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Terapia Fenomenológico-Existencial nas Comunidades Populares – Por uma Terapêutica Hilética e Brasileiramente Situada

RESENHA

Habitar em Risco: Mobilidade e Vulnerabilidade


na Experiência Metropolitana

(Eduardo Marandola Jr, 2014)

Fernanda Cristina de Paula

“[...] que é habitar em risco? É todo o habitar Um pensamento fenomenológico geográfico do risco,
contemporâneo? perigo e vulnerabilidade, tal como desenvolvido pelo
Sim, todo o habitar é um habitar em risco. autor, começa por uma busca de compreensão dessas
Isto não se dá em virtude da sua essência, mas por noções como fenômenos vividos. Começa por uma in-
causa da essência da metrópole contemporânea” dagação pela experiência das pessoas, pelo o que, no
Eduardo Marandola Jr. dia-a-dia, na experiência, seja risco, perigo, vulnerabi-
lidade. Acrescida à dimensão experiencial dos riscos,
perigos e vulnerabilidades, Marandola Jr. destaca que
1. Uma fenomenologia geográfica esta dimensão experiencial é, sempre, espacial; em ou-
tras palavras, a experiência do risco, do perigo e da
O livro “Habitar em risco: mobilidade e vulnerabili- vulnerabilidade se dá nos lugares, pelos lugares, nas
dade na experiência metropolitana”, do geógrafo Eduardo articulações entre eles, nas formas como as pessoas se
Marandola Jr., é uma fenomenologia geográfica do habitar relacionam com eles.
metropolitano contemporâneo; e a partir desta fenome- O autor sublinha que, há, portanto, uma dimensão
nologia geográfica, Marandola Jr. busca compreender ris- geográfica dos riscos, perigos e vulnerabilidade e que a
cos, perigos e vulnerabilidades associados a esse habitar. geografia participa da ontologia desses fenômenos. E é a
O livro lida com um conjunto de noções que vêm sen- partir deste ponto que a reflexão de Marandola Jr. con-
do, nas últimas décadas, um dos principais pontos de tribui para um aprofundamento da compreensão desta
contato entre políticas públicas e a reflexão acadêmica, tríade de conceitos: abordando-a a partir dos sentidos do
os conceitos de risco, perigo, vulnerabilidade. São diver- viver metropolitano, lhes indagando a partir dos lugares,
sas as orientações teóricas e as metodologias que discuti- a partir da forma como habitamos os lugares.
ram e continuam discutindo esses três conceitos, no que A discussão desenvolvida no livro está dividida em
poderíamos chamar de uma busca sistemática de pensar, três partes: “Geografia dos Riscos”, “A Região e as Cida-
decompor, buscar as causas, medir a amplitude e a pro- des” e “Habitar a Metrópole”.
fundidade de eventos ou situações danosos, negativos. Na primeira parte, o autor contextualiza como risco,
Neste contexto, de um modo geral, risco veio sendo pen- perigo e vulnerabilidade vieram sendo pesquisados pe-
sado como potencial de concretização de perigo, perigo la academia científica. A partir de uma reflexão voltada
corresponderia ao evento danoso e a vulnerabilidade se- para os sentidos desses conceitos enquanto fenômenos,
ria o grau de exposição ao dano. revela-os como uma faceta de um contemporâneo marca-
A difusão desses três conceitos, tanto no âmbito acadê- do pelas sensações de incerteza e insegurança.
mico quanto no político, é flagrante: existem, atualmente, Nesse debate, a constatação da dimensão geográfica
diversos indicadores e mapas de vulnerabilidades; exis- destes fenômenos encaminha a discussão não só para
tem mensurações de diferentes vulnerabilidades (social, uma ontologia geográfica do risco, perigo e vulnerabili-
socioeconômica, à fome, à riscos naturais, etc.); existem dade, mas também e necessariamente, para uma onto-
análises de riscos, perigos e vulnerabilidade concernentes logia geográfica do próprio Ser. Na subseção intitulada
à parcelas de população, cidades ou países. Dentro des- “O Sentido Ontológico do Habitar”, Marandola Jr., a par-
te contexto, o livro de Marandola Jr. aparece propondo tir do pensamento sobre espaço do fenomenólogo Martin
Resenha

uma reflexão fenomenológica geográfica de risco, perigo Heidegger, desenvolve uma reflexão sobre o fenômeno
e vulnerabilidade. Mas o que seria um pensamento feno- habitar, apontando-o como essência da relação homem-
menológico geográfico destes três conceitos? meio, modo próprio de o homem ser e estar no mundo.

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Paulo E. R. A. Evangelista

E é esse sentido ontológico do habitar que orienta toda a Fernanda Cristina de Paula - Possui Bacharelado e Licenciatura em
construção teórico-metodológica da pesquisa. Geografia, Mestrado em Geografia pela Universidade Estadual de Cam-
A segunda parte do livro, “A Região e as Cidades”, é pinas, foi docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e
dedicada a um duplo movimento. Um é o de presenti- atualmente é Doutoranda em Geografia, no Instituto de Geociências/
Universidade Estadual de Campinas e integrante do Grupo de Pesqui-
ficar o metropolitano pesquisado (Região Metropolita- sa Geografia Humanista Cultural (EAU-FAU/ UFF). E-mail: depaula.
na de Campinas, Estado de São Paulo), articulando essa fernandac@yahoo.com.br
presentificação a uma reflexão sobre o sentido ontoló-
gico de metrópole. O segundo movimento é a discussão
dos procedimentos teórico-metodológicos que visam
abordar o habitar metropolitano; onde se destacam a
construção de metodologias geográficas orientadas pe-
la Fenomenologia. Essas metodologias se congregam na
abordagem/conceito, desenvolvido pelo autor, denomi-
nado “espaço de vida”.
A terceira parte, “Habitar a metrópole” é dedicada à
própria experiência do habitar metropolitano, trazido a
partir dos espaços de vida de moradores da região pes-
quisada. A partir desses espaços de vida, Marandola Jr.
revela a experiência de viver a metrópole e, nessa expe-
riência, a manifestação de risco, perigo e, mesmo, a re-
flexão sobre uma vulnerabilidade até então nunca dis-
cutida nos estudos de risco, perigos e vulnerabilidade: a
vulnerabilidade existencial. O autor destaca que, nesta
vulnerabilidade, a casa, o bairro, as territorialidades que
constituímos têm seus pesos tanto enquanto orientado-
res de nossa forma de habitar e, por conseguinte, como
elementos de nossa segurança existencial. É nesse sen-
tido que Marandola Jr. apresenta uma série de questio-
namentos, tece reflexões e abre caminhos concernentes
à compreensão do sentido da casa, da cidade, da metró-
pole, do habitar metropolitano.
O livro Habitar em Risco é uma dupla contribuição em
um único projeto. De um lado, enquanto fenomenologia
geográfica da tríade riscos, perigos, vulnerabilidade e do
habitar metropolitano, reenvia a reflexão dessas noções à
concretude de suas existências, aproximando o que muitas
vezes é apresentando enquanto pólos opostos e distantes:
o conhecimento científico e a vida das pessoas, as quais
esse conhecimento busca compreender e, mesmo, inter-
vir. Por outro lado, esse retorno às coisas nelas mesmas,
conduz e reconduz o pensamento do autor em direção a
uma ontologia geográfica, a qual, necessariamente, não
é uma contribuição somente para aprofundar a compre-
ensão de riscos, perigos e vulnerabilidade, mas também,
enquanto ontologia, é uma abertura de caminhos em di-
reção a outras formas de pensar o homem, os lugares, a
geografia e o fazer ciência.

Referência

Marandola Jr., E. (2014). Habitar em risco: mobilidade e vulne-


rabilidade na experiência metropolitana. São Paulo: Blu-
Resenha

cher, 250p.

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