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AMBIENTAL
Lucimeire Pessoa de Lima
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SUMÁRIO
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Apresentação
Bons estudos!
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A partir do século XV, portugueses, espanhóis e outros povos saíram da Europa rumo à
América e outras localidades do globo com objetivos comerciais, mas também de
expansão territorial. Durante alguns séculos, as representações dos territórios
explorados e colonizados eram feitas através de pinturas, desenhos e cartas. Esses
registros eram muito importantes para contar como era o nosso ambiente por aqui: o
relevo, os corpos d´água, as plantas, os animais e os povos originários do nosso
continente. Esse processo durou quase quatro séculos e, no início do século XIX, foi
fundada a Missão Artística Francesa no Rio de Janeiro, que tinha dentre seus
professores Jean-Baptiste Debret, importante pintor de paisagens dessa época.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Jean_baptiste_debret_-_ca%C3%A7ador_escravos.jpg.
Figura 1.1 — O Caçador de Escravos, quadro de Debret que mostra várias espécies
vegetais, o relevo e um pouco do cotidiano dos povos colonizados.
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No Brasil, segundo dados de Santos (1996), é entre as décadas de 1960 e 1970 que a
população passa a ser majoritariamente urbana. Segundo o site do IBGE (2022), as
populações urbana e rural brasileiras representavam, respectivamente, 87,1% e 12,9%
em 2020. Só no Brasil, mais de 20% da população vive em 17 municípios com mais de 1
milhão de habitantes (BRASIL, 2021).
Entretanto, é mais difícil e caro gerir os problemas ambientais causados por grandes
cidades: não é possível contar com a natural transformação e dispersão dos poluentes
gerados por essas gigantescas populações como única forma de devolver a qualidade
ao ambiente. A poluição dos rios por dejetos humanos, por exemplo, se não for
volumosa, a própria fauna e flora é capaz de absorvê-la e devolver a qualidade à água,
o mesmo não acontece quando o volume dessa poluição ultrapassa a capacidade de
regeneração do ambiente.
A vida humana depende da saúde do planeta, tanto em escala global, como em escala
local. É imprescindível que comecemos a compreender mais profundamente nossas
interações com o planeta. Precisamos mudar de atitude.
Quando alguém joga uma bituca de cigarro na rua, não se dá conta que esse pequeno
resíduo pode parar no sistema de coleta de águas pluviais, rumar até os rios e atingir,
mesmo que só em termos de elementos químicos poluentes, os oceanos. Da mesma
forma, como arquitetos e profissionais de paisagismo, somos responsáveis por
escolhas como impermeabilizar ou não o solo, escolher espécies nativas ou exóticas,
utilizar materiais existentes na região ou trazidos de longe, que gastam mais ou menos
energia na sua fabricação etc. Todas essas escolhas vão ocasionar diferentes impactos
na natureza e contribuir, ou não, para a preservação do meio ambiente.
de casas nos subúrbios, distantes dos centros urbanos. Esses elementos acarretam alta
propensão à obesidade da população, horas diárias despendidas no trânsito ou dentro
de automóveis, pouco contato com a natureza e quase nenhuma atividade física. Além
dos impactos diretos na saúde física e psíquica das pessoas, esse modo de vida
aumenta muito a poluição atmosférica global, pelo excesso de queima de combustíveis
fósseis e impacta, diretamente, o meio ambiente pelo alto consumo de energia e
matérias-primas para alimentar as demandas desse imenso mercado consumidor.
Sua origem está relacionada à antiga e milenar tradição dos jardins. No Brasil durante
muito tempo, no Império e na República, foram utilizados modelos formais para os
espaços livres, inspirados nas tradições inglesa ou francesa. Os jardins ingleses
remetiam a uma imitação da natureza, com características formais mais livres;
enquanto os jardins franceses, advindos da tradição renascentista italiana (em que
imperava a geometria e a simetria), utilizavam a poda das espécies vegetais, numa
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XX, a vinda de paisagistas franceses ao Brasil e à América Latina foi importante para a
implantação do paisagismo no continente. Desde a segunda década do século XX,
distinguiram-se outras correntes paisagísticas, associadas ao movimento modernista.
Destaca-se nesse contexto, Mina Klabin, responsável pelo projeto paisagístico das
casas projetadas pelo seu marido, Gregori Warchavchik, autor da primeira casa
modernista (SILVA, 2008).
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Em 1962, Rachel Carson escreveu o livro “Primavera Silenciosa”, que tratava das
consequências do uso indiscriminado de agrotóxicos, mostrando um estudo sobre o
impacto do uso do DDT na agricultura norte-americana nas décadas de 1940 e 1950.
Além do minucioso estudo científico, Carson apresenta argumentos contra a crença
ilimitada no progresso tecnológico. Também podemos citar o livro “Design with
Nature”, escrito em 1969 por Ian McHarg, que como muitos de sua geração faz uma
ligação direta entre cidade e doença. Nele o autor se opõe duramente à poluição,
feiura e falta de vegetação de sua cidade nativa, Glascow. Ambos, Carson e McHarg,
inspiraram o movimento ambientalista que cresce a partir da década de 1960,
desembocando em diversas vertentes (FARR, 2008).
Outro potente discurso sobre o desequilíbrio ambiental foi o livro “Gaia: uma nova
visão da vida na Terra”1, escrito em 1972, por James Lovelock, meteorologista da
NASA, que descreve a contundente hipótese Gaia. Nela, a fina casca habitada pela vida
na Terra foi descrita como um sistema autorregulado e em evolução, dotado de vida e
inteligência, mas que estava sofrendo danos irreparáveis pela ação humana. Lovelock
acreditava que haveria possibilidade de sobrevivência da espécie humana se
mudássemos de atitude em relação à Gaia. Uma de suas maiores preocupações era o
aquecimento global gerado pela queima de combustíveis fósseis, por isso propõe a
substituição das fontes de energia poluentes por fontes limpas, como a energia
nuclear.
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Outro livro recente (2006) de Lovelock é A vingança de Gaia (o título completo em inglês é The revenge
of Gaia: why the earth is fighting back, and how we can still save the humanity.
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Em 1988, o PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – e a OMM
– Organização Meteorológica Mundial, se uniram para criar o IPCC – Painel
Intergovernamental para as Mudanças Climáticas, que se tornou a principal fonte de
informações científicas relacionadas às mudanças climáticas. Em 1997, foi adotado o
Protocolo de Kyoto, que estabeleceu metas obrigatórias de redução das emissões dos
gases causadores do efeito estufa para 37 países industrializados e para a comunidade
europeia (CETESB, 2020).
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Além desse cenário voltado à questão ambiental, Franco (1997) mostra que o estudo
acadêmico do paisagismo e sua história valorizou a atuação profissional e formou a
base formal e técnica desse ramo do conhecimento, culminando na atuação de figuras
como Roberto Burle Marx, Silvia Crowe, Ernest Cramer, Luis Barragán, Garret Eckbo,
Kevin Lynch, Donald Appleyard, Jane Jacobs, Lawrence Halprin e Ian Mcharg. Também
gostaríamos de incluir a importante paisagista brasileira Rosa Kliass, que fez inúmeros
projetos de espaços públicos em São Paulo, destacando-se o projeto paisagístico da
Av. Paulista (1973), a reurbanização do Vale do Anhangabaú (1981) – ambos não
existem mais – e o Parque da Juventude (2003).
Há pelo menos sete mil anos, as cidades fazem parte do mundo habitado pelo ser
humano. Nelas se dão os grandes avanços e recuos da humanidade, a história da
civilização manifesta-se nos espaços urbanos. As diferentes paisagens urbanas têm
revelado as singularidades dos períodos históricos em que apareceram: as cidades-
Estados gregas como Atenas, Esparta, Tebas, Creta e Troia com seus monumentais
templos e edifícios públicos, espelhavam as características de suas sociedades; assim
como as protegidas cidades muradas da Idade Média, reflexos de suas sociedades
fechadas, sem mobilidade social e dominadas pelo clero, que detinha conhecimento
guardado. Durante a Revolução Industrial, já no século XIX da nossa era, as cidades
crescem com a imigração do campo e passam a ser os locais onde se dão os avanços
sociais, tecnológicos, culturais e políticos.
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A cidade é um jardim de granito, composto por muitos jardins menores, disposto num
“mundo-jardim”. Partes do jardim de granito são cultivadas intensivamente, mas a
maior parte não é reconhecida e é negligenciada.
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Além disso, a área ambiental também abarca a escala do Planejamento Territorial, com
trabalhos como levantamento físico-territorial, socioeconômico e ambiental;
diagnóstico socioeconômico e ambiental; plano de desenvolvimento regional; plano de
desenvolvimento metropolitano; plano de desenvolvimento integrado do turismo
sustentável – PDITs; plano de desenvolvimento de região integrada – RIDE; plano
diretor de mobilidade e transporte. Na escala do planejamento urbano, estão
levantamento ou inventário urbano; diagnóstico físico-territorial, socioeconômico e
ambiental; planejamento setorial urbano e plano de intervenção local.
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Conclusão
REFERÊNCIAS
FARR, D. Sustainable urbanism: urban design with nature. Nova Jersey: John Willey &
Sons, 2008.
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ROGERS, R. Cidades para um pequeno planeta. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, S.A.,
2001.
WORLD WIDE FUND FOR NATURE. Pegada ecológica? O que é isso? WWF, 22 jan.
2022. Disponível em: https://bit.ly/3N89V2v. Acesso em: 12 maio 2022
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2 PROJETO PAISAGÍSTICO
Apresentação
Neste bloco vamos abordar as principais fases do projeto paisagístico, lembrando que
este é apenas uma das atribuições profissionais possíveis do(a) arquiteto(a) paisagista.
Trataremos das informações necessárias para iniciar um projeto e como delinear
diretrizes para o seu desenvolvimento, por meio da definição de um Partido.
Trataremos também de algumas especificidades dos projetos paisagísticos, como a
especificação da vegetação. Tenho certeza de que nos debruçarmos sobre os
elementos que definem o trabalho do(a) arquiteto(a) paisagista, vai instigar sua
percepção e aumentará sua compreensão sobre os espaços livres e suas diversas
demandas.
Antes de iniciar qualquer projeto é necessário saber onde será feito. Mais do que isso,
é imprescindível saber como é este lugar, quais são as suas características sob vários
aspectos. Para evitar surpresas desagradáveis durante a obra, o primeiro trabalho que
se faz é um levantamento, um relatório sucinto que organiza todas as características e
elementos do local de projeto.
É necessário saber também sobre as condições da(s) via(s) que dão acesso ao lote, se
são asfaltadas ou não, largura e possibilidades de chegar com caminhões ou outros
equipamentos de obra de porte grande, como guindastes, gruas etc. Pois se for
intenção do projeto chegar com uma estrutura pré-fabricada ou uma árvore de grande
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porte para replantio, por exemplo, é necessário saber como se dará o acesso. Se a
fiação é enterrada ou aérea, onde se localizam os postes, se há iluminação de rua,
como são as calçadas, se existem árvores nelas. Listar todos os elementos que possam
ser barreiras ao projeto que se pretende.
Da mesma forma, é necessário ter informações sobre a vizinhança do lote, como são
as construções, que altura têm e que sombras projetam no lote do projeto. Existe uma
canalização de vento? Existem fontes de ruído, como bares, pontos de ônibus? É
próximo ao transporte público?
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Leis municipais de parcelamento do solo e zoneamento (registro de uso, recuos e afastamentos,
coeficiente de construção, taxa de ocupação e gabaritos).
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Todas estas informações podem ser extraídas de diversas fontes, como o próprio
cliente, mas é imprescindível que o arquiteto faça uma visita ao local para verificá-las
com olhar técnico. Sugere-se que vá munido de bloco de notas, máquina fotográfica,
bússola e a(s) planta(s) base do local para anotações, em escala reduzida, que caiba
numa prancheta de mão.
Além de todas estas informações objetivas, com certeza a visita ao terreno também é
importante para identificar outras características do local, um pouco mais subjetivas,
como: qual é a melhor vista, qual é a relação que se quer ter com a vizinhança no
sentido de abrir visualmente o projeto, destacá-lo do entorno ou mimetizá-lo etc.
Quais são as atividades que fazemos em uma praça? Faça uma lista antes de
continuar lendo. E se fosse um parque, mudaria o quê na sua lista? Incluiria algum
esporte? Uma quadra de basquete ou um paredão, se o parque for pequeno. Um
lago? Para que serve um lago? Tem uma função muito importante e pouco tangível
nos projetos paisagísticos denominada contemplação. Mas um lago pode ter outras
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funções também: acumular as águas das chuvas, criar peixes, resfriar o ambiente por
evaporação etc. Vá a um parque da sua cidade e observe, agora faça uma lista de todas
as funções que você conseguiu observar. Quanta coisa podemos fazer ao ar livre, não é
mesmo?
O pensamento artístico exposto em uma obra de arte é capaz de condensar uma visão
de mundo, expressar um argumento forte, fazer uma leitura da realidade a partir de
um determinado ponto de vista. Assim também é o pensamento arquitetônico,
quando considera a dimensão da arte, em suas mais diversas acepções, dentre elas a
compositiva (mais relacionada à forma).
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Mas como chegar na tão desejada síntese arquitetônica? Como incutir esta
característica forte ao projeto, que bonito ou não, terá, digamos, esta ‘personalidade’?
É o que chamamos de partido ou conceito e existe um caminho para dotar os projetos
desta peculiaridade que os fazem, no mínimo, interessantes.
O partido (ou conceito, daqui para frente vou adotar o termo partido, mas são quase
sinônimos) nasce da problematização e interpretação das condicionantes de projeto,
sejam físicas, culturais, financeiras ou de outras naturezas, associada ao programa de
necessidades. Ou seja, é saber fazer um bom trabalho com o que se tem, para chegar
aonde se quer.
Figura 2.1 – Foto do MASP incrustado na paisagem urbana paulistana: destaque para
os jardins que se estendem em direção ao Viaduto 9 de Julho (parte inferior da
fotografia).
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Contudo, o que nem todos sabem é que existia uma condicionante de projeto que
induziu esta escolha projetual. O terreno que o MASP ocupa hoje havia sido doado
para a Prefeitura com uma condição específica: manter a vista, ou seja, o belvedere.
Esta era uma condicionante legal, pressuposto indispensável para a execução do
projeto naquele lote. Foi deste ponto de partida que Lina começou o projeto: Como
construir um Museu neste terreno e ao mesmo tempo manter a vista para a cidade?
Foi assim que nasceu o partido para o MASP: o bloco maciço levantado do chão.
Espero que este exemplo tenha sido esclarecedor sobre a riqueza existente na
definição de um partido arquitetônico de qualquer projeto. O conceito e a forma
arquitetônicos refletem a ideia de um partido arquitetônico materializado em um
objeto construído. Isto não é diferente nos projetos paisagísticos. Os conceitos nascem
das mais diversas orientações e não só das condicionantes de projeto. Surgem
especialmente influenciados pela visão de mundo do(a) arquiteto(a) e de suas
referências estéticas.
2.4.1 Vegetação
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A vegetação, assim como outros elementos naturais, pode ser compreendida tanto
como ‘chão’, planos horizontais, quanto como ‘paredes’, planos verticais, como massas
arbustivas, ou como ‘pilares’, sequência de elementos verticais. Uma maneira de
entender a arquitetura em geral, incluindo a paisagística, é simplificar seus elementos
como se fizessem parte de uma gramática universal das formas e utilizá-los para
desenhar os espaços desejados.
A morfologia descreve a forma do terreno, nas três dimensões, nos planos horizontal e
vertical. O formato de base que o terreno pode adquirir deve estar integrado tanto às
funções dos usuários deste espaço, quanto às necessidades de preservação ambiental.
A terra não é estática, naturalmente se move, mas num tempo geológico. As
intervenções humanas aceleram e brecam este tempo, com movimentos de terra
mecânicos e pavimentações.
Gostaria de citar a Casa das Canoas, do arquiteto Oscar Niemeyer, que rompe com os
parâmetros mais convencionais adotados a espaços externos e internos. Nela,
Niemeyer integra os elementos naturais aos espaços de vida, sem uma quebra
abrupta, num continuo espacial. Veja a Figura 2.2, mostrando a pedra existente no
terreno que está tanto para dentro quanto para fora, reforçando a sutileza da
presença do vidro como fechamento para os ventos e intempéries e abertura para a
visão.
A água pode assumir diversas formas e usos, é fluida, refresca, acalma e encanta. Pode
estar em quaisquer planos, no chão, em espelhos, aprofundar-se criando um espaço
invertido, como uma piscina, um lago; estar numa parede, como queda; nas
coberturas, apoiada em planos transparentes; e até em forma de gotículas.
O caminho do sol no céu durante o ano deve ser de conhecimento do paisagista, assim
como as horas de conforto e desconforto, em que a luz do sol é requerida ou
indesejável. O sol está diretamente relacionado com as sombras e estas podem ser
projetadas por elementos naturais, como a vegetação ou construídos, como uma
pérgula.
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Conclusão
Neste bloco foram abordadas as principais fases dos projetos paisagísticos, começando
com o levantamento de dados e o programa de necessidades e terminando com o
exemplo de um plano de especificação de vegetação. Também nos debruçamos sobre
o conceito de partido arquitetônico, que também serve ao projeto paisagístico, para
compreender o campo expressivo da arquitetura e sua interação com a arte e como
ela o inspira e alimenta. Discorremos sobre os elementos constituintes dos projetos
paisagísticos para instigar e ampliar o repertório projetual, oferecendo alguns
exemplos para clarear alguns assuntos. Em outra oportunidade trabalharemos mais a
fundo vários estudos de caso de projetos paisagísticos. Por hora, esperamos que você
tenha ampliado sua visão sobre as especificidades desta área projetual.
REFERÊNCIAS
MACEDO, Silvio Soares; ROBBA, Fabio. Praças brasileiras. São Paulo: Edusp, 2002.
Normas
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Sites
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Apresentação
Desde aproximadamente 4000 a.C. que o ser humano vem construindo seus
abrigos em agrupamentos mais complexos chamados cidades. No último
século, ocorreu um processo acelerado de urbanização, conjuntamente com
um enorme aumento populacional. Esses fatores fizeram com que as
diferentes formas urbanas que as cidades vêm adquirindo tomassem
relevância no meio natural, gerando fortes impactos neste, inclusive
influenciando os processos climáticos (LIMA, 2005, p.47).
Através da história, muitos modelos foram propostos para as cidades, como formas de
dominação de povos colonizados, para controlar e sanear a vida das populações
urbanas ou para implantar cidades rigidamente divididas por funções. Contudo, frente
aos problemas atuais, desde aproximadamente a década de 1960 do século XX, que
muitos urbanistas se resignaram a aceitar a complexidade urbana inerente ao sistema
urbano como a forma mais interessante para despertar o senso de urbanidade.
(apesar das inúmeras iniciativas humanas que se esforçam para prover melhorias
nestes locais). Da mesma forma, populações ricas são capazes de produzir – e cobrar
dos governantes – meios urbanos organizados, limpos e convenientes. Em ambas as
situações, podem surgir aglomerações urbanas plurais e interessantes, que traduzem
os esforços criativos humanos.
Por estas razões, dentre outras, este modelo recebe muitas críticas, dentre as quais,
uma das mais contundentes foi a da jornalista norte-americana Jane Jacobs, que
escreveu, em 1961, o livro ‘The death and life of great american cities’, traduzido para
o português como ‘Vida e morte das grandes cidades’. Nele Jacobs se opõe duramente
aos modelos urbanísticos vigentes à época e escancara seus fracassos. Também
propõe novos princípios urbanísticos, diametralmente opostos aos que foram
defendidos pela longa tradição iniciada por Ebenezer Howard, com o livro ‘Cidades-
jardim de amanhã’, de 1898.
Sobre os parques urbanos Jacobs (2014) indica quatro elementos presentes naqueles
que são mais utilizados pelas pessoas: a complexidade, com diferentes paisagens,
dinamicidade dos espaços e multiplicidade de usos; a centralidade, conformando-se
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como locais de encontro, valorizados pelas pessoas; a insolação, que atrai as pessoas
no inverno e seu contraponto, atraindo-as também no verão e, por fim, a delimitação
espacial, com edifícios no entorno que os envolvem e conformam. Ela dedica seu livro
‘Morte e vida das grandes cidades (americanas)’ para a cidade de Nova York.
Desde a década de 1960, ideias que colocam as necessidades das pessoas como
protagonistas do urbanismo têm ganhado destaque. As ideias do arquiteto e urbanista
dinamarquês Jan Gehl, responsável por transformar a vida urbana de Copenhagen
nesta mesma década, foram descritas em vários livros de sua autoria, baseados em
suas experiências com urbanismo em várias cidades do mundo.
O livro de Jan Gehl de 2013, ‘Cidades para Pessoas’, destaca quatro objetivos
universais para as cidades do novo milênio: ‘cidades vivas, seguras, sustentáveis e
saudáveis’. Estas características têm a ver com uma grande ocupação dos espaços
públicos pelas pessoas; com o uso de transportes ativos, como a pé e as bicicletas e
com o modelo de cidade compacta, que agrupa o comércio, os serviços e as moradias,
diminuindo as distâncias e possibilitando a mobilidade sustentável (GEHL, 2013). Agora
trataremos de alguns estudos de caso de projetos paisagísticos em várias cidades do
mundo, procurando identificar algumas coincidências.
3.2 Estudos de caso de arquitetura paisagística: Central Park, Nova York (EUA)
O Central Park, de Nova York, de 1858 foi construído para atender às necessidades de
lazer dos moradores desta cidade em crescimento acelerado na época. Foi realizado
um concurso, cujo edital pedia um parque que incluísse uma torre de vigia, uma fonte,
uma pista de patinação, quatro ruas transversais, uma esplanada e um espaço de
exposições. Os vencedores foram Frederick Law Olmsted e Calvert Vaux, que
propuseram uma ‘experiência de campo’, com uma variedade de paisagens e um
design pitoresco com amplos gramados, extensos bosques, riachos sinuosos e grandes
lagos, conectados por caminhos sinuosos e um passeio de carruagem (CASACOR,
2021).
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Figura 3.1 – Mapa do Central Park de 1863. Acervo da Biblioteca Pública de Nova
York
O Central Park foi um projeto ambicioso para a época e até hoje tem um papel
importante não só para a vida dos habitantes (e turistas) de Nova York, mas para
amenizar os efeitos da ilha de calor, limpar o ar e servir como habitat para animais
selvagens, principalmente pássaros. Rogers (2001) trata da importância dos espaços
públicos, tais como os de Nova York, que se conectam na malha urbana reticulada,
mas comenta:
A maior parte de nossos parques públicos, praças e ruas são um legado dos
séculos anteriores. Nesta era moderna da democracia, poderíamos esperar
acréscimos mais importantes ao âmbito público, mas de fato, nossa
contribuição surge como um elemento de destruição destes espaços,
realizada pelo tráfego e pela ambição pessoal. O âmbito público está sendo
reduzido pela presença excessiva de segurança, imposição de taxas de
entrada a instituições culturais, diminuição de equipamentos públicos e
domínio do automóvel, que reduz os espaços públicos a estreitas
circulações. E os edifícios vêm sendo projetados como objetos isolados, em
vez de elementos que compreendam e conformem a esfera do público
(ROGERS, 2001, p. 71).
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Figura 3.2 – Central Park, em Nova York, EUA, no século XXI. Perceba como os
edifícios ‘desenham’ as fronteiras do parque, delineando a sua forma.
Em Paris, nos anos de 1982 e 1983, foi lançado um concurso internacional com a
intenção de revitalizar terrenos pouco utilizados na área do mercado de carnes e
matadouro, vencido por Bernard Tschumi, dentre mais de 470 participantes. A área
era bastante extensa com mais de 1 kilômetro de extensão e 700 metros de largura e o
projeto de Tschumi a organizou em: superfícies, linhas e pontos. As superfícies eram os
espaços verdes abertos; as linhas, os caminhos do parque e os pontos, localizados no
entroncamento de uma malha de 120m, eram estruturas sem programa definido,
pintadas de vermelho, que se apresentavam como os pontos focais do parque.
Tschumi quis destacar o uso cultural do parque, tanto com as estruturas
multifuncionais vermelhas, quanto com os amplos gramados que abrigam eventos de
grande escala ao ar livre, no verão (SOUZA, 2022).
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O sistema de parques, bosques e ciclovias, faz parte dos planos urbanísticos que foram
sendo implantados ao longo das décadas nesta cidade, ficavam localizados
prioritariamente ao longo dos cursos d'água, como forma de reter as águas das chuvas
que causavam enchentes frequentes no início deste processo. Sua implantação pode
prevenir a ocupação desordenada dos mananciais e servir como espaços de lazer para
a população. O sucesso dos parques, além da preservação das áreas verdes e dos
cursos d'água, acarretou valorização imobiliária, o que gerou a implantação de mais
parques (SAKATA, 2011). Atualmente, Curitiba possui 64,5m² de área verde por
habitante, segundo dados do governo estadual, note que o índice sugerido pela
Organização Mundial do Meio Ambiente (OMS) é de 12m² de área verde por
habitante.
Figura 3.5 – Parque Tanguá, Curitiba, Brasil: entrada marcante pelo desenho
simétrico dos jardins e do edifício mirante.
3.5 Estudos de caso de arquitetura paisagística: Parque Ibirapuera, São Paulo (Brasil)
Difícil escolher apenas quatro estudos de caso, para pensar sobre o paisagismo
urbano, mas não poderíamos deixar de incluir o Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Construído na década de 1950, para comemorar o IV Centenário da cidade de São
Paulo, foi projetado por Oscar Niemeyer em 1951, que contou com a participação dos
arquitetos Hélio Uchôa, Zenon Lotufo e Eduardo Kneese de Mello para a realização do
anteprojeto. O parque surgiu para propiciar melhoramentos em uma área vazia de
mangue e com a intenção de abrigar edifícios para exposições temporárias e
permanentes e alguns edifícios administrativos (PARQUE Ibirapuera, 2022).
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Figura 3.6 – Parque Ibirapuera, São Paulo (Brasil). Importante área verde para a
cidade que tem a atmosfera bastante poluída pelo intenso tráfego de automóveis,
vide a linha do horizonte cinza.
Figura 3.7 – Um destaque para a Marquise do Parque Ibirapuera (que ficou muito
escondida na foto anterior): grande cobertura que abriga uma infinidade de usos,
totalmente apropriada pela população.
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Conclusão
Por fim, citamos quatro estudos de caso de projetos paisagísticos de destaque, que
tem muito a ensinar sobre urbanidade. A escolha se deteve em parques, por serem
espaços públicos e por isso acessíveis a toda população, mas poderia ter incluído
praças, públicas ou de edifícios comerciais, orlas de rios ou praias, calçadões e até
mesmo jardins particulares. Contudo, pela expressão urbanística desses espaços e
pelas relações que mantém com as cidades onde estão, escolhemos ‘a dedo’ estes
quatro parques. Quais as conclusões que você tirou sobre as semelhanças destes
projetos?
REFERÊNCIAS
JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. 3. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes,
2011.
ROGERS, Richard. Cidades para um pequeno planeta. Barcelona: Editorial Gustavo Gili,
S.A., 2001.
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Apresentação
Neste bloco iremos tratar das relações entre mobilidade e planejamento urbano. A
ideia é ampliar sua visão sobre este assunto para que você possa compreender as
interrelações entre a mobilidade, o urbanismo e o desenho urbano. Ande pela sua
cidade, experimente outros modos de se locomover, diferentes dos seus habituais.
Desta forma você poderá criar outros pontos de vista sobre este assunto. Estas
vivências são essenciais para a sensibilização sobre os modelos de cidade vigentes – e
possíveis – e a construção da sua própria consciência crítica.
Morar em uma cidade é positivo porque as trocas humanas ficam facilitadas. Inúmeras
e essenciais para a vida humana contemporânea, as trocas dizem respeito tanto à
sociabilidade, quanto ao comércio e aos serviços. A sociedade humana existe para
possibilitar essas trocas. Trocamos nossas habilidades pelos itens essenciais à vida, que
não são somente coisas materiais, mas também palavras, gestos de afetividade, calor
humano. Somos seres gregários, necessitamos dos outros para muitas atividades que
fazemos e conseguimos viver melhor assim. O isolamento não é saudável para a vida
humana.
Viver em uma cidade facilita muito as trocas, pois para a maioria delas precisamos nos
deslocar, ou que alguém se desloque até nós. Ir ao mercado é mais fácil que plantar e
colher para sobreviver. Trabalhar para ter dinheiro para ir ao mercado, se o trabalho e
perto de casa, faz sobrar mais tempo para estar com a família ou com amigos ou para
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Veja que este conceito de mobilidade coloca o foco nas pessoas, não nos modos de
transporte. Estes deslocamentos das pessoas no meio urbano podem ser classificados
de três maneiras distintas:
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Como sabemos, as cidades têm se tornado cada vez maiores e mais populosas, este é
um processo irreversível. Por isso, as cidades grandes e as metrópoles necessitam de
transporte público de massa eficiente, articulados com outras modalidades de
transporte sustentáveis. O ideal em um sistema público de transportes é que se
constitua como uma rede integrada, dando várias alternativas para os usuários.
O importante para uma rede de transportes racional, é que ela consiga atender às
expectativas de conforto, segurança e rapidez dos usuários, agredindo o mínimo
possível o ambiente. Os sistemas de metrô atendem muito bem todas essas
expectativas dos usuários, mas o custo ambiental e financeiro de implantação é alto.
Por ser um sistema de alta capacidade, a longo prazo o custo ambiental provavelmente
seja compensatório, se comparado com a quantidade de emissão de poluentes por
uma frota motorizada com a mesma capacidade.
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Os sistemas que utilizam VLTs (veículos leves sobre trilhos) ou VLPs (veículos leves
sobre pneus) têm sido bastante implantados atualmente, pois conseguem atender
uma demanda elevada, com menor custo de implantação que os sistemas de alta
capacidade. Além disso, possuem mais facilidade de integração direta com o meio
urbano e baixo impacto ambiental, desde sua implantação.
Figura 4.2 – VLT – veículo leve sobre trilhos, alta capacidade e integração amigável
com o meio urbano.
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O transporte hidroviário também pode ser uma boa forma de transporte coletivo, com
menor impacto ambiental, mas necessita de um sistema aquático, de mar, rios ou
canais apropriados ao trânsito das barcas.
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Se a via tem fluxo menos intenso, pode-se adotar a solução chamada ciclofaixa, em
que a segregação do tráfego lindeiro é baixa, mas existe uma sinalização intensa
indicando a presença de ciclistas. A largura mínima para uma faixa unidirecional para
trânsito de bicicletas é de 1,50m, considerando as dimensões da bicicleta (0,60m), o
espaço necessário para o movimento dos braços e das pernas do ciclista (0,20m de
cada lado) e um acréscimo de segurança, relacionado à movimentação e equilíbrio do
ciclista (0,25m para cada lado).
O uso da bicicleta e seu incentivo são formas de requalificação urbana e foram capazes
de transformar algumas cidades que tinham sofrido degradação pelo intenso uso do
automóvel. A cidade de Copenhagen, por exemplo, é mundialmente conhecida pelas
transformações positivas que teve em seu espaço urbano após a introdução do uso da
bicicleta como um efetivo modo de transporte.
49
,
Somos sempre pedestres, nem que seja para ir até a garagem e, quando chegamos ao
nosso destino, muitas vezes andamos em trechos da cidade. Por isso e outros motivos,
as calçadas são elementos muito importantes do meio urbano. O seu projeto deve
considerar muitos elementos importantes: as ‘faixas’ que organizam todas as suas
funções, a arborização, a iluminação pública e a presença de mobiliário urbano, como
paraciclos, bancos, lixeiras etc.
As faixas de uma calçada são delimitações imaginárias para organizar as suas funções,
mas a mais importante é a circulação de pedestres. Para esta função, deixamos uma
‘faixa livre’, ou seja, desobstruída, que deve ter uma largura mínima de 1,20m, para
possibilitar a acessibilidade universal, ou seja, o uso por pessoas em diferentes
condições físicas, com ou sem equipamentos de auxílio, como cadeiras de rodas. O
ideal é que esta faixa tenha 1,50m, para que não haja constrangimentos no
50
,
Outra faixa importante é a faixa de serviços, nela deveriam estar contidos os acessos a
todos os serviços de infraestrutura, como telefonia, redes de internet etc. É desejável
que este acesso possa ser facilitado por materiais de encaixe ou tampas de inspeção,
para facilitar a manutenção da calçada. Também é importante que as infraestruturas
não estejam localizadas nas esquinas, pois nestes locais é necessário implantar rampas
que vençam a altura do meio fio, com não mais de 8,33% de inclinação. A norma ABNT
NBR 9050 contém todas as especificações para prover as calçadas urbanas de
acessibilidade universal.
Conclusão
Neste bloco tratamos sobre os sistemas de mobilidade urbana e suas interações com
os modelos de planejamento urbano. Não abordamos sobre os modos motorizados
individuais, como o automóvel, o táxi etc. Subentende-se que esta omissão é
proposital. O automóvel particular tem sido o grande vilão dos meios urbanos, que
sofrem pelos congestionamentos ocasionados por este, ou as longas distâncias que se
propõe a percorrer, incentivando o espraiamento da infraestrutura urbana,
impactando o meio ambiente por causa desta extensão das cidades, que causa maior
51
,
REFERÊNCIAS
D´OTTAVIANO, Camila. A cidade do pedestre: áreas pedestrianizadas no centro de
São Paulo: parâmetros de intervenção. Trabalho de Graduação Interdisciplinar. FAU
USP, São Paulo: 1994.
JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. 3. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes,
2011.
Ministério das Cidades (2007b) – Programa Bicicleta Brasil, Caderno de referência para
elaboração de: Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades – Ministério das Cidades,
Brasília, 2007.
Normas
52
,
Apresentação
Neste bloco iremos tratar dos espaços públicos das cidades: ruas, calçadas, praças e
parques. Iremos compreender como o paisagismo e o desenho urbano interferem na
qualificação destes locais e mostraremos alguns exemplos.
Espero que o estudo deste bloco mude ou amplie a sua visão para os espaços públicos
de sua cidade.
Nas nossas cidades só existem dois tipos de espaço em relação à propriedade: público
ou privado. Um espaço privado, como uma casa, tem um dono particular. Um espaço
público, como uma praça, também tem dono. Ela é de todos os cidadãos, apenas está
sob a responsabilidade da municipalidade que cuida do nosso patrimônio, com o
dinheiro dos nossos impostos. O público não é uma entidade abstrata. O público
somos nós.
Contudo, em relação aos usos, não é tão simples: temos uma infinidade de diferentes
formas de apropriação dos espaços de uma cidade. Apropriar-se não é
necessariamente tornar-se dono, mas agir como se fosse. Na maioria das vezes, as
formas de apropriação dos espaços de uma cidade por sua população são positivas.
Apropriar-se tem a ver com o uso que se dá a um espaço, com a atividade que ali se faz
e de que maneira você marca a sua presença. Até na natureza existe esta relação
espacial entre os animais e os espaços: é uma demarcação de território. Estas relações
de apropriação podem ser – e na maioria das vezes são – muito mais fugazes que as
relações de posse efetiva, registrada em um documento oficial.
Mas o que tudo isso tem a ver com Arquitetura, Desenho Urbano e Paisagismo? Tudo a
ver! Não devemos esquecer nunca que nós arquitetos trabalhamos para prover
espaços adequados e agradáveis para a vida humana e que, apesar de sermos pagos
pelos nossos clientes, servimos aos usuários dos espaços. Há uma diferença
53
,
importante entre cliente e usuário: cliente é o dono do espaço e usuário é quem vai
efetivamente utilizá-lo. No projeto de uma edificação unifamiliar o dono e o usuário
podem ser a mesma pessoa, mas se for um edifício de vários apartamentos,
provavelmente não. E se o projeto for de uma praça pública? Reflita.
5.2 Praças
No Brasil colonial, os templos eram edifícios muito importantes nas vilas e povoações e
seus adros, grandes espaços abertos na frente ou ao lado das igrejas, atraíam as outras
ocupações, as vendas, as casas e geralmente o paço da câmara. Esses largos pátios,
rocios e terreiros, ganhavam o nome do santo consagrado pela igreja e garantiam um
espaço aberto para acesso dos fiéis e chegada das procissões. Por causa das suas
dimensões generosas, também atendiam a outras funções, como as de mercado, lazer
e de caráter político e militar (MARX, 1980).
54
,
Figura 5.2 – Centro histórico, Pelourinho, Salvador, Bahia, Brasil. Este lugar conserva
as características de nossas praças coloniais.
Segundo Sylvio Macedo e Fabio Robba há muitos tipos de praças, que foram sofrendo
modificações ao longo da história, assim como há discordâncias entre os
entendimentos atuais sobre como conceituá-las, por isso definiram este conceito
simplesmente como “espaços livres públicos urbanos destinados ao lazer e ao convívio
da população, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos” (MACEDO e ROBBA, 2002,
p.17).
Podemos dizer que, nos nossos dias, as praças servem a muitas funções para as
pessoas, tais como: recreação, lazer esportivo, lazer cultural, circulação de pedestres,
contemplação, convívio social, comércio (feiras, mercados) e turismo. Também
possuem funções relacionadas ao meio ambiente: absorção da poluição atmosférica
pela vegetação, penetração das águas das chuvas pelo solo, amenização dos efeitos
térmicos das ilhas de calor, habitat para fauna selvagem de pássaros, podem até
mesmo fazer parte de sistemas de preservação de córregos ou interligação de áreas
preservadas (corredores verdes).
55
,
Figura 5.3 – Brascan, São Paulo: Espaço privado de uso semi-público, apesar da
circulação das pessoas estar desimpedida, há um certo constrangimento implícito
para pessoas indesejáveis, como um morador de rua, por exemplo.
56
,
Fonte: https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/04.044/2397
5.3 Parques
O primeiro jardim urbano construído no Brasil foi o Passeio Público, no Rio de Janeiro,
e representa um conjunto de espaços ajardinados ibero-americanos implantados
durante o século XVIII. Ao contrário dos espaços abertos presentes no Brasil Colônia,
não representa diretamente um símbolo de poder religioso ou de autoridade
portuguesa. Não servia para emoldurar nenhum monumento, era em si mesmo, um
monumento à natureza (FARAH et. al, 2010).
Os jardins do século XVIII são os antecedentes dos parques atuais. Assim como as
praças, os parques são espaços públicos, mas têm uma relação mais direta com a
natureza, pelas suas dimensões geralmente maiores e seus objetivos de conformarem
áreas urbanas dedicadas à fruição e manutenção da natureza. A Secretaria do Verde e
Meio Ambiente paulistana classifica os parques em dois tipos: o parque urbano e o
parque linear. Esta divisão está diretamente relacionada às necessidades de gestão
pública que estes demandam:
57
,
Vê-se, portanto, que são muitas as atribuições deste tipo de espaço público, lazer,
fruição, descanso e preservação da natureza. Os parques são feitos para serem lugares
‘bonitos’, com a licença da palavra de uso comum. Contudo, alguns se destacam tanto,
que viram atrações turísticas especiais. Gostaria de citar brevemente o parque Güell,
em Barcelona, Espanha. Ele é muito diferente, pois os elementos construídos foram
desenhados por Gaudí, que é um arquiteto que tem uma inconfundível expressão
estética.
58
,
Figura 5.5 – Parque Guëll, Barcelona, Espanha. Projeto de Gaudí. Note as escavações
no relevo que formam um local na sombra e lembram um pouco uma caverna, pelo
contraste com o ensolarado redor.
Outro parque que gostaria de citar também é o Parque Mangal das Garças, em Belém
do Pará. O projeto é de Rosa Kliass e Gláucia Dias Pinheiro e foi construído para
recuperar uma área de várzea degradada com sucessivos aterros. Este parque
reintegrou a área do rio e restaurou o aningal (plantação de aninga-açu, espécie nativa
da região) que antes existia naquele local. O projeto foi dividido em duas grandes
áreas, a primeira com uma praça central e grande parte das edificações do parque, o
Armazém do Tempo, o restaurante e o Memorial Amazônico da navegação. A outra
destacou-se por explorar o elemento plástico água para a integração compositiva do
conjunto, constituído por fonte, cascata, rio e lago. O projeto de vegetação utiliza (e
representa) as espécies nativas dos três ambientes naturais do estado do Pará: os
campos, as áreas de várzea e as matas de terra firme (FARAH et. al, 2010).
59
,
Figura 5.6 – Parque Mangal das Garças, Belém do Pará, Brasil. Projeto de Rosa Kliass
e Gláucia Dias Pinheiro.
5.4 Ruas
As ruas são espaços públicos, por isso são locais de sociabilidade, de troca, de
encontro, como todos os outros espaços desta natureza. Também tem outra
importante função urbana: a circulação de pessoas e mercadorias. Na verdade, o
termo técnico mais abrangente é via. A rua é, antes de tudo, uma das vias de uma
cidade, que contém também avenidas, alamedas, travessas, com nomes diferentes por
terem características diversas, relacionadas ao trânsito de veículos e pessoas.
Segundo o Código de Trânsito Brasileiro via é uma “superfície por onde transitam
veículos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a calçada, o acostamento, ilha e o
canteiro central”. O CTB contém a classificação legal das vias, que primeiro as dividem
em urbanas e rurais. O primeiro conjunto se subdivide em vias de trânsito rápido,
arteriais, coletoras e locais. O segundo, em rodovias e estradas. A classificação do CTB
60
,
serve para definir as velocidades máximas permitidas em cada tipo de via, exceto casos
particulares, que recebem sinalização específica de trânsito.
As vias também servem para abrigar uma grande parte da infraestrutura urbana. É sob
elas que passam as redes de distribuição de serviços, como abastecimento de água, luz
e telefonia, coleta de esgoto e águas pluviais.
61
,
5.5 Orlas
O tratamento paisagístico de orlas, locais que fazem a transição entre uma área
urbanizada e um curso d'água expressivo, como um rio, uma represa ou o mar, é
importante para estabelecer uma relação de respeito à natureza e ao mesmo tempo
oferecer algumas comodidades aos usuários destes locais. Orlas com tratamentos
paisagísticos adequados protegem os cursos d'água da degradação ocasionada pela
ocupação humana desregulada, ao mesmo tempo que podem beneficiar a área urbana
lindeira.
Não poderíamos deixar de incluir nesta disciplina o projeto icônico da orla carioca de
Copacabana, executado por Roberto Burle Marx, nosso mais icônico paisagista, na
década de 1970. Nele, Burle Marx desenhou 4 km de calçadas que, junto com a
deslumbrante paisagem carioca, se tornaram um dos nossos cartões postais mais
conhecidos. Vide Figura 5.8:
62
,
Figura 5.8 – Calçadas de Copacabana, Rio de Janeiro. O antigo desenho de ondas foi
incorporado na expressiva paginação de Burle Marx com maestria.
63
,
O uso múltiplo ainda pode ser observado em todos os novos calçadões de praia, nos
quais se torna obrigatória a implantação de quiosques de alimentação, ao lado de
ciclovias, bancos, quadras, vegetação e pórticos decorativos (MACEDO, 2015, p. 108).
Conclusão
Neste bloco abordamos algumas questões chave sobre os espaços públicos de uma
cidade, como a simplicidade sobre o significado de espaço público e de espaço privado,
relacionado à propriedade. E por outro lado, a complexidade das inúmeras formas de
apropriação dos espaços, relacionadas aos usos, independentemente da posse legal
efetiva. Esta discussão serviu para alimentar os estudos sobre os tipos mais comuns de
espaços públicos: praças, parques, ruas e orlas.
REFERÊNCIAS
MACEDO, S.S. Quadro do paisagismo no Brasil: 1783-2000. 2. ed. São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo, 2015.
64
,
Sites
65
,
Apresentação
Neste bloco trataremos brevemente sobre algumas teorias urbanas e seus contextos,
tentando exemplificar de que maneira o pensamento sobre a cidade impacta
diretamente sobre as possíveis formas de intervir sobre ela. De qualquer forma, é
necessário considerar todos os atores sociais presentes e atuantes na conformação da
forma urbana: o capital imobiliário, governos, urbanistas e a população (reunida em
massa crítica) para que qualquer plano tenha mais chances de alcançar sucesso.
Então com este bloco você ampliará sua visão sobre os problemas urbanos, que são
complexos, urgentes e instigantes, pois estão envolvidos com a nossa própria forma de
habitar as cidades, nos relacionando com as suas especificidades históricas, suas pré-
existências naturais, com a cultura de nossa época e entre nós mesmos, como
cidadãos.
Como sabemos, as cidades tiveram um crescimento muito acelerado nos últimos 150
anos, período em que também tivemos mudanças expressivas nas tecnologias que
cercam nossas vidas. Este processo não cessou, estamos em pleno processo de
transformação e essas mudanças nas cidades e no uso das tecnologias de informação e
comunicação, têm transformado os modos como nos relacionamos com o mundo e
com as pessoas.
66
,
Tudo isto reflete em como utilizamos os espaços públicos das cidades e como estes se
apresentam para nós. Os espaços urbanos oferecem diferentes possibilidades de
ocupação, também. E estas duas coisas se autoalimentam. Sabemos que o poder
público democrático age (ou deveria agir) conforme as demandas de seus cidadãos. A
percepção das demandas também afeta as ações públicas. Podemos afirmar que
políticas públicas que respondem aos desejos sociais tendem a ser apropriadas pela
população, que preza e se manifesta, se necessário, pela sua continuidade. Mesmo
com a troca de governos, é difícil voltar atrás na resposta positiva a direitos adquiridos.
Os urbanistas devem ter em conta o elemento fundamental para o sucesso dos planos:
a participação da população. A população é quem usa a cidade e é ao mesmo tempo
também, em última instância o cliente, representado pelos governantes eleitos. Por
isso é necessário dialogar com as comunidades e envolvê-las nos processos de
planejamento. Em locais onde não há esta tradição, tudo fica mais difícil. De qualquer
forma, a relação entre as pessoas e suas cidades é recíproca, cidades amigáveis
convidam para os espaços públicos, que são capazes de transformar as relações
sociais. Por isso nos alerta Jan Gehl, renomado urbanista e consultor internacional:
Uma política pública urbana que ganhou destaque pela sua apropriação pela
população foi a inserção de infraestruturas cicloviárias nas cidades, como apoio aos
modos sustentáveis de mobilidade. Pode-se observar este processo nas cidades de
Bogotá, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e na Baixada Santista paulistana, em que os
índices de uso da bicicleta como meio de transporte subiram muito nas últimas
décadas.
Os principais problemas que atingem os centros urbanos atuais não estão diretamente
relacionados à riqueza financeira da cidade em questão. As cidades e principalmente
seus centros, devem ser organismos vivos e pulsantes, onde a vida urbana possa se
67
,
Quando usamos o termo uso do solo, estamos nos referindo aos tipos de usos nos
lotes que podem ocorrer em uma cidade: comerciais, de serviços, residenciais e
industriais. Existe uma relação direta entre o uso do solo mono funcional e a
degradação urbana, pois a diversidade do uso do solo se reflete na diversidade de usos
e traz a riqueza cultural da mistura de faixas de renda, de diferentes idades, de
diferentes etnias. Cada qual usando o espaço público de formas diferentes, em
horários diferentes, em dias diferentes, criando várias situações, responsáveis pela
animação e vivacidade da cidade.
Por isso, a grande antipatia atual por soluções de prancheta que organizam a cidade
sem considerar a vida das pessoas que nela habitam. As teorias urbanas modernistas,
estabelecidas nos primeiros Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (os
CIAM de 1928 e 1933), propuseram a divisão funcional da cidade. Naquela época,
contrapunham-se à cidade industrial e insalubre e tinham a tarefa de reconstrução das
cidades arrasadas pelas grandes guerras, de forma rápida e eficiente. Estas condições
foram importantes fatores de indução destas teorias, que sugeriam uma cisão entre o
meio natural e a cidade, espalhando as habitações em grandes áreas verdes.
A criação de áreas industriais afastadas das áreas residenciais, eram benéficas naquele
contexto em que as indústrias eram extremamente poluentes, muitas com matriz
energética à carvão. De fato, houve muitas transformações desde então, as indústrias
se afastaram dos meios urbanos, assim como desenvolveram tecnologias para controle
da poluição. Hoje exigir das indústrias uma produção limpa é um fato, apesar de ainda
serem responsáveis por grande parte da degradação ambiental e empregarem um
contingente expressivo de pessoas.
Contudo, hoje nossa visão sobre a divisão funcional de uma cidade é completamente
inversa. Reconhecemos que uma das maiores qualidades do meio urbano é a
68
,
Jacobs (2011) analisou o processo substituição dos usos diversificados, por apenas um
uso predominante, nas grandes cidades americanas. Ela entendeu que o próprio
sucesso de valorização de uma área da cidade poderia ser o motivo de sua decadência
no futuro. Este processo aconteceu por volta das décadas de 1960 e 1970 na área de
Manhattan, em Nova York, por exemplo. Com estas análises, Jacobs sugeriu que o
poder público criasse maneiras de frear a reprodução excessiva de determinado uso
em determinado local, direcionando-a para outro. Outra crítica que podemos fazer a
Jacobs é a concentração de esforços para criticar os urbanistas e a crença exagerada
no poder público como ferramenta de intervenção na cidade, subestimando o poder
dos proprietários de imóveis e do capital imobiliário e suas estratégias para
maximização de lucros.
69
,
Gehl (2013) afirma que mais vias para automóveis gera mais trânsito, ao contrário do
que se poderia supor. O aumento de vias funciona como uma espécie de convite ao
uso do automóvel. Foi o que se verificou em Xangai, na China, por exemplo. Outro
exemplo que ele cita é o de uma grande via expressa em São Francisco, EUA, a
Embarcadero, que ficou um tempo fechada por causa de um terremoto. Neste tempo
de fechamento, descobriu-se que o tráfego de automóveis se reorganizou em outras
rotas. Hoje, a Embarcadero é uma via exclusiva para veículos leves sobre pneus (VLPs)
e ciclistas e transformou-se em um arborizado e aprazível bulevar.
70
,
Para Gehl (2013) é necessário tratar o espaço urbano como se fosse um espaço de
estar, garantindo a escala humana e o conforto para os cinco sentidos. A escala
humana tem a ver com a altura dos edifícios, por exemplo. A vida na cidade é
percebida até no máximo os quarto e quinto andares, sendo mais diretas as relações
dos ocupantes do primeiro, segundo e terceiro andares com a rua. Acima de cinco
andares, perde-se o contato visual com o que está acontecendo lá: não há mais a
possibilidade de contar com os ‘olhos da rua’.
71
,
Paulo, por exemplo, por ser constituído de apartamentos de tamanhos muito variados,
possibilita o convívio saudável de várias classes sociais, vide Figura 6.2:
Fonte: Archdaily.
Figura 6.3 – Edifício Copan, corte que mostra a divisão das várias tipologias.
72
,
Figura 6.4 – Edifício Copan, planta de um andar tipo, mostra a divisão das tipologias
habitacionais de tamanhos diferentes.
A experiência dos sentidos é outro fator importante que motiva os humanos a usarem
a cidade. O comércio investe muito na experiência dos sentidos em suas vitrines, na
exposição das mercadorias e na arquitetura das lojas. Uma rua de comércio
especializado pode atrair muitas pessoas, como os comércios de instrumentos
musicais na Rua Teodoro Sampaio, na metrópole paulistana. Outra rua que ganhou
destaque por seu requintado espaço público, foi a Rua Oscar Freire, vide Figura 6.5.
Além da decoração das lojas, que se esmeram por chamar atenção, teve sua fiação
enterrada e as calçadas redesenhadas, com pisos homogêneos e neutros, de boa
qualidade e mobiliário urbano (bancos e lixeiras) e aço inoxidável. O projeto de
requalificação da Rua Oscar Freire foi feito por meio de uma parceria entre os lojistas e
a prefeitura municipal.
73
,
Figura 6.5 – Rua Oscar Freire, em São Paulo, notar o mobiliário urbano, o tratamento
dos pisos das calçadas e arborização, que tornam o passeio mais agradável.
O calor excessivo ou o frio excessivo também são elementos que desencorajam o uso
dos espaços públicos. A sombra de uma árvore, uma marquise, o toldo de um
restaurante, um gramado ensolarado, uma fonte de água, são todos elementos
urbanos que auxiliam a obtenção do conforto térmico. O novo projeto para o Vale do
Anhangabaú, em São Paulo, tirou partido do elemento água e reorganizou os espaços
públicos com a presença de comércio nos quiosques lindeiros à grande praça pública.
Figura 6.6 – Vale do Anhangabaú, São Paulo. Note os pontos de água no piso e a
ambientação mais na escala humana com a presença dos quiosques e arborização na
periferia da grande praça.
74
,
O conforto olfativo em uma cidade é muito importante e pode melhorar muito com a
implantação de banheiros públicos ou a diminuição do tráfego de automóveis. Uma
fonte, um chafariz, um espelho d’água ou outro elemento com água, também pode
melhorar a qualidade da respiração em climas muito secos.
75
,
e assim somos capazes de fruir a cidade em seus detalhes, assim como prestar atenção
nas pessoas. A velocidade média da caminhada é de 5km/h, a da corrida é 12km/h e
andando de bicicleta atingimos em média 18km/h, velocidades adequadas a um modo
de vida possível em uma cidade compacta.
Figura 6.8 – Ciclovia na Avenida Faria Lima em São Paulo, estrutura cicloviária bem
implantada em área consolidada da cidade.
76
,
Figura 6.9 – Ciclovia na Avenida Faria Lima em São Paulo, pouco tempo depois da
implantação gerou trânsito de ciclistas no horário de ida para o trabalho.
Jacobs (2011), em seu livro ‘Morte e vida das grandes cidades’ (americanas) faz uma
dura crítica ao urbanismo ortodoxo que para ela é a principal fonte de alguns
problemas urbanos. Ela destaca em seu livro, escrito na década de 1960, que haveria
quatro fatores essenciais capazes de gerar a diversidade urbana: diversidade de uso do
solo, quadras curtas, edifícios de idades e estados de conservação diferentes e
concentração populacional. Sobre a diversidade do uso do solo, esta garantiria que
mais pessoas utilizassem o espaço urbano em diferentes horários e com motivos
diferentes. As quadras curtas garantiriam mais oportunidades de conexões e fluxos,
era uma crítica direta a quadras muito longas de Manhattan que segregavam trechos
de cidade. A diversidade de edifícios em idades e estados de conservação diferentes
parecia interessante para a diversificação dos inquilinos e dos tipos de ocupação
comerciais ou residenciais. E a concentração populacional garantiria que houvesse
uma densidade não muito baixa, importante para que houvesse diversidade entre as
pessoas.
77
,
Apesar de Jacobs apontar que estes quatro pontos eram os principais elementos do
seu livro, percebeu-se, com o tempo, que tais sugestões eram menos importantes que
a crítica que fez ao urbanismo ortodoxo (modernista) e a análise das relações de
vizinhança e dos usos das calçadas, na primeira parte do livro. Essas análises foram
inspiradoras para planejadores urbanos contemporâneos. Jan Gehl, urbanista
dinamarquês e consultor internacional de desenho urbano, bastante atuante desde a
década de 1960, fundamentou muitas de suas teorias com as leituras de Jane Jacobs.
Gehl (2013) dá continuidade às críticas ao urbanismo ortodoxo ‘modernista’ e,
também inclui análises sociológicas no rol das principais atividades dos arquitetos
urbanistas.
Figura 6.10 – Curitiba, Paraná. Centro, Praça Rui Barbosa, uma das inúmeras praças
desta capital.
78
,
79
,
Figura 6.13 – Orla do Rio Guaíba, Rio Grande do Sul. Notar o uso esportivo propiciado
pelo tratamento dos pisos e as pistas para skate.
Conclusão
Neste bloco tratamos sobre as principais problemáticas que geram a degradação dos
centros urbanos e da cidade, a falta de diversidade do uso do solo e uso demasiado do
automóvel, ambos causadores de vários problemas urbanos, como: perda da
sociabilidade, insegurança, degradação do meio urbano, pessoas em situação de rua,
poluição atmosférica e sonora, acidentes de trânsito, intensificação da ilha de calor
urbano etc.
Vimos que alguns dos nossos modelos de desenvolvimento estão fadados ao fracasso,
como o uso intensivo do automóvel como meio de locomoção privada, em grandes
cidades. Lembro-me muito de uma frase do célebre arquiteto Paulo Mendes da Rocha:
‘o automóvel é uma máquina burra, pois pesa uma tonelada para carregar 70 kilos...’
mais ou menos assim, ele se referia ao uso desenfreado do automóvel para percorrer
longas distâncias urbanas, com apenas uma pessoa dentro. Ele não é o único urbanista
80
,
que reconhece as qualidades da cidade compacta e diversa, não digo que para
solucionar todos os problemas urbanos, mas para não criar alguns desnecessários e
acentuar outros, enfim, temos muito a discutir sobre as cidades do presente e do
futuro.
Por isso trouxemos, ao final deste bloco, uma série de imagens sobre intervenções
urbanas diversas. Gostaria que estas imagens incentivassem você a percorrer algumas
dessas áreas, se possível, e a desenvolver sua própria consciência crítica sobre estas
intervenções urbanas. Caminhe em sua cidade, note os elementos urbanos que
ajudam a ambiência urbana, perceba o que está faltando. Vá até a fonte: nosso objeto
de estudo como urbanistas é o espaço da cidade!
REFERÊNCIAS
JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. 3. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes,
2011.
OUKAWA, C.S. Edifício Copan: uma análise arquitetônica com inspiração na disciplina
análise musical. Dissertação [mestrado]. São Paulo: FAU – USP, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2010. 211p.
ROGERS, Richard. Cidades para um pequeno planeta. Barcelona: Editorial Gustavo Gili,
S.A., 2001.
Sites
81
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