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DIREITO AMBIENTAL E MINERAÇÃO

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Sumário
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 1

Meio Ambiente e Mineração na Constituição Federal ............................. 2

O direito ao meio ambiente na Constituição Federal ............................... 2

A defesa do meio ambiente como princípio da ordem econômica ........... 4

Mineração e meio ambiente..................................................................... 8

A previsão constitucional do dever de recuperar a área degradada na mineração


......................................................................................................................... 10
Impactos socioambientais da mineração ............................................... 13

Mudanças da paisagem ................................................................................... 13


Emissões atmosféricas .................................................................................... 14
Consumo e contaminação de recursos hídricos............................................... 15
Impactos sobre comunidades ................................................................ 17

O impacto positivo da mineração. .......................................................... 18

Conclusão .............................................................................................. 21

REFERÊNCIAS ..................................................................................... 23

2
NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Meio Ambiente e Mineração na Constituição Federal

O exercício da atividade minerária guarda uma estreita relação com a temática


da proteção ao meio ambiente, não apenas por se tratar da exploração de um recurso
natural, mas também por não se poder visualizar a jazida fora de seu contexto de
íntima ligação com os demais elementos da natureza, como o solo e a flora.

Para que se viabilize o exercício da mineração, é imprescindível a intervenção


na área de exploração onde se localiza o minério, provocando inúmeras
transformações ao meio ambiente. Assim, cabe aos dispositivos legais regular a
forma pela qual a atividade deverá ser desenvolvida, de modo a mitigar e compensar
as transformações ambientais produzidas, para que os benefícios socioeconômicos
da atividade sejam alcançados com respeito ao meio ambiente.

Neste cenário, insere-se a previsão da Constituição Federal que, visando


amenizar o ônus social e acrescentar condições de sustentabilidade à mineração, no
capítulo dedicado ao meio ambiente, incluiu no parágrafo 2º do artigo 225, a obrigação
daquele que explorar os recursos minerais de recuperar o meio ambiente degradado.

Com a inclusão desta obrigação ambiental erige-se, no âmbito da mineração,


a concepção de que este tipo de atividade minerária corresponde a uma modalidade
transitória de uso do solo, sendo incumbência da fase de recuperação encaminhar a
área degradada a um nível de estabilidade que permita um uso sequencial do solo.

O direito ao meio ambiente na Constituição Federal


Como um dos primeiros instrumentos de conscientização a respeito da
proteção ambiental, a Declaração de Estocolmo de 1972, que tratou das questões
relativas ao desenvolvimento e ao meio ambiente, consagrou como direito
fundamental do homem o desfrute de condições adequadas de vida em um meio
ambiente com qualidade.

Diante do amadurecimento da questão ambiental, diversos ordenamentos


jurídicos ao redor do planeta passaram a prescrever disposições legais a respeito da
proteção ambiental.

No que tange ao Brasil, a implementação de uma política nacional quanto ao


meio ambiente iniciou-se na da década de 1980 com a aprovação da Lei nº 6.938/81,

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incorporando ao ordenamento jurídico diretrizes e instrumentos para sua defesa,
trazendo como principal inovação uma visão integrada e sistêmica para a questão
ecológica e fornecendo um tratamento autônomo para a tutela do meio ambiente.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, os elementos e diretrizes


contidos na Lei nº 6.938/81 foram reafirmados e complementados, ganhando o meio
ambiente um capítulo próprio. Determina o art. 225 que:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo- -se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.

Constata-se, assim, que o dispositivo constitucional associou a tutela


ambiental à busca da qualidade de vida, pela percepção de que o meio ambiente em
condições satisfatórias é condição necessária e imprescindível ao aproveitamento
pleno da vida e à existência digna, representando um importante instrumento para o
alcance e manutenção de um entorno capaz de proporcionar o desenvolvimento
humano sob as melhores condições possíveis, do ponto de vista físico e espiritual
(FERREIRA; SILVA, 2007, p. 126).

A tutela do meio ambiente aparece, assim, como objeto central e prioritário da


proteção constitucional, mas tendo sua finalidade direcionada a um aspecto mediato
ou consequente, ou seja, a satisfação da qualidade de vida do ser humano
proporcionada pelas condições ambientais, atendendo aos princípios da cidadania e
da dignidade humana.

Tendo como característica um objeto qualificado, a tutela ambiental deve


pautar-se por uma abordagem integrada e atinente às características peculiares e às
necessidades especiais que marcam o objeto protegido, consistindo a defesa do meio
ambiente ecologicamente equilibrado um direito de resultado, cuja satisfação requer
a manutenção de uma situação específica que reverte seus serviços e benefícios em
favor do homem.

Desta forma, deriva do art. 225 da Constituição, conforme destacam Ferreira e


Silva (2007, p. 127), um princípio conservacionista que implica, necessariamente, a

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adoção de técnicas e instrumentos que possibilitem a proteção, a manutenção e a
restauração da qualidade ambiental.

Por este motivo, ao lado do direito fundamental ao meio ambiente sadio e


equilibrado, impõe a Constituição Federal, de modo a oferecer garantias para o
exercício deste direito, um dever, também fundamental, compartilhado entre Estado
e sociedade civil, cujas ações devem convergir para a defesa do meio ambiente,
obrigação esta calcada num princípio de solidariedade que emana um compromisso
ético para com o futuro e de equidade para com as gerações vindouras.

Atingindo desde a vertente individual até a esfera coletiva do homem,


considerado elemento indispensável tanto para o desenvolvimento do indivíduo em si
quanto para a realização da sociedade como um todo, o preceito da defesa do meio
ambiente, trazido pela Constituição, refere-se a um direito cuja titularidade é difusa,
de modo que a gestão da qualidade ambiental deve ser concretizada de uma forma
comunitária, com a participação de toda a sociedade, impondo-se o ônus de sua
defesa a todos, seja o Estado ou o particular

Neste prisma, surge a posição do Poder Público que, em decorrência de seu


poder-dever e de possuir toda a estrutura e os mecanismos para o exercício do poder
de polícia, passa a ser incumbido de gerenciar os bens ambientais, conduzindo sua
administração em nome e no interesse da coletividade, podendo atuar sobre estes
bens, limitando os atributos da propriedade privada.

Mas, no exercício desta função, deve o Estado permitir e incentivar ampla


participação da sociedade e o acesso às informações ambientais, tendo em vista que
o compromisso ético com o futuro, emanado do art. 225 da Constituição, exige que
os cidadãos se afastem de uma situação de passividade e assumam o ônus de dirigir
sua conduta de modo a garantir a perenidade do meio ambiente.

A defesa do meio ambiente como princípio da ordem


econômica
A importância do meio ambiente para a sociedade e o papel dos recursos
ambientais ante o funcionamento dos sistemas produtivos levaram o legislador
constituinte a inserir a defesa ambiental como um dos princípios gerais da atividade
econômica, nos termos do art. 170, VI.

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Como destacam Faucheux e Noel (1997, p. 16), enquanto os efeitos das
condutas humanas, em especial da atividade econômica, não colocavam em causa a
reprodução da biosfera, economia e natureza eram vistas como universos distintos,
cada qual com sua lógica, de modo que a reprodução econômica desenvolvia-se
ignorando o modo de reprodução espontânea da natureza.

Essa concepção equivocada de desenvolvimento econômico e o desprezo pelo


aspecto ambiental orientaram a aplicação do modelo industrialista de progresso que
se desenvolveu com base em agressões ao meio ambiente e na pilhagem da
natureza. A construção do capital econômico à custa do capital natural resultou,
assim, na crise ecológica que rege o momento atual, em que as significativas
interferências ocasionadas nos sistemas ecológicos começam a interferir na
qualidade de vida e na própria sobrevivência e reprodução da humanidade.

Neste sentido, o dispositivo legal citado representa uma mudança de


paradigma nesta visão distorcida a respeito da atividade econômica, importando no
reconhecimento das interações existentes entre desenvolvimento econômico e
manutenção da qualidade ambiental, consistindo em questão a ser tratada de maneira
conjunta.

Conforme enfatiza Carvalho (2000, p. 131) “nesta visão, meio ambiente e


desenvolvimento compõem um sistema complexo de causa e efeito”, sendo que,
assim como a atividade econômica pode impor prejuízos ao meio ambiente, os
impactos ambientais também ameaçam o desenvolvimento econômico, já que podem
impor a necessária alocação de recursos financeiros para recuperar a qualidade
ambiental perdida.

Evidenciando o exposto, destaca-se o art. 4º, I, da Lei nº 6.938/81, que define


como objetivo da política do meio ambiente, a “compatibilização do desenvolvimento
econômico social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio
ecológico”.

Com o posicionamento externado pelo art. 170, VI, a Constituição demonstra


seu caráter integrador da ordem econômica com o meio ambiente, reconhecendo a
estreita relação existente entre direito econômico e direito ambiental.

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Enfatizando a inexistência de uma separação material entre economia e
ecologia, Cristiane Derani (1997, p. 187) defende a existência de uma união visceral
entre ambos os campos, pois do mesmo modo que as relações produtivas encontram
sua base nos recursos naturais fornecidos pela natureza, a natureza deve ser
compreendida como elemento integrante das relações humanas, sendo tarefa do
ordenamento jurídico representar este relacionamento.

Neste diapasão, as normas ambientais e econômicas “não só se interceptam,


como comportam, essencialmente, as mesmas preocupações”, e a aceitação da
qualidade de vida como um objetivo comum afasta a concepção de que as normas
ambientais “seriam servas da obstrução de processos econômicos e tecnológicos”,
sendo que seu real objetivo é a busca por uma convivência harmoniosa (DERANI,
1997, p. 76).

Representando o elo entre os mencionados ramos normativos, a qualidade de


vida e, como consequência, a existência digna, devem ser interpretadas de forma
integral, englobando conjuntamente, o conjunto de bens materiais, fornecido pelos
processos produtivos pela manipulação dos recursos naturais, e o bem-estar físico e
espiritual, disponibilizado pelo meio ambiente sadio (DERANI, 1997, p. 77).

Neste sentido, de acordo com Carvalho (2000, p. 132),

O Direito Ambiental propõe uma abordagem sistêmica na


qual a economia é vista não apenas como geradora de riquezas
e a ecologia como mera proteção da natureza. Ao contrário,
ambas, de igual modo, passam a ser essenciais para uma nova
perspectiva da humanidade: a qualidade de vida (vida com
saúde física, mental e espiritual) como um dos direitos humanos
fundamentais.

É por este motivo que o dispositivo constitucional considera como princípio


modelador da ordem econômica a defesa do meio ambiente, pois sua implementação,
além de necessária ao direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, é condição sine qua non para a continuidade e sustentabilidade dos
processos produtivos.

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Observada esta congruência entre direito econômico e direito ambiental,
possuindo como pano de fundo a defesa da qualidade de vida, confirma-se, assim, a
premissa de que os valores da manutenção da ordem econômica e da defesa do meio
ambiente são interdependentes e devem ser realizados concomitantemente.

Nota-se que não é intenção nem objetivo da norma ambiental impedir toda e
qualquer transformação imposta pelo homem ao seu entorno. O meio ambiente não
pode ser visto como um elemento apartado das relações humanas e a razão do direito
ambiental não se traduz na defesa de uma natureza intocada.

O real significado do conteúdo da tutela ambiental orienta-se a disciplinar, de


forma sustentável, as diversas formas pelas quais o homem utiliza e atua sobre seu
entorno, regulando a tensão existente entre a apropriação e a conservação do meio
ambiente.

Por estar a norma constitucional da conservação do meio ambiente


direcionada a seu aspecto finalístico, ou seja, indispensável à sadia qualidade de vida
e apto a oferecer suporte às relações humanas, constata-se que a vertente material
da qualidade de vida se projeta sobre determinados recursos naturais que são, assim,
consumidos ou utilizados para a satisfação das necessidades, permitindo o
desenvolvimento humano.

A consagração constitucional da necessidade de se manter o meio ambiente


ecologicamente equilibrado significa o reconhecimento da existência de limites em
relação às intervenções humanas, procurando a norma de direito ambiental atenuar
e disciplinar esta tensão existente entre a utilização e a conservação da natureza.

Consolidando o meio ambiente como elemento conformador da ordem


econômica,1 a Carta Magna demonstra, formalmente, a intenção de estabelecer o
equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a manutenção da qualidade do meio
ambiente, fazendo com que os sistemas produtivos tenham seu progresso baseado
na utilização racional dos recursos ambientais.

No entanto, de acordo com Silva (1997, p. 728), a elevação da defesa do meio


ambiente como princípio da ordem econômica estabelece limites às atividades
produtivas e “tem o efeito de condicionar a atividade produtiva ao respeito do meio

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ambiente e possibilita ao Poder Público interferir drasticamente, se necessário, para
que a exploração econômica preserve a ecologia”.

Deste modo, a tutela ambiental é considerada parte integrante do sistema


produtivo, fazendo com que a manutenção da ordem econômica e a proteção
ambiental se entrelacem e caminhem de forma paralela e conjunta.

Mineração e meio ambiente


A extração mineral consiste em uma atividade humana exercida desde a
antiguidade, primeiro como forma de sobrevivência, e, posteriormente, assumindo a
posição de fonte produtora de bens sociais e industriais, participando sobremaneira
na evolução alcançada pela humanidade.

Não se poderia conceber o atual nível de desenvolvimento, conforto e bem-


estar disponibilizados ao homem sem reconhecer a ampla participação e importância
dos recursos minerais neste processo.

Habitação, transporte, indústria e tecnologia são alguns exemplos de


segmentos da atuação humana com estreito relacionamento e forte dependência da
mineração.

Com os avanços da tecnologia e o aumento da densidade populacional, as


investidas humanas avançaram em direção à extração mineral, acarretando um
amplo desenvolvimento a este segmento produtivo, fazendo com que a mineração
abandonasse seu status de produção artesanal e atingisse escala industrial.

Quando a questão ambiental passou a ser tratada pela legislação, inclusive


com previsões constitucionais, novas posturas passaram a ser exigidas do setor
mineral no sentido de conciliar seu modo de produção com a preservação do meio
ambiente.

O setor mineral brasileiro, conforme descreve Barreto (2001, p. 6), teve sua
construção operada sob a perspectiva de uma visão estratégica dirigida para o
desenvolvimento nacional, tendo por base, inicialmente, políticas destinadas a seu
fomento e incentivo.

Nesta perspectiva, destaca-se o caráter da legislação aplicada à mineração,


marcada por um regime jurídico direcionado para a facilitação e incentivo ao

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aproveitamento econômico das jazidas, fundamentado nos princípios da dualidade
imobiliária e da dominialidade pública sobre os recursos minerais.

Em virtude do surgimento das preocupações com o meio ambiente, a dimensão


ambiental passou a ser incorporada gradativamente à exploração mineral,
identificando-se, num primeiro momento, sob uma ótica fragmentada, caracterizada
por uma proteção voltada para a saúde humana, como o controle de água potável e
das condições do ambiente de trabalho para, posteriormente, abranger uma visão
holística, preocupada com a poluição ambiental e com o desenvolvimento sustentável
(BARRETO, 2001, p. 6).

No âmbito de seu relacionamento com o meio ambiente, a mineração


apresenta algumas características peculiares, as quais fundamentam a especialidade
com que a legislação aborda esta atividade econômica.

Neste sentido, Herrmann (1995, p. 102) apresenta uma série de


particularidades da mineração que influenciam seu contato com o meio ambiente, na
qual se destacam: (i) a exauribilidade da jazida, pois se trata de um recurso não
renovável, ocorrendo apenas uma única safra; (ii) a singularidade das minas, não
existindo jazidas idênticas e havendo alto grau de incerteza em sua exploração; (iii) a
dinâmica do projeto mineiro, que deve adequar-se a estas incertezas e aos contornos
da região explorada; e, principalmente, (iv) a rigidez locacional, significando que a
jazida encontra-se onde os condicionantes geológicos a criaram, não havendo
possibilidade de escolha do local onde ocorrerá a lavra.

Levando em conta as características e o potencial de transformação do meio


ambiente da mineração, salienta Paulo Affonso Leme Machado (2000, p. 110-111) a
existência de três formas distintas de degradação advindas desta atividade: a primeira
podendo ser evitada antes da lavra ou pesquisa por meio do estudo de impacto
ambiental; a segunda sendo combatida durante o funcionamento da atividade; e a
terceira consistindo na recomposição de que cuida a Constituição Federal no art. 225,
parágrafo 2°.

Neste sentido, constata-se que, de um modo geral, o exercício da atividade


mineradora no Brasil possui sua regulação e controle ambiental formulados,
basicamente, em torno de três instrumentos jurídicos utilizados pelo Poder Público,
destinados a promover sua compatibilização com a proteção ao meio ambiente: a) a

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avaliação de impacto ambiental; b) o licenciamento ambiental; e c) o Plano de
Recuperação de Área Degradada, o qual será analisado a seguir.

A previsão constitucional do dever de recuperar a área degradada na


mineração
Fazendo uma análise da estrutura do art. 225 da Constituição Federal, José
Afonso da Silva (2000, p. 52) fraciona a norma constitucional em três conjuntos
normativos, em que se configuram: a) a norma-matriz ou norma-princípio (caput), que
revela o direito de todos a um ambiente ecologicamente equilibrado; b) as normas- -
instrumento, que visam garantir a efetividade da norma-matriz e; c) as determinações
particulares, orientadas a objetos e setores específicos, estatuídas nos parágrafos 2°
ao 6°.

Do mesmo modo, Derani (1997, p. 256) descreve que o art. 225 pode ser
visualizado em três partes distintas: a) a apresentação do direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado como um direito fundamental; b) a descrição do dever do
Estado e da coletividade em defender e preservar o meio ambiente para as presentes
e futuras gerações e; c) a prescrição de normas impositivas de conduta visando
assegurar a efetividade da proteção ao meio ambiente.

Nesta terceira parte são estabelecidas ações específicas impondo tarefas


diretivas e materiais, situando-se o parágrafo 2º no âmbito das medidas preventivas
e compensatórias, no qual são determinadas obrigações especiais a práticas
consideradas especialmente deletérias ao meio ambiente (DERANI, 1997, p. 265).

A existência de determinações particulares ou obrigações específicas no texto


do art. 225 da Constituição pode ser compreendida, assim, como o indicador de uma
orientação própria para determinados setores, como no caso da mineração,
procurando, de alguma forma, aplicar a norma ambiental, verificando os aspectos e
peculiaridades de cada caso concreto.

Neste sentido funciona o parágrafo 2º do art. 225, da Constituição Federal,2 o


qual obriga àquele que explorar recursos minerais recuperar a área degradada, numa
espécie de norma compatibilizadora, que evidencia a existência de caracteres
especiais no tratamento ambiental da mineração.

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Pois esta é a retratação que se busca aplicar ao parágrafo 2º do art. 225, como
norma constitucional que exterioriza um juízo de ponderação e de concertação,
derivada da colisão entre ordem econômica e meio ambiente no exercício da
mineração, pois a incumbência a respeito deste juízo corresponde, precipuamente,
ao legislador constitucional.

O que se evidencia por meio do parágrafo 2º do art. 225 é um reconhecimento,


operado pelo legislador constitucional, a respeito da interface direta da jazida com os
demais recursos ambientais e da necessária interferência no meio ambiente para que
a atividade possa ser realizada.

Considera-se, assim, o meio ambiente elemento integrado à base social na


qual o homem interage com seu entorno, sendo inerente à natureza humana a busca
por recursos naturais aptos a satisfazer suas necessidades.

Ao referir-se ao comentado parágrafo da Constituição, Milaré (2001, p. 205)


enfatiza:

ciente o legislador constituinte da impossibilidade física


de se atingir o subsolo sem interferir na área superficiária da
jazida mineral e no seu entorno, após ter consagrado o interesse
publico existente sobre o aproveitamento desse bem, impôs ao
minerador a responsabilidade de “recuperar o meio ambiente
degradado”, segundo solução técnica exigida pelo órgão
público.

Na visão de Antunes (2002, p. 640), o legislador, atento à importância


econômica e social da mineração, estabeleceu um critério diferenciado para a
exploração dos recursos minerais, exigindo a proteção ambiental mediante critérios
rígidos, mas admitindo que são inevitáveis os resultados negativos sobre o meio
ambiente nesta atividade.

Nesta esteira, Barroso (1992, p. 169) analisa o dever de recuperar


argumentando que a defesa do meio ambiente refere-se a apenas um dos vetores
constitucionais, necessitando ser conciliado com muitos outros, o que resulta na
admissão da hipótese de que certas atividades econômicas, ainda quando lesivas ao
meio ambiente, deveriam ser exploradas, conformando-se o legislador com a

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inevitabilidade do dano, mas determinando a posterior recuperação do meio ambiente
degradado.

Ao instituir o dever de recuperar a área degradada na exploração dos recursos


minerais, a Constituição demonstra seu caráter integrador da ordem econômica com
o meio ambiente, adequando a defesa ambiental às características da mineração,
viabilizando o exercício da atividade e possibilitando a continuidade do
desenvolvimento econômico, fazendo com que os valores econômicos e ambientais
sejam realizados de forma conjunta e equilibrada.

Deste modo, a incidência da norma ambiental no processo produtivo minerário


modela-se à sistemática da atividade, contendo temporalmente o advento do dever
de recuperar, que é imputado ao encerramento do empreendimento, ante a
possibilidade de alteração transitória das condições ambientais onde se localiza o
recurso mineral explorado.

A imposição do dever de recuperar a área degradada representa a


contrapartida oferecida pelo empreendedor minerário, resultante da manifestação do
princípio do poluidor-pagador, de natureza econômica, cuja incorporação é observada
em virtude de se impor ao agente econômico a internalização das externalidades
negativas da atividade, suportando, segundo as palavras de Derani (1997, p. 158),
“com os custos necessários à diminuição, eliminação ou neutralização” dos prejuízos
provocados.

Do mesmo modo, o dever erigido pelo parágrafo 2° do art. 225 da Constituição


pode ser compreendido como um mecanismo de intervenção do Estado, que por meio
da regulação direta “procura disciplinar o comportamento dos agentes econômicos,
impondo ou proibindo determinadas condutas e estabelecendo níveis máximos para
o uso dos recursos naturais ou para a geração de efluentes” (CARNEIRO, 2001, p.
74).

Com a instituição do dever de recuperar, o legislador constitucional modela a


tutela do meio ambiente à atividade minerária, de modo a não representar
impedimento à sua realização, pois, do contrário, não permitindo as intervenções na
área a fim de possibilitar a extração do minério, estaria bloqueando seu exercício e
esvaziando todo o conteúdo da manifestação do princípio da livre iniciativa na
mineração.

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Impactos socioambientais da mineração
Mudanças da paisagem
A principal forma de extração mineral no Brasil ocorre por meio das minas a
céu aberto. Sua instalação inicia com o desmatamento da região a ser lavrada e a
retirada de todo o solo fértil. Como esse solo normalmente possui baixo teor de
minério, ele é contraditoriamente chamado de “estéril” pelas mineradoras. Esse estéril
é, então, acumulado em grandes pilhas. Na maior parte dos projetos de grande
escala, em seguida, inicia-se o processo de extração; que envolve cortes em blocos
de dimensão padronizada e confere à mina a aparência de um poço dotado de
enormes plataformas em degraus. O preparo da escavação é feito a partir da
perfuração dos blocos e da infusão de cargas de explosivos. A detonação afrouxa os
blocos, permitindo que escavadeiras mecânicas carreguem o material extraído em
caminhões fora de estrada para as unidades de beneficiamento.

Como forma de comunicar ao público não técnico os impactos da mineração,


Gudynas (2015) lança mão da ideia de “amputação ecológica”. Ele explica que,
quando temos um membro amputado (uma perna, um braço, uma mão),
podemos usar a melhor tecnologia possível (ambiente higienizado, anestesia,
sutura etc.) e, se o processo for bem realizado, ao final, temos um
“coto” apresentável, limpo e sem infecção. O procedimento apresenta um porém:
por melhor que seja a cirurgia, quando ela termina, o membro não está mais lá.

A grande mineração, assim, seria um processo semelhante de amputação


da paisagem. As empresas mineradoras podem usar os melhores métodos de
gestão ambiental (recirculação de água, máquinas e equipamentos eficientes,
controle de material particulado e programa de recuperação de área degradada);
mas quando se fecha a mina, a montanha não está mais lá. No lugar da serra ou
do pico, existe um buraco. Assim é modificada toda a paisagem e, com ela,
mudam o microclima, a fauna, a flora, a dinâmica hidrológica. A função ecológica que
era exercida pela montanha é extinta. Esse impacto, da ausência do material retirado,
é inerente à atividade mineral e não pode ser evitado por nenhuma tecnologia
de gestão.

A mudança da paisagem não se restringe a áreas naturais ou isoladas. Em


situações onde as minas encontram-se próximas às áreas urbanas, a transformação

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também ocorre no ambiente construído. Assim, no caso de Congonhas, a Vila
Operária de Casa de Pedra, construída pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN)
nos anos 1950, foi “desmobilizada” 30 anos mais tarde para permitir ampliação da
mina. No momento de sua demolição, a vila contava com quase trezentas casas,
cinema, praça de esportes, grupo escolar, igreja, hospital e uma população de quase
3 mil pessoas (Rodrigues, 2011 apud Barbosa e García, 2012).

Outro caso emblemático pode ser identificado em Itabira, uma das cidades com
maior tradição em mineração do país. Em Itabira, para garantir a expansão das minas
da Vale foram desmobilizados diferentes grupos de moradia operária, como Vila
Sagrado Coração de Jesus, Vila Conceição de Cima e Vila Cento e Cinco, bem como
bairros não vinculados à mineradora, como o Aglomerado da Camarinha e a Vila
Paciência (Souza, 2007).

Uma das formas de se tentar mitigar os impactos na mudança da paisagem,


ao menos nos ambientes naturais, é a execução dos Planos de Fechamento de Minas
(PFM). A aplicação efetiva dos PFM, entretanto, apresenta uma série de desafios e
os órgãos estatais têm se mostrado incapazes de garantir o seu cumprimento. Por
exemplo, o Cadastro de Minas Paralisadas e Abandonadas no estado de Minas
Gerais lista 169 minas abandonadas, 134 minas paralisadas sem controle ambiental
e, apenas, 97 minas paralisadas em conformidade com a legislação (Feam, 2016).

Uma das formas possíveis de se garantir que as empresas cumpram com as


obrigações associadas ao fechamento das minas seria a exigência do
contingenciamento de recursos durante todo o período de operação. Tal prática é
adotada em diferentes países como África do Sul, Austrália, Canadá, Chile e Gana;
sendo inclusive recomendada pelo International Council on Mining & Metals
(Miller, 2005). No Brasil, porém, não existe tal cobrança na legislação vigente,
nem houve sua incorporação nos debates sobre o Novo Código Mineral
(Milanez e Santos, 2013).

Emissões atmosféricas
A poluição atmosférica associada à mineração, de forma geral, é mais
facilmente percebida quando existem comunidades próximas às minas, como no caso
de Itabira e Catas Altas, em Minas Gerais. Às vezes, a poluição atmosférica não é
causada diretamente pela lavra, mas pela poeira e pela lama, que são trazidas das

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minas para as cidades por ônibus, caminhões e automóveis que prestam serviços
às mineradoras, como em Congonhas (Milanez, 2011).

A poluição por material particulado pode causar efeitos negativos sobre a


saúde das pessoas que vivem próximas a grandes minas. No caso específico
de Itabira, Santi, Suzuki e Oliveira (2000) realizaram um levantamento da qualidade
do ar para o período entre 1997 e 1999. A pesquisa mostrou repetidas violações dos
limites definidos pela Resolução Conama no 3/1990. Em outro estudo,
Braga et al. (2007) concluíram que a poluição do ar em Itabira equiparar-se-ia a dos
grandes centros urbanos. Informações disponibilizadas pelo Datasus (2016) sugerem
uma piora na qualidade do ar em Itabira, nos anos recentes. A cidade reduziu as
internações por doenças respiratórias, entre 1998 e 2006, porém ao longo da segunda
metade dos anos 2000, coincidentemente em um período de aumento da extração
mineral, as internações voltaram a subir.

A poluição atmosférica, porém, não se limita à atividade da mina. Exemplo


dessa situação é o conflito que vem se desenrolando na cidade de Vitória (ES) por
conta da poluição por material particulado, localmente identificado como “pó preto”,
associado à operação de carregamento de navios mineraleiros no porto de Tubarão
(Machado, 2016). De acordo com o Relatório Circunstanciado da “CPI do Pó Preto”,
“a poluição atmosférica vem sendo cometida ao longo do tempo em especial pelas
empresas Arcelor Mittal Tubarão S/A, Vale S/A, e Samarco S/A, sem contar com os
danos causados ao meio ambiente” (Ales, 2015, p. 29). Assim, a emissão de material
particulado tem se mostrado como um importante impacto com efeitos danosos à
qualidade ambiental e à saúde pública tanto nas áreas de minas, quanto nas regiões
impactadas por seu sistema logístico.

Consumo e contaminação de recursos hídricos


Com relação aos recursos hídricos, os impactos da mineração ocorrem, pelo
menos, em três níveis. Primeiramente, existe o elevado consumo de água; em
segundo lugar, há problemas associados à extração mineral em si, que pode levar ao
rebaixamento do lençol freático e ao comprometimento da recarga dos aquíferos; por
fim, existe o risco de contaminação dos corpos d’água.

A água é um insumo fundamental para a extração mineral. Apesar das taxas


de recirculação serem altas, entre 82% (Vale, 2016) e 90% (Samarco, 2015), o

15
consumo específico pode variar de 1,1 m3 /t (Samarco, 2015) até 4 m3 /t (MRN,
2015).

Além do consumo para as atividades de beneficiamento, o uso de minerodutos


para a logística também se mostra como importante elemento de consumo. Esse
modal logístico vem se tornando cada vez mais comum no estado de Minas Gerais.
Além dos três minerodutos construídos pela Samarco, a Anglo American implantou
um mineroduto de 525 km ligando sua mina em Conceição do Mato Dentro (MG) ao
Porto do Açu, em São João da Barra (RJ). No estado de Minas Gerais, existem ainda
projetos, não implantados, de minerodutos pela Ferrous Resources (480 km) e pela
Manabi (511 km). O consumo conjunto de água por esse grupo de minerodutos seria
suficiente para abastecer uma população de 1,6 milhão de pessoas (Porto, 2015).

Outro problema diz respeito ao rebaixamento do lençol freático. Não é


incomum que, para a ampliação da extração mineral, as cavas vão além das águas
subterrâneas. Quando isso ocorre, a água passa a ser retirada para garantir acesso
ao minério. À medida que o lençol é rebaixado, diferentes impactos podem ser
gerados como a diminuição no fluxo de água de rios, a perda da qualidade da água
superficial ou subterrânea e a redução do volume de água em poços (Elaw, 2010).

Outra questão fortemente associada ao consumo de água diz respeito à


recarga dos aquíferos. Isso é especialmente importante nas áreas de mineração de
ferro no estado de Minas Gerais. O termo “canga” é utilizado para denominar
afloramentos ferruginosos, particularmente aqueles associados a formações
ferríferas bandadas, tipo de formação em que se encontram as principais atividades
de exploração de minério de ferro no país. Devido as suas características ecológicas,
áreas de canga apresentam elevada concentração de espécies endêmicas. Ao
mesmo tempo, devido a sua localização, em platôs, e a sua porosidade, as cangas
são importantes áreas de recargas de aquíferos subterrâneos (Carmo, 2010). Uma
vez retirada essa camada permeável reduz-se significativamente a biodiversidade
regional; além disso, há uma diminuição da capacidade de recarga dos aquíferos,
podendo comprometer o abastecimento de água das localidades que deles
dependem.

Para além dos conflitos em torno do consumo e risco de abastecimento da


água, outro impacto significativo das atividades minerais é a contaminação dos cursos

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d’água. Um dos exemplos mais emblemáticos desse processo ocorreu na região de
extração de carvão mineral, nos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
Esse carvão é impregnado por sulfetos metálicos que, depositados na forma de rejeito
ou estéril, entram em contato com a umidade do ar e são convertidos em ácidos. Isso
dá início ao processo conhecido como Drenagem Ácida de Mina (DAM), que aumenta
significativamente a acidez dos corpos d’água; além disso, a redução do pH intensifica
a solubilização dos metais pesados presentes nos resíduos das atividades minerais
na região. Assim, importantes rios, tais como Tubarão, Urussanga e Mãe Luzia,
encontram-se altamente contaminados, comprometendo, inclusive, o abastecimento
de algumas cidades (Fernandes, Alamino e Araujo, 2014).

Outro tipo de impacto sobre os recursos hídricos associados à extração mineral


diz respeito ao rompimento de barragens de rejeito. Parte significativa da opinião
pública brasileira somente tomou conhecimento desse tipo de desastre com o
rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), e a consequente destruição
do vale do Rio Doce. Todavia, entre 1986 e 2015, houve, apenas no estado de Minas
Gerais, oito grandes eventos dessa natureza. As consequências desses rompimentos
para os recursos hídricos são as mais diversas: contaminação dos rios por metais,
assoreamento, elevada mortandade de peixes, destruição de mata ciliar e interrupção
de sistemas de abastecimento públicos (Zonta e Trocate, 2016).

Assim, os impactos da atividade de extração mineral sobre os corpos d’água


são extensos e complexos. Eles podem se dar pelo elevado consumo, pelas
mudanças nos regimes hídricos, ou pela poluição hídrica. Além disso, não se limitam
ao local da mina, podendo comprometer integralmente as bacias hidrográficas.

Impactos sobre comunidades


Estudos sobre conflitos entre atividades mineradoras e comunidades vêm
crescendo consideravelmente no país. Uma das consequências dessas pesquisas
tem sido a tentativa de sistematizar tais conflitos. Assim, o Mapa de Conflitos
Envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil (Fiocruz, 2010) listava 113 casos
envolvendo o setor mineral; o Mapa dos Conflitos Ambientais de Minas Gerais
(Gesta/UFMG, Ninja/UFSJ, e PPGDS/Unimontes, 2013) apontava 65 conflitos,
apenas naquele estado, e o Banco de Dados de Recursos Minerais e Territórios
(Cetem, 2011), o primeiro banco de dados específico para as questões minerais no

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país totalizava 118 conflitos no território nacional. Embora esses mapas não permitam
identificar a temporalidade desses conflitos, sua recente criação já demonstra um
aumento do interesse acadêmico por tais fenômenos.

Os conflitos socioambientais podem ter causas diversas, sendo a remoção


compulsória de comunidades uma das mais sérias. Por exemplo, em Conceição do
Mato Dentro, pessoas que foram removidas pelo Projeto Minas-Rio, da Anglo
American, demonstraram grande insatisfação com a qualidade construtiva das casas
que receberam e com o fato de não terem todas as suas necessidades atendidas.
Nessa localidade, conflitos também surgiram com aqueles que, no Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) apresentado pela empresa, não foram reconhecidos como passíveis
de remoção. Apesar de manterem suas propriedades, perceberam
comprometimentos estruturais das construções devido às atividades da mineradora
(explosões, trepidação devido à passagem repetida de caminhões pesados etc.).
Houve ainda grupos que tiveram inviabilizados seus sistemas de abastecimento de
água e comprometidas suas atividades econômicas (Movimento pelas Serras e Águas
de Minas et al., 2012).

Os conflitos com as comunidades não estão relacionados apenas com as


atividades de extração, mas podem também se estender por todo o território sob
influência da rede de produção das empresas mineradoras. Por exemplo, a
Plataforma DHesca Brasil (2013) fez referência a problemas de poluição sonora
causados pela passagem dos trens no corredor de exportação da Estrada de Ferro
Carajás. O ruído causado por essa passagem e a buzina das locomotivas não apenas
geravam dificuldades para as pessoas dormirem, como causavam estresse e fadiga;
ainda, havia localidades onde as aulas precisavam ser interrompidas devido ao
barulho do trem. Da mesma forma, o relatório indicava o surgimento de trincas e
rachaduras nas casas devido à vibração gerada pela passagem constante dos trens.

O impacto positivo da mineração.


Estudo mostra que mineração ajuda municípios a crescerem. Dados da
Fundação João Pinheiro foram computados em 2009 e 2010: Itabira, berço da Vale,
está entre os que mais cresceram. Belo Horizonte, capital mineira do estado de Minas
Gerais, está entre as seis cidades que mais geram riqueza no país, segundo estudo
realizado pela Fundação João Pinheiro, órgão estatal encarregado de fazer pesquisas

18
socioeconômicas da região. Os dados foram computados em 2009 e 2010 e dão
conta ainda que o crescimento nominal da economia mineira em 2010 em relação a
2009 foi de 22,4%.

“Este comportamento esteve fortemente associado ao desempenho das


atividades da mineração, que apresentaram recuperação da crise de 2008/2009 e
resultaram, de maneira geral, no crescimento expressivo do PIB dos municípios
mineradores”, diz o relatório. Promover o desenvolvimento local é uma das formas
que as empresas têm de se fazer presente na economia do país de forma positiva,
agregando valor não só com geração de emprego e renda. Tanto assim que, numa
resolução anunciada no ano passado, os países membros da Organização das
Nações Unidas reconheceram oficialmente “a necessidade de se aplicar um enfoque
mais inclusivo, equitativo e equilibrado ao crescimento econômico, algo que promova
o desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza, a felicidade e o bem-estar
de todos os povos”.

A Vale, que está presente na maioria dos municípios mineradores de Minas


Gerais, em 2012 investiu US$ 1,342 bi em ações socioambientais. No ano de 2012,
a Fundação Vale, que busca promover do desenvolvimento dos territórios onde a
empresa atua, beneficiou 745 mil pessoas ao redor do mundo, direta ou
indiretamente.

Um dos objetivos da mineradora é ser a empresa de recursos naturais global


número um em criação de valor de longo prazo, com excelência, paixão pelas
pessoas e pelo planeta. Segundo a diretora executiva de sustentabilidade, Vania
Somavilla, gerar desenvolvimento local está entre as metas prioritárias, mas é
importante que a região não fique dependente da empresa: "Em parceria com o
governo e com a sociedade civil, é possível fazer a cadeia girar, gerando riqueza,
troca, inserção de moeda. Nosso sonho é trabalhar cada vez mais todo mundo junto
em prol do desenvolvimento".

Exemplo de um lugar onde a mineração contribuiu para alavancar a economia


local é o município mineiro de Itabira, o berço da companhia, que hoje está entre os
cem maiores geradores de riqueza segundo os dados da Fundação João Pinheiro. A
cidade aumentou em 0,2% sua participação nas contas nacionais. É prova de que

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mineração, indústria que tem a extração de recursos na natureza de sua atividade,
também pode compartilhar valor e gerar riqueza para as comunidades.

No Brasil, merece destaque, por exemplo, a empresa de mineração Vale, que


no último Relatório de Sustentabilidade informou, entre outros temas, os avanços em
relação ao uso eficiente da água nas suas operações. No seu relatório, a Vale indica
que o índice médio de recirculação em 2012 foi de 77%, um aumento de sete pontos
percentuais em relação a 2011. Com isso, a Vale deixou de captar 1,227 bilhão de
metros cúbicos de água de fontes naturais, o equivalente a cerca de duas vezes o
consumo anual da cidade do Rio de Janeiro. Parte desse resultado é reflexo dos
investimentos em tecnologias voltadas para o desenvolvimento de programas e ações
focadas na redução da demanda e do consumo de água. A empresa indica que em
2012 foram investidos cerca de US$ 125,9 milhões na gestão de recursos hídricos na
Vale.

Por exemplo, na Mina do Sossego, localizada em Canaã dos Carajás, no Pará,


a recirculação de água na usina de beneficiamento do cobre chega a 99%. O
crescimento é resultado de melhorias que paulatinamente vêm sendo adotadas desde
2008, quando foi feito o balanço hídrico do projeto e desenvolvidas ações para
diminuir o uso de água nova. Com o resultado na mina de Sossego, houve uma
redução anual no volume total de água captada de 900 mil metros cúbicos - que
anteriormente era bombeada do Rio Parauapebas -, uma quantidade suficiente para
abastecer uma cidade de 12 mil habitantes por um ano.

Já no Complexo Minerador de Carajás, em Parauapebas, sudeste paraense,


houve uma redução de 24% na captação devido às mudanças no processo de
peneiramento do minério de ferro, que passou a ser feito a partir de sua umidade
natural, eliminando a necessidade de água nova. Carajás representa cerca de 5% de
toda a captação de água da empresa. Vale observar que das dez operações da vale
com maior captação de água, nove estão em regiões com “risco de estresse hídrico”
(potencial de escassez está abaixo de médio), fato que por si só justifica a
preocupação e investimentos da empresa.

Assim, nota-se a clara tendência das empresas de mineração para que os


resultados obtidos por elas reflitam o alinhamento com os diversos esforços de
cooperação pela água, contribuindo, assim, para garantir os múltiplos usos do

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insumo, atuais e futuros. Muitas empresas, como já dito, tem procurado participar
ativamente de ações de engajamento para o desenvolvimento de políticas públicas a
partir de discussões globais e locais sobre a água uma vez\ que se percebe que não
cabe somente ao setor privado ou ao setor publico (mas sim a ambos em conjunto) a
adoção das medidas necessárias para a manutenção e/ou recuperação de aquíferos.

EXEMPLOS DE MUNICÍPIOS MINERADORES E SEUS RESPECTIVOS IDH


EM COMPARAÇÃO AO IDH DO ESTADO:

IDH IDH
Município UF mineral Estado Município
Itabira-MG Ferro 0.766 0.798
Araxá-MG Nióbio 0.766 0.799
Nova Lima – MG Ouro 0.766 0.821
Catalão – GO Fosfato 0.733 0.818
Cachoeiro de Rocha Ornamental 0.767 0.770
Itapemirim - ES
Parauapebas – PA Ferro 0.720 0.740
Barcarena – PA Bauxita 0.720 0.769
Presidente Cassiterita 0.713 0.742
Figueiredo – AM

Conclusão
O estado brasileiro vem melhorando cada dia mais suas relações com o meio
ambiente, no sentido de estar a cada dia se renovando em matéria de legislação de
proteção ambiental, e regulação das atividades de mineração.

A harmonia entre o desenvolvimento econômico e a proteção do meio


ambiente tem norteado as ações do legislador brasileiro nas últimas décadas, assim
toda melhoria proposta por agentes exteriores que possa influenciar na melhora da
legislação brasileira sempre tem sido analisada e adequada a realidade brasileira.

Mesmo estando longe do ideal no que tange a preservação do ecossistema


ainda sim se tem notado um desenvolvimento de politicas de preservação ambiental

21
visando além do meio ambiente, também o desenvolvimento das sociedades que de
forma direta ou indireta se beneficiam das atividades da mineração.

Independente do rumo a ser tomado é sempre importante se ter em mente que


é muito importante a exploração consciente dos bens ambientais de forma a não
degradar definitivamente nosso ecossistema para que as próximas gerações possam
ter seus direitos garantidos.

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