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SEGURO GARANTIA EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE

WARRANTY INSURANCE TO DEFEND OF ENVIRONMENT

Paulo Rogério Haüptli

Resumo
O presente trabalho tem como objetivo identificar e discutir as responsabilidades, o
gerenciamento de riscos, bem como os instrumentos jurídicos aplicáveis e os tipos de
soluções disponíveis no mercado nacional para serem contratadas quando se busca
assegurar a proteção do meio ambiente por meio do Seguro de Garantia, a fim de fazer
com que as empresas que incorram em risco de causar a poluição, a deterioração e a
destruição ambiental sigam com as suas atividades com maior segurança, possam
reparar os eventuais danos por elas ocasionados e consigam oferecer a caução
necessária nos casos em que os citados riscos se tornem fatos, sem que, contudo,
prejudiquem o seu fluxo de caixa e, consequentemente, as suas atividades operacionais
e a sua atuação no mercado.

Palavras-Chave
Seguro Garantia; Seguro Garantia Judicial; Carta fiança; Proteção do Meio Ambiente;
Ação Civil Pública; Ação Popular; Gerenciamento de Risco; Responsabilidade Civil.

Abstract

This paper aims to identify and discuss the responsibilities, risk management, as well as
the applicable legal instruments and the types of solutions available in the national
market to be contracted when seeking to ensure the protection of the environment
through the Surety in order to ensure that undertakings which are at risk of causing
pollution, deterioration and environmental destruction are able to carry out their
activities more safely, to remedy any damage caused by them and to provide the
necessary security in cases where that such risks become facts, without, however,
harming their cash flow and, consequently, their operating activities and their market
performance.

KEY WORDS
Surety, legal guarantee, Letter of guarantee, Environmental Protection, Public Civil
Action and Popular Action, Risk Management, Civil Liability

 Graduado em Ciências Jurídicas (Universidade Bandeirante de São Paulo – UNIBAN), Mestre em


Filosofia (Faculdade de São Bento de São Paulo – FSB-SP) e Mestrando em Direito (Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP). E-mail: paulo.rogerio@hauptli.adv.br
Sumário
Introdução. 1. Seguros. 2. Seguro Garantia. 3. Meio Ambiente. 4. Gerenciamento de
Risco. 5. Ação Popular. 6. Ação Civil Pública. 7. Mandado de Segurança Coletivo. 8.
Termo de Ajusta de Conduta. Conclusão. Bibliografia.

INTRODUÇÃO

O país passa por sérios problemas econômicos, e as empresas tentam diminuir os


seus custos administrativos, para poderem seguir com a sua função econômica, além da
sua função social. Dessa forma, o seguro garantia é um recurso comercial que vem para
trazer equilíbrio socioeconômico às companhias, pois lhes oferece as cauções
necessárias para as suas operações de crédito, a sua participação em licitações e as
garantias judiciais de que precisem. Diferentemente de outros tipos de seguros, o de
garantia tem como finalidades trazer segurança quanto ao cumprimento de contratos e
substituir a carta fiança em execuções.
Para o meio ambiente, é de suma importância que o seguro garantia seja
utilizado para a reconstrução de locais afetados por desastres, uma vez que ele garante a
entrega das obras e chega até a abarcar o TAC (Termo de Ajuste de Conduta), celebrado
entre o Ministério Público e empresas poluidoras, levando segurança à sociedade no que
diz respeito ao fato de que serão cumpridos os termos dessa celebração e, também, caso
não o sejam, de que a seguradora assumirá a responsabilidade financeira atrelada a tais
acordos.
Os seguros de garantia para o término de obras têm um viés de segurança porque
a seguradora se obriga a fiscalizar a finalização com segurança, realizando
acompanhamento tanto dos contratos quanto da parte estrutural e, por meio desses
seguros, passa a ser responsável solidária, o que acarreta um maior gerenciamento do
risco. Para o meio ambiente, isso é de vital importância, haja vista que, quando do
rompimento de uma barragem, por exemplo, contrata-se empreiteiras para reconstruir a
empresa e até mesmo parte de prédios da comunidade afetada, e a seguradora vai
garantir a entrega dessas obras, assim, se por algum motivo elas pararem, a sua
continuidade estará assegurada.
Nesse sentido, a sociedade passa a ser o segurado, tendo como seu representante
o Ministério Público, e a empresa compromissária passa a ser a tomadora, que paga o
prêmio ao segurador, o qual, por sua vez, passa ser aquele que assume o compromisso,
por meio de contrato, ou seja, da apólice de seguro, com o objetivo de promover a
recuperação ou reabilitação da área impactada pelo incidente e pela assistência à saúde
da população do local do risco.

1. CONCEITO DE MEIO AMBIENTE

Para Hugo Nigro Mazzilli, o conceito de meio ambiente se encontra inserto na


Lei 6.938/1981, em seu artigo 3º, que diz que “meio ambiente é o conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que
permite, abriga e rege a vida em todas suas formas”. A partir desse conceito, houve um
amplo entendimento acerca do que é proteção e do que proteger. Segundo esse
entendimento, o professor Mazzilli aponta que “a doutrina considera que a interação de
elementos naturais, artificiais e culturais também integra o meio ambiente”, o que é
defendido por Luiz Paulo Sirvinskas, no seu livro Manual de Direito Ambiental (2018,
p. 127-128).
Nesse diapasão, o conceito de meio ambiente foi muito além, dando origem a
uma análise mais profunda de que é de fato meio ambiente, com base em três pilares:
natureza (natural), artificial e cultural. Quando falamos em natureza, estamos nos
reportando à flora, com a proteção do solo, do subsolo, das águas, de mananciais e do
ar, e à fauna, com a proteção de todas as suas formas de vida.

2. PROTEÇÃO LEGAL AO MEIO AMBIENTE

No Brasil, efetivamente, a primeira ação em defesa do meio ambiente de que se


tem conhecimento foi proposta por um membro do Parquet, o promotor estadual Renato
Guimarães Junior, que requereu, na comarca de Campinas, interior de São Paulo, a
medida cautelar para impedir que o governo viesse a pulverizar, na região, agrotóxico
contra uma praga que estaria atingindo as plantações de algodão no ano de 1983. A
pretensão do ilustre membro do Ministério Público era prevenir responsabilidades
criminais, porém a ação foi impetrada na 7ª Vara Civil, a deliberação do Juiz José
Palmácio Saraiva foi favorável ao pedido do promotor e os efeitos da sentença foram,
ao final, favoráveis ao meio ambiente. Esse foi um pedido com viés penal inédito,
perpetrado numa vara civil e cujo efetivo efeito foi a proteção ao meio ambiente da
região. Por fim, a matéria discutida cabia à Justiça Federal. Aponta Hugo Mazzilli:
“Não se seguiu à cautelar, seja para reparar danos ambientais à luz da Lei nº. 6938;81,
que então já vigorava, pois a pulverização jamais chegou a ser feita” (MAZZILLI, 2017,
p. 206).
A proteção do meio ambiente tem como início do seu amparo legal a Lei
7347/1985, o Decreto 83540/1979 e a Lei 6938/1991, artigo 3º: “Para os fins previstos
nesta Lei, entende-se por, I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas”.
A Lei 7347/1985 criou um instrumento de máxima importância para a proteção
do meio ambiente e ampliou os róis dos legitimados ativos. Nesse sentido, afirma Hugo
Nigro Mazzilli:

Ora, essa lei, diversamente das anteriores, não apenas previu mais
uma dentre tantas ações já a cargo do Ministério Público, mas
também e principalmente colocou nas suas mãos um poderoso
instrumento investigatório de caráter pré-processual, ou seja, o
inquérito civil. (Idem, p. 46 )

Em 1988, com a chegada da Constituição democrata, que seguiu no mesmo


sentido mantendo o Ministério Público legitimado concorrente nas Ações Cis Públicas e
ainda trouxe grande melhora ao ampliar o objeto da Ação Popular com a inclusão da
proteção ao meio ambiente, inserta no caput do seu artigo 225.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-la para as presentes e futuras
gerações. (BRASIL, 1988)

A doutrina traz mostras de que existem mudanças significativas na titularidade


das ações coletivas em favor ao meio ambiente, fato extremamente positivo, tendo em
vista que a proteção passa a ter um efeito mais amplo, ou seja, erga omnes, nesse
sentido.

Vejo a cidadania como ação participativa onde há interesse público


ou interesse social. Ser cidadão é sair de sua vida meramente privada
e interessar-se pela sociedade de que faz parte e ter direitos e deveres
para nela influenciar e decidir. [...] A Constituição teve a audácia dos
tempos propícios ao maior acolhimento das liberdades e das
garantias fundamentais. (MACHADO, 2007, p. 128)

O ministro Celso Bandeira de Melo, seguindo a tendência da doutrina, em voto,


no MS 22.164-0-SP, J. 30.10.1995, DJU 17.11.1995, apontou:

[...] como um típico direito de terceira geração que assiste, de modo


subjetivamente indeterminado, a todo gênero humano, circunstância
essa que justifica a especial obrigação – que incumbe ao Estado e à
própria coletividade – de defendê-lo e de preservá-lo em benefício
das presentes e futuras gerações.

3. AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Com o advento da Lei 7.347/1985, a Ação Civil Pública tornou-se um


instrumento não penal que tem como um dos legitimados o Ministério Público, que
também sai em defesa dos direitos ambientais. Segundo Hugo Nigro Mazzilli, “Ação
Civil Pública da Lei 7.347/85 nada mais é que uma espécie da ação coletiva, como o
mandado de segurança coletivo e a ação popular” (2017, p. 78).
O dever de agir do Ministério Público trouxe grandes mudanças em matéria de
defesa do meio ambiente, haja vista que, quando o membro do parquet toma
conhecimento de uma violação aos direitos difusos, deve agir de forma semelhante à sua
atuação no âmbito penal.
O Ministério Público tem a seu dispor o inquérito civil, instrumento pré-
processual que permite investigar situações que estejam causando lesão ou representem
iminência de lesão e possibilita a coleta de provas suficientes para impetrar a ação civil
pública.
Ainda em defesa dos direitos ambientais, veio o vínculo da ação popular como
um meio de defesa do meio ambiente, o que fez surgiu um vasto rol de legitimados que
poder requer sua abertura.
E tudo mudou com a entrada em vigor da Lei 7.347/1985, a qual trouxe os
legitimados para propor a ação civil pública em defesa aos direitos difusos e coletivos,
dentre eles o Ministério Público, que passou a fazer uso frequente desse instrumento
para defender o meio ambiente.
A partir dessa lei, passamos a ter uma maior ênfase na proteção do meio
ambiente, que atribuiu ao Ministério Público um papel de máxima importância na
defesa ambiental. Destarte, essa norma jurídica disciplinou um importante instrumento
jurídico: a ação civil pública, que também tem, no seu escopo, a responsabilização do
causador dos danos ambientais, o que, por sua vez, possibilita a intervenção direta do
Parquet tanto Federal como Estadual.
Nesse sentido, o seguro garantia poderá ser utilizado para assegurar o
cumprimento da sentença condenatória, tanto para a reparação dos danos como para a
garantia de pagamento de multas e obrigações de fazer e não fazer. Ainda pouco
utilizado, ele pode ser de extrema importância para o equilíbrio social, além de auxiliar
a empresa condenada a manter o seu fluxo de caixa, por lhe permitir restabelecer o meio
ambiente sem que precise deixar de existir, o que protege empregos e a economia local
– ou até do país, como no caso da Vale, que tem uma grande relevância econômica para
o Brasil.

4. AÇÃO POPULAR

A ação popular talvez seja o mais antigo instrumento jurídico, que nasceu ainda
na época do Império, por meio do artigo 157 da Constituição Imperial de 1824 – apenas
mais de cem anos depois surgiu a Lei 4717/1965, que nos contemplou também como
um instrumento de proteção do meio ambiente –, utilizado na defesa do meio ambiente.
Existem várias diferenças entre ela e a ação civil pública, mas o que mais nos interessa
aqui é a amplitude dos legitimados que inclui o cidadão.
Enquanto no objeto tem limitações, uma vez que atinge apenas os direitos
difusos ligados à moralidade, à eficiência e à probidade administrativa, além da tutela
do meio ambiente e do patrimônio histórico e cultural, consoante o artigo 5º, LXXIII, da
Constituição Federal de 1988 (CF/88), a diferença na espécie faz com que a ação
coletiva seja mais ampla que a popular. Esta cumpre o seu papel constitucional de
acesso ao Poder Judiciário, em harmonia com inciso XXXV do artigo 5º da CF/88: “a
lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, ou seja,
nesse sentido específico, é mais ampla, pois coloca todo cidadão como fiscal do meio
ambiente, bem como responsabiliza, em tese, cada um com o dever de cuidar do bem
público. Enfim, por meio da ação popular, qualquer um do povo tem acesso à via
judicial para buscar a tutela ambiental.
A respeito de que qualquer um poderá iniciar uma ação popular, Meirelles,
aponta que:

Ação popular é o meio constitucional à disposição de qualquer


cidadão para obter a invalidação de atos ou contratos administrativos
– ou a estes equiparados – ilegais e lesivos do patrimônio federal,
estadual e municipal, ou de suas autarquias, entidades paraestatais e
pessoas jurídicas subvencionadas com dinheiro público.
(MEIRELLES, 2004, p. 135)

Os seguros para essa modalidade, na fase judicial, somente serão interessantes se


houver a aprovação da PL 76/19, a qual prevê a apreensão de bens, direitos e valores –
aqui, sim, existe uma forma de aplicar o seguro garantia judicial para substituir essas
garantias. Depois, na obrigação de fazer, na execução de obras, recorre-se aos seguros
de garantia para a entrega da obra.

5. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO

O mandado de segurança é um instrumento processual, que visa à tutela de


direitos líquidos e certos, por ato abusivo ou ilegal de autoridade pública no exercício
das suas funções, ou quem as suas vezes fizer, até mesmo por equiparação. Faz parte
dos três remédios constitucionais cuja finalidade é garantir a liberdade e os demais
direitos fundamentais. A sua previsão está inserta na nossa Carta Magna, no seu artigo
5º, LXX:

LXX – O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:


a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano,
em defesa dos interesses de seus membros ou associados.

No âmbito deste trabalho, o que mais nos interessa é o mandado de segurança


coletivo, que está presente na redação do inciso supracitado (LXX, art. 5º da CF/88),
pois ele estende a sua legitimidade ativa aos partidos políticos com representação no
Congresso Nacional, organizações sindicais, entidades de classe e/ou associações
legalmente constituídas e em funcionamento pelo menos há um ano. Há diferenças entre
o mandado coletivo e o individual, em especial com relação à legitimidade ativa e aos
efeitos da sentença. No sentido da legitimidade, chega ao Ministério Público por força
do inciso III e § 1º do artigo 129 da Constituição Federal.
Por sua vez, o artigo 225 da Carga Magna dispõe que o meio ambiente
equilibrado é uma prerrogativa de todos os cidadãos.
Ainda temos o mandado de segurança, na lei infraconstitucional 12.1016/2009,
no seu artigo 21, a qual ditas as regras do funcionamento e aplicabilidade desse
instrumento jurídico.

Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por


partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa
de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à
finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe
ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo
menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da
totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma
dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades,
dispensada, para tanto, autorização especial.

O mandado de segurança coletivo também vai em direção à proteção do


consumidor, em face de demandas de direitos difusos, consoante o artigo 81 do Código
de Defesa do Consumidor (CDC).
Em especial no que se refere à proteção do meio ambiente, o mandado de
segurança coletivo está previsto legalmente no artigo 8º, III, da nossa Constituição
Federal, e traz como legitimados ativos as ONG (organizações não governamentais).
Nesse sentido da defesa do meio ambiente, existe uma diferença entre o
mandado de segurança coletivo em favor do meio ambiente e a ação civil pública:
enquanto aquele se atém a ato lesivo ou abusivo da autoridade, esta combate
diretamente a empresa ou a pessoa física que polui, cujo entendimento está inserto na lei
6.938/1981.
O mandando de segurança tem como escopo sempre numa obrigação de fazer ou
não fazer e, inclusive, pode atingir os efeitos da sentença declaratória, constitutiva e
condenatória. É uma ação extremamente relevante no que diz respeito à tutela de
direitos coletivos em sentido amplo, que evita o ajuizamento de inúmeras ações
individuais acerca do mesmo assunto. Desse modo, ele cumpre vários princípios, dentre
os quais a celeridade.
O mandado de segurança coletivo ambiental tem como objetivo evitar danos
que seriam causados ao meio ambiente. Diante dessa premissa de defesa do direito
difuso, a sentença do mandado é puramente mandamental, conforme afirma a nobre
professora da PUC, Arruda Alvim.
O comando mandamental, em nosso sentir, é significativo de que se
agrega ao efeito da decisão uma ordem, categórica, para o
destinatário desta, a esse mandamento submeter-se. De certa forma,
se na execução, propriamente dita, praticam-se atos materiais
substitutivos da vontade do executado, na mandamentalidade a
realização do direito depende dessa vontade; ou talvez, mais
comumente de vergar e submeter essa vontade. Nessa medida, ou,
diante dessa contingência, é necessário quebrar essa vontade do
destinatário do mandamento. Pretender-se que alguma coisa se
cumpra ou que uma ordem seja obedecida, sem correspondente
sanção, ou sem a correspondente possibilidade de sanção, é
manifesta ingenuidade. (ALVIM, 1978)

Sendo procedente o pedido dessa demanda, a sentença terá efeito erga omnes,
isto é, toda a ordem originária do Poder Judiciário deverá ser estendida a todos,
indistintamente, porque o objetivo da demanda atinge, de forma direta ou indireta, todos
os seres humanos que necessitam de condições mínimas para a sua sobrevivência no
meio ambiente.
Com o uso restrito do mandado de segurança coletivo para o meio ambiente e os
legitimados sendo autoridade pública ou quem suas vezes fizerem, o seguro de garantia
não vem sendo utilizando como suporte para assegurar os efeitos da obrigação de fazer
ou não fazer, até mesmo porque, o tomador de serviço, nesse caso, seria o governo
propriamente dito, a não ser em empresas de economia mista, onde esse instrumento
ainda não é usado.

6. INQUÉRITO CIVL PÚBLICO

O inquérito civil veio à baila em nosso mundo jurídico por meio da Lei
7347/1985, de atribuição exclusiva do Ministério Público e cuja natureza é
administrativa, inquisitiva, informal, com fulcro na coleta de provas, para amparar uma
eventual ação civil pública, característica que tem de semelhante com o inquérito
policial, cujo procedimento também é pré-processual.
O Ministério Público, como legitimado exclusivo para conduzir o inquérito civil,
tem isso como um dever e como poder, conforme encontra-se em nossa Constituição
Federal, artigo 129, inciso III, bem como as leis federais: Lei 7.347/85, artigo 8°, § 1°,
Lei 7.853/89 e Lei nº 8.625/93, artigos 6º e 25, inciso IV.
Traz a doutrina, por meio do entendimento apresentado por José Luiz Mônaco
da Silva, que o inquérito civil tem três funções ou papéis: o preventivo, o reparatório e o
repressivo.

[...] preventivo (compromisso de ajustamento, com o qual será possível


obstaculizar um dano eminente), reparatório (colheita e análise dos elementos
necessários à propositura de ação civil pública, v.g., por dano causado ao meio
ambiente) e repressivo (quando se presta ao ajuizamento da ação penal pública).
Quanto a essa última, o autor cita as Súmulas nos 5 e 10 do CSMPSP. A
primeira estabelece o seguinte: 'Reparado o dano ambiental e não havendo base
para a propositura de ação civil pública, o inquérito civil deve ser arquivado,
sem prejuízo das eventuais providências penais que o caso comporte'. Já a
segunda dispõe: 'A regularização do parcelamento do solo para fins urbanos
enseja o arquivamento do inquérito civil ou das peças de informação, sem
prejuízo de eventuais medidas penais. (2000. p. 25)

No que tange à parte reparatória, o que mais interessa para a análise do seguro
garantia é o fato de ele ser um instrumento preventivo e trazer o compromisso de
ajustamento, ou seja, a celebração de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta).
Nesse caso, poderá o compromissado contratar um seguro garantia, a fim de que
consiga afiançar o compromisso que tenha celebrado com o Ministério Público, de suma
importância para acordos que envolvem os direitos difusos, garantindo, dessa maneira, o
equilíbrio do meio ambiente e trazendo segurança para a sociedade quanto à
manutenção da vida e das condições necessárias para a sua existência.

7. TERMO DE AJUSTE DE CONDUTA – TAC

O Termo de Ajuste de Conduta surgiu e ganhou mais força com a democracia


restabelecida no Brasil após a Constituição Federal de 1988, como forma de agilizar e
proteger direitos transindividuais, além de facilitar o acesso à justiça, por meio de
intervenção do Ministério Público, sendo também utilizados por órgãos públicos em
acordos na esfera administrativa.
Para o meio ambiente, é importante ressaltar que está inserta na Lei 7.661/88 a
possibilidade de celebração do compromisso de ajuste para danos ocasionados aos bens
difusos, que transforma as penalidades pecuniárias na obrigação de executar formas
para a proteção do meio ambiente, previstas no artigo 8º da Lei 6.938/81.
O cerne do TAC é a atuação extrajudicial do Ministério Público, em especial no
inquérito civil, conforme a Lei 7.347/1985, a fim de solucionar problemas sem que seja
movimentado o Poder Judiciário, tendo como escopo o princípio da celeridade, além do
benefício maior ao bem comum.
Enfim, o TAC, atualmente, é usando com frequência para a proteção do meio
ambiente em todo o país, pelo Ministério Público Federal, pelos Ministérios Públicos
Estaduais e pelos demais órgãos legitimados, e a sua celebração constitui-se em um
título extrajudicial, consoante o §6º do artigo 5º da Lei n.º 7.347/85, que pode ser
garantido por uma apólice de seguro de garantia.
Nesse sentido, o segurado é o beneficiário do TAC; o tomador, aquele que se
obriga a cumprir o acordo e que inclusive paga pelo prêmio; e a seguradora, aquela que
será a fiadora desse título extrajudicial.
O seguro garantia também tem a finalidade de garantir obrigações públicas, nas
quais o compromitente ou segurado esteja implicado. De acordo com Eliane Pereira
Rodrigues Poveda, o seguro garantia visa assegurar

[...] ao compromitente (segurado) a execução das obrigações


contratuais assumidas pelo compromissário (tomador), constantes no
Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no que diz respeito à
implementação de medidas corretivas que garantam a recuperação
ou reabilitação da área impactada e a saúde da comunidade local.
Segurado ou Compromitente: Órgãos da Administração Pública
encarregados do licenciamento e fiscalização ambiental. Tomador ou
Compromissário: as empresas empreendedoras responsáveis por
atividades potencialmente poluidoras ou causadoras de danos aos
interesses difusos e coletivos. A Importância Segurada passa ser o
valor do Termo correspondente aos custos para recuperação dos
danos e o Objeto a implementação das condições estabelecidas no
Termo de Ajustamento de Conduta. (26 mar. 2013, p. 10)

8. SEGURO GARANTIA

O seguro garantia tem como escopo o cumprimento de alguma obrigação


contratual ou judicial, seja esta um pacto para a fabricação, a compra, a prestação de
serviço, o adiantamento e/ou a retenção de pagamentos, operações aduaneiras,
operações imobiliárias, operações tributárias, processos judiciais e administrativos,
depósitos judiciais e antecipação de créditos de ICMS. Esse modelo de contrato de
seguro pode ser utilizado para transações entre particulares e com contrato com o
Estado.
O seguro garantia, ainda, proporciona uma caução para empresas que queiram
participar de licitações, concessões e permissões de serviço público, em substituição à
carta de fiança bancária, cuja finalidade é a de garantir a execução do contrato pactuado
com o Estado.
O seguro garantia pode ser utilizado para obrigações públicas, como a de fazer
ou dar suporte para o controle de poluição, para concessões públicas em parceria
público-privada, como órgãos ambientais. Para o meio ambiente, esse instrumento
jurídico tem uma importância ímpar nos casos de planos de remediação, desativação e
reabilitação de áreas degradadas. Neste sentido ambiental, também traz garantia nos
casos do Serviço Florestal Brasileiro (STB).
As garantias não param por aí e se estendem com coberturas no desempenho de
planos, projetos e programas inerentes à execução das obras de controle e
monitoramento ambiental, apesar do mercado segurador, que, em tese, assume a
responsabilidade pela boa execução e resultado, embora alegue que não tem essa
responsabilidade e comprometimento, a lei ambiental é clara e cristalina no tocante ao
fato de que a responsabilidade é objetiva e solidária na operação, tanto na causa como
na contenção dos danos ambientais.
No seguro garantia, temos uma diferença no que tange às partes envolvidas e ao
pagamento: de um lado, temos o segurador, que está no lugar do banco que garante a
obrigação (que pode ser financeira ou de execução e término de obras); de outro, temos
o tomador, que é aquele que necessita ser afiançado e, por sua vez, paga o prêmio; e,
por fim, o segurado, que é aquele que, no inadimplemento, recebe o valor ou tem o
contrato cumprido pelo segurador, ou seja, é o beneficiário direto, porém não paga por
isso.
Ademais, o seguro garantia substitui a carta fiança, até mesmo porque esta tem
um valor que, algumas vezes, fica mais do que 10% acima do montante em risco, o que
inviabiliza completamente a operação e, consequentemente, acaba afetando o equilíbrio
financeiro da transação comercial. Outra vantagem desse tipo de garantia com relação à
carta fiança é que a apólice de seguro não compromete as operações financeiras da
empresa, o que faz com que não seja necessária nenhuma garantia real, como bens
imóveis ou até aplicações financeiras, o que, por sua vez, não afeta a liquidez da
empresa tampouco interfere no fluxo de caixa, deixando o contratante do seguro livre
das amarras financeiras, para que ele possa, desse modo, operar normalmente com
empréstimos e demais movimentações financeiras.
A Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), o órgão que regula o
mercado segurador, definiu, por meio da Circular 477/2003, e separou os seguros em
dois setores de atuação para a comercialização: o público e o privado.

8.1. Seguro Garantia Ambiental

O seguro garantia bastante é abrangente, como se pode ser verificar. Ele pode ser
utilizado em diversos segmentos empresariais. No entanto, o que interessa para os
direitos coletivos e difusos são o Seguro Garantia Ambiental, empregado em acordos
com o Ministério Público em ações coletivas e o TAC (Termo de Ajuste de Condutas),
uma modalidade de garantia regulamentada pela SUSEP (Superintendência de Seguros
Privados).

CONCLUSÃO

Diante de todo o discutido neste estudo, vale a pena mencionar que existem
outras formas de garantir a estabilidade do meio ambiente por meio de seguros – já
abordadas em outros trabalhos –, como os seguros que abrangem a cobertura ambiental
e vêm antes do seguro garantia, cujo escopo é assegurar a terceiros o ressarcimento por
dano causado por empresas que desenvolvem atividades com risco ambiental, inerente à
poluição gradual e não intencional, como no bastante divulgado caso de Brumadinho.
Esse tipo de garantia é conhecido com apólice de RC (Responsabilidade Civil). Além
dessas, há ainda as que proporcionam benéficies ao próprio segurado (poluidor) para a
recomposição das suas atividades e também as apólices de property, que garantem a
edificação, os materiais, o estoque, as máquinas, o lucro cessante etc. A soma dessas
modalidades visa um melhor gerenciamento de todo o risco por meio de vistorias
realizadas antes da contratação da garantia, por técnicos especializados que avaliam e
até mesmo sugerem mudanças como condição sine qua non para a emissão da apólice
de seguro.
Nesse cenário, o seguro garantia tem uma função de máxima importância para o
meio ambiente no que tange à mediação, ao gerenciamento e à manutenção do risco no
momento em que ocorre, ademais de fornecer garantias suficientes para cumprimento
das obrigações do segurado.
Além disso, a título de conclusão, verifica-se que o seguro garantia tem um
papel determinante no plano de remediação ambiental aprovado nos contratos assinados
entre o tomador e o credor, porque age na minimização dos riscos, por meio da
contratação de gestores, sendo o segurador responsável pelo término e pela qualidade
das ações de mitigação.

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