuando o processo civilizatório, a Idade dos Metais foi marcada pelo início da
fabricação de instrumentos metálicos, quando o ser humano começou a dominar, ainda
que de maneira rudimentar, a técnica da fundição. Foi na idade dos metais que o
crescimento populacional se acentuou. Dessa forma, surgiram as primeiras cidades,
algumas das quais, que dariam origem a grandes civilizações.
Porém, ainda hoje a problemática dos resíduos sólidos é um dos grandes desafios da
sociedade moderna, sobretudo considerando a heterogeneidade e o volume de
resíduos gerados e, que possuem níveis de periculosidade diferentes. Portanto, a
relação homem-resíduos é indissociável das atividades desenvolvidas pelo homem,
tanto no tempo quanto no espaço (WALDMAN, 2010).
https://www.youtube.com/watch?v=Fwh-cZfWNIc
A dengue, assim como outras doenças transmitidas pelos Aedes aegypti (zika e
Chikungunya) está relacionada com diversos fatores, tais como ambientais (condições
climáticas), socioeconômicos (condições de saneamento) e aumento da probabilidade
de contato entre vetor e hospedeiro devido à proximidade das habitações e fluxo
populacional (MENDONCA; SOUZA; DUTRA, 2009).
Além disso, vale ressaltar que a falta de saneamento básico é o principal fator
relacionado à urbanização e que reflete na saúde da população, não só de forma
individual, mas também sobrecarrega o Sistema Único de Saúde e aumento os gastos
públicos com o tratamento de doenças (SIQUEIRA; SIQUEIRA FILHO; LAND, 2017).
Por isso, em 2010, a OMS escolheu urbanização como tema para o Dia Mundial da
Saúde. A rápida urbanização global tem e terá implicações importantes para a
proliferação de doenças não transmissíveis, de alta prevalência e incidência,
emergentes em áreas urbanas ambientes, tais como dengue, chikungunya, zika vírus,
raiva, leptospirose, cólera, febre tifoide, esquistossomose e outros helmintos, chagas,
leishmaniose, infecções intestinais.
Saiba mais
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982-
45132009000300003
Atualmente a grande maioria dos habitantes mundiais moram na zona urbana e isso
não é diferente no Brasil. A população rural foi transferindo-se e ocupando as cidades
desenfreadamente e diversos problemas acumularam-se junto com elas, como a
desconstrução da paisagem natural, a urbanização desorganizada e a ocupação de
áreas ambientalmente frágeis, entre outros.
Como você pode perceber conciliar expansão urbana com conservação é algo bem
difícil, porque a população continua a demandar mais recursos para aumentar seu
padrão de vida. Isso pode ser exemplificado pelo número de residências e o número de
pessoas que as habitam.
Você já deve ter notado que, com o passar do tempo, as residências passaram a conter
menos pessoas, o que significa que existem mais residências menores, resultando na
necessidade de mais terra para habitação e de um ambiente natural mais fragmentado
em unidades também menores. Essa fragmentação pode ser um dos maiores
problemas a serem enfrentados no futuro, pois quanto mais casas maior a complexidade
de infraestrutura para comunicações. Além disso, as ruas que interligam as habitações
representam barreiras aos deslocamentos de plantas e animais. Como resultado, a
mistura genética entre as populações fica reduzida, o que pode ser perigoso para a
espécie (LUZ, 2018).
O modelo do economista Thomas Robert Malthus recebeu muitas críticas ao longo dos
anos. Para ele a população cresce geometricamente, com recursos adequados,
enquanto a produção de alimentos cresce aritmeticamente, o que implica que a
população inevitavelmente diminuirá quando o número de indivíduos ultrapassar o
suprimento de comida disponível, como consequência de doença, fome ou guerra
(HENDERSON; LOREAU, 2018).
Ele também propôs soluções para que a população não enfrentasse a escassez de
recursos. Entre elas, destacam-se: a sujeição moral de retardar o casamento, a prática
da castidade antes do casamento e ter somente o número de filhos que se pudesse
sustentar. Essa teoria, no entanto, foi amplamente criticada por não levar em conta os
benefícios da industrialização, do progresso tecnológico, da inteligência humana em
buscar soluções frente a vários obstáculos.
A teoria de Malthus foi atualizada, dando origem à teoria neomalthusiana, que atribuía
à superpopulação dos países como a causa da pobreza. Isso porque uma população
numerosa provoca a elevação dos gastos governamentais com os serviços de educação
e saúde, comprometendo a realização de investimentos nos setores produtivos,
dificultando, assim, o desenvolvimento econômico.
Além disso, essa teoria afirma que uma população numerosa levaria ao esgotamento
dos recursos naturais, ao desemprego e à pobreza. Entre as soluções propostas por
essa teoria, estão a melhoria da produtividade através do uso da tecnologia e através
do planejamento familiar.
Cabe ressaltar que a agricultura foi a principal responsável por maiores taxas de
nascimentos e menores taxas de mortalidade até os anos 1900, mostrando que a
dinâmica populacional e a mudança na cobertura da terra estavam intrinsecamente
ligadas durante essa era (HIRSCHMAN, 1958 apud LIMA; SIMÕES, 2010).
Porém, isso não ocorreu, muito pelo contrário. Na realidade, os Estados Unidos
experimentaram o maior crescimento durante a partir dos anos 1900, quando a
produção por hectare de culturas essenciais aumentou exponencialmente, sobretudo a
partir da década de 1970, como resultado da Revolução Verde.
1.6 Revolução Verde: utopia ou realidade?
A expressão Revolução Verde foi criada em 1966, em uma Conferência em Washington,
sob o forte argumento de exterminar a fonte no mundo. Neste contexto:
Esse boom foi possível devido ao desenvolvimento da tecnologia, como por exemplo,
fertilizantes, máquinas e modificação genética (tecnologia da Revolução Verde),
responsável pelo crescimento da população humana. No Brasil, a Revolução Verde
chegou em meados dos anos 60, com a alegação de industrialização da agricultura.
Cabe ressaltar, que com o tempo essas pragas tornam-se mais resistentes, sendo
necessário utilizar mais agrotóxicos. Ademais, esses agrotóxicos contaminam as águas
superficiais e subterrâneas, que depois são retiradas para abastecimento público.
Nesse contexto, fica evidente que não basta somente produzir alimentos.
Indicação de leitura
http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/23851-revolucao-verde-uma-
promessa-fracassada-entrevista-especial-com-carlos-vicente.
Como você pode perceber, críticas severas sobre a Revolução Verde começaram a
surgir na segunda metade do século XX, quando o aumento significativo na produção
de alimentos teve um efeito contrário, o crescimento geométrico da fome. Esse efeito
adverso pode ser explicado pelo “desvio” da produção. Ou seja, alimentos produzidos
por países subdesenvolvidos, geralmente, não atendem o mercado interno e, sim, o
mercado externo.
É preciso, ao mesmo tempo, estabilizar a população mundial e reduzir as consequências
ambientais decorrentes da produção de alimentos. Isso porque, a sociedade também
sofre as consequências desses impactos, por ser consumidor direto dos alimentos
contaminados por agrotóxicos, podendo desenvolver doenças graves, como por
exemplo o câncer, além do envenenamento agudo dos produtores rurais que
manuseiam essas substâncias (OPAS/OMS, 1996).
Indicação de leitura
A expansão urbana pode interferir na saúde por meio de mudanças sociais, alterando
os comportamentos de risco, como o aparecimento de novos agentes tóxicos e
infecciosos, o que resulta em desequilíbrio nos variados ecossistemas mundiais.
Segundo Hoyt (2008), a devastação ambiental, incluindo a perda de cobertura de
árvores e de habitats de vida selvagem, assim como também a poluição da água
potável, é comumente atribuída à expansão urbana.
Essa poluição é causada por um aumento das superfícies rígidas, como o asfalto, que
não conseguem absorver ou escoar a água da chuva da mesma forma que o solo. Isso
faz com que os poluentes sejam desviados para as fontes de água, em vez de serem
absorvidos pelo solo. A expansão urbana resulta em custos mais altos para as agências
do governo responsáveis pela construção de ruas, escolas, utilitários e outros serviços
necessários para suportar os novos residentes e, esses gastos resultam em mais
impostos (BALBIM; KRAUSE; CUNHA, 2016).
Por isso, é fundamental estudar de que forma a população cresce e, isso é possível a
partir da teoria das transições demográficas. Para entender a dinâmica das populações
é necessário conhecer alguns conceitos básicos, como, por exemplo, definir taxa de
natalidade como sendo o número de nascidos vivos em um ano dividido pela população
e, a taxa de mortalidade é calculada da mesma forma-número de óbitos em um ano pelo
número de habitantes naquele mesmo ano (HOYT, 2008).
Essa teoria afirma que os países percorrem estágios ao longo de sua história, que
compreende períodos das “altas taxas de nascimento (natalidade) e altas taxas de
mortalidade” para o período das “baixas taxas de nascimento (natalidade) e baixas taxas
de mortalidade”.
Conforme foi estudado ao longo deste capítulo, os problemas ambientais também são
causados pelo crescimento exagerado e caótico da população, e não somente pelas
indústrias. Tudo isso afeta o meio ambiente, e a oferta de alimentos e a saúde da
população estão diretamente ligadas ao meio ambiente.
1.9 Conclusão
Você estudou ao longo deste capítulo, que o surgimento e expansão das cidades, ao
longo do processo civilizatório, ocasionaram modificações no meio ambiente, que
consequentemente afetam a qualidade de vida e a saúde das pessoas. Todos os anos
enfrentamos epidemias de doenças relacionadas à ausência de serviços e infraestrutura
de saneamento básico. Dessa forma, o crescimento exagerado e caótico da população
e das cidades podem ameaçar a oferta de alimentos, cobertura de serviços de
transporte, saúde, saneamento, lazer, entre outros. Neste contexto, é imprescindível
que o olhar sobre a saúde da população, bem como os seus determinantes sociais e
ambientais, seja compreendido de forma holística por diferentes áreas do
conhecimento, tais como Saúde Pública, Saúde Coletiva, Biologia, entre outras. Dessa
forma, a urbanização poderá ocorrer de forma sustentável, garantindo qualidade de vida
à população e protegendo o meio ambiente.
Resumo
Neste capítulo estudamos que, desde o surgimento do homem, o meio ambiente vem
sofrendo alterações que impactam diretamente na qualidade de vida e na saúde da
população. Nos primórdios da civilização o homem era apenas caçador, porém, ao longo
do tempo, os seres humanos desenvolveram habilidades e começaram a fabricar os
seus próprios instrumentos, começaram a usar vestimentas, a construir moradias, a criar
animais e a produzir alimentos.
Neste contexto, fica evidente que a rápida urbanização falha em sustentar populações
saudáveis e, por isso, em 2010, a OMS escolheu urbanização como tema para o Dia
Mundial da Saúde. É preciso, ao mesmo tempo, estabilizar a população mundial e
reduzir as consequências ambientais decorrentes da produção de alimentos e da
expansão das cidades. É fundamental que a expansão urbana seja pensada de forma
sustentável, com planejamento ambiental urbano, respeitando a capacidade de suporte
do meio ambiente e considerando que muitos recursos naturais não são renováveis.
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