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RECIFE-PE
2021
ASSOCIAÇÃO INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL
MESTRADO PROFISSIONAL EM TECNOLOGIA AMBIENTAL
RECIFE-PE
2021
ASSOCIAÇÃO INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL
MESTRADO PROFISSIONAL EM TECNOLOGIA AMBIENTAL
RECIFE-PE
2021
JOSÉ NAPOLEÃO TAVARES DE OLIVEIRA FILHO
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Agradeço, de forma carinhosa, aos meus pais, José Napoleão e Maria Salete, pelo amor
incondicional e dedicação, sem os quais não teria conseguido chegar aonde estou e nem ser
quem sou.
As minhas queridas irmãs Adriana, Fábia e Márcia, extensão do amor de meus pais e
que sempre estiveram ao meu lado.
A minha esposa Juliana e a minha pequena Maria, amores da minha vida, por me
apoiarem em todos os momentos.
Agradeço, em especial, a minha orientadora, Profa. Dra. Alessandra Lee Barbosa Firmo
e ao meu coorientador Prof. Dr. Luiz Filipe Alves Cordeiro, que gentilmente sempre me
atenderam nos momentos necessários, com enorme atenção, competência e paciência. Meu
agradecimento aos senhores será eterno, pela confiança, pelos direcionamentos e por
compartilhar comigo seus ensinamentos.
Por fim, agradeço a todos os colegas do mestrado, pelas trocas de informações, apoio e amizade
nos mais diferentes momentos vivenciados nessa trajetória. Muito Obrigado!
OLIVEIRA FILHO, J. N. T. Facilitadores e entraves para a implementação das licitações
públicas sustentáveis: análise bibliométrica. 2021. 61 fl. Dissertação (Mestrado em Tecnologia
Ambiental) – Associação Instituto de Tecnologia de Pernambuco, Recife, 2021
RESUMO
As licitações públicas sustentáveis (LPS) são cada vez mais debatidas como um instrumento de
política pública. As dificuldades e soluções para sua implementação, do lado da demanda, são
cada vez mais discutidas. Esta pesquisa tem como objetivo geral realizar uma análise
bibliométrica a respeito das publicações disponíveis envolvendo as LPS, de modo a
compreender o teor do conteúdo, os assuntos debatidos, posicionamentos, fatores motivacionais
para a sua aplicação e os principais entraves. Trata-se de uma pesquisa exploratória com
natureza descritiva com exame quantitativo e qualitativo dos dados. No período analisado de
2011 a 2021 (primeiro semestre) foram identificados 65 artigos sobre o tema, publicados em
língua inglesa na base de dados ScienceDirect (Elsevier). O valor deste artigo reside na
contribuição para a compreensão de como os obstáculos e os elementos facilitadores podem
contribuir para a implementação das LPS. Os resultados obtidos revelam que dentre os onze
obstáculos identificados, Restrição Financeira foi o elemento que mais se relacionava com o
desenvolvimento econômico das regiões e países nos quais as LPS foram estudadas. Quanto
aos elementos facilitadores verificados, Eficiência Organizacional foi o elemento mais citado
entre os doze motivadores apontados pelos pesquisadores em seus trabalhos. As conclusões
mostram que as discussões acadêmicas sobre os entraves e facilitadores para a implantação das
LPS tem avançado de forma acentuada na última década, com a participação de pesquisadores
de diversos países.
Palavras-chave: Compras públicas verdes. Práticas. Obstáculos. Bibliometria.
ABSTRACT
Sustainable public tenders (LPS) are increasingly debated as a public policy instrument. The
difficulties and solutions for its implementation, on the demand side, are increasingly discussed.
This research has as general objective to carry out a bibliometric analysis regarding the
available publications involving the LPS, in order to understand the content of the content, the
debated subjects, positions, motivational factors for its application and the main obstacles. This
is an exploratory research with a descriptive nature with quantitative and qualitative data
examination. In the period analyzed from 2011 to 2021 (first semester), 65 articles on the
subject were identified, published in English in the database ScienceDirect (Elsevier). The value
of this article lies in contributing to the understanding of how obstacles and enabling elements
can contribute to the implementation of LPS. The results obtained reveal that among the eleven
obstacles identified, Financial Restriction was the element that was most related to the
economic development of the regions and countries in which the LPS were studied. As for the
verified facilitating elements, Organizational Efficiency was the most cited element among the
twelve motivators pointed out by the researchers in their work. The conclusions show that
academic discussions about barriers and facilitators for the implementation of LPS have
advanced significantly in the last decade, with the participation of researchers from different
countries.
Figura 4. Distribuição das publicações por áreas geográficas dos 190 autores...........................39
Tabela 01...................................................................................................................................31
Tabela 02...................................................................................................................................36
Tabela 03...................................................................................................................................37
Tabela 04...................................................................................................................................41
Tabela 05...................................................................................................................................43
13
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................12
1. ARTIGO CIENTÍFICO.........................................................................................................15
3. INTRODUÇÃO....................................................................................................................17
4. REVISÃO DA LITERATURA.............................................................................................20
5. METODOLOGIA.................................................................................................................28
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................................31
7.1 Conclusões..............................................................................................................44
REFERÊNCIAS........................................................................................................................46
15
INTRODUÇÃO
As licitações são uma forma dos Estados realizarem compras públicas, no intuito de
melhorar a qualidade das compras, baratear os produtos adquiridos, evitar gastos desnecessários
e bem como desvio de verbas. No Brasil, esta modalidade de compra está disponível para os
aos órgãos públicos nas esferas Municipais, Estaduais e Federal, sendo regido atualmente pela
lei 8.666/93. Nos últimos 20 anos é visto em todo o mundo o incremento de uma nova
modalidade Licitatória: as Licitações Públicas Sustentáveis (LPS) 1.
Quando aplicadas com a finalidade de Sustentabilidade, Cheng et al. (2018) defende que o
setor público pode influenciar a realização Licitações Públicas Sustentáveis (LPS) tanto ao
projetar políticas adequadas para essa finalidade, quanto ao alavancar os mercados “verdes” por
meio desse importante instrumento das compras públicas. As compras do setor público voltadas
para a sustentabilidade podem acabar servindo de modelo para que outros setores públicos,
mesmo de países diferentes, assim como também setores ligados ao ramo empresarial, possam
adentrar nesta adequação de compras. Um exemplo na prática diz respeito ao Decreto Estadual
do Estado de São Paulo, nº 59.038/2013, no qual os artigos 2° e 3° definem que a aquisição ou
a locação de veículos por parte dos órgãos públicos devem priorizar carros que possuem um
motor Flex, sendo o abastecimento preferencial pelo Etanol- considerado menos poluente que
1 Este termo também pode ser sinônimo de Green Public Procurement (GPP), que significa a
Compras Públicas Verdes. Na nossa pesquisa, utilizaremos o termo Licitações Públicas
Sustentáveis (LPS).
16
a gasolina (SÃO PAULO, 2013). Com isso, as locadoras de veículos tenderão, dessa maneira,
a priorizar veículos flex em suas compras para oferecer este serviço quando requisitadas pelo
Estado.
No que diz respeito a produção acadêmica a respeito do assunto, à luz dessa pesquisa,
observa-se que a maior parte esta destinada a analisar os supostos benefícios ambientais, sociais
e econômicos que trazem às LPS. É o que analisam autores como Somboonpisan, Limsawasd,
(2021), Montalbán-Domingo et al. (2018) e Silveira et al., (2020). As discussões em seus
conteúdos levam em consideração as inovações das LPS (MELO et al. 2020; EDEN, 2017),
além dos aspectos legais(GRANDO e BONA, 2018). Contudo, enfatizar apenas nos benefícios
ou características das LPS acabam se tornando incompletas por não explicar os mecanismos de
operação e as etapas necessárias do processo de implementação no âmbito da administração
pública, visto que existem as barreiras e entraves que merecem ser destacadas na literatura a
respeito das LPS.
Por esse motivo destaca-se aqui que, identificar, de forma sistemática, os desafios como os
elementos facilitadores para utilização das LPSs, possibilita o conhecimento mais aguçado
sobre este instituto, trazendo grandes ganhos para o setor público, que tem a LPS como
ferramenta indutora para o desenvolvimento ambiental, social e econômico.
Levando-se em conta a amplitude do tema e os debates atuais, o presente trabalho tem como
objetivo geral realizar uma análise bibliométrica a respeito das publicações disponíveis
envolvendo as LPS, de modo a compreender o teor do conteúdo, os assuntos debatidos,
posicionamentos, fatores motivacionais para a sua aplicação e os principais entraves.
Por fim, com a realização da pesquisa, deseja-se produzir um artigo científico com os dados
coletados. O referido artigo será dividido em cinco seções. Além da parte introdutória, a
segunda seção aborda a revisão da literatura. A terceira seção apresenta a metodologia utilizada
na pesquisa. Já a quarta seção apresenta os resultados e discussão. Por fim, a quinta e última
seção apresenta as conclusões da pesquisa. Assim, com este trabalho espera-se contribuir para
a difusão da prática da compra pública sustentável e provocar nas instituições públicas o
interesse em potencializar suas ações em busca do desenvolvimento sustentável.
18
1. ARTIGO CIENTIFICO
RESUMO
As licitações públicas sustentáveis (LPS) podem ser compreendidas como a integração de
questões econômicas, ambientais e sociais durante a aquisição de bens, obras e serviços por
agências governamentais ou empresas do setor público, as quais tem sido bastante utilizadas,
em decorrência da questão sustentável. Esta pesquisa tem como objetivo geral realizar uma
análise bibliométrica a respeito das publicações disponíveis envolvendo as LPS, de modo a
compreender o teor do conteúdo, os assuntos debatidos, posicionamentos, fatores motivacionais
para a sua aplicação e os principais entraves (2011-2021). Metodologicamente, trata-se de uma
pesquisa exploratória com natureza descritiva com abordagem quantitativa e qualitativa dos
dados. No período analisado, foram identificados 65 artigos sobre o tema, usando as palvaras-
chave (sustainable; green; procuremnt; purchasing; public; barrier; drivers) publicados em
língua inglesa na base de dados Science Direct (Elsevier). Pode-se observar nesta pesquisa que
as barreiras e os facilitadores para implementação das LPS se concentram em questões pontuais
e repetidas nas pesquisas analisadas. Fatores como restrição financeira, apoio da alta
administração pública e legislação governamental são relevantes na aplicação das LPS.
Finalmente, ao observar o desenvolvimento econômico dos países pesquisados, a incidência
das LPS é relativamente influenciada
Palavras-Chaves: Sustentabilidade. Compras Públicas Verdes. Entraves e Facilitadores.
Iramuteq.
20
3. INTRODUÇÃO
A realização de compras por parte do Estado reside através do processo licitatório, onde uma
empresa é contratada para executar um determinado serviço, entregar produtos ou realizar obras
nos órgãos públicos nas esferas Municipais, Estaduais e Federal. No Brasil, a norma atual que
rege o processo licitatório é a Lei 8.666/93. O mercado de Licitação Pública (LP) apresenta-se
como um dos maiores setores econômicos do mundo que representou, em 2017,
aproximadamente 14% do produto interno bruto da União Europeia (GRANDIA e KRUYEN,
2020). Com 48 membros, a Organização Mundial do Comercio (OMC) instituiu o Acordo de
Compras Governamentais estimado em mais de US$ 1,7 trilhões por ano (OMC, 2012). A nível
nacional, o governo brasileiro gastou, no ano de 2014, 20,2% do produto interno bruto (PIB)
com despesas em licitações públicas (SILVA et al, 2018).
Cheng et al. (2018) defende que o setor público pode influenciar as Licitações Públicas
Sustentáveis (LPS),2 tanto ao projetar políticas adequadas para essa finalidade, quanto ao
alavancar os mercados “verdes” por meio desse importante instrumento das compras públicas.
As compras do setor público voltadas para a sustentabilidade podem acabar servindo de modelo
para que outros setores públicos, mesmo de países diferentes, assim como também setores
ligados ao ramo empresarial, possam adentrar nesta adequação de compras. Um exemplo na
prática diz respeito ao Decreto Estadual do Estado de São Paulo, nº 59.038/2013, no qual os
artigos 2° e 3° definem que a aquisição ou a locação de veículos por parte dos órgãos públicos
devem priorizar carros que possuem um motor Flex, sendo o abastecimento preferencial pelo
Etanol- considerado menos poluente que a gasolina (SÃO PAULO, 2013). Com isso, as
locadoras de veículos tenderão, dessa maneira, a priorizar veículos flex em suas compras para
oferecer este serviço quando requisitadas pelo Estado.
As LPS se tornaram, portanto, uma das mais importantes práticas públicas, que permite
a administração estatal usar sua autoridade no mercado para estimular as organizações privadas
a contribuírem para a realização de seus objetivos (ROSEL, 2021). Governos de todo mundo
2 Este termo também pode ser sinônimo de Green Public Procurement (GPP), que significa a
Compras Públicas Verdes. Na nossa pesquisa, utilizaremos o termo Licitações Públicas
Sustentáveis (LPS).
21
vêm tentando reduzir os impactos negativos da produção e do consumo por meio das Licitações
Públicas Sustentáveis (LPS) (LĂZĂROIU et al., 2020; SÖNNICHSEN e CLEMENT, 2020).
Tomando como base Rosel (2021), Lăzăroiu et al. (2020) e Sönnichsen e Clement (2020),
percebe-se a existência de diversos estudos onde as LPS são reconhecidas como mecanismo
para se poder atingir as metas de sustentabilidade ambiental nos países. Este interesse vai ao
encontro com as políticas públicas a nível de meio ambiente que têm sido discutidas no final
do século XX ao começo do XXI, a respeito de sustentabilidade. Trazendo para o contexto
brasileiro, os usos da LPS foram definidos pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) como
“procedimento administrativo formal que contribui para a promoção do desenvolvimento
nacional sustentável, mediante a inserção de critérios sociais, ambientais e econômicos nas
aquisições de bens, contratações de serviços e execução de obras.”
Levando-se em conta a amplitude do tema e os debates atuais, o presente trabalho tem como
objetivo geral realizar uma análise bibliométrica a respeito das publicações disponíveis
22
4. REVISÃO DA LITERATURA.
Visto que se busca apresentar o atual cenário teórico sobre as licitações públicas
sustentáveis, faz-se importante trazer o contexto no qual essa temática se desenvolveu.
Historicamente, a ideia de desenvolvimento sustentável surgiu a partir da conscientização
mundial quanto a necessidade de garantir o direito das presentes e futuras gerações ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado. (ONU, 1992; Garcez; Bonavides, 2020).
4.1 Cenário Mundial
A década de 60 foi o marco no que tange as ideias para a formação de um direito
ambiental internacional, ligado a ideia de desenvolvimento, tendo na década de 70 ocorrido as
principais discussões mundiais sobre o assunto (BLIACHERIENE, 2014). Este fator tem como
base aspectos socioculturais da sociedade daquela época, impulsionada pelo movimento
Contracultura, iniciado por jovens no Ocidente, além da percepção do crescente impacto da
poluição ambiental, principalmente, nos países desenvolvidos.
A partir desse movimento suge o movimento ecológico naturalista caracterizado pela
influência direta dos ideais libertários defendidos por intelectuais como Herbert Marcuse (1898-
1979), Rene Dumont (1904-2001), Ivan Illich (1926) e que ficou marcado por sua ecologia
utópica (ecotopia) e por atitudes anti-sociais típicas do ambientalismo de recusa. Essa
“corrente” considerava a Natureza “como um santuário ou como objeto de deleite estético” que
devia ser preservado, mas foi apropriada pela lógica capitalista transformando o “verde” em
simples objeto de consumo, em não mais do que uma mera mercadoria. (ROCHA, 2006, p.57-
58).
Este movimento refletiu de caráter institucional nos países e organizações mundiais na
década de 70, de modo que houve uma preocupação dos países em levar em conta políticas
sustentáveis.
No ano de 1968, teve início uma organização não governamental chamada de Clube de
Roma, fundada por empresários e liberais, voltado a discutir problemas econômicos, políticos,
naturais e sociais. (BELLEN & PETRASSI, 2016). No ano de 1972, foi lançado pelo grupo um
relatório denominado de “os Limites do Crescimento” (The Limits to Growth)”, no qual pregava
o congelamento do crescimento econômico das nações como instrumento de preservação do
meio ambiente (ZAZO-MORATALL; BISBAL-GRANDAL, 2018).
O primeiro relatório divulgado (The Limits to Growth, de 1972), foi elaborado por
uma equipe do MIT, contratada pelo Clube de Roma e chefiada por Donella Meadows
e causou enorme impacto na comunidade científica quando, usando modelos
matemáticos, apresentou cenários alarmantes de como seria o planeta, caso persistisse
o padrão de desenvolvimento vigente na época (PETRASSI & BELLEN, 2016, p.5)
24
Em 1987, por meio de uma comissão constituída pela ONU, e sob a presidência da
primeira ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, foi desenvolvido o relatório
denominado “Nosso Futuro Comum”, também conhecido como relatório Brundtland, que
defendeu a ideia de aproximação do desenvolvimento com o meio ambiente, implementando o
conceito de desenvolvimento sustentável (MARQUES; MACHADO, 2014).
problemas ligados ao aquecimento Global, bem como desastres ocorridos em Chernobyl, foram
fatores levados em conta no final do século XIX e século XX para uma discussão melhor
apropriada sobre a ideia de desenvolvimento sustentável.
O Brasil é fruto de uma diversidade ambiental, que deve ser preservada e tem, desde o
século XIX e XX chamado atenção de pesquisadores e ambientalistas para a necessidade de
preservação e desenvolvimento de políticas sustentáveis. As repercussões daquelas
manifestações globais pelo meio ambiente na década de 70, apresentadas no item anterior,
influenciaram o Brasil quanto a necessidade de sustentabilidade para com as riquezas naturais
do seu território. Naquela época, foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA),
coordenada ao Ministério do Interior em 1973, que assumia a atribuição de estabelecer normas
e patrões relativos à preservação do meio ambiente (BRASIL, 2021). O SEMA atuava
recebendo denúncias com problemas relacionados à Poluição Industrial, Urbanas e Queimadas.
Este órgão agia em conjunto com a autarquia Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
(IBDF), criado pelo Decreto Lei nº 289 em 1967.
No ano de 1981, foi criado a Lei-6938/81. Esta lei, ainda em vigor, visa incidir nos
aspectos voltados ao meio ambiente, de modo a exercer um equilíbrio entre desenvolvimento
econômico e sustentabilidade. De acordo com alguns autores, como Di Pietro (2016), esta lei
foi um dos pilares para o começo das Compras Públicas do Brasil, de modo que o poder público
passava a exercer sua força regulatória no mercado quanto a este aspecto, vide este trecho:
Com a promulgação da CF de 88, houve por parte da carta magna uma preocupação a
respeito da sustentabilidade, voltando-se para ater ao que pode ser chamado de possíveis crimes
ambientais praticados contra os recursos da União (Florestas, Rios, Mares, etc). É o exemplo
do artigo 225, cujo caput fala que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
26
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.” (CF, Art°225).
Esse termo meio ambiente equilibrado reflete a busca de procurar conciliar os interesses
econômicos com a preservação ambiental, de modo que tanto o Estado como a Sociedade
buscam assegurar isto através da cooperação. O artigo também impõe punições a infratores do
meio ambiente, expondo que “§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.” Desse modo,
o Direito a um ambiente saudável passa a ser uma garantia constitucional.
Ao longo dos anos, principalmente norteados com a CF de 88, novas leis de cunha de
sustentabilidade foram surgindo no país, mostrando um certo aperfeiçoamento neste aspecto. A
convenção de Meio Ambiente ocorrida no Brasil em 1992, no Rio de Janeiro, conhecida como
Eco 92, também auxiliou a mentalidade preservacionista do país.
Introdução. As Licitações Públicas podem ser compreendidas pela Lei nº 8.666, de 21 de junho
de 1993, que se destina a seleção da proposta mais vantajosa para a administração pública.
A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia
e a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração e será processada e julgada em
estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da
moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao
instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos. (BRASIL,
1993).
Inicialmente, não é errado dizer que a proposta de licitação possuía um foco meramente
econômico. Contudo, em decorrência das questões sustentáveis, conforme vem descrevendo a
trajetória social e, ao mesmo tempo, dos impactos legislativos; houve a incidência também na
lei de Licitações, de modo que em dezembro de 2010, esta lei foi alterada para poder expressar
o caráter de sustentabilidade incidido nas licitações. Através da Lei, 12.349/2010, houve o
acréscimo da expressão do elemento de sustentabilidade, expresso da seguinte maneira,
modificando o artigo 3°.
A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia,
a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento
nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios
básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da
probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo
e dos que lhes são correlatos. (grifo!) (BRASIL, 2010.).
Nota-se a semelhança desse artigo com a lei 12.349/2010, o que mostra uma influência
dela para a questão de sustentabilidade nas contratações licitatórias públicas.
publicada a Lei nº 14.133/21 que veio para substituir a lei geral de licitação – Lei nº 8.666/1993.
A nova norma, no que se refere a sustentabilidade, tratou do assunto de forma muito mais
complexa e pormenorizada.
Diferentemente da inovação trazida pela Lei nº 12.349 de 2010, que apenas acrescentou
a sustentabilidade no corpo normativa do seu art 3º, a nova lei expõe e trata do assunto em todo
o seu texto, desde a fase de anteprojeto do processo licitatório. Por exemplo, o art. 6º, XXIV
destaca os elementos mínimos que se deve ter o anteprojeto para a realização do processo
licitatório, dentre eles: “e) parâmetros de adequação ao interesse público, de economia na
utilização, de facilidade na execução, de impacto ambiental e de acessibilidade”. (BRASIL,
2021).
No mais, ainda de acordo com a Lei nº 12.349, em todas as fases subsequentes do
certame, que incluem projeto básico (art. 6º, XXV), edital (art. 25, §§5º e 6º), julgamento das
propostas (art.34, §1º) e contrato (art. 124, §2º, 137, VI, §2º, 144° e 147, II e III); a questão da
sustentabilidade é tratada de forma detalhada e individualizada. (BRASIL, 2021). Assim,
podemos concluir que a evolução da temática da sustentabilidade, que foi discutida de maneira
global, trouxe reflexos no Brasil tanto no quesito de Leis que visem o cuidado com o meio
ambiente, como também no quesito de Licitações Públicas Sustentáveis.
O poder indutor do Estado nas compras públicas sustentáveis (CPS) tem a capacidade
de estimular o mercado a investir em soluções inovadores, seja a nível tecnológico ou
organizacional, com potencial de transformar o mercado de licitações púbicas em um
instrumento de política ambiental capaz de trazer benefícios tanto para o setor privado como
para o setor público (PAES et al. 2019).
No entanto, para a consolidação das CPS no setor público se faz necessário a
compreensão das barreiras existentes para sua implementação, como também a disseminação
das soluções que já foram encontradas pelo setor público.
Cheng et al. (2018), em recente revisão da literatura, mostrou que as principais
motivações para a aquisição de bens e serviços verdes são: capacitação, treinamento e
conscientização do pessoal da instituição contratante. “A eficiência da organização, os
incentivos (por exemplo, melhores condições de trabalho) e a pressão das partes interessadas
forneceram oportunidades ideais para a motivação e adoção de práticas GPP” (CHENG, 2018,
p.21). Ainda aponta que a consolidação da legislação é importante para a implementação do
instituto.
Dentre outros benefícios, apontam Paes et al (2019), o engajamento dos stakeholders na
implantação da sustentabilidade na gestão da instituição, além da incorporação das contratações
públicas sustentáveis no planejamento, na estratégia e na definição de metas a serem
implementadas. Observa os autores a importância do engajamento de toda a instituição e em
todos os níveis para que as aquisições públicas sustentáveis sejam implementadas, pois, “ao
adotarem práticas sustentáveis, as organizações fomentam a produção sustentável e promovem
o desenvolvimento sustentável, contribuindo com o meio ambiente, o tecido social e a
economia” (PAES e al, 2019. p. 22).
Entre as barreiras existentes para a implementação das LPS nas organizações públicas,
Testa et al. (2016) mostra a falta de informação sobre o real impacto ambiental dos produtos, a
dificuldade de encontrar fornecedores e de definir diretrizes para as compras. Paralelamente a
isto, Paes et al. (2019) esclarece ainda que a preocupação financeira ainda é a maior barreira
para as licitações públicas sustentáveis, com o setor público resistindo a pagar mais para
comprar de forma sustentável. Isso, segundo aponta o autor, se deve a dois fatores: a limitação
orçamentária de diversos órgãos públicos e a discussão sobre o aspecto da proposta mais
vantajosa para a administração, que muitas vezes, por questão regulamentar, se delimita ao
30
menor custo.
Desta forma, o meio de afastar as barreiras existentes a de propagar as boas práticas está
extremamente relacionada com a difusão do tema das licitações públicas sustentáveis e o
compartilhamento de suas informações.
5. METODOLOGIA
Para a obtenção dos dados da pesquisa, a busca foi ordenada em cinco etapas, em busca do
resultado procurado.
3º Utilização
4º Análise
dos filtros:
2º Seleção de Títulos e
Decênio 2011-
dos artigos Resumos /
2021/ Artigos
em Inglês Softwares:
de pesquisa/
Excel e
Texto
Mendeley
completo.
1º Busca de artigos
nas plataformas 5º Leitura e
(CAFe) - seleção dos
ScienceDirect Artigos
(Elsevier), Scopus e
Web of Scence
O idioma definido para a busca na plataforma foi o inglês, por ser a linguagem mais utilizada
nos trabalhos científicos publicados em periódicos (SWALES, 1997). A coleta de dados ocorreu
entre os meses de dezembro de 2020 a junho de 2021, por meio do Portal de Periódicos Capes,
através de acesso remoto da Comunidade Acadêmica Federada (CAFe), disponibilizada pelo
ITEP – Associação Instituto de Tecnologia de Pernambuco. Inicialmente, a busca se concentrou
nos títulos, nos resumos e nas palavras-chaves de artigos científicos (TITLE-ABSTRACT-
KEYWORDS). A sequência de busca se deu pela combinação de mais de um encadeamento de
termos relacionados ao objeto da pesquisa, gerando três fragmentos: “SUSTAINABLE
PROCUREMENT” AND “PUBLIC” AND “BARRIER” AND “DRIVERS”; “GREEN
PROCUREMENT” AND “PUBLIC” AND “BARRIER” AND “DRIVERS”; “GREEN
PURCHASING” AND “PUBLIC” AND “DRIVERS” AND “BARRIER”.
Após a pesquisa inicial dos artigos, foi ainda realizada a aplicação dos filtros: delimitação
do tempo de publicação para o intervalo de 2011-2021 (primeiro semestre), texto completo, e
artigos de pesquisa e a utilização dos software Mendeley, com a finalidade de tornar a pesquisa
mais específica.
Com a exclusão dos artigos filtrados, foi realizada uma análise qualitativa dos títulos e
resumos, com a retirada manual dos artigos fora do eixo temático. Após estas etapas, houve de
fato o direcionamento dos artigos para a produção da proposta da pesquisa.
Após o levantamento e delimitação dos dados, foi utilizado o programa Excel para
sistematizar os artigos científicos selecionados, para a partir destes, realizar a análise
quantitativa e qualitativa do material coletado. No que tange a análise quantitativa, a
investigação dos resultados encontrados resultou na produção de tabelas e gráficos, com a
finalidade de demostrar como se desenvolveu as produções científicas sobre o tema abordado,
respeitando-se os preceitos da bibliometria. Para tanto, foi realizada uma análise estatística das
instituições de filiação relacionadas aos cinco primeiros autores dos artigos selecionados, os
anos das publicações e os países e continentes em que foram produzidos os trabalhos.
32
Para a etapa do estudo bibliométrico que tratou os dados sob a perspectiva qualitativa, as
revistas científicas foram analisadas considerando os dois principais rankings internacional e
nacional de periódicos por qualidade. Primeiro foi observado o Impact Factor (IF), publicado
anualmente no Journal Citation Reports (JCP), e considerada a métrica mais utilizadas pelos
pesquisadores, baseando-se no número de citações que os artigos de uma revista recebem
(SOUZA-ALMEIDA; ALMEIDA; CARVALHO, 2018). O segundo foi o Qualis, mantido pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior – Capes e que é um instrumento
de avaliação da produção científica dos cursos de pós-graduação no Brasil. O Qualis adquiriu
relevante importância quando passou a ser um dos critérios de avaliação dos programas de pós-
graduação a partir de 1998, (CUETO, 2019). Para este último foi utilizada as classificações do
quadriênio 2013-2016.
A importância da análise desses rankings se mostra relevante pois, ainda que de forma
indireta, aponta o termômetro, a relevância e o prestígio que a comunidade científica está dando
ao tema estudado e às publicações constantes em seus periódicos (SOUZA-ALMEIDA;
ALMEIDA; CARVALHO, 2018). Em seguida, foi feita a escolha do software para a execução
da análise bibliométrica. Entre e softwares mais empregados para o estudo bibliométrico:
VOSviewer, CiteSpace , Iramuteq entre outros, o presente estudo utilizou o Iramuteq pois o
software fornece uma melhor visualização gráfica do corpo do dados estudado, além de melhor
se adequar as plataformas de busca utilizadas.
O IRAMUTEQ foi utilizado para gerar uma nuvem das palavras mais citadas no conjunto
dos textos utilizados na pesquisa, além da realização da análise da similaridade dos termos. A
nuvem de palavras foi utilizada como ferramenta para destacar os termos mais proeminentes
com base em sua frequência de ocorrência no texto (MELCHIOR ZANINI, 2019). Assim,
quanto maior for a frequência da palavra no texto, maior será o tamanho da palavra na nuvem.
Portanto, essa ferramenta enfatiza os termos de maior significância, de acordo com o conteúdo
analisado. Os termos mais frequentes se destacam e caracterizam as principais palavras-chaves
relacionadas ao assunto em questão.
Por fim, através da leitura completa dos artigos do corpo amostral, foram identificados todos
33
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Web of
Keywords ScienceDirect Scopus
Scence
Sustainable procurement 56101 2365 1419
Green procurement 47341 1203 867
Green Purchasing 285807 1698 3237
Sustainable procurement AND public 17304 115 611
Green procurement AND public 79046 102 355
Green Purchasing AND public 826 51 391
"Sustainable procurement"AND "public" AND "barrier" AND "drivers" 135 1 19
"Green procurement" AND "public" AND "barrier" AND "drivers" 205 3 13
"Green purchasing" AND "public" AND "barrier" AND "drivers" 277 0 6
Segunda filtragem
Seleção inicial e
avaliação Análise dos títulos e
resumos para verificar a
Decênio 2011-2021 pertinência dos textos com a
Resultado
Artigos de pesquisa pesquisa (barreiras e
soluções das LPS)
Texto completo
Retirada dos artigos sem
Software Mendeley relação com o tema
Software Excel Exame completo do
conteúdo em profundidade
Seleção dos artigos focados
na pesquisa
Seleção final: 65
artigos
Total: 617 identificados e
Número total de analisados
artigos após a
pesquisa inicial
O período de tempo escolhido para a busca das publicações foi de 2011 a 2021 -
primeiros seis meses - (Figura. 2). O intervalo inicial da pesquisa representa o momento em que
a literatura passa a abordar com mais importância as barreiras e as soluções sobre as LPS
(exemplo: MICHELSEN e BOER, 2011; GIUNIPERO, HOOKER e DENSLOW, 2012;
Correia et al, 2013). Este período confirma, de fato, consistência na ênfase da análise das
barreiras e soluções para a efetivação das LPS. Apesar da discussão dos elementos de efetivação
das LPS ser uma área de pesquisa relativamente nova, observamos uma trajetória ascendente
constante na literatura das LPS durante o período de 11 anos da pesquisa (Figura. 02). A maioria
dos artigos foi publicada nos últimos cinco anos.
14 70
12 60
Quantidade artigos (n)
10 50
Somatório de artigos
8 40
6 30
4 20
2 10
0 0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Antes de 2017, o número de artigos era limitado a uma faixa de dois a cinco por ano.
No entanto, foi encontrado um maior número de publicações para o período de 2017 a 2021 (52
Artigos) o que corresponde a 80% das publicações. Em particular, durante o último período de
dois anos (2020 e 2021), houve 24 contribuições. A pesquisa final foi realizada até o mês de
julho de 2021. Registrou um pico em 2020, mostrando uma forte elevação das pesquisas pela
comunidade científica, provavelmente relacionada ao objetivo de melhor discutir os elementos
de efetivação das LPS. Importante observar que ainda no primeiro semestre de 2021 já haviam
sido publicados 11 artigos, com forte possibilidade de ultrapassar o quantitativo do ano de 2020
como o maior período de artigos publicados sobre o tema até então.
36
Socio-Economic
Planning Sciences 2 Sem Qualis Sem Qualis 4,923
Sustainable Futures 1 Sem Qualis Sem Qualis 7,550
Sustainable Production
and Consumption 1 B1 Sem Qualis 5,032
Technological
Forecasting and Social
Change 1 Sem Qualis Sem Qualis 8,593
Technovation 1 Sem Qualis Sem Qualis 6,725
África 9 4,21%
Gana 3 1,58%
Marrocos 3 1,58%
Uganda 2 1,05%
América do Norte 13 6,84%
Canadá 1 0,53%
USA 12 6,32%
América do Sul 7 3,68%
Brasil 5 2,63%
Chile 1 0,53%
Peru 1 0,53%
Ásia 37 19,47%
Arábia Saudita 1 0,53%
China 21 11,05%
China 1 0,53%
Emirados Árabes Unidos 6 3,16%
Índia 3 1,58%
Malásia 1 0,53%
Paquistão 4 2,11%
Europa 110 58,42%
Alemanha 1 0,53%
Austria 1 0,53%
Bélgica 3 1,58%
Dinamarca 6 3,16%
Espanha 11 5,79%
Grécia 1 0,53%
Holanda 5 2,63%
Irlanda 2 1,05%
Itália 17 8,95%
Noruega 14 7,37%
Portugal 3 1,58%
Reino Unido 21 11,05%
Suécia 20 10,53%
Oceania 14 7,37%
Austrália 13 6,84%
Nova Zelândia 1 0,53%
A Ásia foi o segundo continente com maior percentual de autores (19,47%), com
destaque para a China que igualou o percentual do Reino Unido com (11,05%) da quantidade
de escritores. Em terceiro no ranque, a Oceania teve o percentual de (7,37%) dos escritores,
tendo a Austrália o percentual de quase a totalidade dos escritores (6,84%). Na América do
Norte teve o percentual de (6,84%) dos escritores, com os EUA representando (6,32%) dos
escritores. O continente africano representou o percentual de (4,21%) dos escritores. A América
do Sul teve o menor percentual observado (3,68%), com destaque para o Brasil, com (2,63%).
Figura 4 – Distribuição das publicações por áreas geográficas dos 190 autores
A figura 5 mostra um mapa visual da discussão das LPS analisadas no conjunto do corpo
textual, com os grupos de conceitos sendo facilmente discernidos. Neste mapa, observa-se que
a ligação entre as palavras se dá de acordo com sua relevância mútua. Os círculos e suas
interligações mostram as conexões mais prováveis entre os conceitos e a correlação existente
entre eles. Já o tamanho de um círculo de conceito descreve a frequência de ocorrência desse
conceito (quanto maior for o destaque do conceito/palavra, mais ela foi mencionada no conjunto
de dados). “GREEN_PUBLIC_PROCUREMENT” (tradução: licitação pública verde) parece
ser o conceito/palavra mais proeminente e relevante apresentado em todo corpo textual.
“BARRIERS” e “DRIVERS” (tradução: barreiras e soluções) estão diretamente ligadas a
“GREEN_PUBLIC_PROCUREMENT”, com ligações mais ramificadas para expressões
como: “Legislation”, “organization”, “economic”, “inovation”, “external”, “stakeholders”,
“trasnparency” e “menbers” (tradução: Legislação, organização, econômico, inovação, externo,
41
parte interessadas, transparência e membros). Estas últimas expressões remetem aos tipos de
barreiras e soluções apontadas pelos pesquisadores nos artigos selecionados. No entanto, a
maioria das barreiras e soluções efetivamente apontadas pelos pesquisadores nos artigos não
aparecem claramente no mapa. No decorrer deste trabalho, serão apontados esses dados com
mais clareza.
No entanto, pela análise da “árvore” de similitude, pode-se considerar por meio das
conexões que “há uma variação significativas de barreiras” (MCMURRAY et al, 2014), sendo
a “legislação governamental”, “partes interessadas” (ZAIDI et al, 2019), os “obstáculos
internos”, os “obstáculos externos” (FANG, BAIXUE, WENYAN, 2020) e a “restrição
financeira” (SOURANI, SOHAIL, 2011), indicativos que dificultam a aplicação das LPS.
O que se observa é que as palavras-chave com maior destaque nos 65 artigos do corpo
textual foram green_public_procurement, com frequência de 487 vezes (forma Suplementar);
drivers, com frequência de 91 vezes; barriers, com frequência de 76 vezes, sustainable, com
frequência de 68 vezes; management, com frequência de 49 vezes; practices, com frequência
de 42 vezes; green, com frequência de 57 vezes; stakeholders, com frequência de 14 vezes;
engagement com frequência de 16 vezes; financial com frequência de 10 vezes; government
com frequência de 17 vezes; e implementation com frequência de 28 vezes. Os resultados
demonstram que os critérios de busca nas bases de dados estão bem alinhados como propósito
da pesquisa.
O fato das palavras licitação pública sustentável, barreias e soluções aparecerem com
frequência e em destaque, indica o interesse dos pesquisadores em voltar a atenção a tais fatores
como relevantes para solução e desenvolvimento de uma cultura sustentável na administração
pública. Já as palavras em menor destaque: engajamento, financeiro, educação interna,
stakholders e competências, direcionam para a identificação das barreiras e solução de
implementação das LPS.
Os próximos resultados foram construídos com a intenção de identificar e pontuar as
principais barreiras e soluções encontradas pelos pesquisadores em seus artigos, além da
frequência em que foram identificadas. Cabe destacar uma razoável diversidade de indicadores
encontrados nos trabalhos, tendo a maioria das pesquisas analisadas apontado tanto barreiras
como elementos facilitadores/motivadores para a prática das LPS.
Quanto aos elementos facilitadores, foram identificados 12 tipos distintos, listados na
Tabela 4.
43
Motivadores
Eficiência organizacional 32
Apoio da alta administração 27
Legislação governamental 21
Redução de custos 21
Treinamento dos funcionários 21
Concientização interna 15
Colaboração entre as partes 13
Pressão externa 12
Motivação ética e moral 12
Compras centralizadas 10
Conformidade regulatória 1
Fatores externos 1
As cinco práticas mais citadas nos artigos analisados representaram 65,59% desta
categoria.
Ao tratar sobre eficiência organizacional, o elemento facilitador mais observado pelos
pesquisadores, os artigos descrevem que tal elemento se constrói, basicamente, por meio da
cooperação entre os diversos órgãos internos da administração pública, onde canalizam seu
foco no objetivo procurado, no caso, a busca da sustentabilidade nas compras públicas
(ALNUAIMI e KHAN, 2019; DOMINGUES et al, 2017). Baldus e Hatton (2020) identificaram
que a padronização de práticas para compras públicas foi o elemento que despontou a eficiência
organizacional dos órgãos públicos nos EUA. Já Sönnichsen e Clement (2020) relatam que a
mudança cultural interna de longo prazo tornou mais eficientes os órgãos púbicos estudados na
revisão de seu trabalho.
Sobre o apoio da alta administração, os artigos relatam que tal engajamento se
apresenta como forte indulto para a efetivação das LPS. Roman (2017), identifica que em
órgãos púbicos, que até então não tinham uma visão adequada de sustentabilidade, com o apoio
efetivo dos líderes organizacionais, conduziu para uma transformação ampla com vista as LPS.
A redução de custos, que inicialmente se traduz em uma economia financeira imediata
no processo de compras públicas, tem mostrado uma evolução em seu conceito, em particular,
na sua relação com as CPS. Trabalhos mais recentes têm mostrado uma mudança no foco
44
estreito dos preços pagos para uma perspectiva mais ampla baseada em valor, abrangendo, neste
último, os conceitos de sustentabilidade, meio ambiente, inovação e ciclo de vida (MEEHAN,
MENZIES e MICHAELIDES, 2017). Trabalho realizado no National Health Service do Reino
Unido aponta que, no longo prazo, as compras públicas baseadas em valor apresentam uma
melhor conformidade regulatória.
Outra prática tratada repetidamente nos artigos é a legislação governamental utilizada
nas LPS. Tanto a forma que as legislações locais e nacionais são promulgadas como a forma
interpretativa dada pelos órgãos públicos são fundamentais para a disseminação das questões
relacionadas a sustentabilidade (SMITH et al, 2016; CHIARINI, OPOKU e VAGNONI, 2017).
As demais práticas apontadas são de grande importância, algumas mais recorrentes, por
exemplo: treinamento dos funcionários para questões ambientais; já outras: compras
centralizadas, motivação ética e moral são relatadas mais pontualmente em questões mais
específicas.
Já dentre os artigos que relatam algum tipo de barreira/obstáculo para a implementação
dos CPS, o principal elemento observado foi a restrição financeira. A Tabela 5 apresenta 11
barreiras identificadas.
Tabela 5 – Barreiras Identificadas
Barreiras
Restituição financeira 22
Falta de legislação… 8
Falta de apoio da alta… 6
Falta de conhecimento… 5
Falta de política e… 4
Falta de treinamento… 3
Falta de legislação… 2
Compras… 2
Falta de concientização… 1
Falta de conformidade… 1
Indisponibilidade de… 1
A análise dos autores sobre a restrição financeira fornece algumas evidencias que
merecem ser destacadas.
Parte dos trabalhos apontam para a comparação do custo dos produtos comuns com os
produtos de natureza sustentável, tendo esses últimos, normalmente, um custo superior. O que
leva, em muitos casos, as organizações públicas não terem interesse nas compras sustentáveis,
levando em conta a economicidade e as barreias legais. (AHSAN e RAHMAN, 2017;
45
SOURANI e SOHAIL, 2011). Aliado a este ponto, o que remete a outra parte dos trabalhos,
refere-se a relação existente entre o desenvolvimento econômico dos países estudados e a
utilização das práticas de LPS. Raj, Agrahari e Srivastava, 2020, apontam em seu trabalho que
“De acordo com o relatório do Índice de Desempenho Ambiental (EPI) de 2018, a Suíça,
membro do grupo de economia desenvolvida de alta renda, está no topo do ranking do EPI; a
maioria das economias em desenvolvimento está quase no fundo do poço. Da mesma forma,
no índice SDG, a Suécia ocupa o primeiro lugar, enquanto a Índia ocupa uma posição baixa
de 116 entre 157 países”.
Tal observação aponta para o fato das instituições públicas das economias em
desenvolvimento enfrentam restrições orçamentárias e custos de aquisição bem acima dos
países desenvolvidos, o que reflete diretamente no seu nível de engajamento em compras
públicas sustentáveis.
Zhu, Yong e Josep (2013), ao pesquisar o impacto das LPS no setor público chinês,
identificaram que o fator econômico é um elemento sensível para a escolhas das LPS naquele
país. Apontam que a China teve um rápido crescimento econômico e industrial, e se tornou um
dos líderes globais em compras públicas, com gastos em 2011 de cerca de 762,5 bilhões de
dólares. No entanto, por ser uma economia ainda em desenvolvimento, com população de mais
de um bilhão de pessoas, enfrenta ainda grande desafio na implementação das LPS.
Além da capacidade financeira desigual das economias desenvolvidas, as economias em
desenvolvimento destoam em relação a fatores como regime regulatório inadequado para a
sustentabilidade (falta de legislação governamental) e falta de consciência do consumidor
conforme apontam (ASIF et al, 2020).
Outras importantes dicotomias encontradas nas economias em desenvolvimento estão
relacionadas a falta de treinamento dos funcionários do governo para as aquisições
sustentáveis, falta de consciência interna e indisponibilidade de produtos verdes, conforme
apontam Zhu, Geng e Sarkis (2013).
entre 30 países diferentes, nos cinco continentes. A literatura sobre as LPS está espalhada entre
os principais periódicos científicos e com relevante prestígio entre a comunidade científica,
muito, pelo reconhecimento da importância da sustentabilidade para o equilíbrio do planeta.
Observou-se, ainda, que a área de LPS vem se desenvolvendo de forma crescente nos últimos
anos, no entanto, ainda parcialmente investigada, com 65 artigos analisados, 52 destes
publicados entre 2017 a 2021.
Sobre a primeira pergunta da pesquisa - QP1: Quais são as principais barreiras que
dificultam a implementação das licitações públicas sustentáveis (LPS)? -, 11 elementos que
dificultam a implementação parecem ter formado a maior parte do interesse da pesquisa nestes
11 anos de investigação. Os resultados da análise de conteúdo sugerem que o obstáculo da
restrição financeira foi o elemento mais observado pelos pesquisadores neste período estudado.
Já os demais elementos tiveram menor repercussão, em que pese sua importância. Muitos
trabalhos apontam para a comparação de custos entre os produtos comuns e os produtos
sustentáveis, tendo esses últimos um custo superior. Também foi identificada a relação existente
entre desenvolvimento econômico dos países estudados e a utilização das LPS.
Quanto a segunda questão da pesquisa - QP2: Quais são os elementos facilitadores para
implantação das LPS pelas instituições públicas? –, foram identificados 12 elementos
apontados pelos pesquisadores nos trabalhos (“papers”). Diferente do que foi observado sobre
as barreiras, houve uma relativa homogeneidade de percentual entre os elementos encontrados
nesta segunda categoria. No entanto, o elemento eficiência organizacional se destacou, com os
demais elementos apresentando suas relevâncias.
Para futuras trajetórias de pesquisa sobre as barreiras e solução de implantação das LPS,
e para aprofundar o nível de evidência deste tópico, além de promover mais debates, seria muito
interessante realizar uma revisão sistemática do assunto para trazer uma visão mais
pormenorizada sobre a questão. Mais especificamente, dado o cenário de desequilibro
econômico entre os países desenvolvidos e desenvolvimento, uma pesquisa mais detalhada do
impacto destes elementos - barreiras e soluções – nestas economias, traria uma importante
contribuição teórica.
RECONHECIMENTO
47
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