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Carmem Lussi∗
♦
Palestra apresentada na Mesa redonda “Migrações e identidades étnicas” na Faculdade de Serviço Social –
Programa de Estudos de Gênero, Geração e Etnia – UERJ – Rio de Janeiro, 10 de julho de 2009.
∗
Mestre em Missiologia. Trabalhou no serviço sócio-pastoral, na formação e na coordenação de projetos entre
migrantes italianos na Alemanha, entre sul-americanos e filipinos na Itália, entre refugiados angolanos no Congo
e em contexto de migração interna, no Brasil. Foi diretora do CSEM – Centro Scalabriniano de Estudos
Migratórios de Brasília entre 2005 e 2008 e da Revista REMHU até 2009. Atualmente é doutoranda em Teologia
pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Email: eukarizando@yahoo.com.br .
1
Não é possível, neste espaço, tratar do tema dos direitos humanos dos migrantes. Sugere-se como uma fonte
rica de diferentes abordagens o volume da REMHU – Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana, vol. 16,
n. 31, 2008, 592 pp., que publicou os atos do Seminário Migrações Internacionais e Direitos Humanos, onde
pode-se encontrar também ampla bibliografia sobre o tema.
2
Sobre conceito de vulnerabilidade e as questões metodológicas na abordagem acadêmica ao tema, interessantes
estudos foram realizados recentemente pelo Projeto Vulnerabilidade do NEPO/UNICAMP -
http://www.nepo.unicamp.br/vulnerabilidade . Cf também o artigo de Eduardo Marandola Jr (geógrafo) e Daniel
Joseph Hogan (demógrafo), apresentado na ABEP de 2008: “Vulnerabilidade do lugar vs. vulnerabilidade
sociodemográfica: implicações metodológicas de uma velha questão” disponível em
http://www.abep.org.br/usuario/GerenciaNavegacao.php?caderno_id=659&nivel=1. Os autores trabalham a
vulnerabilidade com abordagem qualitativa fenomenológica: “Essa abordagem coloca a experiência dos
fenômenos como foco principal, encarando a experiência espacial como a principal mediação do indivíduo com
o ambiente. Este é entendido de forma ampla, incluindo o ‘mundo’ de significados onde a pessoa está inserida,
desde as esferas mais imediatas (família, grupo, bairro, cidade) até as mais distantes (país, etnia, mundo). É uma
perspectiva que busca interligar as esferas sociais a partir da experiência, permitindo abordar as questões nem
pelo ambiente nem pela sociedade, mas a partir de sua relação” (p. 3).
3
LUSSI, Carmem e MARINUCCI, Roberto. “Vulnerabilidade social em contexto migratório” in
http://www.csem.org.br/artigos_port_artigos2007.html p. 2. A citação de Bustamante é de BUSTAMANTE, A.
Jorge. “La vulnerabilidad de los migrantes internacionales como sujetos de derechos humanos”. Revista Inter-
forum, n. 107, a. 3, (diz -2002), p. 3. Disponível em:
http://www.revistainterforum.com/espanol/pdfes/jorge_5Fbustamante_5Fvulner_5Fesp.pdf
4
Cf. também interessante artigo de FRANCO LEAL, Giuliana. “‘Populações excluídas’: uma categoria de
pesquisa viável?” Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado
em Caxambu-MG, Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008. Disponível em:
http://www.abep.org.br/usuario/GerenciaNavegacao.php?caderno_id=659&nivel=1 , no qual a autora explica os
termos de “exclusão social” e de “não-cidadania” como equivalentes e pertinente ao que neste texto é
identificado com situação de vulnerabilidade. No mesmo texto a autora considera não adequado o uso do termo
“população(s) excluída(s)”, p. 2.
5
Cf. VANICE DESCHAMPS, Marley. Vulnerabilidade socioambiental na Região Metropolitana de Curitiba.
(Tese de Doutorado) – Universidade Federal do Paraná, 2004, p. 80-84.
6
A Rede dos Casa del Migrante de Tijuana, no México, fixa a cada ano um caixão no muro entre México e
Estados Unidos, com o número de migrantes mortos na travessia, dos quais é conhecido o nome. Muitos de tais
nomes estão registrados em cruzes, fixadas no mesmo muro.
7
Categoria explicada no estudo de DE PAOLA, Fernanda Cristina e HOGAN, Daniel Jospeh. “Discutindo
vulnerabilidade do Lugar: Riscos e Perigos em Bairros de Campinas (SP)”. Trabalho apresentado no XVI
Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de
outubro de 2008. Disponível em
http://www.abep.org.br/usuario/GerenciaNavegacao.php?caderno_id=659&nivel=1 .
8
No caso das migrações internas estudos mostram a mesma dinâmica. Cf. a tese doutoral de Antonio Tadeu
Ribeiro de Oliveira. A mobilidade espacial da população e as transformações do processo produtivo no Brasil
pós-1980: o caso do Estado do Rio de Janeiro. Campinas, 2009. O autor mostrou que as estatísticas sobre
trabalho precário no estado e na RM do Rio de Janeiro têm índices maiores entre os migrantes, com – por
exemplo, na década de ’80 – 48,2% dos migrantes estavam em ocupações de baixa qualificação (p.119) e no
período 1986-1991 a porcentagem de relações precárias de trabalho entre os imigrantes foi de 5,3% maior que a
da população economicamente ativa do Rio (p. 132). Outro exemplo de situação de vulnerabilidade ligada ao
processo migratório, mais do que às características contingentes dos sujeitos individuais é discutida por José
Marcos Pinto da Cunha e Alberto Augusto Eichman Jakob. “Segregação socioespacial e inserção no mercado de
trabalho na Região Metropolitana de Campinas”. Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos
Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú - MG - Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.
Disponível em http://www.abep.org.br/usuario/GerenciaNavegacao.php?caderno_id=659&nivel=1 .
9
PINTO DA CUNHA, Marcos & EICHMAN JAKOB, Alberto Augusto. op. cit., p. 6.
10
Não é possível considerar nesse breve artigo o tema em relação a prófugos e refugiados pela especificidade de
tais fluxos e respectivas causas. O volume citado da REMHU publicou diversos estudos sobre direitos humanos
de refugiados, todavia, a fonte principal para o tema são os relatórios anuais do ACNUR – Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Refugiados disponíveis em http://www.unhcr.org/pages/49c3646c4b8.html.
11
Cf. http://beta.vita.it/news/view/91812 a denúncia de Anistia Internacional no caso do re-envio à Líbia de
imigrantes socorridos no Mediterrâneo.
12
Categoria usada por PERRONE, Luigi. Da straniero a clandestino. Lo straniero nel pensiero sociologico
occidentale. Napoli: Liguori, 2005 e amplamente desenvolvida também por DAL LAGO, Alessandro. Non-
persone. L’esclusione dei migranti in una società globale. Milano: Feltrinelli, 2005, entre outros textos.
13
GIRARD, René. Bode expiatório. São Paulo: Paulus, 2004.
14
Em oposição ao medo da alteridade, Mary Castro trabalha com a categoria de ‘reconhecimento’ como
possibilidade e indicação de percurso para políticas migratórias na perspectiva dos direitos humanos dos e das
migrantes. Cf. GARCIA CASTRO, Mary. “Migrações internacionais e direitos humanos e o aporte do
reconhecimento” in REMHU vol 16, n. 31, 2008, p. 7-35.
15
Cf. LUSSI, Carmem. “Progetti migratori e pastorali: la sfida missionaria” in REMHU, vol. 14, n. 26&27, p.
209-237.
16
MARANDOLA JR, Eduardo e HOGAN, Daniel Joseph, op. cit., p. 6.
17
Não é possível contemplar aqui os casos de tráfico de pessoas, pela sua complexidade e especificidade.
18
Cf. NATHAN, Tobie. L’influence qui guérit. Paris : Odile Jacob, 2004 ; IDEM. Nous ne sommes pas seuls au
monde. Les enjeux de l’ethnopsychiatrie. Paris : Le Seuil, 2001 ; IDEM. A qui j’appartiens ? Paris: Le Seuil,
2007.
19
Cf no Brasil interessante volume curado por DeBiaggi, Sylvia Dantas (orgs.); Paiva, Geraldo José de.
Psicologia, e/imigração e cultura. São Paulo : Casa do Psicólogo, 2004.
20
CAMMILLERI, Carmel e COHEN-EMERIQUE, Magalit. Choc de culture? Concepts et enjeux pratiques de
l’interculturel. Paris: L’Harmattan, 1989.
21
Vale como exemplo o uso do véu islâmico na França, usado ao mesmo tempo como bandeira de afirmação da
comunidade muçulamana no país e expressão identitaria das migrantes e, em contraposição, proibida nas escolas
– e talvez em todo o país proximamente – pela oposição política da direita francesa, usando como argumentação
uma certa concepção “religiosa” da laicidade ou laicismo francês.
22
Ver o elogio das identidades complexas feita pelo premio novel da literatura Amin Maalouf em IDEM.
L’identità. Milano: Bompiani, 2005.
23
Cf. RAHOLA, Federico. “La macchina della detenzione. I campi come dispositivo di governo delle
migrazioni” in REMHU vol 14, n. 31, 2008, p. 401-411.
24
Cf. GARCIA CASTRO, Mary., op. cit., aqui p. 22-23.
25
IDEM, p. 19.
26
É em aumento o número de migrantes que entram em situação de irregularidade após anos de regular
permanêencia em países como os da União Europeia pelo aumento das dificuldades de manter emprego e as
condições exigidas para manter-se em situação de regularidade migratória. Estudos mostram que a regularidade
migratória e certos direitos fundamentais como o direito à reunião familiar para menores de 18 anos é uma
condição cada vez menos segura e mais difícil de ser obtida nos principais destinos migratórios atuais.
27
Cf. SEYLA BENHABIB AND JUDITH RESNIK (ed). Migrations and Mobilities. Citizenship, Borders, and
Gender. New York and London: New York University Press, 2009, p. 333-386.
Migração como (falsa) solução (mito e ambiguidades das remessas). Se por um lado
o empobrecimento de determinadas classes sociais, a ampliação das desigualdades entre
nações e a busca por oportunidades de mobilidade social e melhores condições de vida
sintetizam as principais causas das migrações internacionais, por outro lado uma
consequencia expressivamente positiva a justificou por um certo tempo aos olhos de muitos:
as remessas, que foram consideradas a grande chave de solução da pobreza para muitos países
como Equador ou alguns países da América Central, por exemplo. Cedo revelaram-se
também, para quem quer reconhecer, as ambiuidades e vulnerabilidades geradas pelo
“império das remessas”. Se é verdade que no Brasil o valor das remessas supera o que o país
ganha com a exportação da soja, deveria ser igualmente importante saber como se produzem,
a quais preços humanos e sociais tais valores são conquistados e quais as consequencias para
as gerações mais jovens que tais rendas “gratuitas” produzem, quando provindas de genitores
ausentes. O leque da população exposta a vulnerabilidades, neste caso, aumenta porque inclui
quem emigra, quem recebe as remessas e quem, no lugar de origem, não recebe remessas mas
tem que conviver com os efeitos que tais remessas produzem na economia local, para todos e
todas, não somente para quem vive recebendo dólares ou euros, todo mês31. A longo prazo,
projetos migratórios finalizados ao acúmulo financeiro e ao retorno têm-se revelado
humanamente insustentáveis pelas condições psicosociais e trabalhistas a que as pessoas têm
que se submeter para alcançar as metas planejadas. Os fluxos Brasil-Japão das últimas
décadas estão entre os mais sintomáticos e os mais estudados sobre o tema.
28
CASTELS, Stephen. “The factors that make and unmake migration policies” in DeWind Josh and PORTES,
Alejandro (ed.). Rethinking migration. New theoretical and empirical perspectives. New York&Oxford:
Gerghahn Books, 2007, p. 29-61.
29
VERTOVEC, Steven. “Migrant transnationalism and modes of transformation” in DeWind Josh and PORTES,
Alejandro (ed.)., op. cit., p. 156-157.
30
Op. cit., p. 20.
31
Exemplo clássico é o aumento desproporcional dos valores no mercado imobiliário de Governador Valadares.
10
34
MARANDOLA JR., Eduardo. “Mobilidade e Vulnerabilidade nos Espaços de Vida de Campinas” Trabalho
apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú - MG – Brasil,
de 18 a 22 de setembro de 2006, p. 3-4.
35
Cf volumes de BAUMAN, Zigmund. A Editora Zahar já publicou 18 títulos:
http://www.zahar.com.br/catalogo_autores_detalhe.asp?aut=Zygmunt+Bauman .
36
A referenzia à categoria de “efeitos perversos” refere-se às consequencias negativas das ações positivas
realizadas por instituições que atuam, nos países de imigração, em progetos e programas de proteção e defesa
dos direitos humanos dos e das imigrantes.
11
Referências bibliográficas
DE MORAES FREIRE, Silene (org.). Direitos humanos. Violência e pobreza na América
Latina contemporânea.
DE PAOLA; Fernanda Cristina e HOGAN, Daniel Jospeh. “Discutindo vulnerabilidade do
Lugar: Riscos e Perigos em Bairros de Campinas (SP)”. Trabalho apresentado no XVI
Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 29
de setembro a 03 de outubro de 2008. Disponível em
http://www.abep.org.br/usuario/GerenciaNavegacao.php?caderno_id=659&nivel=1 .
FRANCO LEAL, Giuliana. “‘Populações excluídas’: uma categoria de pesquisa viável?”
Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP,
realizado em Caxambu-MG, Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.
Disponível em:
http://www.abep.org.br/usuario/GerenciaNavegacao.php?caderno_id=659&nivel=1 ,
LUSSI, Carmem e MARINUCCI, Roberto. “Vulnerabilidade social em contexto migratório”
in http://www.csem.org.br/artigos_port_artigos07.html.
MARANDOLA JR., Eduardo e HAGAN, Daniel Joseph. “Vulnerabilidade do lugar vs.
vulnerabilidade sociodemográfica: implicações metodológicas de uma velha questão”
Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado
em Caxambu - MG – Brasil, de 29 de Setembro a 03 de Outubro de 2008. Disponível em
http://www.abep.org.br/usuario/GerenciaNavegacao.php?caderno_id=659&nivel=1 .
MARINUCCI, Roberto. “Migrações e direitos humanos” disponível em
http://www.csem.org.br/artigos_port_artigos08.html.
Migrações internacionais e direitos humanos in REMHU – Revista Interdisciplinar da
Mobilidade Humana, vol. 16, n. 31, 2008.
SEYLA BENHABIB AND JUDITH RESNIK (ed). Migrations and Mobilities. Citizenship,
Borders, and Gender. New York and London: New York University Press, 2009.
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