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INSTITUTO FEDERAL DE MATO GROSSO

TÉCNiCO EM MEIO AMBIENTE

ANA JULIA RODRIGUES DELGADO, SOFIA BORGES SILVA, YARA TRINDADE


MARTINS E YASMIN VITÓRIA FELIX HORTA PEREIRA

DESIGUALDADE SOCIAL E O MEIO AMBIENTE

CUIABÁ – MT

2022
ANA JULIA RODRIGUES DELGADO, SOFIA BORGES SILVA, YARA TRINDADE
MARTINS E YASMIN VITÓRIA FELIX HORTA PEREIRA

DESIGUALDADE SOCIAL E O MEIO AMBIENTE

Trabalho apresentado a professora de matemática


do instituto federal de Gato Grosso, Cuiabá.
Fazemos esse trabalho com o objetivo de
apresentar a relação entre a desigualdade social e
o impacto que a mesma causa no meio ambiente.

Professor (a): Juliana Furtado

CUIABÁ – MT

2022
O impacto das atividades antrópicas sobre o meio ambiente depende do tamanho da
população, do volume da produção e consumo de mercadorias e da tecnologia utilizada no
processo de desenvolvimento.

O fenômeno da destruição ambiental em curso anda de mãos dadas com a


desigualdade social e o fenômeno global da pobreza. As populações pobres são as mais
afetadas pela produção destrutiva do atual desenvolvimento capitalista. Esse fenômeno se
revela de várias formas: na falta de saneamento básico, ausência de água potável, “crise dos
alimentos”, além da população pobre habitar áreas de maior risco. Portanto, o combate à
desigualdade social depende também da conservação do meio ambiente. O
encaminhamento de ambos os problemas dependem de novas relações éticas, políticas e
econômicas, que se desenvolvem no âmbito da construção de uma nova sociabilidade para
além do domínio absoluto atual dos interesses do capital.

Diversos são os danos gerados ao meio-ambiente pelo crescimento urbano. Alguns


são problemas locais e outros acabam por afetar tanto o local quanto o planeta como um
todo. Contudo, o impacto da degradação ambiental é desigual entre pobres e ricos, quase
sempre afetando as pessoas mais pobres da maneira mais perversa, podendo infligir sérios
danos aos pobres, já que suas vidas dependem do uso de recursos naturais e suas condições
de vida oferecem pouca proteção contra poluição do ar, água e solo. De outro ponto de
vista, a pobreza pode induzir os pobres a depredar ainda mais os recursos naturais e
degradar o ambiente.
Antes da Revolução Industrial e Energética, o impacto demográfico e econômico
global era relativamente modesto e estava bem abaixo da capacidade de carga do Planeta. A
partir do uso de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo, gás, etc.) e da aplicação de
processos científicos e tecnológicos que possibilitaram um grande salto da produção e do
consumo na economia internacional.
O gráfico abaixo mostra que entre 1770 e 2020 o crescimento demoeconômico,
considerado o maior do que o de todo o período dos 200 mil anos anteriores, desde o
surgimento da humanidade. O enriquecimento humano ocorreu à custa do empobrecimento
do meio ambiente e embora este crescimento tenha ocorrido de forma desigual entre as
classes sociais, a grandes maiorias dos habitantes da Terra apresentaram um aumento do
padrão de consumo.
O sistema de produção e consumo de massa cresceu de tal forma que a maioria da
população mundial atualmente tem acesso a bens e serviços que nem as elites mais
privilegiadas tinham no século XVIII, tais como iluminação elétrica, geladeira, televisão,
carro, moto, ônibus, tratores, transatlânticos e imensos navios cargueiros, viagem de avião,
turismo, telefone, celulares, Internet, uma imensa variedade de comida e alimentos
processados, etc. 
Na visão do economista brasileiro Celso Furtado, no livro “O mito do
desenvolvimento econômico”, considerava que os países da periferia do sistema capitalista
seriam incapazes de reproduzir o padrão de consumo dos países ricos, pois o padrão de
desenvolvimento afluente não seria generalizável para a maioria da população mundial:
(…) que acontecerá se o desenvolvimento econômico, para o qual estão sendo
mobilizados todos os povos da terra, chegar efetivamente a concretizar-se, isto é, se as
atuais formas de vida dos povos ricos chegam efetivamente a universalizar-se? A resposta a
essa pergunta é clara, sem ambiguidades: se tal acontecesse, a pressão sobre os recursos
não renováveis e a poluição do meio ambiente seriam de tal ordem (ou alternativamente, o
custo do controle da poluição seria tão elevado) que o sistema econômico mundial entraria
necessariamente em colapso (Furtado,1974, p. 19).
Mas Celso furtado tinha razão ao dizer que caso houvesse a generalização do padrão
de consumo dos países ricos, o grau de degradação climática e ambiental não garantiria a
reprodução do modo de produção hegemônico, pois: “o sistema econômico mundial entraria
necessariamente em colapso”.
A produção de lixo no Brasil aumentou consideravelmente na última década. Em
2019 produzimos 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos. Essa quantidade é
20% maior que a observada em 2010 (66 milhões de toneladas), segundo estudos da
ABRELPE correspondentes ao ano de 2019.
Naturalmente, o aumento da população nesse período causou parte deste aumento.
Apesar disso, a geração per capita também cresceu. Em 2010 a geração média era de 348
kg/hab.ano, enquanto em 2019 foi de 379 kg/hab.ano, acréscimo de 9%.
Contudo, essa geração é bastante desigual no país. A região Sudeste é a maior
geradora per capita (449 kg/hab.ano). Essa quantidade é 62% maior que no Sul do país (277
kg/hab.ano). 
Apesar dos países desenvolvidos gerarem mais resíduos, dada a correlação “renda x
consumo”, estes costumam efetuar uma gestão mais adequada dos seus resíduos.
O Brasil perde R$ 14 bilhões por ano com a falta de reciclagem adequada do lixo.
Foram cerca de 12 milhões de toneladas de resíduos sólidos que, ao invés de gerarem
dinheiro e emprego, acabaram descartados no meio ambiente. Os dados, obtidos com
exclusividade pela CNN, são da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza
Pública e Resíduos Especiais). Por ano, são gerados quase 80 milhões de toneladas de lixo,
mas apenas 4% são reciclados.
O isolamento social e a prática do trabalho em casa aumentaram o volume de lixo no
Brasil. A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais
(Abrelpe) estima que as medidas de distanciamento social geraram no país um aumento de
15% a 25% na quantidade de resíduos residenciais. Já para os hospitalares, o cálculo é de um
crescimento de 10 a 20 vezes. De fato, todos os indicadores de degradação ambiental se
agravaram após o início da década de 1970, 
Em relação ao aquecimento global, o vetor principal do aumento do efeito estufa é a
emissão de CO2 decorrente da queima de combustíveis fósseis e de outras atividades
antrópicas que liberam gases de efeito estufa. Em menos tempo o mundo emitiu um
montante de 3,2 vezes mais CO2, o que tem a ver com o crescimento da economia
internacional e também o crescimento da classe média global.O mundo caminha para uma
situação inusitada e dramática, pois o nível minimamente seguro para evitar um
aquecimento global descontrolado (350 ppm) foi ultrapassado em 1987.
A perda de biodiversidade também se acelerou nas últimas 5 décadas, o avanço da
produção e consumo da humanidade tem provocado uma degradação generalizada dos
ecossistemas globais e gerado uma aniquilação da vida selvagem.
A década de 1970 marcou uma guinada na sustentabilidade do Planeta. O gráfico
abaixo, da Global Footprint Network, mostra que o mundo tinha superávit ambiental de 2,6
bilhões de hectares globais (gha) em 1961. Porém, com o crescimento demoeconômico, o
superávit se transformou em déficit a partir dos anos de 1970 e, em 2016, a pegada
ecológica total superou a biocapacidade total. Portanto, o déficit ecológico foi de 8,4 bilhões
de gha. Concluindo que a Terra está sobrecarregada em 70%.

Portanto, a humanidade ultrapassou a capacidade de carga da Terra exatamente


quando o crescimento da população e da economia aumentou a demanda por serviços
ecossistêmicos e elevou a poluição do ar, da terra e das águas. Nos últimos 50 anos não só a
população dobrou de tamanho como o consumo per capita aumentou muito não só entre a
população rica, mas principalmente entre a chamada “classe média”, mas também entre os
pobres. Mesmo tendo um impacto menor do que os ricos e a “classe média” o consumo da
população pobre também pesa sobre o meio ambiente, pois todas as pessoas precisam de
moradia, roupa, alimentos e água, sendo que a produção mundial de bens de subsistência
contribuiu para a crise climática e ambiental.
O crescimento da população mundial e o aumento do consumo per capita de
alimentos têm causado taxas sem precedentes de uso de terra e água, com a agricultura
atualmente respondendo por cerca de 70% do uso global de água. Adicionalmente, o
aumento da produção e consumo de alimentos contribuíram para o aumento das emissões
líquidas de gases de efeito estufa, perda de ecossistemas naturais e diminuição da
biodiversidade. O sistema alimentar responde por cerca de 30% de todas as emissões de
gases de efeito estufa e 80% do desmatamento global.
Desde a década de 1970, a população global dobrou e o Produto Interno Bruto global
quadruplicou. Essas tendências exigiram grandes quantidades de recursos naturais para
impulsionar o desenvolvimento econômico e as consequentes melhorias no bem-estar
humano. No entanto, esses ganhos têm um custo tremendo para o meio ambiente,
impactando, em última instância, no padrão de vida da população e exacerbando as
desigualdades dentro e entre os países. Portanto, a extração per capita de recursos está
aumentando e o sonho do desacoplamento entre crescimento econômico e uso de recursos
naturais está cada vez mais distante.
Indubitavelmente, o aumento insustentável da produção e do consumo propiciado
pela “máquina insana e insone de acumulação de capital e riqueza” é responsável pela atual
crise climática e ambiental. Mas seria ingenuidade achar que são somente os ricos que
provocam danos ao meio ambiente. A “classe média” mundial, tem assumido um peso cada
vez maior na degradação ambiental, ao emular o consumo básico em geral e o consumo
conspícuo dos ricos. Mesmo as parcelas pobres da população precisam de um nível mínimo
de consumo que não é desprezível quando se considera o tamanho desta população. Não
existe população sem consumo e nem consumo sem população, desta forma, não dá para
separar o consumo global da população global. População e consumo são dois lados da
mesma moeda que prejudica o meio ambiente. 
“O impacto ambiental é o produto do número de pessoas vezes que o uso de recursos
per capita. Em outras palavras, você tem dois números multiplicados um pelo outro – qual é
o mais importante? Se você mantiver uma constante e deixar a outra variar, você ainda está
multiplicando. Não faz sentido para mim dizer que apenas um número é importante. No
entanto, ainda é muito comumente dito. Suponho que faria algum sentido se pudéssemos
nos diferenciar histórica e geograficamente – para determinar em que ponto da história, ou
em que país, qual fator merecia maior atenção. Nesse sentido, eu diria que, certamente, para
os Estados Unidos, o consumo per capita é o fator crucial – mas ainda estamos multiplicando
pela população, então não podemos esquecer a população”.
Assim, para evitar um colapso ambiental decorrente do superconsumo e da
superpopulação, a única solução holística é o decrescimento demoeconômico. Neste
momento em que a humanidade já ultrapassou a capacidade de carga da Terra, somente a
redução do consumo global e da população global pode evitar um “Armageddon ecológico”
e o “Holocausto biológico”. Como disse Celso Furtado, a generalização do padrão de
consumo dos ricos é inviável em um Planeta finito e com recursos naturais limitados.
Sem dúvida, o padrão de consumo dos ricos é o principal fator do definhamento
ecológico e não dá para jogar toda a culpa da crise climática e ambiental na “classe média” e
muito menos na população pobre.
A população mais pobre é a mais afetada pela destruição ambiental posto que sofre a
um só tempo o impacto do aumento desmesurado do desemprego, que torna-se estrutural,
e da devastação ambiental com a proliferação de doenças, a favelização urbana, a falta de
água potável e de saneamento básico. A desigualdade social vem crescendo em todas as
partes do mundo sendo os dados escandalosos: 1% da população concentra 50% de toda a
riqueza do planeta e 70% da população global vive apenas com aproximadamente 3% da
riqueza produzida. Segundo o relatório das Nações Unidas de 2020, a renda e a riqueza
estão cada vez mais concentradas no topo da lista de países mais ricos. A parcela dos 1%
mais ricos aumentou em quase todos os países mais ricos, enquanto que os países mais
pobres viram sua renda e riqueza diminuir.
 Neste sentido, é possível afirmar que a manutenção de uma estrutura social que
promove a permanência, e muitas vezes o aumento da pobreza mundial, é a responsável
pela mesma dinâmica que provoca a devastação ambiental; sendo desta forma duas faces
do mesmo processo de produção destrutiva na nova fase do capitalismo globalizado.
 O aumento da produtividade do trabalho e da rotação do capital que o acompanha,
ao reduzir a taxa de utilização das mercadorias produzidas, seja pelo lançamento de novos
produtos ou similares, seja pela planejada obsolescência dos mesmos, transforma
crescentemente as mercadorias em dejetos ou entulhos, provocando o desmesurado
aumento da destruição ambiental. Assim, neste processo, os seres humanos são vistos como
“recursos humanos” ou “mão-de-obra”, e a natureza como “recursos naturais” inesgotáveis,
para um processo irracional de produção de massa. O meio ambiente está cada vez mais
precarizado e os números de lixos e entulhos só aumentam, devido a ganância e a ignorância
do ser humano. 
 Essa acumulação extrema de lixo e desmatamento que vem acontecendo tem
afetado mais as classes pobres, até porque quem sente os impactos ambientais e o descarte
incessante de dejetos, que em sua maioria são tóxicos, são eles. E devido a sua falta de voz e
de poderes aquisitivos eles não podem fazer muita coisa a não ser aceitar.
Mas também não dá para ignorar que o mundo teria déficit ecológico, mesmo se
“eliminarmos” os ricos da contabilidade ambiental. Ou seja, não basta apenas lutar contra as
desigualdades sociais, pois é preciso também reduzir o tamanho e o volume das atividades
antrópicas que impactam negativamente a natureza.

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