Você está na página 1de 24

Direito Ambiental

Material Teórico
O Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Solange Aparecida Guimarães

Revisão Textual:
Profa. Ms. Rosemary Toffoli
O Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988

• A Constituição de 1988

• O Meio Ambiente e a Ordem Econômica na


Constituição Federal

• Função Social da Propriedade

• Saúde

• Ministério Público

• Indígenas

• Competência em Matéria Ambiental

• Referências Constitucionais sobre Meio Ambiente

·· Nesta Unidade, estudaremos as disposições constitucionais


sobre o meio ambiente. Além do artigo 225, a CF dispôs
sobre as questões ambientais em muitos outros artigos, com
referências diretas e indiretas à proteção do meio ambiente
natural, artificial, cultural e do trabalho. Também analisaremos
as competências em matéria ambiental, tema fundamental no
estudo do Direito ambiental. É muito importante que todos os
artigos da Constituição que tratam do meio ambiente sejam
lidos, e por isso, quase todos forma reproduzidos ao longo
desta Unidade, para melhor compreensão e análise do tema.

Ao fazer a leitura do texto, procure anotar os pontos que considere mais importantes e anote
também as suas dúvidas, pois o tema é fundamental para a aplicação do Direito Ambiental.
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.

5
Unidade: O Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988

Contextualização

A Função social da propriedade tem estreita relação com a função ambiental. A Constituição
Federal prevê essa proteção de forma ampla.
Ou seja, hoje as limitações ao Direito de Propriedade são de ordem socioambiental.
Ordem Econômica: o legislador constituinte reconhece a importância e protege a iniciativa
econômica, mas esta deve estar em harmonia com a proteção do meio ambiente, e não visar,
exclusivamente, ao lucro!!
A Constituição também protege os indígenas e suas tradições!
Foi fundamental no desenvolvimento da proteção ambiental as disposições constitucionais
sobre o meio ambiente. O respeito à Constituição, à proteção dos bens ambientais, às
competências ambientais farão toda a diferença agora e no futuro.

6
1. A Constituição de 1988

Conforme já mencionamos anteriormente, a Constituição Federal de 1988 trouxe grandes


inovações em matéria ambiental, sendo até mesmo chamada por alguns de “Constituição
Verde”. O legislador constituinte de 1988 buscou apresentar uma efetiva tutela para o meio
ambiente, trazendo mecanismos para sua proteção e controle.
Nos vários artigos que se referem ao meio ambiente na ordem constitucional, vê-se logo o
perfil interdisciplinar da questão, pois referem-se a aspectos econômicos, sociais, administrativos,
alcançando inclusive matérias de ordem penal e de saúde pública.
É sempre bom lembrarmos o artigo 225 da Constituição, base do atual sistema de proteção
ambiental no Brasil:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar
as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização
que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas
que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade.
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar
o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida
pelo órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

7
Unidade: O Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988

§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o


Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua
utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por
ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização
definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.”

Percebemos que as disposições nos parágrafos do artigo 225 têm por objetivo dar efetividade ao
previsto no caput, ou seja, que todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.O
caput do art. 225 representou uma verdadeira mudança de paradigmas no ordenamento jurídico
brasileiro, uma vez que erigiu o meio ambiente a condição de patrimônio público e de proteção
especial. Além disso, a norma constitucional também especificou essa proteção.
Os “bens de uso comum” não compreendem apenas os bens públicos, mas também os bens de
domínio privado, pois é possível a fixação de obrigações a serem cumpridas por seus proprietários.
Todas as pessoas têm o dever de envidar esforços para a proteção do meio ambiente.
Ninguém tem o direito de, deliberadamente, causar dano ao meio ambiente, pois isso caracterizaria
a agressão a um bem que pertence a todos. O Poder Público tem um papel importante nesse processo
e dele devem ser cobradas ações condizentes com os dispositivos constitucionais.
O direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado é indisponível e tem a natureza de
direito público subjetivo, ou seja, pode ser exercido inclusive em face do próprio Poder Público,
pois a ele também incumbe a tarefa de protegê-lo.O mesmo dever imposto ao Poder Público se
estende também a todos os cidadãos.

2. O Meio Ambiente e a Ordem Econômica na Constituição Federal

No aspecto econômico, até pouco tempo atrás a ideia era de que as preocupações com
o meio ambiente apenas criariam obstáculos ao crescimento econômico, e não poderiam ser
maiores que o desenvolvimento econômico e industrial dos países em desenvolvimento.A
prioridade era a aceleração do crescimento econômico.O respeito ao meio ambiente geraria
custos desnecessários, o que tornava a degradação ambiental uma opção econômica.

A nova sistemática ambiental trazida pela Constituição Federal não se restringe ao artigo 225,
havendo outros dispositivos constitucionais sobre a matéria. O Título VII, que trata da Ordem
Econômica e Financeira, traz em seu artigo 170, o seguinte:

8
“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano
e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos a existência digna, conforme
os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
(...)
VI – defesa do meio ambiente.
Parágrafo único: é assegurado a todos livre exercício de qualquer atividade
econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo
nos casos previstos em lei” (grifo nosso)

Percebe-se portanto que o meio ambiente interfere na livre iniciativa, e não poderia ser
diferente, nos termos da nova ordem constitucional.Muitas atividades comerciais e industriais
precisam de licença ambiental para funcionar1, justamente para que o meio ambiente seja
protegido de eventuais atividades danosas.
A disposição constitucional sobre a ordem econômica e o respeito ao meio ambiente é tão
séria que a própria Constituição estipulou a possibilidade de desconsideração da pessoa jurídica,
como verificamos no art. 173,§ 5º:

“§5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes


da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às
punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a
ordem econômica e financeira e contra a economia popular”. (grifo nosso)

Um dos princípios da ordem econômica é a defesa do meio ambiente (art. 170,VI,CF)2. Assim, quem
lesa o meio ambiente, viola o disposto no art. 170, e se sujeita as sanções previstas no artigo 173, § 5º.
O desenvolvimento econômico deve ser capaz de assegurar a todos os membros da sociedade
uma existência digna, e esta existência digna está irreversivelmente ligada à preservação do meio
ambiente, pois sem essa preservação a continuidade da vida em nosso planeta estará comprometida.

3. Função Social da Propriedade

A propriedade é um direito real, que possibilita o uso, gozo e disposição da coisa, permitindo
ao proprietário, o direito de retirá-la de alguém que a detenha injustamente. O art. 5º da CF/88
garante a propriedade privada, atendida a sua função social. Essa determinação indica uma
evolução ocorrida no que se refere ao conceito de propriedade que, de exercício pleno e absoluto,
passou a a ter relação direta com a sociedade, de forma a compartilhar benefícios e não prejudicar
terceiros. A função social, e agora também, a função ambiental, adicionadas ao interesse privado
que reveste a propriedade, explicita o interesse público incorporado ao seu conteúdo.
1 Art. 10 da Lei 6938/81
2 MORAES, Luis Carlos Silva de. Curso de Direito Ambiental. São Paulo: Atlas,2006.p.37.

9
Unidade: O Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988

A propriedade, sob a égide da função social, passa a ter sentido jurídico apenas quando
submetida a valores sociais norteadores de uma ordem pública humanista ou social, como é o
caso da proteção dos recursos ambientais. Dessa forma, o art. 186, contido no capítulo referente
à Política Agrícola e Fundiária, dispõe expressamente que a função social é cumprida quando a
propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos
em lei, a requisitos dentre os quais “a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e a
preservação do meio ambiente3.
O Código Civil determina, no par. 1º do art. 1228, que “O direito de propriedade deve ser
exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam
preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição
do ar e das águas”.Fica clara a imposição de uma restrição ao exercício do outrora absoluto
direito real de propriedade, com a finalidade de proteger valores como o meio ambiente e o
desenvolvimento socioeconômico.

4. Saúde

O conceito legal de meio ambiente abrange a noção de equilíbrio entre as condições e


interações físicas, químicas e biológicas que regem a vida em todas as suas formas.A perda
desse equilíbrio é motivo de degradação ambiental e poluição.De acordo com a PNMA, Lei
6938/81, a poluição ambiental é uma das causas do prejuízo à saúde da população em geral e,
também, dos demais seres vivos.
A poluição atmosférica, água fora dos padrões de qualidade, o contato com águas
contaminadas por esgoto, poluição sonora e outros fatores, são fontes de doenças. Quando
essas condições de desequilíbrio ocorrem no ambiente de trabalho, a questão envolve outro
ramo do direito ambiental – o meio ambiente do trabalho. A CF/88 incluiu, entre as atribuições
do Sistema único de Saúde, a colaboração na proteção do meio ambiente, incluindo o meio
ambiente do trabalho (art. 200, inc. VIII).

5. Ministério Público

O Ministério Público tem o dever constitucional de proteger o meio ambiente. Ao desenvolver


o papel de “defensor” do ambiente, ele desenvolve atividades em três âmbitos do direito:
o administrativo, o civil e o penal. Dessa maneira, o Ministério Público fiscaliza as funções
administrativas dos órgãos que fazem parte da administração pública e que trabalham na defesa
do meio ambiente; bem como facilita o acesso à justiça, trabalhando como representante da
3 GRANZIERA, Maria Luiza. Direito Ambiental. São Paulo: Editora Atlas,2011, p.83

10
coletividade, quando da instauração do Inquérito Civil e da propositura da Ação Civil Pública;
além de atuar repressivamente e punitivamente, por meio da Ação Penal Pública em defesa
do meio ambiente. O Ministério Público está apto para exercer a proteção do meio ambiente,
porquanto possui estrutura funcional independente e Promotores de Justiça capacitados a
exercer o Direito nas questões pertinentes a defesa ambiental.
O artigo 129 da CF destaca as funções institucionais do Ministério Público.

6. Indígenas

A Constituição Federal destinou um capítulo aos indígenas, onde reconhece sua organização
social e cultural em geral, as diferenças culturais indígenas, assegura aos índios o direito de
manter íntegras a sua cultura e identidade, e coloca como dever do Estado a sua manutenção
e proteção (art.231). Dá ainda legitimidade processual para defender seus direitos (art.232), ao
dizer que os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em
juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o MP em todos os atos do processo.
De acordo com o art.129, V, CF cabe ao MP defender judicialmente os direitos e interesses das
populações indígenas.
O Estatuto do Índio (Lei 6.001/73), que está em revisão no Congresso Nacional, é o diploma
jurídico mais importante sobre as populações indígenas no Brasil. Segundo dispõe o seu artigo
3º, índio ou silvícola “é todo indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana, que se identifica
e é identificada como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distinguem
da sociedade nacional”.
Os indígenas são tutelados pelo Poder Público em todas as suas esferas (art. 7º, Lei 6001/73)
que deve protegê-lo, bem como as comunidades indígenas preservando seus direitos. O órgão
que tutela os interesses indígenas é a FUNAI.
Nos termos do art.232, CF: Os índios, suas comunidades e organizações são partes
legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o MP
em todos os atos do processo4.

7. Competência em Matéria Ambiental

Nos termos da Constituição Federal de 1988, o Brasil é uma República Federativa, e


compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, sendo todos autônomos
entre si.Essa autonomia explica-se pela existência de órgãos governamentais próprios e também
pela previsão constitucional de competências exclusivas aos Estados da Federação.
4 http://www.aultimaarcadenoe.com.br/direitos-dos-indios/.

11
Unidade: O Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988

Podemos falar em dois tipos de competência em matéria ambiental: a competência legislativa


e a material. A competência legislativa pode ser:
a) Exclusiva: é atribuída a um ente com exclusão dos demais. Essa competência é indelegável.
É prevista no artigo 25,§§ 1º e 2º da CF;
b) Privativa: é colocada como própria de uma entidade, mas é passível de delegação e
suplementação.É prevista no artigo 22 e parágrafo único da CF;
c) Concorrente: é a competência prevista no art. 24 da CF.Sua principal característica é a
possibilidade de União, Estados e Distrito Federal legislarem sobre um mesmo assunto ou
matéria, sendo que cabe à União legislar sobre normas gerais;
d) Suplementar: é correlata á concorrente. Atribui competência a Estados, Distrito Federal
(art.24,§ 2º) e Municípios (art.30,I e II) para legislarem sobre normas que suplementem o
conteúdo de princípios e normas gerais ou que supram a falta ou omissão destas.

Já a competência material pode ser:


a) Exclusiva: é reservada a uma entidade, excluindo-se as demais.Está prevista no artigo 21
da CF;
b) Comum: é atribuída a todos os entes da Federação, que, nas mesmas condições, podem
exercê-la. Porém a competência de um não exclui a do outro, pois essa competência é
cumulativa. Previsão do art. 23 da CF.

7.1. Competência Legislativa Ambiental


O sistema de repartição de competências previsto na CF é complexo. Foi dividido de forma a
fixar as competências privativas da União, a competência privativa para legislar sobre o que for
de interesse predominantemente local aos municípios, as competências concorrentes da União,
estados e Distrito Federal, e a competência remanescente aos estados-membros, para legislarem
sobre tudo o que não for competência privativa da União ou dos Municípios5.

A competência legislativa, no que se refere às questões ambientais, está delimitada basicamente


no artigo 24 da CF. Nota-se pela análise do artigo que a competência para legislar sobre a
maioria das questões ambientais é concorrente, sendo dever da União a edição de normas
gerais,basilares, e aos estados-membros e Distrito Federal ,a edição de normas específicas.

Com relação aos estados-membros, a competência é suplementar no que concerne às


matérias cuja competência legislativa é concorrente.Isso permite aos estados-membros legislar
para suprir omissões, complementar e pormenorizar os dispositivos gerais federais, sendo
possível adequar a legislação às necessidades regionais.A possibilidade de legislar plenamente
restringe-se aos casos em que não exista lei federal pertinente (art. 24, § 3º, CF).É importante
também frisar que, apesar da possibilidade de legislar em matéria ambiental, os Estados e
municípios jamais poderão oferecer menos proteção ao meio ambiente do que a União, pois é
desta a competência para fixar normas gerais.

5 LEUZINGER,Márcia Diegues;CUREAU,Sandra.Direito Ambiental.São Paulo:Elsevier,2008.p.38

12
Se houver conflito entre normas federais e estaduais, sendo suplementar a competência
estadual, a maior parte da doutrina tem entendido que prevalecem as regras da União, desde
que o conteúdo da norma seja efetivamente geral. Entretanto, sendo definidos pela Constituição
os limites para a atuação de cada um dos entes federativos, a edição de normas com conteúdo
de norma geral pelos Estados, havendo norma Federal, ou ainda, a edição de normas
específicas pela União, representam verdadeira invasão de competência, tornando
a norma legal inconstitucional6.
Assim, ocorrendo o conflito entre a lei federal e a estadual editadas sob o regime de competência
concorrente, este será resolvido, via de regra, por meio de controle de constitucionalidade.
O artigo 24 da CF não atribuiu competência para que os Municípios possam legislar sobre as
matérias lá elencadas.Porém, o artigo 30, em seus incisos I e II, permitem que os Munícipios legislem
sobre matéria ambiental específica, de interesse local, sendo essa competência suplementar.
Como trata-se de questão ambiental, não se pode olvidar que o aspecto suplementar se
refere exclusivamente ao caráter mais restritivo da norma municipal, não se admitindo aquela
que contrarie ou adultere o objetivo e o conteúdo das normas federais e estaduais, pois a
majoração da competência municipal poderia implicar no sacrifício da preservação e defesa
do meio ambiente, constitucionalmente previstos. Isso acontece porque o critério fundamental
para a solução de conflitos normativos ambientais entre os diferentes entes federativos é o que
garante a preponderância da norma que melhor defenda o direito fundamental protegido, por
se tratar de preceito constitucional imposto à ordem jurídica geral.

7.2.Competência material ambiental


A competência material ou executiva é atribuída aos entes da Federação, e permite a
prestação de serviços públicos, a atuação por meio do poder de policia, a intervenção na
propriedade e no domínio econômico.
A CF de 1988 atribuiu à União, competência exclusiva para atuar com relação as
matérias elencadas no artigo 21; aos municípios, outorgou competência exclusiva para
atuar quanto aos temas previstos nos incisos III a IX do artigo 30, assim como competência
para agir quando houver interesse local predominante.Aos estados-membros, a CF atribuiu
competência exclusiva para agir sobre tudo o que não for de competência exclusiva da
União ou dos municípios.É a chamada competência remanescente.
Em matéria ambiental, foi atribuída à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios (competência comum), a responsabilidade de proteger os documentos, as obras
e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos , as paisagens naturais
notáveis e os sítios arqueológicos; impedir a destruição desses bens; promover programas
de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento
básico;proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;preservar
as florestas , a flora e a fauna, registrar, acompanhar e fiscalizar a concessão de direitos de
pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios. Não se trata de
competência legislativa, mas de mera cooperação administrativa. Trata-se de competência
administrativa ou de implementação entre os entes da Federação para atuar em cooperação
recíproca comum ( art. 23, III,IV,VI,VII,IX e XI da CF)7.

6 Idem,p.39
7 SIRVINSKAS,Luis Paulo.Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2008.p.114

13
Unidade: O Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988

A competência atribuída pelo art. 23 da CF não envolve o poder de legislar. Assim, para
executar tal competência, deve-se observar as leis já editadas para a implementação das políticas
públicas ambientais. A cooperação entre os entes federados está prevista no parágrafo único do
artigo 23 da CF, e será disciplinada por lei complementar, que até o momento não foi criada.
Para que haja efetividade ás matérias divididas entre os entes da Federação, basta o exercício
do poder de polícia ambiental, próprio de cada uma das entidades públicas, sem o qual não
haveria viabilidade para o exercício da competência material.
No caso de haver interesse local, a entidade pública municipal tem competência exclusiva,
desde que não haja previsão expressa nos dispositivos constitucionais atribuindo a competência
às demais entidades.

8. Referências Constitucionais sobre Meio Ambiente

A Constituição não se ateve exclusivamente ao artigo 225 para dispor sobre matéria
ambiental. Muitos outros artigos trazem várias disposições ligadas ao meio ambiente direta ou
indiretamente, e é muito importante conhecer esses dispositivos.

8.1 Referências diretas da Constituição ao meio ambiente:

Art.5º, inc LXIII:


“LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;” (grifo nosso)
Art. 20
“São bens da União:
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções
militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei;
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que
banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território
estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as
ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios,
exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas
no art. 26, II;

14
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;
VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;”. (grifos
nossos)
Art. 23
“É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
(...)III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural,
os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens
de valor histórico, artístico ou cultural;
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência;
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;
IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais
e de saneamento básico;
X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração
social dos setores desfavorecidos;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de
recursos hídricos e minerais em seus territórios;” (grifos nossos)
Art. 24
“Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;
II - orçamento;
III - juntas comerciais;
IV - custas dos serviços forenses;
V - produção e consumo;
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos
naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;” (grifos nossos)

15
Unidade: O Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988

Art. 26
“Incluem-se entre os bens dos Estados:
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas,
neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas
sob domínio da União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;” (grifos nossos)
Art.91, § 1º,III
“O Conselho de Defesa Nacional é órgão de consulta do Presidente da República nos
assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático, e dele
participam como membros natos:
(...) § 1º - Compete ao Conselho de Defesa Nacional:
(...)III - propor os critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à segurança
do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira
e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer
tipo;”(grifos nossos)
Art. 129, III
“São funções institucionais do Ministério Público:
(...)III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;” (grifo nosso)
Art. 170, VI
“A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem
por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados
os seguintes princípios:
(...)VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;”
(grifo nosso)
Art.173, § 5º
“Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade
econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança
nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
(...)§ 5º - A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica,
estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua
natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia
popular.” (grifo nosso)
Art. 174, § 3º
“Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma
da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o
setor público e indicativo para o setor privado.

16
§ 3º - O Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em cooperativas, levando
em conta a proteção do meio ambiente e a promoção econômico-social dos garimpeiros.”
(grifos nossos)
Art. 186, II
“A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
(...)II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente;” (grifo nosso)
Art. 200, VIII
“Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei
(...)VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.” (grifo
nosso)
Art.216, V
“Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória
dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
(...)V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.” (grifo nosso)
Art.220, § 3º,II
“A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma,
processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
§ 3º - Compete à lei federal:
(...)II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se
defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto
no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser
nocivos à saúde e ao meio ambiente.”(grifo nosso)
Art.231, §1º
“. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições,
e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União
demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
§ 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter
permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação
dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física
e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.” (grifo nosso)
8.2 Referências indiretas da Constituição ao meio ambiente
Art.21
“Compete à União:
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de
outorga de direitos de seu uso;

17
Unidade: O Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988

XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento


básico e transportes urbanos;
(...)XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer
monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a
industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes
princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos
e mediante aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de
radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de
radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa;
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em
forma associativa”. (grifos nossos)
Art.22
“ Compete privativamente à União legislar sobre:
(...)IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
(...)XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
(...)XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de
profissões;” (grifos nossos)
Art.23
“É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
(...)III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural,
os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens
de valor histórico, artístico ou cultural;
Art.24
“Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
(...)VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico”
Art. 30
“Compete aos Municípios:
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a
ação fiscalizadora federal e estadual.” (grifo nosso)
Art. 182
“A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme

18
diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das
funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes.”(grifo nosso)
Art.196
“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal
e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.” (grifo nosso)
Percebemos que as disposições constitucionais sobre o meio ambiente são muitas, o que
reforça a importância do Direito Ambiental na atualidade.

19
Unidade: O Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988

Material Complementar

A Constituição Federal é a lei mais importante do nosso ordenamento jurídico. Dessa forma,
seus dispositivos acerca do meio ambiente são essenciais para um bom entendimento e aplicação
do Direito ambiental, sob todos os aspectos. Leia o texto indicado e assista ao vídeo sugerido e
aproveite bastante seus estudos.
1. Direito Constitucional Ambiental: o art. 225 da CF – Prof. Rodrigo Mesquita,
na TV Justiça - http://youtu.be/pFkFXYdadxk.
2. Direito constitucional ambiental, por Dayse Braga Martins – artigo do Jus Navigandi
- http://jus.com.br/artigos/2116/direito-constitucional-ambiental.

20
Referências

FIORILLO,Celso Antonio Pacheco. Estatuto da Cidade Comentado. São Paulo:


Revista dos Tribunais, 2010.

GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. 2ª Ed. , São Paulo: Atlas,2011.

GRIZZI, Ana Luci Limonta Esteves. Direito Ambiental Aplicado aos contratos.São Paulo:
Verbo Jurídico, 2008.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 34. ed. São Paulo: Malheiros, 2008

MILARE, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência, Glossario. 6. ed. Sao


Paulo: Revistas dos Tribunais, 2009.

SILVA, Jose Afonso. Direito Ambiental Constitucional. 8. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2010.

SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de Direito Ambiental. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

21
Unidade: O Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988

Anotações

22
www.cruzeirodosulvirtual.com.br
Campus Liberdade
Rua Galvão Bueno, 868
CEP 01506-000
São Paulo SP Brasil
Tel: (55 11) 3385-3000

Você também pode gostar