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DIRETO AMBIENTAL E

LEGISLAÇÃO
ELISANGELA SZCARD

1º EDIÇÃO - 2019
SÃO PAULO - SP
DIRETO AMBIENTAL E
LEGISLAÇÃO
Elisangela Szcard

1º EDIÇÃO - 2019
SÃO PAULO - SP
DIRETO AMBIENTAL E
LEGISLAÇÃO

EXPEDIENTE

COORDENAÇÃO GERAL COORDENAÇÃO/


PROJETO GRÁFICO E CAPA
Nelson Boni
João Guedes

COORDENAÇÃO DE COORDENAÇÃO DE
PROJETOS PEDAGÓGICOS REVISÃO ORTOGRÁFICA
Hikaro Queiroz Esthela Malacrida

AUTORA DIAGRAMAÇÃO
Elisangela Szcard João Antônio P. A. Lima

1º EDIÇÃO - 2019
SÃO PAULO - SP


Sumário

UNIDADE 1 – DIREITO AMBIENTAL E MEIO


AMBIENTE������������������������������������������������� 5
CAPÍTULO 1 – DIREITO AMBIENTAL�����������������������������6

CAPÍTULO 2 – CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O


MEIO AMBIENTE������������������������������������������������������28

UNIDADE 2 – POLITICA NACIONAL DO MEIO


AMBIENTE E RESPONSABILIDADE POR
DANOS AMBIENTAIS����������������������������������� 55
CAPÍTULO 3 – POLITICA NACIONAL DO
MEIO AMBIENTE������������������������������������������������������56

CAPÍTULO 4 – RESPONSABILIDADE CIVIL


POR DANOS AMBIENTAIS����������������������������������������78

UNIDADE 3 – LICENCIAMENTO E CRIMES


AMBIENTAIS������������������������������������������� 100
CAPÍTULO 5 – LICENÇAS AMBIENTAIS ��������������������� 101

CAPÍTULO 6 – CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO� 111


UNIDADE 4 – DIREITO AMBIENTAL E ECONÔMICO� 144
CAPÍTULO 7 – DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO SUSTENTÁVEL E O DIREITO
AMBIENTAL ECONÔMICO�������������������������������������� 145

CAPÍTULO 8 – INSTRUMENTOS DE
POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS
SUSTENTÁVEIS������������������������������������������������������ 154
UNIDADE

1
D I R E I TO A MBIEN TAL
E M E I O A MBIENTE
CAPÍTULO

1 DIREITO
AMBIENTAL
–DIREITO AMBIENTAL–

O direito ambiental, ciência dotada de autonomia cien-


tífica, apesar de apresentar caráter interdisciplinar, obedece
a princípios específicos, pois, de outra forma, dificilmente se
obteria a proteção eficaz pretendida sobre o meio ambiente.
Nesse sentido, seus princípios caracterizadores têm
como escopo fundamental orientar o desenvolvimento e a
aplicação de políticas públicas que servem como instrumento
fundamental de proteção ao meio ambiente e, consequente-
mente, à vida humana.
Direito ambiental é um ramo do Direito que estuda as
relações jurídicas ambientais, observando a natureza cons-
titucional, difusa e transindividual dos direitos e interesses
ambientais, buscando a sua proteção e efetividade.
Fundamenta-se em diversos princípios, tais como: aces-
so equitativo aos recursos naturais, prevenção, reparação,
qualidade, participação popular e publicidade.

1.1 Princípios do Direito Ambiental


São princípios que permitem compreender a autonomia
do Direito Ambiental em face dos outros ramos do Direito e
que auxiliam no entendimento e na identificação da unidade
e coerência existentes entre todas as normas jurídicas que
compõem o sistema legislativo ambiental.
É dos princípios que se extraem as diretrizes básicas
que permitem compreender a forma pela qual a proteção do
meio ambiente é vista na sociedade e que servem de critério
básico e inafastável para a exata inteligência e interpreta-
ção de todas as normas que compõem o sistema jurídico

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–DIREITO AMBIENTAL–

ambiental, condição indispensável para a boa aplicação do


Direito nessa área. Podemos citar:

a) Princípio do acesso equitativo


Segundo o princípio do acesso equitativo aos recursos
naturais, os bens ambientais devem ser utilizados de forma a
satisfazer as necessidades comuns de todos os habitantes da
Terra, orientando-se sempre pela igualdade de oportunidades
na sua fruição. Além disso, devem ser explorados de tal modo
que não haja risco de serem exauridos, resguardando-os para
as futuras gerações.

b) Princípio da prevenção ou precaução


O princípio da prevenção ou precaução prescreve que
as normas de direito ambiental devem sempre se orientar
para o fato de que é necessário que o meio ambiente seja
preservado e protegido como patrimônio público.
A prevenção aplica-se tanto a situações onde há certeza,
quanto aos riscos de danos ambientais e também às situações
onde existem dúvidas e incertezas.
A finalidade ou o objetivo final do princípio da pre-
venção é evitar que o dano possa chegar a produzir-se. Para
tanto, necessário se faz adotar medidas preventivas.
A efetiva consolidação do princípio da precaução tem
lugar a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de
Janeiro em 1992.

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–DIREITO AMBIENTAL–

Este princípio afirma que no caso de ausência da certeza


científica formal, a existência do risco de um dano sério ou
irreversível requer a implementação de medidas que possam
prever, minimizar e/ou evitar este dano.
Assim, se, por exemplo, na permissão ou autorização
de uma obra ou de um novo agrotóxico há incerteza sobre a
existência ou probabilidade de danos à saúde pública ou à
natureza, tal atividade, em observância ao princípio da pre-
caução, não deverá ser autorizada ou, pelo menos, deverão ser
tomadas medidas preventivas que afastem os riscos. Enfim,
prevenir é agir antecipadamente a fim de evitar danos graves
e irreparáveis ao meio ambiente.
De outro lado, antes de ser colocada a questão “há cer-
teza quanto a possibilidade de dano?”, deve ser feita outra
pergunta, mais importante que a primeira: “precisamos real-
mente desta atividade?”. Ou seja, deve ser questionado, antes
de tudo, se a atividade atende ao bem comum e, apenas em
caso afirmativo, questionar-se quanto aos impactos no meio
ambiente e às formas de prevenção. O principal instrumento
na aplicação deste princípio é o Estudo de Impacto Ambiental,
analisado mais adiante.
Diante de tais constatações, é possível delinear uma
nítida diferença entre o princípio da prevenção e o princípio
da precaução. O princípio da prevenção é aplicado quando
são conhecidos os males provocados ao meio ambiente decor-
rentes da atividade potencialmente predadora ou poluidora,
possuindo elementos seguros para afirmar se a atividade é
efetivamente perigosa (atividades sabidamente perigosas).

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–DIREITO AMBIENTAL–

Como exemplo, temos as atividades de mineração, nas


quais os impactos sobre o meio ambiente são notórios. Por
outro lado, quando não se conhece o impacto de atividades
potencialmente causadoras de degradação ambiental, deve
se aplicar o princípio da precaução, ou seja, como não se
tem certeza quanto aos possíveis efeitos negativos, por pre-
caução, impõem-se restrições ou impede-se a intervenção
no meio ambiente até que se comprove que a atividade não
acarreta efeitos adversos ao meio ambiente. Podemos citar,
como exemplo, as discussões sobre os impactos, ainda des-
conhecidos, dos alimentos transgênicos (OGM-Organismos
Geneticamente Modificados) e da radiofrequência das antenas
de telefonia celular ao meio ambiente e à saúde humana.

c) Princípio da reparação
O princípio da reparação, decorrente do princípio da
prevenção, orienta que aquele que causar lesão a bens am-
bientais deve ser responsabilizado por seus atos, reparando
ou indenizando, de forma adequada, os danos causados.
Evitar a incidência de danos ambientais é melhor que
remediá-los. Essa é a ideia chave dos princípios da preven-
ção e da precaução, já que as sequelas de um dano ao meio
ambiente muitas vezes são graves e irreversíveis.
Tais princípios se caracterizam como dois dos mais im-
portantes em matéria ambiental, tendo em vista a tendência
atual do direito internacional do meio ambiente, orientado
mais no sentido da prevenção do que no da reparação.

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–DIREITO AMBIENTAL–

d) Princípio da qualidade
O princípio da qualidade prescreve que as normas de
direito ambiental devem se orientar para o fato de que o
meio ambiente deve ter qualidade propícia a vida saudável
e ecologicamente equilibrada.

e) Princípio da participação popular


O princípio da participação popular é também chamado
de princípio democrático ou de princípio da gestão demo-
crática e deve ser aplicado tanto em relação aos três Poderes
ou funções do Estado.
No que diz respeito ao Poder Executivo, esse princípio se
manifesta por exemplo através da participação da sociedade
civil nos Conselhos de Meio Ambiente e do controle social
em relação a processos e procedimentos administrativos
como o licenciamento ambiental e o estudo e relatório de
impacto ambiental.
Em relação ao Poder Legislativo, esse princípio se mani-
festa por exemplo através de iniciativas populares, plebiscitos
e referendos de caráter ambiental e da realização de audiên-
cias públicas que tenham o intuito de discutir projetos de lei
relacionados ao meio ambiente.
No que concerne ao Poder Judiciário, esse princípio
se manifesta por exemplo através da possibilidade dos ci-
dadãos individualmente, por meio de ação popular, e do
Ministério Público, da organizações não governamentais,
de sindicatos e de movimentos sociais de uma forma geral,
por meio de ação civil pública ou de mandado de segurança

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–DIREITO AMBIENTAL–

coletivo, questionarem judicialmente as ações ou omissões


do Poder Público ou de particulares que possam repercutir
negativamente sobre o meio ambiente.
O princípio da gestão democrática, decorre da necessi-
dade de uma democracia participativa, bem como do fato de
que cuidar do meio ambiente não é tarefa apenas do Estado,
mas de toda a sociedade civil. Assim, é fundamental um es-
paço de diálogo e cooperação entre os diversos atores sociais,
seja para a formulação e execução de uma política e de ações
ambientais, seja para a solução de problemas. Como exemplo
deste princípio temos as audiências públicas e os conselhos
de recursos hídricos.
Diz respeito não apenas ao meio ambiente, mas a tudo
o que for de interesse público. Na verdade, a democracia
participativa também é consagrada por diversos dispositivos
da Constituição Federal, como o parágrafo único do art. 1º,
que dispõe que o poder é exercido por meio de representantes
eleitos ou diretamente pelo povo.
Entretanto, no que diz respeito ao meio ambiente o prin-
cípio da gestão democrática é ainda mais importante, visto
que se trata de um direito difuso que em regra não pertence
a nenhuma pessoa ou grupo individualmente considerado.
A realidade tem mostrado que é praticamente impos-
sível que o Poder Público consiga acabar ou diminuir a de-
gradação ambiental sem a participação da sociedade civil.
Por sua vez, o princípio da publicidade ou da informação
decorre do princípio da participação e visa assegurar sua efi-
cácia. Assim, toda a informação referente ao meio ambiente é

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–DIREITO AMBIENTAL–

pública, vale dizer, qualquer cidadão pode ter acesso a ela. A


informação visa garantir ao cidadão a possibilidade de tomar
posições ou intervir em determinada matéria, e refere-se
tanto a documentos, como relatórios de impacto ambiental,
até estudos realizados sobre o meio ambiente.
Estes princípios se especializam nos seguintes
mandamentos:
I – Ação governamental na manutenção do equilíbrio
ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimô-
nio público a ser necessariamente assegurado e protegido,
tendo em vista o uso coletivo;
II – Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água
e do ar;
III – Planejamento e fiscalização do uso dos recursos
ambientais;
IV – Proteção dos ecossistemas, com a preservação de
áreas representativas;
V – Controle e zoneamento das atividades, potencial
ou efetivamente, poluidoras;
VI – Incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologia
orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos
ambientais;
VII – Acompanhamento do estado da qualidade
ambiental;
VIII – Recuperação de áreas degradadas;
IX – Proteção de áreas ameaçadas de degradação;

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–DIREITO AMBIENTAL–

X – Educação ambiental a todos os níveis do ensino,


inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la
para a defesa ativa do meio ambiente.
Esses princípios estão consolidados no art. 225 e pará-
grafos da Constituição Federal e na Lei 6938/81, que esta-
belece os objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente e
tem sua execução regulamentada pelo Decreto 99.274/90.

f) Princípio do Poluidor-Pagador (PPP)


O objetivo do princípio do poluidor-pagador é forçar a
iniciativa privada a internalizar os custos ambientais gerados
pela produção e pelo consumo na forma de degradação e de
escasseamento dos recursos ambientais.
Esse princípio estabelece que quem utiliza o recurso
ambiental deve suportar seus custos, sem que essa cobrança
resulte na imposição de taxas abusivas, de maneira que nem
Poder Público nem terceiros sofram com tais custos.
Ao causar uma degradação ambiental, o indivíduo inva-
de a propriedade de todos os que respeitam o meio ambiente
e afronta o direito alheio. O princípio do poluidor-paga-
dor foi introduzido pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 26 de maio de 1972
por meio da Recomendação C(72) 128 do Conselho Diretor,
que trata da relação entre as políticas ambiental e econômica.
A segunda parte do inciso VII do art. 4º da Lei nº
6.938/81 prevê o princípio do poluidor-pagador, ao deter-
minar que a Política Nacional do Meio Ambiente, visará

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–DIREITO AMBIENTAL–

à imposição ao usuário de contribuição pela utilização de


recursos ambientais com fins econômicos.
A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento também dispôs sobre o princípio do po-
luidor-pagador ao estabelecer no Princípio 16 que “Tendo
em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o
custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais de-
vem procurar promover a internacionalização dos custos
ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando na
devida conta o interesse público, sem distorcer o comércio e
os investimentos internacionais”.
Embora no Direito Ambiental vigore o Princípio da
Responsabilidade Civil, não podemos reduzir o princípio do
poluidor-pagador a um princípio de responsabilidade. Isso
porque as sanções civis têm efeito preventivo que pressupõe a
ocorrência de um dano ao meio ambiente e, principalmente,
porque as atividades poluidoras se apresentam lucrativas,
seja pela possibilidade de não pagamento, seja pelo lucro
líquido auferido com a atividade, mesmo que seja obrigado
a indenizar.
Contudo, o seu objetivo não é recuperar um bem lesado
nem criminalizar uma conduta lesiva ao meio ambiente, e
sim afastar o ônus econômico da coletividade e voltá-lo para
a atividade econômica utilizadora de recursos ambientais.
O PPP parte da constatação de que os recursos am-
bientais são escassos e o seu uso na produção e no consumo
acarretam a sua redução e degradação. Ora, se o custo da
redução dos recursos naturais não for considerado no sistema

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–DIREITO AMBIENTAL–

de preços, o mercado não será capaz de refletir a escassez.


Em assim sendo, são necessárias políticas públicas capazes
de eliminar a falha de mercado, de forma a assegurar que os
preços dos produtos reflitam os custos ambientais.
O princípio do poluidor-pagador visa a fazer com que
o empreendedor inclua nos custos de sua atividade todos as
despesas relativas à proteção ambiental.
A poluição dos recursos ambientais, de uma maneira
geral, e especialmente em se tratando daqueles bens mais
facilmente encontrados na natureza, como a água, o ar e o
solo, por conta da natureza difusa, é normalmente custeada
pelo Poder Público.
Em termos econômicos, esse custo é um subsídio à ati-
vidade econômica poluidora, já que não está sendo levado em
conta os prejuízos sofridos pela sociedade que ocorrem tanto
quando a coletividade sente os efeitos da poluição quando
os cofres públicos deixam de aplicar seu dinheiro em outra
finalidade para descontaminar uma determinada região ou
um determinado recurso ambiental.
O objetivo do princípio do poluidor-pagador é evitar que
ocorra a simples privatização dos lucros e a socialização dos
prejuízos dentro de uma determinada atividade econômica.
Os recursos ambientais, de uma forma geral, e prin-
cipalmente aqueles encontrados em maior abundância na
natureza, como a água (no caso de determinadas regiões
do Brasil e do mundo), o ar e a areia, são historicamente
degradados por determinados setores econômicos, que têm
obtido o lucro à revelia do prejuízo sofrido pela coletividade.

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–DIREITO AMBIENTAL–

Trata-se de uma espécie de privatização dos lucros


e socialização dos prejuízos, o que significa um enriqueci-
mento ilícito, visto que, de acordo com o caput do art. 225
da Constituição Federal, o meio ambiente é um “bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”.
O PPP leva em conta que os recursos ambientais são
escassos, portanto, sua produção e consumo geram reflexos
ora resultando sua degradação, ora resultando sua escassez.
Além do mais, ao utilizar gratuitamente um recurso
ambiental, está se gerando um enriquecimento ilícito, pois
como o meio ambiente é um bem que pertence a todos. Boa
parte da comunidade nem utiliza um determinado recurso
ou, se utiliza, o faz em menor escala.

g) Princípio da responsabilidade
O princípio da responsabilidade faz com que os respon-
sáveis pela degradação ao meio ambiente sejam obrigados a
arcar com a responsabilidade e com os custos da reparação
ou da compensação pelo dano causado.
A responsabilidade ambiental, ou seja, a responsabili-
dade pelos danos causados ao meio ambiente, tem expressa
previsão constitucional, no parágrafo 3º do artigo 225, se-
gundo o qual as condutas e atividades consideradas lesivas
ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independente-
mente da obrigação de reparar os danos causados.
Deve ser implementada levando-se em conta os fa-
tores de singularidade dos bens ambientais atingidos, da

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–DIREITO AMBIENTAL–

impossibilidade ética de se quantificar o preço da vida e,


sobretudo, que a responsabilidade ambiental deve ter um
sentido pedagógico tanto para o poluidor como para a própria
sociedade, de forma que todos possamos aprender a respeitar
ao meio ambiente.

h) Princípio do limite
A expressão mais notável da aplicação do princípio do
limite faz-se quando a Administração Pública estabelece pa-
drões de qualidade ambiental que se concretizam em limites
de emissões de partículas, de limites aceitáveis de presença
de determinados produtos na água etc.
A Administração Pública tem a obrigação de fixar limi-
tes máximos de emissões de matérias poluentes, de ruído,
enfim, de tudo que possa implicar prejuízos para os recursos
ambientais e à saúde humana. A violação dos limites fixados
deve ser sancionada.
Há uma importante questão a ser examinada, que é a
de saber qual o parâmetro a ser adotado quando da ocasião
da fixação dos padrões. A fixação de parâmetros de forma
que estes possam estimular o desenvolvimento tecnológico,
com vistas ao alcance de índices mais baixos de emissão de
partículas, mais elevados de pureza da água e do ar, é um
importante elemento para que se alcance a modernização
tecnológica e a ampliação dos investimentos em pesquisas
de proteção ambiental.

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–DIREITO AMBIENTAL–

i) Princípio do usuário pagador


O referido princípio exige uma forma de limitação do
uso de recursos ambientais mediante a cobrança de contra-
prestação, de modo que a gratuidade possa ensejar o con-
sumo exacerbado do bem ambiental passível de escassez.
Pretende-se que ao ser cobrado pelo consumo, o usuário seja
incentivado a utilização com moderação para que não haja
diminuição significativa do recurso natural ou sua escassez
no futuro.
Esse princípio foi plenamente agasalhado pelo artigo
19 da Lei 9.433/97, que, de forma didática, demonstram os
objetivos da cobrança de recursos hídricos, in verbis:
Art. 19. A cobrança pelo uso de recursos hídricos
objetiva:
I – reconhecer a água como bem econômico e dar ao
usuário uma indicação de seu real valor;
II – incentivar a racionalização do uso da água;
III – obter recursos financeiros para o financiamento
dos programas e intervenções contemplados nos planos de
recursos hídricos.

j) Princípio do desenvolvimento sustentável


O princípio do desenvolvimento sustentável consiste
na exploração do meio ambiente de forma a conservá-lo,
procurando-se não esgotar os recursos naturais existentes,
com vistas a sua manutenção em condições adequadas para
o futuro.

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–DIREITO AMBIENTAL–

A Constituição Federal possui um dispositivo que foi


redigido com base na concepção de um meio ambiente sus-
tentável, qual seja, o art. 225, VII, que dispõe que devemos
“proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práti-
cas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem
a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”
O princípio do desenvolvimento sustentável, além de
impregnado de caráter eminentemente constitucional, en-
contra suporte legitimador em compromissos internacionais
assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de ob-
tenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e
as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse
postulado, quando ocorrente situação de conflito entre va-
lores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável,
cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo
essencial de um dos mais significativos direitos fundamen-
tais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz
bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser res-
guardado em favor das presentes e futuras gerações (...). A
atividade econômica não pode ser exercida em desarmonia
com os princípios destinados a tornar efetiva a proteção ao
meio ambiente.

k) Princípio da educação ambiental


Tendo em vista a demanda por preservação ambiental
em face dos grandes fenômenos que têm atormentado a
sociedade, é pertinente se ressaltar o desafio que se impõe
acerca de uma educação ambiental crítica e inovadora, que

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–DIREITO AMBIENTAL–

compreenda ainda dois níveis o formal e o informal, como


preceitua a lei n° 9.795/99 que dispõe sobre a educação
ambiental e cria a Política Nacional de Educação Ambiental
no Brasil. Educação ambiental como ato político capaz de
promover a transformação social.
Contudo, entende-se a necessidade de uma ação que
compreenda sociedade e meio ambiente como um todo in-
decomponível, já que os recursos naturais são bens que, de
certa forma, se esgotam e que o homem é o principal consu-
midor dos mesmos e, ainda, o primeiro agente degradador.
Logo, educação ambiental é entendida mais como um
instrumento a serviço do poder, da colonização da subjeti-
vidade e dos desejos humanos.
Mais precisamente, a educação ambiental, hoje, é re-
lacionada ao tema desenvolvimento sustentável e percebida
como condição essencial para se modificar a estrutura econô-
mica global, além, é claro, de se garantirem ações favoráveis
à redução do quadro de degradação ambiental.
Mas, insiste-se na premissa de que a educação ambien-
tal, no atual contexto social, não seja suficiente, já que essa
se mostra, justamente, como uma ferramenta aplicada na
mediação entre culturas, comportamentos e interesses de
grupos sociais diversos, a fim de se constituir transformações
sociais pré-definidas, favorecendo, certamente, a determina-
dos grupos políticos. No entanto, é oportuno que se ressaltem
os princípios fundamentais da educação ambiental.
Educar, nesse sentido, implica oferecer métodos efi-
cazes e pertinentes ao desenvolvimento de práticas sociais

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–DIREITO AMBIENTAL–

centradas, essencialmente, no conceito de natureza, e não na


lógica capitalista. Deve, ainda, a educação ambiental promo-
ver a reflexão sobre as dimensões do progresso humano, sobre
o impacto que este causa ao meio ambiente em detrimento
do desenvolvimento tecnológico, em especial.
Deve-se reconhecer a educação ambiental como um
processo político dinâmico, em permanente construção,
orientado por valores baseados na transformação social.
Nesse sentido, a iniciativa das Nações Unidas de implementar
a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável
(2005-2014) e o de 2010 como o Ano Internacional da
Biodiversidade, ano que reforçou mundialmente a susten-
tabilidade a partir da educação.
A educação ambiental deve ser uma concepção totali-
zadora de Educação e que é possível quando resulta de um
projeto político-pedagógico orgânico, construído coletiva-
mente na interação escola e comunidade, e articulado com
os movimentos populares organizados comprometidos com
a preservação da vida em seu sentido mais profundo.
Seria, portanto, com o auxílio da escola, que a educa-
ção ambiental assumiria verdadeiramente a sua função, a
de aprofundar conhecimentos sobre questões ambientais,
como também criar espaços para a participação coletiva,
ressaltando princípios e valores éticos que integrem o homem
moderno à natureza.
A educação ambiental tem por escopo desenvolver a
hegemonia popular, a transformação do contexto social,
e não o reproduzir de modo a fazer os cidadãos máquinas

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–DIREITO AMBIENTAL–

destrutivas da natureza. Então, como componente de cida-


dania, a educação ambiental implica em novos métodos de
ensino, novos saberes, que sejam proficientes e compreendam
a complexa relação homem/natureza.

1.2 Estudos de Impactos Ambientais


O princípio da prevenção é o maior alicerce, por exem-
plo, do Estudo de Impacto Ambiental - E.IA. - (art. 225,
parágrafo 1°, inciso IV, da Constituição de 1988) realizado
pelos interessados antes de iniciada uma atividade poten-
cialmente degradadora do meio ambiente, dentre outras
medidas preventivas a serem exigidas pelos órgãos públicos.
De acordo com a Associação Internacional para
Avaliação de Impacto – IAIA (do inglês International
Association for Impact Assessment), avaliação de impacto
ambiental é o processo de identificar as consequências futuras
de uma ação presente ou proposta. Trata-se de uma defini-
ção bastante concisa, mas já revela uma das características
fundamentais da Avaliação de impacto Ambiental - AIA, que
é avaliação prévia dos impactos de um projeto, visando evi-
tar ou prevenir a ocorrência de efeitos indesejáveis ao meio
ambiente devido à implantação de um projeto.

Outras características importantes da AIA são:


• Trata-se de um processo sistemático de avaliação
ambiental, que é composto por várias etapas caracte-
rísticas, ou seja, triagem; definição de conteúdo dos
estudos; descrição do projeto; descrição do ambiente

23
–DIREITO AMBIENTAL–

a ser afetado; identificação, previsão e avaliação dos


impactos significativos e das medidas mitigadoras;
apresentação dos resultados; processo de revisão
dos estudos e tomada de decisão. A AIA deve ser
um processo cíclico, com interações consideráveis
entre os vários passos;
• A AIA é realizada para apoiar a tomada de decisão
sobre a autorização ou licenciamento de um novo
projeto, fornecendo aos tomadores de decisão infor-
mações sobre as prováveis consequências de suas
ações;
• O processo de AIA prevê consulta e participação
pública, isto é, o envolvimento público na realização
dos estudos e na tomada de decisão.
A AIA é uma ferramenta de gestão ambiental antecipa-
tória e participativa, da qual o Estudo de Impacto Ambiental
é apenas uma parte.
No Brasil, projetos de grande porte, financiados por
organismos multilaterais, foram submetidos à Avaliação de
Impacto Ambiental, como por exemplo, a Usina Hidrelétrica
de Sobradinho, a Usina Hidrelétrica de Tucuruí etc. Tais
experiências promoveram a inclusão do AIA como um dos
instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, Lei
nº 6938/81, em associação ao licenciamento das atividades
utilizadoras dos recursos ambientais, consideradas efetiva
ou potencialmente poluidoras.
Em 1986, foi editada a Resolução Conama 01/86, esta-
belecendo as definições, responsabilidades, critérios básicos

24
–DIREITO AMBIENTAL–

e as diretrizes para o uso e implementação da avaliação de


impacto ambiental, aplicado ao licenciamento ambiental de
determinadas atividades modificadoras do meio ambiente.
Entre os aspectos relevantes da citada resolução, podemos
destacar:
• prevê que o estudo de impacto ambiental contemple
alternativas tecnológicas e de localização do projeto
(inciso I do art. 5º);
• define o conteúdo básico do Estudo de Impacto
Ambiental, ou seja: diagnóstico, análise dos impac-
tos ambientais, definição de medidas mitigadoras,
e proposição de programas de monitoramento e
acompanhamento (Art. 6º);
• sugere a execução de audiência pública para infor-
mação sobre o projeto e seus impactos ambientais e
discussão do RIMA (parágrafo segundo do artigo 11º).
No artigo 225 da Constituição Federal de 1988, dedicado
ao meio ambiente, foi incluída a obrigação do Poder Público
de exigir a elaboração de AIA para instalação de obra ou ati-
vidade potencialmente causadora de significativa degradação
do meio ambiente.
Em 19 de dezembro de 1997, foi editada a Resolução do
CONAMA nº 237, que regulamentou, em normas gerais, as
competências para o licenciamento nas esferas federal, esta-
dual e distrital e as etapas do procedimento de licenciamento.
A Resolução CONAMA nº 237/97 conferiu ainda ao
órgão ambiental a competência para a definição de outros
estudos ambientais pertinentes ao processo de licenciamento,

25
–DIREITO AMBIENTAL–

em se verificando que o empreendimento não é potencial-


mente causador de significativa degradação ambiental.

1.2.1 Relevância ambiental e social


De acordo com o Banco Mundial, a avaliação de impacto
ambiental permite identificar problemas na etapa inicial do
ciclo de um projeto; introduz melhorias ambientais no pro-
jeto; evita, mitiga, e compensa os efeitos adversos do projeto.
Com base em estudo realizado na Dinamarca com es-
tudos de impacto ambiental realizados entre 1989 e 2004,
a conclusão geral é que o EIA gera um número significativo
de mudanças nos projetos. Em, aproximadamente, 50% dos
casos estudados, modificações foram feitas antes da conclusão
do estudo e sua apresentação ao órgão licenciador.
Durante o processo de avaliação, modificações foram
feitas em mais de 90% dos casos, embora em grande parte se
tratassem de mudanças de pouca significância. As mudanças
mais significativas eram feitas em obras de infraestrutura. A
Convenção da Biodiversidade reconhece a avaliação de impac-
to como uma ferramenta importante para garantir que o pla-
nejamento do empreendimento contemple a biodiversidade.
A avaliação de impactos sociais, que é geralmente rea-
lizada no âmbito dos estudos ambientais, aumenta a legiti-
midade do empreendimento, e pode facilitar o processo de
implantação, removendo as incertezas do processo, tanto da
comunidade como do empreendedor.
Além desses benefícios, de acordo com a Agência
Canadense de Avaliação Ambiental (Canadian Enviromental

26
–DIREITO AMBIENTAL–

Assessment Agency), a avaliação de impacto permite uma


melhor tomada de decisão sobre empreendimentos, com di-
versos benefícios, incluindo oportunidade para participação
pública, maior proteção para a saúde humana, redução de
riscos de danos ou desastres ambientais, etc.

1.2.2 AIA e a gestão ambiental


O objetivo da avaliação de impacto ambiental é assegu-
rar a realização de gestão ambiental efetiva dos projetos de
desenvolvimento. Para tanto, devem ser previstas no processo
de licenciamento ambiental, ferramentas de gestão capazes
de garantir que as medidas mitigadoras e compensatórias
previstas na fase de aprovação da viabilidade ambiental do
projeto, sejam efetivamente implementadas durante a im-
plantação e operação do empreendimento.
A prática tem mostrado que, considerando o grande
porte, o alto investimento e o grande número de trabalhado-
res envolvidos na execução e operação dos empreendimen-
tos licenciados com AIA, para se ter a eficácia pretendida,
é necessário que tais medidas venham compor Programas
Ambientais. Nestes Programas são contemplados os prin-
cípios de gestão ambiental, conforme a série ISO 14.000,
ou seja, o planejamento, a definição de responsáveis, os
procedimentos ambientalmente adequados; as formas de
verificação e registros, incluindo as não conformidades, etc.

27
CAPÍTULO

2
CONSTITUIÇÃO
FEDERAL E O
MEIO AMBIENTE
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

Na Constituição de 1988, o direito ao meio ambiente


equilibrado está expresso no artigo 225, cujo caput prevê
que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletivi-
dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações”. Para assegurar a efetividade desse direito,
incumbe ao Poder Público:
I – preservar e restaurar os processos ecológicos essen-
ciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II – preservar a diversidade e a integridade do patri-
mônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à
pesquisa e manipulação de material genético;
III – definir, em todas as unidades da Federação, espa-
ços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somen-
te através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa
a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou
atividade potencialmente causadora de significativa degrada-
ção do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental,
a que se dará publicidade;
V – controlar a produção, a comercialização e o empre-
go de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco
para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI – promover a educação ambiental em todos os níveis
de ensino e a conscientização pública para a preservação do
meio ambiente;

29
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da


lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais
a crueldade.
Pela constituição, aquele que explorar recursos mine-
rais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado,
de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei.
As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas,
a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.
A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a
Serra do Mar, o Pantanal Mato-grossense e a Zona Costeira
são patrimônio nacional e sua utilização far-se-á, na forma
da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do
meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
A atual Constituição Federal, representou significativo
avanço para área ambiental ao dedicar, de forma inédita, um
capítulo especial para o meio ambiente e ao incluir a defesa
deste entre os princípios da ordem econômica, buscando
compatibilizar a promoção do crescimento econômico-social
com a necessária proteção e preservação ambiental.
A legislação, de modo amplo, engloba todas as normas
jurídicas das três esferas de governo (Federal, Estadual e
Municipal), ou seja, reúne todas as leis, decretos, resolu-
ções, portarias, medidas provisórias e outras normas que
estabelecem os direitos e deveres da sociedade. A legislação

30
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

é instituída para colocar ordem nos mais variados assuntos


de interesse social.
Por meio dela, os cidadãos encontram respaldo nas
legislações para receberem atenção de seus direitos e deve-
res, das autoridades, da família, seu próximo, seu patrão,
seu subordinado e assim por adiante. Dessa forma, dentro
do Direito, existem vários ramos que englobam legislações
específicas, reconhecidas muitas vezes como disciplinas se-
paradas, como por exemplo: Direito Trabalhista, Direito
da Família, Direito Internacional, Direito Ambiental, entre
tantos outros. Para melhor ordenar essas áreas do Direito
surgiram os Códigos, como: Código Civil, Código de Defesa
do Consumidor, Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
Código de Trânsito etc.
A legislação brasileira, que diz respeito à defesa do
meio ambiente, é composta por numerosas normas espar-
sas. Dentro da amplitude de normas ambientais, algumas
são bem recentes, outras já existem há décadas. Todas essas
normas, até o presente, não se encontram reunidas em um
Código Ambiental. Vale mencionar, no entanto, que existem
propostas para organizar a ampla legislação ambiental bra-
sileira num Código Ambiental Federal que estão tramitando
no Congresso Federal há algum tempo.

2.1 Sociedade e o Direito Ambiental


A constituição Federal de 1988, ao estabelecer em seus
princípios fundamentais a dignidade da pessoa humana
(art. 10, III) como fundamento destinado a interpretar todo

31
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

o sistema constitucional, adotou visão (necessariamente


com reflexos em toda a legislação infraconstitucional – nela
incluída toda a legislação ambiental) explicitamente antropo-
cêntrica, atribuindo aos brasileiros e estrangeiros residentes
no país (arts. 10, I e 50 da Carta Magna) uma posição de
centralidade em relação ao nosso sistema de direito positivo.
De acordo com esta visão, temos que o direito ao meio
ambiente é voltado para a satisfação das necessidades hu-
manas. Todavia, aludido fato, de forma alguma, impede
que ele proteja a vida em todas as suas formas, conforme
determina o art. 30 da Política Nacional do Meio Ambiente
(Lei 6.938/81).
Se a Política Nacional do Meio Ambiente protege a vida
em todas as suas formas, e não é só o homem que possui
vida, então todos os que possuem são tutelados e protegidos
pelo direito ambiental, sendo certo que um bem, ainda que
não seja vivo, pode ser ambiental, na medida que possa ser
essencial à sadia qualidade de vida de outrem, em face do que
determina o art. 225 da Constituição Federal (bem material
ou mesmo imaterial).
Dessa forma, a vida que não seja humana só poderá ser
tutelada pelo direito ambiental na medida que sua existência
implique garantia da sadia qualidade de vida do homem,
uma vez que numa sociedade organizada este é destinatário
de toda e qualquer norma. Vale ressaltar nesse sentido o
princípio n, 1 da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento de 1992. “Os seres humanos
estão no centro das preocupações com o desenvolvimento

32
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

sustentável. Têm o direito a uma vida saudável e produtiva,


em harmonia com a natureza”.

2.2 Meio Ambiente


O conceito de meio ambiente, na legislação brasileira,
está previsto no artigo 3º da Lei 6.938/81 (Lei da Política
Nacional do Meio Ambiente), segundo o qual se entende por
meio ambiente “o conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite,
abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
Podemos classificar os principais aspectos do meio
ambiente sendo:
• Meio ambiente natural: integra a atmosfera, as águas
interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários,
o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera, a fauna, a flora, o patrimônio genético e a
zona costeira (artigo 225 da CF);
• Meio ambiente cultural: integra os bens da natureza
material e imaterial, os conjuntos urbanos e sítios de
valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico (artigo 215 e
216 da CF);
• Meio ambiente artificial: integra os equipamentos
urbanos, os edifícios comunitários – arquivo, re-
gistro, biblioteca, pinacoteca, museu e instalação
científica ou similar (artigos 21, XX, 182 e s. e 225
da CF);

33
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

• Meio ambiente do trabalho: integra a proteção do


homem em seu local de trabalho, com observância
às normas de segurança (artigos 200, VII e VIII, e
7º, XXII da CF).
A divisão do meio ambiente em aspectos que o compõem
busca facilitar a identificação da atividade degradante e do
bem imediatamente agredido. Não se pode perder de vista
que o direito ambiental tem como objeto maior tutelar a
vida saudável, de modo que a classificação apenas identifica
o aspecto do meio ambiente em que valores maiores foram
aviltados.

2.2.1 Meio ambiente na legislação


infraconstitucional
A primeira preocupação significativa ambiental ocorreu
no período republicano, ao tutelar o meio ambiente mediante
a edição do Código Civil de 1916, tendo em vista os direitos
privados de vizinhança, elencados em seus artigos nº 554 a
588, que atribuía o mau uso da propriedade. Posteriormente
ao Diploma Civil de 1916, surgiram novas legislações tute-
lando o meio ambiente, assim como:
◦◦ Decreto 23.793, de 23/01/1934 – denominado
Código Florestal, dividiu as infrações penais em
crimes e contravenções;
◦◦ Lei de Introdução ao Código Penal, art. 3º, dispôs
que os fatos definidos como crimes no Código
Florestal, quando não tipificados no Código
Penal, passariam a ser contravenções;

34
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

◦◦ O novo Código Florestal de 1965 introduziu várias


infrações penais no art. 26, também consideradas
contravenções;
◦◦ Lei 5.197 de Proteção à Fauna de 03/01/1967,
que trouxe ao ordenamento jurídico a forma de
proteção dos animais silvestres, como por exem-
plo, a proibição da caça profissional;
◦◦ Código de Pesca de 28/02/1967;
◦◦ Lei 7.653 de 12/02/1988, que elevou a crimes,
as contravenções da Lei de Proteção à Fauna e,
relacionando a crimes fatos relacionados à pesca,
criando novos tipos penais, proibindo a pesca no
período entre 1º de outubro a 30 de janeiro, ou
seja, na época da desova;
◦◦ Lei 7.679 de 23/11/1989, que descriminalizou
algumas condutas referentes à lei anterior; por-
tanto revogou alguns dispositivos da Lei 7.653;
◦◦ Lei 7.802 de 11/07/1989, que introduziu o crime de
poluição sob qualquer forma, como consta em seu
dispositivo, na forma de produção, embalagens e
controle de agrotóxico, seus componentes e afins;
◦◦ Lei 6.938 de 31/08/1981, que trata da política
nacional de meio ambiente, como mecanismo
de formulação e aplicação, tendo como objetivo
a preservação e a recuperação da qualidade am-
biental propícia à vida;
◦◦ Lei 7.347 de 24/07/1985, da Ação Civil Pública,
que disciplina a responsabilidade por danos

35
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

causados ao meio ambiente, ao consumidor, a


bens etc;
◦◦ Lei 9.605 de 12/02/1988, que cuida da proteção
penal, dispõe sobre sanções penais e adminis-
trativas das condutas lesivas ao meio ambiente
e suas providências (FREITAS, 2001, p77,104,
324.316, 329);
◦◦ Medida Provisória 571 de 25/05/2012, que dispõe
sobre a proteção da vegetação nativa;
◦◦ Lei 12.651 de 25/05/2012, que instituiu o Novo
Código Florestal.
Pode-se dizer que o Brasil saiu da posição de retarda-
tário que ocupava no processo de conscientização socioam-
biental, no início da década de 1970, para ocupar, na virada
do século, uma posição de destaque. Hoje, o Brasil possui
um conjunto complexo de leis e regulamentos que compõem
a política nacional de meio ambiente e desenvolvimento
sustentável.
Assim sendo, o país está plenamente amparado para evi-
tar e punir danos ambientais. A legislação ambiental brasileira
é a melhor do mundo e se não é eficaz é por falta de maior
rigor na aplicação das punições e fiscalização. Se os órgãos
ambientais tiverem mais condições de trabalho, com certeza
o meio ambiente nacional estará garantido e preservado.

2.2.2 Bens públicos


De acordo com a melhor doutrina administrativista, a
influência exercida pelo Poder Público sobre os bens situados

36
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

em seu território decorre do seu “domínio eminente”, poder


político que permite ao Estado, de forma geral, submeter à
sua vontade todos os bens situados em seu território.
O sentido da expressão alcança o poder geral do Estado,
sobretudo quanto esteja em suas linhas territoriais, sendo
esse poder decorrente de sua própria soberania. O domínio
eminente abrange três categorias de bens:
a) bens públicos;
b) bens privados;
c) os bens não sujeitos ao regime normal da proprie-
dade, como, por exemplo, as águas.
Desta forma, os bens naturais situados no território na-
cional poderão sofrer, de alguma forma, influência do Poder
Público, pois, ainda que não sendo proprietário de todos os
bens, o Estado pode instituir regimes jurídicos específicos
que afetem os recursos naturais.
Nos termos da Lei de Política Nacional do Meio
Ambiente (Lei 6.938/81), são recursos ambientais a atmos-
fera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os es-
tuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera, a fauna e a flora. Importante classificar os recursos
naturais em relação a dois critérios específicos:

a) Destinação
Os bens públicos podem ser classificados em “bens
de uso comum do povo’’, “bens de uso especial” e “bens

37
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

dominicais”. Nos termos do artigo 99, do Código Civil, são


bens públicos.
I. os de uso comum do povo, tais como rios, mares,
estradas, ruas e praças;
II. de uso especial, tais como edifícios ou terrenos
destinados a serviço ou estabelecimento da ad-
ministração federal, estadual, territorial ou mu-
nicipal, inclusive os de suas autarquias;
III. os dominicais, que constituem o patrimônio das
pessoas jurídicas de direito público, como objeto
de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas
entidades.

Cabe ressaltar, desde já, que os bens naturais, objetos


do Direito Ambiental, normalmente são classificados como
“bens de uso comum do povo” ou como “bens de uso espe-
cial”, em função de sua destinação ou afetação a fins públicos.
Os bens de uso comum do povo são aqueles que, por
determinação legal ou por sua própria natureza, podem ser
utilizados por todos em igualdade de condições, sem ne-
cessidade de consentimento individualizado por parte da
Administração Pública.
São bens públicos afetados (a uma destinação pública
específica) e indisponíveis. Podemos citar, dentre os bens na-
turais, os rios navegáveis, as águas do mar, as ilhas oceânicas
e as praias. Já os bens de uso especial são todas as coisas,
móveis ou imóveis, corpóreas ou incorpóreas, utilizadas pela

38
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

Administração Pública para a realização de suas atividades


e consecução de seus fins.
São exemplos os imóveis onde estão instaladas reparti-
ções públicas e os veículos oficiais. Por possuírem destinação
pública específica (bens afetados e indisponíveis), alguns bens
naturais são classificados como de uso especial: as terras
devolutas indispensáveis à preservação ambiental (art. 20,
II, CRFB/ 1988) e as terras tradicionalmente ocupadas pelos
índios (art. 20, XI, CRFB/ 1988) são exemplos clássicos.
Os bens dominicais são todos aqueles que não se carac-
terizam como de “uso comum do povo” ou de “uso especial”.
Caso o bem sirva ao uso público em geral, ou se prestar à
consecução das atividades administrativas, não será enqua-
drado como dominical.
Desse modo, são dominicais os bens sem destinação
pública específica, como as terras devolutas estaduais, os
prédios públicos desativados, os bens móveis inservíveis e a
dívida ativa. São bens públicos desafetados (inservíveis ou
sem uma destinação pública específica) e, portanto, disponí-
veis. Importante frisar que a expressão “bem de uso comum
do povo” utilizada no caput do artigo 225 da Constituição de
1988 não se refere à classificação dos bens públicos, analisada
acima, elaborada pela doutrina do Direito Administrativo e
inserida no artigo 99 do Código Civil.
Ao atribuir a característica de bem de uso comum do
povo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, o intuito
do legislador constituinte foi o de reforçar a ideia de interesse

39
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

transindividual no meio ambiente saudável, tendo em vista


a titularidade coletiva dos bens naturais.
O Poder Público é mero gestor do meio ambiente, que
pode ser classificado como patrimônio público em sentido
amplo, a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo
em vista o uso coletivo.
Os bens que integram o meio ambiente planetário, como
água, ar e solo, devem satisfazer as necessidades comuns de
todos os habitantes da Terra. Desde que utilizável o meio
ambiente, adequado pensar-se em um meio ambiente como
‘bem de uso comum do povo’.
Em se tratando de bem indisponível, de titularidade
difusa, o meio ambiente não é passível de desafetação (di-
ferentemente dos “bens de uso comum do povo” previstos
no inciso I, do artigo 99, do Código Civil). Além disso, como
analisado acima, há bens ambientais que, de acordo com a
classificação do Código Civil, são “bens de uso especial”, e
não “de uso comum do povo” (ex: terras tradicionalmente
ocupadas pelos índios), mais um argumento para a consta-
tação da diferença, ainda que sutil, entre os significados da
expressão utilizada no caput do artigo 225 da Constituição
e aquela utilizada no artigo 99 do Código Civil.

b) Titularidade
Classificam-se em federais, estaduais, distritais e muni-
cipais. A Constituição de 1988 enumera, de maneira exempli-
ficativa, os bens da União e dos Estados. O objetivo é deixar
clara a partilha de alguns bens entre os entes federados.

40
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

Oportuno lembrar que ao atribuir a “titularidade” de


alguns bens ambientais aos entes federados, a Constituição
não está outorgando a eles o domínio de todos esses bens.
Como já analisado, o meio ambiente é um bem de uso comum
do povo, de titularidade coletiva.
A União, os Estados ou os Municípios são os gestores
dos recursos naturais elencados na Constituição, sendo res-
ponsáveis, portanto, por sua administração e por zelar pela
sua adequada utilização e preservação, em benefício de toda
a sociedade.
Segundo o artigo 20 da Constituição de 1988, são bens
da União:
I. as terras devolutas indispensáveis à defesa das
fronteiras, das fortificações e construções milita-
res, das vias federais de comunicação e à preser-
vação ambiental, definidas em lei;
II. os lagos, rios e quaisquer correntes de água em
terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de
um Estado, sirvam de limites com outros países,
ou se estendam a território estrangeiro ou dele
provenham, bem como os terrenos marginais e
as praias fluviais;
III. as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes
com outros países; as praias marítimas; as ilhas
oceânicas e as costeiras, excluídas, destas as que
contenham a sede de Municípios, exceto aquelas
áreas afetadas ao serviço público e a unidade am-
biental federal, e as referidas no art. 26, II;

41
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

IV. os recursos naturais da plataforma continental e


da zona econômica exclusiva;
V. o mar territorial;
VI. os potenciais de energia hidráulica;
VII. os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
VIII. as cavidades naturais subterrâneas e os sítios ar-
queológicos e pré-históricos;
IX. as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
§ 1°- É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da
administração direta da União, participação no resultado da
exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos
para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos
minerais no respectivo território, plataforma continental,
mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação
financeira por essa exploração.
As competências dos entes da Federação só a
Constituição Federal pode instituir. Não podem as normas
infraconstitucionais atribuir ou repartir atribuições e deve-
res, exceto em virtude de previsão na própria Constituição
Federal, como no art. 22, parágrafo único.
Neste artigo estão competências para legislar em ma-
térias privativas da União, e o parágrafo faz o adendo de que
lei complementar à Constituição Federal poderá autorizar
os estados a legislar sobre questões específicas das matérias
relacionadas nesse artigo.
Também quanto à competência para legislar, o texto
do art. 24 da Constituição especificamente menciona um

42
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

conjunto de matérias como de competência concorrente


da União, dos estados e do Distrito Federal. Os estados e o
Distrito Federal, portanto, têm competência independente-
mente de se demonstrar que o objeto é de interesse estadual
e/ou regional.
Contudo, quando houver norma geral federal, as normas
estaduais deverão estar adequadas em relação àquela. Assim,
o exercício da competência para legislar dos estados e do
Distrito Federal, se na esfera federal já foi expedida norma
geral em conformidade com a Constituição Federal, implica
seguir tal regra geral estabelecida pela União, com respeito
ao pacto federativo representado por essa União. Observa-se
aí a ressalva da Constituição Federal (BRASIL, 1988, art. 24,
§ 2º): “a competência da União para legislar sobre normas
gerais não exclui a competência suplementar dos Estados”.
Fundamenta-se que, suplementar equivale a suprir
uma carência, juntando parte a um todo para ampliá-lo ou
para aperfeiçoá-lo, pressupondo a existência de algo a suprir.
Assim, se não existir norma a ser suplementada, logicamente
não haverá o exercício da competência suplementar.
Doutro modo, obviamente não se estará suplementando
a legislação geral quando se estiver contrariando seu sentido.
No caso dos municípios, no entanto, estes poderão exercer
sua competência suplementar “no que couber” (BRASIL,
1988, art. 30, inciso II), inclusive:
• Legislando sobre assuntos de interesse local;
• Promovendo adequado ordenamento territorial (ar-
tigo 30, VIII, da Constituição Federal);

43
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

• Instituindo os tributos de sua competência;


• Organizando e prestando, diretamente ou sob regime
de concessão ou permissão, os serviços públicos de
interesse local.
De tal modo, algumas temáticas podem ser objeto de
legislação nos planos: federal, estadual ou distrital e muni-
cipal, não estando na competência privativa da União; com
a ressalva de alguns temas específicos, tais como normas de
Direito do Trabalho, em matéria nuclear e de trânsito que
ficaram na competência privativa da União.
Não se trata da existência de hierarquia entre as leis
federais, estaduais e municipais, diferenciando-as quanto ao
âmbito de sua abrangência. No art. 23 (competência admi-
nistrativa), a Constituição Federal relaciona atividades que
os poderes públicos devem exercer na competência comum
para a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios.
Nessas atividades administrativas, não há hierar-
quia entre os três planos das administrações públicas. A
Administração Pública federal não está num plano hierárqui-
co superior ao da Administração Pública estadual, qual tam-
bém não está situada em plano superior ao da Administração
Pública municipal. Como cada ente operará, particularmente,
fica ainda na dependência da organização de cada órgão
público federal, estadual e municipal.

44
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

QUESTÕES DE APRENDIZAGEM
UNIDADE 1
Questão 1
Considerando os trechos a seguir reproduzidos, iden-
tifique o princípio de direito ambiental a que cada um deles
se refere.
I – “Sempre que houver perigo da ocorrência de um
dano grave ou irreversível, a ausência de certeza cientifica
absoluta não deverá ser utilizada como razão para se adiar
a adoção de medidas eficazes a fim de impedir a degradação
ambiental”.
II – “Objetiva internalizar nas práticas produtivas (em
última instância, no preço dos produtos e serviços) os custos
ecológicos, evitando-se que os mesmos sejam suportados
de modo indiscriminado (e, portanto, injusto) por toda a
sociedade”
III – “Incentiva economicamente quem protege uma
área, deixando de utilizar seus recursos, estimulando assim
a preservação”.
IV – “...apesar de não se encontrar, com nome e sobre-
nome, consagrado na nossa Constituição, nem em normas
infraconstitucionais, e não obstante sua relativa imprecisão
- compreensível em institutos de formulação recente e ainda
em pleno processo de consolidação -, transformou-se em prin-
cípio geral de Direito Ambiental, a ser invocado na avaliação

45
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

da legitimidade de iniciativas legislativas destinadas a reduzir


o patamar de tutela legal do meio ambiente” (BENJAMIN).
V – “visa proteger a quantidade dos bens ambientais,
estabelecendo uma consciência ambiental de uso racional
dos mesmos, permitindo uma socialização justa e igualitária
de seu uso” (RODRIGUES).
Na sequência, faça a devida identificação do princípio
explicitado em cada doutrina.
a) Prevenção, usuário-pagador, subsidiariedade, equi-
dade intergeracional e poluidor-pagador.
b) Usuário-pagador, protetor-recebedor, cooperação,
vedação de retrocesso ambiental e sustentabilidade.
c) Precaução, usuário-pagador, protetor-recebedor,
desenvolvimento sustentável e equidade intergeracional.
d) Precaução, poluidor-pagador, protetor-recebedor,
vedação de retrocesso ambiental e usuário-pagador.
e) Precaução, poluidor-pagador, intervenção estatal
obrigatória, vedação de retrocesso ambiental.

Questão 2
Ao se estabelecer que os danos ambientais devem gerar
responsabilidade dos poluidores e indenização às vítimas do
evento, está sendo utilizado o princípio do direito ambiental
denominado:
a) prevenção

46
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

b) precaução
c) intervenção
d) reparação
e) acessão

Questão 3
Por se tratar de bem de uso comum do povo e ser um
direito de todos em terem direito ao meio ambiente ecologi-
camente equilibrado, cumpre ao direito ambiental a tarefar
de estabelecer normas que indiquem como devem ser utili-
zados os bens ambientais, de modo que não aja, em médio
ou longo espaço de tempo, o prejuízo ou a não renovação
desses mesmos bens. Tal assertiva encontra-se substanciada
no princípio:
a) do Acesso equitativo dos recursos naturais
b) da Precaução
c) da Prevenção
d) da Educação Ambiental
e) do Usuário-pagador ou poluidor-pagador

Questão 4
Assinale a opção correta quanto ao princípio da
precaução.

47
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

a) Esse princípio foi criado na Conferência de


Estocolmo, em resposta aos danos causados pelo vazamento
de mercúrio na baía de Minamata e, por isso, os primeiros
escritos doutrinários da época referiam-se a ele como o prin-
cípio de Minamata.
b) Tal princípio teve origem no princípio da incerteza,
da física quântica, e foi o tema central da Carta da Terra,
redigida na abertura da Eco-92, na qual o jurista alemão
Reinhardt Sttifelmann defendeu que, na atual sociedade de
risco, só se podem tomar medidas ambientalmente impac-
tantes com respaldo da ciência.
c) Fundado no princípio da prevenção, o princípio da
precaução aponta a inexistência de certezas científicas como
pressuposto para a adoção de política liberal pautada pelo
caráter não intervencionista do poder público nas atividades
econômicas.
d) Esse princípio fundamenta-se no direito penal se-
cundário e diferencia-se do princípio da prevenção geral e
da prevenção específica, pois espelha os aspectos garantistas
dos direitos de terceira geração.
e) Tal princípio constitui a garantia contra os riscos
potenciais que não podem ser ainda identificados devido à
ausência da certeza científica formal, e baseia-se na ideia de
que o risco de dano sério ou irreversível requer a implemen-
tação de medidas que possam prever esse dano.

48
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

Questão 5
A mata atlântica, um dos mais importantes biomas do
território brasileiro, dada sua riquíssima biodiversidade, foi
erigida, pelo §4º do artigo 225 da Constituição Federal, à
condição de patrimônio nacional, juntamente com a Floresta
Amazônica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a
Zona Costeira.
O Promotor de Justiça com atribuições para a defesa do
meio ambiente da comarca de Manhumirim recebeu relatório
da Polícia Militar Florestal local, dando conta da ocorrência
de grave dano ambiental na zona rural do Município de Alto
Caparaó, integrante da Comarca, consistente no desmata-
mento de considerável área de mata atlântica no interior
do Parque Nacional do Caparaó, unidade de preservação
criada pelo Decreto Federal n.º 50.646/61. Nesse contexto,
sabendo-se que Manhumirim não é sede de juízo federal,
assinale a medida CORRETA a ser adotada pelo órgão de
execução ministerial:
a) Instaurar inquérito civil público para apurar os fa-
tos e ajuizar a ação civil pública, uma vez que, por não ser a
comarca de Manhumirim sede do juízo federal, a ação deve
ser processada e julgada na justiça estadual, nos termos do
§3º do artigo 109 da Constituição Federal.
b) Encaminhar o relatório da polícia ambiental
para o Ministério Público Federal com atuação junto à
Subseção Judiciária da Justiça Federal mais próxima, para

49
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

conhecimento e adoção das medidas cabíveis, por se tratar


de dano ambiental causado no interior de parque nacional.
c) Instaurar inquérito civil público para apurar os fatos
e ajuizar a ação civil pública, já que o fato de tratar-se a mata
atlântica de patrimônio nacional, ou do dano ter ocorrido
no interior de parque nacional, não atrai a competência da
Justiça Federal.
d) Encaminhar o relatório da polícia ambiental para
o Ministério Público Federal com atuação junto à Subseção
Judiciária da Justiça Federal mais próxima, para conhe-
cimento e adoção das medidas cabíveis, por se tratar de
dano à mata atlântica, considerada patrimônio nacional pela
Constituição Federal.

Questão 6
Promotor de Justiça com atribuições para a defesa do
meio ambiente da comarca de Manhumirim recebeu relatório
da Polícia Militar Florestal local, dando conta da ocorrência
de grave dano ambiental na zona rural do Município de Alto
Caparaó, integrante da Comarca, consistente no desmata-
mento de considerável área de mata atlântica no interior
do Parque Nacional do Caparaó, unidade de preservação
criada pelo Decreto Federal n.º 50.646/61. Nesse contexto,
sabendo-se que Manhumirim não é sede de juízo federal,
assinale a medida CORRETA a ser adotada pelo órgão de
execução ministerial:

50
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

a) Instaurar inquérito civil público para apurar os fa-


tos e ajuizar a ação civil pública, uma vez que, por não ser a
comarca de Manhumirim sede do juízo federal, a ação deve
ser processada e julgada na justiça estadual, nos termos do
§3º do artigo 109 da Constituição Federal.
b) Encaminhar o relatório da polícia ambiental para
o Ministério Público Federal com atuação junto à Subseção
Judiciária da Justiça Federal mais próxima, para conheci-
mento e adoção das medidas cabíveis, por se tratar de dano
ambiental causado no interior de parque nacional.
c) Instaurar inquérito civil público para apurar os fatos
e ajuizar a ação civil pública, já que o fato de tratar-se a mata
atlântica de patrimônio nacional, ou do dano ter ocorrido
no interior de parque nacional, não atrai a competência da
Justiça Federal.
d) Encaminhar o relatório da polícia ambiental para
o Ministério Público Federal com atuação junto à Subseção
Judiciária da Justiça Federal mais próxima, para conhe-
cimento e adoção das medidas cabíveis, por se tratar de
dano à mata atlântica, considerada patrimônio nacional pela
Constituição Federal.

Questão 7
Acerca das disposições constitucionais referentes ao
meio ambiente, assinale a assertiva correta:

51
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

a) São disponíveis as terras devolutas ou arrecadadas


pelos estados, por ações discriminatórias, necessárias à pro-
teção dos ecossistemas naturais.
b) Aquele que explorar recursos minerais fica obriga-
do a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com
solução técnica exigida pelo órgão público competente, na
forma da lei.
c) As usinas que operem com reator nuclear deverão
ter sua localização definida em lei estadual, sem o que não
poderão ser instaladas.
d) As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídi-
cas, a sanções penais e administrativas, dependentemente
da obrigação de reparar os danos causados.
e) Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso especial do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coleti-
vidade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações.

Questão 8
Em relação ao que estabelece a Constituição Federal
sobre o meio ambiente, assinale a alternativa correta:
a) A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica,
a Serra do Mar, o Cerrado são patrimônio nacional e sua

52
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

utilização far-se-á dentro de condições que assegurem a


presença do meio ambiente.
b) As usinas que operem com reator nuclear deverão ter
sua localização definida em lei federal, estadual ou municipal,
sem o que não poderão ser instaladas.
c) Para assegurar a efetividade do direito ao meio am-
biente ecologicamente equilibrado, incumbe ao Poder Público
promover a educação ambiental no plano federal e estadual,
visando à conscientização pública para a preservação do
meio ambiente.
d) São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas
pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias para
proteção dos ecossistemas naturais.
e) Consideram-se cruéis as práticas desportivas que
utilizem animais, em qualquer tipo de manifestação.

53
–CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE–

GABARITO
1 D 5 B
2 D 6 B
3 A 7 D
4 E

54
UNIDADE

2
POLITICA NACIONAL
DO MEIO AMBIENTE E
RESPONSABILIDADE
POR DANOS AMBIENTAIS
CAPÍTULO

3
POLITICA
NACIONAL DO
MEIO AMBIENTE
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

A Política Nacional do Meio Ambiente foi estabeleci-


da em 1.981 mediante a edição da Lei 6.938/81, criando o
SISAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente). Seu objetivo é
o estabelecimento de padrões que tornem possível o desenvol-
vimento sustentável, através de mecanismos e instrumentos
capazes de conferir ao meio ambiente uma maior proteção.
A Política Nacional de Meio Ambiente tem por objetivo a
preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental
propícia à vida, visando a assegurar, no país, condições ao
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segu-
rança nacional e à proteção da dignidade da vida humana,
atendidos os seguintes princípios:
I. Ação governamental na manutenção do equilí-
brio ecológico, considerando o meio ambiente
como um patrimônio público a ser necessaria-
mente assegurado e protegido, tendo em vista o
uso coletivo;
II. Racionalização do uso do solo, do subsolo, da
água e do ar;
III. planejamento e fiscalização do uso dos recursos
ambientais;
IV. Proteção dos ecossistemas, com a preservação de
áreas representativas;
V. controle E zoneamento das atividades potencial
ou efetivamente poluidoras;
VI. Incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias
orientadas para o uso racional e a proteção dos
recursos ambientais;

57
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

VII. acompanhamento do estado da qualidade


ambiental;
VIII. recuperação de áreas degradadas;
IX. Proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X. Educação ambiental em todos os níveis do ensino,
inclusive a educação da comunidade, objetivando
capacitá-la para a participação ativa na defesa do
meio ambiente.
XI. à imposição, ao poluidor e ao predador, da obriga-
ção de recuperar e/ou indenizar os danos causados
e, ao usuário, da contribuição pela utilização de
recursos ambientais com fins econômicos.
As diretrizes desta política são elaboradas através de
normas e planos destinados a orientar os entes públicos da
federação, em conformidade com os princípios elencados no
Art. 2º da Lei 6.938/81.
Já os instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente, distintos dos instrumentos materiais noticiados
pela Constituição, dos instrumentos processuais, legislati-
vos e administrativos são apresentados pelo Art. 9º da Lei
6.938/81 destacando:

a) Estabelecimento de padrões de qualidade


ambiental
Estabelecer padrões de qualidade ambiental significa
definir os parâmetros socialmente toleráveis para a utilização
dos bens naturais. É cediço que praticamente toda atividade
humana causa algum tipo de impacto ao meio ambiente.

58
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

E nesse momento é relevante apresentar o conceito legal


de “impacto ambiental” como sendo “qualquer alteração das
propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante
das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam
I) a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II) as
atividades sociais e econômicas; III) a biota; IV) as condições
estéticas e sanitárias do meio ambiente e V) a qualidade dos
recursos ambientais.
Entretanto, qual o limite aceitável de impacto ambien-
tal para determinadas atividades? A definição desse limite,
através de análises técnicas e científicas, configura o padrão
de qualidade ambiental.
São as normas ambientais que estabelecem, portanto,
os padrões de qualidade ambiental. Para o licenciamento
das atividades que impactam o meio ambiente devem ser
observados os padrões de emissão e os padrões de qualidade
ambiental.
Da mesma forma, em determinada situação fática,
quando os níveis de impacto estiverem acima do padrão,
serão considerados nocivos, configurando-se o dano ao meio
ambiente, de acordo com o art. 3°, III, “e” da Lei 6.938/81.
Exemplificativamente, pode-se citar a Resolução
CONAMA 357/2005, que fixa os padrões de qualidade das
águas dispondo sobre “a classificação dos corpos de água e
diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como
estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes.

59
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

b) Zoneamento ambiental
Zoneamento ambiental, também conhecido por
“Zoneamento Ecológico-Econômico-ZEE”, é definido como
o resultado de estudos conduzidos para o conhecimento siste-
matizado de características, fragilidades e potencialidades do
meio, a partir de aspectos ambientais escolhidos em espaço
geográfico delimitado.
O objetivo é conhecer a vocação ambiental e econô-
mica de cada área, de cada região, através de levantamento
geológico e estudos técnicos, para que se possa organizar,
de maneira vinculada, as decisões dos agentes públicos e
privados quanto a planos, programas, projetos e atividades
que, direta ou indiretamente, utilizem recursos naturais.
Busca-se, com a realização do zoneamento ambiental,
o uso racional dos recursos naturais. Os seres humanos,
ao desenvolverem suas atividades, devem levar em conta
as características ambientais de cada região, planejando
e ordenando o uso e a ocupação do solo e a utilização dos
recursos naturais.
A ideia é dividir o território a ser analisado em zonas,
de acordo com as necessidades de proteção, conservação e
recuperação dos recursos naturais e do desenvolvimento
sustentável.
O zoneamento consiste em dividir o território em par-
celas nas quais se autorizam determinadas atividades ou
interdita-se, de modo absoluto ou relativo, o exercício de
outras atividades.

60
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

O ZEE, na distribuição espacial das atividades econô-


micas, levará em conta a importância ecológica, as limitações
e as fragilidades dos ecossistemas, estabelecendo vedações,
restrições e alternativas de exploração do território e de-
terminando, quando for o caso, inclusive a relocalização de
atividades incompatíveis com suas diretrizes gerais.
A Lei Complementar 140, de 08 de dezembro de 2011,
reafirmou a competência dos entes federados para a elabo-
ração do zoneamento ambiental. Compete à União elaborar
o zoneamento ambiental de âmbito nacional ou regional e
aos Estados o zoneamento de âmbito estadual. Já no âmbi-
to local, ao Município cabe a elaboração do Plano Diretor,
observando os zoneamentos ambientais.
O Decreto 4.297 /02 (alterado pelo Decreto 6.288/07)
regulamenta o art. 9°, II, da LPNMA, estabelecendo critérios
mínimos a serem observados na elaboração do Zoneamento
Ecológico-Econômico. Nos termos do artigo 4°, do Decreto,
o processo de elaboração e implementação do ZEE:
I. buscará a sustentabilidade ecológica, econômica e
social, com vistas a compatibilizar o crescimento
econômico e a proteção dos recursos naturais, em
favor das presentes e futuras gerações, em decor-
rência do reconhecimento de valor intrínseco à
biodiversidade e a seus componentes;
II. contará com ampla participação democrática,
compartilhando suas ações e responsabilidades
entre os diferentes níveis da administração pública
e da sociedade civil;

61
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

III. v a l o r i z a r á o c o n h e c i m e n t o c i e n t í f i c o
multidisciplinar.
Em respeito ao princípio da informação, deve o Poder
Público Federal reunir e sistematizar as informações gera-
das tanto no âmbito federal, quanto estadual e municipal,
disponibilizando-as publicamente (ressalvados os dados de
interesse estratégico para o País e os indispensáveis à segu-
rança e integridade do território nacional).
Convém assentar, por fim, que a definição das áre-
as de utilização dos recursos naturais pelo instrumento do
Zoneamento Ecológico-Econômico deve, por óbvio, respei-
tar as normas específicas de proteção ambiental vigentes,
como as que definem os espaços territoriais ambientalmente
protegidos.
Desta forma, a alteração do ZEE não poderá, por exem-
plo, reduzir o percentual da área de reserva legal nem inter-
ferir nas unidades de conservação da natureza.

c) Avaliação de impactos ambientais;


A implantação de qualquer atividade que de alguma
forma cause impacto (modificação) ao meio ambiente é con-
dicionada a uma avaliação prévia (AIA) para que se possa,
primeiramente, autorizar ou não o empreendimento e, em
um segundo momento, exigir do empreendedor as medidas
necessárias para corrigir, mitigar e/ou compensar os efeitos
negativos que elas poderão acarretar ao ecossistema.
Os referidos estudos subsidiarão os órgãos ambien-
tais competentes para a análise dos requerimentos de

62
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

licença ambiental. Pode-se conceituar Avaliação de Impacto


Ambiental como instrumento de política ambiental, forma-
do por um conjunto de procedimentos capaz de assegurar,
desde o início do processo, que se faça um exame sistemático
dos impactos ambientais de uma ação proposta (projeto,
programa, plano ou política) e de suas alternativas, e que
os resultados sejam apresentados de forma adequada ao
público e aos responsáveis pela tomada de decisão, e por
eles considerados.
Além disso, os procedimentos devem garantir a adoção
das medidas de proteção do meio ambiente determinadas,
no caso de decisão sobre a implantação do projeto.

d) Licenciamento e a revisão de atividades efe-


tiva ou potencialmente poluidoras
A utilização dos recursos naturais, bens de uso comum
do povo e essenciais à sadia qualidade de vida, depende de
prévio consentimento do Poder Público.
O meio ambiente é qualificado como patrimônio públi-
co a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em
vista o uso coletivo e, portanto, inexiste direito subjetivo 8
sua livre utilização.
O consentimento estatal para a utilização de recursos
naturais é dado através do procedimento de licenciamento
ambiental, importante instrumento de gestão ambiental,
na medida em que, por meio dele, o Poder Público exerce
o controle prévio sobre as atividades que possam de algu-
ma forma impactar o meio ambiente, buscando com isso a

63
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

implementação dos princípios do desenvolvimento susten-


tável, da prevenção e da precaução.

e) Incentivos à produção e instalação de equi-


pamentos e a criação ou absorção de tecno-
logia, voltadas para a melhoria da qualidade
ambiental
f) Criação de espaços territoriais especialmente
protegidos pelo Poder Público federal, esta-
dual e municipal
Tamanha a relevância da preservação e a conserva-
ção de ecossistemas naturais através da criação de espaços
especialmente protegidos que a Constituição de 1988, de
forma expressa no artigo 225, parágrafo 1°, determina como
incumbência do Poder Público:
III – definir, em todas as unidades da Federação, espa-
ços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somen-
te através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa
a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

Há uma série de espaços ambientalmente relevantes


protegidos pelas normas ambientais nacionais e podemos
destacar, dentre eles:
• Áreas de Preservação Permanente - APP (artigo 3°,
II, do Código Florestal);
• Áreas de Reserva Legal (artigo 3°, III, do Código
Florestal);

64
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

• Unidades de Conservação da Natureza (Lei


9.985/2000).
Cumpre rememorar que o dever de utilizar o instru-
mento da Política Nacional do Meio Ambiente previsto no
inciso VI do artigo 9° da Lei 6.938/81 é do Poder Público.
Conclui-se que todos os entes federados são compe-
tentes para definir espaços territoriais e seus componentes
a serem especialmente protegidos. Consolidando tal enten-
dimento, a Lei Complementar 140, de 08 de dezembro de
2011, reconhece como ação administrativa da União (art. 7°,
inciso X), dos Estados (art. 8°, inciso X) e dos municípios (art.
9°, inciso X) definirem seus espaços protegidos no âmbito
de sua competência.

g) Sistema nacional de informações sobre o


meio ambiente
O SINIMA, instrumento responsável pela gestão da
informação no âmbito do SISNAMA, é de fundamental im-
portância tanto para o Poder Público, que precisa das infor-
mações para implementar a gestão ambiental nas três esferas
de governo, quanto para a sociedade, que terá subsídios para
participar ativamente na proteção do meio ambiente, bem
de interesse difuso.
Trata-se de instrumento criado como expressão dos
princípios da “obrigatoriedade de intervenção estatal”, da
“informação” e do princípio “democrático”, em matéria am-
biental. Sua função precípua é fortalecer o processo de pro-
dução, sistematização e análise de estatísticas e indicadores

65
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

ambientais; propiciar avaliações integradas sobre o meio


ambiente e a sociedade; recomendar e definir a sistematiza-
ção de um conjunto básico de indicadores; e estabelecer uma
agenda com instituições que produzem informação ambiental.
Nos termos da Lei Complementar 140, de 08 de de-
zembro de 2011, compete à União organizar e manter, com a
colaboração dos órgãos e entidades da administração pública
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, o Sistema
Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (SINIMA).
Já os Estados membros devem prestar informações
à União para a formação e atualização do sistema, compe-
tindo a eles, ainda, organizar e manter, com a colaboração
dos órgãos municipais competentes, o Sistema Estadual de
Informações sobre Meio Ambiente.
Os Municípios, por sua vez, além de organizar e manter
o Sistema Municipal de Informações sobre Meio Ambiente,
devem também prestar informações aos Estados e à União para
a formação e atualização dos Sistemas Estadual e Nacional de
Informações sobre Meio Ambiente. Com tais determinações,
que articulam o sistema de informações ambientais dos entes
federados, a Lei Complementar 140/2011 tonifica esse rele-
vante instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente.

h) Instituição do Relatório de Qualidade do


Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente
pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA;

66
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

i) Cadastro técnico federal de atividades e ins-


trumentos de defesa ambiental
As pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam à con-
sultoria técnica sobre problemas ecológicos e ambientais e
à indústria e comércio de equipamentos, aparelhos e ins-
trumentos destinados ao controle de atividades efetiva ou
potencialmente poluidoras devem ser registradas, obriga-
toriamente, no Cadastro Técnico Federal de Atividades e
Instrumentos de Defesa Ambiental.

j) Cadastro Técnico Federal de atividades po-


tencialmente poluidoras e/ou utilizadoras
dos recursos ambientais
O Cadastro Técnico Federal de Atividades
Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos
Ambientais, devem obrigatoriamente ser registradas as pes-
soas físicas ou jurídicas que se dedicam a atividades poten-
cialmente poluidoras e/ou à extração, produção, transporte
e comercialização de produtos potencialmente perigosos ao
meio ambiente, assim como de produtos e subprodutos da
fauna e flora.
O objetivo dos cadastros é relacionar e publicar a lista
dos profissionais dedicados à consultoria ambiental, sua habi-
litação técnica e as tecnologias de controle da poluição, além
de subsidiar a formação do Sistema Nacional de Informações
sobre o Meio Ambiente - SINIMA. Servem ainda para que
se conheça as pessoas físicas ou jurídicas potencialmente

67
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

poluidoras, permitindo uma melhor fiscalização pelos órgãos


ambientais e pela sociedade.
Os órgãos ambientais somente podem aceitar, para
fins de análise, projetos técnicos de controle da poluição
ou estudos de impacto ambiental cujos elaboradores sejam
profissionais, empresas ou sociedades civis regularmente
registradas no Cadastro Técnico Federal de Atividades e
Instrumentos de Defesa Ambiental.

k) Penalidades disciplinares ou compensatórias


ao não cumprimento das medidas necessá-
rias à preservação ou correção da degradação
ambiental
A fiscalização das atividades utilizadoras de recursos
naturais e a aplicação de penalidades disciplinares ou com-
pensatórias àqueles que não preservam ou não recuperam o
meio ambiente degradado constituem instrumentos funda-
mentais da Política Nacional do Meio Ambiente.
A atuação dos órgãos ambientais decorre da aplicação
do poder de polícia ambiental e devem ter respaldo no prin-
cípio da legalidade.
A tutela administrativa do meio ambiente foi regu-
lamentada, em âmbito federal, pela Lei 9.605/98, que no
artigo 70 define infração administrativa ambiental como
“toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso,
gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente”.

68
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

Oportuno lembrar que a maioria dos ilícitos previstos na


LPNMA foram transformados em infrações administrativas
ou em crimes ambientais pela Lei 9.605/98.

3.1 O Sistema Nacional do Meio Ambiente


(SISNAMA)
A finalidade da criação de um Sistema Nacional de Meio
Ambiente é estabelecer uma rede de agências governamen-
tais, nos diversos níveis da federação, visando a assegurar
mecanismos capazes de, eficientemente, implementar a po-
lítica nacional do meio ambiente. A LPNMA inclui, portanto,
como integrantes do SISNAMA, também os órgãos estaduais
(seccionais) e municipais (locais), e não apenas órgãos da
União. Vejamos a estrutura do SISNAMA:

I - Órgão superior: o Conselho de Governo (art. 6°, I)


É o órgão .de assessoramento imediato ao Presidente da
República na formulação da política nacional e nas diretrizes
governamentais para o meio ambiente. O órgão é presidido
pelo Presidente da República ou, por sua determinação, pelo
Ministro de Estado Chefe da Casa Civil. Integram o Conselho
de Governo os Ministros de Estado e o titular do Gabinete
Pessoal do Presidente da República.

II - Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho


Nacional do Meio Ambiente CONAMA (art. 6°, II)
Órgão cuja finalidade é assessorar, estudar e propor ao
Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais

69
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no


âmbito de sua competência, sobre normas e padrões com-
patíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado
e essencial à sadia qualidade de vida.
Vale ressaltar a competência normativa do CONAMA,
decorrente do poder regulamentar da Administração Pública.
Assim, edita normas ambientais complementares à lei, visan-
do à sua fiel execução, não podendo contrariá-la. Seu exercício
somente pode dar-se em conformidade com o conteúdo da
lei e nos limites que esta impuser.
Assim, as normas ambientais editadas pelo CONAMA
(ex. resoluções) devem estar sempre de acordo com as
leis formais ambientais e com a Constituição de 1988.
Estruturalmente o CONAMA compõe-se de:
I. Plenário;
II. Comitê de Integração de Políticas
Ambientais-CIPAM;
III. Câmaras Técnicas-CTs;
IV. Grupos de Trabalho-GTs;
V. Grupos Assessores-GAs e;
VI. Câmara Especial Recursal-CER.

Integram o Plenário do CONAMA:


I. o Ministro de Estado do Meio Ambiente, que o
presidirá;
II. o Secretário-executivo do Ministério do Meio
Ambiente, que será o seu secretário-executivo;

70
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

III. um representante do Instituto Brasileiro do Meio


Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-
IBAMA, e um do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade;
IV. um representante da Agência Nacional de
Águas-ANA;
V. um representante de cada um dos Ministérios,
das Secretarias da Presidência da República e
dos Comandos Militares do Ministério da Defesa,
indicados pelos respectivos titulares;
VI. um representante de cada um dos Governos
Estaduais e do Distrito Federal, indicados pelos
respectivos governadores;
VII. oito representantes dos Governos Municipais que
possuam órgão ambiental estruturado e Conselho
de Meio Ambiente com caráter deliberativo, sendo:
a) um representante de cada região geográfica do
País;
b) um representante da Associação Nacional de
Órgãos Municipais de Meio Ambiente -ANAMMA;
c) dois representantes de entidades municipalistas
de âmbito nacional;
VIII. 22 representantes de entidades de trabalhadores
e da sociedade civil, sendo:
a) dois representantes de entidades ambientalistas
de cada uma das regiões geográficas do País;
b) um representante de entidade ambientalista de
âmbito nacional;

71
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

c) três representantes de associações legalmente


constituídas para a defesa dos recursos natu-
rais e do combate à poluição, de livre escolha do
Presidente da República;
d) um representante de entidade profissional, de âm-
bito nacional, com atuação na área ambiental e de
saneamento, indicado pela Associação Brasileira
de Engenharia Sanitária e Ambiental -Abes;
e) um representante de trabalhadores indicado
pelas centrais sindicais e confederações de tra-
balhadores da área urbana (Central Única dos
Trabalhadores-CUT, Força Sindical, Confederação
Geral dos Trabalhadores-CGT, Confederação
Nacional dos Trabalhadores na lndústria-CNTI
e Confederação Nacional dos Trabalhadores no
Comércio-CNTC), escolhido em processo coor-
denado pela CNTI e CNTC;
f) um representante dos trabalhadores da área ru-
ral, indicado pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura - Contag;
g) um representante das populações tradicionais,
escolhido em processo coordenado pelo Centro
Nacional de Desenvolvimento Sustentável das
Populações Tradicionais-CNPT/IBAMA;
h) um representante da comunidade indígena indica-
do por entidade que represente os povos indígenas
do Brasil;

72
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

i) um representante da comunidade científica, indi-


cado pela Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência - SBPC;
j) um representante do Conselho Nacional de
Comandantes Gerais das Polícias Militares e
Corpos de Bombeiros Militares - CNCG;
k) um representante da Fundação Brasileira para a
Conservação da Natureza-FBCN;
IX. oito representantes de entidades empresariais,
sendo:
a) três representantes indicados pela Confederação
Nacional da Indústria-CNI;
b) um representante indicado pela Confederação
Nacional da Agricultura-CNA;
c) dois representantes indicados pela Confederação
Nacional do Comércio-CNC;
d) um representante indicado pela Confederação
nacional do Transporte-CNT e;
e) um representante indicado pelo Setor Florestal.
X. um membro honorário indicado pelo Plenário. § 1°
Integram também o Plenário do CONAMA, na con-
dição de conselheiros convidados, sem direito a voto:
I. um representante do Ministério Público Federal;
II. um representante dos Ministérios Públicos
Estaduais, indicado pelo Conselho Nacional dos
Procuradores-Gerais de Justiça e;

73
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

III. um representante da Comissão de Meio Ambiente


e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos
Deputados.
Discussão relevante gira em torno da legalidade das
Resoluções do CONAMA para regulamentar situações não
abrangidas pela lei formal, sobretudo quando limitadoras
do direito de propriedade.
Segundo posicionamento do Superior Tribunal da
Justiça, as Resoluções do CONAMA respeitam o princípio
da legalidade, na medida em que tal órgão ambiental pos-
sui competência normativa prevista em lei (Lei 6.938/81).
Compete ao órgão consultivo e deliberativo do SISNAMA
editar normas ambientais complementares à lei, visando à
sua fiel execução.
Desta forma, possui o CONAMA autorização legal para
editar resoluções que visem à proteção ambiental, fixando
parâmetros, definições e estabelecendo limites.

III) Órgão central: Ministério do Meio Ambiente


(antiga Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da
República) - (art. 6°, III)
O órgão central tem a finalidade de planejar, coorde-
nar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política
nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio
ambiente.
A Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da
República (SEMA) foi transformada em Ministério do Meio

74
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

Ambiente por força do artigo 21 da Lei n. 8.490/92. São áreas


de competência do MMA:
• política nacional do meio ambiente e dos recursos
hídricos;
• política de preservação, conservação e utilização
sustentável de ecossistemas, e biodiversidade e
florestas;
• proposição de estratégias, mecanismos e instru-
mentos econômicos e sociais para a melhoria da
qualidade ambiental e do uso sustentável dos re-
cursos naturais;
• políticas para integração do meio ambiente e pro-
dução; políticas e programas ambientais para a
Amazônia Legal;
• zoneamento ecológico-econômico.

IV) Órgãos executores: o Instituto Brasileiro do Meio


Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e o
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
- Instituto Chico Mendes (art. 6°, IV)
Se ao CONAMA (inciso II) compete, dentre outras atri-
buições, a elaboração de normas ambientais, ao IBAMA e ao
ICMBio cabe executá-las, de acordo com suas competências
no âmbito federal.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) tem a natureza jurídica de
autarquia federal de regime especial vinculada ao Ministério

75
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

do Meio Ambiente, criada pela Lei nº 7.735, de 22 de feve-


reiro de 1989.
O órgão tem autonomia administrativa e financeira,
sede em Brasília e jurisdição em todo o território nacional,
e é administrado por um presidente e por cinco diretores.
Releva mencionar que, após o advento da Lei
11.516/0721, a execução das ações referentes à políti-
ca nacional de unidades de conservação da natureza (Lei
9.985/00) passou a ser atribuição do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade - ICMBio, autarquia federal
vinculada ao Ministério do Meio Ambiente.
Portanto, as ações ambientais de âmbito federal rela-
cionadas às unidades de conservação passaram a ser compe-
tência do Instituto Chico Mendes, permanecendo o IBAMA
com a possibilidade de exercício supletivo do poder de polícia
ambiental nos casos de omissão do referido Instituto.
Assim, são órgãos executores do SISNAMA:
a) Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA;
b) o Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade -Instituto Chico Mendes.

Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais


(art. 6°, V)
Órgãos seccionais são os órgãos ou entidades estaduais
responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo

76
–POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE–

controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a


degradação ambiental.
Os órgãos ambientais estaduais de meio ambiente,
legalmente constituídos, são altamente relevantes para a
implementação da política nacional do meio ambiente tendo
em vista a extensão territorial do país. A eles compete a maior
parte das atividades de controle ambiental.

VI) Órgãos Locais: os órgãos ou entidades munici-


pais (art. 6°, VI)
Órgãos locais são os órgãos ou entidades municipais,
responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades,
nas suas respectivas jurisdições. O Município estará inseri-
do na estrutura do SISNAMA a partir do momento em que
criar, através de lei, seu Conselho de Meio Ambiente. Além
disso, deverá dispor de profissionais legalmente habilitados.

77
CAPÍTULO

4
RESPONSABILIDADE
CIVIL POR DANOS
AMBIENTAIS
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

A responsabilidade civil, em sua origem coletiva e ob-


jetiva, com sua evolução, tornou-se individual e subjeti-
va. Entretanto, no período decorrente após a Revolução
Industrial, determinados casos concretos exigiram novas
formas de aplicação da responsabilidade civil, o que cumu-
lou com exceções quanto à aplicação da responsabilidade
subjetiva, fazendo com que a responsabilidade objetiva se
amoldasse a tais casos.
Com o passar do tempo, a responsabilidade objetiva se
desenvolveu e ampliou seus critérios, principalmente quanto
à ideia do risco. Contudo, há várias formas de qualificação
desse instituto, cumulando na teoria do risco, a mais extrema,
ligada diretamente aos interesses resguardados pelo Direito
Ambiental.
A responsabilidade civil ambiental é a consequência
jurídica da ação humana degradadora que, infelizmente,
se faz presente na sociedade contemporânea. O homem, ao
viver, progredir e explorar o mundo em sua volta, ocasiona,
comumente, danos ambientais passíveis de responsabilização
jurídica. A Constituição brasileira impõe ao degradador a
reparação dos danos ambientais, tanto na esfera cível, quan-
to penal e administrativa, como corolário dos princípios da
precaução e da prevenção.

4.1 Dano Ambiental


Para tratar da responsabilidade por dano ambiental,
há que tecer algumas considerações do conceito de dano
em meio ambiente. O dano consiste no prejuízo, na perda

79
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

do valor de um determinado bem, causada por uma ação ou


omissão específica. O dano é a alteração de uma coisa, em
sentido negativo. O dano ambiental seria um prejuízo causado
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
A legislação impõe compensações e mitigação dos im-
pactos quando da implantação de uma nova atividade, com
base no princípio da prevenção. A Lei nº 9.985/2000 exige
do empreendedor o pagamento de um percentual do custo do
empreendimento, a ser aplicado na implantação de Unidades
de Conservação de Proteção Integral, como forma de com-
pensar a perda difusa da biodiversidade causada pelo novo
empreendimento.
A definição de dano ambiental equilibra-se, pois, entre
duas vertentes: por um lado, não se trata de um retorno à
Natureza intacta pelo homem; por outro, estabelece regras
para que as atividades do homem não venham a causar pre-
juízos ao equilíbrio ambiental. Há inúmeros fatores de ordem
física, química e biótica que interferem no conceito de dano.
A partir da edição da Lei nº 6.938/81, que instituiu a
responsabilidade por dano ao meio ambiente, cabe aos órgãos
e entidades de controle ambiental, assim como ao Ministério
Público, no âmbito de suas respectivas atribuições, e anali-
sando cada caso concreto, caracterizar os fatos como danos
ambientais ou não.
Dentro da teoria da responsabilidade civil, não há como
falar em dever de indenizar sem a ocorrência do dano. Dessa
feita, o termo dano constitui um dos alicerces essenciais da
responsabilidade civil.

80
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

A ação civil pública está prevista no artigo 129, III,


da Constituição Federal, e está regulamentada na Lei n.
7.347/85. Destina-se a estabelecer responsabilidade por
danos morais e patrimoniais causados ao meio-ambiente,
ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico, a qualquer outro interes-
se difuso ou coletivo, por infração da ordem econômica e à
ordem urbanística.
O dano poderá ser causado por ato comissivo ou omis-
sivo. A Ação Civil Pública poderá ter por objeto a condenação
em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não
fazer, sem prejuízo à reparação do dano. (Artigo 3º da Lei
n. 7.347/85).
São partes legítimas para a propositura da Ação Civil
Pública o Ministério Público, a Defensoria Pública, a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, a autarquia,
empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista
e as associações que esteja constituída há pelo menos 1 (um)
ano, nos termos da lei civil e inclua, entre suas finalidades
institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor,
à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
A reparação do dano ambiental pode consistir na inde-
nização dos prejuízos, reais ou legalmente presumidos, ou
na restauração do que foi poluído, destruído ou degradado
Na questão do dano ambiental, é bastante possível a
previsão de reparação de um dano ainda não inteiramente
realizado, mas que fatalmente se produzirá, em decorrência

81
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

de fatos já consumados e provados, como nas hipóteses de


dano decorrente de atividades nucleares, danos à saúde e aos
rios decorrentes do emprego de agrotóxicos, danos ao ecos-
sistema de uma região em razão de vazamentos de oleoduto.
Todos os danos aos elementos integrantes do patrimônio
ambiental e cultural, são passíveis de ressarcimento.
Não poderia haver responsabilidade subjetiva do causa-
dor do dano ecológico, se se verificasse que o evento danoso
poderia ter sido evitado, mediante providências cautelares,
de acordo com os progressos atuais da ciência. Mas como
sua culpa nem sempre poderia ser demonstrada, a Lei nº
6.938/81, artigo 14, § 1º, e a jurisprudência (RT, 625: 157)
têm-se firmado pela responsabilidade objetiva baseada no ris-
co, ante a fatalidade da sujeição dos lesados ao dano ecológico,
sendo irrelevante a discussão sobre a culpa do lesante, que
somente poderá alegar em sua defesa: negação da atividade
poluidora e inexistência do dano.
O magistrado, para restabelecer o equilíbrio, deverá
impor a reparação para os casos de necessidade e inevitabi-
lidade da atividade danosa e a interdição para os casos em
que o ato pernicioso seja incompatível com a conservação da
vida num ambiente tolerável. Ante os abusos cometidos, é
preciso intimidar os agentes do dano ecológico, pois a sim-
ples perspectiva do ônus da reparação é insatisfatória. Daí a
imposição da responsabilidade penal, inclusive das pessoas
jurídicas (Lei nº 9.605/98 e CF/88, artigo 225, § 3º).
A ação popular, ao lado dos remédios reparatórios, é
um grande instrumento para proteger o interesse coletivo

82
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

na seara do dano ecológico, ao lado da ação civil pública do


mandado de segurança coletivo, do mandado de injunção,
da ação de inconstitucionalidade por ação ou omissão.
No âmbito do direito internacional, muitos órgãos, para
garantir a cada um o direito de gozar de um ambiente sadio
e de viver com dignidade e no bem-estar, têm procurado
formas para assegurar e consagrar como legítimo interesse
de agir em juízo a pretensão individual ou coletiva à comu-
nidade contra os danos à ecologia, impedindo a atividade
poluidora ou exigindo que ela tome medidas para assegurar
a incolumidade pública.

4.1.1 Responsabilidade Civil por Dano Ambiental


Natural
A responsabilidade civil por danos causados ao meio
ambiente, é o resultado de uma conduta positiva ou negativa
desenvolvida por imprudência ou negligência e que gera dano
a outrem. Através da responsabilidade civil pode-se exigir,
juridicamente, a reparação do dano, tentando-se a restituição
ao estado anterior. Além de compelir o potencial poluidor a
medidas preventivas.
A ação destruidora da natureza agravou-se neste sé-
culo em razão do incontido crescimento da população e do
progresso científico e tecnológico, que permitiu ao homem a
completa dominação da terra, das águas e do espaço aéreo.
Com suas conquistas, o homem está destruindo os bens da
natureza, que existem para o seu bem-estar, alegria e saúde;
contaminando rios, lagos, com despejos industriais, contendo

83
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

resíduos da destilação do álcool, de plástico, de arsênio, de


chumbo ou de outras tantas substâncias venenosas; devas-
tando florestas; destruindo reservas biológicas; represando
rios, usando energia atômica ou nuclear.
O direito não poderia ficar inerte ante essa triste reali-
dade. Viu-se, assim, o Estado moderno na contingência de
preservar o meio ambiente, para assegurar a sobrevivência
das gerações futuras em condições satisfatórias de alimen-
tação, saúde e bem-estar. Para tanto, criou-se um direito
novo, o direito ambiental, destinado ao estudo dos princípios
e regras tendentes a impedir a destruição ou a degradação
dos elementos da natureza.
O meio ambiente, elevado à categoria de bem jurídico
essencial à vida, à saúde e à felicidade do homem, é objeto,
hoje, de uma disciplina que já ganha foros de ciência e au-
tonomia: a ecologia. Visa a ecologia, portanto, considerar
e investigar o mundo como “nossa casa”, sendo conhecida,
por isso mesmo, como “ciência do habitat”, na medida em
que estuda as relações dos seres vivos entre si e deles com
o ambiente.
Há, hoje, no mundo, todo uma grande preocupação
com a defesa do meio ambiente, pelos constantes atenta-
dos que este vem sofrendo. O dano ecológico ou ambiental
tem causado graves e sérias lesões às pessoas e às coisas.
Como qualquer outro dano, deve ser reparado por aqueles
que o causaram, seja pessoa física ou jurídica, inclusive a
Administração Pública.

84
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

4.1.2 Responsabilidade civil


É a restauração de um equilíbrio moral e patrimonial
desfeito e à redistribuição da riqueza de conformidade com
os ditames da justiça, tutelando a pertinência de um bem,
com todas as suas utilidades, presentes e futuras, a um su-
jeito determinado.
A fonte geradora da responsabilidade civil, é o interesse
em restabelecer o equilíbrio violado pelo dano. Na responsa-
bilidade civil são a perda ou a diminuição verificada no patri-
mônio do lesado ou o dano moral que geram a reação legal,
movida pela ilicitude da ação do autor da lesão ou pelo risco.
A responsabilidade civil cinge-se, portanto, à reparação
do dano causado a outrem, desfazendo tanto quanto possível
seus efeitos, restituindo o prejudicado ao statu quo ante1. A
responsabilidade civil constitui uma relação obrigacional que
tem por objeto a prestação de ressarcimento.
O dano ao meio ambiente natural tem causado graves
e sérias lesões às pessoas, às coisas ou ao meio ambiente,
urgindo sua reparação, por envolver não só abuso no exer-
cício de um direito (CC, art. 188, I), mas também perigosos
riscos, pois, o verdadeiro problema para numerosos indi-
víduos atingidos em sua pessoa e nos seus interesses não é
saber o que vale sua causa, no plano jurídico, mas verificar
se são bastante fortes social, pecuniária e moralmente para
afrontar um adversário que nada será capaz de fazer recuar.

1 o termo status quo ante bellum (ou statu quo ante bellum),
é uma expressão em Latim que significa literalmente, «o estado em que
as coisas estavam antes da guerra.

85
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

Por essa razão, mesmo que o dano ao meio ambiente


natural acarrete luta desigual, competirá ao legislador ou
ao órgão judicante restabelecer o equilíbrio, considerando o
fenômeno sob o prisma da gravidade de seus efeitos, de suas
anormalidades, das repercussões que possa ter.
Não poderia haver responsabilidade subjetiva do causa-
dor do dano ao meio ambiente natural, se se verificasse que o
evento danoso poderia ter sido evitado, mediante providên-
cias cautelares, de acordo com os progressos atuais da ciência.
O magistrado, para restabelecer o equilíbrio, deverá im-
por a reparação para os casos de necessidade e inevitabilidade
danosa e a interdição para os casos em que o ato pernicioso
seja incompatível com a conservação da vida num ambiente
tolerável. Ante os abusos cometidos, é preciso intimidar os
agentes do dano ao meio ambiente natural, pois a simples
perspectiva do ônus da reparação é insatisfatória.
É óbvio que a norma jurídica não pode impedir que
um navio derrame petróleo no mar ou que um avião caia
carregado de bombas atômicas, mas poderá responsabilizar
severamente aquele em cujo proveito se transporta petróleo e
impedir que o risco da explosão atômica ameace a destruição.

4.1.3 Responsabilidade objetiva


Nos casos de responsabilidade objetiva, não se exige
prova de culpa do agente para que seja obrigado a reparar o
dano. Em alguns, ela é presumida pela lei. Em outros, é de
todo prescindível. Uma das teorias que procuram justificar
a responsabilidade objetiva é a teoria do risco.

86
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

Para esta teoria, toda pessoa que exerce alguma ativida-


de cria um risco de dano para terceiros. E deve ser obrigada
a repará-lo, ainda que sua conduta seja isenta de culpa.
A responsabilidade civil desloca-se da noção de culpa
para a ideia de risco, ora encarada como “risco-proveito”,
que se funda no princípio segundo o qual é reparável o dano
causado a outrem em consequência de uma atividade reali-
zada em benefício do responsável; ora mais genericamente
como “risco criado”, a que se subordina todo àquele que, sem
indagação de culpa, expuser alguém a suportá-lo.
O que se leva em conta é a potencialidade de ocasionar
danos, ou seja, a atividade ou conduta do agente que resulta
por si só na exposição a um perigo. Nesse diapasão podería-
mos exemplificar com uma empresa que se dedica a produzir
e apresentar espetáculos com fogos de artifício. Ninguém
duvida de que o trabalho com pólvora e com explosivos já
representa um perigo em si mesmo, ainda que todas as me-
didas para evitar danos venham a ser adotadas.
A responsabilidade objetiva se funda no risco, que ex-
plica essa responsabilidade no fato de haver o agente causado
prejuízo à vítima ou a seus bens. É irrelevante a conduta cul-
posa ou dolosa do causador do dano, uma vez que bastará a
existência do nexo causal entre o prejuízo sofrido pela vítima
e a ação do agente para que surja o dever de indenizar.

4.1.4 Responsabilidade subjetiva


Conforme o fundamento que se dê à responsabilidade,
a culpa será ou não considerada elemento da obrigação de

87
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

reparar o dano. Diz-se, pois, ser “subjetiva” a responsabili-


dade quando se esteia na ideia de culpa. A prova da culpa do
agente passa a ser pressuposto necessário do dano indeni-
zável. A responsabilidade do causador do dano somente se
configura se agiu com dolo ou culpa.
A responsabilidade subjetiva se funda na justificativa
da culpa ou dolo por ação ou omissão, lesiva a determinada
pessoa. Desse modo, a prova da culpa do agente será neces-
sária para que surja o dever de reparar.

4.1.5 Responsabilidade por dano ao meio am-


biente natural
O dano ao ambiente apresenta relação estreita com a
noção de abuso de direito, e em princípio deve ser conside-
rada abusiva qualquer conduta que extrapole os limites do
razoável e ocasione danos ao meio ambiente e desequilíbrio
ecológico. A noção desse abuso não é de índole individu-
alista, mas deve ter em vista a coletividade. Em princípio,
toda atitude individual que cause dano efetivo ou potencial
à coletividade deve ser reprimida.
Por sua natureza, o dano ecológico depende de perí-
cias de custosa operação, pois muitas vezes esses danos são
invisíveis e não facilmente identificáveis. Por outro lado,
temos que levar em conta a disparidade econômica entre o
agressor e o agredido.
Geralmente, o agressor à natureza é conglomerado
econômico poderoso, e por essa razão, tendo em vista a vul-
nerabilidade da vítima e sua hipossuficiência, o ordenamento

88
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

deve municiá-la com instrumentos eficazes de direito material


e processual.
Em sede de reparação de dano em geral, o prejuízo deve
ser atual, isto é, já deve ter ocorrido. A responsabilidade por
dano ecológico vai mais além: todo prejuízo potencial, que
pode advir no futuro, pode e deve ser coibido, portanto, nesse
diapasão, é aberta toda uma problemática a respeito de dano
futuro, do impacto ecológico que uma atividade possa vir a
causar. Em razão desse aspecto, diminui-se a exigência de
comprovação do nexo causal.
Mesmo que o dano ecológico acarrete luta desigual,
competirá ao legislador ou ao órgão judicante restabelecer o
equilíbrio, considerando o fenômeno sob o prisma da gravida-
de de seus efeitos, de sua anormalidade, das repercussões que
possa ter, de sua continuidade, pois não poderá apreciá-lo se
passageiro ou acidental, e do grau de tolerabilidade, sempre
levando em conta as condições da vida moderna.

4.1.6 Excludentes da responsabilidade por dano


ambiental
O Código Civil, em seu art. 188, declara que não são
atos constitutivos de ilicitude os que são praticados em le-
gítima defesa, no exercício regular de direito reconhecido;
com o escopo de remover perigo iminente culminando com a
destruição ou deterioração de coisa alheia ou lesão à pessoa;
com a ressalva de que a legitimidade do ato somente se dá
se houver a necessidade absoluta da prática deste e mesmo

89
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

assim sem exceder os limites do indispensável na remoção


do perigo.
Assim, nem a legítima defesa nem o estado de neces-
sidade constituem atos ilícitos. Também não são passíveis
de indenização os danos que forem praticados no “exercício
regular de um direito”. Além deste, o “estrito cumprimento
do dever legal”, outra excludente criminal, também é exclu-
dente na responsabilidade civil.
Também o caso fortuito e a força maior são apontados
como excludentes, estão ligados ao nexo causal e aparecem
no parágrafo único do artigo 393 do Código Civil, onde afir-
ma que ambos se verificam no fato necessário em que não
era possível evitar ou impedir seus efeitos. Embora doutri-
nariamente sejam institutos distintos, na prática legislativa
ambos se equivalem.
O fato de terceiro ou a culpa exclusiva de terceiro tam-
bém se classificam como excludentes. Entretanto, em se
tratando de responsabilidade civil, o princípio da obrigato-
riedade do causador direto de reparar o dano é o que predo-
mina, logo, a culpa de terceiro não isenta o autor direto da
ação danosa de seu dever indenizatório.
Porém, este poderá ingressar com ação regressiva con-
tra o terceiro criador da situação de perigo. Havendo culpa
exclusiva da vítima ou fato exclusivo da vítima também pode
ser arguida a exclusão de responsabilidade e seu dever de
reparar.
Entretanto, em sede de responsabilidade civil objetiva,
deve-se evitar falar em “culpa”, visto não se discutir a culpa

90
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

nessa modalidade de responsabilidade, mas sim discutir-se o


nexo de causalidade, logo, são mais aceitas expressões como
“fatos de terceiros” ou “fato exclusivo da vítima”.
Não obstante a exposição de todas as excludentes de
ilicitude acima, em matéria de responsabilidade civil ambien-
tal e por consequência objetiva, nem todas as excludentes
existentes podem ser arguidas, embora em muitos casos não
haja consenso; também deve-se ressaltar que o dano am-
biental tem caráter público e assim, não podem ser arguidas
excludentes do Direito Privado.

4.2 A Imputação de Resultados Tardios


O dano ambiental pode manifestar seus efeitos tão logo
seja praticado, como também pode se manifestar após anos
de incubação. Assim, a imputação dos resultados tardios
merece atenção para que o dano não seja efetivado e não
fique impune.
Em muitos casos a conduta danosa não produz resul-
tados imediatos, mas quando estes se manifestam ocorrem
com o resultado exatamente previsto. Também, devem ser
impunes por que decorrem da conduta inicial sem desdobra-
mento do nexo causal e sem instauração de um novo desdo-
bramento causal, logo, estão vinculados à conduta anterior.
Na legislação brasileira há como imputar ao agente o
resultado tardio, isso é possível por haver exceção em ajui-
zamento de ação de ressarcimento com pedido genérico,
incluindo-se aí os resultados tardios, com fundamento no
inciso II do art. 286 do Código de Processo Civil.

91
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

4.3 Reparação ao Dano Ambiental


A reparação do dano ao meio ambiente, embora maté-
ria de responsabilidade civil, é prevista até mesmo na Lei de
Crimes contra o Meio Ambiente em seu art. 17, que dispõe
que a constatação da reparação do dano deve ser feita por
meio de laudo de reparação de dano ambiental.
Mesmo a sentença penal condenatória pode constituir
título executivo judicial nos danos causados, nesta, há um
quantum mínimo para a reparação do dano baseado em
parâmetros ao ofendido, nesse caso, o meio ambiente. Sua
execução pode ser procedida após o trânsito em julgado sem
prejuízo da liquidação do dano, de acordo com o art. 20,
caput, parágrafo único.
Também vários casos de competência de Juizados
Especiais Criminais, mediante transação penal ou suspensão
de processo, são passíveis de resolver tanto o problema na área
cível quanto na área penal, mediante a reparação do dano.
Assim, há a garantia tanto das medidas preventiva e
repressiva das sanções penais quanto o escopo da área cível,
que se resume na reparação do dano. Na Lei de Ação Civil
Pública seu art. 3º menciona que tal ação pode ter como ob-
jeto condenação em dinheiro ou cumprimento de obrigação
de fazer ou não fazer.
A reparação ambiental enfrenta, no entanto, a questão
da dificuldade em equacionar os custos do dano tanto quanto
à poluição dentro de um determinado país quanto à polui-
ção transfronteiriça. Há, inclusive, a cogitação da busca de
arbitragem de uma terceira parte para dirimir tais impasses.

92
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

QUESTÕES DE APRENDIZAGEM
UNIDADE 2
Questão 1
São instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente:
I. o estabelecimento de padrões de qualidade am-
biental e o zoneamento ambiental.
II. a avaliação de impacto ambiental e o licencia-
mento e a revisão de atividades efetivamente ou
potencialmente poluidoras.
III. os incentivos à produção e instalação de equi-
pamentos e a criação ou absorção de tecnologia,
voltados para a melhoria da qualidade ambiental
e a criação de espaços territoriais especialmente
protegidos pelo poder público federal, estadual e
municipal, tais como áreas de proteção ambien-
tal de relevante interesse ecológico e reservas
extrativistas.
Assinale a opção correta:
a) Apenas os itens I e II estão certos
b) apenas os itens I e III estão certos
c) Apenas os itens II e III estão certos
d) Todos os itens estão certos

93
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

Questão 2
Quanto à constituição e ao funcionamento do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), julgue os itens que
se seguem.
I. A participação dos membros do CONAMA é consi-
derada serviço de natureza relevante e não será re-
munerada, cabendo às instituições representadas
o custeio das despesas de deslocamento e estadia.
II. O CONAMA é composto pelo plenário, pelas câma-
ras técnicas e pelos diretórios regionais de políticas
socioambientais.
III. Nesse Conselho, é obrigatória a presença de um
representante de sociedade civil legalmente cons-
tituída, de cada uma das regiões geográficas do
país, cuja atuação esteja diretamente ligada à pre-
servação da qualidade ambiental e cadastrada no
Cadastro Internacional das Organizações Não-
Governamentais Ambientalistas.
Assinale a opção correta:
a) apenas o item I está certo
b) apenas o item II está certo
c) apenas o item III está certo
d) Todos os itens estão certos

94
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

Questão 3
A respeito da ação civil pública, nos moldes da Lei no
7.347/85, é correto afirmar que:
a) as ações previstas na Lei serão propostas no foro do
domicílio do autor, cujo juízo terá competência funcional
para processar e julgar a causa.
b) fica facultado ao Poder Público e a outras associações
legitimadas nos termos da Lei habilitar-se como litisconsortes
de qualquer das partes.
c) o Ministério Público possui legitimidade privativa
para tomar dos interessados compromisso de ajustamento
de sua conduta às exigências legais, mediante cominações,
que terá eficácia de título executivo extrajudicial.
d) a multa cominada liminarmente só será exigível do réu
após o trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, mas
será devida desde o dia em que foi judicialmente arbitrada.
e) a sentença civil fará coisa julgada erga omnes, com
abrangência nacional, exceto se o pedido for julgado impro-
cedente por insuficiência de provas.

Questão 4
A ação civil pública, nos moldes da Lei n. 7.347/85, é im-
portante instrumento na promoção da tutela coletiva de direitos.
Com efeito, a referida ação é capaz de gerar a tutela célere de
direitos transindividuais obedecendo, dentre outros princípios,
aos ideais de duração razoável do processo e de efetividade.

95
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

Na apuração dos fatos e na colheita de elementos ca-


pazes de indicar a eventual conveniência da propositura de
uma ação civil pública, ganha destaque a figura do inquérito
civil no curso do qual, inclusive, pode ser assinado o termo
de ajustamento de conduta. Com relação ao inquérito civil,
assinale a afirmativa correta.
a) é procedimento investigatório de caráter adminis-
trativo que obrigatoriamente tem que ser instaurado, a fim
de fornecer o suporte probatório que lastreará a propositura
da ação civil pública, a ser ajuizada imediatamente após a
conclusão do inquérito civil.
b) é procedimento investigatório de caráter administra-
tivo que pode ser instaurado por qualquer dos Co legitimados
para a propositura da ação civil pública, sempre que julgarem
ser preciso promover a melhor apuração dos fatos para, só
então, propor a ação civil pública cabível.
c) é procedimento investigatório de caráter administrativo
que só pode ser instaurado pelo ministério público, que o fará
sempre que considerar conveniente promover a melhor apu-
ração dos fatos e colher maiores elementos de convicção para,
só então e se concluir pertinente, propor a ação civil pública.
d) é procedimento investigatório de caráter jurisdicional
que pode ser instaurado por qualquer dos Co legitimados para
a propositura da ação civil pública, sempre que julgarem ser
preciso promover a melhor apuração dos fatos e, no curso do
qual, pode ser firmado compromisso de ajustamento de conduta.

96
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

Questão 5
João, militante ambientalista, adquire chácara em área
rural já degradada, com o objetivo de cultivar alimentos
orgânicos para consumo próprio. Alguns meses depois, ele
é notificado pela autoridade ambiental local de que a área é
de preservação permanente.
Sobre o caso, assinale a afirmativa correta.
a) João é responsável pela regeneração da área, mesmo
não tendo sido responsável por sua degradação, uma vez que
se trata de obrigação proprietário.
b) João somente teria a obrigação de regenerar a área
caso soubesse do dano ambiental cometido pelo antigo pro-
prietário, em homenagem ao princípio da boa-fé.
c) o único responsável pelo dano é o antigo proprietário,
causador do dano, uma vez que João não pode ser respon-
sabilizado por ato ilícito que não cometeu.
d) não há responsabilidade do antigo proprietário ou de
João, mas da Administração Pública, em razão da omissão na
fiscalização ambiental quanto da transmissão da propriedade.

Questão 6
No curso de obra pública, a Administração Pública
causa dano em local compreendido por área de preservação
permanente. Sobre o caso apresentado, assinale a opção que
indica de quem é a responsabilidade ambiental.

97
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

a) em se tratando de área de preservação permanente,


que legalmente é de domínio público, o ente só responde
pelos danos ambientais nos casos de atuação com dolo ou
culpa grave.
b) em se tratando de área de preservação permanente,
a Administração Pública responderá de forma objetiva pelos
danos causados ao meio ambiente, independentemente das
responsabilidades administrativa e penal
c) em se tratando de dano ambiental cometido dentro
de área de preservação permanente, a Administração Pública
não tem responsabilidade, sob pena de confusão, recaindo
sobre o agente público causador do dano, independentemente
das responsabilidades administrativa e penal.
d) trata-se de caso de responsabilidade subjetiva solidá-
ria de todos aqueles que contribuíram para a prática do dano,
inclusive do agente público que determinou a prática do ato.

98
–RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS–

GABARITO
1 D 4 D
2 A 5 A
3 C 6 B

99
UNIDADE

3
L I C E N CIA MENTO E
C R I M ES A MBIENTAI S
CAPÍTULO

5 LICENÇAS
AMBIENTAIS
–LICENÇAS AMBIENTAIS –

Lei Complementar 140/11 estabelece que o licenciamen-


to “é o procedimento administrativo destinado a licenciar
atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos
ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes,
sob qualquer forma de causar degradação ambiental”.
Já a Resolução n° 237/97 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente, CONAMA, define o licenciamento ambiental como
o procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental
competente licencia a localização, instalação, ampliação e a
operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de
recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente
poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam cau-
sar degradação ambiental, considerando as disposições legais
e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.
Hoje, no nosso país, o sistema do licenciamento é trifási-
co, conforme expressam o Decreto n° 99.274/90 e a Resolução
n° 237, do CONAMA. Segundo esses, tem-se:
I. Licença Prévia (LP), na fase preliminar do planeja-
mento da atividade, contendo requisitos básicos a
serem a atendidos nas fases de localização, instala-
ção e operação, observados os planos municipais,
estaduais ou federais de uso do solo;
II. Licença de Instalação (LI), autorizando o início
da implantação, de acordo com as especificações
constantes do projeto executivo aprovado;
III. Licença de Operação (LO), autorizando, após as
verificações necessárias, o início da atividade li-
cenciada e o funcionamento de seus equipamentos

102
–LICENÇAS AMBIENTAIS –

de controle de poluição, de acordo como previsto


nas Licenças Prévia e de Instalação.
Pelo licenciamento, promove-se a interface entre o
empreendedor, cuja atividade pode interferir na estrutura
do meio ambiente, e o Estado, que garante a conformidade
com os objetivos dispostos legalmente. O sistema trifásico
é aplicado no controle de algumas atividades econômicas,
naquelas potencial ou efetivamente poluidoras, tendo em
vista o direito fundamental ao meio ambiente equilibrado.
Por estas fases, o empreendedor já pode instalar sua
atividade. Entretanto, independentemente de a licença am-
biental estar regular ou não, o empreendedor responsável é
obrigado a reparar o dano que sua atividade causou ao meio
ambiente.
O servidor do órgão administrativo de meio ambiente
ou o técnico responsável que tiver contribuído para a con-
cessão irregular de licença ambiental também é considerado
degradador e deve responder civilmente por seus atos.
Assim, de conformidade com o parágrafo 3°, do artigo
225 da CR/88, “as atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas,
a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados”

5.1 Instrumentos de Licenciamento Ambiental


com AIA
A AIA é erigida à categoria de instrumento da políti-
ca nacional do meio ambiente, sem qualquer limitação ou

103
–LICENÇAS AMBIENTAIS –

condicionante, já que exigível tanto nos projetos públicos


quanto particulares, industriais ou não-industriais, urbanos
ou rurais, em áreas consideradas ou não críticas de poluição.
Com base nisso, o CONAMA vem regulamentando o
licenciamento de obras e atividades mediante a Avaliação
de Impacto Ambiental, nas suas mais variadas modalidades.
Para cada caso que mereça regulamentação específica,
devido às peculiaridades e características inerentes, tem sido
eleita uma forma de avaliação ambiental, que busca ser ca-
paz de aferir o meio mais adequado e acertado de prevenir a
ocorrência de interferências negativas no ambiente.
Nesta linha, a Resolução CONAMA 237, de 19.12.1997,
art. 1º, III, prevê que estudos ambientais são todos os estudos
relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização,
instalação, operação e ampliação de uma atividade ou em-
preendimento apresentado como subsídio para a análise da
licença requerida, tais como: relatórios ambientais, planos
e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preli-
minar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de
recuperação de área degradada e análise preliminar de risco.
A experiência técnica e prática acumulada proporcionaram
condições para o amadurecimento dos aspectos conceituais
sobre a Avaliação de Impacto Ambiental, que foram incor-
porados paulatinamente na legislação brasileira e difundidos
em todo o território nacional.
Todavia, no início da aplicação da supracitada Resolução
CONAMA 001/86, quando a Avaliação de Impacto Ambiental
era incipiente no Brasil, usou-se a lista exemplificativa

104
–LICENÇAS AMBIENTAIS –

constante de seu art. 2º como um rol obrigatório, o que trouxe


repercussão extremamente negativa para a gestão ambiental.
Com efeito, a AIA pertence à categoria de instrumento
da política nacional do meio ambiente e imagina-se que é
exigível tanto nos projetos públicos quanto particulares,
industriais ou não-industriais, urbanos ou rurais, em áreas
consideradas ou não críticas de poluição.
Com base nisso, o CONAMA vem regulamentando o
licenciamento de obras e atividades mediante a Avaliação
de Impacto Ambiental, nas suas mais variadas modalidades.
Para cada caso que mereça regulamentação específica, devido
às peculiaridades e características inerentes, tem sido eleita
uma forma de avaliação ambiental, que busca ser capaz de
aferir o meio mais adequado e acertado de obviar as inter-
ferências negativas no ambiente.
A experiência técnica e prática acumulada proporcionou
condições para o amadurecimento dos aspectos conceituais
sobre a Avaliação de Impacto Ambiental, que foram incor-
porados paulatinamente na legislação brasileira e difundidos
em todo o território nacional.
Todavia, no início da aplicação da supracitada Resolução
CONAMA 001/86, usou-se a lista exemplificativa constante de
seu art. 2º como um rol obrigatório, o que trouxe repercussão
extremamente negativa para a gestão ambiental.
Conforme normativa, são previstos três tipos de estudos
ambientais para subsidiar a fase de viabilidade ambiental, defi-
nidos em função da significância dos impactos. Podemos citar:

105
–LICENÇAS AMBIENTAIS –

a) Estudo Ambiental Simplificado - EAS: destina-se a


avaliar as consequências ambientais de atividades
e empreendimentos considerados de impactos am-
bientais de pequena magnitude e não significativos.
b) Relatório Ambiental Preliminar - RAP: destina-se
a avaliar sistematicamente as consequências das
atividades ou empreendimentos considerados po-
tencial ou efetivamente causadores de degradação
do meio ambiente, em que são propostas medidas
mitigadoras com vistas à sua implantação.
c) Estudo de Impacto Ambiental - EIA: destina-se a
avaliar sistematicamente as consequências conside-
radas efetiva ou potencialmente causadoras de sig-
nificativa degradação do meio ambiente bem como
propor medidas mitigadoras e/ou compensatórias
com vistas à sua implantação. Desta forma, para o
licenciamento de atividades (privadas ou públicas)
que apresentem grande potencial de degradação am-
biental, deve ser realizado previamente o Estudo de
Impacto Ambiental (EIA). Resta evidente a vocação
preventiva do EIA, já que deve ser elaborado antes
do início da execução do projeto. Já nos casos de
atividades menos complexas e com baixo potencial
de impacto ao meio ambiente, outros estudos serão
exigidos pelo órgão ambiental competente (exemplo:
plano e projeto de controle ambiental).
Num primeiro momento, foram apresentados AIAs e
EIAs indiscriminadamente para o licenciamento de qualquer

106
–LICENÇAS AMBIENTAIS –

tipo de obra e atividade prevista na listagem da Resolução


CONAMA, o que resultou na apresentação de um grande
número de projetos caros para casos singelos, e pior, sem que
houvesse um ganho ambiental correspondente, onerando os
empreendedores e a administração pública.
Em razão de ter sido incorporado em nossa legislação
ambiental como a solução de todos os males ou, muitas vezes,
por interesses estranhos à luta pela preservação ambiental,
está se propagando a ideia de que é necessária a elaboração
de avaliação de impacto ambiental para qualquer atividade
modificadora do meio ambiente.
Nesse aspecto, voltamos a um dos pontos centrais da
discussão que é a aplicação indiscriminada da utilização
do licenciamento ambiental, inclusive no que diz respeito
à tutela penal, tendo em vista as exigências desmedidas de
elaboração de AIAs, o que é muito vinculada ao problema
do licenciamento ambiental.
Ao que parece, nem todas as iniciativas humanas ne-
cessitam de avaliação de impacto ambiental, e muito menos
de Estudo Prévio de Impacto Ambiental, visto como uma
modalidade de AIA, e que veremos a seguir, por envolver
aquele a análise de inúmeras variáveis e destinar-se aos
empreendimentos que possam provocar significativa degra-
dação ambiental.

107
–LICENÇAS AMBIENTAIS –

5.2 Empresas que Atuam Sem Licença Ambiental


A Lei 6.938/81, que institui a Política Nacional do Meio
Ambiente, prevê o licenciamento como condição para que
sejam exercidas as atividades empresariais:

“Art. 10 – A construção, instalação, amplia-


ção e funcionamento de estabelecimentos e
atividades utilizadoras de recursos ambien-
tais, considerados efetiva e potencialmente
poluidores, bem como os capazes, sob qual-
quer forma, de causar degradação ambiental,
dependerão de prévio licenciamento de órgão
estadual competente, integrante do Sistema
Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, e
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, em
caráter supletivo, sem prejuízo de outras li-
cenças exigíveis.

Instalar e ampliar um empreendimento ou atuar sem


licença ambiental são crimes previstos na Lei nº 9.605/98
– a Lei de Crimes Ambientais, que dispõe sobre as sanções
penais e administrativas derivadas de condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente. Está explícito na Seção III – Da
Poluição e outros Crimes Ambientais:

“Art. 60. Construir, reformar, ampliar, insta-


lar ou fazer funcionar, em qualquer parte do
território nacional, estabelecimentos, obras
ou serviços potencialmente poluidores, sem li-
cença ou autorização dos órgãos ambientais

108
–LICENÇAS AMBIENTAIS –

competentes, ou contrariando as normas le-


gais e regulamentares pertinentes: Pena – de-
tenção, de um a seis meses, ou multa, ou am-
bas as penas cumulativamente.”

A Lei Estadual 3.467/2000 complementa essa legis-


lação, determinando as possíveis multas a serem aplicadas
quando houver infrações relativas ao licenciamento ambien-
tal. A multa varia de R$ 200 a R$ 2 milhões para aqueles
que iniciam a instalação, operação ou testes equipamentos
sem licença; instalam atividades ou empreendimentos ou
testam equipamentos em desacordo com as condições des-
critas na licença; continuam operando depois de vencida a
licença ambiental, sem protocolar o pedido de renovação;
operam atividade licenciada em desacordo com as condições
estabelecidas na licença.
Além das questões legais, empresas sem licença am-
biental ou com sua licença vencida não conseguem obter
financiamento e incentivos governamentais de órgãos pú-
blicos, como o BNDES e as agências de fomento, por exem-
plo a Finep. Instituições financeiras privadas também têm
compromisso em apenas aceitar projetos de empresas que
estejam cumprindo a legislação ambiental.
Para permitir a regularização de empreendimentos que
operem sem licença, foi estabelecido, pelo art. 79-A da Lei
de Crimes Ambientais (introduzido pela MP 2.163-41/01),
o instrumento denominado Termo de Compromisso. Vale
ressaltar que esse termo não tem a finalidade de aceitar o
empreendimento irregular, mas de permitir que as pessoas

109
–LICENÇAS AMBIENTAIS –

físicas ou jurídicas responsáveis por ele promovam as neces-


sárias correções em suas atividades.
Com o Termo de Compromisso, ficam suspensas as
multas porventura aplicadas em decorrência da ausência de
licenciamento e as sanções administrativas impostas, desde
que o empreendedor se comprometa, pelo acordo, a corrigir
os fatos passíveis de sanção. Além do Termo de Compromisso,
os responsáveis deverão correr com os trâmites necessários
para obtenção de licença ambiental.
Nos casos em que a empresa já opera e não possui LP ou
LI, o empreendedor deverá requerer diretamente a LO, visto
que os propósitos das licenças anteriores já não se aplicam,
aceitar o empreendimento irregular, mas de permitir que as
pessoas físicas ou jurídicas responsáveis por ele promovam
as necessárias correções em suas atividades.
Com o Termo de Compromisso, ficam suspensas as
multas porventura aplicadas em decorrência da ausência de
licenciamento e as sanções administrativas impostas, desde
que o empreendedor se comprometa prometa, pelo acordo,
a corrigir os fatos passíveis de sanção.
Além do Termo de Compromisso, os responsáveis de-
verão correr com os trâmites necessários para obtenção de
licença ambiental. Nos casos em que a empresa já opera e
não possui LP ou LI, o empreendedor deverá requerer dire-
tamente a LO, visto que os propósitos das licenças anteriores
já não se aplicam.

110
CAPÍTULO

6 CRIMES AMBIENTAIS
E LEGISLAÇÃO
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

Diante da ausência de um Código Ambiental, as leis de


cunho ambiental, no Brasil, se apresentam de forma esparsa,
isto é, difundida em várias leis.
A Lei dos Crimes Ambientais teve por mérito dispor
sobre as sanções penais e administrativas derivadas das con-
dutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente, o
que, em termos práticos, significa afirmar que, em um único
diploma legislativo, passamos a ter disciplinados os crimes
contra o meio ambiente de forma sistematizada.
A Lei dos Crimes Ambientais ou LCA (Lei 9.605/98) foi
dividida em diferentes seções, as quais estipularam os crimes
contra a fauna, flora, contra o ordenamento urbano e cultu-
ral, além dos crimes de poluição e outros crimes ambientais.
A LCA ainda pune a ação e a omissão em relação ao dano
ambiental. Entenda-se, pune aquele que sabendo da conduta
criminosa de outrem não impede sua prática, quando podia
agir para evitar o fato.
A LCA prevê tantos tipos penais apenados a título de
dolo quantos tipos penais aonde a modalidade culposa é
admitida.
Em vários tipos penais presentes na LCA, optou o
Legislador por utilizar a norma penal em branco, de modo
que a conduta proibida está vagamente prevista, isto é, pen-
dente de uma complementação por outros dispositivos legais
ou atos normativos.
Podem ser ainda os crimes ambientais classificados em
crimes de perigo, bastando a existência da mera probabilidade
do dano para que o mesmo seja configurado; em crimes de

112
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

mera conduta, para os quais a consumação se dará com a


simples ação ou omissão, não sendo necessário a ocorrência
de nenhum resultado naturalístico da ação.
Mas, não restam dúvidas de que a grande polêmica da
LCA diz respeito à inclusão da pessoa jurídica como sujeito
ativo do crime ambiental, atacando frontalmente o princípio
clássico de direito penal, “societas delinquere non potest”1,
ou seja, a Lei dos Crimes Ambientais fez surgir uma nova
mentalidade incriminadora, que rompeu com os clássicos
esquemas jurídicos penais e passou a julgar as infrações am-
bientais sobre a ótica especialíssima da educação ambiental,
como forma de prevenção aos abusos e usos indiscriminados
e incorretos dos bens ambientais.

6.1 Crimes Contra Fauna


A fauna é o conjunto de animais que vivem em seu
hábitat natural, em liberdade e compõem o ecossistema do
planeta. Nos termos da referida Lei 5.197/97, artigo 1º: “Os
animais de qualquer espécie, em que qualquer fase de seu
desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do seu cati-
veiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus, ninhos,
abrigos e criadouros naturais, são propriedade do Estado,
sendo proibido a sua utilização, perseguição, destruição,
caça ou apanha”.

1 Societas delinquere non potest é uma expressão latina que significa


«a sociedade não pode cometer um crime», usada no direito penal para
se referir a um princípio clássico sobre a responsabilidade criminal das
pessoas jurídicas.

113
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

A lei protetora à fauna está definida na Lei protetora


nº 5.197/67, pela qual explicita em seu artigo 36, o Conselho
Nacional de Proteção à Fauna.
Assim, é evidente que a fauna tem fundamental impor-
tância para a biodiversidade e para os ecossistemas de nosso
planeta. Segundo a revista Isto É de 18 de abril de 2001, o
tráfico de animais movimenta cerca de U$10 bilhões por ano
no extermínio de várias espécies, entre elas o papagaio-da-
-cara-roxa. (Isto É, nº 1.646, 2001, p.80- 83).
Portanto, em resposta à revogação do Código de Caça de
1943 pela Lei 5.197/67, com a finalidade de proteção à fauna, a
União estabelece normas gerais e os Estados e Distrito Federal
estabelecem normas suplementares. Sendo previsto no artigo
23, VIII, CF, reconhecendo competência concorrente dos
entes federativos, para preservar as florestas, fauna, pesca.
O artigo 225, § 1 º, VII, quando inclui entre os meios
de assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente equi-
librado a “proteção da fauna, vedando-se, na forma da lei,
as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção ambientais de espécies ou submetam
os animais à crueldade.”
Portanto com relação à Constituição Federal (artigo
225) e o Código de Defesa do Consumidor (artigo 81, §úni-
co, I), temos que os chamados bens públicos, mas sim como
sendo bens difusos. As condutas referentes aos crimes contra
a fauna estão previstas nos artigos 29 a 37 da Lei 9.605/98,
podendo ser praticadas por qualquer pessoa.
As condutas infracionais consistem em:

114
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

Artigo 29 - Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar


espécies as faunas silvestres, nativos ou em rota migratórias,
sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente, ou em desacordo com a obtida;
Artigo 30 - Exportar peles e couro de anfíbios e rép-
teis em bruto, sem autorização da autoridade ambiental
competente.
Artigo 31 - Introduzir espécies de animal no País,
sem parecer técnico oficial favorável; e licença expedida por
autoridade ambiental competente. Artigo 32 - Praticar ato
de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos, nativos ou exóticos;
Artigo 33 - Provocar, pela emissão de efluentes ou
carreamento de matérias, o perecimento de espécies da fauna
aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baias ou
águas jurisdicionais brasileiras;
Artigo 34 - Pescar no período no qual a pesca seja
proibida ou em lugares interditados por órgãos compete;
Artigo 35 - Pescar mediante a utilização de explosivos,
ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeitos
semelhante-substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela
autoridade competente.

6.2 Crimes Contra a Flora


Flora é o conjunto de plantas de uma região e de um
país. Elas interagem com outros seres vivos, denominando-se
ecossistema sustentado. Podemos salientar que toda a comu-
nidade de seres vivos –vegetais ou animais – interage com

115
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

o meio circundante, com o qual estabelece um intercâmbio


recíproco, continuo ou não, durante determinado período
de tempo, de tal forma que ‘um fluxo de energia produza
estruturas bióticas claramente definidas e uma ciclagem de
materiais entre as partes vivas e não - vivas’.
Esse conjunto de fatores, respectivamente denominados
biocenose e biótopo, dão origem a um complexo que recebe o
nome de ecossistema sustentado graças às constantes trocas
de matérias e energia, responsáveis por seu equilíbrio.
Tendo em vista a proteção da flora, ao bem jurídico
ambiental, a atual Lei 9.605/98, dispõe em seu artigo 38,
“destruir ou danificar floresta considerada de preservação
permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com
infringência das normas de proteção: Pena – detenção, de
um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativa-
mente. Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será
reduzida à metade.”
Assim explica a doutrina:
◦◦ Sujeito ativo é qualquer pessoa imputável, inclu-
sive o proprietário, possuidor direto ou indireto,
administrador, caseiro, arrendatário ou parceiro.
A pessoa jurídica também pode ser responsabi-
lizada criminalmente;
◦◦ Sujeito passivo, a coletividade, e indiretamente
o proprietário ou possuidor da área que sofrer o
dano ambiental;
◦◦ Objeto jurídico: A preservação do meio am-
biente, das florestas, das áreas de preservação

116
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

permanente, sendo de suma importância para


proteção dos rios e da fauna;
◦◦ Elemento subjetivo: É o dolo, que consiste na
livre e consciente prática de uma conduta descrita
no tipo. Existem três modalidades de condutas:
destruir, danificar e utilizar.
O crime ambiental consuma-se conforme artigo 38
da Lei nº 9.605/98, quando o agente “destruir ou danificar
floresta considerada de preservação permanente, mesmo
que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas
de proteção”.
A tentativa só se admite na modalidade dolosa, quan-
do um terceiro impede o agente de praticar o referido cri-
me descrito acima. Conforme artigo 26 da Lei dos Crimes
Ambientais, nas infrações penais prevista nesta Lei, a ação
penal é pública incondicionada, e a competência será em
razão do lugar em que foi cometida a infração.
Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a
proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos
ou multa, prevista no artigo 76 da Lei nº 9.099/95, somen-
te poderá ser formulada desde que tenha havido a previa
composição do dano ambiental, de que trata o artigo 74 da
mesma Lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade”.
Como também a possibilidade da suspensão condicional
do processo, no referido artigo da Lei nº 9.099/95, que assim
dispõem, “Nos crimes em que a pena mínima cominada for
igual ou inferior a 1 (um) ano, abrangidas ou não por esta lei,
o ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor

117
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

a suspensão do processo por 2 (dois) anos a 4 (quatro) anos,


desde que o acusado não esteja sendo processado ou não
tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais
requisitos que autorizam a suspensão condicional da pena
(artigo 77 do Código Penal).
Transcrevemos os artigos abaixo para citar as infrações
penais referentes a Lei dos Crimes Ambientais contra a flora:
Artigo 38 - Destruir ou danificar floresta considerada
de preservação permanente, mesmo que em formação, ou
utiliza-la infringindo normas de proteção;
Artigo 39 - Cortar árvores em consideradas de preser-
vação permanente, sem permissão da autoridade competente;
Artigo 40 - Causar dano direto ou indireto às Unidades
de Conservação e às áreas de que se trata o artigo 27 do
decreto 99.274/90, independentemente de sua localização;
Artigo 41 - Provocar incêndio em mata ou floresta;
Artigo 42 - Fabricar, vender, transportar ou soltar
balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais
formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de
assentamento humano.

6.3 Poluição e outros Crimes Ambientais


Os principais tipos de poluição são as atmosféricas,
hídricas, sonoras ou visuais. O crime exige que a poluição
tenha potencialidade de lesão à saúde humana ou que efe-
tivamente cause a morte de animais ou vegetais. Pune-se a
forma dolosa (caput) ou culposa (§1º) conforme artigo:

118
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em ní-


veis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde
humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a
destruição significativa da flora. Se o crime:
I. tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para
a ocupação humana;
II. causar poluição atmosférica que provoque a re-
tirada, ainda que momentânea, dos habitantes
das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à
saúde da população;
III. causar poluição hídrica que torne necessária a
interrupção do abastecimento público de água de
uma comunidade;
IV. dificultar ou impedir o uso público das praias;
V. ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líqui-
dos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias
oleosas, em desacordo com as exigências estabe-
lecidas em leis ou regulamentos.
A pena aplicada será de reclusão, de um a cinco anos,
sendo que, crimes qualificados pelo resultado mais graves
podem ser dolosos ou culposos.
Art. 58. Nos crimes dolosos previstos nesta Seção, as
penas serão aumentadas:
I. de um sexto a um terço, se resulta dano irreversível
à flora ou ao meio ambiente em geral;

119
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

II. de um terço até a metade, se resulta lesão corporal


de natureza grave em outrem;
III. até o dobro, se resultar a morte de outrem.
Parágrafo único. As penalidades previstas neste artigo
somente serão aplicadas se do fato não resultar crime mais
grave.
Pode haver aplicação da suspensão condicional da pena,
tendo em vista a condenação à pena privativa de liberdade não
ultrapassar o limite máximo de três anos previsto no artigo
16 da Lei 9.605/98. É cabível ainda a suspensão condicional
do processo (artigo 89 da Lei 9.099/95), pois a pena mínima
abstratamente cominada é inferior a um ano.
A realização de atividade poluidora sem autorização
está prevista no artigo 60:
“Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer
funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabele-
cimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem
licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes,
ou contrariando as normas legais e regulamentares perti-
nentes.” Podemos destacar:
• Conduta típica é a falta de licença ou autorização
para obra que tem potencialidade de poluir o meio
ambiente;
• É crime de mera conduta, consuma-se com o ato de
construir reformar etc., não sendo necessário que
haja efetiva poluição;

120
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

• Havendo a poluição responde também pelo crime


do Art. 54.
A pena pode ser detenção, de um a seis meses, ou multa,
ou ambas as penas cumulativamente.
A Lei de Crimes Ambientais tutela o meio ambiente
ameaçado pela extração ilícita de recursos minerais:
Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos
minerais sem a competente autorização, permissão, conces-
são ou licença, ou em desacordo com a obtida. Trata-se de
crime comum, de mera atividade, de ação múltipla, de forma
livre, comissivo ou omissivo (parágrafo único do art. 55),
admitindo-se a tentativa. A Lei 9.605/98 estabelece ainda
as causas de aumento de pena.
Importante mencionar que o referido crime é de ação
penal pública incondicionada (art. 26) e que a competên-
cia para processo e julgamento é dos Juizados Especiais
Criminais, estaduais ou federais (art. 61 da Lei 9.099/95 e
art. 2° da Lei 1 0.259/01).
Vale observar que a extração de recursos minerais de-
pende, normalmente, tanto de consentimento estatal de cará-
ter ambiental (cujo intuito é proteger o meio ambiente, bem
de caráter difuso) quanto de outro de caráter econômico (cujo
intuito é proteger os bens minerais de domínio da União).
Sob o enfoque econômico, dispõe a Constituição Federal
de 1988 que a pesquisa e a lavra de recursos minerais somente
poderão ser efetuadas mediante autorização ou concessão
da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa

121
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e


administração no País.
A autorização de pesquisa é dada mediante alvará de
autorização do Diretor-Geral do Departamento Nacional de
Produção Mineral - DNPM - e configura-se como título mi-
nerário que outorga o direito de realizar a pesquisa mineral.
Aquele que explora recurso mineral pertencente à União,
sem autorização legal ou em desacordo com as obrigações
impostas pelo título autorizativo, comete crime previsto no
artigo 2°da Lei 8.1 76/91, diploma que define crimes contra
a ordem econômica.
Nada obstante, e com o objetivo de proteger o meio am-
biente, a Resolução CONAMA 237/97 e a Lei Complementar
140, de 08 de dezembro de 2011 (que regulamentam os as-
pectos do licenciamento ambiental), determina que a loca-
lização, a construção, a instalação, a ampliação, modificação
e operação de empreendimentos utilizadores de recursos
naturais capazes de causar degradação ambiental dependerão
de prévio licenciamento do órgão ambiental competente.
As atividades minerárias, normalmente potencialmente
causadoras de significativo impacto ambiental, devem obter
o licenciamento ambiental para iniciar e desenvolver suas
atividades regularmente.
Como se vê, executar pesquisa, lavra ou extração de re-
cursos m inerais sem a competente licença ambiental, ou em
desacordo com a obtida, também configura crime, tipificado
no artigo 55 da Lei de Crimes Ambientais.

122
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

6.4 Crimes Contra o Ordenamento Urbano e o


Patrimônio Cultural
Destruir, inutilizar, deteriorar, alterar o aspecto ou es-
trutura (sem autorização), pichar ou grafitar bem, edificação
ou local especialmente protegido por lei, ou ainda, danificar,
registros, documentos, museus, bibliotecas e qualquer outra
estrutura, edificação ou local protegidos quer por seu valor
paisagístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico e etc.
Também é considerado crime a construção em solo não edifi-
cável (por exemplo áreas de preservação), ou no seu entorno,
sem autorização ou em desacordo com a autorização concedida.

6.5 Crimes Contra a Administração Ambiental


Os crimes contra a administração incluem afirmação
falsa ou enganosa, sonegação ou omissão de informações e
dados técnico-científicos em processos de licenciamento ou
autorização ambiental; a concessão de licenças ou autoriza-
ções em desacordo com as normas ambientais; deixar, aquele
que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir
obrigação de relevante interesse ambiental; dificultar ou
obstar a ação fiscalizadora do Poder Público.

6.6 Sanções Penais


Ao se referir às sanções penais, a Lei 9.605, de
12.02.1998, no que concerne às sanções penais, procurou
adaptar-se às diretrizes que vem sendo traçadas pela políti-
ca criminal e ambiental de nosso País. Trata-se de alcançar

123
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

formas alternativas de impor sanção ao condenado, mas


evitando, dentro do possível, seu encarceramento e o contato
com outros presos.
No âmbito específico do Direito Ambiental há o princípio
da prevenção, uma das vigas mestras do Direito Ambiental.
O legislador levou em consideração tal circunstância, procu-
rando, além do caráter de retribuição e de castigo das penas,
dar ênfase ao seu caráter preventivo.
Nos dias atuais, a tutela penal do meio ambiente con-
tinua sendo uma necessidade indispensável, especialmente
quando as medidas nas esferas administrativa e civil não
surtirem efeitos desejados. A medida penal tem por escopo
prevenir e reprimir condutas praticadas contra a natureza.
Na verdade, a garantia do meio ambiente saudável
transcende o que está nas leis, parecendo próxima do direito
natural do ser humano. Atenta a isso, nossa Lei Maior, em
seu art. 225, § 3º, estabeleceu que “as condutas e atividades
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infra-
tores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e, admi-
nistrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados”.
Assim sendo, quando houver indícios da ocorrência de
uma determinada conduta, que o direito penal qualifica como
criminosa, o hermeneuta, à luz do princípio da intervenção
mínima, deverá avaliar as circunstâncias do caso concreto
e a efetiva periculosidade da situação que se lhe apresenta,
antes de, pretender simplesmente enquadrá-la na lei.
A repressão às infrações penais ambientais são:

124
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

a) Pena privativa de liberdade


As penas privativas de liberdade para os ilícitos penais
praticados pelas pessoas físicas são as tradicionais reclu-
são e detenção, para os crimes, e prisão simples, para as
contravenções.
Cabe ressaltar, que a maioria das novas infrações pe-
nais, pela quantidade da pena cominada, enseja a aplicação
dos institutos da transação penal, suspensão do processo e
suspensão condicional da pena.

b) Restritivas de direito
Com os olhos postos no perfil do delinquente comum
ambiental, cujo encarceramento não é aconselhável, possibi-
litou o legislador a aplicação de penas restritivas de direitos
em substituição às privativas de liberdade.
Nesse sentido, a Lei 9.605 (BRASIL, 1988) dispõe que
as penas restritivas de direitos são autônomas e substituem
as penas privativas de liberdade nos casos em que se tratar
de crime culposo, ou for aplicada pena privativa de liberdade
inferior a quatro anos, ou, ainda, a culpabilidade, os ante-
cedentes, a conduta social e a personalidade do condenado,
bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem
que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação
e prevenção do crime (artigo 7º, I e II).
As penas restritivas de direitos, que terão a mesma dura-
ção da pena privativa de liberdade substituída, compreendem:
I – Prestação de serviços à comunidade

125
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

II – Interdição temporária de direitos


III – Suspensão parcial ou total de atividades
IV – prestação pecuniária
V – recolhimento domiciliar.
Anote-se, ainda, a possível conversão da pena restritiva
de direitos em privativa de liberdade, em caso de descumpri-
mento injustificado da restrição imposta ou de superveniente
condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime,
conforme o disposto no artigo 44, §§ 4º e 5º do Código Penal
(BRASIL, 1940), com a redação dada pela lei 9.714 de 1998 e
diante da subsidiariedade da lei penal comum expressamente
prevista no artigo 79 da Lei 9.605 de 1998.

c) Pena de multa
A pena de multa, instrumento tradicional de exigir ações
socialmente corretas para que mantenha força retributiva,
será calculada segundo os critérios do Código Penal; se reve-
lar ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser
aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem
econômica auferida.

6.6.1 Penas aplicáveis às pessoas jurídicas


Às pessoas jurídicas, as penas aplicáveis, isolada, cumu-
lativa ou alternativamente, de acordo com o disposto no
artigo 3º, são: multa, restritivas de direitos e prestação de
serviços à comunidade.

126
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

A pena de multa aplicada à pessoa jurídica não terá efei-


to direto na reparação do dano cometido contra o meio am-
biente, pois o dinheiro será destinado ao fundo penitenciário.
Tendo em vista ser uma sanção penal que merece prio-
ridade no combate à delinquência ambiental praticada pelas
corporações, trata-se de uma pena inofensiva, pelo seu in-
significante valor.
Estão previstos três tipos de penas de restrição de direi-
tos cominada à pessoa jurídica: suspensão parcial ou total de
atividades; interdição temporária de estabelecimento, obra
ou atividade; proibição de contratar com o Poder Público,
bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações.
A prestação de serviços à comunidade, na verdade, é es-
pécie do gênero “restritivas de direitos”, como, aliás, aparece
no artigo 8º, I, da Lei 9.605/1998, e também no artigo 43, IV,
do Código Penal, com redação que lhe deu a Lei 9.714/1998.
Com relação às penas restritivas de direitos aplicáveis
à pessoa jurídica, temos:
I. suspensão parcial ou total de atividades: “a sus-
pensão de atividades será aplicada quando estas
não estiverem obedecendo às disposições legais
ou regulamentares, relativas à proteção do meio
ambiente.” (art. 22, I e § 1o)
II. interdição temporária de estabelecimento, obra
ou atividade: “a interdição será aplicada quando o
estabelecimento, obra ou atividade estiver funcio-
nando sem a devida autorização, ou em desacordo

127
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

com a concedida, ou com violação de disposição


legal ou regulamentar.” (art. 22, II e § 2o)
III. proibição de contratar com o Poder Público, bem
como dele obter subsídios, subvenções ou doações:
“a proibição de contratar com o Poder Público e dele
obter subsídios, subvenções ou doações não poderá
exceder o prazo de dez anos.” (art. 22, III e § 3o)
IV. prestação de serviços à comunidade (por força do
art. 43, IV, do Código Penal, deve ser entendida
como espécie do gênero “restritivas de direitos”),
que consistirá em: “custeio de programas e de pro-
jetos ambientais, execução de obras de recupera-
ção de áreas degradadas, manutenção de espaços
públicos e contribuições a entidades ambientais
ou culturais públicas.” (art. 23)
Vale ressaltar que, para alguns ambientalistas, a liqui-
dação forçada, prevista no art. 24 da lei, também é tida como
uma sanção penal aplicável exclusivamente para a pessoa
jurídica, mas não para aquela que eventualmente cometa
esse delito, e sim para aquela que tenha como atividade
preponderante a prática de crimes ambientais, por exemplo:
madeireira clandestina, pesqueiro ilegal.
Como consequência, a liquidação forçada gera a extin-
ção da pessoa jurídica, porque todo o seu patrimônio será
considerado como instrumento de crime e, consequentemen-
te, confiscado para o Fundo Penitenciário Nacional.
Apesar da Lei 9.605, que criminalizou a conduta das
pessoas jurídicas, ser de 1998, não existem muitas decisões

128
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

judiciais a respeito da matéria. O que ocorre é que a maioria


absoluta dos crimes ambientais admite transação ou suspen-
são do processo, na forma dos artigos 76 e 89 da Lei 9.099/95.
Assim, uma enorme quantidade de acordos vem sendo
realizados em varas de todo o Brasil, sem que disto haja regis-
tros ou estatísticas. Quanto aos poucos casos que chegaram
à segunda instância da justiça federal e dos Estados, o que
se nota é que a jurisprudência ainda não está bem definida.
A eficácia poderia ser maior por parte da reprimenda
penal, tendo em vista a versatilidade e aumentando o leque
de penalidades adaptáveis às necessidades ambientais e aos
crimes cometidos, inserindo outras penas, como foram no
artigo 72 da Lei 9.605/98, referente às sanções administra-
tivas: destruição ou inutilização do produto; suspensão de
venda e fabricação do produto; demolição de obra; suspensão
de registro.

6.7 Ineficácia das Penas da Lei 9.605/1998


Se a quase exclusiva utilização de sanções cíveis e ad-
ministrativas como forma de repressão ao ilícito ambiental
não se tem revelado suficiente para reprimir as agressões ao
meio ambiente, o Direito Penal há de ser usado com rigor,
com efetividade, sob pena de transformar-se em aliado de
pouco fôlego para o enfrentamento do problema.
Tendo em vista o caráter global e a dimensão plane-
tária que assumem as graves e crescentes perturbações do
equilíbrio ecológico, é que, na Declaração do Rio sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (1992), se inseriu, no Princípio

129
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

11, recomendação segundo a qual “os Estados adotarão legis-


lação ambiente eficaz (...)”, na mesma linha, aliás, da Agenda
21 que, no seu Capítulo 39, buscou incentivar a formulação de
propostas para o aperfeiçoamento da capacidade legislativa
dos países em desenvolvimento.
Por estas razões, a Lei de Crimes Ambientais brasileira
é ineficiente, avaliam pesquisadores do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), em relatório publicado. O pró-
prio Poder Judiciário também é apontando como um dos
grandes responsáveis pela precariedade na aplicação da Lei.
A burocracia excessiva e a morosidade fazem com que perca
a credibilidade. “Assim, o próprio desempenho do judiciário
acaba por desestimular as condutas, frustrando expectativas
e contribuindo para a ineficácia da legislação ambiental”,
concluem.
A criminalização das condutas ambientais é adequada à
realidade brasileira. O Brasil é um país de imenso território
e com uma fiscalização ambiental fragilizada pela falta de
estrutura. Há poucos funcionários para áreas imensas, prin-
cipalmente na região Norte. Além disso, por vezes, recebem
vencimentos inadequados e são assediados por propostas de
suborno e até ameaças.
Soa estranho, realmente, que um bem tão importante
para a sobrevivência do homem – “bem de uso comum do
povo”, conforme fala a Constituição Federal (artigo 225,
caput, da CF) – tenha que merecer a tutela do Direito para
ser respeitado. Mas, como se faz necessário, a superação do

130
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

quadro de degradação ambiental não pode prescindir do


socorro da lei.
Não se acredita que os novos crimes e o sistema penal
a ser aplicado serão suficientes e eficazes para disciplinar os
grupos nacionais e estrangeiros em atividade nessas áreas.
Ainda que as contravenções penais relativas à proteção da
flora em sua maioria tenham sido transformadas em crimes,
áreas como a Amazônia, o Pantanal e a Mata Atlântica deve-
riam ter sido protegidas penalmente de forma mais eficiente.
Conforme pesquisa, os processos na Justiça Federal
eram demorados e poucos foram concluídos ou estavam a
caminho da efetiva responsabilização dos infratores.
Em 91% dos casos judiciais, o Ministério Público Federal
propôs acordos de transação penal. Até março de 2003, de 55
casos, apenas um caso foi concluído e seu processo durou 522
dias úteis. Outros 18% estavam cumprindo transação penal,
mas 70% desses casos estavam com atraso no cumprimento
do acordo. Ainda um caso – ou 2% do total – aguardava
suspensão processual.
Em 62% dos casos a Justiça Federal não encontrou
os acusados, principalmente devido à suposta mudança de
endereço dos mesmos. Além disso, 10% dos processos aguar-
davam despacho inicial do juiz para proceder a citação e
agendamento da audiência e 6% dos casos aguardavam a
solução de problema processuais, como conflito de compe-
tência entre Justiça Federal e Estadual para julgamentos de
crimes ambientais.

131
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

Ainda em pesquisa realizada entre 2007 e 2008, de-


monstrou-se, segundo os dados do Poder Judiciário, que a
maior parte dos processos criminais ambientais tiveram como
resultado a aplicação de transação penal na modalidade de
prestação pecuniária. Ou seja, para quem cometeu um crime
ambiental, foi proposta a aplicação imediata de prestação
pecuniária e nenhuma transação penal foi na modalidade
de prestação de serviço à comunidade, o que poderia ser de
maior relevância.
Utilizando-se de estruturas formais para ilustrar o
descompasso na implementação da legislação ambiental,
pode-se, ainda, perguntar: por que deve o Ministério Público
estar sobrecarregado com aproximadamente 96% de todas as
ações civis públicas propostas no país, quase um monopólio
de implementação ambiental? Pesquisa realizada por ocasião
da Rio 92 junto a 100 comarcas do Estado de São Paulo mos-
trou que, de 444 ações propostas para a defesa ambiental, a
sociedade civil participou com a mínima parcela de 4,05%,
ficando para o Ministério Público o encargo do ajuizamento
das demais, isto é, 95,95%.
Essa situação não parece ter mudado muito nos dias que
correm. E onde estão os recursos (financeiros, administra-
tivos, técnicos e outros) necessários à eficácia dessas ações?
Esses números chocam, especialmente porque se sabe que
o Ministério Público, pelo menos na Constituição e nas leis,
reparte sua legitimidade para agir com outras instituições e
entidades, como as associações ambientalistas.

132
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

No que concerne à gestão ambiental, o tema da imple-


mentação das leis e políticas oficiais está a exigir tratamento
urgente – inadiável, mesmo – da parte do Poder Público e da
sociedade, visto que ambos são igualmente responsabilizados
pela Constituição Federal.
É oportuno recordar que a preocupação maior deve ser
com o cumprimento da lei e não tão somente com a repressão
e reparação dos comportamentos desconformes. Não esperar
que o dano ocorra, mas, ao revés, a ele se antecipar.
A norma perde eficácia quando lhe faltam elementos
essenciais para a sua implementação. Por isso, o Direito do
Ambiente, em reconhecimento e aceitação dos seus limites
numa problemática complexa, não pode dispensar subsídios
de outras fontes.
Todavia, sua ação chega até onde a Constituição e a
legislação infraconstitucional lhe permitem; vale lembrar
que essa legislação não apenas “permite”, mas, ainda, lhe dá
força e lhe confere eficácia normativa.
Se ele se defronta com questões fora da sua alçada e
competência científica, deve socorrer-se de outros instru-
mentos e saberes que lhe acrescem, ademais, eficácia técnica,
uma vez que atua munido de parâmetros técnico-científicos
que vêm de fora e se lhe agregam. Esta, por sua vez, lhes
transmite legitimidade na aplicação em face da coisa pública
e do bem comum.
Neste contexto, é preciso que a Justiça e as leis se ade-
quem a essa criminalidade, tratando os criminosos com
maior rigidez, garantindo a sua efetividade e assegurando a

133
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

aplicação da justiça ambiental, ao alcançar uma justa solução


ao caso concreto e também produzindo efeitos para reprimir
futuros crimes.
Faz-se necessário, então, uma revisão da legislação
brasileira para que se atenda a demanda ambiental nacional
sem que seja desrespeitado o regime federativo constitu-
cional, estabelecendo normas de cooperação entre os entes
federados para que possam atuar em conjunto na proteção
do meio ambiente, como determina o artigo 23, incisos VI e
VII da Constituição Federal, acabando com os sérios danos
e desastres ambientais em um país em que uma de suas
maiores riquezas são seus recursos naturais.

134
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

QUESTÕES DE APRENDIZAGEM
UNIDADE 3
Questão 1
Sobre a temática da infração administrativa ambiental
e as sanções cominadas na Lei n. 9.605/98, assinale a opção
correta:
a) A multa administrativa é de natureza subjetiva, in-
dependentemente de culpa ou dolo.
b) A multa diária será aplicada somente quando for
comprovado o dolo.
c) O pagamento de multa imposta pelos Estados,
Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa
federal na mesma hipótese de incidência.
d) A celebração do termo de compromisso de reparação
ou cessação de danos não encerra a multa diária.
e) A multa será fixada com base na diferença entre o
maior e o menor salário mínimo vigente.

Questão 2
Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo:
a) Não se admite a proposta de aplicação de medida
alternativa restritiva de direitos ou multa.

135
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

b) A proposta de aplicação imediata de medida alter-


nativa restritiva de direitos ou multa, prevista na Lei dos
Juizados Especiais Criminais, poderá ser formulada, inde-
pendentemente da recuperação do dano ambiental.
c) A proposta de aplicação imediata de medida alter-
nativa restritiva de direitos ou multa, prevista na Lei dos
Juizados Especiais Criminais, fica a critério do representante
do Ministério Público, em face da extensão do dano.
d) A proposta de aplicação imediata de medida alter-
nativa restritiva de direitos ou multa, prevista na Lei dos
Juizados Especiais Criminais, somente poderá ser formu-
lada desde que tenha havido a prévia composição do dano
ambiental, salvo em caso de comprovada impossibilidade.
e) Admite-se a aplicação imediata de medida alternativa
restritiva de direitos e multa, prevista na Lei dos Juizados
Especiais Criminais, desde que o acusado apresente plano
de recuperação do dano ambiental.

Questão 3
Um Banco recebe pedido de financiamento da Empresa
Mascas e Mascotes Ltda., representada por seu sócio-ge-
rente, o Sr. Empédocles. Realizando diligências quanto à
regularidade cadastral do proponente, o Banco verifica a
existência de processos criminais por infração a normas pe-
nais que tratam da proteção ao meio ambiente. As anotações
indicam a persecução penal à pessoa jurídica, bem como ao

136
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

sócio-gerente. Indagado sobre as anotações, o Sr. Empédocles


informa que, segundo seu advogado, a pessoa jurídica está
infensa da responsabilidade penal e, quanto à pessoa física,
ainda não existe condenação, estando os fatos em fase de
apuração judicial. Alega que ingressou na empresa em data
posterior aos fatos narrados como ilícitos.
A partir do caso exposto, conclui-se que:
a) no sistema pátrio não há responsabilização criminal
de pessoa jurídica.
b) nos crimes ambientais sempre haverá concurso de
agentes, incluindo pessoa física sócia e pessoa jurídica.
c) os crimes ambientais permitem a responsabilidade
criminal da pessoa jurídica.
d) a responsabilidade da pessoa física por crimes am-
bientais é objetiva.
e) a pessoa física é a quem cabe somente responder
pelos crimes ambientais praticados.

Questão 4
A pena de multa nos crimes ambientais poderá ser
aumentada até:
a) quatro vezes, ainda que aplicada no valor máximo,
em virtude da situação econômica do réu.
b) cinco vezes, ainda que aplicada no valor máximo,
tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida.

137
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

c) três vezes, ainda que aplicada no valor máximo, tendo


em vista o valor da vantagem econômica auferida.
d) três vezes, se não aplicada no valor máximo, em
virtude da situação econômica do réu.
e) cinco vezes, ainda que aplicada no valor máximo,
em virtude da situação econômica do réu.

Questão 5
Considerando a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº
9.605/98), assinale a alternativa correta.
a) O crime de destruição de floresta de preservação
permanente não admite modalidade culposa.
b) Perseguir espécimes da fauna silvestre sem permis-
são, licença ou autorização da autoridade competente é ca-
racterizado como crime contra o meio ambiente.
c) Aquele que pratica experiências para fins didáticos ou
científicos com animais não incorre, em nenhuma hipótese,
na pena prevista para o crime de maus tratos aos animais.
d) A liberação da balões de festa junina capazes de pro-
vocar incêndios não caracteriza crime contra a fora.
e) A alteração do aspecto de edificação protegida — isto
é, tombada em função de seu valor histórico ou cultural —
caracteriza infração administrativa e enseja a responsabili-
dade civil para reparação do dano, mas não configura delito
de natureza criminal.

138
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

Questão 6
A Lei de Crimes Ambientais estabelece a responsabi-
lização na esfera cível, penal e administrativa, em caso de
infração cometida em face do meio ambiente. A respeito de
crimes ambientais, assinale a opção correta:
a) Em matéria ambiental, o julgamento pelo cometi-
mento de crimes comuns é de competência da justiça estadual
comum.
b) A responsabilização do poluidor pela indenização ou
reparação dos danos causados ao meio ambiente e a terceiros
afetados por sua atividade exige comprovação de culpa.
c) O poder de polícia exercido pela administração públi-
ca em matéria ambiental, desempenhado por profissionais e
técnicos de formação civil, tem caráter unicamente repressivo.
d) Processo em matéria ambiental, se administrati-
vo, deve ser conduzido harmonicamente, considerando as
garantias constitucionais; contudo, não deve prender-se à
razoabilidade e proporcionalidade, pois estas são exigências
dos processos judiciais.
e) Em um acidente nuclear, na manipulação de orga-
nismos geneticamente modificados ou até na devastação de
uma floresta, a cobrança da responsabilização ambiental tem
o caráter exclusivo de reparação do dano produzido.

139
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

Questão 7
Consoante dispõe o Código de Obras e Edificações de
Florianópolis (LC nº 60/2000), todas as obras de construção,
reconstrução, ampliação, reforma, trasladação e demolição
de qualquer edificação, ou alteração de uso, e ainda as obras
de movimento de terra, como cortes, escavações e aterros,
deverão ser precedidas dos seguintes atos administrativos:
a) licenciamento ambiental e alvará de autorização.
b) aprovação de projeto e licenciamento da obra.
c) autorização de obra e licenciamento ambiental.
d) alvará urbanístico e licenciamento ambiental.
e) licenciamento ambiental e aprovação urbanística.

Questão 8
O licenciamento ambiental é realizado quando:
a) houver instalação, ampliação e operação de empre-
endimentos ou atividades utilizadoras dos recursos naturais
consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras.
b) a Prefeitura do Município onde se implantará o em-
preendimento utilizador de recursos naturais julgar neces-
sária a realização desse procedimento.
c) o Ministério Público de Meio Ambiente determinar
tal procedimento, independentemente de o empreendimento
ou a atividade ser considerada perigosa.

140
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

d) a atividade ou o empreendimento que, sob qualquer


forma possa causar degradação ambiental, sofre alteração de
projeto social e trabalhista.
e) ocorrer a implantação de todo e qualquer tipo de
empreendimento ou atividade em área urbana com população
acima de 100000 habitantes.

Questão 9
Em relação ao estudo prévio de impacto ambiental e
licenciamento ambiental é correto afirmar:
a) Nos processos de licenciamento ambiental dos em-
preendimentos de carcinicultura na zona costeira, o órgão
licenciador deverá exigir do empreendedor, obrigatoriamente,
a destinação de área correspondente a, no mínimo, 50% da
área total do empreendimento, para preservação integral.
b) A instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente,
como a construção das hidrelétricas no Rio Parnaíba (PI),
necessitam da realização de estudo prévio de impacto am-
biental, não sendo, todavia, necessário dar publicidade a esse
estudo, por se tratar de obras de relevante interesse nacional.
c) Nos casos de licenciamento ambiental de empreendi-
mentos de significativo impacto ambiental, assim considerado
pelo órgão ambiental competente, com fundamento em estudo
de impacto ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, o

141
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e manutenção


de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral.
d) A supressão de vegetação secundária do Bioma Mata
Atlântica, em estágio avançado e médio de regeneração, para
fins de atividades minerárias, será admitida mediante adoção
de medida compensatória que inclua a recuperação de área
equivalente à área do empreendimento, procedimento que
substitui a realização de estudo prévio de impacto ambiental/
relatório de impacto ambiental (EIA/RIMA).
e) No que diz respeito à aquicultura, o órgão ambiental
licenciador não poderá exigir do empreendedor a adoção de
medidas de prevenção e controle de fuga das espécies culti-
vadas, como condicionantes das licenças emitidas, já que o
licenciamento se refere tão somente a própria atividade da
aquicultura.

142
–CRIMES AMBIENTAIS E LEGISLAÇÃO–

GABARITO
1 C 4 C 7 B
2 D 5 B 8 D
3 C 6 A 9 C

143
UNIDADE

4
DIREITO AMBIENTAL
E ECONÔMICO
CAPÍTULO

7
DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO SUSTENTÁVEL
E O DIREITO AMBIENTAL
ECONÔMICO
–DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL–

O conceito de desenvolvimento econômico faz surgir


a necessidade do direito do desenvolvimento sustentável,
ou direito econômico ambiental, que regulamenta políticas
de compatibilização da atividade econômica integradas ao
uso das potencialidades humanas e do meio ambiente sem
o seu exaurimento.
O termo sustentabilidade, conceitualmente, derivou-se
da expressão “desenvolvimento sustentável” que foi objeto de
tema discutido na Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente
e Desenvolvimento, na ONU, cujo relatório final foi apresen-
tado ao mundo em 1987, citado no Relatório Brundtland.
Nesse relatório, ficou assentado que uma série de medi-
das deveria ser adotada pelos países para a promoção de um
desenvolvimento sustentável, como por exemplo, garantia de
recursos básicos em longo prazo (água, alimentos, energia),
preservação da biodiversidade e dos ecossistemas, limitação
do crescimento populacional.
Em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas so-
bre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a ECO-92, foram
elaborados alguns documentos importantes que reforçavam
a necessidade de um desenvolvimento mais sustentável para
o planeta.
Dentre eles, destacam-se a Declaração do Rio sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento e a Agenda 21. O primeiro
é composto por 27 princípios e expõe que “busca estabelecer
um novo modelo de desenvolvimento, fundado na utilização
sustentável dos recursos ambientais, no respeito à capacidade

146
–DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL–

do Planeta [...] e na valorização da qualidade ambiental como


requisito imprescindível à qualidade de vida [...].
Juntamente com o segundo documento, a Agenda 21,
o termo Desenvolvimento Sustentável foi definitivamente
popularizado pela ampla cobertura da mídia à Conferência.
No entanto, naquela época, o uso indiscriminado deste termo
era criticado, sobretudo nos discursos governamentais e nos
projetos de desenvolvimento.
Percebe-se, pois, que o termo desenvolvimento sus-
tentável tem como característica semântica o substantivo
desenvolvimento e como adjetivação o termo sustentável.
Vale notar, a tentativa do legislador não foi a de coibir o
desenvolvimento econômico, mas buscar a conscientização
das pessoas de que a exploração da atividade econômica deve
ser feita com observância dos preceitos e princípios gerais
que preservam o meio ambiente como um todo.
A própria economia, fundamentada pela livre iniciativa e
pelo valor do trabalho humano, traz como um dos seus princí-
pios, a defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e
serviços e de seus processos de elaboração e prestação (con-
forme “caput” do art. 170 e inciso VI, Constituição Federal).
Em capítulo exclusivo, a Carta Federal de 1988 também
trouxe, em seu artigo 225, a imposição de ordem pública
de que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, considerando como bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo

147
–DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL–

para as presentes e futuras gerações. Esse capítulo demonstra


a preocupação do legislador constituinte com o desenvolvi-
mento sustentável que vincula a atividade econômica com
a precaução que se deve ter com relação ao meio ambiente.
A precaução tem a conotação de prevenir e proteger
a interação do homem ou sua atividade exploratória com o
meio ambiente. As normas de preservação e precaução da
atividade natural ou exploratória preveem a responsabilidade
das condutas de cada participante no evento danoso.
A ação natural do homem ou a exploração feita por ati-
vidade empresarial devem pautar-se pelos princípios consti-
tucionais e também pelas leis ambientais, pois as condutas e
atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar
os danos causados (conforme previsão ínsita no art. 225, §
3º, da Constituição Federal).
A atividade empresarial pode desenvolver-se de maneira
sustentável, ou seja, respeitando os princípios de prevenção
que estão inseridos no ordenamento jurídico. Buscou-se, den-
tro dos elos normativos, estancar os efeitos nocivos causados
ao meio ambiente pela ação do homem ou pela atividade
empresarial.
Os riscos da atividade empresarial são graduados por
meio de relatórios emitidos pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). As
empresas são obrigadas a relatar e entregar ao Ministério do

148
–DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL–

Meio Ambiente, Relatório Anual de Atividades Potencialmente


Poluidoras e Utilizadoras de Recursos Ambientais (RAPP).

7.1 Dimensões da Sustentabilidade


Dentro das dimensões da sustentabilidade, a ambiental
é aquela em que se observa a importância da proteção do meio
ambiente e, consequentemente do Direito Ambiental, tendo
este, como finalidade precípua, garantir a sobrevivência do
planeta mediante a preservação e a melhora dos elementos
físicos e químicos que a fazem possível, tudo em função de
uma melhor qualidade de vida.
A dimensão social2 da sustentabilidade é conhecida
como o capital humano; e consiste no aspecto social relacio-
nado às qualidades dos seres humanos. Essa dimensão está
baseada num processo de melhoria da qualidade de vida da
sociedade, pela redução das discrepâncias entre a opulência
e a miséria, como nivelamento de padrão de renda, acesso à
educação, moradia, alimentação, ou seja, da garantia mínima
dos direitos sociais previstos na Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988.
Assim, para garantia dessa dimensão social, deve ser
garantido o ‘mínimo existencial’, que deve ser identificado
como o núcleo sindicável da dignidade humana, podendo
ser exigido em suas duas dimensões: a) o direito de não ser
privado do que se considera essencial à conservação de uma
existência minimamente digna; e b) o direito de exigir do
Estado prestações que traduzam esse mínimo.

149
–DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL–

A terceira dimensão é a econômica, sobre a qual será


feito o enfoque principal deste artigo científico, que tem a pre-
tensão de apresentar alguns instrumentos importantes para o
alcance dessa dimensão. Com a crise ambiental, a economia
se vê obrigada a assumir sua responsabilidade na crescente
degradação ecológica e na escassez de recursos naturais.
Importa considerar, portanto, que a dimensão econômi-
ca está preocupada com o desenvolvimento de uma economia
que tenha por finalidade gerar uma melhor qualidade de
vida para as pessoas, com padrões que contenham o menor
impacto ambiental possível.
Essa dimensão passou a ser considerada no contexto da
sustentabilidade, primeiro porque não há como retroceder nas
conquistas econômicas (de desenvolvimento) alcançadas pela
sociedade mundial; e segundo, porque o desenvolvimento eco-
nômico é necessário para a diminuição da pobreza alarmante.

7.2 Políticas
A inércia das políticas é o principal entrave para os
governos atuais no cumprimento das leis e execução dos
planejamentos de desenvolvimento sustentável. Existem
ações nacionais e internacionais, que foram bem-sucedidas,
dentre elas, podemos citar, algumas punições no ano de 2008,
contra crimes de desmatamento, biopirataria, e exploração
indiscriminada de recursos da fauna.
As cidades crescem indiscriminadamente sem qualquer
planejamento urbano, favorecendo a formação de favelas, ocu-
pação descontrolada das áreas de preservação, que ocasionam

150
–DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL–

em grandes catástrofes, como os desmoronamentos de morros,


alagamentos, enchentes e poluição de rios e nascentes.
A falta de aplicação e acompanhamento das políticas
ambientais e habitacionais proporciona para nossas grandes
cidades uma perda de qualidade de vida e um desequilíbrio
social e sustentável.
Para que uma sociedade seja sustentável, é necessário
haver a integração do desenvolvimento com a conservação
ambiental. A política econômica pode ser um eficaz instru-
mento para a sustentação dos ecossistemas e dos recursos
naturais. Na falta de incentivos econômicos adequados, as
políticas e as legislações que visam a proteção do meio am-
biente e a conservação de recursos serão desconsideradas.
Os sistemas convencionais costumam lidar com o meio
ambiente e suas funções como sendo ilimitados ou gratuitos,
desta forma, incentivam a exaustão dos recursos e a degra-
dação dos ecossistemas.
Todas as economias dependem do meio ambiente como
fonte de serviços de sustentação da vida e de matérias-primas,
portanto, os mercados e as economias planejadas deverão se
conscientizar do valor desses bens e serviços, ou dos custos
que a sociedade terá, caso os recursos ambientais sejam
reduzidos ou os serviços, prejudicados.
Até a Conferência das Nações Unidas para o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) a ECO-92, o
pensamento brasileiro considerava o lixo um problema mu-
nicipal, de responsabilidade das prefeituras.

151
–DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL–

Hoje, a questão do lixo no Brasil é pauta urgente para


o poder público, empresas privadas e para a própria socie-
dade civil organizada. No bojo dos números do IBGE, se
escondem algumas iniciativas que pretendem transformar a
natureza humana através da filosofia dos três “Rs”: Reduzir/
Reciclar/Reutilizar.
A redução é uma forma de reduzir o consumo exagera-
do e quando for consumir, fazer de maneira mais eficiente.
A reciclagem é um termo utilizado para quando o material
pode ser refeito por indústrias especializadas, tornando um
produto novo que já foi utilizado e descartado, bom para uso.
A reciclagem promove economia de recursos naturais, dimi-
nuição nos gastos com limpeza pública, nos tratamentos das
doenças, no controle da poluição e na construção de aterros,
além de diminuir o acúmulo de dejetos. Poupa também a
natureza da extração inesgotável de seus recursos.
A reutilização é uma forma de evitar o desperdício, que
é o meio irracional de se utilizar recursos e produtos, que po-
dem ser reutilizados antes de serem jogados fora. Segundo o
Instituto Ethos no artigo Mostra de Tecnologias Sustentáveis
2009, há que se pensar em tecnologias economicamente
corretas e que não depredem o meio ambiente, as chamadas
tecnologias sustentáveis que compreendem metodologias,
técnicas, sistemas, equipamentos ou processos economica-
mente viáveis e passíveis de serem reproduzidos e aplicados,
de forma a minimizar os impactos negativos e a promover
impactos positivos no meio ambiente, na qualidade de vida
das pessoas e na sustentabilidade da sociedade.

152
–DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL–

Por sua vez os governos têm grande responsabilida-


de no que diz respeito ao destino do lixo, a ele compete:
Conscientizar a população sobre o lixo e estimular mudanças
de atitude; fazer e usar os instrumentos que incentivem a re-
dução; usar seu poder de compra e adquirir matérias primas
recicladas ou componentes reciclados; valorizar e apoiar os
catadores e cooperativas de coleta de lixo e reciclagem; respon-
sabilizar os produtores que não coletam devidamente o lixo
que produzem; realizar serviços eficientes de limpeza pública.
Para isso, faz-se necessário promover a consciência
ambiental através do desenvolvimento sustentável, consu-
mindo com menos desperdício, reutilizando e reciclando seus
recursos. A conscientização e a prevenção são essenciais para
garantir o desenvolvimento sustentável e diminuir o impacto
causado ao meio ambiente e a todas as formas de vida. Mas
o grande desafio é que o ser humano só vai dar o tratamento
adequado ao lixo que produz, quando reciclar seu modo de
viver, produzir e consumir.

153
CAPÍTULO

8
INSTRUMENTOS DE
POLÍTICAS PÚBLICAS
AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

A ideia do direito ambiental brasileiro é que ele está


intimamente ligado ao desenvolvimento econômico e com o
desenvolvimento social e não apenas em matéria de preser-
vação ambiental propriamente dita. O direito ambiental não
foi criado apenas para proteger, preservar o meio ambiental.
Esta seria uma visão equivocada, pois o direito am-
biental brasileiro, em momento algum, quer frear o desen-
volvimento sócio econômico. Pelo contrário, se frear o de-
senvolvimento sócio econômico, com certeza, estará gerando
indiretamente uma maior agressão ao meio ambiente, pois
atividades irregulares começarão a aparecer.
O direito ambiental visa compatibilizar o desenvol-
vimento econômico com a preservação do meio ambiente,
gerando também um desenvolvimento social. Este é o elo do
direito ambiental com o direito econômico.
A necessidade do equilíbrio entre “crescimento eco-
nômico”, “preservação ambiental” e “equidade social” está
expressa na Constituição Federal de 1988. Pode-se destacar
seu artigo 170, que enumera os fundamentos e princípios da
ordem econômica:
Art. 170 da CF: A ordem econômica, fundada na valori-
zação do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios:
I. soberania nacional;
II. propriedade privada;
III. função social da propriedade;

155
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

IV. livre concorrência;


V. defesa do consumidor;
VI. defesa do meio ambiente, inclusive mediante trata-
mento diferenciado conforme o impacto ambiental
dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação;
VII. redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII. busca do pleno emprego;
IX. tratamento favorecido para as empresas de pe-
queno porte constituídas sob as leis brasileiras
e que tenham sua sede e administração no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício
de qualquer atividade econômica, independentemente de au-
torização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

8.1 Eficiência Econômica e o Direito Econômico


A economia é uma ciência que estuda a atividade pro-
dutiva, as variações e combinações nas alocações dos fatores
de produção. Já a sociedade moderna impõe uma necessi-
dade ilimitada de consumo, onde os recursos são limitados,
levando à escassez dos recursos.
Sendo assim, a economia de bem-estar levanta questões
sobre a forma de funcionamento da economia, quanto satis-
fatório é seu sistema social de distribuição, o que pode ser
feito a respeito de uma melhora no bem-estar total e o grau
de anulação social dos resultados do laissez-faire (liberalismo
econômico) para promover o bem-estar.

156
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

A exploração econômica deve se dar, assim, dentro dos


limites da capacidade dos ecossistemas, entendida esta como
aquela que resguarde a renovação dos recursos renováveis
e a exploração não predatória dos recursos não renováveis,
de forma que possa servir às gerações futuras.
Não há como haver um crescimento sustentável com
a degradação do meio ambiente, pois aqui um melhoraria
e outro regrediria, não havendo uma alocação eficiente dos
recursos, onde uma capacidade de carga dos ecossistemas
fixaria o limite ao crescimento econômico. É necessário ajus-
tar os ciclos econômicos, atribuindo preços de mercado à
natureza, com a esperança de que as mercadorias poderão
continuar circulando de maneira contínua em torno da esfera
(perfeita) da ordem econômica.
Hoje, o direito econômico pode ser entendido como
uma soma de elementos normativos vinculados a uma orga-
nização e planejamento da economia, pois há uma crescente
interdependência entre Estado e economia, consequente-
mente, uma necessidade de união entre o direito público e
privado, fortalecendo a atuação política por meio do direito.
E uma política econômica eficiente não ignora uma política
de proteção ambiental.
É, sem dúvida, o desejo de cada cidadão que a economia
se desenvolva, mas este desenvolvimento só se dá se não hou-
ver uma separação da sociedade em uma esfera econômica
e uma esfera política.
Sendo assim, o direito econômico se funde às ciências
econômicas, porque seu papel político é objetivar o bem

157
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

comum da sociedade, transitando nas mais distintas esferas


de relacionamento social.
O direito econômico garante a iniciativa econômica e
implementa o bem-estar da sociedade. O direito econômico
não se resume em normas onde o ideal e o real se separam,
constituindo um mundo do “dever ser”, mas sim, se carac-
teriza na composição da ação, no âmbito da atuação de fazer
o mundo ideal o real, com espaço comunicativo de concre-
tização da norma. Visa a manutenção do sistema produtivo
e consequentemente com a desenvolvimento econômico.
Não pode ser compreendido apenas como direito da
economia, pois não está isolado, influenciando também a
produção da vida social. Neste prisma, para a Economia
Ambiental o equilíbrio ecológico é tido como um bem comum
e, por assim ser, deve ser tratado como todos os outros bens
que proporcionam utilidade à população.
A Economia Ambiental e a teoria econômica tradi-
cional não se contrapõem. A problemática da Economia
Ambiental gira em torno do fato de que há necessidade de
se fazer escolhas; pode-se optar por uma melhor qualidade
de vida no que se refere ao consumo e produção de bens e
serviços industrializados, diminuindo a qualidade ambiental,
ou ao contrário, melhorar qualidade ambiental com perda
na qualidade de bens e serviços. Ideal seria haver um meio
termo, uma combinação entre a economia e a ecologia para
se chegar a uma sadia qualidade de vida, eis que é o fim que
ambas almejam.

158
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

Nota-se, entretanto que o problema maior paira sobre


o inadequado preço de mercado que é atribuído aos recursos
advindos da natureza. Se, estes custos fossem captados no
sistema de mercado, e lhe fosse atribuído valor econômico
significativo, com certeza o desperdício seria bem menor.
Fica evidente que a Economia Ambiental procura fazer
a ligação entre um sistema econômico produtivo e a natureza,
para assim concretizar o equilíbrio entre a degradação dos
recursos ambientais.
A teoria econômica, pelo prisma da Economia
Ambiental, assevera que a deterioração do meio ambiente
acontece pelo fato de que há “falhas no mercado”, assim,
procura adaptar ao meio produtivo o meio ambiente, con-
jugando o mercado e a natureza.
Essas falhas são fruto do errôneo valor de mercado aufe-
rido aos recursos naturais, pois a maioria dos bens ambientais
utilizados no processo industrial não possuem valor econômico,
não podendo ser introduzidos nos custos das empresas.

8.2 Instrumentos do Direito Econômico


O tratamento da questão do uso de instrumentos eco-
nômicos pelas normas de proteção ambiental exige que se
compreendam, inicialmente, os motivos que ensejam a disci-
plina legal da proteção ambiental e quais são as estratégias e
modelos de regulação disponíveis no sistema jurídico para a
consecução dos objetivos dessa disciplina. A partir da discus-
são de tais aspectos, podem ser analisadas as possibilidades

159
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

de utilização dos instrumentos econômicos e tratar da sua


experiência no Direito brasileiro.
As normas jurídicas constituem instrumentos que pos-
sibilitam ao Estado “intervir” na atividade econômica, im-
plementando o desenvolvimento sustentável.
Em uma sociedade onde atua o poder econômico pri-
vado, corporificando interesses individuais e de grupos. São
fundamentais para que o Estado possa buscar uma forma
de equilíbrio nas relações sociais e obter o bem-estar da
coletividade.
É através de normas do Direito Econômico que o Estado
pode estipular, por exemplo, sanções premiais para as em-
presas que respeitam o meio ambiente.
Os instrumentos econômicos recentemente introduzidos
na Política Nacional do Meio Ambiente são a nova fronteira
de ampliação das normas legais de proteção dos recursos
naturais.
Foram aprovadas duas normas relativas à matéria (Lei
11.828/2008, que trata de medidas tributárias aplicáveis a
doações destinadas a prevenção, monitoramento e combate
ao desmatamento, e Lei 12.512/2011, que institui o Programa
de Apoio à Conservação Ambiental – o Bolsa Floresta).
Diversas proposições estão em discussão na Câmara dos
Deputados sobre Pagamento por Serviços Ambientais (PSA)
e Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação
Florestal (REDD).
Frente à dificuldade de fiscalização e controle das ati-
vidades potencialmente degradadoras do meio ambiente,

160
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

constata-se a urgente necessidade de implementação de


mecanismos complementares para a efetividade das políticas
econômicas ambientalmente corretas.
Um dos mecanismos mais estudados atualmente é a
utilização de instrumentos econômicos de proteção ambiental,
com o objetivo de incitar a adoção de gestões “ecológicas”.
Tais instrumentos podem ser utilizados como forma de:
a) incentivar a preservação ambiental, como nos casos
de concessão de benefícios econômicos àqueles que
preservam o meio ambiente (ex: servidão ambiental;
ICMS ecológico);
b) desestimular atividades poluidoras, por exemplo
através do aumento de tributos (extrafiscalidade),
ou redução de subsídios governamentais;
c) assegurar a reparação de danos ambientais através
da exigência de garantias (ex: seguro ambiental).

8.2.1 Instrumentos de controle e instrumentos


econômicos como estratégia de regulação
ambiental
A atenção crescente conferida aos problemas ambientais
nas duas últimas décadas tem melhorado, dramaticamente,
a maneira como as questões ambientais são tratadas pelos
governos e pelos agentes econômicos em todo o mundo. A
deterioração da qualidade ambiental neste período teria sido
muito pior se os governos não tivessem empregado regras
e incentivos mais adequados para enfrentar os problemas
ambientais.

161
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

Os governos precisam estabelecer objetivos realistas e


escolher os instrumentos mais adequados para enfrentar os
problemas prioritários e suas causas.
Antes de decidir quais são os objetivos mais realistas,
os formuladores das políticas precisam estar familiarizados
com os instrumentos disponíveis para refrear a poluição e
a degradação dos recursos naturais e avaliar a viabilidade
administrativa e financeira de modos alternativos de atingir
os resultados desejados em termos de qualidade e controle
do meio ambiente.
A formulação de metas e objetivos ambientais de ordem
prática também é um processo de construção de consenso
que requer a consulta aos interessados pertinentes.
Muitos tipos de instrumentos, com grau variável de su-
cesso, têm sido usados por vários países em decisões relativas
à questão ambiental. Nos problemas de poluição industrial e
urbana — a chamada agenda marrom — esses instrumentos
podem ser divididos em dois tipos principais: os instrumentos
reguladores, ou instrumentos do tipo comando e controle
(CEC), e instrumentos econômicos ou instrumentos de mer-
cado (IM). Outros instrumentos, como a ampla divulgação
ao público, a informação e a educação vêm sendo cada vez
mais usados nos tempos recentes.
O melhor instrumento será aquele que atinge os obje-
tivos perseguidos com o menor custo social, isto é, o custo
incorrido pela sociedade para atingi-los. Em outras palavras,
o instrumento que apresente a menor relação custo-benefí-
cio para a sociedade e, ao mesmo tempo, se articule com os

162
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

demais objetivos das políticas públicas num determinado


país, sobretudo aquelas relacionadas ao desenvolvimento
sustentável.
Deve-se ponderar, no entanto, que o sucesso de determi-
nada política ambiental se baseia numa adequada proporção
e relação entre os dois tipos de instrumentos.
Os Instrumentos de controle, ou comando-controle
(CEC), são definidos como aqueles que fixam normas, regras,
procedimentos e padrões determinados para as atividades
econômicas a fim de assegurar o cumprimento dos objetivos
da política em questão, por exemplo, reduzir a poluição do
ar ou da água.
São denominados, por alguns autores de instrumentos
de controle direto, na medida em que se baseiam em pres-
crições de cunho administrativo e no poder de polícia e cujo
descumprimento acarreta a imposição de sanções de cunho
penal e administrativo.
Os exemplos mais típicos são as normas de controle
da poluição atmosférica ou da água que estabelecem deter-
minados padrões, as normas de zoneamento, estabelecendo
restrições para a utilização de áreas protegidas e alguns pro-
cedimentos como o licenciamento ambiental.
A fixação dos padrões referidos dá-se com base em
diferentes critérios. Fala-se em padrões de emissão quando
a norma impõe a limitação de emissões de diferentes clas-
ses de poluentes por fonte poluidora da atmosfera ou da
água. Padrões de qualidade, por sua vez, estabelecem limites
máximos para a presença de determinadas substâncias na

163
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

atmosfera e na água ou ainda no tocante aos decibéis para


os ruídos.
A fixação dos dois tipos de padrões deve ser comple-
mentar, pois, às vezes, o acúmulo de poluentes emitidos
dentro dos limites de emissão para as fontes individuais pode
resultar no desrespeito aos padrões gerais de qualidade. A
Resolução CONAMA n. 357/2005 é um exemplo de norma
fixadora de padrões de emissão e de qualidade das águas
doce, salinas e salobras.
A fixação de padrões pode ser também tecnológica e,
então, o critério utilizado é referido como “melhor tecnolo-
gia prática disponível”, que procura controlar os padrões de
emissão e sua redução dentro das possibilidades tecnológicas
do momento e, ao mesmo tempo, factíveis para as fontes
poluidoras.
Note-se que esse critério é adotado pelo Decreto n.
8.468/76, do Estado de São Paulo, que, com sucessivas emen-
das recebidas ao longo do tempo, estabelece padrões de
emissão para diferentes poluentes e, para os demais, indica
o sistema de controle da poluição do ar baseados na melhor
tecnologia, prática disponível em cada caso, a ser analisada e
aprovada pelo órgão estatal de controle, no caso, a CETESB.
A Lei Estadual n. 11.271/2002 também utiliza o critério
para a ampliação, instalação e alterações de processos produ-
tivos de estabelecimentos industriais na Região Metropolitana
de São Paulo.
A fixação de padrões de emissão e mesmo a indicação
da melhor tecnologia prática disponível pelas autoridades

164
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

competentes é objeto de diversas críticas. A exigência de uma


pesada estrutura de fiscalização é frequente. Mas pode-se
apontar outras, como as diferenças entre plantas industriais,
cujos padrões de emissão são praticamente incomparáveis.
Inclusive, haveria uma tendência das normas a exigir pa-
drões tecnológicos e de emissão mais rígidos das plantas
novas quando do seu licenciamento, tornando a entrada nos
mercados mais difícil.
Outra importante crítica, no entanto, relaciona-se à de-
pendência do Governo em relação ao setor empresarial para
a obtenção das informações relativas aos níveis de emissão
e às possibilidades de sua redução. Os empresários não são
incentivados a fornecer as informações capazes de levar a
autoridade pública a fixar padrões mais restritivos.
Além disso, o sistema não cria incentivos para que o
agente capaz de reduzir suas emissões, além do exigido pela
legislação, o faça. Finalmente, aponta-se o custo implicado
na criação de uma estrutura adequada para aplicação das
regras de controle, que exige uma intensa fiscalização.
Já os instrumentos econômicos são definidos como
aqueles que atuam diretamente nos custos de produção e
consumo dos agentes cujas atividades estejam inseridas nos
objetivos da política em questão. Os exemplos são os tribu-
tos em geral e os preços públicos, que podem ser criados,
majorados ou reduzidos.
As multas, porém, não se enquadram na categoria dos
instrumentos econômicos na medida em que constituem

165
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

uma sanção, normalmente associada ao descumprimento


de instrumentos de controle.
Aquele que degrada o meio ambiente poderá ser respon-
sabilizado nos âmbitos civil, penal e administrativo. Quem
polui deve pagar, de acordo com o princípio da reparação.
Todavia, o princípio do poluidor-pagador também tem como
objetivo evitar a concretização do dano, auxiliando na pre-
venção e na precaução.
Desta forma, as multas ambientais (que devem ter um
valor elevado para que surtam o efeito desejado) passam a
ter uma finalidade dissuasiva, tendo em vista que a obrigação
de pagar pelo dano causado atua, ou deveria atuar, como in-
centivo negativo face a todos aqueles que pretendem praticar
uma conduta lesiva ao meio ambiente.
A previsão de aplicação de multas ambientais de valores
irrisórios repercute negativamente na melhor interpretação
do princípio do “poluidor-pagador”. Nesses casos, o princípio
do poluidor-pagador autorizaria o direito de poluir àqueles
que pagam, legitimando dessa maneira comportamentos
ecologicamente discutíveis.
Sob essa equivocada perspectiva, o princípio do polui-
dor-pagador incentivaria os agentes poluidores a atuar inade-
quadamente. Para se evitar que as próprias multas legitimem
comportamentos não desejados pelo Poder Público, recomen-
da-se a elevação dos seus valores a patamares hábeis a efeti-
vamente inibir atuações contrárias à tutela do meio ambiente.
Essa singularidade demonstra que a multa ambien-
tal somente cumpre o papel de instrumento econômico de

166
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

preservação ambiental quando apresenta marcante viés


inibitório.
Suponhamos que para a instalação de filtros antipo-
luentes um determinado empreendimento deva investir um
valor X. Suponhamos ainda que uma determinada norma
ambiental estipule pena de multa de X! 1 O para a poluição
do ar. Ora, nesse caso seria mais vantajoso economicamen-
te para o referido empreendedor deixar de introduzir os
filtros antipoluentes. Na eventual hipótese de a poluidora
ser apenada com a irrisória multa de X/10, ainda perceberá
uma enorme vantagem financeira em relação ao custo de
instalação dos filtros.
Todavia, se no mesmo exemplo a multa ambiental pu-
desse alcançar o valor de 15X, o empreendedor analisaria
seu risco financeiro com mais cautela e seria “incentivado”
pela norma a adquirir os filtros antipoluentes, fazendo valer
o princípio do poluidor-pagador.
As multas ambientais de valor hábil a inibir compor-
tamentos prejudiciais ao meio ambiente, associada à efetiva
atuação fiscalizadora do Estado tornam-se, portanto, instru-
mentos essenciais para a internalização das externalidades
ambiental, ou seja, para que os custos sociais externos decor-
rentes da poluição sejam incluídos nos custos de produção
da empresa degradadora.
Deve-se ponderar, no entanto, que a maioria dos instru-
mentos de controle também atua sobre os custos de produção
e consumo dos agentes. Afinal, normas fixando padrões de
emissão que exijam a substituição de equipamento pelas

167
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

unidades de produção ou determinem a adoção de filtros ou


outras soluções inseridas no espectro da melhor tecnologia
disponível e ainda os processos de licenciamento representam
custos de grande magnitude em determinadas atividades ou
projetos e, na medida em que resultam em melhor desempe-
nho ambiental das unidades de produção pode-se dizer que
promovem a internalização de custos ambientais.
Nesse sentido, a definição dos instrumentos econômicos
deve enfatizar o caráter indutor dos comportamentos dese-
jados pela política ambiental, por oposição aos instrumentos
de controle. Esse caráter indutor se dá a partir da imposição
de tributos e preços públicos, da criação de subsídios ou ain-
da, da possibilidade de transação sobre direitos de poluir ou
créditos de não-poluição.

8.3 Tributação Ambiental e o Desenvolvimento


Sustentável
A tributação ambiental pode ser analisada como instru-
mento para certa finalidade, como geração de recursos para
custear serviços públicos de cunho ambiental e orientação
da consciência e do comportamento do contribuinte para um
meio ambiente voltado para a sustentabilidade.
Nesse ponto, o direito tributário mostra-se como impor-
tante instrumento a ser utilizado pelo Estado, como gestor
ambiental, para alcançar a proteção do meio ambiente e
promover a sustentabilidade, uma vez que, valendo-se da
função extrafiscal dos tributos, incentiva condutas que este-
jam sintonizadas com práticas conscientes e ambientalmente

168
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

adequadas, compatibilizando-as com o desenvolvimento


econômico.
Considerando a estreita relação entre o meio ambiente
e a atividade econômica, no segundo momento, verifica-se o
papel do Estado como regulador atuante na ordem econômi-
ca, com vistas a cumprir seu dever constitucional de proteger
o meio ambiente e promover desenvolvimento sustentável,
por via de políticas públicas intervencionistas.
Entre essas formas de intervenção, como instrumento
jurídico-econômico, o tributo, por meio de uma tributação
ativa, surge como instrumento eficiente para proporcionar ao
Estado recursos para agir (tributação fiscal), bem como para
estimular condutas não poluidoras e desestimular as poluidoras
(tributação extrafiscal)., posta-se como importante mecanismo
de indução dos comportamentos desejáveis e adequados ao
meio ambiente, exsurgindo, então, a tributação ambiental.
A fiscalidade expressa o poder dos entes federados
(União, Estado e Municípios) de criar tributos necessários ao
custeio de serviços públicos. A cobrança desses tributos, en-
quanto elemento exclusivo de receita pública, caracteriza sua
função fiscal, assim entendida, como aquela voltada apenas
à arrecadação dos recursos necessários ao desenvolvimento
das atribuições legais do Estado. Neste particular, a cobrança
de tributos ambientais pode ser justificada pela necessidade
de promover diversos investimentos ambientais e revigorar
o poder de polícia ambiental.
O uso da extrafiscal idade, que nada mais é do que
um incentivo de condutas que estejam sintonizadas com a

169
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

preservação do meio ambiente, já vem sendo utilizado com


sucesso nas políticas públicas de outras nações.
Parte desta ideia, que a ordem econômica e a defe-
sa ambiental, podem ser implantadas de forma voltada ao
desenvolvimento sustentável, pela extrafiscal idade, onde
podem ser adotadas de forma a incentivar, ora desestimular,
atuar por meio de reduções, isenções, suspensões, tributação
progressiva ou até mesmo restituições.
A aplicação do ICMS (Imposto sobre operações relativas
à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de
transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação),
como ICMS Ecológico, por exemplo, vem nesse contexto
angariar valor econômico para atividade com viés para pre-
servação do meio ambiente.
“ICMS ecológico” é a expressão utilizada para denomi-
nar o repasse de parte do imposto sobre operações relativas
à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços
de transporte interestadual e intermunicipal e de comuni-
cação, arrecadado pelos estados, aos seus municípios que
respeitem critérios de preservação ambiental. O mecanismo
teve origem a partir da reivindicação de municípios com
unidades de conservação em seus territórios, áreas onde o
livre desenvolvimento de atividades produtivas é vedado.
Este imposto, tido como de caráter sustentável, é um
avanço promissor para o país,. Isto porque vem incentivar
as iniciativas de municípios na conservação de espaços na-
turais, bem como em projetos de saneamento ambiental.

170
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

Os recursos advindos deste tipo de iniciativa, participam de


forma significativa na receita destinada a economia local.

8.4 Desenvolvimento Sustentável e a Educação


Ambiental
A sustentabilidade socioambiental pressupõe um ponto
de equilíbrio entre o desenvolvimento social, o crescimento
econômico e a utilização dos recursos naturais a partir de um
planejamento adequado que respeite os interesses culturais,
éticos e de vida digna das atuais e futuras gerações.
O desenvolvimento sustentável deve estar aliado à edu-
cação ambiental. A família e a escola devem ser os indutores
da educação para preservar o ambiente natural.
A criança, desde cedo, deve aprender a cuidar da nature-
za. Na criança, não há uma essência acabada e intransferível
a ser potencializada, mas algumas virtualidades que devem
ser orientadas, visando a plenitude pessoal desejável. Como
também seria interessante que as crianças conhecessem leis
municipais de proteção ao meio ambiente. No seio familiar e
na escola é que se deve iniciar a conscientização do cuidado
com o meio ambiente natural.
É fundamental esta educação ambiental, pois respon-
sabilizará o cidadão para o resto da vida. Uma das formas de
levar educação ambiental à comunidade é pela ação direta do
professor na sala de aula e em atividades extracurriculares.
Através de atividades como trabalhos escolares, pesquisas e
debates, os alunos poderão entender os problemas que afetam

171
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

a comunidade onde vivem; instados a refletir e criticar as


ações de desrespeito à ecologia.
Nesse sentido, o Deputado Federal Leonardo Vilela
apresentou a indicação nº 624/2007 à Mesa da Câmara dos
Deputados, solicitando a inclusão da disciplina Educação
Ambiental no currículo escolar do ensino fundamental das
escolas de ensino público e particular.
A relação entre meio ambiente e educação assume um
papel cada vez mais desafiante, buscando a emergência de
novos saberes para apreender processos sociais que se tornam
cada vez mais complexos diante dos riscos ambientais que se
intensificam. Conforme afirma Paulo de Bessa Antunes: “O
Direito Ambiental busca o reconhecimento do Ser Humano
como parte integrante da Natureza. Reconhece, também,
como é evidente, que a ação do Homem é, fundamentalmente,
modificadora da Natureza, culturalizando-a”.
A educação ambiental representa um instrumento es-
sencial para superar os atuais impasses sociais. É preciso
que se crie uma ética que considere todos os seres na sua
diversidade, como parte de um mesmo mundo que precisa
ser respeitado. Nesse diapasão, a educação ambiental deve
ser, acima de tudo, um ato político voltado para a transfor-
mação social.
O seu enfoque deve buscar uma perspectiva de ação
holística que relaciona o homem, a natureza e o universo,
tomando como referência que os recursos naturais se esgotam
e que o principal responsável pela sua degradação é o homem.

172
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

QUESTÕES DE APRENDIZAGEM
UNIDADE 4
Questão 1
São alguns dos princípios econômicos ecológicos ou
de economia ecológica que orientam e são orientados pelo
princípio normativo do desenvolvimento sustentável previsto
no art. 225 da Constituição Federal, com EXCEÇÃO:
a) Exploração e Concentração equilibrada de capitais
naturais renováveis, de modo que taxas de extração não
excedam taxas de regeneração.
b) Progresso tecnológico orientado pelo aumento da
eficiência.
c) Limitação coordenada da escala de atividades hu-
manas a nível compatível com a sustentabilidade ambiental
e o desenvolvimento econômico.
d) Desgaste progressivo dos bens não duráveis ou de
capital não renovável, sem criação de substitutos renováveis.
e) Aceleração dos processos de controle de emissão de
resíduos, que não devem exceder a capacidade assimilativa
do ambiente.

Questão 2
Tendo em vista que, conceitualmente, políticas públicas
são tidas como intervenções do poder público planejadas

173
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

para o enfrentamento de problemas socialmente relevantes,


julgue os seguintes itens à luz da Constituição Federal de
1988 (CF). Segundo a CF, o poder público deve promover
a educação ambiental em todos os níveis de ensino a fim
de assegurar a efetividade do direito do cidadão a um meio
ambiente ecologicamente equilibrado.
(  ) Certo
(  ) Errado

Questão 3
No tocante aos instrumentos de incentivo à proteção do
meio ambiente, analise os itens abaixo e responda em seguida:
I. O ordenamento jurídico admite a adoção de meca-
nismos de incentivo à conservação ambiental, tais
como pagamento ou incentivo a serviços ambien-
tais, com vistas à promoção do desenvolvimento
ecologicamente sustentável e à implementação de
práticas produtivas sustentáveis.
II. O pagamento por serviços ambientais fundamen-
ta-se na função socioambiental da propriedade,
estimulando a produtividade agropecuária e flo-
restal e, ao mesmo tempo, a redução dos impactos
ambientais dela decorrentes.
III. O pagamento por serviços ambientais fundamen-
ta-se nos princípios da prevenção e do desenvol-
vimento sustentável.

174
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

IV. Tendo em vista a competência para instituir a


Política Nacional do Meio Ambiente e os amplos
reflexos na Economia, somente a União pode auto-
rizar a criação e a implementação de instrumentos
econômicos destinados a incentivar a conservação
de recursos ambientais. Responda, agora:
a) Todos os itens estão corretos
b) Os itens III e IV estão errados
c) Somente o item IV está errado
d) Somente os itens li e III estão corretos

Questão 4
A ordem econômica, tem por princípio, a defesa do
meio ambiente, a qual será concretizada:
a) pela implementação técnica dos processos produtivos.
b) de forma igualitária, independentemente da ativi-
dade exercida.
c) por meio de ações sociais voltadas ao desenvolvi-
mento econômico da população.
d) mediante tratamento diferenciado conforme o im-
pacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos
de elaboração e prestação.

175
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

e) mediante plano de ação econômica com diretrizes


estabelecidas para a utilização de recursos naturais segundo
a demanda do mercado consumidor.

Questão 5
O conceito de desenvolvimento sustentável se firma em
três pilares básicos: o crescimento econômico, a equidade
social e o equilíbrio ecológico. Nesse contexto, um tema re-
corrente na contemporaneidade é a formulação de políticas
públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável. Sobre
essa temática, assinale a alternativa INCORRETA quanto às
dimensões da sustentabilidade.
a) A sustentabilidade social trata de assuntos como a
criação de postos de trabalho que permitam a obtenção de
uma renda individual adequada à melhor condição de vida e
maior qualificação profissional e produção de bens dirigida
prioritariamente às necessidades básicas sociais.
b) A sustentabilidade econômica está relacionada à
redução dos abismos norte/sul, por meio de um fluxo per-
manente de investimentos públicos e privados.
c) A sustentabilidade ecológica diz respeito à qualidade
do meio ambiente e à preservação das fontes de recursos
energéticos e naturais.
d) A sustentabilidade espacial está associada a uma
maior equidade na distribuição de renda e bens.

176
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

e) A sustentabilidade cultural se destina a evitar con-


flitos culturais.

Questão 6
Na evolução da normativa do Direito Ambiental
Internacional, pode-se identificar documentos elaborados
por Comissões, como ocorreu com a Comissão da ONU so-
bre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Esses documentos
são posteriormente discutidos para, eventualmente, serem
incorporados em Declarações de Princípios das Conferências
sobre Meio Ambiente. Esse processo pode ser identificado
quando da consagração do princípio do desenvolvimento
sustentável, respectivamente, pelo:
a) Programa da Agenda 21 e Declaração do Rio/92
b) Plano de vigia Earthwatch e Cúpula de Johannesburgo
c) Relatório Brundtland e Declaração do Rio/92
d) Relatório Brundtland e Declaração de Estocolmo
e) Plano de vigia Earthwatch e Declaração de Estocolmo

Questão 7
Segundo a Organização das Nações Unidas – ONU –,
o conceito de desenvolvimento sustentável é
a) modelo de desenvolvimento econômico que não
prejudique as gerações futuras, isto é, a busca do equilíbrio
entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental.

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–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

b) o de desenvolver, de forma acelerada, a industrializa-


ção do planeta para diminuir o uso do solo com agropecuária
e, com isso, acabar com o desmatamento.
c) o de diminuir o ritmo de desenvolvimento tecnoló-
gico e industrial para que o meio ambiente volte a crescer
mais que a produção.
d) o de aumentar a produção agropecuária e industrial
num ritmo mais acelerado para que a produção seja maior
que o consumo.
e) o de trocar as formas de produção atual por outras
formas que não provoquem nenhum tipo de interferência
no meio ambiente.

178
–INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS SUSTENTÁVEIS–

GABARITO
1 D 5 D
2 CERTO 6 C
3 C 7 A
4 D

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