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Revista de Geografia (UFPE) V. 29, No.

2, 2012

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O RIO COMO ELEMENTO DA VIDA EM COMUNIDADES


RIBEIRINHAS
Marcela Arantes Ribeiro1
1
Mestre em Geografia, Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisa Interdisciplinarde Cultura e Modo de
Vida Amazônico da Universidade Federal de Rondônia. Email: mar_arantes@hotmail.com

Artigo recebido em 05/01/2012 e aceito em 09/09/2012

RESUMO
Este texto apresenta uma determinada característica do modo de vida ribeirinho abordando a relação dos
moradores das comunidades ribeirinhas de Porto Velho/RO com o rio. Essa relação apresenta-se como
característica da cultura dos grupos sociais que vivem a margem dos rios da Amazônia. Por meio de entrevistas
gravadas obteve-se as narrativas relatando os laços afetivos, subjetivos e de sobrevivência do ser humano com os
elementos da natureza, considerando as conseqüências dessa relação sobre a vida e relação do ribeirinho com o
rio. Diante disso, abre-se uma discussão no campo da Geografia Humana e Cultural abordando a construção
social dos grupos e das pessoas, nesse caso dos grupos ribeirinhos. Uma pesquisa desenvolvida com as
metodologias da História Oral e do Espaço Vivido, o que permite fazer uso de leituras fundamentadas na
Geografia Cultural para analisar e interpretar a organização espacial do rio pelo viés da cultural impulsionando a
temática de representações para além do campo do visível navegando pela subjetividade da cultural ribeirinha.
Palavras-chave: Rio, Espaço, Cultura, Ribeirinho.

THE RIVER AS PART OF LIFE IN COASTAL COMMUNITIES

ABSTRACT
This paper addresses one particular feature of the coastal way of life by addressing the relationship of the
residents of riverside communities of Porto Velho / RO with the river. This relationship is presented as typical of
the culture of social groups living rivers of the Amazon. Through interviews we obtained the narratives
chronicling the emotional ties, subjective and survival of human beings with the elements of nature, considering
the consequences of this relationship on the life and relationship of the river with the river. In this perspective, a
discussion in the field of Human Geography and Cultural addressing the social construction of groups and
individuals, in this case the riverine groups. A survey developed with the methodologies of oral history and the
lived space, which allows you to make use of readings grounded in Cultural Geography to analyze and interpret
the spatial organization of the cultural bias of the river by pushing the theme of representations of the field
beyond the visible browsing by the subjectivity of cultural riverside.
Keywords: River, Space, Culture, Riverside

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INTRODUÇÃO margem direita e São Sebastião está na


margem esquerda do rio, próximo ao
Esse texto apresenta uma análise
centro da cidade de Porto Velho.
diferenciada na relação do ser humano com
Por meio da convivência,
um elemento específico da natureza: o rio,
proporciona novas vertentes desses
a partir da construção sócio-cultural,
costumes e valores que caracterizam o
enfocando o modo de vida ribeirinho,
modo de vida ribeirinho, como a
identificado nas entrevistas realizadas
humanização do rio e da mata com base no
como moradores e moradoras das
desenvolvimento de um conhecimento
comunidades ribeirinhas da Cachoeira do
específicos desses elementos.
Teotônio, São Sebastião e Calama no
município de Porto Velho/RO.
Observando o Mapa 1 de
localização das comunidades ribeirinhas
acima, percebe-se que as duas estão na

Mapa 01 - localização das comunidades ribeirinhas.

O ribeirinho tem seu universo sua vida. Essa convivência é um elo que se
marcado pela presença da mata e do rio, fortifica a cada amanhecer, quando seu
elementos que estão cotidianamente em olhar volta-se para o rio e adentra a mata.

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Possui uma compreensão própria desses ribeirinho tem do seu lugar bem como as
elementos que proporciona o modo de vida relações no seu espaço possibilitando
no Rio Madeira, um modo de vida compreender as relações no espaço
marcado pela relação subjetiva de valor ribeirinho enfocando a afetividade e os
para com o lugar. elementos culturais representativos na
Essa relação entre o homem relação homem/meio, possibilitando ainda
ribeirinho, as águas e a mata é o principal a interpretação subjetiva dessa relação.
fio condutor do seu cotidiano. Esta ligação As narrativas foram interpretadas
é representada nas atividades de considerando o entrelaçamento das
subsistência, como a caça, as plantações de relações do ser humano com o seu espaço,
hortas, a construção de moradias e seu lugar e as representações existentes na
principalmente a pesca, quando apresenta a sua cultura, no caso a ribeirinha. Possibilita
organização da plantação conforme o ainda preservar e trabalhar com a fala na
movimento do rio, as moradias são integra do narrador, mantendo os relatos de
construídas a margem deste organizando o suas experiências de vida, o que facilita
espaço das localidades, identifica-se uma para compreender as relações deste com o
relação muito particular e envolvente, há lugar.
uma relação do sentimento de gostar deste Para tais compreensões considera
grupo social para com a natureza e em prol que, “os geógrafos devem procurar
dela que possam garantir sua compreender a concepção de mundo que
sobrevivência. existe no coração do grupo ou da sociedade
A metodologia da História Oral que estejam estudando.”
(MEIHY, 2005) foi aplicada considerando (BONNEMAISON, 2002, p.102). Dessa
as etapas de construção da História Oral: forma compreende-se que todos os lugares
elaboração do projeto; gravação (entrevista apresentam representações sócio-culturais
livre); confecção do documento; análise; e, e cada uma delas correspondem a
devolução do produto. Interligando e determinados símbolos e significados que
aplicando com a concepção de Espaço o ser humano cria para se legitimar e
Vivido (FRÉMONT, 1980). identificar no seu lugar.
Tais escolhas ocorreram pelo uso Neste sentido, faz uso da Geografia
da entrevista como meio de coleta de Cultural, por proporcionar a possibilidade
informação e a necessidade de de compreender o espaço e o lugar através
compreender a percepção que o homem de uma determinada cultura, a partir de

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suas abordagens compreende que uma de atribuídos a esse e fundamentado na


suas tarefas é possível compreender “a cultura e nas relações sociais do grupo.
ordem do lugar é fruto do pensamento Compreende-se então que o espaço
organizado.” (LIMA, 2008, p. 234). Logo, é um reflexo das ações culturais do ser
todo lugar apresenta-se como reflexo da humano. Sendo assim, pode ser analisado e
cultura de um grupo. apresentado por esta perspectiva da
Neste sentido, trabalhou a o Geografia, isto é possível porque os
momento em que o lugar se materializa, geógrafos culturais, compartilham o mesmo
isto por meio da fala e expressão do objetivo de descrever e entender as relações
narrador, refletindo as experiências vividas entre a vida humana coletiva e o mundo

ligando o homem a ele e o sentimento de natural, as transformações produzidas por


nossa existência no mundo da natureza e,
pertencimento.
sobretudo, os significados que a cultura atribui
à sua existência e às suas relações com o
GEOGRAFIA E REPRESENTAÇÃO
mundo natural. (COSGROVE, 2000, p.34)
As interpretações das narrativas Uma vez que pesquisa geográfica
estão fundamentadas na Geografia com enfoque cultural está fundamentada
Cultural, por considerar que essa nos significados e valores que o indivíduo
possibilita compreender o espaço a partir atribuiu a sua existência ao lugar, bem
das representações culturais atribuídas aos como as relações sociais e espaciais com o
elementos naturais que compõe o espaço e meio. Ao compreender as relações entre o
fazem parte da relação subjetiva entre o ser ser humano e seu espaço, enfocando as
humano e meio. transformações culturais vivenciadas e sua
Nesse sentido torna-se possível analisar os influencia na organização sócio-espacial de
fragmentos narrativos que demonstram o um determinado grupo social ou mesmo de
rio enquanto representação cultural uma sociedade.
manifestada em um determinado espaço e Nesse sentido, o espaço ribeirinho,
que expõe as relações sociais existentes no assim como outros espaços, pode ser
grupo. compreendido pela perspectiva da
A Geografia Cultural possibilitou construção cultural, bem como seus
uma análise diferenciada para a relação do elementos culturais, logo as narrativas
ribeirinho com seu espaço, um olhar da ribeirinhas são apresentadas e interpretadas
organização do seu lugar e valores a partir de suas representações culturais.

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Para tanto compartilha da conceituação de formando uma unidade social. (LINTON,


cultura em Geertz (1989, p. 15), uma vez 2000, p. 97)

que esse autor afirma ser “o homem é um Logo, o homem faz parte de uma

animal amarrado a teias de significados sociedade e que nela existem diferentes

que ele mesmo teceu, assumo a cultura grupos sociais e cada um deles apresenta

como sendo essas teias”. uma organização social e cultural

Ao discorrer esse autor aborda a específica. Enfatiza-se que a maneira de

discussão no momento que enfatiza que as organizar e pensar a vida comum aos

teias são feitas de significados, sendo as integrantes de um determinado grupo

teias criadas pelo homem. Então, os social favorece a socialização de cada

significados também são criações individuo ao seu grupo, bem como as

humanas. O ser humano significados e relações espaciais dos mesmos.

valores às ações e pensamentos que No sentido de compreender a

vivenciamos no decorrer da vida. organização social, Claval (1979, p. 39)

Compreende-se ainda que os afirma ser a vida social “feita de esforços

grupos sociais se organizam e criam as para assegurar a subsistência de todos,

ordens sócio-culturais que mantém as socializar os jovens, transmitir a cultura,

relações seja de um grupo ou de uma enriquecê-la ou adaptá-la a novas

sociedade. necessidades”. Esses esforços estão ligados

Ressaltando que em Weber (1982) aos fatores comuns que proporcionam a

a sociedade é apresentada como algo união cultural do grupo; contudo, o sujeito

sujeito a leis regulares; estas leis são precisa se identificar como integrante de

moldadas pela cultura, economia e política um grupo.

de cada sociedade, não são A cultura com seus significados1 e

necessariamente leis judiciais, existem significantes2 movimenta o agir humano,

outros tipos de regras e leis subjetivas que não somente na organização espacial

organizam e mantém a unidade social, em materializada, mas também na organização

melhor descrição, social e cultural. Assim,


Sociedade é todo grupo de pessoas que vivem A cultura é a soma dos comportamentos, dos

e trabalham juntas durante um período de saberes, das técnicas, dos conhecimentos e dos

tempo suficientemente longo para se


1
O significado para o geógrafo está relacionado com a
organizarem e para se considerarem como vivência e as relações do sujeito com o espaço. (SAHR,
2007)
2
Significante compreende a interpretação acadêmica
sobre a relação do sujeito com o espaço. (SAHR, 2007).

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valores acumulados pelos indivíduos durante cultura, buscamos os mortos e os deuses do


suas vidas e, em uma outra escala, pelo grupo, acontecimentos que influenciaram
conjunto dos grupos de que fazem parte. A nas relações culturais entre as pessoas.
cultura é herança transmitida de uma geração a
Essas relações culturais podem ser
outra. Ela tem suas raízes num passado
identificadas como as representações
longínquo, que mergulho no território onde
criadas pelos grupos sociais que mantêm
seus mortos são enterrados e onde seus deuses
por gerações a ordem sócio-cultural de
se manifestam. Não é, portanto um conjunto
convivência. Nesse sentido, Gil Filho
fechado e imutável de técnicas e de
comportamentos. (IDEM, 2007, p. 63) (2008, p. 24), apresenta a discussão sobre

Compreende-se a cultura na representação compreende que,muito mais

complexidade de seu conceito, por ser do que uma observação ou opinião sobre o
mundo, o ato de representar é a expressão de
amplo no momento que, corresponde os
uma internalização da visão de mundo
comportamentos, saberes, técnicas e
articulada que gera modelos para a organização
gerações. Em virtude do acúmulo de tudo
da realidade.
isso durante a vida do indivíduo e mais
Representação é uma visão de
ainda, quando percebe-se que não existe
mundo, uma possibilidade de imagem do
uma homogeneidade em todas essas
ambiente e que cada grupo cria seus atos
características e que cada pessoa que faz
de representar - suas representações –
parte de uma sociedade ou grupo
diferenciando, desta forma, as
apresentando diferenças quanto ao
organizações e relações do homem com
desenvolvimento das marcas culturais.
seu espaço.
Apresenta a cultura como uma
Considera-se ainda que a visão de
herança que influencia na construção social
mundo como uma forma de conhecimento
das relações de cada grupo, assim, a
muito específica e individual uma vez que
criança crescerá e trocará relações com o
cada pessoa adquire o conhecimento
grupo em que vive e destas relações
conforme sua vivencia e interpretação do
ocorrerá trocas culturais. Considera-se a
que viveu.
cultural dinâmica e consequentemente o
Representações semelhantes são
espaço também será.
fatores de união entre sujeito e grupos
Toda cultura está inserida em um
sociais, elas, com todo o simbolismo que
processo social-histórico, tendo suas raízes
as envolvem dão sentido à existencia do
num passado longínquo onde, muitas
espaço humanizado. Observa-se, ainda, as
vezes, para compreender uma determinada

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mudanças e surgimento de novas os ribeirinhos do Rio Madeira apresentam


representações, uma vez que o tempo e representações em seu modo de vida que
espaço vivido pelo ser humano sofrem demonstram uma relação subjetiva e
constantes transformações, conforme a valorativa com a mata e o rio.
necessidade de sobrevivência de um grupo Por meio da cultura, dos elos
social. afetivos e das experiências vividas, o
As representações de um grupo são ribeirinho constrói e vivencia seu lugar,
fundamentais para compreender as por isso, podemos identificar as
estruturas do espaço por elas produzido, representações sociais e culturais
praticado, organizado e administrados, pois existentes em cada grupo pesquisado. As
estão diretamente ligadas as necessidades narrativas ribeirinhas demonstram uma
de sobrevivência do grupo. relação do homem com o grupo, com o rio
No caso do modo de vida ribeirinho e a mata, elementos inseridos em seu modo
o rio e a mata ultrapassam o limite da de vida, conforme aponta Fraxe (2004),
materialização e ganham representações Silva (1994), Souza (2002) e Wagley
culturais para o grupo, como conseqüência (1988), demonstra ainda a existência de
podemos perceber que essa apreensão não uma relação sustentada no imaginário
homogeneizada do espaço vivido é (LOUREIRO, 1995), nos significados,
percebida pela naturalidade como o valores e representação dos seres
pescador vivencia o rio, mas que para ele é encantados para o ribeirinho e sua cultura.
fragmentado, em vários lugares é Na sua vida na mata e nos rios
topofóbico, isto é, não deve freqüentar por atribuiu sentido e valores ao mundo a sua
causa de ameaças naturais ou sobrenaturais volta, desenvolvendo uma relação
a vida do ribeirinho. específica com o espaço amazônico e vêm
Temos ainda com Tuan (1980) uma moldando esse com características
possibilidade de compreender a relação do econômicas, políticas, sociais e culturais
ser humano com o meio onde vive pelo correspondentes ao modo de vida desses
viés da percepção, valores e atitudes que caboclos, um modo de vida de interação
este desenvolve no seu lugar, abrindo com a mata e o rio, nesse sentido,
caminhos para compreender a cultura, com O caboclo humanizou e colocou a
seus elementos simbólicos, presentes e natureza à sua medida. Pelo imaginário, pela

caracterizando o espaço de vivência de um estetização, pelo povoamento mitológico, pelo


universo dos signos, pela intervenção na
grupo. Dessa forma, podemos perceber que

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visualidade, pela atividade artística, ele definiu por esta perspectiva da Geografia, isto é
sua grandeza diante desse conjunto grandioso possível porque os geógrafos culturais,
que é o “mundo amazônico” (LOUREIRO, compartilham o mesmo objetivo de descrever e
1995, p. 59). entender as relações entre a vida humana
Assim, com a floresta, o caboclo, coletiva e o mundo natural, as transformações
bem como outros grupos da Amazônia, produzidas por nossa existência no mundo da
desenvolveu uma relação próxima, a tal natureza e, sobretudo, os significados que a

ponto de atribuir vida e sentidos cultura atribui à sua existência e às suas


relações com o mundo natural. (COSGROVE,
característicos do ser humano. Diante da
2000, p. 34)
necessidade de sobrevivência o caboclo
Toda pesquisa geográfica com
dominou a floresta conforme seus
enfoque cultural está fundamentada nos
interesses e aprendeu a viver nela.
significados e valores que o indivíduo
atribuiu a sua existência ao lugar, bem
AS NARRATIVAS
como as relações sociais e espaciais com o
Intercalando as concepções de meio, ao compreender as relações entre o
Armand Frémont (1980) na obra “A homem e seu espaço, enfocando as
Região, Espaço Vivido” e José Carlos Sebe transformações culturais vivenciadas e sua
Bom Meihy (2005) na obra “Manual de influencia na organização do espaço de um
História Oral”, trabalhou a partir da A determinado grupo social.
partir da geografia cultural, abordamos os Com a concepção de que a cultura
sentimentos, valores culturais e molda e organiza o espaço a partir das
experiencias vividas do homem com o seu experiências vividas, apresenta as
espaço. Neste trabalho, a Geografia narrativas direcionando para a relação
Cultural possibilitou um olhar diferenciado cultural do ser humano com seu espaço.
para a relação do ribeirinho com seu Este trabalho foi desenvolvido com
espaço, um olhar da organização do seu moradores antigos em relação ao tempo de
lugar e valores atribuídos ao lugar residir de três localidades ribeirinhas, o
fundamentado na cultura do grupo. acesso aos moradores foi possível em
Esse olhar foi possível por virtude de pesquisas já realizadas e a
compreender que o espaço é um reflexo possibilidade de espacializá-la.
das ações culturais do homem. Sendo
assim, pode ser analisado e apresentado

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RESULTADO E DISCUSSÕES: O RIO pesca ou como o meio pelo qual transporta


NA VIDA RIBEIRINHA coisas e pessoas. Na obra “Cultura
Amazônica: uma poética do imaginário”,
A necessidade de sobrevivência
Loureiro (1995, p. 202) apresenta o rio
interligada a vida ribeirinha ao rio
como sendo “o lugar onde a água é água
favorecendo o surgimento de sentimentos
por excelência. O rio é de água. O rio está
afetivos. Nesse sentido, analisa os
vestido com a pele das águas”. No
seguintes pontos subjetivos envolvendo o
movimento do rio encontramos o limite
rio apresentados nas narrativas/entrevistas
dos sonhos, afeição, do querer e aflição.
desse grupo social:
Olhar para o rio proporciona calmaria e
reflexão, ou seja, o rio tornou-se um
O rio como elemento de representação
elemento constituinte do espaço e da
geográfica
cultura ribeirinha, estando diretamente
“Porque eu gosto daqui... eu criei...
e criei meus filhos todo na beira do ligado com o psicológico dos moradores.
rio olhando para essa água A presença deste elemento em todo o
comendo um peixinho feito na hora processo de vida dos moradores,
pega ai agente limpa cozinha...
evidencia-se esta situação na fala de Dona
frita... assa é muito gostoso...”
M. R. D. S.,
(Dona M. R. D. S.).
“Meus filhos nasceram e se
criaram no rio...”
Neste fragmento, percebe-se que “o
rio não é meramente espaço físico, móvel,
E continua falando do rio,
mutante, mas lugar de seu trabalho, de sua
sobrevivência, e sobre o qual dispõem de “criei meu filhos bebendo essa água
grandes conhecimentos acumulados.” usando... pra tudo... era bebendo...
(FRAXE, 2004, p.48). A partir do tomar banho e não tenho nenhum
aleijado... só de feiúra... não tenho
momento que a mãe cria seus filhos na
não... e não eram doentio não... criei
beira do rio ensinando-os também a fazer
meus filhos nesse rio...”.
dele seu meio de sobrevivência seja a
pesca para venda ou para o consumo, faz Mais uma vez, percebe-se o rio
com que esse torne-se parte da vida como um elemento representativo na vida
cotidiana da família. de Dona M. R. D. S., a gratidão pela água
O rio está presente de várias formas oferecida por ele a qual, quando
na vida ribeirinha, seja como o lugar da necessário, saciam a sede, tomam banho,

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lavam a roupa, molharem as plantações, Por isso, ouvimos, durante o


como a narradora expõe “para tudo”. Desta trabalho de campo, falas como,
forma, o rio é, local de trabalho, lazer, meio “o rio... gosto... gosto... às vezes eu

de comunicação e contemplação. Como a vou ate lá...”.

comunidade ainda não possui água encanada, é


no rio que se banham e pegam água para o
E continuam falando do rio,
“gosto de pular na água... de
consumo de casa. É do rio que tiram o sustento
primeiro nóis pulava de mais
da família, pois a principal atividade produtiva
nesse rio era uma bênção... não
dos moradores é a pesca. (FIGUEIREDO,
sei porque condenaram a água do
2002, p.112)
rio...” (Dona M. R. D. S.).
Além de registrar a presença do rio
nas ações diárias, há um destaque para a O rio, neste caso, apresenta-se não
relação de gerações na fala da narradora. apenas como um lugar em um ponto
Seus filhos nascerem e se criaram próximo determinado, mas como um elemento
ao rio. Logo, este faz parte do todo o presente da vida da narradora. O “pular na
processo de formação de seus filhos, desde água” reflete o momento de vivência da
a primeira infância, a segunda infância, a narradora com o rio, o sentimento de
adolescência e a fase adulta (CLAVAL, gostar ligado a uma brincadeira infantil, “é
2007). Fazendo parte do lugar ribeirinho nas águas do rio que se divertem, crianças
para esta narradora. e adultos e é através do rio que se
A relação identificada entre os comunicam com o mundo exterior”
narradores e o rio ultrapassa os limites da (FIGUEIREDO, 2002, p.112). Percebe-se,
materialização, não é apenas um elemento então, que o rio é um elemento presente na
que favorece a sobrevivência do grupo, vida dos moradores das localidades
com o peixe e a água, está presente na ribeirinhas.
organização espacial das comunidades uma A relação dos narradores com o rio
vez que as casas são construídas em volta é compreensivo no momento em que
dele. Através dele, os moradores navegam pensamos que “quando residimos por
para visitar outras localidades, lugar das muito tempo em determinado lugar,
representações da cultura ribeirinha, o podemos conhecê-lo intimamente.”
Boto e a Cobra-Grande. Diante de tudo (TUAN, 1983, p. 21). Mais do que
isto, cria-se uma relação subjetiva do conhecê-lo intimamente, podemos atribuir
narrador com o rio.

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a ele valores e sentimentos como se fosse narradora justifica o porquê de morar na


humano, ou seja, humanizá-lo. beira do rio,
As águas refletem o viver “mais é pra nós que gostamos de
água... do seu barulho... fico
ribeirinho, um viver que não está limitado
parada hora e hora só escudando
à compreensão de morar a beira do rio,
esse chuá... chuá das águas...”
mas sim de vivenciar o rio. Desta forma, (Dona M. S. P.).
encontramos falas como esta,
“eu vou ficar feliz só aqui na beira
Assim, morar na beira do rio para a
do rio”
narradora não significa somente um meio
de satisfazer suas necessidades de
E mais,
alimentação, ele torna-se um lugar que é
“eu não sei morar num cantinho e atribuído sentimento e afetividade para
olhar pra um lado e outro e não ter aqueles que vivem na comunidade.
o rio e não é esse negocio de
Percebe-se então que “para estas
igarapé não... eu gosto de água...”
populações, o rio não é apenas um
(Dona M. S. P.)
elemento do cenário ou paisagem, mas

A felicidade apresenta-se como um algo constitutivo do modo de ser e viver do

sentimento ligado à situação de morar na homem” (SILVA e SOUZA FILHO, 2002,

beira do rio. Por isso, identificamos que p. 27). Ou seja, mais uma vez o rio não é

“na frente de cada localidade, situada à um elemento estático, um simples

beira do Rio Madeira existe sempre um “fornecedor” de alimento, mas sim um

banco de madeira que permite aos elemento presente e característico de um

moradores observarem o rio” modo de vida ribeirinha.

(FIGUEIREDO, 2002, p.112). Desta


forma, os moradores, em especial nossa O rio: fundamental para sobrevivência
narradora, sentam-se em frente ao rio, e Para além de um elemento físico e

olhando para ele conversam, trocando parado, encontramos, no reflexo das águas,

relações e decisões para o grupo, quando um lugar humanizado, vivenciado e

necessário, um ponto de encontro dos produzido para acolher a vida ribeirinha.

moradores com a presença do rio. As águas que formam o rio representam a

A afetividade com o rio faz vida que há nele, os perigos que estão nas

presente em vários momentos da fala dos profundezas do rio Madeira. Do rio vem o

narradores, como neste caso onde a peixe, principal alimento das comunidades

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ribeirinhas e de fácil acesso, esta situação envolvendo o rio, destacamos uma, em que
faz como este elemento natural torne-se a narradora diz:
representação social por ser o lugar da “o rio já levou uma parte como daqui naquele
casarão... o rio Madeira veio e já comeu tudo...”
pesca, morar próximo ao rio significa não
(Dona M. R. D. S.).
passar fome.
Neste sentido, Dona M. S. P.,
Neste fragmento, percebe-se o
falando sobre o rio afirma,
quanto o rio pode representar pontos
“é muita gente que essas águas dá
opostos. Dá mesma forma que ele oferece
o de comer...”
o alimento mantendo a sobrevivência do

Sendo o rio o lugar do peixe e este grupo ele desbarranca o lugar levando

um dos principais elementos da embora parte de algo que a comunidade

alimentação ribeirinha, a narradora atribuiu construiu ou plantou, “o rio torna-se,

ao rio o ato de doar a comida. Logo, uma portanto, como uma coisa viva da qual

afetividade de gratidão e agradecimento tudo pode vir, como de tudo o que é vivo,

para com o rio. de tudo o que tem vida” (LOUREIRO,

O rio ainda é um elemento tão marcante na 1995, p.203). Para a narradora, o rio

vida ribeirinha que podemos identificar o Madeira representa algo forte e supremo,

tempo amazônico “marcado pelo que se impõe pela força e fúria, precisa ser

movimento das águas, das enchentes; as respeitado, admirado e vivenciado.

viagens não são contadas por quilômetros Ainda neste sentido, Dona D. M.

percorridos, mas por horas de viagem M. afirma,


“o rio é poderoso tem força bota gente
deitados na rede” (SILVA e
pra correr só fica aqui quem o rio
NASCIMENTO E SILVA, 2002, p.69). O
deixa...”.
movimento das águas do rio funciona
como marcado do tempo, como
Isso torna-se possível quando
fertilizantes naturais para o solo, seu
sabemos das alterações do nível da água do
movimento proporciona o balançar da rede
rio Madeira, situação que se apresenta
durante as horas de viagens pelos rios da
como “fator que limita o tamanho das
Amazônia.
roças, porque a enchente força uma
Identificamos, predominantemente
colheita rápida que depende da mão de
nas narrativas, diferentes experiências
obra familiar disponível” (SILVA e
SOUZA FILHO, 2002, p.35).

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A fúria da água quando branda maravilhas nas coisas” (SOUSA, 2002,


proporciona uma boa colheita, porém em p.86). Mais do que um simples elemento
estado oposto pode representar o fim da físico no espaço ribeirinho, o rio está
colheita. Por isto, compreende-se o quanto presente na vida dos moradores, sendo
o rio é poderoso; é como se ele escolhesse atribuídos representações no momento em
quando terá ou não a colheita. Os que vêem, sentem e expressam coisas
moradores que não sabem vivenciar o rio maravilhosas e subjetivas referente a ele.
deixam a comunidade ficando somente Isto ocorre porque “os seres humanos são
aqueles que o “rio permite”. os únicos entre os primatas que têm o
sentido de lar com um lugar” (TUAN,
O deslocamento: perdendo o rio 1983, p.15). Logo, movido pelo sentimento
ribeirinho de lar ligado a um determinado lugar onde
O rio apresenta-se como um vivem, o sentimento de partida significa
elemento tão importante na vida ribeirinha mais do que simplesmente mudar, podendo
que na fala de Dona M. R. D. S., no ser compreendido como a perda de parte
momento que expõe o fato de ter que sair do próprio ser. É um laço de afetividade
da Cachoeira por causa da construção de entre o ribeirinho e o lugar, reforçado pela
uma Usina Hidrelétrica por Furnas, deixa sensação de pertencimento deste último.
claro que deseja morar ainda na beira do
rio, tanto que, segunda a narradora, quando CONSIDERAÇÕES
a empresa procura os moradores para
A realização deste trabalho
negociar o novo lugar para morarem eles
permitiu entrar em um mundo subjetivo da
disseram que,
cultura ribeirinha e encontrar mecanismos
“nóis queremos aqui em cima da
pedra para ficar olhando para o rio
de sobrevivência, organização e
o tempo todo... seja lá para onde explicações de um modo de vida
que for mas eu quero ficar assim característico dos grupos ribeirinhos do
olhando o rio...” (Dona M. R. D.
Rio Madeira.
S.)
Uma vida desprendida de ambições
consumistas com um tempo marcado pela
Os narradores “tendo visivelmente
relação subjetiva do ribeirinho com a mata
a presença do rio e da floresta, mesmo
e o rio caracterizando um modo de vida
mantendo uma relação estreita de vida e de
ribeirinho. No balançar de uma rede e nos
trabalho, o caboclo amazônico vê

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reflexos das águas, sobrevivem sem o refletida nas representações ribeirinhas


“corre-corre” da vida urbana característica sociais e culturais.
de capitais e cidades tipicamente urbanas. Portanto, há uma inviabilidade de
Foi possível identificar e fazer generalizações, considerando as
demonstrar uma relação afetiva do muitas localidades ribeirinhas, por mais
ribeirinho para com seu lugar semelhante que sejam suas construções
espacializando suas experiências de vida espaciais são únicas dentre muitas
por meio de sua fala. Ao apresentar o lugar influências. Essa situação movimenta
do ribeirinho sendo interpretador e espacialmente e cronologicamente o
compreendido por sua cultura com uma homem e no mundo. Evidenciando estas
organização e relações espaciais diferença deixa-se em aberto uma nova
característica do grupo estamos reflexão para a diversidade sócio-étnica-
possibilitando compreender um modo de cultural dos seres humanos.
vida marcado por simbolismos subjetivos Por fim, agradece ao Programa de
que nos permitem dizer que o espaço Pós-Graduação Mestrado em Geografia da
ribeirinho é tão complexo e simbólico Universidade Federal de Rondônia, em
como todos os outros espaço de qualquer especial ao meu orientador e ao Conselho
outro grupo social. Nacional de Desenvolvimento
Estão tão próximos e ao mesmo Científico e Tecnológico-CNPq.
tempo tão longe do centro da cidade. Não
vivem isolados, frequentam tranquilamente REFERÊNCIAS
Porto Velho, porém vivenciam esse modo
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de vida ribeirinho, onde, interpretando as humana. 8. ed.- Rio de Janeiro: Forense
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