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6ª aula

Princípios do Direito
Ambiental
PRINCÍPIOS DO DIREITO
AMBIENTAL

“...aquilo que se toma primeiro (primum capere), são


as proposições básicas, fundamentais, típicas, que
condicionam todas as estruturas subsequentes. São
axiomas, teoremas, leis nas ciências.”
(Milaré, 2004, p. )
I – PRINCÍPIO DO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO
COMO DIREITO FUNDAMENTAL DA PESSOA HUMANA

• CF/88 – Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações.
Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (1972)
• Carta da Terra (Forum Rio + 5):

Princípio 1 – O homem tem o direito fundamental à liberdade, à


igualdade e ao desfrute de adequadas condições de vida em um meio
cuja qualidade lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar e
tem a solene obrigação de proteger e melhorar esse meio para as
gerações presentes e futuras.

Obs1.: Constituições de Portugal (1976, art. 66, n. 1) e da Espanha


(1978, art.45, n. 1);

Obs2.: extensão do direito à vida, portanto, cláusula pétrea (CF/88, art.


60, § 4º, IV).
II – PRINCÍPIO DA NATUREZA PÚBLICA DA PROTEÇÃO
AMBIENTAL

- Valor assegurado a todos, para fruição humana coletiva, comum,


solidária;

- Natureza jurídica de bem de uso comum do povo;

- Ordem pública ambiental: permite um novo controle de legalidade e


estabelece instrumentos aptos a respeitar esse objetivo pelo Estado;

- Primazia do interesse público (in dubio pro ambiente).


Lei nº 6.938/81 - Da Política Nacional do Meio Ambiente

Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a


preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à
vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento
socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:

I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,


considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
III – PRINCÍPIO DO CONTROLE DO POLUIDOR PELO PODER
PÚBLICO

- Intervenção do poder público (poder de polícia administrativa), com


vistas à manutenção, preservação e recuperação dos recursos ambientais e
sua utilização racional e disponibilidade permanente;

CF/88, art. 225, § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao


poder público:

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade


potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
Lei nº 7.374/85 - Disciplina a ação civil pública de
responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras
providências.

Art. 5º, § 6° - Os órgãos públicos legitimados poderão tomar


dos interessados compromisso de ajustamento de sua
conduta às exigências legais, mediante cominações, que
terá eficácia de título executivo extrajudicial.
IV – PRINCÍPIO DA CONSIDERAÇÃO DA VARIÁVEL AMBIENTAL NO
PROCESSO DECISÓRIO DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO

- qualquer ação – pública ou privada – que possa causar algum impacto negativo
sobre o meio ambiente.

Obs.: Surge com o Estudo de Impacto Ambiental na Lei da Política Nacional do


Meio Ambiente (NEPA/USA, 1969)

CF/88 – art. 225, § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder
público:
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;
Declaração do Rio (1992), Princípio 17

A avaliação do impacto ambiental, como instrumento


nacional, será efetuada para as atividades planejadas que
possam vir a ter um impacto adverso significativo sobre o
meio ambiente e estejam sujeitas à decisão de uma
autoridade nacional competente.
V – PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA

- Cooperação Estado e sociedade na formulação e execução da política ambiental

CF/88 –Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.

CF/88 –Art. 216, § 1º O poder público, com a colaboração da comunidade,


promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários,
registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de
acautelamento e preservação.
Resolução Conama 237, de 19 de dezembro de 1997

Dispõe sobre licenciamento ambiental; competência da União, Estados e


Municípios; listagem de atividades sujeitas ao licenciamento; Estudos
Ambientais, Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto
Ambiental.

Artigo 3º – A licença ambiental para empreendimentos e atividades


consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa
degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e
respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao
qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas,
quando couber, de acordo com a regulamentação.
VI – PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR (ou Princípio da
Responsabilidade)

- privatização dos lucros e socialização das perdas X internalização dos


custos externos;

- não é pagador-poluidor.

CF/88, Art. 225, § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao


meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados.
Lei nº 6.938/81 - DOS OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO
AMBIENTE

Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:


VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou
indenizar os danos causados, e ao usuário, de contribuição pela utilização de
recursos ambientais com fins econômicos.

Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 1992)

Princípio 16 - As autoridades nacionais devem procurar promover a internalização


dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em vista a
abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da
poluição, com a devida atenção ao interesse público e sem provocar distorções no
comércio e nos investimentos internacionais.
VII – PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO (ou da Precaução)

- Prevenção, específica, caso concreto; precaução, mais geral, abstrata;

- atenção ao “mero risco”, anterior ao fato, direcionamento preventivo.

Obs.: Vídeo “O Mundo Segundo a Monsanto”.

“A degradação ambiental, como regra, é irreparável. Como reparar o


desaparecimento de uma espécie? Como trazer de volta uma floresta de
séculos que sucumbiu sob a violência do corte raso? Como purificar um
lençol freático contaminado por agrotóxicos?”
(Feldmann in Milaré, 2004, p. 145)
CF/88, Art. 225, § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe
ao poder público:

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade


potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,


métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de
vida e o meio ambiente;
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Rio 1992) - Princípio 15

Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da


precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de
acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de
danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza
científica absoluta não será utilizada como razão para o
adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir
a degradação ambiental.
A CARTA DA TERRA (1997-2000, Comissão da Carta da Terra e Cruz Verde
Internacional)

6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e,


quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.

a. Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos


ambientais mesmo quando a informação científica for incompleta ou não
conclusiva.

b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmarem que a atividade proposta não
causará dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados
pelo dano ambiental.

c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas consequências humanas


globais, cumulativas, de longo prazo, indiretas e de longo alcance.
DIREITO CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL.
DEMOLIÇÃO DE CONSTRUÇÃO ANTIGA E NOTORIAMENTE CONHECIDA.
INEXISTÊNCIA DE INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE PRIVADA.
AÇÃO POPULAR. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. DEFERIMENTO DE MEDIDA
CAUTELAR. INCERTEZA QUANTO AO VALOR HISTÓRICO E CULTURAL.
RECEIO DE DANO IRREPARÁVEL OU DE DIFÍCIL REPARAÇÃO. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. EFEITO TRANSLATIVO PARA RESOLVER O MÉRITO.
INAPLICABILIDADE.

Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão interlocutória. A qual suspendeu


o alvará e o processo administrativo referente à demolição de construção antiga e
notoriamente conhecida na cidade do Recife/PE. Proferida em sede de ação popular que
discute o valor histórico e cultural do imóvel objeto do litígio. Consoante inciso LXXIII, art.
5º, da Constituição da República, a ação popular é o instrumento que qualquer cidadão
possui para anular ato lesivo ao patrimônio histórico e cultural. Proposta ação popular e
havendo incerteza quanto ao valor histórico e cultural de imóvel antigo e notoriamente
conhecido, deve o juiz, em seu poder geral de cautela, havendo receio de dano irreparável
ou de difícil reparação, obedecer ao princípio da precaução e suspender a citada
demolição. O agravo de instrumento tem seu fim previsto no art. 522 do CPC, não podendo
ser emprestado efeito translativo ao mencionado recurso a fim de resolver o mérito da ação
popular e extinguir seu respectivo processo, ainda mais quando há prova a ser produzida no
juízo de origem. (TJPE; AI 0014166-38.2013.8.17.0000; Rel. Des. Luiz Carlos Figueirêdo;
Julg. 20/02/2014; DJEPE 25/04/2014)
VIII – PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA
PROPRIEDADE

- concepção de que o social orienta o individual.

CF/88-
Art. 5º, XXII - é garantido o direito de propriedade;

Art. 5º, XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

Art. 182, § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando


atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no
plano diretor.
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em
lei, aos seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado;

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação


do meio ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos


trabalhadores.
Código Civil – Lei nº 10.406/2002,
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e
dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer
que injustamente a possua ou detenha.

§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em


consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e
de modo que sejam preservados, de conformidade com o
estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e
artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
IX – PRINCÍPIO DO DIREITO AO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

- Direito de viver e desenvolver suas potencialidades; dever de


assegurar o mesmo aos descendentes.

Pressupostos:
• os recursos naturais são finitos e exauríveis;
• a sociedade humana não se limita à presente geração.
IX – PRINCÍPIO DO DIREITO AO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

CF/88 – Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações.
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 1992)
Princípio 3
O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam
atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio
ambiente das gerações presentes e futuras.

Princípio 4
Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental constituirá
parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada
isoladamente deste.

Princípio 5
Para todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o
desenvolvimento sustentável, irão cooperar na tarefa essencial de erradicar a
pobreza, a fim de reduzir as disparidades de padrões de vida e melhor atender às
necessidades da maioria da população do mundo.
A CARTA DA TERRA (1997-2000)

A Situação Global

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação


ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies.
Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento
não estão sendo divididos equitativamente e o fosso entre ricos e pobres
está aumentando...

7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as


capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar
comunitário.

a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção


e consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos
sistemas ecológicos.

b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez


mais aos recursos energéticos renováveis, como a energia solar e do vento.
c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência equitativa de
tecnologias ambientais saudáveis.

d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no


preço de venda e habilitar os consumidores a identificar produtos que
satisfaçam as mais altas normas sociais e ambientais.

e. Garantir acesso universal à assistência de saúde que fomente a saúde


reprodutiva e a reprodução responsável.

f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência


material num mundo finito.
X – PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO ENTRE OS POVOS

- “Dimensão transfronteiriça e global das atividades exercidas no


âmbito das jurisdições nacionais”. (Mirra in Milaré, 2004, p. 151)

- Exemplo: o Acidente em Chernobyl espalhou radiação pela Suécia,


Letônia, Polônia, Alemanha, Inglaterra e França.

CF/88, Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações


internacionais pelos seguintes princípios:

IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;


Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
- Agenda 21, Rio 92

Capítulo 2 – COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PARA ACELERAR O


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DOS PAÍSES EM
DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS INTERNAS CORRELATAS

2.1. Para fazer frente aos desafios do meio ambiente e do


desenvolvimento, os Estados decidiram estabelecer uma nova parceria
mundial. Essa parceria compromete todos os Estados a estabelecer um
diálogo permanente e construtivo, inspirado na necessidade de atingir uma
economia em nível mundial mais eficiente e equitativa, sem perder de vista
a interdependência crescente da comunidade das nações e o fato de que o
desenvolvimento sustentável deve tomar-se um item prioritário na agenda
da comunidade internacional. (...)
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 1992)

Princípio 2

Os Estados, de acordo com a Carta das Nações Unidas e com os


princípios do direito internacional, têm o direito soberano de explorar
seus próprios recursos segundo suas próprias políticas de meio ambiente e
de desenvolvimento, e a responsabilidade de assegurar que atividades sob
sua jurisdição ou seu controle não causem danos ao meio ambiente de
outros Estados ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional.

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