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Estatuto da Criança

e do Adolescente
Material Teórico
Conselho Tutelar e Acesso à Justiça

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Conselho Tutelar e Acesso à Justiça

• Conselho Tutelar;
• Acesso à Justiça.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Estudar as estruturas utilizadas pelo Estatuto da Criança e do Ado-
lescente para tornar realidade os seus diversos preceitos. Não basta
que a norma crie direitos e obrigações, é necessário que ela esta-
beleça quais são as pessoas e os Órgãos Públicos que devem atuar
para que os comandos da Lei façam parte de nosso dia a dia. Nesse
contexto, o Estatuto da Criança e do Adolescente criou os Conselhos
Tutelares e os Juizados da Infância e da Juventude, que são impor-
tantes estruturas que atuam em várias situações em que os direitos
das crianças e dos adolescentes estão em risco ou que, efetivamente,
estão sendo lesados. Dentro do Sistema de Proteção Integral, tam-
bém criado pelo Estatuto, faz-se necessário que a sociedade conheça
essas estruturas e saiba qual é a missão delas, pois, assim, estaremos
contribuindo para que a Lei se torne uma verdadeira realidade.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Conselho Tutelar e Acesso à Justiça

Conselho Tutelar
Considerações Iniciais
O Conselho Tutelar é um importante órgão criado pelo Estatuto da Criança e
do Adolescente, pois participa ativamente do sistema de proteção integral criado
por essa norma.

O Estatuto apresenta esse Órgão em seu Artigo 131, cuja redação é a seguinte:
Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não


jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos
direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei.

Dessa definição, precisamos destacar os seguintes elementos:


• Órgão permanente: significa que ele deve ser constituído formalmente e deve
atuar de forma contínua;
• Órgão autônomo: apesar de possuir ligações com o Poder Público Municipal e
com a Vara da Infância e Juventude da Comarca, não está subordinado a eles;
• Órgão não jurisdicional: significa que ele não está na estrutura do Poder
Judiciário e que suas decisões não possuem características de decisões judiciais.

A sociedade incumbiu os Conselhos Tutelares de zelar pelo efetivo respeito dos


direitos das crianças e dos adolescentes.

Lei municipal ou distrital deve dispor sobre o local, o dia e o horário de funcio-
namento do Conselho Tutelar, bem como sobre a remuneração dos respectivos
membros (Artigo 134 do ECA).

Constituição dos Conselhos Tutelares


Cada município e cada região administrativa do Distrito Federal devem ter, pelo
menos, um Conselho Tutelar.

Características desses Conselhos:


• São formados por 5 membros;
• Seus membros são escolhidos pela população local;
• O mandato dos membros dos Conselhos é de 4 anos, sendo permitida uma
única recondução, mediante novo processo de escolha:

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Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 132. Em cada Município e em cada Região Administrativa do


Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar como
órgão integrante da administração pública local, composto de 5 (cinco)
membros, escolhidos pela população local para mandato de 4 (quatro)
anos, permitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo de escolha.

Para que alguém concorra a uma das vagas no Conselho Tutelar, deve atender
aos seguintes requisitos:
• Possuir reconhecida idoneidade moral;
• Ter idade superior a 21 anos;
• Residir no município em que pretende atuar:
Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, serão


exigidos os seguintes requisitos:

I - reconhecida idoneidade moral;

II - idade superior a vinte e um anos;

III - residir no município.

Além dos requisitos mencionados no Artigo 133, o pretendente a uma vaga do


Conselho Tutelar não pode incidir em nenhum dos impedimentos apontados no
Artigo 140 do Estatuto.

Esses impedimentos são os seguintes:

Não podem servir no mesmo Conselho:


• Marido e mulher;
• Ascendentes e descendentes;
• Sogro e genro ou nora;
• Irmãos;
• Cunhados, durante o cunhadio;
• Tio e sobrinho;
• Padrasto ou madrasta e enteado.

Também não pode o integrante do Conselho Tutelar possuir os tipos de


parentesco citados, ou relação conjugal, com:
• O juiz que atua na Vara da Infância e Juventude;
• O promotor de justiça que atua junto à Vara da Infância e Juventude:

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Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho marido e mulher,


ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados,
durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado.

Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselheiro, na forma


deste Artigo, em relação à autoridade judiciária e ao representante do
Ministério Público com atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em
exercício na comarca, foro regional ou distrital.

Processo de escolha – Artigo 139


O processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar:
• É estabelecido em Lei Municipal;
• realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da
É
Criança e do Adolescente, sendo fiscalizado pelo Ministério Público;
• sse processo de escolha ocorre a cada 4 anos, no primeiro domingo do mês
E
de outubro do ano subsequente ao da eleição presidencial1;
• O dia em que se desencadeia esse processo de escolha é unificado nacionalmente.

No processo de escolha, o pretendente a uma vaga no Conselho Tutelar não


pode doar, oferecer, prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de
qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno valor.

Os conselheiros tomam posse no dia 10 de janeiro do ano subsequente ao do


processo de escolha.

Atribuições
As principais atribuições do Conselho Tutelar estão descritas no Artigo 136 do ECA:
Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:

I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98


e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;

II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas


previstas no art. 129, I a VII;

III - promover a execução de suas decisões, podendo, para tanto:

a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social,


previdência, trabalho e segurança;

1 Como as eleições para Presidente da República ocorrem a cada quatro anos, temos que elas se darão em 2018,
2022, 2026, e assim por diante. Dessa forma, o processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar ocorrerá no
primeiro domingo de outubro dos anos subsequentes a esses, ou seja, em 2019, 2023, 2017, e assim por diante.

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b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento
injustificado de suas deliberações.

IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração


administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente;

V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;

VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as


previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;

VII - expedir notificações;

VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adoles-


cente quando necessário;

IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta


orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da
criança e do adolescente;

X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos


direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal;

XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda


ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de
manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural.

XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profissionais,


ações de divulgação e treinamento para o reconhecimento de sintomas de
maus-tratos em crianças e adolescentes.

Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar


entender necessário o afastamento do convívio familiar, comunicará in-
continenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre
os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orienta-
ção, o apoio e a promoção social da família.

Aquele que demonstrar legítimo interesse poderá solicitar ao Juiz da Infância e


da Juventude que revise qualquer decisão do Conselho Tutelar:
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Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão ser revistas


pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha legítimo interesse.

Acesso à Justiça
Dentro do seu foco de proteger as crianças e os adolescentes de práticas que
possam afetar o exercício de seus direitos, estabelece o Estatuto a garantia de pleno
acesso desses destinatários aos seguintes órgãos:

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• Defensoria Pública;
• Ministério Público;
• Poder Judiciário:
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Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou adolescente à Defensoria


Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus
órgãos.

[...]

Além desses Órgãos Públicos, o acesso à Justiça é garantido pela participação


dos advogados.

Outra forma encontrada pela Estatuto para facilitar esse acesso à Justiça foi a
de isentar de custas e emolumentos as Ações Judiciais de competência da Justiça
da Infância e da Juventude, exceto quando ficar caracterizada a chamada litigância
de má-fé2:
Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 141 [...]

§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Infância e da


Juventude são isentas de custas e emolumentos, ressalvada a hipótese de
litigância de má-fé.

O grau de desenvolvimento da criança e do adolescente faz com que seja neces-


sária a participação de outras pessoas (determinados adultos) para que esse acesso
à Justiça seja realizado. Para tanto, o Estatuto estabeleceu que:
• Menores de 16 anos devem ser representados por seus pais, tutor ou curador;
• aiores de 16 anos e menores de 18 anos devem ser assistidos por essas
M
mesmas pessoas.

A diferença básica é que, na representação, o menor de 16 anos não participa


do ato, assim, por exemplo, na constituição de um advogado, somente os pais é
que, em nome do filho, irão assinar a procuração.

Já na assistência, esse mesmo ato somente é válido se houver a participação


do adolescente, ou seja, no mesmo exemplo, a procuração deve ser assinada por
ele e pelos pais.

2 As situações em que está caracterizada a litigância de má-fé estão descritas no Artigo 80 do Código de Processo Civil.
São diversas hipóteses que buscam identificar situações em que as partes utilizam o processo para tentar alcançar
objetivos ilícitos ou buscam indevidamente turbar o exercício de um direito por meio do processo, particularmente,
postergando-o sem qualquer fundamento.

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Curador especial
Em uma ação judicial, o Juiz da Infância e da Juventude pode nomear um curador
especial para a criança ou o adolescente sempre que:
• Seus interesses colidirem com os de seus pais ou responsáveis;
• Ele necessitar de representação ou assistência, ainda que de forma eventual:
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Art. 142 [...]

Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador especial à criança


ou adolescente, sempre que os interesses destes colidirem com os de seus
pais ou responsável, ou quando carecer de representação ou assistência
legal ainda que eventual.

Vedação de divulgação
Uma medida que com frequência observamos em nosso dia a dia, particularmente,
ao assistirmos o noticiário, refere-se à total impossibilidade de se divulgar a autoria
de atos infracionais praticados por crianças ou adolescentes.

É possível divulgar o ocorrido, contudo, a criança ou o adolescente envolvidos


não podem ser identificados, sendo que, para tanto:
• Não pode ser exibida a sua fotografia;
• Não pode ser divulgado seu nome, apelido, filiação, parentesco e residência;
• Não podem ser divulgadas as iniciais de seu nome e sobrenome:
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Art. 143. É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos


que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de
ato infracional.

Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar


a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência ao nome,
apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e
sobrenome.

Como parte dessa vedação de divulgação, encontramos a prescrição do Artigo 144


do Estatuto sobre as certidões ou cópia de documentos que registram a prática de
atos infracionais.

Nesse caso, essa expedição somente poderá ocorrer por decisão judicial, desde
que demonstrado o interesse e justificada a finalidade:

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Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se refere o Artigo


anterior somente será deferida pela autoridade judiciária competente, se
demonstrado o interesse e justificada a finalidade.

Justiça da Infância e Juventude


Com a instituição do Estatuto da Criança e do Adolescente foi necessária a cria-
ção de Órgãos Judiciais na chamada Justiça Comum, no âmbito estadual e distrital:
Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 145. Os Estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas


e exclusivas da infância e da juventude, cabendo ao Poder Judiciário
estabelecer sua proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de
infraestrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.

As principais competências da Justiça da Infância e Juventude estão dispostas


no Artigo 148 do Estatuto, sendo que, dentre elas, podemos destacar as seguintes:
• Conhecer causas em que está sendo discutida alguma questão que diretamente
esteja afetando os direitos de certa criança ou adolescente, tal como ocorre na
colocação em família substituta;
• Conhecer causas em que estejam sendo discutidas questões que afetem todas as
crianças ou adolescentes ou um grupo específico delas - são as chamadas ações
civis públicas fundadas em interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos;
• Conhecer causas relacionadas à prática de atos infracionais praticados por
adolescentes;
• Disciplinar, por meio de Portaria, a entrada ou a participação de crianças e de
adolescentes em certos eventos – Artigo 149 do Estatuto;
• Apurar irregularidades em entidades de atendimento;
• Apreciar os casos encaminhados pelos Conselhos Tutelares;
• plicar sanções administrativas nos casos de infrações contra norma de prote-
A
ção à criança ou ao adolescente:
Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:

I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apu-


ração de ato infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;

II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo;

III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;

IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos


ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o disposto no
art. 209;

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V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de
atendimento, aplicando as medidas cabíveis;

VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra


norma de proteção à criança ou adolescente;

VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando


as medidas cabíveis.

Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses


do art. 98, é também competente a Justiça da Infância e da Juventude
para o fim de:

a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;

b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda ou modificação


da tutela ou guarda;

c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento;

d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna,


em relação ao exercício do poder familiar;

e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais;

f) designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou


representação, ou de outros procedimentos judiciais ou extrajudiciais em
que haja interesses de criança ou adolescente;

g) conhecer de ações de alimentos;

h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos registros


de nascimento e óbito.

Uma diferenciada competência do Juiz da Infância e Juventude é descrita no


Artigo 149 do Estatuto. Segundo esse dispositivo, o juiz deve disciplinar e autorizar:
• A entrada e a permanência de crianças e adolescentes desacompanhadas
de seus pais e responsáveis em diversos locais, tais como, estádios, ginásios,
campos desportivos, bailes, boates etc.;
• A participação de crianças e adolescentes em espetáculos públicos e seus
ensaios, bem como em concursos de beleza:
Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria,


ou autorizar, mediante alvará:

I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, desacompanhado


dos pais ou responsável, em:

a) estádio, ginásio e campo desportivo;

b) bailes ou promoções dançantes;

c) boate ou congêneres;

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d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;

e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.

II - a participação de criança e adolescente em:

a) espetáculos públicos e seus ensaios;

b) certames de beleza.

§ 1º Para os fins do disposto neste Artigo, a autoridade judiciária levará


em conta, dentre outros fatores:

a) os princípios desta Lei;

b) as peculiaridades locais;

c) a existência de instalações adequadas

d) o tipo de frequência habitual ao local;

e) a adequação do ambiente a eventual participação ou frequência de


crianças e adolescentes;

f) a natureza do espetáculo.

§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste Artigo deverão ser


fundamentadas, caso a caso, vedadas as determinações de caráter geral.

Juiz
Na estrutura das Varas da Infância e Juventude, o juiz é uma das mais desta-
cadas figuras:
Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Infância


e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na forma da lei de
organização judiciária local.

Na Justiça Estadual, a atuação territorial dos Juízes é circunscrita a uma deter-


minada área territorial, em geral denominada Comarca. Em cada Comarca há, ao
menos, um juiz competente para decidir as questões afetas aos direitos de crianças
e adolescentes, exercendo as competências fixadas, em especial, nos Artigos 148
e 149 do Estatuto.

A Comarca em que deve ser proposto o processo obedece a critérios estipulados


no Artigo 147 do Estatuto.

Assim:
• O processo deve ser proposto na Comarca de domicílio dos pais ou responsáveis;
• Se não se souber o local em que estão os pais ou os responsáveis, o processo
deve ser proposto na Comarca em que se encontra a criança ou o adolescente;

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• Contudo, no caso da prática de atos infracionais3, o processo deve ser proposto
onde ocorreu a conduta a ser apurada.

Há, também, na Legislação, uma regra específica para casos em que uma infra-
ção à Legislação protetiva tenha sido praticada por meio de transmissão simultânea
de Rádio ou Televisão que tenha atingido mais de uma Comarca.

Nesse caso, o processo deve ser proposto na sede estadual da Emissora ou Rede,
sendo que a decisão tem eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras
situadas no Estado em que o processo tramitou – §3º do Artigo 147 do Estatuto.

Serviços auxiliares
O trato das questões jurídicas afeta às crianças e aos adolescentes e, na maioria
dos casos, necessita de um importante apoio de profissionais de outras áreas, pois
eles podem contribuir de maneira substancial para que haja uma melhor decisão
do juiz.

Com esse foco, prevê o Estatuto nos seus Artigos 150 e 151 a necessidade de
que sejam criadas Equipes Interprofissionais para assessorar a Justiça da Infância
e da Juventude.

Essas equipes são compostas, em geral, por psicólogos, pedagogos, assistentes


sociais e outros profissionais que irão, por meio de laudos e pareceres, apresentar
elementos nesses processos.

Ministério Público
O Estatuto da Criança e do Adolescente reservou ao Ministério Público (repre-
sentado pelos Promotores de Justiça, em primeira instância) importantes atribui-
ções, sendo que as principais estão descritas em seu Artigo 201.

Dentre elas, devem ser destacadas as seguintes:


• Tem o Ministério Público legitimidade para propor uma série de ações que bus-
quem garantir direitos de criança ou adolescente individualmente considerados;
• Pode acompanhar ações que digam respeito a direitos de todas as crianças e
adolescentes ou um grupo específico delas;
• Propõe ações para apurar atos infracionais praticados por adolescentes, sendo
que, nesses casos, o Ministério Público pode conceder remissão para a exclu-
são do processo;

3 Atos infracionais são condutas, praticadas por adolescentes, previstas na legislação penal como crimes ou
contravenções penais. É o caso de um adolescente que pratica, mediante violência ou grave ameaça, a subtração de
coisa alheia móvel (por exemplo, um relógio) - essa conduta é descrita no Código Penal (art. 157) como sendo o crime
de roubo. Como foi praticada por um adolescente, será a questão tratada no Estatuto da Criança e do Adolescente
como sendo um ato infracional. Iremos estudar esse assunto nas próximas unidades.

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• romover Inquérito Civil e Ações Civis Públicas para a defesa de interesses


P
difusos, coletivos e individuais de crianças e adolescentes;
• Instaurar e presidir procedimentos administrativos para apurar condutas que
possam causar, de alguma forma, prejuízo ao pleno respeito dos direitos de
crianças e adolescentes.

O representante do Ministério Público, no exercício de suas funções, terá livre


acesso a todo local em que se encontre criança ou adolescente – § 3º do Artigo 201.

A falta de participação do Ministério Público nos processos em que deva atuar


acarreta nulidade do feito no qual essa omissão se deu:
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade
do feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de
qualquer interessado.

Advocacia e Defensoria Pública


Estabelece o Estatuto que a criança, adolescente, seus pais ou responsáveis, bem
como qualquer pessoa que tenha legítimo interesse, poderão intervir nos processos
disciplinados por essa Lei, contudo, isso sempre deverá ocorrer por intermédio de
um advogado – Artigo 206:
Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, e qualquer


pessoa que tenha legítimo interesse na solução da lide poderão intervir
nos procedimentos de que trata esta Lei, através de advogado, o qual
será intimado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial,
respeitado o segredo de justiça.

Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária integral e gratuita


àqueles que dela necessitarem.

Para aqueles que necessitarem (criança, o adolescente ou suas famílias) deverá o


Estado propiciar assistência jurídica gratuita, conforme determina o inciso LXXIV
do Artigo 5º da Constituição Federal, cuja redação é a seguinte:
Constituição Federal

Artigo 5º [...]

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que


comprovarem insuficiência de recursos;

Essa assistência é realizada por meio de defensores públicos ou advogados no-


meados pelo juiz (os chamados advogados dativos) que, em razão do desempenho
dessas funções, serão remunerados pelo Estado.

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A assistência do advogado (ou defensor público) é particularmente importante
nos casos em que o adolescente é acusado da prática de atos infracionais, razão
pela qual o Estatuto estabelece, especificamente, a impossibilidade de que esse tipo
de processo ocorra sem que haja essa representação, mesmo que o adolescente
esteja foragido:
Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de ato


infracional, ainda que ausente ou foragido, será processado sem defensor.

§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado pelo juiz,


ressalvado o direito de, a todo tempo, constituir outro de sua preferência.

[...]

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UNIDADE Conselho Tutelar e Acesso à Justiça

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Leitura
Estatuto da Criança e do Adolescente
https://goo.gl/9ULiJB
Constituição Federal
https://goo.gl/zaRrL
Código Civil
https://goo.gl/1k18iF
Código de Processo Civil
https://goo.gl/6b0EbE

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Referências
CUNHA, Rogério Sanches; LÉPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves.
Estatuto da criança e do adolescente comentado. 5.ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2013.

CURY, Munir. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 12.ed. São


Paulo: Malheiros, 2013.

ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente. 15.ed. São Paulo:


Atlas, 2014.

TAVARES, José de Farias. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente.


8.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.

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