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Curso FIC em Agente de Sustentabilidade e Inovação

Módulo 3 – Semana 13 - Pág. 1

MÓDULO 3/4 – ÉTICA, QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS


AULA 3/4 - SEMANA 13
13. Direito Ambiental
13.1. Origens do Direito Ambiental
13.2. Princípios do Direito Ambiental
13.3. O Direito Ambiental nas Empresas

A legislação ambiental atualmente é um dos fatores externos que tem provocado uma mudança
na cultura das empresas para que a dimensão ambiental venha a ser verdadeiramente incorporada.
Nesta semana 13 (S13) vamos estudar aspectos do direito ambiental, suas origens, princípios e a sua
importância para as empresas, não só como agente regulador, mas também como bússola para o
alcance da responsabilidade socioambiental. Ótima Semana!

13.1. Origens do Direito Ambiental


O conjunto de normas jurídicas relacionadas à proteção do meio ambiente é chamado de direito
ambiental. É uma área do direito que é transversal, estando intimamente relacionado com os
direitos constitucional. administrativo, civil, penal, processual e do trabalho (SANTOS, 2017).

Durante a Conferência de Estocolmo (1972), quando nasceu o conceito de desenvolvimento


sustentável, ainda com o nome de ecodesenvolvimento, os representantes dos países discutiram
a responsabilidade de cada um na resolução da grave crise ambiental, social e econômica vivida
pela humanidade. À época, os representantes brasileiros vivendo sob o domínio militar, com uma
política industrial em franca expansão, convidaram os países a poluir em nosso território, focando
apenas no desenvolvimento econômico e industrial e acreditando que seria uma oportunidade de
crescimento para o nosso povo, o que foi amplamente criticado pela comunidade internacional.

É notória a relevância da Conferência de Estocolmo para o direito ambiental, pois ela representa
a primeira tentativa de aproximação entre os direitos humanos e o meio ambiente. Desde então,
o tema qualidade ambiental passou a integrar as discussões e agendas políticas de todas as
nações, de tal modo que passou a ser considerado como um direito fundamental, essencial para
a melhoria da qualidade da vida humana (GONÇALVES, 2016)

A globalização das questões ambientais bem como o despertar ecológico da humanidade, são
eventos recentes, como percebemos em nossas semanas anteriores. No Brasil até os anos 60, era
permitido poluir, inclusive por lei federal. Absurdo nos tempos atuais, a lei federal nº 2.126/60
definia padrões para o lançamento de esgotos domésticos e industriais nos cursos d´água. Ainda
na década de 60, cidades como Contagem em Minas Gerais e Cubatão em São Paulo, conhecida
como Vale da Morte, receberam incentivos para implementação de indústrias, refinarias,
siderúrgicas, etc., e figuravam entre as regiões com maior poluição atmosférica do mundo,
causando danos irreparáveis à saúde e bem-estar da população. A ONU alarmou o planeta sobre
os problemas e consequências causadas pela poluição no polo industrial de Contagem, usando a
cidade como exemplo a não ser seguido. (PENSAMENTO VERDE, 2014).

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O marco inicial da legislação ambiental brasileira deu-se em 1981, com a promulgação da Lei da
Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81), ainda vigente. Dentre outros instrumentos,
a lei fixa o Licenciamento Ambiental, Avaliação de Impactos Ambientais, Auditoria Ambiental,
Gestão Ambiental, Padrões de Qualidade Ambiental, etc. A Lei também instituiu o Sistema
Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), conjunto de órgãos públicos da união, estados,
municípios, distrito federal e não governamentais, visando promover condições para o
desenvolvimento sustentável. Segundo GRIMALDI (2018) a PNMA uniu os pilares da proteção
ambiental, sendo o documento que atestou o nascimento do direito ambiental. A PNMA define
meio ambiente como o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (BRASIL, 1981).

Após a PNMA, a Constituição Federal de 1988 foi a primeira a dedicar um capítulo específico ao
meio ambiente, sendo reconhecida como constituição verde (JUNG, 2015). Em seu art. 225
admite o meio ambiente como um bem comum, de uso coletivo de todo um povo, sem uma
propriedade definida nem interesse único particular, impondo ao poder público e à coletividade
o dever de defender e preservá-lo para as gerações presentes e futuras (BRASIL, 1988).

Artigo 225 da Constituição Brasileira

Imagem: elaborado pelo autor

A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, sediada no Rio de
Janeiro em 1992 (ECO-92 ou RIO-92), encerrou os questionamentos sobre a postura brasileira em
relação à proteção do meio ambiente e apresentou uma nova inclinação para a sustentabilidade,
sendo um momento histórico na trajetória do direito ambiental. Outras legislações importantes
formação do direito ambiental foram a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7347/85) e a Lei de Crimes
Ambientais (Lei 9605/98). Continuamente o meio ambiente passou a ser indicado como um bem
jurídico, protegido pelo direito, especificamente o direito ambiental, que surgiu para estudar as
relações jurídicas ambientais com instrumentos e princípios para a análise da constituição,
buscando a proteção, preservação e a efetividade da norma ambiental para as atuais e futuras
gerações. (ANTONIO & VITÓRIA, 2019; GRIMALDI, 2018).

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13.2. Princípios do Direito Ambiental


Como mencionado anteriormente, os princípios do direito ambiental surgiram a partir das
conferências ambientais internacionais, dentre elas, a Conferência de Estocolmo (1972) e
Conferência do Rio (1992). Eles foram elaborados para dar legitimidade jurídica aos estados a
criarem políticas públicas voltadas à proteção ambiental. Um princípio é um preceito muito
importante no ordenamento jurídico e possui várias possibilidades de aplicação. Serve como
suporte na criação de regras, normas e seus fundamentos, no preenchimento de lacunas, na
orientação jurídica, na limitação e administração do poder, dentre outros.

Os princípios do direito ambiental são a base para se alcançar uma harmonia entre o meio
ambiente e a sociedade com objetivo de evitar, mitigar e reparar possíveis impactos ambientais
de pessoas físicas e jurídicas. Citamos abaixo alguns princípios ambientais e exemplos de
aplicação. A nomenclatura pode variar, mas certamente você conhece alguma ação prática
legitimada por eles.

1. Princípio do Direito Ambiental como Direito Fundamental: É o princípio estritamente ligado à


constituição, pois o direito que todos nós temos a um meio ambiente sadio é decorrência do
direito à vida, pois traz como prioridade a própria existência física e também a saúde todos os
seres humanos.

2. Princípio da Solidariedade Intergeracional: Tem o intuito de assegurar e garantir a solidariedade


dessa geração perante às relações das futuras gerações, para que também possam usufruir de
forma saudável dos recursos naturais, conforme consagra o próprio art. 225 da constituição de
88. Há de se esperar solidariedade entre o poder público e a coletividade no dever de proteção
e preservação.

3. Princípio do Desenvolvimento Sustentável: Como os recursos ambientais são muitos, as


atividades econômicas se desenvolvem de acordo com essa realidade. O que se busca é a
harmonização entre o desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente.
Crescimento Econômico, Preservação Ambiental e Equidade Social.

4. Princípio da Prevenção (Existência de Conhecimento): É um dos princípios mais importantes


do direito ambiental. Devem ser impostas medidas ao empreendedor para evitar, mitigar ou
impedir os danos ao meio ambiente. Deve-se prevenir a ocorrência do possível dano, sempre
que o perigo estiver identificado e for concreto. De tal modo, a lei visa regulamentar a atividade
a fim de afastar a possibilidade do dano. O Licenciamento Ambiental em três etapas,
obrigatório para empreendimentos potencialmente causadores de danos ambientais como por
exemplo indústrias, mineração e transporte, está baseado no princípio da prevenção.

https://www.youtube.com/watch?v=sWEQw6smo5w
Licenciamento Ambiental: o que é e porque é importante?

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5. Princípio da Precaução (Ausência de Conhecimento): Na dúvida, não se deve permitir o


desenvolvimento da atividade empresarial. É um perigo abstrato, um mero risco, não sabendo
se o dano ocorrerá ou não. É a dúvida se vai acontecer ou não o impacto negativo. A ausência
de conhecimento científico não pode ser utilizada como desculpa para postergar medidas para
evitar, mitigar ou impedir danos ao meio ambiente. Um exemplo típico é a obrigatoriedade da
realização de estudos de impacto ambiental (EIA) para o plantio de alimentos transgênicos. As
consequências do cultivo de organismos geneticamente modificados para o meio ambiente são
mais especuladas do que conhecidas. ainda assim, entendem os tribunais, devem ser realizados
estudos de impacto prévios, não havendo um direito líquido e certo de comercializar alimentos
geneticamente modificados, enquanto ainda estejam pendentes de análise os estudos
competentes (EMBRAPA, 2022).

6) Princípio do Poluidor Pagador: Este princípio tem relação com a responsabilidade civil. Aquele
que polui, deve ser responsabilizado pelo seu ato. O causador do dano deve arcar com os custos
relativos ao dano causado. O poluidor deve responder pelos seus custos sociais da degradação
causada por sua atividade, devendo esse valor ser agregado no curso produtivo.
https://youtu.be/AhU0sasvllk
Responsabilidade Civil por Dano Ambiental – Teoria do Risco Integral – Princípio da
Prevenção e do Poluidor Pagador
Como exemplo, podemos citar o pagamento pelas sacolas plásticas de supermercados. Alguns
autores consideram que dizer que o consumidor também tem culpa, pois opta por usar as
sacolas mais poluentes (poderia levar outras de casa), é meia-verdade pois seria muito mais
correto afirmar que foram os mercados, que acabando com as sacolas de papel, estimularam os
consumidores no uso das sacolas plásticas. Assim, o consumidor só pode ser pagador no caso
de sua opção, e não por uma regra posta pelo supermercado, como é o caso. Pelo princípio do
poluidor pagador, em síntese: o agente econômico paga “para não poluir” ou paga “porque
poluiu”. Mas nunca paga “para poder poluir”. Fato é que as pesquisas científicas indicam que o
uso de tais sacolas é um dos grandes vilões contra a preservação do meio ambiente, pois o
plástico leva muitos anos para se decompor e, à luz do direito ambiental, essa obrigatoriedade
de compra de sacolas plásticas é um exemplo de aplicação do princípio do poluidor-pagador.

A responsabilidade civil por danos ambientais tem como base a teoria do risco, segundo a qual
o dever de indenizar, cabe aquele que exerce atividade perigosa, juntando ao ônus de sua
atitude o dever de reparar os danos por ela causados e, assim, para que se prove a existência
da responsabilidade por danos ambientais, basta a comprovação do dano existente e do nexo
causal. Assim, quem causar dano ambiental, será responsabilizado, mesmo que não tenha a
intenção de gerar prejuízos aos recursos naturais ou ainda que não tenha agido com
imprudência, imperícia ou negligência (BRASIL, 1998)

7) Princípio do Protetor Recebedor: É necessário criar benefícios em favor daqueles que protegem
o meio ambiente para fomentar e premiar essa prática. Esse princípio visa dar aquele indivíduo
que preserva o meio além de seu dever ambiental, a possibilidade de receber benefícios em
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razão disso, como por exemplo a isenção de impostos, descontos no IPVA para carros com
GNV, IPTU para imóveis construídos com materiais comprovadamente ecologicamente
corretos, descontos em conta de luz para quem economiza energia e ICMS ecológico para os
estados que comprovem ações de proteção e preservação ao meio ambiente. Como exemplo,
podemos citar o fato de que nos estados do Rio de Janeiro e do Paraná existe a concessão de
descontos generosos de IPVA para carros movidos a GNV, sendo 75% e 40%, respectivamente.

https://www.youtube.com/watch?v=W2VGKMiVhzo
Isenção de IPVA para motoristas de aplicativos que utilizam GNV

8) Princípio da Informação: Os órgãos ambientais possuem obrigação de permitir o acesso público


aos documentos e aos processos administrativos que tratem da temática ambiental. Todo
cidadão pode usufruir das informações que julgar necessárias sobre o ambiente em que vive e
a ninguém é dado o direito de sonegar informações que possam gerar danos irreparáveis à
sociedade, prejudicando o meio ambiente. As empresas cujas atividades sejam potencialmente
causadoras de significativo impacto ambiental (mineração, agricultura, produção de energia,
transporte, construção civil, etc), devem apresentar um Estudo Prévio de Impacto Ambiental
(EIA). As informações técnicas presentes no EIA devem ser “traduzidas” para uma linguagem
que atinja o público leigo e apresentadas, de forma didática, em um documento chamado
Relatório de Impacto no Meio Ambiente (RIMA). A cópia do RIMA deve estar à disposição para
consulta pública, sendo uma forma de aplicação do princípio da informação (CARVALHO,
2016).

9) Princípio da Participação Comunitária: As pessoas possuem o direito de participar ativamente


das decisões política ambientais, na medida em que os danos ambientais são transindividuais.
Esse princípio compreende a informação e a educação ambiental. Como exemplo, podemos
citar dentre outros que as noções básicas de preservação do meio ambiente devem ser
passadas em todos os níveis de ensino; os produtos devem trazer em seu rótulo sua composição
e os licenciamentos ambientais devem ser precedidos de audiências públicas.

10) Princípio do Usuário Pagador: As pessoas que se utilizam dos recursos naturais escassos,
devem pagar pela sua utilização, ainda que não haja poluição. Todos aqueles que consomem
recursos ambientais em grande escala, acima do uso comum, devem pagar por eles pois os
recursos ambientais são bens de uso comum do povo, não podendo alguns indivíduos usá-los
em demasia sem qualquer contraprestação.

É uma tendência mundial a cobrança pela utilização e exploração dos recursos naturais, afim
de limitar a atuação do homem na natureza, buscando a preservação do meio ambiente. Como
exemplo, podemos citar os ingressos cobrados para frequentadores de parques nacionais,
como por exemplo o primeiro parque nacional do Brasil, Parque Nacional de Itatiaia, na região
sul do estado do Rio de Janeiro, divisa entre os estados do Rio de Janeiro e
Minas Gerais e cujos valores dos ingressos podem ser consultados no link:
https://www.icmbio.gov.br/parnaitatiaia/guia-do-visitante/59-ingressos.html.
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13.3. O Direito Ambiental nas Empresas


A relação entre as empresas e o meio ambiente têm se aprimorado com o passar do tempo e neste
sentido, o direito ambiental age como regulador de gestão e controle ambiental preventivo.
Apesar disso, as empresas não devem ficar restritas à atender exigências legais, mas tê-las como
ponto de partida para o alcance da responsabilidade socioambiental, evitando notificações,
autuações, multas, perda de licenças ambientais com a interrupção de suas atividades e prisão
dos infratores. Segundo o art. 75 da Lei 9.605 de 1998, Lei de Crimes Ambientais, o valor da multa
pode chegar a R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais).

Segundo Silva & Lima (2013), o direito ambiental tem atuado como um dos instrumentos de
gestão ambiental empresarial, participando na orientação e sustentação jurídica das atividades
de determinados setores de atividades e construindo uma relação harmônica homem-meio
ambiente. Além das perdas no âmbito social, ambiental e econômico, a exploração indiscriminada
do meio ambiente pelas empresas pode trazer grandes prejuízos. Adequar-se ao tripé econômico.
ambiental e social com o alinhamento de novas tecnologias é uma tendência inovadora.
A política ambiental tem evoluído, grande parte no campo institucional com as agências
governamentais de meio ambiente e legislação ambiental. Porém, Silva & Lima (2013) indicam
que existe uma nítida discrepância entre o direito instituído e praticado, que se reflete
negativamente sobre a qualidade da gestão e da proteção ambiental. Esse é um dos principais
desafios no combate à degradação ambiental no país. Conforme citado em nossa Semana 11, a
prevenção, detecção ou identificação de desvios, fraudes e irregularidades relativos aos impactos
ambientais negativos provocados por uma empresa é chamado de compliance ambiental.

Desse modo, a questão ambiental crescentemente incorporada aos mercados e às estruturas


sociais e regulatórias da economia, passou a ser um fator cada vez mais considerado nas
estratégias de crescimento das empresas, seja por gerar ameaças como também novas
oportunidades empresariais e o direito ambiental empresarial orienta o cumprimento das
exigências legais para a manutenção do negócio e de um meio ambiente equilibrado e
sustentável, estimulando práticas e mitigando impactos ambientais da prestação de serviços ou
da fabricação de produtos (SOUZA, 2002). Se a busca pela sustentabilidade ainda não é vista
como uma oportunidade de negócio, pode ser o que justamente impede o seu crescimento.

RESUMO DA SEMANA
A área de direito ambiental se formou juntamente com a globalização das questões ambientais,
na medida que atender a legislação ambiental é um elemento imprescindível na busca pelas
dimensões socioambientais da sustentabilidade.

Os princípios do direito ambiental são a base legítima para uma série de ações das empresas
para se alcançar uma harmonia entre o meio ambiente e a sociedade, evitando, mitigando e reparando
possíveis impactos ambientais. Na próxima aula, conheceremos algumas políticas ambientais
brasileiras e o papel da sociedade na busca pela sustentabilidade. Até breve!

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