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PRINCÍPIOS DO DIREITO DO AMBIENTE

Abdul Latifo Abdala1


Ascénio Rubens Manuel Uamusse2
Assane Alfredo Assane3
Amiel Arlindo Artur4
Manuel Armando Duarte5
Mateus Inácio Bichali6
Munilda Carlos Baptista7
Neves Shida Saide Amisse8
Suhura Jamal9

Resumo: O direito ao meio ambiente é um direito fundamental, por imperativos da


Constituição da República de Moçambique, que consagra que todo o cidadão tem o
direito de viver num ambiente equilibrado e o dever de o defender, com forma de
consolidar esse imperativo constitucional, a Lei no. 20/97 de 1 de Outubro ao abrigo do
artigo 4, estatui que a gestão ambiental baseia-se em princípios fundamentais
decorrentes do direito de todos os cidadãos a um ambiente ecologicamente equilibrado,
propício a sua saúde e ao seu bem-estar físico e mental nomeadamente: a) Princípio da
utilização e Gestão Racionais dos componentes ambientais, com vista a promoção da
melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e á manutenção da biodiversidade e dos
ecossistemas; b) Princípio do reconhecimento valorização das tradições e do saber das
comunidades locais, que contribuam para conservação e preservação dos recursos
naturais e do ambiente; c) Princípio de precaução, com base na qual a gestão do
ambiente deve priorizar o estabelecimento de sistemas de prevenção de actos lesivos ao
ambiente; d) Princípio a visão global e integrada do ambiente; e) Princípio da
cooperação internacional; f) Princípio de igualdade; g) Princípio Responsabilização.

Palavras-chaves: Direito ao meio ambiente, Ambiente equilibrado; Princípios


ambientais.

1
Graduando em direito pela Universidade Rovuma
2
Licenciando em Direito pela Universidade Rovuma
3
Graduando em Direito pela Universidade Rovuma
4
Licenciando em Direito pela Universidade Rovuma
5
Licenciando em Direito pela Universidade Rovuma
6
Graduando em direito pela universidade Rovuma
7
Graduando em direito pela universidade Rovuma
8
Licenciando em Direito pela Universidade Rovuma
9
Licencianda em Direito pela Universidade Rovuma
NOTA INTRODUTÓRIA

Tendo como premissa que o direito, como ciência, é formado por princípios próprios,
que orientam e condicionam a formação, aplicação e integração do ordenamento
jurídico, e na elaboração de novas normas jurídicas. Passaremos de seguida à análise de
alguns princípios consagrados no ordenamento jurídico moçambicano, cujo critério de
selecção baseou-se objectivamente na importância que estes assumem no âmbito da
protecção do ambiente e da responsabilização pelos danos causados ao mesmo, a partir
de então, diversos diplomas legais passaram a tratar sobre o tema referente ao ambiente.

Importa que no desenvolvimento da pesquisa abordar-se-á uma breve referência aos


princípios ambientais consagrados na esfera jurídica Moçambicana, pelo facto de serem
estes que fundamentam e sustentam o conjunto de normas que tutelam o ambiente. No
nosso ordenamento jurídico os princípios ambientais constam de vários instrumentos
legais de fonte internacional e nacional, com maior enfoque para o art. 4 da Lei do
Ambiente e alguns princípios provenientes da Declaração do Rio, resultante da
Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento que teve lugar no
Rio de Janeiro em 1992.

Nesta pesquisa objectivou-se á:

Analisar os Princípios de direito de Ambiente do ponto de vista doutrinal e


subsidiariamente doutrinal.

E para consolidar essa análise elencou-se como objectivos específicos os seguintes:

 Identificar os mecanismos que os sujeitos internacionais encontram para


protecção do meio ambiente;
 Avaliar aplicabilidade desses mecanismos na esfera jurídica Moçambicana.

São estes tópicos que farão manchete desta pesquisa cujo para sua elaboração usou-se
o método hermenêutico e consulta bibliográfica. Portanto o objectivo, método e técnica
foram pensados e ajustados da forma mais racional e lógica possível, para que as
análises e discussões alvitradas alcançassem plenamente os fins cuidadosamente
propostos, com o intento de que a totalidade destes elementos pudesse contribuir com
relação a um melhor entendimento académico sobre princípios de Direito de Ambiente.
1. Princípios do direito do Ambiente

O direito ao meio ambiente é um direito fundamental. De fato, conforme a


Constituição da República de Moçambique, “todo o cidadão tem o direito de viver num
ambiente equilibrado e o dever de o defender” 10. Isso ocorre pelo fato de a matriz
energética universal ser assentada na “queima de combustíveis fósseis, como o carvão
mineral, o gás e o petróleo, o que gera a emissão de gases poluentes”.

Segundo PEREIRA11.

A partir de então, diversos diplomas legais passaram a tratar sobre o


tema. Um dos principais problemas, diz respeito as mudanças
climáticas, na medida em que o aquecimento global representa sérios
riscos a integridade do Planeta. Com efeito, um dos principais riscos
que a espécie humana criou para todo modo de vida existe no Planeta é
chamado efeito estufa, decorrente do aquecimento global, (p.23).

Na perspectiva de BANZE12 “o direito, como ciência, é formado por princípios


próprios, que orientam e condicionam a formação, aplicação e integração do
ordenamento jurídico, e na elaboração de novas normas jurídicas”. Passaremos de
seguida à análise de alguns princípios consagrados no ordenamento jurídico
moçambicano, cujo critério de selecção baseou-se objectivamente na importância que
estes assumem no âmbito da protecção do ambiente e da responsabilização pelos danos
causados ao mesmo.

MILAGRE13 em sua obra, Relação Jurídica a danoisidade Ambiental destacou os seguintes


princípios da protecção ambiental:

Princípios da prevenção e da precaução e Princípio do poluidor-pagador;


Princípio do usuário-pagador e da reparação integral ou Princípio da
Responsabilidade;

10
Art.90 da Constituição da República de Moçambique (2004), que inclui a Lei de Revisão
Pontual da Constituição (Lei no 1/2018, de 12 de Junho, publicado no Boletim da República, 1a
Série – no 115, 2o Suplemento, de 12 de Junho de 2018.
11
PEREIRA, Agostinho. Meio ambiente, novos direitos e a sociedade de consumo [recurso
electrónico] Caxias do Sul, RS: Educs, 2018. P.11
12
BANZE, Inocência Silvana. A problemática do dano as águas interiores e sua reparação.
Maputo, 30 de Abril de 2019.p.12,
13
MILAGRE, Edis. Relação Jurídica a danoisidade Ambiental: contribuição para o
delineamento de um microssistema de responsabilidade. Doutorado em Direito, São Paulo
2016.p.193
Princípio da proibição do retrocesso ambiental e da informação e da participação;
Princípio da Cooperação internacional e da Princípio da igualdade;
Princípio da visão global e integrada do ambiente14;
Princípio da utilização e gestão racional dos compostos ambientais e da
Educação.

1.1 Princípio do Direito à sadia qualidade de vida

Segundo SAMPAIO15, foi o primeiro princípio previsto na declaração de Estocolmo e


proclama que o homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute
de condições de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita
levar uma vida digna e gozar de bem-estar, tendo a solene obrigação de proteger e
melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras. O reconhecimento do
direito à vida já não é mais suficiente. Passa-se a uma nova concepção de que “o direito
à vida não é completo se não for acompanhado da garantia da qualidade de vida”

Na visão de SILVEIRA16

A vida é um direito fundamental que apenas se completa com as


garantias sociais, económicas e ambientais, por isso que os organismos
internacionais passam a medir a qualidade de vida não mais apenas com
base nos indicadores económicos e começam a incluir factores e
indicadores sociais. O meio ambiente ecologicamente equilibrado é
pressuposto de concretização de satisfação deste princípio. No seu viés
antropocêntrico, o direito ambiental consagrada o princípio da sadia
qualidade de vida como decorrência do princípio da dignidade da
pessoa humana, que pauta o regime constitucional. (p. 34).

O equilíbrio do meio ambiente é, assim, um pressuposto da garantia da qualidade da


vida com dignidade. E, portanto, deve ser garantido pelo Poder Público enquanto gestor
dos bens, recursos e serviços ambientais.

14
Nos termos deste princípio, o ambiente deve ser visto, e tratado, como um conjunto de
“ecossistemas interdependentes, naturais e construídos, que devem ser geridos de maneira a
manter o seu equilíbrio funcional sem exceder os seus limites intrínsecos
15
SAMPAIO, Rómulo. DIREITO AMBIENTAL. Fundação Getúlio Vargas 2013.p.30
16
SILVEIRA, Paula de Castro. Mestre em Ciências Jurídico-Ambientais Assistente Convidada
da Faculdade de Direito de Lisboa. 2010.p.12 a13
1.2 Princípio do acesso equitativo aos Recursos Naturais

Noções de equidade na utilização dos recursos naturais disponíveis passam a ser


correntes em diversos ordenamentos jurídicos. Esta equidade seria buscada não apenas
entre gerações presentes, mas também e aqui reside uma grande quebra de paradigma –
com as gerações futuras. Por isso que na perspectiva de PEREIRA 17 Assim, passa-se a
adoptar a noção de que a utilização dos recursos naturais no presente somente será
aceita “em quantidades que não prejudiquem a capacidade de regeneração do recurso, a
fim de garantir o direito das gerações vindouras”. Regras de diferenciação da forma de
acesso e de hierarquia para a cessar o recurso natural devem ser ponderadas pelo gestor
público responsável pela decisão sobre a autorização de acesso.

1.3 Princípios usuário-pagador e poluidor-pagador

Funda-se este principio no facto de os bens ambientais particularmente os recursos


naturais constituem o património da colectividade, mesmo que, em alguns casos, possa
incidir sobre eles um justo titulo de propriedade privada. Sabemos, outrossim, que
recursos essenciais, de natureza global como: água, ar, e o solo não pode ser
apropriado18. Os princípios do usuário-pagador e do poluidor-pagador, embora
fundamentais para o direito ambiental, são muito mais instrumentais do que materiais.
Isso quer dizer, que estão intimamente conectados à implementação do princípio do
acesso equitativo aos bens, recursos e serviços ambientais. É através dos princípios
usuário-pagador que o gestor público lança mão de instrumentos para garantir a
“razoabilidade e a racionalidade na utilização dos bens, recursos e serviços ambientais”.

1.4 Princípios da Informação e Participação

No âmbito ambiental, a Política Nacional do Meio Ambiente, como um de seus


objectivos a divulgação de dados e informações ambientais e, além disso, fixa como um
dos instrumentos, previsto no art.48, da CRM a garantia da prestação de informações
relativas ao meio ambiente, ficando o Poder Público obrigado a produzir tais
informações, quando inexistentes.

17
PEREIRA, Agostinho, Meio ambiente, novos direitos e a sociedade de consumo, Caxias do
Sul, RS: Educs, 2018. P.177.
18
MILAGRE, Edis. Relação Jurídica a danoisidade Ambiental: contribuição para o
delineamento de um microssistema de responsabilidade. Doutorado em Direito, São Paulo
2016.p.200
Segundo SAMPAIO 19, Este princípio corresponde ao entendimento segundo o qual a
participação dos cidadãos “é a condição para o sucesso das políticas de protecção e
conservação ambientais”. Impõem ao Poder Público e à colectividade o dever de
defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Ou seja, se à
colectividade é previsto o “dever de defender e preservar o meio ambiente, esta
obrigação somente poderá ser exigida com a garantia da participação da sociedade como
um todo”. Grosso modo que a Constituição Moçambicana, assegura a todos “o acesso à
informação”20. O direito à informação deve ser considerado como um direito
fundamental de quarta dimensão, em virtude de sua característica de servir como
instrumento para a efetivação de um Estado Democrático de Direito Ambiental, em que
os cidadãos podem, através das informações “disponibilizadas pelo Estado, agir
proactivamente e, por conseguinte, interferir nas decisões que afectem a sociedade”21.

1.5 Princípio da obrigatoriedade da intervenção do poder Público

Segundo SAMPAIO22, Este princípio está intimamente ligado à solução do problema


da tragédia do bem comum, característica dos bens de uso comum do povo. Em síntese,
significa que em “um ambiente sem regulação ou intervenção estatal o comportamento
racional humano tenderia ao esgotamento dos recursos naturais”. Isso porque, se o
acesso aos bens, recursos e serviços ambientais não for regulado, a utilização gratuita
por um indivíduo implica na privatização do lucro e na divisão da perda. Logo, se uma
determinada área não for preservada por lei, o simples apelo a sua importância
ecológica para o ecossistema da região e para o bem-estar da população não é suficiente
para influenciar o comportamento do indivíduo racional.

Esse indivíduo agindo racionalmente tenderá a utilizar a área para maximizar o seu
ganho individual, e o custo ambiental da utilização da mesma área é compartilhado com
toda a sociedade23. Essa constatação clama pela intervenção de um gestor para os bens,
serviços e recursos ambientais compartilhados por toda a sociedade. Por isso, estabelece

19
SAMPAIO, Rómulo. DIREITO AMBIENTAL. Fundação Getúlio Vargas 2013.p.34
20
Art.48 da Constituição da República de Moçambique (2004), que inclui a Lei de Revisão
Pontual da Constituição (Lei no 1/2018, de 12 de Junho, publicado no Boletim da República, 1a
Série – no 115, 2o Suplemento, de 12 de Junho de 2018.
21
DA SILVEIRA, Clóvis Eduardo. Princípios do direito ambiental, articulações teóricas e
aplicações práticas /Dados electrónicos. - Caxias do Sul, RS : Educs, 2013. P.90
22
SAMPAIO, Rómulo. DIREITO AMBIENTAL. Fundação Getúlio Vargas 2013.p.35
23
SAMPAIO, Rómulo. DIREITO AMBIENTAL. Fundação Getúlio Vargas 2013.p.35
o artigo art.90, da Constituição, ser dever do Poder Público, a garantia do meio
ambiente ecologicamente equilibrado.

1.6 Princípio da Educação Ambiental

Este princípio surge como forma de habilitar os cidadãos do conhecimento necessário


para que possam adoptar as medidas mais adequadas com vista à conservação do meio
ambiente. A educação como princípio é estabelecida “na Declaração Internacional de
Estocolmo como resultado da I Conferência Mundial do Meio Ambiente e
Desenvolvimento”24, salienta-se a necessidade de se ministrar o ensino em matérias de
ambiente aos jovens e adultos, abrangendo os menos favorecidos, com o fim de criar
bases que permitam esclarecer a opinião pública e dar às pessoas, às empresas e à
colectividade, o sentido de responsabilidade no que concerne a protecção e melhoria do
ambiente, em toda a sua dimensão.

2. Regime Jurídico dos Princípios de Direito do Ambiente em Moçambique

Nos termos do artigo 4 da Lei n o. 20/97 de 1 de Outubro, a gestão ambiental baseia-se


em princípios fundamentais decorrentes do direito de todos os cidadãos a um ambiente
ecologicamente equilibrado, propício a sua saúde e ao seu bem-estar físico e mental
nomeadamente: a) Princípio da utilização e Gestão Racionais dos componentes
ambientais, com vista a promoção da melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e á
manutenção da biodiversidade e dos ecossistemas; b) Princípio do reconhecimento
valorização das tradições e do saber das comunidades locais, que contribuam para
conservação e preservação dos recursos naturais e do ambiente; c) Princípio de
precaução25, com base na qual a gestão do ambiente deve priorizar o estabelecimento de
sistemas de prevenção de actos lesivos ao ambiente de modo a evitar a ocorrência de
impactos ambientais negativos significativos ou irreversíveis, independentemente da
existência de certeza científica sobre á ocorrência de tais impactos.

24
BANZE, Inocência Silvana. A problemática do dano as águas interiores e sua reparação.
Maputo, 30 de Abril de 2019.p.16
25
A precaução e a prevenção são medidas “antecipatórias que tendem a evitar o dano, no
entanto, diferenciam-se da reparação, que se executa após a ocorrência do ato danoso”. Neste
sentido, vale destacar que, embora o princípio de precaução e de prevenção sejam medidas que
buscam evitar os danos ambientais, visto constituírem instrumentos que se antecedem à
ocorrência dos fatos danosos, ambos não se confundem. Principio da prevenção “aplica-se,
quando o perigo é certo e quando se tem elementos seguros para afirmar que uma determinada
actividade e efectivamente perigosa.
d) Princípio a visão global e integrada do ambiente, como um conjunto de
ecossistemas interdependentes, naturais e construídos, que devem ser geridos de
maneira a manter o seu equilíbrio funcional sem exceder os seus limites intrínsecos; e)
Princípio da ampla participação dos cidadãos, como aspecto crucial da execução do
programa Nacional de Gestão Ambiente; f) Princípio da cooperação internacional26,
para a obtenção de soluções harmoniosas dos problemas ambientais, reconhecidas que
são as suas dimensões transfronteiriças e globais;

f) Princípio de igualdade27, que garante oportunidades iguais de acesso e uso de


recursos naturais a homens e mulheres, ou seja, ou seja, também em matéria ambiental
os cidadãos são todos iguais, estão sujeitos aos mesmos deveres e têm os mesmos
direitos, nomeadamente no que respeita a acesso aos recursos naturais; g) Princípio
Responsabilização28, com base na qual que polui ou de qualquer outra forma degrada o
ambiente, tem sempre a obrigação de reparar ou compensar os danos daí decorrentes, ou
seja, o Direito Ambiental enfatiza em sua essência sempre a precaução e a prevenção.
Mas, “diante da ocorrência de um dano e na medida do possível, prevalece e impõe-se a
preferência pela reparação ao estado anterior” 29. Apenas na impossibilidade de
recuperação do ambiente ao estado anterior é que, subsidiariamente, a obrigação se
converte em indemnização e/ou em medidas de compensação.

26
Em conformidade com artigo 17 da CRM, a República de Moçambique estabelece relações de
amizade e cooperação com outros Estados na base dos princípios de respeito mútuo pela
soberania e integridade territorial, igualdade, não interferência nos assuntos internos e
reciprocidade de benefícios, a República de Moçambique aceita, observa e aplica os princípios
da Carta da Organização das Nações Unidas e da Carta da União Africana, grosso modo que o
artigo 18 da CRM, Os tratados e acordos internacionais, validamente aprovados e ratificados,
vigoram na ordem jurídica moçambicana após a sua publicação oficial e enquanto vincularem
internacionalmente o Estado de Moçambique, as normas de direito internacional têm na ordem
jurídica interna o mesmo valor que assumem os actos normativos infraconstitucionais emanados
da Assembleia da República e do Governo, consoante a sua respectiva forma de recepção.
27
Este princípio tem garantia constitucional nos termos do artigo 35 da CRM, que consagra
que Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos
mesmos deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento,
religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou opção política.
28
No campo penal, a estes tipos de crime encontram-se tipificados no título III, capitulo II,
secção I, nos artigos 314 a 321, que consagra que quem, sem autorização dos órgãos
competentes ou em violação da licença concedida, pesquisar, explorar ou lavrar recursos
minerais, ou não proceder à recuperação natural da área explorada, é punido com pena de prisão
de 1 a 5 anos e multa até 2 ano.
29
SAMPAIO, Rómulo. DIREITO AMBIENTAL. Fundação Getúlio Vargas 2013.p.34
3. Princípios Internacionais sobre o Ambiente

Muitas convenções ou normas utilitaristas podem ser hoje consideradas integrantes do


arcabouço da protecção do Meio Ambiente.

3.1 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento

A ECO-92, Rio-92, Cúpula da Terra ou Cimeira da Terra, foi a segunda grande


convenção para tratar do meio ambiente. "O objectivo principal era tratar da busca e um
desenvolvimento, de forma equilibrada, socioeconómico, juntamente com a natureza.
Ou seja, do desenvolvimento sustentável".30 Os períodos entre a ECO92 e a Convenção
Estocolmo ocorreram aumentos significativos de tratados visando à protecção do meio
ambiente. Porém, mesmo com essa preocupação com o meio ambiente, esse período foi
marcado por grandes desastres naturais.

Segundo ACCIOLY 31

A ECO 92 desenvolveu 6 documentos importantes para a protecção


do meio ambiente, nomeadamente: a) A Declaração de Princípios sobre
as Florestas visa à utilização sustentável das florestas e o apoio ao
reflorestamento, principalmente para os países desenvolvidos; b) A
Declaração de Princípios sobre o Meio Ambiente tratando de protecção
dos interesses futuros, política ambiental de abrangência global e a
responsabilidade dos países industrializados; c) A Convenção Quadro
sobre Mudança de Clima que tem como objectivo a estabilizar os gases
decorrentes do efeito estufa na atmosfera. (p.45).

Convenção sobre Diversidade Biológica que estabelece medidas para os países serem
capazes de formular planos e medidas de acordo com sua capacidade; e) A Declaração
Rio-92, constituem em um conjunto de 27 princípios que servirão de base para vários
acordos, dentre eles o artigo 225 da constituição brasileira de 1988.

3.2 Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

Trata-se de uma carta contendo 27 princípios que visa estabelecer um novo estilo de
vida, um novo tipo de presença do homem na Terra, através da protecção dos recursos
naturais e da busca do desenvolvimento sustentável e de melhores condições de vida

30
BARBIERE, José Carlos, Desenvolvimento e meio ambiente: as estratégias de mudanças da
Agenda 21. 3 ed. Lisboa,Vozes, 2000, p.37.
31
ACCIOLY, Hidebrando, Manual de direito internacional Público, 18 ed. São Paulo, Saraiva,
2010, p.95.
para todos os povos. Resumidamente, os princípios dizem respeito a: a) Os seres
humanos têm direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza; b)
Direito dos estados de explorarem seus próprios recursos naturais e dever de controlar
actividades de forma a não prejudicar o território de outros; c) O desenvolvimento deve
ser promovido de forma a garantir as necessidades das presentes e futuras gerações; d)
A protecção ambiental deve ser considerada parte integral do processo de18
desenvolvimento; e) A erradicação da pobreza é requisito indispensável para promoção
do desenvolvimento sustentável; f) Deve ser dada prioridade à situação especial de
países em desenvolvimento e aos mais pobres; g) Os Estados devem cooperar na
conservação, protecção e recuperação da integridade e saúde do ecossistema Terra. Os
Estados têm responsabilidade comum, mas diferenciada, em função de sua contribuição
para a degradação do meio ambiente global.

NOTA CONCLUSIVA

Havendo necessidade de dar uma conclusão parcial a pesquisa, o actor fê-la ter
abordado no mínimo a temática proposto pelo docente. Dentre as abordagens acima
referidas o grupo notabilizou que os danos Ambientais são muitas vezes irreversíveis ou
irreparáveis; assim, medidas reparatórias ou ressarcitórias são ineficientes, quando se
trata de meio ambiente. Nesta seara, ganham força as medidas que buscam evitar os
danos ambientais, tais como o princípio da prevenção, utilizado quando há certeza sobre
os danos e o princípio da precaução, quando há incerteza científica, ou seja, risco de
dano. Neste seguimento os princípios de Direito de Ambiente, tornaram-se como uma
importante ferramenta para a protecção ambiental, tendo em vista a importância da
cautela em relação aos riscos; deste modo mesmo havendo dúvidas quanto aos danos da
actividade, empreendimento ou produto, medidas precaucionais devem ser tomadas. A
incerteza científica não pode ser desculpa para que nenhuma atitude seja estabelecida
quando houver risco de dano, tendo em vista que os riscos da sociedade actual têm
difícil identificação, são cumulativos e podem causar danos de grande monta.

A Lei no. 20/97 de 1 de Outubro ao abrigo do artigo 4, estatui que a gestão ambiental
baseia-se em princípios fundamentais decorrentes do direito de todos os cidadãos a um
ambiente ecologicamente equilibrado, propício a sua saúde e ao seu bem-estar físico e
mental nomeadamente: a) Princípio da utilização e Gestão Racionais dos componentes
ambientais, com vista a promoção da melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e á
manutenção da biodiversidade e dos ecossistemas; b) Princípio do reconhecimento
valorização das tradições e do saber das comunidades locais, que contribuam para
conservação e preservação dos recursos naturais e do ambiente; c) Princípio de
precaução, com base na qual a gestão do ambiente deve priorizar o estabelecimento de
sistemas de prevenção de actos lesivos ao ambiente; d) Princípio a visão global e
integrada do ambiente; e) Princípio da cooperação internacional; f) Princípio de
igualdade; g) Princípio Responsabilização.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Legislação

MOCAMBIQUE, República de, Constituição da República de Moçambique (2004), que


inclui a lei de revisão pontual (Lei n.˚ 1/2018, de 12 de Junho), in Boletim da
República, 1ª série- n.˚ 115, 2˚ suplemento, de 12 de Junho;
MOÇAMBIQUE, República de, Lei n.º 24/2019, de 31de Dezembro, Lei de revisão do
código penal, in Boletim da República, I série, n.º 248, De 24 de Dezembro de 2019;
MOÇAMBIQUE, República de, Lei n.º 20/97, de 1de Outubro, Lei do ambiente, in
Boletim da República.

Obras Literárias

BANZE, I. S. (2019) A problemática do dano as águas interiores e sua reparação.


Maputo;

DA SILVEIRA, C. E. M. (2013) Princípios do direito ambiental, articulações teóricas


e aplicações práticas /Dados electrónicos. - Caxias do Sul, RS : Educs;

MILAGRE, E. (2016), Relação Jurídica a danoisidade Ambiental: contribuição para o


delineamento de um microssistema de responsabilidade. Doutorado em Direito, São
Paulo;

PEREIRA, A. O. (2018), Meio ambiente, novos direitos e a sociedade de consumo


[recurso electrónico] Caxias do Sul, RS: Educs;

SAMPAIO, R. (2013) DIREITO AMBIENTAL. Fundação Getúlio Vargas.

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