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Atividade Estudos de Caso – Soberania Alimentar

Atividade proposta do GEA, na Jornada Universitária em Defesa


da Reforma Agrária, maio de 2023

A metodologia de estudos de caso consiste em trabalhar com exemplos de situações


problema, descritos de forma sistematizada, e a partir da reflexão sobre elas, encontrando
soluções ou não, e analisando criticamente a realidade concreta em que vivemos.
As 6 situações problemas desta atividade foram retiradas de matérias jornalísticas
atuais, e que falam de situações diversas onde podemos identificar injustiças ambientais.
Foram reescritas resumidamente para ficar mais acessível, porém, sem perder o caráter de
descrever a realidade. Nos estudos de caso vemos situações de injustiças que se apresentam
no agronegócio, na contaminação da água, no avanço da fome, nas enchentes e suas
consequências, na privatização de recursos naturais como a água e etc.
A atividade proposta pode ser adaptada e os estudos de caso podem ser reelaborados
de acordo com a intencionalidade pedagógica desejada. Pode-se optar em trabalhar com
diferentes estudos de caso, um para cada grupo ou indivíduo, ou trabalhar com apenas um
estudo de caso com a turma toda, e observar as diferentes reflexões que cada grupo ou
indivíduo faz sobre o mesmo caso.

Metodologia:

Dividir a turma em grupos (ou trabalhar individualmente, porém ao se trabalhar em


grupo o debate é mais rico). Distribuir para cada grupo um estudo de caso diferente, e deixar
por 20 a 30 min que os grupos reflitam sobre a situação problema.
A ideia é que cada grupo ao final deste tempo de reflexão, apresente para a turma o
caso e suas reflexões, a partir de algumas perguntas disparadoras. Nesta atividade as
perguntas disparadoras foram as mesmas para todos os grupos, e tentam instigar o
pensamento crítico sobre as injustiças socioambientais que ali se apresentam.
Pode-se propor que os grupos façam essa apresentação para a turma toda explorando
diferentes linguagens: na forma de texto, poema, verso, teatro, desenho… O importante é
instigar o pensamento crítico e o debate coletivo! Ao final, pode-se propor uma produção
coletiva com os resultados destas reflexões, como por exemplo, um jornalzinho da turma, uma
cartilha, ou um programa de rádio. Também como desdobramento desta atividade, pode-se
propor a produção de um texto individual sobre o que é Injustiça Ambiental. Vamos lá!
Recordes no agronegócio e aumento da fome no Brasil:
Como isso pode acontecer ao mesmo tempo?

Estudo de Caso 1

Cerca de 33,1 milhões de brasileiros vivem em situação de fome, 14 milhões a mais que
em 2020. Quadro é equivalente ao da década de 1990. Em números absolutos, são 14 milhões
de pessoas a mais passando fome no país. Os dados são do 2º Inquérito Nacional sobre
Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede
Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN).
Com o desemprego, a renda da população caiu. Em paralelo, o preço dos alimentos
subiu, dificultando o acesso pelos mais pobres, que carecem de programas sociais mais
estruturados. O Brasil, apesar de grande na agricultura, foca em algumas culturas específicas,
voltadas para a exportação. Um exemplo é a soja – que representa mais da metade da
produção de grãos do país e não necessariamente é transformada em alimento para consumo
humano.
Em 2020, em meio às dificuldades econômicas geradas pela pandemia, o agro foi o
único setor a crescer. A área também teve aumento recorde de 24,31% no PIB do setor.
89% de todos os grãos produzidos no país no ano passado foram de milho e soja, diz
Paulo Petersen, agrônomo e pesquisador integrante do Núcleo Executivo da Articulação
Nacional de Agroecologia (ANA). Sobre a relação da fome e avanço do agronegócio ele afirma:
"Basicamente tanto um como o outro é voltado para a exportação. Então, a produção interna é
muito voltada para a indústria e não diretamente para o consumo humano, isso que explica a
aparente contradição”.
Ao longo da pandemia no Brasil, o quilo do arroz subiu quase 70%; o feijão preto, 51%;
a batata, 47%; a carne, quase 30%; leite, 20%; e o óleo de soja alta de 87%.
Apesar dos altos preços, a produção destes alimentos não se tornou tão atrativa para o
produtor porque a pandemia elevou os custos da indústria de alimentos, sendo, inclusive, um
dos motivos para seu encarecimento nas prateleiras. Por causa disso, quem optou por
continuar plantando alimentos que chegam a mesa da população, acabou sendo prejudicado.

Vamos refletir:
- Vocês conseguem relacionar esse caso com soberania alimentar? Como?
- A questão agrária aparece nesse caso? Como ela se relaciona com a produção de alimentos
e a soberania alimentar?
- Vocês conseguem perceber alguma relação entre conflito social e a construção da soberania
alimentar?

Notícia de referência:
https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2021/08/11/recordes-no-agronegocio-e-
aumento-da-fome-no-brasil-como-isso-pode-acontecer-ao-mesmo-tempo.ghtml

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A crise hídrica, a questão alimentar e o flagelo da fome

Estudo de caso 2

Dia 22 de março foi celebrado o Dia Mundial da Água. Será que devemos celebrar ou
devemos lutar pela água? Lembrando que o acesso a água potável é um direito fundamental a
manutenção da vida humana.
Para início desse estudo, vamos deixar claro que: a Terra é redonda, a água não é um
bem natural e, sim, é finita, uma vez que o consumo é maior que a capacidade do planeta em
regenerar esse bem. Outro ponto importante é que, em 2022 saiu o segundo relatório chamado
Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar e Nutricional no contexto da Pandemia, no qual
alerta que há 33 milhões de brasileiros em situação de fome no país. Os domicílios mais
atingidos são aqueles chefiados por mulheres que se autodenominam pretas ou pardas. A
região de mais impacto são as rurais.
O agronegócio é um modelo de negócio direcionado a agropecuária. É basicamente
operado por oligopólios e por latifúndios que produzem commodities. O agronegócio opera com
a lógica da concentração de renda e produção intensiva. Consome quantidades absurdas de
água para a produção de carne e de grãos direcionados a exportação contribuindo para
problemas ambientais como o desmatamento, queimada e envenenamento de água, solo e ar.
Essas práticas intensificam a crise hídrica.
“A pior crise hídrica em 91 anos ameaça a produção de energia e de alimentos e
refletem os impactos ambientais do agronegócio”, esta é a legenda da foto que abre uma
reportagem do Brasil de Fato que saiu no dia 17 de outubro de 2021. A reportagem traz os
desdobramentos no Brasil de um alerta emitido pela Organização Mundial de Meteorologia
(OMM) por meio do documento Situação dos Serviços Climáticos 2021: Água. Este documento
diz que o mundo pode enfrentar, em breve, uma crise hídrica global caso países não adotem
medidas direcionadas a uma gestão consciente e sustentável de seus recursos hídricos.
De forma reduzida, pode-se dizer que uma crise hídrica se caracteriza por uma situação
de desabastecimento (ou falta) de água para consumo humano. São várias as causas ou
agravantes de uma crise hídrica, desde a falta de investimento na manutenção e na criação de
uma infraestrutura adequada à reserva e ao abastecimento, períodos de estiagem prolongada
(secas), má gestão dos recursos hídricos, passando por problemas associados ao consumo
(industrial, nas atividades agropecuárias e no consumo doméstico), e, sobretudo, em
decorrência de problemas ambientais.
O Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos
2021 indica que a escassez de água tem origem na intensa urbanização, no consumo
associado à produção agrícola e nos problemas ambientais. No caso do Brasil, a falta de chuva
combinada com as atividades do agronegócio resultou na atual crise hídrica. Segundo a
Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA), o setor do agronegócio é responsável pelo
consumo de 72% dos recursos hídricos do país. Este mesmo setor é também responsável pelo
desperdício de cerca de 70% da água em seus processos produtivos, alega a ONG SOS Mata
Atlântica.

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E aqui reside um esclarecimento necessário. Sabe-se que todo consumo exacerbado,
sem consciência, tende a gerar desperdício e, certamente, é imperativo evitá-lo. Mas é
relevante informar adequadamente: o consumo individual não é o vilão da crise hídrica. O
consumo das atividades produtivas, especificamente do setor agropecuário, é, de longe, o
maior consumidor deste recurso. Mas, ao contrário do que se pode supor, o agronegócio sofre
menos com a crise. Os consumidores individuais, os domicílios familiares, estes sim sofrem e
na maioria das vezes sofrem de forma cumulativa. Vejamos como isso ocorre.
No que tange a produção de alimentos, a crise hídrica afeta principalmente os
pequenos agricultores, que são a base da agricultura familiar, que são responsáveis por cerca
de 80% do alimento produzido e que vai pra nossa mesa. Esta crise afeta suas pastagens, os
desenvolvimentos dos frutos, afeta os preços dos insumos agrícolas e a irrigação são
insuficientes. Consequentemente temos uma elevação no preço final dos alimentos produzidos.

Vamos refletir:
- Vocês conseguem relacionar esse caso com soberania alimentar? Como?
- A questão agrária aparece nesse caso? Como ela se relaciona com a produção de alimentos
e a soberania alimentar?
- Vocês conseguem perceber alguma relação entre conflito social e a construção da soberania
alimentar?

Notícia de referência
https://www.brasildefatopb.com.br/2021/10/17/a-crise-hidrica-a-questao-alimentar-e-o-flagelo-
da-fome

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Pois é, na sua água tem veneno...
Estudo de caso 3

Esclarecendo um conceito antes da leitura: agrotóxicos são produtos químicos sintéticos


utilizados por agricultores que tem como objetivo eliminar algo que eles denominam como
praga. Essas pragas podem ser: insetos, larvas, fungos e plantas que competem com a cultura
plantada. Quando o intuito é eliminar um ser vivo, ou seja, exterminar uma vida, este produto é
um biocida. Esses biocidas ao serem pulverizados nas lavouras sejam por aviões, por
maquinários pesado ou de forma manual, contaminam e envenenam pessoas, terra, ar, solo e
a própria planta que esta substância deveria estar protegendo. Ruralistas tentam emplacar a
nomenclatura de “defensor agrícola”, mesmo quando já é comprovado que provocam, entre
outras, mutações genéticas, cânceres, abortos, má formações fetais e cegueira.

Vamos ao caso!
Dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo
Humano (Sigagua), órgão ligado ao Ministério da Saúde, publicou um levantamento que mostra
a situação das águas nas cidades brasileiras. A pesquisa indicou que mais da metade dos
municípios brasileiros tem rios contaminados por agrotóxicos.
Os números mostram que 27 tipos de agrotóxicos foram encontrados nas torneiras de
mais de 2.300 cidades do país. Esses biocidas estavam na água mesmo após o tratamento
feito pelas empresas de saneamento básico, e foram encontrados depois da utilização de filtros
domésticos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) classifica a exposição a 16
substâncias agrícolas como extremamente ou altamente tóxicas. A taxa de agrotóxicos
encontrados é considerada alarmante em um em cada quatro das cidades.
Durante a gestão do governo Bolsonaro, 2.182 novos agrotóxicos foram liberados.
Muitos proibidos na maior parte do mundo, especialmente na Europa e Estados Unidos.
Contudo, são justamente empresas europeias e norte-americanas que produzem esses
compostos e vendem para países em desenvolvimento.
O deputado estadual por Mato Grosso Lúdio Cabral (PT) quer obrigar empresas
fornecedoras de água a informar na conta a presença de agrotóxicos encontrados no sistema
de abastecimento. O objetivo é conscientizar a população sobre a quantidade de veneno
utilizada no agronegócio. Mato Grosso é o estado que mais utiliza esses produtos, com 200
milhões de litros despejados por ano no solo.
De acordo com Cabral, não há como separar a água que as pessoas consomem de
muitos venenos utilizados no agronegócio. Então, cabe ao Estado garantir a publicidade dos
fatos e assegurar que o consumidor saiba o que tem em cada copo de água. “Infelizmente não
existe tecnologia para retirar o veneno da água, por isso as empresas de abastecimento não
conseguem descontaminar a água que chega com agrotóxicos na casa das pessoas”.

Vamos refletir:
- Vocês conseguem relacionar esse caso com soberania alimentar? Como?

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- A questão agrária aparece nesse caso? Como ela se relaciona com a produção de alimentos
e a soberania alimentar?
- Vocês conseguem perceber alguma relação entre conflito social e a construção da soberania
alimentar?

Notícias de referência
https://cultura.uol.com.br/noticias/48053_metade-das-cidades-brasileiras-possui-agua-
contaminada-por-agrotoxicos.html

https://www.redebrasilatual.com.br/ambiente/deputado-apresenta-projeto-para-que-contas-de-
agua-tragam-informacao-sobre-agrotoxicos/

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Autismo, Parkinson, Alzheimer, anencefalia, câncer.
O que o glifosato tem a ver com isso?

Estudo de caso 4

São Paulo – Milhares de ativistas em mais de 30 países, em todos os continentes,


foram às ruas hoje (20) na 6ª Marcha Internacional contra a Monsanto, gigante do setor
agroquímico e de biotecnologia de origem norte-americana. O alvo das manifestações, dessa
vez, é o Roundup, nome comercial do agrotóxico mais vendido no mundo. Seu princípio ativo, o
glifosato, vem sendo usado cada vez mais desde meados da década de 1970, com a entrada
no mercado das sementes transgênicas, a grande maioria delas produzidas pela própria
Monsanto. Com a suposta promessa de maior produção, essas sementes foram geneticamente
modificadas para resistir a doses cada vez maiores desse e de outros venenos.
Os manifestantes querem chamar atenção para a presença indesejável, nociva e cada
vez maior de resíduos não só nos grãos, legumes, verduras e frutas que recebem esse
agrotóxico como também em amostras de água da chuva, no leite materno, em fórmulas para
alimentação infantil e até em vacinas.
O tema é de grande importância para o Brasil, que se tornou o maior consumidor de
agrotóxicos do mundo. Nos últimos dez anos, segundo o IBGE, a venda de pesticidas no
mercado agrícola brasileiro saltou de R$ 6 bilhões para R$ 26 bilhões, o que permitiu
ultrapassar a marca de 1 milhão de toneladas – um consumo médio de 5,2 kg de veneno para
cada habitante. Para piorar o quadro, avançam projetos de lei que pretendem incentivar ainda
mais esse mercado.
Estudos que a indústria e muitas agências governamentais tentam ignorar ou até
mesmo desqualificar apontam que o advento do glifosato está associado ao crescente registro
de doenças pouco comuns até o produto passar a ser largamente utilizado.

Anencefalia
Recentemente, o chamado caso Yakima Valley, no estado norte-americano de
Washington, chamou atenção para o aumento incomum de nascimento de bebês com
anencefalia, condição neurológica caracterizada pelo cérebro em tamanho bem menor que o
normal para a idade, que coloca em risco a vida e o desenvolvimento motor e cognitivo.
Segundo o próprio departamento estadual de Saúde, os registros aumentaram 8 vezes entre os
anos de 2010 e 2013, tornando-se quatro vezes maior que a média nacional. E isso pouco
tempo depois que o estado implementou um programa de capina química à base de glifosato,
que contaminou rios.

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Autismo
Segundo explica Garcia, o organismo humano e dos animais depende do chamado
microbioma intestinal, ou flora intestinal, composto por trilhões de células de dezenas de
milhares de espécies de bactérias e leveduras – todos eles afetados pela ação do glifosato.
Esta constatação é a relação mais robusta entre o autismo e o glifosato. Conforme o
agrônomo, estudos mostram que crianças autistas têm níveis reduzidos de manganês no
sangue, um mineral do qual os lactobacillus e outros microrganismos que colonizam o
microbioma intestinal são extremamente dependentes.
Além disso, o manganês atua no processo de conversão dos aminoácidos glutamato a
glutamina, essenciais na redução do nível de amônia que no cérebro causam alterações, as
chamadas encefalopatias. “Crianças autistas têm problemas de encefalopatia crônica de baixo
grau”, afirma Garcia. Outra evidência vem de uma pesquisa de 2012, que aponta baixo teor de
manganês na primeira dentição associado ao autismo.

Parkinson e depressão
Na segunda patente, segundo Garcia, a Monsanto afirma que o glifosato interfere em
uma via bioquímica do metabolismo vegetal que participa da síntese de alguns aminoácidos
importantes tanto para as plantas como para o organismo humano. É o caso do triptofano, que
o cérebro utiliza para produzir serotonina, mais conhecido como o hormônio do bem estar, a
fenilalanina, que entra na composição de muitas proteínas necessárias para o organismo, e a
tirosina, que atua na produção de neurotransmissores envolvidos em funções neurológicas
relacionadas a funções cognitivas, de memória e humor, entre outras. Daí estar associado a
quadros cada vez mais comuns de Parkinson.
“E ao bloquear a síntese desses aminoácidos, o glifosato impede a produção de alguns
neurotransmissores, como a serotonina. Vale dizer que a falta de serotonina produz depressão,
uma verdadeira epidemia em nossos dias. E depressão é deficiência de serotonina. Não de
antidepressivos”, ressalta o agrônomo.

Vamos refletir:
- Vocês conseguem relacionar esse caso com soberania alimentar? Como?
- A questão agrária aparece nesse caso? Como ela se relaciona com a produção de alimentos
e a soberania alimentar?
- Vocês conseguem perceber alguma relação entre conflito social e a construção da soberania
alimentar?

Notícias de referência
https://www.redebrasilatual.com.br/saude-e-ciencia/autismo-parkinson-e-outras-doencas-
modernas-na-rota-do-glifosato

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Natura: "Os negócios têm o poder de regenerar a
Amazônia"
Estudo de caso 5

Essa é a opinião de Denise Hills, diretora global de sustentabilidade da empresa. Para


a executiva, as companhias deveriam se empenhar para criar cadeias de valor que mantenham
a floresta em pé.
Quanto mais empresas trabalharem a favor da floresta amazônica, mais rápida será a
recuperação do bioma, e mais perto estaremos do fim da crise climática. É o que diz Denise
Hills, diretora global de sustentabilidade da Natura. Ela vê o trabalho realizado pela companhia
na região como um modelo a ser seguido por outros empresários.
“O mais importante é partir dos produtores locais, de todo o conhecimento tradicional
que já existe na floresta”, diz Denise. “Depois, você faz um estudo detalhado da biodiversidade,
de olho em ingredientes que possam ser utilizados em uma cadeia de valor. E aí descobre uma
maneira de gerar impacto positivo para as comunidades.” Este é o princípio de uma
bioeconomia sustentável, segundo a executiva.
Com suas parcerias na região, a Natura já colaborou para a conservação de 2 milhões
de hectares da floresta e para o bem-estar de mais de 7 mil famílias de 34 comunidades. O
projeto mais recente é o PlenaMata, uma parceria entre Natura, MapaBiomas, InfoAmazonia e
Hacklab, que tem como objetivo monitorar o desmatamento em tempo real.

Vamos refletir:
- Vocês conseguem relacionar esse caso com soberania alimentar? Como?
- A questão agrária aparece nesse caso? Como ela se relaciona com a produção de alimentos
e a soberania alimentar?
- Vocês conseguem perceber alguma relação entre conflito social e a construção da soberania
alimentar?

Notícias de referência
https://epocanegocios.globo.com/Vozes-da-Amazonia/noticia/2022/04/natura-os-negocios-tem-
o-poder-de-regenerar-amazonia.html

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Acampamento do MST em MG é alvo de despejo em
meio à pandemia

Estudo de caso 6
O acampamento Quilombo Campo Grande, que reúne 450 famílias sem-terra no
município de Campo do Meio, localizado no sul de Minas Gerais, é alvo de despejo. A ação
conta com dezenas de viaturas e policiais de outras cidades.
A reintegração de posse, que prevê a retirada da vila de moradores e da estrutura da
Escola Popular Eduardo Galeano, foi emitida pela Justiça estadual mesmo sob decreto de
calamidade pública em Minas Gerais devido à pandemia do novo coronavírus. As famílias
seguem no local e tentam negociar a permanência na área. Até o momento, apenas a área da
Escola foi reintegrada.
Integrantes da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST)
denunciam que a responsabilidade por feridos ou mortes em decorrência de um conflito direto
com as forças policiais são de responsabilidade do governador Romeu Zema (Novo), que
permitiu o despejo em meio à crise de saúde pública sem precedentes no país.
Segundo o MST, a decisão descumpre acordo firmado em mesa de diálogo sobre o
conflito, para que as famílias permanecessem no local ao menos enquanto houvesse
necessidade de isolamento social.
Ainda de acordo com o movimento, a ostensividade policial é frequente contra os
acampados. Em 30 de julho, por exemplo, mais de 20 policiais invadiram casas no
acampamento e prenderam o sem-terra Celso Augusto, conhecido como Celsão, que foi
liberado no mesmo dia.
Conforme relataram os acampados, os agentes entraram nos imóveis armados de fuzis
e pistolas, quebrando portas e janelas. O MST denuncia ainda que, no dia anterior ao despejo,
a polícia rondou o acampamento com viaturas e drones, intimidando as famílias.
Os acampados vivem na área da usina falida Ariadnópolis, da Companhia Agropecuária
Irmãos Azevedo (Capia), que encerrou as atividades em 1996. As famílias do Quilombo Campo
Grande ocupam o terreno desde 1998 e são referência na produção agroecológica. A região do
sul de Minas, conhecida por ser a maior produtora de café do Brasil, é berço do café orgânico e
agroecológico Guaií. Os agricultores também desenvolvem atividades como plantio de cereais,
milho, hortaliças e frutas.

Vamos refletir:
- Vocês conseguem relacionar esse caso com soberania alimentar? Como?
- A questão agrária aparece nesse caso? Como ela se relaciona com a produção de alimentos
e a soberania alimentar?
- Vocês conseguem perceber alguma relação entre conflito social e a construção da soberania
alimentar?

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Notícias de referência
https://www.brasildefato.com.br/2020/08/12/acampamento-do-mst-em-mg-e-alvo-de-despejo-
em-meio-a-pandemia

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Integrantes do MST invadem áreas de empresa de
celulose e papel no extremo sul da Bahia

Estudo de caso 7

Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram áreas
de uma empresa de celulose e papel em Caravelas, Teixeira de Freitas e Mucuri, cidades do
extremo sul da Bahia, na madrugada desta segunda-feira (27).
As áreas fazem parte da empresa Suzano Papel e Celulose, que informou, por meio de
nota, que não vê legalidade na invasão e tomará as medidas cabíveis. A Suzano assegurou
que gera na região aproximadamente sete mil empregos diretos, mais de 20 mil postos de
trabalho indiretos e beneficia cerca de 37 mil pessoas pelo efeito renda.
De acordo com representantes do MST, a ação tem 1.550 pessoas e o objetivo é fazer
uma denúncia contra o crescimento das monoculturas na região, como a do eucalipto. Segundo
eles, a plantação tem provocado êxodo rural e causado problemas hídricos.
Além disso, os integrantes são contra os agrotóxicos que, segundo eles, são usados
pela empresa. O uso do pesticida seria responsável por prejudicar as áreas cultivadas pelas
famílias camponesas.
Em nota, a Suzano informou que cumpre integralmente as legislações ambientais e
trabalhistas nas áreas em que mantêm operações. A empresa reconhece a relevância da sua
presença nas áreas onde atua e reforça seu compromisso por manter um diálogo aberto e
transparente, de maneira amigável e equilibrada.
Somente em seus projetos sociais, programas e iniciativas na região, a empresa
alcançou mais de 52 mil participantes diretos e indiretos, em 82 comunidades e mais cinco
sedes municipais, com um investimento de mais de R$ 10,3 milhões em 2022.
Até o final da manhã de quinta (2), os integrantes do MST continuavam nas áreas e, de
acordo com a assessoria do MST, mantinham a derrubada dos eucaliptos. Após a retirada, são
plantadas árvores nativas e frutíferas, como mangueiras e goiabeiras.

Vamos refletir:
- Vocês conseguem relacionar esse caso com soberania alimentar? Como?
- A questão agrária aparece nesse caso? Como ela se relaciona com a produção de alimentos
e a soberania alimentar?
- Vocês conseguem perceber alguma relação entre conflito social e a construção da soberania
alimentar?

Notícias de referência
https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2023/02/27/integrantes-do-mst-ocupam-areas-de-
empresa-de-celulose-e-papel-no-sul-da-bahia.ghtml

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