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RESUMO: Intento historicizar as águas da “biquinha” da rua Goiás na cidade de Uruaçu-GO de modo a
oferecer compreensão da sua existência nestes tempos de crises da água doce no Brasil. Além disso,
considerando que todo conhecimento técnico-científico e de ações concretas para sua proteção,
dinamização e conservação se nos apresentam muito acanhadas, tímidas, limitadas, quiçá inexistentes
apresento certa linha de conduta para uma tomada de decisão em que se conscientize de que a água é o
elemento integrador da natureza que reúne as ações humanas e os diferentes campos do saber ressaltando
o papel fundamental da sua conservação e preservação.
Crise! Há um número infinito de crises. A crise refere-se aos mais diferentes tipos
de situações que podem comprometer e/ou comprometem o desenvolvimento ou a
continuidade de um processo histórico. Trata-se de processos de mudanças que podem
ameaçar seriamente uma estrutura por desequilíbrio, escassez, decadência,
decrescimento, recessão, estagnação, tensão, miséria, conflagração, acometimento,
ausência, inópia. Destarte, não é fácil conceituar e/ou quantificar com precisão a
dimensão de uma crise. Mas há diversos conceitos de crise que são utilizados entre as
mais diversas áreas do conhecimento.
Dentre a infinidade de crises está contida a fatalidade de nosso tempo, a crise
socioambiental. No conjunto desta a crise hídrica é a que me/nos conduz a certa
concentração mental, pois está associada aos impactos das ações humanas sobre os
ambientes de água doce, objeto de nossos estudos A água doce subterrânea e/ou
superficial (rios, lagos, ribeirões, córregos) é um desses processos históricos de mudanças
que ameaçam a natureza. Donald Woster em “A natureza e a Desordem da História” nos
adverte que um dos efeitos dessa história de mudança é o de colocar em xeque quaisquer
pressuposições ingênuas ou românticas sobre um mundo estático, dotada de uma natureza
sem perturbações. Nos adverte, também, que não há um conhecimento autêntico sobre o
ambiente histórico, ou um embasamento cuidadoso dos valores envolvidos nas
possibilidades históricas. Por fim, atribui ao historiador um papel importante a ser
desempenhado, “o de ajudar as pessoas a tornar as questões mais claras”. Enfatiza que os
“historiadores investigam todas essas questões e ajudam a criar um contexto intelectual
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Os resultados aqui apresentados são frutos do trabalho de pesquisa em desenvolvimento, coordenado pela
Profa. Dra. Gercinair Silvério Gandara na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade
Estadual de Goiás com o projeto intitulado “Estudos Socioambientais dos Rios e Cidades-Beira do/no Norte
Goiano: Uruaçu e cidades circunvizinhas”. Financiado pela PrP-UEG.
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Docente da Universidade Estadual de Goiás. Pós-Doutora em História Universidade Federal de Goiás
(2009-2014). Doutora em História Social pela Universidade de Brasília (2008). Coordenadora Geral do
LHEMA (Laboratório de História e Estudos Multidisciplinares em Ambientes) Líder do Grupo de Pesquisa
História Ambiental: territórios, sociedades e representações e do Grupo de Pesquisa Rios e Cidades na
História do Brasil. E-mail: gercinair@msn.com. gercinair.gandara@ueg.br.
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alimentam vida, alma e refletem fé. Nas relações dadas para com os rios, amor e medo.
Na mistura de afluentes e confluentes misturam-se culturas e sentimentos dos povos
beiradeiros. As águas doces que se perdem na imensidão do vasto território brasileiro são
cantadas em versos e prosas. Águas que vão separando territórios/estados, mas que
também unem, integram, misturam culturas e povos. Águas que seguem de rio em rio,
unindo em seu leito águas de afluentes e confluentes que vão suprindo e alimentando
outras águas. Revelam em seu percurso riquezas da flora e da fauna, mas também aquelas
que se desgastaram das várzeas e/ou de montanhas como paus, minérios (prata, ouro...)
pedras e morros. Ao chegar no fim do caminho depois de se alimentarem um ao outro se
entregam, entranhados ao abraço inevitável das águas salgadas.
Nos últimos trinta anos, as águas subterrâneas brasileiras evoluíram da sua
condição tradicional de “bem livre” para um recurso de reconhecido valor social e
econômico em nível internacional. Rebouças (2006) recomenda que as águas
subterrâneas, “notável patrimônio nacional sejam protegidas jurídica e
institucionalmente, nos níveis federais, estaduais e municipais”. Sua outra recomendação
destina-se ao poder público para que “passe a investir seriamente no conhecimento das
águas subterrâneas do território brasileiro, única forma de exercer direito de outorga de
forma responsável”. (REBOUÇAS: 2006, p.141)
Certo é que há no Brasil uma situação de crise hídrica que já levou o país ao
cenário de escassez de água. Contudo, José Galizia Tundisi (2008, p.186) enfatiza que “a
crise da água não é só da escassez, mas seguramente é uma crise de gestão”. Assim
pensado, “a problemática ambiental converte-se numa questão eminentemente política”,
como bem disse Enrique Leff (2015,p.45). Para este autor a gestão local deve partir do
saber ambiental das comunidades, “onde se funde a consciência do seu meio, o saber
sobre as propriedades e as formas de manejo sustentável de seus recursos, com suas
formações simbólicas e o sentido de suas práticas sociais, onde se integram diversos
processos no intercâmbio dos saberes sobre o ambiente”. (LEFF: 2015, p.153)
No estado de Goiás, as águas subterrâneas e os cursos de águas, ou seja, suas
bacias hidrográficas representam fontes de riquezas importantes no\do Cerrado. É nele
que estão os olhos d`água e os cursos formadores das importantes bacias hidrográficas
dos rios Tocantins, Araguaia, Paraná, São Francisco e Amazonas. Para Horieste Gomes
(2008, p.8) o Cerrado “possui características botânicas, morfológicas e mecanismos
fisiológicos próprios, diferentes dos demais biomas nacionais”. As águas doces do
cerrado goiano se nos apresentam como a razão da adaptação humana nessas plagas para
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Rua Goiás”. Ela se entranha em meia a história da cidade e das suas gentes. A mina da
“Biquinha da Rua Goiás” tem história!
Foi no começo do ano de 1910, que Gaspar Fernandes de Carvalho adquiriu
por compra a fazenda denominada Passa Três, ou Machambombo ou Santana, conforme
discriminada no seu registro Imobiliário localizada à margem direita do Rio Maranhão,
entre os ribeirões Taquaral e Passa Três, e pela Estrada Real. E mais uma parte de um
imóvel adjacente denominado “Curralinho”. Ao todo o “latifúndio” perfazia quatorze mil
alqueires.3 Como o lugar mais apropriado dentro da extensa área para fixarem residência,
a família Fernandes de Carvalho escolheu o local às margens do ribeirão de águas claras,
local que já existia a sede da fazenda dos Mendes. A razão dessa escolha justificou-se
devido sua proximidade ao ribeirão Machambombo, justamente quase no pontal com o
rio Passa Três, e logo defronte à Estrada Real. Neste local foi construída, posteriormente,
no ano de 1913, a primeira casa de telhas para residência do coronel Gaspar. A área
central, na margem direita do ribeirão, reservou-se à família fundadora formando o Largo
dos Fernandes que perfaz todo o contorno da praça onde foi edificada a capela de Santana.
Todos da primeira geração do coronel buscaram instalar suas moradas em terrenos
amplos, arborizados bem próximo ao ribeirão quando não às suas margens. Em exceção
a essa disposição nos apresentaram um único exemplar construído na margem esquerda
do córrego Machambombo pertencente a um dos filhos do Coronel Gaspar. Na parte de
cima do largo da Igreja dedicada a Nossa Senhora Santana formando o quadro de terras
destinado a fixação da família Fernandes se encontrava o olho d´água que ficou conhecido
como “Biquinha da rua Goiás”. Trata-se de um local em que a água subterrânea se
encontra quase na polpa da terra. Vale ressaltar que Uruaçu é uma cidade de rios,
ribeirões, riachos e minas/olhos d´água. O estabelecimento de regras para o futuro
“traçado urbano” obedeceu à consolidação das fronteiras políticas4.
Vale enfatizar que o lugar ou ambiente da cidade Uruaçu é, para nós, um veículo
de acontecimentos emocionalmente fortes. É percebido como um símbolo da emoção
humana onde as recordações do objeto e o sentimento são muitas vezes inseparáveis. O
fato da cidade de Uruaçu ser produtora de imagens extraídas do seu próprio ambiente nos
fornece estmulo aos sentimentos que dá forma ás nossas alegrias e tristezas, saudades e
lembranças, todas com ligação emocional ao lugar. Em verdade, os estímulos emocionais
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Cf. Escritura Pública do Registro de Imóveis da Comarca de Jaraguá, sob nº 1680, fls.214 do Livro 3B,
em 02.08.1926. A transação do imóvel se concretizara no dia 21 de abril de 1910, figurando como
vendedores os irmãos Mendes e Silva e como compradores os filhos do coronel Gaspar.
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Ver Gandara, Gercinair Silvério. Cadinho do Brasil. Uruaçu... cidade-beira... cidade-fronteira nos
caminhos do sertão de Goiás 91910-1960) Goiânia: Ed. Espaço Acadêmico, 2016.
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são potencialmente infinitos quando se trata daquilo que vivenciamos e como que num
retorno ao tempo prestamos atenção, valorizamos ou amamos como propósitos das forças
culturais que atuaram em determinada época de nossas vidas. A cidade de Uruaçu é o
nosso canto do mundo. É nosso ponto de partida. É a nossa referência. É casa. A “nossa
casa”. A casa pode ser o lar, mas também o espaço intimamente vivido, imbuído de
significância moral, social e cultural. Esta cidade é cosmos. Ela reflete um propósito
humano. Mas, também representa um ideal histórico socioambiental. Na medida em que
a verbalizamos e tornamos conhecida se nos apresenta como respostas sofisticadas sobre
o ambiente em que se originou.
“Êta” fonte d`águas límpidas que encharca o chão DA RUA GOIÁS
De fato, a história conta muitas histórias. A “biquinha da rua Goiás” tem
muitas histórias. Ela é uma daquelas marcas que une a um só tempo as dimensões cultural,
social e ambiental. Ela está ali exposta ao tempo em todos os tempos desde quando o
lugar se constituía a sede da fazenda Machambombo. Nos tempos de agora tem suas águas
expostas constantemente numa das ruas importantes da cidade.
Olho ou mina d´água subterrânea a
“biquinha” jorra incessantemente desde o
surgimento da cidade sem o aproveitamento
das suas águas. Sua imagem varia do efêmero
prazer que se tem de uma vista até à sensação
de beleza mais intensa que conseguimos
revelar no deleite ao sentir suas água em nós
Foto de janeiro de 2015 . cedida por Jota Marcelo.
mesmos. Poderia revelar aqui uma beleza
Jornal da Cidade Uruaçu-GO
basicamente estética, pois mais permanentes e mais dificieis de expressar são os
sentimentos que temos para com o lugar, por ser o nosso lar, o locus de reminiscências.
As imagens que guardamos na memória são derivadas da realidade do ambiente cidade.
É como uma fantasia que sobrevive aos desafios da experiência. Sem preocupações,
negligente do tempo, livre de hábitos e leituras enraizadas estávamos abertos para viver
e vivíamos a maior parte do tempo o espaço em sua totalidade. Vivíamos/vivemos o
espaço em suas diferentes dimensões, nas sutilezas das cores e na harmonia das linhas e
volumes. Víamos/vemos a paisagem com seus elementos como um segmento
artisticamente arranjado, mas também como uma força, uma presença envolvente e
penetrante. A lembrança ficou viva em nós. Ela nos permite ver a “ biquinha” não como
um objeto de estudo, mas como resposta dos sentidos e das atividades de folguedos
propositais que foram claramente registrados enquanto outros retrocederam para a
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Por fim lamentou que tanto “Zezé como Tineco viajou para o outro mundo.
Mas a biquinha ali continua seca e verde jorrando água sempre cristalina faça chuva ou
faça sol”. E desabafou dizendo que “a cidade cresceu..., mas a biquinha resistindo ao
tempo e às perversidades do progresso continua ali na rua Goiás em frente ao correio
eternizando a sua missão e testemunhando o esforço de uma família para o soerguimento
de uma cidade...”.
O Sr. Alair Martins Spindola, conhecido por Nego Spindola5 também nos deu
sua versão da história da biquinha. Colhemos seu depoimento livremente deixando fluir
sua memória, contudo perguntamos a ele sobre a biquinha e sobre a questão de uma
cisterna ter sido furada por Tineco, pois Mariano Peres contou a história de uma
cisterna. Nos respondera que “não, não é cisterna não. Ali é uma mina. Essa mina, é
antiga”. E nos explicou,
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Alair Martins Spindola, conhecido por Nego Spindola, filho de Zezé Spindola, hoje com 75 anos.
Entrevistamos via telefone.
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essa mina ali embaixo, perto da igrejinha, nós chamávamos de chafariz. Isso eu era menino,
mas eu me lembro, na década de 30 ou 40 mais ou menos! Então ali tinha um lugar chamado
chafariz. Era um quadrado de cimento, tipo um tanque! A água descia ali e caia naquele
tanque e o pessoal se servia dela. Aí a prefeitura era no meio da atual rua Goiás. Ali onde
tinha um prédio que era do Santo e do Nazaré. E descia água lá... Na gestão do prefeito Dr.
Cristóvão, mandato de dois anos, ele colocou esgoto pluvial, colocou manilhas, era até o
Abdoral que estava fazendo o serviço. Aí essa biquinha fluiu, essa mina fluiu. E quando ela
fluiu papai colocou ela, fez um tanque no meio da rua debaixo na manilha, virando a boca,
pegando a Goiás trazendo para o lado esquerdo, onde ela pega ali e desce, isso na gestão do
Dr. Cristóvão. Isso eu cálculo que foi na década de 70 por aí, que meu pai fez ressurgir essa
biquinha. Aí com o passar dos tempos o pessoal estava quebrando muito e tal, papai já de
idade fechou a mina sabe, fechou tudo. Tirou o cano, etc.. Até no tempo que ele tava vivo eu
falei que iria reativar, ele falou que não, aí eu pensei que era melhor não contrariá-lo. Aí
quando ele faleceu, depois, a uns sete anos atrás, eu reativei ela. [...] Papai desativou por
causa da depredação, ele arrumava, o pessoal quebrava, o pessoal descia de noite e quebrava
o cano. Arrumava, quebrava! Não sei o que era, quebrava, ele se contrariou e fechou a bica.
Depois que ele faleceu eu reativei a mina.
Nego Spindola reafirmou que se tratava de uma mina e que inicialmente foi
levada em forma de rego até o Largo da Igrejinha caindo num tanque que se conhecia
como chafariz.
Exatamente ali para cima na casa da dona Ditosa, do pessoal dos Fernandes...
papai contava que tinha até pé de coco, coqueiro, buriti. Aí é pura mina você sabe? Aí era
meio brejo. Aí essa mina e antiguíssima, quando eu entendi por gente existia esse chafariz
que falamos. O chafariz é dessa mina. Era um rego! aí é uma nascente, não é um cisterna! Ela
caia lá no tanque da igrejinha. Era lá em baixo perto da casa do kidão mais ou menos. Era
uma caixa feita de cimento, quadrada, feita de tijolo e cimento. Eu lembro dela eu era menino,
ela existia desde quando eu entendi por gente. Eu conhecia essa biquinha, eu chamava de
chafariz, ela enchia e derramava num tanque, o pessoal falava lá de “vasilha”. Era uma mina
mesmo.
sabe aquela casa velha, tem ela ainda é do kid. Do lado tem uma porta, não sei se tem ainda.
[...] tem uma porta aí certo, tem uma porta de lateral, tem uma janela, essa janela é da
cozinha... Na esquina da Cozinha. Mais ou menos aí. Ela é no meio da rua, aí papai puxou
ela para esquerda, puxou para colocar na cisterna da casa, mas não deu certo. É água potável.
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Entrevista realizada em 21/03/2017com o Contador Valdeci Francisco de Morais. Escritório de
Contabilidade Padrão. Rua Goiás, - Q 23 LT 6 - Central - Uruaçu, GO - CEP: 76400-000.
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esquina com os correios. O Sr Valdeci nos mostrou com exatidão o local da biquinha e
para onde foi puxado a encanação de PVC.
Na verdade, a biquinha nasce na frente aí. Quando eu furei aquí para colocar
os pilares para fazer a construção deu água em todos os pilares. Acontece que aqui a água
está muito em cima para todo lado aqui se vc furar dá água em menos de metro... meu
escritório era ali na frente, na esquina! Ai nessa época o seu Nego Spindola reativou ela... foi
um ano depois eu comprei aqui esse lote, aí construí. O pessoal perguntou o que eu ia fazer
com a bica, ai eu falei não vou fazer nada, vou deixar do jeitinho que tá lá. Vou passar cimento
por cima da mangueira, e deixa quietinho. Ai, trouxe a máquina para mexer aqui e começou
a destampar ela aqui e nós vimos a pujança dela. É uma riqueza, a história de Uruaçu.
Descreveu como o Zezé Spindola fez a obra para preservar a mina e continuar
jorrando sua água na biquinha. Também explicou como fez para preservá-la com a sua
construção.
Então o seu Zezé Spindola quando fez o asfalto aqui na Goiás canalizou ela.
Fez uma caixa, só porque nessa caixa que ele fez, ele colocou um tampão para não ficar
vazando, igual tá vazando agora né? Então tem mais ou menos uns cinco anos creio eu mais
ou menos assim, que o Nego Spindola abriu de novo a bica e começou a esgotar ela
novamente lá em baixo, deixou ela cair. Ela nasce aqui na frente do meu lote . [...] Então
assim tá aí na porta. Na minha construção eu organizei tudinho para não pegar nela, eu
preservei bem ela. A Mangueira passa na frente da minha construção aqui. Na frente do
escritótio. Ela nasce aqui mais ou menos. Esse local aqui meu, ela tá tudo arrumadinho, isso
aqui não precisa mexer, não acaba nunca se não mexer, nunca mais acaba. Só a questão dela
ir para baixo porque aqui aonde tá a mina não acaba mais, nada mexe aqui com ela mais né.
[...] E ela é potável. O pessoal fez analise dela uma vez. Ai sabe aquela época que faltou agua
na cidade, o pessoal enchia ai, o tempo todo o pessoal enchendo os galão, balde. [...] o Kid
puxou uma mangueira e deixou ela cair. Eu usava a água dela para pôr no aquário, que é uma
agua muito boa. Potável! Todo mundo conhece isso aqui.
Ele lamentou que hoje as águas da biquinha “está indo para o Machombombo
novamente, está caindo aí e depois cai lá dentro do córrego”. De fato, ela corre para o
córrego Machambombo seguindo nas manilhas, pois o recipiente não comporta a
quantidade de água que transborda indo para a rede pluvial.
O Vereador Alacir Freitas Carvalho (Cil) Presidente da Câmara dos
Vereadores 7 depôs suas lembranças de infância da/na biquinha no tempo e no espaço
com emoção e entusiasmo.
Nossa! Essa biquinha, vou ser sincero pra você é dos nossos primórdios. Antes
de mim já existia essa biquinha. Ela nasce no centro da rua Goiás, pertinho da casa da tia
Nenzinha... Ali é uma mina, dali até no meio, indo pro lado, descendo, indo pro lado da rua
Porangatu, pro lado direito tudo era brejo! Era brejo, na casa de “seu Nuca”, na casa do “ tio
João”, na casa da “dona Ditosa” tá! Hoje, onde era a casa do juiz também, hoje onde é o
SVO, é a mesma coisa, era brejo.[..] na época de recessão de água aqui todo mundo chegava
com suas vasilhas e pegava agua ali, quando faltava agua na cidade... Então aquela água
corria, aquilo ali era a salvação nossa dentro de Uruaçu. Então, era o pessoal da rua baiana,
a Gercinair deve saber de quem que eu to falando da rua baiana, hoje se chama Avenida
Transbrasiliana.
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Entrevista realizada pela equipe LHEMA no dia 14 de março de 2017.
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Ele falou sobre a potencialidade e a quantidade de água que jorra dela hoje.
Diz ele, “hoje se você puder passar lá, você vai ver o tanto de água que está correndo
daquela mangueira, é da mina mesmo aquela água. Ela nunca parou de jorrar”. Ressalta
“meu irmão fez aquela construção lá com a água dela. Ele não gastou nenhuma água de
fora, nadinha, tudo era da água da biquinha, lá é dia e noite”. ]Enfatizou que “tem gente
que vai lá, “com galão de água para encher todos os dias. Garrafa d’água e galão”.
Enfatizou, “aquela água foi provada pela Saneago. Ela é puríssima. Puríssima,
puríssima”. Conta que tanto ele quanto os remanescentes da Família Fernandes utilizam-
se das suas águas.
Aqui eu tô fazendo a mesma coisa, eu não compro água mais né, de galão, eu
vou lá e encho a minha lá, eu e o pessoal de perto ali os Fernandes de Carvalho, quase todo
mundo faz isso. É a tradição nossa ali, graças a Deus ali é uma água pura. [,,.] passa lá hoje
pra você ver o tanto que a mangueirinha acho que é de vinte que está là, Vai lá e olha o tanto
de água que sai lá. Mas é muita água, está saindo muita água. É o trem mais bonito do
mundo...
E mencionou uma senhora que frequenta a biquinha.
Lá tem uma senhora que cinco horas da manhã ela chega lá pra lavar roupa, ela toma
banho e lava sua roupa lá mesmo na biquinha. Ou, é interessante a gente fica com dó dela,
tem hora a que a gente pede os policiais, para não deixar ninguém chegar, porque ela se despe
toda sabe. As vezes a gente fica com vergonha dela, porque ela é meio fraca da cabeça, tem
hora que a gente ajuda ela, dá as coisas pra ela. Ouh, essa senhora fala assim, “que a agua
benta a água santa ta aqui, e o pessoal que não sabe, essa que é a agua santa da cidade”. Por
que corria perto da igrejinha de Nossa Senhora de Santana”.
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Antônio de Freitas Carvalho (Kid, Kidão) 20/03/2017 Uruaçu-GO
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na cidade de Uruaçu. Ele se constituiu num bate papo em que as recordações afloravam. Kid
recordou que,
quando tio Cristóvão foi Prefeito e tava fazendo a rede fluvial essa Rua Goiás virou um
buraco só... Os peões da prefeitura, ele tinha contratado para fazer a rede fluvial. Eu lembro
assim como criança, como garoto tio Zezé canalizando ela para o lado da Goiás descendo ela
pro lado esquerdo vindo do lado direito. Eu lembro que depois demorou muito fazendo a rede
fluvial. Ela já estava feita pelo Zezé que deixou ela cair naquele lote lá de esquina na Rua
Goiás e ele fez um mini poço assim na época caberia de estatura pequena uns cinco ou sete
meninos. A gente brigava por espaço porque a água era boa demais. Hoje o lote é meu não
sei que circunstâncias, mas Deus quis assim. Muita gente passa lá para cobrar água da
Biquinha.
Logo em seguida enfatizou “aqui teve aquela seca terrível. Neli e a tia Ditosa
me ligou de noite que as bombas da SANEAGO veio a falhar e foi feito uma romaria na
biquinha”. Lembrou que sua prima Léia “ligou e falou que se eu tivesse cobrando R$
10,00 pelo balde de água eu ia ficar rico, pois tá todo mundo na Biquinha buscando água”.
Refletiu, “hoje eu estou aqui já com essa obra há sete meses e até hoje o pessoal no
finalzinho da tarde vem buscar água eu creio que é para beber porque para banhar não
precisa a SANEAGO está abastecendo bem a cidade”.
Ele nos informou que fez toda sua obra com água da biquinha e que ela jorra
em torno de 800 litros d´água por hora. Também nos relatou que “tem muita gente que
vem para o TRT aqui e vem fica andando para lá e para cá, e o pessoal vem e tenta dar
nó na mangueira preocupados com a gastança da água”. Kid nos informou, ainda, que
mesmo com o asfalto pronto quando chovia muito e ela não conseguia escoar toda pela
mangueira ela borbulhava e o asfalto amolecia muito. Daí quando passava as chuvas, a
prefeitura vinha e arrumava tudo. Lamentou que “agora recente a última prefeita passou
uma camada de asfalto quente aí, agora ela não está borbulhando mais, ela só está saindo
pela mangueira”. Explicou que a água “está saindo magrinha daquele jeito porque ela está
reduzida, mas quando eu tirar a redução ela vai voltar a jorrar muito, pode ir lá ver que
ela sai uma tora d’água”.
Estes depoimentos somados às nossas lembranças e convivência para com a
biquinha da mina da rua Goiás foi deveras esclarecedor e fantástico. Com os depoimentos
do Nego Spindola, do contador Valdeci que preservou a mina quando da edificação do
seu escritório, a do Kid e do Alacyr Freitas e outras inúmeras pessoas que falam das suas
memórias para com a biquinha ficamos convencidos da necessidade em se fazer um
projeto de tombamento, preservação e dinamização das águas da mina da Biquinha.
Aquela mina d´água jorra incansavelmente por quase um século encharcando o chão da
rua Goiás. Ela reclama por sua história, por sua preservação, revitalização, dinamização
e o aproveitamento das suas águas para outros fins.
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das suas águas cristalinas. Para tanto faz-se necessário se implantar uma política
socioambiental definida em termos de sustentabilidade para enquadrar as suas águas
como bem coletivo do município, portanto como recurso natural, cultural e social
estratégico de permanência ambiental e vital à existência da sociedade uruaçuense em sua
memória histórica, social e ambiental. Sabe-se, obviamente, que para preservar as águas
da “mina da biquinha” faz-se necessário um projeto de tombamento, preservação e
dinamização das águas da mina. É preciso realizar um diagnóstico da situação do
território que inclua uma análise de seus componentes, uma identificação de sua estrutura
e a elucidação do dinamismo ecológico que seja funcional ao território. Há numerosos
métodos de análises da qualidade da água (físico, químico e biológico) para estimar
cientificamente o grau de potabilidade daquelas águas e sua capacidade para novos usos.
O diagnóstico valorativo constituir-se-á no primeiro passo para sua continuação. Com ele
definir-se-á os objetivos e medidas mais adequadas para sua conservação e restauração
dos valores e situações históricas no tempo e no espaço.
Sabe-se que as cidades são complexas. Elas podem ser identificadas por uma
simples imagem ou um monumento. É comum em muitas cidades realizar gestos público
para alcançar transcendentalidade. Aqui e acolá um governante impõe certa regularidade
geométrica para exibir seu senso de grandeza. Pode ser novos arruamentos ou aberturas
de artérias. Pode ser um imponente paço Municipal ou um monumento que capta a
história e a identidade da cidade, como uma fonte, uma praça ou uma grande avenida.
Comumente as águas subterrâneas que brotam nos solos citadinos se
converteram/convertem em fatores determinantes do atrativo territorial. Isso representa
aspectos a se ter em conta no diagnóstico prévio que condiciona o uso das águas urbanas,
pois poderá se converter em forma de fontes, chafarizes e/ou outros recreios próprios ao
uso público. A “Biquinha da Rua Goiás” é um desses exemplares que reclama por sua
monumentalidade e pelo seu uso em projetos urbano-paisagístico. Estas são as chaves que
resumiria o aspecto geral da base fundamental da conservação que adotaria componentes
do espaço monumentalizado em tempos de crise das águas no Brasil.
Considerações Finais
A responsabilidade para nós de falarmos de um patrimônio tão importante para
toda sociedade uruaçuense conjugou-se ao prazer de trabalhar com águas e ecoar seu
brado. O território das águas uruaçuense embora, muitas vezes, incompreendidos,
maltratados e /ou inaproveitados contam a história da cidade e de seu território. Trata-se
de águas calmas, transparentes e límpidas. Águas admiradas que perfila a memória dos
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Jornal Cidade (16 a 28/02 de 2015)
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Jornal Cidade.
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http://www.mottafilho.com.br/especiais/exibir.php?noticia_id=989¬icia_link=30¬icia_data=19- 11-
2012%2010:11
http://www.jornalopcao.com.br/ultimas-noticias/em-uruacu-mina-dagua-potavel-jorra-desde-1940-27751/
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