A partir da busca nas bases de dados científicos Scielo, SCOPUS e Web of
Science, foi possível reunir pesquisas referentes à temática selecionada: “A gestão do lixo e resíduos sólidos”. Uma das marcas do mundo contemporâneo é a geração exacerbada de resíduos, denominados pelo senso comum “lixo” (DE ANDRADE e FERREIRA, 2011). A melhor estimativa de “ordem de grandeza”, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA), sugere que a produção anual de resíduos urbanos está na faixa de 7 a 10 bilhões de toneladas (WILSON, 2015). Entretanto, o tema preexiste de longa data, pois as civilizações humanas sempre produziram resíduos. O que mudou ao longo do tempo foi a forma como o mesmo é percebido e, por conseguinte tratado. Na Idade Média, por exemplo, as condições de higiene eram precárias: quase não havia esgoto e praticamente todo o lixo era jogado nas ruas, sendo, posteriormente, apanhado pelos animais (EIGENHEER, 2009). Com o desenvolvimento da ciência, comprovou-se que a proliferação de diversas doenças e epidemias estava relacionada ao tratamento dispensado ao lixo. Por isso, as cidades iniciaram ações para estabelecer leis sobre a sua destinação, promovendo, ademais, as coletas e a obtenção de eletricidade através de sua queima (EIGENHEER, 2009). Além disso, “com a aceleração do processo industrial, o lixo começa a ser discutido como questão ambiental” (VELLOSO, 2004, p.17). Embora a legislação vigente no país preveja dispositivos legais relacionados aos resíduos, tais como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), o Brasil ainda apresenta graves problemas quanto a essa questão. Um exemplo seria a coleta seletiva que, segundo o Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA), abrange apenas 18% dos munícipios brasileiros (CIDADES, 2013). Vale ressaltar ainda que, consoante ao crescimento populacional, os resíduos constituem fonte de preocupação tanto no que diz respeito ao consumo como também à percepção dos indivíduos(WILSON, 2015). O lixo é uma problemática presente em cada ação cotidiana do homem. Mesmo nas ações mais simples, como o preparo de refeições, são produzidos resíduos e até no metabolismo são gerados dejetos como fezes e urina. Mesmo com tão forte presença e importância vital no dia a dia, o assunto do lixo é pouco discutido nos meios em geral (SOUZA et al 2000). “As dificuldades para se tratar do tema decorrem provavelmente do fato do tema apontar para a finitude de nossas produções e de nossa própria vida, o ciclo natural de vida e morte. ” (EIGENHEER, 2009, p. 17), tal afirmativa aponta um possível motivo da manutenção desse tabu. Apesar do desagrado, tal problemática se faz presente desde tempos pré- históricos, onde o homem pela primeira vez procura se livrar de seus resíduos, em especial por queima, a fim de evitar o mau cheiro gerado (PEREIRA, 2016; OLIVEIRA, 2015). Esse fato mostra que a procura por livrar-se do lixo se faz presente desde o início dos tempos, como um modo natural de proteção contra doenças e parasitas. Conforme Wilberth (2002) a sociedade se torna mais complexa, essa questão se faz ainda mais importante e o homem começa a desenvolver meios para descarte e reaproveitamento, notando as vantagens da aplicação de compostos orgânicos na agricultura. É certo que os problemas com dejetos e lixo não eram tão complexos enquanto o homem vivia em grupos nômades. O problema se dá com a fixação em aldeias, mas principalmente em cidades, que começam a ser formadas por volta de 4.000 a.C. (SILVA, GOMES, FREITAS, 2017). No artigo intitulado “A crise do lixo” os autores afirmam que no decorrer dos séculos é visto um ciclo constante, vicioso, onde cada vez mais é produzido mais lixo que não recebe o devido destino, combinado com a falta de consciência coletiva sobre a temática agravando mais e mais a situação (WANDORF et al 2016). Nessa linha, Oliveira (2017) e Souza (et al 2000) ressalta que a partir do ponto em que se distingue o lixo dos dejetos produzidos metabolicamente é que se tem a questão fundamental para o descarte adequado destes. Entretanto, tal distinção entre resíduos sólidos e águas servidas (fezes, urina e afins) só é feita a partir da segunda metade do século XIX. “O termo imundície, bastante usado entre nós até 1950, podia significar indistintamente os dois tipos de rejeitos, e até mesmo corpos humanos. Nas traduções brasileiras da Bíblia, por exemplo, ele é encontrado frequentemente.” (EIGENHEER, 2009, p. 15). A citação ilustra o quão recente ainda é essa má distinção. Entretanto, ao trazer essa questão para o panorama contemporâneo, faz-se urgentemente necessário tomar providências para o descarte do lixo, visto sua influência direta na saúde e bem- estar da massa populacional (VELLOSO, 2004). Nas pesquisas desenvolvidas por Silva e Gomes (2014), os dados registram que sete bilhões é uma marca já ultrapassada pela população mundial, que continua crescendo, embora de forma desacelerada. Assim, o espaço ocupado nas cidades precisa ser otimizado para que tanta gente possa viver bem. O que vemos então é uma verticalização urbana que de acordo com Oliveira (2016, apud SOUZA, 1994, p. 129), “[...] aparece como uma das principais modalidades de apropriação do espaço urbano no Brasil”. No entanto, para Farias (2000) e Taylesse (2010) moradias verticais fazem com que aumente a razão de pessoas por área, resultando em grande volume de lixo e resíduos nessa área, surgindo assim, a necessidade de controle e manuseio correto. A geração de lixo no Brasil avançou cinco vezes mais em relação ao crescimento populacional de 2010 a 2014 (ALENCAR e GRANDELLE, 2017), e, de forma clara, a verticalização contribui para tal. Após a produção ou utilização de qualquer material sólido, tanto em nível urbano quanto industrial ou agrícola, sobram resíduos. Especialmente em locais menos desenvolvidos, esses resíduos são descartados aleatoriamente; apenas em alguns casos, o descarte obedece a um tratamento regular, tal como nos países mais avançados (PEREIRA, VISCOTE, 2015). Os resíduos sólidos são muitas vezes chamados “lixo”, sendo considerados pelos geradores como algo inútil, indesejável ou descartável, compõem os restos das atividades humanas (FARIAS, 2000; TAYLESSE, 2010). Baseado nessas informações, apresentando infográficos montados a partir de dados coletados e catalogados, pesquisadores como Medeiros e Tellos (2017) procuram encontrar os pontuais problemas que vários condomínios enfrentam com os resíduos produzidos por seus moradores. Tendo em vista essa dificuldade, em suma nascida de uma precariedade informacional e de consciência ambiental da população como um todo, presente em shoppings, empresas e comunidades as pesquisas abordam questões pertinentes que permitem traçar o perfil social cenário do descarte adequado do lixo e diagnosticar qual seu nível de comprometimento e preocupação com o destino de seus resíduos (PEREIRA, VISCOTE, 2015). Desta forma, é possível inferir que o consumo, seja em sua produção, seja em seu descarte, reflete hábitos adquiridos pela sociedade no uso e apropriação dos recursos ecossistêmicos (GODECKE, NAIME e FIGUEIREDO, 2012). A percepção, por outro lado, expõe a valoração e a categorização atribuída ao “lixo” e, além disso, condiciona a identificação de problemas relacionados à produção de resíduos bem como o processo de responsabilização sobre seus impactos (RÊGO, BARRETO e KILLINGER, 2002). Nessa linha, o consumo consciente é, por conseguinte, um dos fatores determinantes para a promoção da correta gestão dos resíduos. A formação da consciência sustentável requer a implantação de uma educação que contribua para o desenvolvimento sustentável, isto é, pautada em uma mentalidade “ecologicamente correta, economicamente viável e socialmente justa” (ARANA e BIZARRO, 2016, p. 166). Assim sendo, Jacobi (2003, p. 10) aponta o surgimento de um campo fértil para pesquisa que permita responder às seguintes indagações: “Como os resíduos são percebidos dentro do ambiente escolar? Como a escola atua no desenvolvimento da consciência sustentável? A coleta seletiva faz parte do projeto pedagógico da escola?” Tais questões sinalizam que o ambiente escolar é o “espaço em que o aluno terá condições de analisar a natureza em um contexto entrelaçado de práticas sociais” (JACOBI, 2003). Considerando as pesquisas relacionadas nesse trabalho, o tema da gestão do lixo e resíduos sólidos constitui-se em tema relevante para o avanço de maiores pesquisas na área.