Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
“Pesa uma maldição sobre a cidade contemporânea. As cidades velhas estão sufocadas e as novas são
horríveis. Assistimos a um festival de horror: contaminação atmosférica, acústica, visual e de violências de
todos os tipos. Entretanto, isso não é uma razão para negarmos a mais bela invenção do homem.”
Renzo Piano, arquiteto genovês, em entrevista ao jornal Le Monde, 21 de junho de 1996 citado no livro La Cittá
Gioiosa.1
O s assentamentos humanos constituem a principal modificação na vida social da humanidade ao longo do processo
de desenvolvimento. Dessa constatação surge a necessidade de analisar o fenômeno da urbanização para conhe-
cer seus efeitos na determinação da saúde. Desde as civilizações clássicas, a cidade, ou a pólis, tem sido vista como o
espaço ideal para o bom desenvolvimento do ser humano em seus aspectos físicos, sociais e espirituais. A praça pública
é associada à interação social, o jardim, relacionado ao prazer e à meditação, a ágora existia para garantir o teatro e as re-
presentações, e os parques para a diversão e o ócio. Enfim, desde os gregos e romanos, a cidade é o centro do poder e da
decisão, o espaço de determinação do destino humano. Por isso, sua deterioração e a perda de suas funções tradicionais
são vistas como fatores que reduz as possibilidades de um crescimento saudável para as pessoas, em todos os sentidos.
A estreita relação entre cidade e desenvolvimento humano nasce tanto dos riscos quanto das oportunidades que o am-
biente urbano oferece para as pessoas em seu ciclo vital. Muitas são as razões pelas quais as cidades influenciam na saúde
das pessoas e essas razões se referem, principalmente, às mudanças macro e microambientais que ocorrem nos ambientes
urbanos, propósito deste livro. Dessa forma, a visão defendida neste capítulo apresenta interseções com muitos dos outros
temas tratados nesta obra, com o propósito de estabelecer, especialmente, as principais correlações entre cidade e saúde.
A cidade, com todas as suas complexidades, é o espaço privilegiado onde a sobrevivência humana e a qualidade
de nossas sociedades estão em jogo. Tudo o que ocorre nesse espaço é crítico para as condições de saúde, estejam
elas próximas ou distantes da vida biológica, social e espiritual do ser humano.
A cidade e o fenômeno urbano foram acelerados a partir do século XV e, posteriormente, conheceram novo
salto com a Revolução Industrial do século XIX, evento histórico que gerou condições vantajosas para o acesso da
população a diversos benefícios – situação que produziu impacto positivo na saúde –, mas também incentivou, pela
aglomeração e pela superlotação, situações que facilitam o surgimento e a propagação de doenças, especialmente
do tipo infectocontagioso. Os clássicos estudos das epidemias de cólera do londrino John Snow, por exemplo,
levaram a importantes mudanças na provisão de água potável e esgotos, além de uma série de considerações sobre
aglomerações próprias da pobreza. Foi precisamente nesse período que se iniciou a percepção das condições de
vida e ambiente como determinantes das condições de saúde e causas de enfermidades.
A sequência de intervenções sobre o ambiente nas cidades conduziu a resultados positivos na diminuição das
doenças infecciosas relacionadas à qualidade da água e a problemas de saneamento, e a isso se somou, posterior-
mente, o uso das vacinas. Assim, as populações urbanas entraram no mundo industrializado com uma signifi-
cativa diminuição das taxas de doenças transmissíveis e com o consequente progresso de outros indicadores que
197
fizeram emergir as condições crônicas relacionadas aos novos problemas do novo estilo de vida: o sedentarismo,
a alimentação deficiente, bem como o abuso do tabaco, do álcool e de outras substâncias que causam vício. A re-
alidade da chamada transição demográfica e epidemiológica, especialmente por sua aparência irregular nos dife-
rentes espaços urbanos, é a característica principal da saúde da população desse período no início do século XXI.2
Com as possibilidades de desenvolvimento humano, como, por exemplo, a melhor exploração das potencia-
lidades de uma pessoa em um ambiente protetor e estimulante, a cidade e o ambiente urbanizado oferecem muito
mais oportunidades do que danos potenciais para a pessoa. Todos os programas de proteção social, especialmente
nas etapas mais sensíveis do desenvolvimento social, funcionam com maior eficiência em ambientes urbanos. A
proteção ao processo reprodutivo, a atenção e o estímulo precoce à criança, a educação intelectual e social da
população, entre outros aspectos, são realizados com mais sucesso nas cidades do que no âmbito disperso das áreas
rurais. Na tabela 9.1, podemos observar como se torna evidente a diferença dos índices de mortalidade infantil
entre os habitantes das cidades e os das áreas rurais. A diferença nesses casos pode ser de até 100%.
No início do século XXI, a proporção de habitantes em assentamentos urbanos chegou a 50% contra 50% nas
zonas rurais ou comunidades dispersas. Na região da América Latina e do Caribe, a população em áreas urbanas
é bem maior, cerca de 80%. O processo de urbanização foi extraordinariamente rápido nas décadas recentes e esse
crescimento claramente ultrapassou a capacidade de governar o processo de urbanização de maneira adequada,
ou seja, com políticas de planificação urbana razoável. Este último aspecto gera preocupação, pois põe em risco
a “Governança Urbana” como pré-condição para o êxito de políticas sociais, sobre o qual falaremos mais adiante.
Para Campbell e Campbell, as cidades do futuro terão formas muito variadas, mas contarão com densidade de
habitantes por espaço cada vez menor, suas populações serão mais velhas e mais pobres, a natureza descentralizada
do seu governo sobrecarregará os serviços de saúde, já que essa nova estrutura urbana está fortemente associada à
emergência das doenças crônicas e não transmissíveis.3
São especialmente preocupantes os desenvolvimentos urbanos insalubres típicos da segunda metade do século
XX e das megacidades. Nas chamadas favelas, tugúrios, “vilas miséria” ou povoados jovens, segundo a denomi-
nação em cada país, vivem principalmente os migrantes do campo e se encontra a pobreza urbana com todo o seu
rosário de desvantagens e desigualdades. Um terço dos habitantes das cidades, um milhão de pessoas, vive nessas
formas não saudáveis de urbanização. As consequências dessa situação para a saúde foram analisadas pela Comis-
são de Determinantes Sociais da Saúde , Subcomissão de Health Urban Settings e Knowledge Network, entre 2005
e 2008. Isso traz uma grande preocupação, pois, além de concentrarem os maiores percentuais de pobreza, esses
aglomerados insalubres refletem a grande desigualdade das sociedades.4
Outras iniciativas de análise das cidades se referem à qualidade de vida, da qual a saúde é um dos princi-
pais componentes. Entre essas iniciativas, está uma de longa data, chamada “Cidades Saudáveis”, que enfrentaram
Tabela 9.1 Mortalidade infantil e na infância segunda urbanização ou ruralidade na América Latina e no Caribe (taxas por
mil nascidos vivos)
o tema desenvolvimento urbano e sua relação com a saúde baseando-se em diagnósticos integrados e propostas de
estratégia bastante difundidas.5,6
Seguindo a estrutura dos Determinantes Sociais da Saúde em sua expressão mais apropriada da cidade, organi-
zamos um capítulo de análise e relato da realidade sanitária dos habitantes da região da América Latina e do Caribe,
trazendo alguns exemplos de políticas e soluções exitosas.
1 milhão de habitantes até 1820, enquanto Chicago ou Nova York atingiram essa marca antes do início do século
XX. No caso latino-americano, ao contrário, até 1900, somente três cidades haviam superado os 500.000 habitantes.8
Na América Latina, a migração campo-cidade começa a ocorrer nos países mais avançados e modernos apenas a
partir dos anos 1920, mas ainda é um fenômeno em desenvolvimento em outros países. Essa diferença histórica leva,
atualmente, a taxas de urbanização radicalmente diferentes na região. A CEPAL,9 em suas projeções de urbanização
para o ano de 2010, classifica os países da região em quatro grupos: em transição urbana avançada (taxas próximas a
90% de urbanização, como apresentam Argentina, Chile, Uruguai ou Venezuela); em plena transição urbana (taxas
de urbanização em torno de 75-80%, como Brasil, Colômbia, México e Peru); em transição urbana moderada (taxas
entre 60% e 70%, como Bolívia, Equador, El Salvador e Nicarágua) e países em transição urbana atrasada (taxas in-
feriores a 55%, como Guatemala, Haiti e Honduras).
A taxa de urbanização é um fenômeno que deve ser considerado na hora de se compreender os problemas e os
desafios que afligem as diferentes cidades do continente.
Assim, em termos materiais, é possível sustentar que aqueles países que ainda não completaram sua transição
campo-cidade verão aumentadas suas necessidades de habitação de baixo valor, e esse continuará a ser um im-
portante desafio para o fornecimento de serviços básicos para as novas populações que chegam à cidade. Assim,
em certos países, o significativo crescimento de “vilas misérias”, ou favelas, e outros assentamentos informais nos
arredores da cidade não deve ser descartado.
Em termos socioculturais, a população migrante rural, com menor índice de educação formal e geralmente
com menor qualificação profissional que os habitantes da cidade, propõe desafios relevantes para a política pública
quando se consideram aspectos como a coesão e a integração social.
A Escola de Sociologia Urbana da Universidade de Chicago, há quase 100 anos, nos mostrou os custos sociais
da migração da população rural para as grandes cidades.10 Provavelmente essas considerações permanecem válidas
para se entender o fenômeno migratório: o habitante rural perde suas redes sociais e seus valores de referência
quando se encontra em um ambiente no qual os valores comunitários e a homogeneidade social e cultural perdem
importância, o que o leva a sentimentos de ansiedade e frustração. Assim, deparamo-nos com coletivos sociais que
não somente chegam às cidades em situação de pobreza como também ingressam no universo urbano sem as suas
referências culturais mais relevantes, o que dificulta ainda mais sua integração.
Embora nenhum país da América Latina possa ser considerado uma sociedade plenamente desenvolvida, as
diferenças entre países, como ocorre nos indicadores analisados anteriormente, também são significativas.
Assim, por exemplo, as taxas de pobreza urbana dos diferentes países da América Latina mostram claramente
três grupos: países pobres, com taxas de pobreza superior a 40% (como Bolívia, Haiti, Honduras, Nicarágua e
Paraguai), países com pobreza intermediária, com taxas entre 35% e 40% (como Brasil, Equador e México), e países
com baixos níveis de pobreza, com taxas inferiores a 25% (como Argentina, Chile, Uruguai e Costa Rica).13
Acompanhando de forma quase linear essa diferença nas taxas de pobreza, estão diferenças demográficas
relevantes. Assim, por exemplo, enquanto nos países mais pobres da região a expectativa de vida ao nascer é inferior
aos 70 anos, com uma expectativa mínima de 60 no caso do Haiti, as dos países mais ricos da região superam em
todos os casos os 75 anos. Além disso, enquanto nos países mais pobres a taxa de mortalidade infantil em muitos
casos atinge 30 em cada mil (sendo no Haiti 59 em cada mil), nos países mais ricos essas taxas são inferiores
a 12 em cada mil.14 Cabe salientar que essa relação quase linear pobreza-baixos indicadores vitais não condiz com a
realidade de Cuba, país que, com um baixo PIB per capita, ostenta uma expectativa de vida ao nascer de 77,5 anos
e uma mortalidade infantil de 5,8 a cada mil nascimentos.15
Essas grandes diferenças estão relacionadas à maior capacidade dos países mais ricos de controlar as causas
típicas de mortalidade no Terceiro Mundo, especialmente as doenças infecciosas e a desnutrição infantil.16 Assim,
os diferenciais no acesso a redes sanitárias (ao menos nos centros urbanos), o gasto com saúde pública e a existência
de planos sólidos de prevenção de doenças passam a ser pontos importantes a se analisar.
Com relação ao acesso a saneamento, enquanto alguns países alcançaram cobertura de quase 100% de água
potável e esgoto nas áreas urbanas, em outros, a obtenção de água potável ou a contaminação de cidades com resí-
duos humanos continua sendo um problema central.17 Em relação ao gasto com saúde, a desigualdade é ainda mais
drástica. Enquanto os países ricos da região destinam mais de US$150 per capita ao ano para a saúde pública, nos
países mais pobres, de acordo com dados fidedignos, essa cifra não chega aos US$50 per capita, alcançando menos
de US$25 em países como a Guatemala e o Paraguai.18
Essa enorme diferença entre os países e as cidades mais pobres do continente faz que os problemas sanitários
enfrentados por essas diferentes regiões sejam radicalmente diferentes. Por um lado, nas cidades dos países mais
pobres do continente, especialmente em seus bairros mais empobrecidos, acumulam-se doenças infecciosas,
desnutrição e problemas de saúde, muitas vezes acompanhados de altas taxas de violência urbana, fenômeno que
será abordado em uma seção posterior deste capítulo.
Já nos países mais ricos da região, começam a aumentar de forma substantiva diversos tipos de doenças associadas
a maiores graus de desenvolvimento. Aumentam, por exemplo, os problemas psiquiátricos na forma de depressões
e estresse, e se multiplicam as taxas de obesidade e mortes por ataques cardíacos, provocados em boa parte pelo
sedentarismo da vida na cidade. Assim, enquanto a obesidade no Chile e na Argentina estaria afetando mais de 7%
das crianças com menos de 5 anos, essaa cifra não chega a 2% em países como El Salvador, Honduras ou Colômbia.19
Apesar da enorme heterogeneidade sociodemográfica que marca as cidades dos diferentes países da América Latina,
há algo que as unifica: os altos graus de desigualdade existentes na maioria dos países da região, não existindo no mundo
uma região mais desigual que a América Latina. Nesse contexto, não é de se estranhar que, apesar de alguns progressos
nos últimos tempos, somente a África Subsaariana apresente níveis de desigualdade superiores aos do nosso continente.20
Esses enormes graus de desigualdade produzem, mesmo nas cidades mais ricas do continente, problemas que
são próprios do mundo em desenvolvimento. Muito provavelmente, esses problemas tenderão a se concentrar em
certas zonas da cidade, como bairros pobres, favelas ou vilas miséria, regiões que muitas vezes possuem níveis de
renda, educação e acesso a serviços muito semelhantes aos índices de cidades muitíssimo mais pobres.
No entanto, nos países mais pobres da região ainda surgirão problemas sanitários associados ao desenvolvi-
mento, muito provavelmente também concentrados em termos geográficos em algumas zonas da cidade, nesse
caso, as mais ricas.
Fonte: NRC 2003, Cities Transformed, Washington DC: Nacional Academy Press.
Nível Econômico
Fonte: NRC 2003, Cities Transformed, Washington DC: Nacional Academy Press.
• Gradiente social.
• Estresse.
• Primeiros anos de vida (0 a 8 anos).
• Exclusão social.
• Trabalho.
• Desemprego.
• Suporte social.
• Adições.
• Alimentação.
• Transporte.
Para a Comissão de Determinantes Sociais da Saúde da OMS, os determinantes podem se agrupar em dois tipos:
Estruturais, aqueles que geram estratificação social, como renda, educação, gênero, raça e sexualidade. Inter-
mediários, aqueles subjazem à estratificação social e determinam diferenças na exposição, bem como oferecem vul-
nerabilidade aos fatores que afetam a saúde, tais como condições de trabalho e de vida, habitação, acesso e atenção
à saúde.
Uma análise superficial deles nos leva rapidamente à conclusão de que esses determinantes têm muito a ver
com a cidade e seus principais elementos ambientais.
Por enquanto, todas as estruturas sociais e interações são fenômenos urbanos. O gradiente social, que nos leva
a observar que maiores níveis de dependência geram maiores riscos de enfermidade e morte, é o mais importante,
segundo esses autores. A constatação de que o trabalho e o desemprego impactam a saúde, bastante demonstrada
na literatura, é também parte central dessa aproximação. O estresse, como mediador psico-humoral do dano para
o organismo, assim como o conceito de exclusão social como fator intermediário e a capacidade protetora da exis-
tência de redes sociais para os indivíduos, também é considerado nesse esquema de análise. Por último, três fatores
intimamente ligados à vida nas cidades – como as adições, o transporte e a disponibilidade e o acesso a uma boa
alimentação – entram nesse esquema de análise do processo saúde-doença.
A correlação entre os determinantes sociais e a saúde urbana foi analisada pela Rede de Conhecimento em
Saúde Urbana da Comissão de Determinantes Sociais da Saúde (CDSS-KNUS). Esse exercício de análise das pro-
postas de políticas públicas e sugestões orientadas foi realizado no Centro Kobe da OMS, pelo falecido diretor da
OMS Lee Jong-Wook, sob a inspiração do Sir Michael Marmott, e a discussão, nessa ocasião, foi dedicada a temas
de urbanismo e saúde.22,23
Para esse grupo de trabalho, os principais aspectos a considerar nos assentamentos do ponto de vista da
saúde são:
• As regiões do mundo com maior e mais rápido crescimento da população urbana são também as que têm o
maior número de pessoas em condições de moradias precárias ou em favelas. Por isso, conclui-se que a ur-
banização, em si mesma, é um fator determinante das condições de saúde e que a pobreza leva à formação de
favelas e favorece a má saúde. A relação entre essa urbanização não saudável e seu resultado se dá através
de diversos mecanismos estruturais, ambientais, de trabalho e outros. As pessoas que habitam ou sobrevivem
nessas condições não gozam do que se poderia chamar uma “cidadania plena.”
• A pobreza urbana e a vida não saudável estão associadas à falta de poder para suas comunidades, as quais não
têm voz nem capacidade para impor suas necessidades. O processo necessário para corrigir essa situação é o
proposto pelo “Governo Saudável”, entendido como aquele que inclui em seus planos e programas as conside-
rações adequadas sobre a saúde para as comunidades.
• Os segmentos mais pobres da sociedade estão mais expostos às condições de ambiente que levam às doenças
infecciosas, clássicas e emergentes, como SARS, HIV/SIDA e as pandemias já eminentes de gripe.
• A desproporcionada ocorrência de acidentes de trânsito por más condições das vias de circulação e pelo uso
de veículos de maior risco, como bicicletas e motocicletas, é grande preocupação de saúde na cidade, especial-
mente entre a população mais pobre.
• A insegurança e a violência, consequências da falta de proteção e do controle progressivo de narcotraficantes nos
espaços públicos, geram riscos para a saúde física e mental de habitantes de zonas pobres das novas cidades.
• A nutrição inadequada e insuficiente e a falta de acesso a alimentos saudáveis são outros dos desafios das zonas
urbanas pobres. Por um lado, temos sérios problemas com desnutrição, por outro, com obesidade e sobrepeso:
esse contraste é característico da falta de equilíbrio nas dietas. Isso afeta com mais intensidade as urbanizações
pobres e marginalizadas das grandes cidades. Essa tendência se agrava com a falta de condições de segurança
nessas cidades.
• Um elemento importante para correção das desigualdades em urbanizações pobres é o desenvolvimento de
serviços de saúde próximos à população, com base na comunidade e com vocação para atender às necessida-
des primárias das pessoas, reforçando a promoção da saúde. Essa estratégia pode convocar as populações em
torno de prestadores de saúde, de educadores e de líderes locais para a construção de políticas e intervenções
voltadas para os serviços de saúde.
Em geral, as cidades crescem quase espontaneamente ao ritmo da migração rural urbana, processo comum nas
últimas décadas, e os governos não conseguem controlar esse processo. Assim, nascem os assentamentos marginais
periféricos sem planificação adequada, sem serviços básicos, sem conexões nem transporte e, sobretudo com habitações
sem nenhuma ou com baixa qualidade. No planeta, até o ano 2000 um milhão de pessoas vivia nessas precárias condi-
ções, com um custo em exclusão social e saúde enorme, produto justamente da situação de pobreza de suas habitações.
As carências e as deficiências na habitação e a falta de saneamento são determinantes reiterados do excesso de
mortalidade, de fatores associados aos níveis de pobreza e da desigualdade territorial na América Latina e no Caribe
(OPS/OMS: Saúde nas Américas, 1988). Foi com base nesse contexto que a Organização Pan-americana da Saúde
fundou a Rede de Habitação Saudável a partir do seu centro de Habitação Saúde (CEPIS).24,25
Atualmente, o direito à habitação está consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos e é parte
importante das aspirações de amplos setores das sociedades modernas. A habitação concebida como um bem in-
dispensável, que permite o gozo de outros direitos, é considerada parte importante do sistema internacional de
proteção e promoção dos direitos do homem.
O ser humano tem o direito de acesso a uma habitação com posse segura, que se localize em um lugar seguro,
que possua uma estrutura adequada e tenha espaços suficientes para desenvolver as necessidades do grupo familiar
que a habita. É importante que a habitação tenha acesso a serviços básicos (água potável, eliminação de excreções,
coleta de resíduos sólidos e drenagem), artigos para o lar e bens de consumo seguros, entorno adequado e higiene.
Desde o momento do projeto da habitação, se introduzem a microlocalização e a construção, e logo se estendem
os cuidados a sua manutenção. Trata-se de conceito relacionado ao território geográfico e social onde a habitação é
assentada e aos materiais usados para sua edificação (segurança e qualidade dos elementos utilizados); ao processo
construtivo, à composição do seu espaço, à qualidade dos acabamentos, ao contexto periférico global (comunica-
ções, energia, vizinhança) e à educação sanitária de seus moradores sobre estilos e condições de vida saudáveis.
Em 1995, a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS) propôs seis princípios que identificam o risco na saúde:
1. Proteção contra as doenças transmissíveis, que inclui:
• Água potável segura.
• Eliminação de excreções.
• Eliminação de resíduos sólidos.
• Drenagem de águas superficiais.
• Higiene pessoal e doméstica.
• Preparação higiênica de alimentos.
• Salvaguardas habitacionais (espaços amplos, tetos, pisos, etc.).
saudáveis e de visão geral para a manutenção da saúde. Como linhas de ação, foram sugeridas a formulação de po-
líticas saudáveis, a execução de alternativas sustentáveis e saudáveis, o fomento do conhecimento do espaço público
e dos vínculos estabelecidos pelos habitantes em relação aos sistemas espaciais.
O homem se apropria de sua habitação e vai deixando marcas nos lugares que habita. Busca também criar espa-
ços de privacidade para ele e seu núcleo familiar, além de agir na individualização de seu próprio espaço. Criam-se,
então, transações entre o pudor e a visibilidade em relação a outros vizinhos. Em habitações sociais, existem espaços
compartilhados onde são gerados encontros e desencontros. Tudo o que se relaciona à habitação (tamanho, distri-
buição dos espaços, equipamentos e seu armazenamento) influenciam na qualidade de vida e na saúde das pessoas,
já que as protege de situações ambientais (temperatura, umidade, ventos, etc.), de agentes animais transmissores de
doenças (ratos, artrópodes e outros) e de acidentes (escadas, janelas, balcões, etc.).31 A habitação deveria se adaptar
ao homem nas diferentes etapas de seu ciclo vital, e também a família, em suas etapas do ciclo familiar, deveria se
adaptar a isso, procurando uma habitação segura para crianças e idosos.32
Para uma reflexão abrangente dessa situação, são necessários olhares intersetoriais e interdisciplinares, que
abordem problemas complexos. Ducci et al.33 realizam um projeto de investigação na Vila Los Navios, comunidade
da Flórida, região metropolitana do Chile. Essa vila representa centenas de vilas construídas no Chile. Esse assen-
tamento tinha 2.569 habitações básicas entregues em 1990 e foi criado por programas estatais. Conta com uma
população de 13.000 pessoas. A partir de um diagnóstico elaborado com a participação da sociedade, concluiu-se que
era difícil ter uma percepção exata da real situação dos habitantes. Ainda que a população parecesse ser de classe
média, se observava nesse grupo a pobreza disfarçada, bem como situações de violência e insegurança – problemas
muito difíceis de enfrentar e manejar. Nessa vila se observavam um isolamento funcional do resto da sociedade e
uma carência de áreas verdes; somado a isso, adjacente ao bairro, como potencial fonte de acidentes, existia um
poço arenoso de 250 m de diâmetro e mais de 50 m de profundidade.34 Situações similares foram vivenciadas em
assentamentos construídos em ambientes arriscados para a saúde de seus habitantes, por exemplo, sobre antigos
aterros, próximos a antigos depósito de chumbo (Arica, 2003). Essas situações ambientais afetam principalmente as
crianças, que se encontram em fase de desenvolvimento.35
Em resposta a modelos de avaliação de assentamentos, o México propõe o modelo 3cv+2, 36 que permitiu
que 52 empresas imobiliárias de alguns estados da República Mexicana conhecessem uma metodologia simples
para assegurar a qualidade dos processos de construção da habitação. Ao longo dos dois anos e meio de sua uti-
lização, foram gerados, pela primeira vez nas empresas, relatórios de qualidade dos processos construtivos, o que
levou ao aumento da qualidade da habitação, fato fisicamente perceptível para todos os envolvidos na produção
dessas moradias.37
Para ter habitações e bairros saudáveis, não somente a qualidade da habitação é relevante, mas também o tipo
de convivência que existe neles. No Brasil, os projetos de edifícios de usos comunitários, como os desenvolvidos em
Fubá, na Vila Olímpica do Caminho e no espaço de convivência Macacos, parte do projeto “Favela Bairro”, dão ên-
fase a programas de lazer e recreação como eixo para combater os problemas de marginalidade e pobreza urbana.38
Partindo das “solicitações” dos habitantes e do esquema de leitura da estrutura do lugar, foi criado um partido
urbano que integra todas as variáveis que intervêm na busca de articulação do físico com o social, configurando
formal e espacialmente a solução de cada um dos diferentes aspectos (traçado das vias, urbanismo, paisagismo,
edificações, espaços públicos e infraestrutura).
Com relação ao crescimento espacial das cidades, pesquisadores chilenos realizaram um estudo envolvendo
várias metrópoles, como Santiago, Valparaíso, Concepción, e cidades intermediárias, como Chillán, Los Angeles e
Temuco. A partir desse estudo, mostraram que o crescimento espacial das cidades produz:
• Mudanças no clima urbano e perda da qualidade do ar como consequência da emissão descontrolada de
poluentes, geração de calor e diminuição das ilhas frias.
• Desaparecimento, redução e deterioração das camadas vegetais, incluindo terrenos de cultivo e áreas naturais –
ecossistemas valiosos como zonas úmidas.
• Perda de serviços ambientais de qualidade das paisagens naturais no interior e ao redor das cidades.
• Perda da biodiversidade e redução e desaparecimento de hábitat, corredores e parques de vida silvestre.
• Geração do aumento de índices de segregação socioambiental no interior das cidades.
• Falta de justiça ambiental e concentração dos efeitos adversos – incluindo doenças relacionadas ao meio
ambiente urbano – de forma discriminatória sobre os setores sociais mais vulneráveis.
• Mercantilização crescente dos territórios, dos recursos naturais e dos serviços ambientais, sendo representa-
dos nos mercados apenas os usos de consumo, sem considerar os custos ambientas e sociais. Especulação e
privatização de bens comuns.
• Crescente desacoplamento e contraindicações entre as estruturas e dinâmicas da natureza e os espaços. Supe-
ração da capacidade de carga e de resiliência dos ecossistemas urbanos.
• Ausência de instituições e instrumentos de planificação, avaliação e planificação ambiental urbanos que sejam
capazes de submeter a efetivas avaliações ambientais os projetos de investimento público e privado que per-
turbem seriamente o meio ambiente urbano.39
Essa realidade é aplicável à maioria das cidades latino-americanas e evidencia novos desafios.
A cultura da violência
Além do que tradicionalmente se considera como “criminalidade”, a vida do gueto se apresenta propícia para o
surgimento de outras situações de violência, que muitas vezes não são consideradas pela literatura especializada.45
A violência, organizada ou individual, muitas vezes associada ao consumo de drogas ou álcool, começa a ser algo
constantemente presente na vida cotidiana, à qual se pode recorrer para a solução de qualquer problema ou para
mitigar qualquer frustração.
Nesse contexto, o gueto se apresenta como um lugar no qual se verificam altos índices de violência fami-
liar,46 violência entre pares – especialmente entre adolescentes – ou onde as relações sociais cotidianas com o
mundo exterior (professores, médicos, enfermeiras, etc.) adquirem um tom violento, originado na estigmati-
zação dos habitantes do gueto e na resposta desses habitantes à agressão de que são vítimas por parte do resto
da população.
Esta violência não só tem impacto direto e mensurável sobre a saúde da população como significativa atenção
das clínicas e hospitais devido a violência doméstica, muitas pessoas vem paras estes centros por brigas de rua;
tem também um impacto indireto, um corte psicológico, que tende a gerar padrões de violência que são difíceis de
remover da política pública.
A cultura do medo
A violência dominante no exterior faz que muitas famílias, para se proteger e se distinguir daqueles envolvi-
dos em atividades criminais, decidam isolar-se do exterior. Constroem altos muros, grades, compram cães de
guarda, etc.
Além do recolhimento, isolamento dessas famílias inclui a desconexão da realidade que as circunda. A frase
“aqui eu não falo com ninguém” passa a ser comum, convertendo cada família em uma unidade isolada, carente de
redes e de contato social. O medo faz que as pessoas deixem de ocupar os espaços públicos ou não saiam às ruas em
determinados horários, o que contribui para que o espaço seja tomado de forma excludente por aqueles envolvidos
com o crime.
O medo também faz que os meios de transporte público deixem de circular em certo horário, bem como
impede a polícia ou as ambulâncias de chegar a certas localidades e faz que o Estado perca presença no território.
No campo da saúde pública, tempos atrás, somente nos preocupávamos com a existência e a disponibilidade de
redes assistenciais para os setores mais pobres. Hoje, mesmo quando em vários países da América Latina uma parte
importante da população pobre tem acesso a redes de saúde, essas redes não estão sendo utilizadas de forma ade-
quada, seja pelo medo de sair de seus lares em certas horas, seja pelo medo das represálias das quadrilhas a quem
entra em contato com um agente do Estado, como o médico ou a enfermeira. Assim, muitas pessoas que sofrem
algum problema de saúde decidem esperar até a manhã seguinte para procurar os serviços de saúde, ou simples-
mente decidem fazê-lo em centros hospitalares distantes de seus lugares de residência, o que muitas vezes contribui
para que alguns centros, especialmente os mais bem localizados, tenham entrado em colapso.
A cultura da droga
O consumo de drogas, em sua dimensão individual, é por si só um importante problema de saúde pública. As es-
tatísticas latino-americanas de consumo de drogas, em especial de cocaína, bem como as de violência associada ao
consumo dessa droga, são impressionantes (tabela 9.5). Assim, aparecem em muitos países da região diferentes pla-
nos – especialmente em nível escolar – de repressão àqueles que produzem ou comercializam droga. Nesse sentido,
se trabalha em dois planos ao mesmo tempo: desestimulando-se a demanda e reduzindo-se a oferta.
Entretanto, a droga deve ser entendida também em sua dimensão socioterritorial, relacionada a formas de vida
e a sistemas de valores que imperam em algumas zonas urbanas. Numa análise microterritorial, existem territórios
guetizados nos quais não apenas o consumo de drogas está socialmente legitimado, mas também a comercialização
ou o negócio associado às drogas se converte na principal fonte de sustento de muitas famílias. Rompe-se, assim,
a relação dessas famílias com o mercado de trabalho ou com os valores sociais associados a ele. Aparece, nesses
contextos, o que denominamos “cultura da droga”.47
Num primeiro momento, a figura do narcotraficante, rico, criminoso e profissional, perde exclusividade no
interior do negócio da droga, despontando também clãs familiares em situação de pobreza ou gangues que são, por
sua vez, vendedores e consumidores de droga.
Além disso, entre os viciados e seus grupos sociais aparece uma despreocupação geral com aspectos básicos
de cuidados pessoal, como a apresentação pessoal, uma boa alimentação ou uma adequada prevenção de doenças
sexualmente transmissíveis. Finalmente, o consumo e a venda de droga acabam sendo legitimados pelo conjunto
da comunidade e valorizados como mais uma estratégia de superação da pobreza ou de interação social com uma
sociedade que nega outras vias de mobilidade.
Contudo, para superar essa situação de violência, medo e legitimação da droga não bastam os planos crimi-
nalísticos repressivos tradicionais, os quais, de qualquer maneira, nunca devem ser abandonados. A militarização
do espaço urbano, como tem sido feito em países como Brasil e Colômbia, pode contribuir para a desarticulação
de redes criminais ou reduzir a posse de armas em mãos particulares, mas isso é insuficiente na hora de gerar uma
transformação de valor cultural que permita uma condenação total da violência urbana. Nesse contexto, por exem-
plo, é necessário avançar com novas formas de enfrentar o problema de bandos, gangues ou quadrilhas, entendendo
que esses grupos, à parte do seu componente criminal, cumprem certas funções sociais importantes na formação
da identidade marginal adolescente.48
Continuação
Assim, surgem em diversos países planos integrais de desenvolvimento urbano e de trabalho com áreas deterio-
radas da cidade. O plano “200 bairros”, no Chile, busca transformar certas áreas deterioradas por meio de um trabalho
que inclui a melhoria das moradias e da infraestrutura, bem como pela implementação de planos de capacitação e
emprego para a população. Outro exemplo é o plano “Favela Bairro” no Brasil, que busca a melhoria das condições de
vida dos grupos urbanos vulneráveis através de sua ativa participação na solução de seus problemas. Há ainda o plano
“Bogotá como vamos?”, na Colômbia. Esses são bons exemplos das políticas integrais de controle da violência urbana.
Os desastres podem causar um número inesperado de mortes, lesões ou doenças na comunidade afetada, e
essa situação pode exceder as capacidades terapêuticas oferecidas pelos serviços locais de saúde, o que demandaria
ajuda externa.
Em um desastre, a infraestrutura local de saúde, como hospitais – que poderiam responder à emergência de
forma oportuna –, pode ser destruída.
Alguns desastres podem produzir efeitos sobre o ambiente e a população ao aumentarem o risco potencial
de doenças transmissíveis e oferecer perigos ambientais que incrementarão a morbidade, as mortes prematuras
e incidem na qualidade de vida futura da população, produzindo escassez de alimentos e alterações traumáticas.
Como resposta, o homem criou o que se denominou gestão do caos, uma vez que se demonstrou que os danos pro-
duzidos por uma catástrofe estão diretamente relacionados à soma dos danos do sinistros mais os derivados de sua gestão.
A manipulação de desastres propôs uma interessante teoria, a Teoria da Vulnerabilidade, que propõe que os sis-
temas de baixa vulnerabilidade sofrerão menos danos que outros, mesmo diante de uma agressão de mesma inten-
sidade. Essa teoria é uma expressão matemática que se ocupa dos sistemas que apresentam um comportamento sem
precedentes e aparentemente aleatório e permite identificar as variáveis nas quais é importante atuar oportunamente.52
Em todo desastre existe um agente que intervém com maior ou menor intensidade, ou em um tempo mais
breve ou mais prolongado, o que produz na cidade situações de sofrimento coletivo extenso e variado, drama
humano, desestruturação do trabalho, tempos de reabilitação muito extensos e muitas vezes abandono da região.
Diante de catástrofes, são importantes a avaliação do cenário e a valoração de riscos, o que compreende: a natu-
reza do acidente, o número aproximado de vítimas, a presença de perigos agregados e a vulnerabilidade ambiental,
a presença ou não de serviços de salvamento e forças de segurança, o tempo estimado necessário para resolver o
problema, as necessidades imediatas e a médio prazo.
Entre as respostas que a comunidade organizada pode gerar se esperam: uma planificação prévia, o estabeleci-
mento da estratégia, garantia de segurança, organização de comando, socorro da população, controle de ambulância
(circuito pós-carga). Propõe-se um enfrentamento profissional interdisciplinar específico para catástrofes, o que prepa-
raria a comunidade com estratégias de prevenção específicas para a eventual manipulação de desastres.53
Transporte urbano
O transporte urbano é um fator de grande importância para a qualidade de vida das pessoas, em especial da
saúde da população. O transporte está muito relacionado à distribuição espacial da população, à extensão da
cidade e aos deslocamentos que seus habitantes devem realizar, por exemplo, deslocamentos profissionais. A ges-
tão ambiental do transporte urbano deveria ser considerada um eixo importante no âmbito das políticas públicas
de cada cidade. E assim, os engenheiros recordam que o objetivo do transporte urbano é mobilizar pessoas – e
não veículos – com eficiência quanto ao uso de recursos, principalmente combustível e tempo; uso do ambiente
(ar, solo urbano); segurança – minimizando os acidentes no trânsito – e igualdade social, com a mesma quali-
dade para todos (como os outros serviços públicos de distribuição como água, luz, gás, telefone).54
Lamentavelmente, esse tráfego de veículos nas cidades leva à degradação da qualidade de vida urbana, que se
manifesta à medida que aumenta o grau de saturação, em impactos como:
• Congestionamento. Aumento do tempo de viagem, formação de filas e retenções involuntárias.
• Risco. Aumento do número e da gravidade dos acidentes de trânsito.
• Poluição. Aumento de emissões de poluentes atmosféricos.
• Ruído. Aumento do nível de ruído e vibrações nas ruas e edifícios.
• Segregação. Aumento na distância e no tempo de cruzamento dos canais de passagem de veículos.
• Intimidação. Diminuição do uso das ruas para outros fins (estar, brincar, passear).
• Intrusão visual. Diminuição do campo visual por veículos ou infraestruturas.
• Inacessibilidade ao transporte público. Dificuldade para usar os serviços de transporte público.
• A inovação ou implementação de novos sistemas de transporte urbano são desafios não isentos de problemas.
Foi assim com a implementação do transporte público em Santiago do Chile, a Transantiago, que gerou nu-
merosos problemas em 2007. Essa situação demandou a abordagem de cinco nós críticos: número insuficiente de
ônibus, melhoria de frequência dos veículos, modificação dos percursos, descongestionamento do metrô, bem
como oferta de mais informações aos usuários. A normalização do sistema foi gradual e com aumento paulatino de
ônibus, ampliação dos horários, novos percursos, extensão dos percursos já existentes, aumento de frequências e
redução dos tempos de espera nos pontos. A isso se somou a mudança dos contratos e das autoridades dos sistemas
administrativo e financeiro.55
integridade física das pessoas e seus meios de locomoção alternativos, como as ciclovias, centros de serviços básicos
próximos às populações e também as conhecidas e reiteradas características das habitações saudáveis.
A maior oportunidade para a saúde na cidade, além dos determinantes sociais já analisados, é provavelmente o
acesso a redes de atenção à saúde no chamado espaço da atenção primária. Múltiplas avaliações apontam a neces-
sidade de reforçar essa estratégia, especialmente à luz dos 30 anos da declaração de Alma Ata, que deu sustentação
política e global a esse esforço.57 Na perspectiva da construção de capital humano nas cidades e como ferramenta de
consolidação de um dos pilares das políticas públicas pró-desenvolvimento, diversas experiências no mundo con-
cordam que é precisamente nas aglomerações urbanas, apesar de seus defeitos e dificuldades, que estão as melhores
condições para implementar políticas efetivas de acesso e igualdade e, consequentemente, elaborar estratégias de
combate à pobreza.58
Referências
1. BERTELLI, CARLO (Org.). La Città Gioiosa. Editorial Libri Scheiwiller, Milão, 1996.
2. Disponível em: <www.milbank.org/quarterly/830418omran.pdf>.
3. CAMPBELL, T.; CAMPBELL, A. Emerging risks in cities of the developing world. KNUS, 2006.
4. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO) “Our cities, our health, our future. Acting on social determinants for health equity in urban
settings.” Report to WHO Commission on Social Determinants of Health from the Knowledge Network on Urban Settings, WHO, 2008.
5. “Ensuring quality of life in Europe’s cities and towns. Tackling the environmental challenges driven by European and global change.”
EEA Report n. 5, 2009.
6. Disponível em: <www.healthycities.org/index.html>.
7. COMISIóN ECONóMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE (CEPAL). Pobreza definición. Disponível em: <www.eclac.org/>.
8. GILBERT, A. La ciudad Latino Americana, Ciudad de México: Siglo XXI Editores, 1997.
9. COMISIóN ECONóMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE (CEPAL). “De la urbanización acelerada a la consolidación de los
asentamientos humanos en América Latina y el Caribe.” Documento CEPAL, 2000.
10. Ver, por exemplo, ZNANIECKI, F.; THOMAS, W. The polish peasant in Europe and America: Monograph of an immigrant group. Boston:
Richard Badger/The Gorham Press, 1918.
11. CENTRO LATINOAMERICANO Y CARIBEñO DE DEMOGRAFÍA (CELADE). “América Latina y el Caribe: Estimaciones y proyecciones
de población 1950–2050” Boletín Demográfico n. 69, 2002.
12. CENTRO LATINOAMERICANO Y CARIBEñO DE DEMOGRAFÍA (CELADE). “América Latina y el Caribe: Estimaciones y proyecciones
de población 1950–2050” Boletín Demográfico n. 69, 2002.
13. COMISIóN ECONóMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE (CEPAL). Anuario estadístico de América Latina y el Caribe, 2008.
Disponível em: <http://websie.eclac.cl/anuario_estadistico/anuario_2008/docs/ANUARIO2008.pdf>.
14. US CENSUS BUREAU. INTERNATIONAL DATA BASE (IDB); 2009. Disponível em: <www.census.gov/ipc/www/idb/>.
15. US CENSUS BUREAU. INTERNATIONAL DATA BASE (IDB); 2009. Disponível em: <www.census.gov/ipc/www/idb/>.
16. No caso da desnutrição, até o início do século XXI existiam países como a Guatemala, Haiti e Honduras, nos quais ela afetava
mais de 15% dos menores de 5 anos, enquanto no Chile, com a taxa mais baixa do continente, atingia apenas 0,8% das crianças.
UNICEF, Estado Mundial da Infância: Excluídos e invisíveis, 2006. Disponível em: www.unicef.org/spanish/sowc/06/pdfs/sowc06_
fullreport_sp.pdf.
17. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO), UNITED NATIONS CHILDREN’S FUND (UNICEF).. Meeting the drinking and sanitation
target: The urban and rural challenge of the decade, 2006. Disponível em: <www.who.int/water_sanitation_health/monitoring/jmp
nal.pdf>.
18. COMISIóN ECONóMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE (CEPAL). Anuario estadístico de América Latina y el Caribe, 2008.
Disponível em: <http://websie.eclac.cl/anuario_estadistico/anuario_2008/docs/ANUARIO2008.pdf>.
19. AMIGO, H. “Obesidad en el niño en América Latina: Situación, criterios de diagnóstico y desafíos” Cad. Saude Publica, n. 19,
p.S163-S170, 2003.
20. WORLD BANK, “Inequality in Latin America: Determinants and consequences” Policy Research Working Paper, n. 4504, 2008.
Disponível em: <wwwds.worldbank.org/servlet/WDSContentServer/WDSP/IB/2008/02/01/000158349_20080201123241/
Rendered/PDF/wps4504.pdf>.
21. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Social determinants of health: the solid facts. 2. ed. Richard Wilkinson e Michael Marmot; 2003.
22. Disponível em: <www.who.or.jp/urbanheart.html>, <www.who.or.jp/2008/urbanh/KNUS_Report_Synopsis.pdf>
23. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). “Our cities, our health, our future. Acting on social determinants for health equity in
urban settings” Report to WHO Commission on Social Determinants of Health from the Knowledge Network on Urban Settings, 2008.
24. Disponível em: <www.cepis.ops-oms.org/cepis/e/bvsasv.php>.
25. Disponível em: <www.cepis.ops-oms.org/cepis/e/bvsasv.php>.
26. ZEPEDA, F. Salud en la Vivienda, OPS/OMS, 1995.
27. CURTICE, L.; SPRINGETT, J.; KENNED, A. “Evaluación en los escenarios urbanos: el reto de las ciudades saludables” In CERQUEIRA,
M. T.; LEóN, F.; DE LA TORRE, A. Evaluación de la Promoción de la Salud. Principios perspectivas, 2007.
28. DIAS, J. C. “Southern Cone Initiative for the elimination of domestic populations of Triatoma infestans and the interruption
of transfusional Chagas disease. Historical aspects, present situation, and perspectives” Mem Inst Oswaldo Cruz, n. 102, 2007.
Supl 1:11-8.
29. BUNDY, D. A. Epidemiological aspects of Trichuris and trichuriasis in Caribbean communities, Trans R Soc Trop Med Hyg., 1986. v. 80,
n.5, p.706-18.