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Estatuto da Criança

e do Adolescente
Material Teórico
Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Alessandra Fabiana Cavalcanti
Prevenção, Política de Atendimento
e Medidas de Proteção

• Da prevenção;
• Da política de atendimento;
• Medidas de proteção.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· O Sistema de Proteção Integral, criado pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, possui uma inegável preocupação com a prevenção de
ações que possam lesar ou colocar em risco direitos das crianças e
dos adolescentes.
· Nesta unidade, iremos conhecer essas medidas preventivas, as quais
possuem grande relevância para o trato de muitas questões que
envolvem as crianças e os adolescentes.
· Por outro lado, quando os direitos são efetivamente lesados ou há
um inegável risco de que isso ocorra devem ser aplicadas as medi-
das protetivas.
· Nesta unidade iremos conhecer esses importantes assuntos!
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção

Da prevenção
Disposições gerais
Dentro do Sistema de Proteção Total, previsto no Estatuto, a todos cabe preve-
nir a ocorrência de ameaça ou de violação aos direitos da criança e do adolescente,
que têm direito à informação, à cultura, ao lazer, aos esportes, às diversões, aos es-
petáculos e aos produtos e serviços; contudo, sempre deve ser observada a neces-
sidade de pleno respeito à sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

A pessoa física ou jurídica, que não respeita as normas de prevenção a serem


estudas a seguir, receberá as sanções estabelecidas pelo Estatuto em razão de sua
ação ou omissão.

Prevenção especial
Da informação, da cultura, do lazer, dos esportes, das diversões e dos espetáculos
O poder público deve regular as diversões e os espetáculos públicos, sendo
obrigatório informar a natureza deles, as faixas etárias a que se recomendem, os
locais e os horários em que sua apresentação se mostre inadequada – é o que a lei
chama de certificado de classificação.

Seguindo as prescrições do certificado de classificação, os responsáveis pelas


diversões e pelos espetáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil
acesso, à entrada do local de exibição, essas informações, sendo que devem ser
destacadas:
• a natureza do espetáculo;
• a faixa etária recomendada.

A criança ou o adolescente deve ter acesso às diversões e aos espetáculos públicos


classificados como adequados à sua faixa etária, sendo que as crianças menores de
dez anos somente podem ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou
em exibição, quando acompanhadas dos pais ou do responsável.

Nas emissoras de rádio e de televisão, nenhum espetáculo será apresentado ou


anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua transmissão, apresentação
ou exibição.

As empresas que se dedicam à venda ou ao aluguel de fitas (ou qualquer outro


tipo de mídia, tais como DVD, streaming, locadoras on line, etc.) de programação
em vídeo cuidarão para que não haja venda ou locação em desacordo com o
certificado de classificação. Essas fitas (ou mídias) devem exibir, na embalagem ou
em qualquer outra forma de apresentação utilizada, informação sobre a natureza
da obra e a faixa etária a que se destinam.

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Já as revistas e as publicações que possuem material impróprio ou inadequado a
crianças e adolescentes devem ser comercializadas em embalagem lacrada, com a
advertência de seu conteúdo. Se as capas possuírem mensagens pornográficas ou
obscenas devem ser protegidas com uma embalagem opaca.

As revistas e as publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão


conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de:
• bebidas alcoólicas;
• tabaco;
• armas e munições.

Além disso, devem respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família.


Desse modo, não podem, por exemplo, possuir conteúdo que enalteça condutas
racistas e preconceituosas.

Estabelecimentos, que exploram comercialmente bilhar, sinuca ou congênere


ou por casas de jogos, ou seja, aquelas onde são realizadas apostas, não podem
permitir a entrada e a permanência de crianças e de adolescentes no local, devendo
ainda afixar aviso para orientação ao público.

Dos produtos e dos serviços


Em razão de sua particular situação de pessoa em desenvolvimento, o Estatuto
vetou a venda de certos produtos a crianças e adolescentes que, de alguma forma,
podem colocá-los em risco físico ou moral.

Aqui, também, devemos enquadrar a proibição de venda a crianças e adolescentes


de uma série de produtos que podem causar dependência física ou psíquica, mas
que são de corriqueira utilização nas residências e em atividades empresariais. É o
caso de colas (“cola de sapateiro”), solventes, tintas e esmaltes que, quando usados
de forma indevida, podem causar essa consequência.
ECA

Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de:

I - armas, munições e explosivos;

II - bebidas alcoolicas;

III - produtos cujos componentes possam causar dependência física ou


psíquica ainda que por utilização indevida;

IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu reduzido


potencial sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de
utilização indevida;

V - revistas e publicações a que alude o art. 78;

VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.

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UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção

Deve ser destacada a proibição de venda de fogos de estampido ou de artifício


para crianças e adolescentes, exceção feita para materiais desse tipo que que não
possuem capacidade de provocar danos físicos, mesmo em caso de utilização
indevida, em razão do seu reduzido potencial.

Outra importante restrição se refere à hospedagem em hotel, motel, pensão ou


estabelecimentos congêneres.
ECA

Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou de adolescente em ho-


tel, motel, pensão ou estabelecimento congênere, salvo se autorizado ou
acompanhado pelos pais ou responsável.

Da autorização para viajar


Por causar importante risco, estabelece o Estatuto uma série de regras para a
viagem de crianças e adolescentes para locais fora da comarca onde residem.

A regra geral é a seguinte: “Nenhuma criança poderá viajar para fora da


comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou do responsável, sem
expressa autorização judicial” – artigo 83, caput.

Essa autorização judicial não será exigida nas seguintes situações:


• Quando se tratar de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma
unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana;
• Se a criança estiver acompanhada;
• de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documen-
talmente o parentesco;
• de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, pela mãe ou pelo responsável.

Essa autorização expedida pelo juiz poderá, a pedido dos pais ou do responsável,
ser expedida com validade de até dois anos.

No caso de viagem para o exterior a autorização judicial é dispensável, se a


criança ou adolescente:
• estiver acompanhado de ambos os pais ou o responsável;
• viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro
através de documento com firma reconhecida.

Por fim, estabelece o Estatuto que, sem expressa autorização judicial, nenhuma
criança ou adolescente nascido em território nacional poderá sair do país em
companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior.

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Da política de atendimento
Disposições gerais
A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente se faz por um
conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais, da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Entidades de atendimento
As entidades de atendimento são responsáveis pelo planejamento e pela exe-
cução de programas de proteção e socioeducativos destinados a crianças e adoles-
centes, em regime de:
• orientação e apoio sócio familiar;
• apoio socioeducativo em meio aberto;
• colocação familiar;
• acolhimento institucional;
• prestação de serviços à comunidade;
• liberdade assistida;
• semiliberdade; e
• internação.

Elas podem ser governamentais ou não governamentais sendo que estas


últimas somente podem funcionar depois de registradas no Conselho Municipal
dos Direitos da Criança e do Adolescente. Esse registro tem prazo de validade
máximo de quatro anos.

Tanto as entidades governamentais como as não governamentais devem ins-


crever seus programas (especificando os regimes de atendimento) no Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, tendo esse órgão a incum-
bência de comunicar essas informações ao Conselho Tutelar e à Vara da Infância
e da Juventude.

Os programas em execução devem ser reavaliados pelo Conselho Municipal dos


Direitos da Criança e do Adolescente, no máximo, a cada dois anos, particularmente,
para que sejam verificadas questões como o pleno respeito dos direitos das crianças
e dos adolescentes e a qualidade do serviço prestado. Havendo irregularidades não
poderá ocorrer a renovação da autorização de manutenção do programa.

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UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção

Essas entidades (governamentais ou não) devem receber recursos públicos


destinados à implementação e à manutenção desses programas, sem prejuízo do
recebimento de recursos privados.

Entidades que desenvolvem programas de acolhimento


O programa de acolhimento tem grande importância na estrutura do Estatuto, pois
pode representar um passo para a colocação da criança ou do adolescente em uma
família substituta ou, por outro lado, pode representar o retorno para a convivência
com sua família natural – resolvendo uma série de situações ligadas ao abandono.

Em razão de sua importância, a lei dedica especial atenção às entidades que de-
senvolvem esse programa, seja na modalidade familiar ou institucional. O importante
é que elas busquem preservar ou reatar os vínculos familiares (na família natural ou
extensa) e, na impossibilidade, devem buscar a colocação em uma família substituta.

O dirigente de entidade que desenvolve programa de acolhimento institucional é


equiparado ao guardião para todos os efeitos de direito.

Esses dirigentes dessas entidades devem remeter à Vara da Infância e da Juven-


tude, no máximo a cada seis meses, relatório circunstanciado acerca da situação de
cada criança ou adolescente acolhido e sua família.

As entidades que desenvolvem programa de acolhimento institucional poderão,


em caráter excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia
determinação do Juiz da Infância e da Juventude, contudo, devem, no prazo de 24
horas, comunicar essa ocorrência à Vara da Infância e da Juventude.

Entidades que desenvolvem programa de internação


A internação é a medida socioeducativa mais gravosa (aplicada no caso de atos
infracionais mais graves praticados por adolescentes), razão pela qual o Estatuto
estipulou que as entidades que realizam esse programa devem:
ECA

Art. 94 [...]

I - observar os direitos e as garantias de que são titulares os adolescentes;

II - não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de restrição
na decisão de internação;

III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas unidades e grupos


reduzidos;

IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e de dignidade


ao adolescente;

V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos


vínculos familiares;

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VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os casos em que
se mostre inviável ou impossível o reatamento dos vínculos familiares;

VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade,


higiene, salubridade e segurança e os objetos necessários à higiene pessoal;

VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados à faixa


etária dos adolescentes atendidos;

IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e farmacêuticos;

X - propiciar escolarização e profissionalização;

XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer;

XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com


suas crenças;

XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;

XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis


meses, dando ciência dos resultados à autoridade competente;

XV - informar, periodicamente, o adolescente internado sobre sua situação


processual;

XVI - comunicar às autoridades competentes todos os casos de adolescentes


portadores de moléstias infectocontagiosas;

XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos adolescentes;

XVIII - manter programas destinados ao apoio e ao acompanhamento de


egressos;

XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício da cidadania


àqueles que não os tiverem;

XX - manter arquivo de anotações no qual constem data e circunstâncias


do atendimento, nome do adolescente, seus pais ou responsável, parentes,
endereços, sexo, idade, acompanhamento da sua formação, relação de
seus pertences e demais dados que possibilitem sua identificação e a
individualização do atendimento.

Fiscalização das entidades


A fiscalização das entidades que desenvolvem programas voltados para as
crianças e os adolescentes é realizada:
• pelo Poder Judiciário (sobretudo pelos Juízes da Infância e da Juventude);
• pelo Ministério Público; e
• pelo Conselho Tutelar.

No caso das entidades que desenvolvem programa de internação, o descumpri-


mento de suas obrigações estipuladas no artigo 94 acarreta as seguintes medidas:

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• No caso de entidades governamentais:


»» advertência;
»» afastamento provisório de seus dirigentes;
»» afastamento definitivo de seus dirigentes;
»» fechamento de unidade ou interdição de programa.
• No caso das entidades não governamentais:
»» advertência;
»» suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas;
»» interdição de unidades ou suspensão de programa;
»» cassação do registro.

Medidas de proteção
Disposições gerais
As chamadas medidas de proteção são uma série de providências criadas pelo
Estatuto para situações em que os direitos da criança ou do adolescente estejam
sendo ameaçados ou violados:
ECA

Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis


sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou
violados:

I - por ação ou por omissão da sociedade ou do Estado;

II - por falta, por omissão ou por abuso dos pais ou do responsável;

III - em razão de sua conduta.

No antigo Código de Menores (revogado quando entrou em vigor o ECA), essas


situações eram nominadas como sendo aquelas em que a criança ou o adolescente
encontrava-se em situação de risco. Muito embora essa legislação não mais esteja
em vigor, é perfeitamente possível continuar a utilizar essa denominação.

Em cada caso concreto devem ser verificadas qual ou quais dessas medidas devem
ser aplicadas, visto que elas podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem
como substituídas a qualquer tempo. Contudo, sempre deve ser dada preferência para
aquelas medidas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.

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As medidas de proteção, sempre que necessário, devem acarretar a regulariza-
ção do registro civil da criança ou do adolescente. É o caso, por exemplo, de uma
criança de poucos meses que é inserida em um programa de acolhimento sem que
haja qualquer notícia de seus pais ou de sua origem. Assim, nessa situação se pro-
videnciará seu registro de nascimento com os elementos que estiverem disponíveis.

Medidas específicas
O ECA estabelece no artigo 101 as medidas específicas de proteção, contudo,
há possibilidade de aplicação de outras, sempre que se verificar a sua necessidade
e desde que sejam respeitados os princípios firmados por essa norma.

Encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo


de responsabilidade
Essa medida, apesar de ser a mais simples, pode resolver uma série de situações,
tais como aquelas em que uma criança de pouca idade é encontrada perdida de
seus pais.

Não podemos esquecer que essa medida de proteção, tal como as demais, pode
ser aplicada de forma cumulativa com outras.

Orientação, apoio e acompanhamento temporários


Em alguns casos, particularmente quando a família natural se mostra mal
estruturada, pode ser importante essa medida, sobretudo para se evitar que haja
uma agravação na situação da criança ou do adolescente.

Ela, apesar de ser temporária, não comporta prazo certo, devendo subsistir até
que seja verificada a cessação das causas que lesem ou ameacem os direitos da
criança ou do adolescente.

Matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial


de ensino fundamental
Como vimos anteriormente, o Estado deve proporcionar o acesso das crianças
e dos adolescentes ao ensino fundamental.
ECA

Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele


não tiveram acesso na idade própria;

[...]

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Por outro lado, decorre do poder familiar o dever dos pais de criar condições
para que seus filhos frequentem o ensino fundamental.
ECA

Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, de guarda e de educação


dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação
de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.

Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e


deveres e responsabilidades compartilhados no cuidado e na educação da
criança, devendo ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas
crenças e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta Lei.

Caso essa frequência não ocorra, seja em razão do Estado não proporcionar o seu
acesso, seja em razão da omissão dos pais em matricular seus filhos ou garantir-lhes
condições para que frequentem a escola, poderá ser aplicada essa medida protetiva.

É o caso, por exemplo, da inexistência de vagas no ensino fundamental público


disponibilizado próximo da residência da criança. Nesse caso, poderá o Juiz da
Infância e da Juventude determinar que os dirigentes públicos resolvam esse pro-
blema, pois isso afeta, de forma contundente, os direitos dessa criança.

Inclusão em serviços e em programas oficiais ou comunitários de proteção,


de apoio e de promoção da família, da criança e do adolescente
Essa medida protetiva é especialmente importante naquelas situações em que a
família natural se encontra em situação de miséria.

Como vimos anteriormente, decorre do poder familiar uma série de deveres,


os quais, quando não cumpridos, podem acarretar a suspensão ou a perda desse
poder. Contudo, no caso de miserabilidade, essa consequência não pode ocorrer,
devendo a família ser inserida em um programa oficial de auxílio.
ECA

Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo


suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar.

§ 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação


da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de
origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em serviços e em
programas oficiais de proteção, de apoio e de promoção.

[...]

Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime


hospitalar ou ambulatorial
O direito da criança e do adolescente a um atendimento integral à sua saúde está
assegurado no artigo 11 do Estatuto, sendo que, diante de um obstáculo a esse pleno
pode ser resolvido, em situações concretas, pela aplicação dessa medida protetiva.

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ECA

Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado voltadas à


saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de
Saúde, observado o princípio da equidade no acesso a ações e serviços
para promoção, proteção e recuperação da saúde.

[...]

Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, de orientação e de


tratamento a alcoolatras e toxicômanos
Esta medida protetiva decorre da anterior havendo, na verdade, uma verdadeira
demonstração do legislador da sua preocupação com o alcoolismo e outras
toxicomanias e as consequências que elas têm em crianças e em adolescentes.

Acolhimento institucional
O acolhimento institucional ou familiar é normalmente uma medida protetiva
aplicada para resolver diversas situações, tais como:
• Em casos emergenciais que o Poder Público ou a sociedade se depara, tal
como naqueles casos em que adolescentes ou crianças (muitas vezes com
poucos dias de vida) são encontradas em situação de completo abandono.
• Dar atendimento para crianças e para adolescentes que, em razão de maus
tratos ou mesmo crimes contra eles praticados por seus pais ou responsável,
não podem continuar a conviver (pelo menos nesse primeiro momento) com
os autores dessas condutas.
• Dar atendimento para criança ou para adolescente que, por qualquer razão,
esteja afastado de sua família natural ou extensa, enquanto essa situação não
é resolvida.
• Dar atendimento para criança ou para adolescente que se encontra em proces-
so de colocação em família substituta.

Assim, o acolhimento se destina sempre a ser uma medida provisória e excep-


cional, não podendo ser confundido com qualquer forma de privação de liberdade.

O encaminhamento de criança ou de adolescente para o acolhimento institucional


(exceto em situações emergenciais) somente pode se dar por atuação do Juiz da
Infância e da Juventude.

Imediatamente, após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade


responsável pelo programa de acolhimento institucional ou familiar deve elaborar
um plano individual de atendimento, visando à reintegração familiar, salvo em
situações excepcionais determinadas pelo Juiz da Infância e da Juventude.

O acolhimento familiar ou institucional deve ocorrer no local mais próximo à


residência dos pais ou do responsável e, como parte do processo de reintegração
familiar, sempre que identificada a necessidade, a família de origem será incluída em

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programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social, sendo facilitado e


estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido.

Sendo constatada a impossibilidade de reintegração da criança ou do adolescente


à família de origem, a entidade que desenvolve o programa deve enviar relatório
ao Ministério Público, propondo a destituição do poder familiar, ou a destituição de
tutela ou de guarda.

Após o recebimento desse relatório, o Ministério Público deve ingressar com a


ação de destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a realização de
estudos complementares ou outras providências que entender indispensáveis ao
ajuizamento da demanda.

Ao final dessa ação, as crianças ou os adolescentes deverão ser incluídas no ca-


dastro de crianças e de adolescente que podem ser colocadas em famílias substitutas.

Inclusão em programa de acolhimento familiar


O acolhimento familiar é sempre preferível ao institucional, pois possibilita uma
maior atenção à criança ou ao adolescente, razão pela qual essa modalidade deve
ser empregada, sempre que for possível e houver famílias dispostas a participar
dessa medida.

Colocação em família substituta


É uma medida de proteção para as diversas situações que foram tratadas em
nossa aula específica sobre esse tema.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Estatuto da Criança e do Adolescente
https://goo.gl/9ULiJB
Constituição Federal
https://goo.gl/zaRrL
Código Civil
https://goo.gl/1k18iF
Código de Processo Civil
https://goo.gl/6b0EbE

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UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção

Referências
CUNHA, Rogério Sanches; LÉPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves.
Estatuto da criança e do adolescente comentado. 5. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013.

CURY, Munir. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 12. ed. São


Paulo: Malheiros, 2013.

ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente. 15. ed. São Paulo:
Atlas, 2014.

TAVARES, José de Farias. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente.


8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.

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